06 de Fevereiro 2020
A SANTA MISSA

4ª Semana do Tempo Comum – Quinta-feira
Memória: SS. Paulo Miki, presbítero e Comps.
Cor: Vermelha
1ª Leitura: 1Rs 2,1-4.10-12
Vou seguir o caminho de todos os mortais.
Sê corajoso, Salomão, e porta-te como um homem.
Leitura do Primeiro Livro dos Reis
1 Aproximando-se o fim da sua vida, Davi deu estas instruções a seu filho Salomão: 2 ‘Vou seguir o caminho de todos os mortais. Sê corajoso e porta-te como um homem. 3 Observa os preceitos do Senhor, teu Deus, andando em seus caminhos, observando seus estatutos, seus mandamentos, seus preceitos e seus ensinamentos, como estão escritos na lei de Moisés. E assim serás bem sucedido em tudo o que fizeres e em todos os teus projetos. 4 Então o Senhor cumprirá a promessa que me fez, dizendo: ‘Se teus filhos conservarem uma boa conduta, caminhando com lealdade diante de mim, com todo o seu coração e com toda a sua alma, jamais te faltará um sucessor no trono de Israel’. 10 E Davi adormeceu com seus pais e foi sepultado na cidade de Davi. 11 O tempo que Davi reinou em Israel foi de quarenta anos: sete anos em Hebron e trinta e três em Jerusalém. 12 Salomão sucedeu no trono a seu pai Davi e seu reino ficou solidamente estabelecido.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: 1Cr 29,10. 11ab. 11d-12a. 12bcd (R. 12b)
R. Dominais todos os povos, ó Senhor.
10 Bendito sejais vós, ó Senhor Deus, +
Senhor Deus de Israel, o nosso pai. *
desde sempre e por toda a eternidade! R.
11a A Vós pertencem a grandeza e o poder +
11b toda a glória, esplendor e majestade, * R.
11d A vós, Senhor, também pertence a realeza, +
pois sobre a terra, como rei, vos elevais! *
12a Toda glória e riqueza vêm de vós! R.
12b Sois o Senhor e dominais o universo, +
12c em vossa mão se encontra a força e o poder, *
12d em vossa mão tudo se afirma e tudo cresce! R.
Evangelho: Mc 6,7-13
Começou a enviá-los.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo: 7 Jesus chamou os doze, e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. 8 Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. 9 Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. 10 E Jesus disse ainda: ‘Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida. 11 Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!’ 12 Então os doze partiram e pregaram que todos se convertessem. 13 Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Os Doentes os Prediletos do Senhor
TEMPO COMUM. QUARTA SEMANA. QUINTA-FEIRA
– Imitar Cristo no amor e no cuidado dos doentes.
– A Unção dos Enfermos.
– Valor corredentor da dor e da doença. Aprender a santificá-la.
I. O EVANGELHO DA MISSA1 fala-nos da missão que os Doze empreenderam pelas aldeias e regiões da Palestina. Pregaram a necessidade de fazer penitência para entrar no Reino de Deus e expulsavam os demônios e ungiam com óleo muitos doentes e os curavam.
O azeite era utilizado com freqüência para curar as feridas2, e o Senhor determinou que fosse essa a matéria do sacramento da Unção dos Enfermos. Nas breves palavras do Evangelho de São Marcos a Igreja viu insinuado este sacramento3, que foi instituído pelo Senhor e mais tarde promulgado e recomendado aos fiéis pelo Apóstolo São Tiago4. É mais uma demonstração da solicitude de Cristo e da sua Igreja pelos cristãos mais necessitados.
O Senhor mostrou sempre a sua compaixão infinita pelos enfermos. Ele próprio se revelou aos discípulos enviados pelo Batista chamando-lhes a atenção para o que estavam vendo e ouvindo: os cegos recuperavam a vista e os coxos andavam; os leprosos ficavam limpos e os surdos ouviam; os mortos ressuscitavam e os pobres eram evangelizados5.
Na parábola do banquete das bodas, os criados recebem esta ordem: Saí pelos caminhos... e trazei os pobres, os aleijados, os cegos, os coxos...6 São inúmeras as passagens em que Jesus se mostra compadecido ao contemplar a dor e a doença, e em que cura muitos como sinal da cura espiritual que realizava nas almas.
Ora, Jesus quis que nós, os seus discípulos, o imitássemos numa compaixão eficaz por aqueles que sofrem na doença e em toda a dor. “A Igreja cerca de amor todos os afligidos pela fraqueza humana; mais ainda, reconhece nos pobres e nos que sofrem a imagem do seu Fundador pobre e sofredor. Faz o possível por mitigar-lhes a pobreza e neles procura servir a Cristo”7.
Nos doentes, vemos o próprio Cristo que nos diz: O que fizestes por um destes, a mim o fizestes8. “Quem ama verdadeiramente o próximo deve fazer-lhe bem ao corpo tanto como à alma – escreve Santo Agostinho –, e isso não consiste apenas em acompanhar os outros ao médico, mas também em cuidar de que não lhes falte alimentação, bebida, roupa, moradia, e em proteger-lhes o corpo contra tudo o que possa prejudicá-lo... São misericordiosos os que usam de delicadeza e humanidade quando proporcionam aos outros o necessário para resistirem aos males e às dores”9.
Entre as atenções que podemos ter com os doentes está o cuidado de visitá-los com a freqüência oportuna, de procurar que a doença não os intranquilize, de facilitar-lhes o descanso e o cumprimento de todas as prescrições do médico, de fazer com que o tempo que estejamos com eles lhes seja grato. Não esqueçamos que os doentes são o “tesouro da Igreja” e que têm um poder muito grande diante de Deus, pois o Senhor os olha com particular predileção. “Criança. – Doente. – Ao escrever estas palavras, não sentis a tentação de as pôr com maiúsculas? É que, para uma alma enamorada, as crianças e os doentes são Ele”10.
II. DEVEMOS PREOCUPAR-NOS pela saúde física dos que estão doentes e também pela sua alma. Procuraremos ajudá-los com os meios humanos ao nosso alcance e, sobretudo, procuraremos fazê-los ver que, se unirem essa dor aos padecimentos de Cristo, ela se converterá num bem de valor incalculável: será ajuda eficaz para toda a Igreja, purificação das faltas passadas e uma oportunidade que Deus lhes dá para progredirem muito na santidade pessoal, porque não raras vezes Cristo abençoa com a Cruz.
O sacramento da Unção dos Enfermos é um dos cuidados que a Igreja reserva para os seus filhos doentes. Este sacramento foi instituído para ajudar os homens a alcançar o Céu, mas não pode ser administrado aos sãos, nem mesmo aos que não padecem de uma doença grave, ainda que se achem em perigo de vida, porque foi instituído a modo de remédio espiritual, e os remédios não se dão aos que estão bem de saúde, mas aos doentes11.
A Igreja também não deseja que se espere até os momentos finais para recebê-lo, mas quando se começa a estar em perigo de morte por doença ou velhice12; pode-se, porém, reiterá-lo, se o doente se recupera depois da Unção ou se, durante a mesma doença, se acentua o perigo ou a gravidade13; pode-se administrá-lo também a quem vai submeter-se a uma intervenção cirúrgica, desde que a causa da operação seja uma doença grave14.
O maior bem deste sacramento é livrar o cristão do abatimento e da fraqueza que contraiu pelos seus pecados15.
Deste modo a alma sai fortalecida e recupera a juventude e o vigor que tinha perdido em conseqüência das suas faltas e debilidades.
O Papa Paulo VI, citando o Concílio de Trento, explicava e resumia assim os efeitos deste sacramento: outorga “a graça do Espírito Santo, cuja unção tira os pecados, se ainda resta algum por apagar, como também os vestígios do pecado; alivia e fortalece também a alma do doente, despertando nela uma grande confiança na misericórdia divina; permite-lhe, sustentado dessa forma, suportar facilmente as provas e penalidades da doença, bem como resistir com maior facilidade às tentações do demônio que está à espreita (Gen 3, 15), e por vezes recuperar a saúde corporal, se for conveniente para a saúde da alma”16.
É um sacramento que infunde uma grande paz e alegria na alma do doente que esteja lúcido, movendo-o a unir-se a Cristo na Cruz e a corredimir com Ele, e que “prolonga o interesse que o Senhor manifestou pelo bem-estar corporal e espiritual de quem está doente, como testemunham os Evangelhos, e que Ele desejava que os seus discípulos também manifestassem”17.
Examinemos hoje se sabemos ver Cristo dolente nos enfermos, em cada um deles, se os atendemos com carinho e respeito, se lhes prestamos essas pequenas ajudas que tanto agradecem. Sobretudo, vejamos junto do Senhor se os ajudamos com sentido de oportunidade a santificar a dor, a corredimir com Cristo.
III. QUANDO O SENHOR nos fizer experimentar a sua Cruz através da dor e da doença, deveremos considerar-nos filhos prediletos. Ele pode enviar-nos a dor física ou outros sofrimentos: humilhações, fracassos, injúrias, desgostos na família... Não devemos esquecer então que a obra redentora de Cristo prossegue através de nós.
Por muito pouco que possamos valer, o sofrimento converte-nos em corredentores com Cristo, e a dor – que era inútil e má – transforma-se em alegria e num tesouro. E podemos dizer com o Apóstolo São Paulo:Agora alegro-me com os meus padecimentos por vós, e supro na minha carne o que falta às tribulações de Cristo pelo seu corpo que é a Igreja18.
João Paulo II afirma que a dor “não só é útil aos outros, como também lhes presta um serviço insubstituível. No Corpo de Cristo [...] o sofrimento, impregnado do espírito de sacrifício de Cristo, é o mediador insubstituível e o autor dos bens indispensáveis à salvação do mundo. Mais do que qualquer outra coisa, é o sofrimento que abre caminho à graça que transforma as almas humanas. Mais do que qualquer outra coisa, é ele que torna presentes na história da humanidade as forças da Redenção”19.
Para aproveitarmos esta riqueza de graças, precisamos de “uma preparação remota, feita cada dia com um santo desapego de nós mesmos, para que nos disponhamos a carregar com garbo – se o Senhor assim o permite – a doença ou a desventura. Sirvamo-nos desde já das ocasiões normais, de alguma privação, da dor nas suas pequenas manifestações habituais, da mortificação, para pôr em prática as virtudes cristãs”20.
Recorremos à nossa Mãe, Santa Maria. Ela, “que no Calvário, permanecendo de pé valorosamente junto à Cruz do Filho (cfr. Jo 19, 25), participou da sua paixão, sabe sempre convencer novas almas a unirem os seus próprios sofrimentos ao sacrifício de Cristo, num «ofertório» que, transpondo o tempo e o espaço, abraça e salva toda a humanidade”21.
Peçamos-lhe que as penas – inevitáveis nesta vida – nos ajudem a unir-nos mais ao seu Filho, e que, quando chegarem, saibamos entendê-las como uma bênção para nós mesmos e para toda a Igreja.
(1) Mc 6, 7-13; (2) cfr. Is 1, 6; Lc 10, 34; (3) cfr. Conc. de Trento, Sess. XIV, Doctrina de sacramento extremae unctionis, cap. I; (4) cfr. Ti 5, 14 e segs.; (5) cfr. Mt 11, 5; (6) cfr. Lc 14, 21; (7) cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 8; (8) cfr. Mt 25, 40; (9) Santo Agostinho, Sobre os costumes da Igreja Católica, 1, 28, 56; (10) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 419; (11) cfr. Catecismo Romano, II, 6, 9; (12) Conc. Vat. II, Const. Sacrossanctum Concilium, 73; (13) cfr. Ritual da Unção, Praenotanda, n. 8; (14) cfr. ib., n. 10; (15) Catecismo Romano, II, 6, 14; (16) Paulo VI, Const. Apost.Sacram Unctionem infirmorum, 30-XI-1972; (17) Ritual da Unção, Praenotanda, n. 5; (18) Col 1, 24; (19) João Paulo II, Carta Apost. Salvifici doloris, 11-II-1984, 27; (20) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 124; (21) João Paulo II, Homilia, 11-XI-1980.
Fonte: livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal.
São Paulo Miki e Companheiros
O6 de Fevereiro
São Paulo Miki e Companheiros 
A caminho de sua morte, os mártires do Japão entoavam louvores a Deus. Quando chegaram a Nagasaki, foram crucificados e São Paulo Miki pregou: “Declaro-lhes, pois, que o melhor caminho para conseguir a salvação é pertencer à religião cristã, ser católico”. Sua festa é celebrada neste dia 6 de fevereiro.
São Paulo Miki, oriundo do Japão, nasceu em 1566 em uma família rica. Recebeu educação com os jesuítas e mais tarde ingressou na Companhia de Jesus. Sendo sacerdote, tornou-se um grande pregador.
Nessa época, a perseguição contra os cristãos e os missionários se recrudesceu. Em vez de fugir, seguiam ajudando os cristãos. Padre Paulo Miki foi preso junto a outros cristãos.
Os perseguidores cortaram a orelha esquerda dos 26 prisioneiros e depois, ensanguentados, fizeram-nos caminhar de povoado em povoado em pleno inverno com a finalidade de atemorizar os que pretendiam se tornar católicos.
Em Nagasaki, os leigos do grupo puderam se confessar com os sacerdotes e, em seguida, todos foram crucificados. Foram atados com cordas e cadeados nas pernas e braços. Além disso, sujeitaram-nos ao madeiro com uma argola de ferro ao pescoço.
Algumas testemunhas de seu martírio relataram que, “uma vez crucificados, era admirável ver o ardor e a paciência de todos. Os sacerdotes animavam os outros a sofrer tudo por amor a Jesus Cristo e a salvação das almas”.
Os mártires, que eram jesuítas, franciscanos e leigos (adultos, jovens e meninos), nesse momento cantavam, rezavam e invocavam Jesus, Maria e José. Também aconselhavam os presentes a se manterem fiéis à santa religião sempre.
“Meu Senhor Jesus Cristo me ensinou com suas palavras e seus bons exemplos a perdoar os que nos ofenderam, eu declaro que perdoo o chefe da nação que deu a ordem de nos crucificar e todos os que contribuíram com o nosso martírio, e lhes recomendo que se façam instruir em nossa santa religião e se façam batizar”, disse São Paulo Miki.
Depois, olhando seus companheiros, São Paulo os dava ânimo. Nos rostos dos mártires se via uma grande alegria por dar sua vida por Deus.
Finalmente, os carrascos tiraram suas armas e transpassaram duas vezes com suas lanças cada um dos crucificados. Morreram em 5 de fevereiro de 1597.
Fonte: https://www.acidigital.com
Trabalhar bem
TEMPO COMUM. QUARTA SEMANA. QUARTA-FEIRA
– Vida de trabalho de Jesus em Nazaré. A santificação do trabalho.
– O trabalho é participação na obra criadora de Deus. Jesus e o mundo do trabalho.
– Sentido redentor do trabalho. Recorrer a São José para que nos ensine a trabalhar com competência e a corredimir com as nossas tarefas.
I. DEPOIS DE ALGUM TEMPO, Jesus voltou à sua cidade, Nazaré, com os seus discípulos1. Esperava-o ali a sua Mãe, com enorme alegria. Talvez tenha sido a primeira vez que aqueles primeiros seguidores do Mestre conheceram o lugar em que Jesus se tinha criado; e devem ter recuperado as energias em casa da Virgem, que os teria rodeado de particulares atenções, servindo-os com uma solicitude que ninguém tivera com eles até então.
Em Nazaré, todos conhecem Jesus. Conhecem-no pelo seu ofício e pela sua família: é o artesão, filho de Maria. Tal como acontece com tantas pessoas, o Senhor seguiu o ofício daquele que fizera as vezes de pai junto dEle, aqui na terra. Por isso chamam-no também filho do artesão2; teve a profissão de José, que possivelmente já morrera havia anos. A sua família, que guardava o maior dos tesouros – o Verbo de Deus feito homem –, foi como outra qualquer entre as da vizinhança.
Jesus deve ter permanecido vários dias em casa de sua Mãe, e provavelmente visitou outros parentes e conhecidos. E chegado o sábado pôs-se a ensinar na sinagoga. Os ouvintes ficaram surpreendidos. Aquele que até há pouco tempo fabricava móveis e arados para a lavoura, e que os consertava quando se estragavam, fala-lhes agora com suma autoridade e sabedoria, tal como ninguém lhes havia falado até então. Só vêem nEle o lado humano, aquilo que tinham observado durante trinta anos: a mais completa normalidade. Custa-lhes descobrir o Messias por trás dessa “normalidade”.
A oficina de José, herdada depois por Jesus, era como as outras que havia naquele tempo na Palestina. Talvez fosse a única em Nazaré. Cheirava a madeira e a limpeza. José, como também depois Jesus, devia cobrar o normal; talvez desse todas as facilidades possíveis a quem estivesse em apuros econômicos, mas não deixaria de cobrar o justo. E os trabalhos que José e Jesus realizavam nessa pequena oficina eram os próprios desse ofício, em que se fazia um pouco de tudo: construir uma viga, fabricar um armário simples, ajustar uma mesa que balançava, aplainar uma porta que não fechava bem... Ali não se fabricavam cruzes de madeira, como querem fazer-nos crer alguns quadros piedosos: quem se lembraria de encomendar-lhes semelhantes objetos? Também as madeiras não eram importadas do céu, mas adquiridas nos bosques vizinhos.
Os habitantes de Nazaré escandalizaram-se dEle. A Virgem Maria, não. Ela sabe que o seu filho é o Filho de Deus. Olha-o com imenso amor e admiração. Compreende-o bem.
A meditação desta passagem, em que se reflete indiretamente a vida anterior de Jesus em Nazaré, ajuda-nos a examinar se a nossa vida corrente, cheia de trabalho e de normalidade, é caminho de santidade, tal como foi a da Sagrada Família.
II. O SENHOR MOSTROU conhecer muito bem o mundo do trabalho. Na sua pregação, utiliza frequentemente imagens, parábolas, comparações da vida de trabalho vivida por Ele ou pelos seus conterrâneos.
Os que o ouvem entendem bem a linguagem que emprega, porque não podem deixar de recordar que Jesus fez o seu trabalho em Nazaré com perfeição humana, com competência profissional, concluindo-o com esmero. Por isso, no momento em que volta à sua cidade, é conhecido precisamente pelo seu ofício, como o artesão. E desse modo ensina-nos a todos nós como devemos desempenhar as tarefas de cada dia3.
Se as nossas disposições forem realmente sinceras, o Senhor haverá de conceder-nos sempre a luz sobrenatural necessária para imitarmos o seu exemplo, procurando não apenas desincumbir-nos friamente da ocupação profissional, mas exceder-nos no seu cumprimento com abnegação e sacrifício, empenhando-nos nela de boa vontade, com amor.
O nosso exame pessoal diante de Deus e a nossa conversa com Ele hão de versar frequentemente sobre essas tarefas que nos ocupam para ver se nos dedicamos a elas a fundo, com valentia: se procuramos trabalhar conscienciosamente, se nos esforçamos por fazer render o tempo, espremendo-o ao máximo; se conseguimos atualizar, completar e enriquecer dia a dia a nossa preparação profissional; se abraçamos com amor a Cruz, a fadiga e os contratempos do trabalho de cada dia.
O trabalho, qualquer trabalho nobre realizado conscienciosamente, faz-nos partícipes da Criação e corredentores com Cristo. “Esta verdade – ensina João Paulo II –, segundo a qual o homem, através do seu trabalho, participa na obra do próprio Deus, seu Criador, foi particularmente posta em relevo por Jesus Cristo, aquele Jesus perante o qual muitos dos seus primeiros ouvintes em Nazaré ficavam estupefatos e diziam: Onde aprendeu ele estas coisas? E que sabedoria é a que lhe foi dada?... Não é este o artesão?”4
Os anos de Jesus em Nazaré são o livro aberto em que aprendemos a santificar as tarefas de cada dia.
III. O ASSOMBRO DOS VIZINHOS de Nazaré é um ensinamento luminoso para nós; revela-nos que a maior parte da vida do Redentor foi de trabalho, como a vida dos demais homens. E esta tarefa realizada dia após dia foi instrumento de redenção, como o foram todas as ações de Cristo. Sendo uma tarefa humana simples, converteu-se num feixe de ações de valor infinito e redentor, por ter sido realizada pela Segunda Pessoa da Santíssima Trindade feita homem.
O cristão, que é outro Cristo pelo Batismo, deve converter os seus afazeres humanos retos em tarefa de corredenção. O nosso trabalho, unido ao de Jesus, ainda que segundo o conceito dos homens seja pequeno e pareça de pouca importância, adquire assim um valor incomensurável. O próprio cansaço que qualquer trabalho traz consigo, como conseqüência do pecado original, adquire um sentido novo. O que parecia um castigo é redimido por Cristo e converte-se em mortificação gratíssima a Deus, que nos serve para purificarmos os nossos próprios pecados e para corredimirmos com o Senhor a humanidade inteira. Aí está a diferença profunda entre o trabalho humanamente bem realizado por um pagão e o de um cristão que, além de estar bem acabado, é oferecido em união com Cristo.
A união com o Senhor, buscada no trabalho diário, reforçará em nós o propósito de fazermos tudo somente para a glória de Deus e para o bem das almas. O nosso prestígio, conseguido nobremente, atrairá os nossos colegas e servirá de alavanca para animarmos muitas outras pessoas a enveredarem pelo caminho de uma intensa vida cristã. Desse modo caminharão unidas na nossa vida a santificação do trabalho e o ímpeto apostólico no ambiente do nosso labor profissional, indicador claro de que realmente trabalhamos com retidão de intenção.
Peçamos hoje a São José que nos ensine a trabalhar bem e a amar os nossos afazeres. José é um Mestre excepcional do trabalho bem realizado, pois ensinou o seu ofício ao Filho de Deus; teremos muito a aprender dele, se recorrermos ao seu patrocínio enquanto trabalhamos. Podemos invocá-lo com esta oração antes de iniciarmos as nossas tarefas:
“Ó glorioso São José, modelo de todos os que se consagram ao trabalho! Alcançai-me a graça de trabalhar com espírito de penitência, em expiação dos meus pecados; de trabalhar com consciência, pondo o cumprimento do meu dever acima das minhas naturais inclinações; de trabalhar com agradecimento e alegria, olhando como uma honra o poder de desenvolver por meio do trabalho os dons recebidos de Deus. Alcançai-me a graça de trabalhar com ordem, constância, intensidade e presença de Deus, sem jamais retroceder ante as dificuldades; de trabalhar, acima de tudo, com pureza de intenção e desapego de mim mesmo, tendo sempre diante dos olhos todas as almas e as contas que prestarei a Deus do tempo perdido, das habilidades inutilizadas, do bem omitido e das estéreis vaidades em meus trabalhos, tão contrárias à obra de Deus. Tudo por Jesus, tudo por Maria, tudo à vossa imitação, ó Patriarca São José! Esse será o meu lema na vida e na morte. Amém”5.
(1) Mc 6, 1-6; (2) cfr. Mt 13, 55; (3) cfr. J. L. Illanes, A santificação do trabalho, págs. 24-25; (4) João Paulo II, Enc. Laborem exercens, 14-IX-1981; (5) Oração a São José; cfr. Orações do cristão, 2ª ed., Quadrante, São Paulo, 1989, pág. 11.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal.
Santa Águeda
05 de Fevereiro
Santa Águeda 
Santa Águeda é uma das mais gloriosas heroínas da Igreja primitiva e cuja intercessão é invocada diariamente, no Cânon da Santa Missa.
Natural da Sicília, pertenceu a uma das famílias mais nobres do país. De pouca idade ainda, Águeda consagrou-se à Deus, pelo voto da castidade. O governador Quintiano, tendo tido notícia a formosura e grande riqueza de Águeda, acusada do crime de pertencer à religião cristã, mandou-lhe ordem de prisão.
Águeda, vendo-se nas mãos dos perseguidores, exclamou:
“Jesus Cristo, Senhor de todas as coisas, vós vedes o meu coração e lhe conheceis o desejo. Tomai posse de mim e de tudo que me pertence. Sois o Pastor, meu Deus; sou vossa ovelha. Fazei que seja digna de vencer o demônio”.
Levada à presença do governador, este achando-a de extraordinária beleza, ficou tomado de violenta paixão pela nobre cristã, à qual se atreveu importunar com propostas indecorosas.
Águeda, indignada, rejeitou-lhe as impertinências desavergonhadas e declarou preferir morrer a macular o nome de cristã. Quintiano aparentemente desistiu do plano diabólico, mas para conseguir os seus maldosos fins, mandou entregar a donzela a Afrodisia, mulher de péssima fama, na esperança de, na convivência com esta pessoa, Águeda se tornar mais acessível. Enganou-se. Afrodisia nada conseguiu e depois de um trabalho inútil de trinta dias, pediu a Quintino que tirasse Águeda de sua casa.
Começou então o martírio da nobre siciliana. Tendo-a citado perante o tribunal, apostrofou-a com estas palavras: “Não te envergonhas de rebaixar-te à escravidão do cristianismo, quando pertences a nobre família?” – Ágata respondeu-lhe: “A servidão de Cristo é liberdade e está acima de todas as riquezas dos reis”. A resposta a esta declaração foram bofetadas, tão barbaramente aplicadas, que causaram forte epistaxe. Depois desta e de outras brutalidades a santa Mártir foi metida no cárcere, com graves ameaças de ser sujeita a torturas maiores, se não resolvesse a abandonar a religião de Jesus Cristo.
O dia seguinte trouxe a realização dessas iniquidades. O tirano ordenou que a donzela fosse esticada sobre a catasta, os membros lhe foram desconjuntados e o corpo todo queimado com chapas de cobre em brasa, e os peitos atormentados com turqueses de ferro e depois cortados. Referindo-se a esta última brutalidade, Ágata disse ao juiz: “Não te envergonhas de mutilar na mulher, o que tua mãe te deu para te aleitar?”
Após esta tortura crudelíssima, Águeda foi levada novamente ao cárcere, entregue às suas dores, sem que lhe fosse administrado o mínimo tratamento. Deus, porém, que confunde os planos dos homens, veio em auxílio de sua pobre serva.
Durante a noite lhe apareceu um venerável ancião, que se dizia mandado por Jesus Cristo, para trazer-lhe alívio e curá-la. O ancião, que era o Apóstolo São Pedro, elogiou-lhe a firmeza e animou-a a continuar impávida no caminho da vitória. A visão desapareceu e Águeda com muita admiração viu-se completamente restabelecida.
Cheia de gratidão, entoou cânticos, louvando a misericórdia e bondade de Deus. Os guardas, ouvindo-a cantar, abriram a porta do cárcere e vendo a Mártir completamente curada, fugiram cheios de pavor. As companheiras de prisão de Águeda aconselharam-na que fugisse, aproveitando ocasião tão propícia para isto. Ela, porém, disse: “Deus me livre de abandonar a arena antes de ter segura em minha mão a palma da vitória”.
Passados quatro dias, foi novamente apresentada ao juiz. Este não pode deixar de se mostrar admirado, vendo-a completamente restabelecida. Águeda disse-lhe: “Vê e reconhece a onipotência de Deus, a quem adoro. Foi ele quem me curou as feridas e me restituiu os seios. Como podes, pois exigir de mim que o abandone? – Não – não poderá haver tortura, por mais cruel que seja, que me faça separar-me do meu Deus”.
O juiz não mais se conteve. Deu ordem para que Águeda, fosse rolada sobre cacos de vidros e brasas. No mesmo momento a cidade foi abalada por um forte tremor de terra. Uma parede, bem perto de Quintiano, desabou e sepultou dois seus amigos. O povo, diante disto, não mais se conteve e em altas vozes exigiu a libertação da Mártir, dizendo: “Eis o castigo que veio, por causa do martírio da nobre donzela. Larga a tua inocente vítima, juiz perverso e sem coração!”
Águeda voltou ao cárcere e lá chegada, de pé, os braços abertos, orou a Deus nestes termos: “Senhor, que desde a infância me protegestes, extinguistes em mim o amor ao mundo e me destes a graça de sofrer o martírio, ouvi as preces da vossa serva fiel e aceitai a minha alma”. Deus ouviu a voz de sua filha e recebeu-a em sua glória no ano 252.
Santa Águeda é invocada pelos cristãos contra o perigo do incêndio. Passado um ano depois da morte da Santa, a cidade de Catarina assistiu apavorada, uma erupção do Etna. O povo, em sua indizível aflição, quando viu as ondas da lava incandescia ameaçar a cidade, correu ao túmulo da Santa, tomou o véu que cobria o seu rosto e estendeu-o contra a torrente de fogo. Imediatamente o perigo estava afastado.
Fonte: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.
Beato Maria-Eugênio do Menino Jesus
04 de Fevereiro
Beato Maria-Eugênio do Menino Jesus
Nasceu em 02 de dezembro de 1894 no Gua, cidadezinha situada na região de Aveyron no sul da França e foi batizado no dia 13 de dezembro do mesmo ano. Frei Maria Eugênio do Menino Jesus, no século, Henrique Grialou, era o terceiro de uma família de 05 irmãos. Seu pai, Augusto Grialou, trabalhava numa mina de carvão e sua mãe, Maria, em um pequeno restaurante que ela mesma havia aberto em sua casa e que ela irá abandonar em seguida para melhor cuidar dos seus filhos. Muito cristãos e com poucos recursos, foram Augusto e Maria que construíram com as próprias mãos, a casa da família onde todos viviam numa atmosfera de pobreza, ternura e fé católica.
Ainda jovem, o menino Henrique sente o chamado para o sacerdócio e vai tomar as iniciativas necessárias para levar a termo o “sim” que ele dará a Deus antes de seus 11 anos.
Ciente da vocação de Henrique, o padre da sua paróquia quer que ele estude no seminário de Graves, mas as condições financeiras da família não lhe permitem. Henrique, que tem apenas 11 anos, vai aproveitar a visita de um sacerdote da Congregação do Espírito Santo que passa pela região para aceitar o convite de fazer seus estudos fora da França, pois os religiosos tinham sido expulsos pela República Francesa.
Em 1905, ele tomará sozinho o trem para Susa na Itália e aí ficará cerca de três anos sem poder rever a família. No entanto, ele perceberá que esta congregação não corresponde à sua vocação e ele voltará então, à sua cidade natal.
Em 1908, Henrique descobre o livro da vida de uma carmelita que se tornará para ele, uma grande amiga e que o acompanhará para sempre: a Irmã Teresinha do Menino Jesus, ainda em processo de beatificação .
No dia 2 de outubro de 1911, graças à sua mãe Maria que, muito batalhadora, decide pagar os seus estudos, ele entrará para o seminário de Rodez, não muito longe do Gua e começará uma etapa de discernimento buscando a vontade de Deus para a sua vida.
Henrique será tido como um seminarista exemplar, cheio de ardor espiritual mas também muito generoso e preocupado com os outros.
Em 1913, Henrique deverá interromper seus estudos de teologia para se preparar para partir para a guerra como cabo de infantaria, no dia 3 de agosto de 1914.
Poucos dias depois, ele será atingido por uma bala no rosto que não lhe causará graves problemas. Ele atribui a sua sobrevivência nesta e em todas as outras situações de perigo à proteção da Irmã Teresinha do Menino Jesus. Ele se oferecerá para voltar para a frente de combate e substituir um soldado, pai de quatro filhos. Corajoso, ele será nomeado tenente e conquistará a admiração de seus soldados. Depois de 04 anos, ele voltará da guerra condecorado por sua coragem e intrepidez.
Em outubro de 1919, Henrique Grialou pôde finalmente retomar os estudos no seminário de Rodez. Ele que já conhecia muito bem a Irmã Teresinha do Menino Jesus, vai aí aprofundar a sua amizade com o Carmelo através das leituras de São João da Cruz e de Santa Teresa de Jesus.
Em seu retiro para o subdiaconato, ele se sentirá extremamente tocado pela leitura de uma pequena biografia de São João da Cruz e decidirá de mediato a entrar para a Ordem do Carmelo respondendo ao chamado de uma entrega absoluta que já habitava o seu coração.
No dia 04 de fevereiro de 1922 ele será ordenado sacerdote e apesar das grandes contradições, experimenta uma profunda alegria. Pela sua paciência e obediência, ele obteve a permissão do diretor espiritual para entrar na Ordem do Carmelo.
No dia 24 de fevereiro de 1922, Frei Maria Eugênio, entra para o Carmelo de Avon. O dia de sua chegada será marcado por uma reflexão profunda sobre as palavras de Jesus a Nicodemos: “Em verdade vos digo, ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo”. Ele as tomará para si e dirá: “Essas palavras são luminosas para mim hoje. Eu preciso renascer completamente em uma vida nova”.
Como religioso carmelita, ele recebe o nome de Frei Maria Eugênio do Menino Jesus, fato que será para ele, uma prova de que mais que uma amiga, Santa Teresinha agora é sua irmã.
Sacerdote, homem maduro, ex-tenente de guerra, ele tem 28 anos e começa a sua primeira etapa de formação no Carmelo.
Ele viverá o seu noviciado completamente entregue à vida de oração e através dela, ele aprofundará a sua amizade com Deus segundo os ensinamentos dos santos do Carmelo.
“A oração é de uma certa maneira, o sol e o centro de todas as atividades do dia. Todas as noites, temos a impressão de ter feito somente isso de importante”.
Este período onde ele se alimentará particularmente da doutrina dos santos do Carmelo, coincidirá com três momentos importantes para a Ordem e para a Igreja: a beatificação da irmã Teresinha do Menino Jesus (29 abril 1923) e sua canonização (17 março 1925); e o doutorado de São João da Cruz (24 agosto 1926).
No dia 11 de março de 1926, ele fará sua profissão solene acompanhado por Berta que, no dia seguinte, entrará para a Ordem Terceira do Carmelo recebendo o nome de “Maria Eugênio”.
Para Frei Maria Eugênio, a doutrina do Carmelo é um “tesouro” e não deve se limitar aos religiosos. Ele tem sede de divulgá-la ao mundo para que todas as pessoas possam conhecer o Deus de amor que está vivo, presente em cada pessoa pela graça do batismo e com quem se pode estabelecer um contato de amizade de maneira muito simples, particularmente através da oração.
No dia 14 agosto de 1928 ele é nomeado superior de um seminário menor dos carmelitas, o Petit Castelet, situado em pleno campo, perto da pequena cidade de Tarascon. Ele aceitará a nomeação com dor, mas, também com espírito de fé e grande confiança nos desígnios de Deus. Com efeito, em 1929, ele receberá a visita de 03 moças, professoras e responsáveis de uma escola em Marselha que desejam entregar suas vidas a Deus e receber a ciência da oração carmelitana. Frei Maria Eugênio verá nesta visita, uma resposta às suas intuições interiores.
A providência mostrava assim que a intuição do Frei Maria Eugênio correspondia à vontade de Deus e o Instituto Nossa Senhora da Vida começava a dar seus primeiros passos com a aprovação da Igreja através do arcebispo de Avignon.
Fundado em 1932, sem muitos recursos materiais nem regras precisas, a única certeza do fundador era de fazer a vontade de Deus. As regras e constituições virão com o passar do tempo e a experiência dos primeiros anos.
As três pioneiras serão: Germaine Romieu, Joana Grousset e Maria Pila que será o braço direito do Frei Maria-Eugênio e cofundadora do Instituto. Assim, o Instituto começa a se modelar segundo os desejos do padre Maria Eugênio de formar “apóstolos contemplativos”, ou seja, homens e mulheres que, abastecidos pelo Espirito Santo através da oração cotidiana, testemunham no seu trabalho e em todos os lugares, a existência de Deus e o Seu amor por todos os homens.As três vão começar por abandonar o trabalho durante um ano e retirar-se em Nossa Senhora da Vida para um período de formação e recolhimento. Elas o farão, cada uma em um ano diferente, permitindo que a escola em Marselha continue a funcionar.
Em 1937, grande alegria para o Frei Maria Eugênio: depois de cinco anos de fundação, a Igreja reconhece oficialmente o Instituto Nossa Senhora da Vida como Fraternidade Secular da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de Santa Teresa.
No dia 17 de abril de 1937, aos 43 anos, Frei Maria Eugênio do Menino Jesus será nomeado Definidor Geral da Ordem e ele manterá esta função até o ano de 1955.
Em 1939, Berta Grialou, antes muito indecisa, resolve entrar para o Instituto Nossa Senhora da Vida. Irmã do fundador, os dois manterão uma grande discrição a este respeito para não provocar ciúmes aos outros membros da comunidade.
Neste mesmo ano, a II Guerra Mundial intervirá novamente na vida do Frei Maria Eugênio. Tenente durante a I Guerra, ele agora é convocado como capitão. Suas funções como Definidor deverão esperá-lo até o ano de 1940 quando ele será liberado da guerra.
Liberado da guerra ele pode retomar suas atividades no Carmelo mas, tudo não está resolvido; a guerra não terminou e quase não há trens para ir a Roma. Obrigado a ficar na França, Frei Maria Eugênio não perderá tempo. Aproveitará para visitar os Carmelos não destruídos, confortando os religiosos e religiosas e somente no ano de 1941, ele pregará em cerca de 21 retiros. Em 1945 a guerra termina e em 1946 ele retornará a Roma.
A experiência do Frei (viagens, conferências, conversações e estudos) lhe ajudará a entender que, independente da nacionalidade ou da cultura, todas as pessoas têm sede de Deus. Assim, apesar de todas as suas responsabilidades e do cansaço devido às viagens, ele publicará a 1ᵃ parte do livro “Eu Quero Ver a Deus” em 1949 e acrescentará a 2ᵃ parte “Eu sou Filha da Igreja” em 1951.
Em 1965, uma pneumonia grave o fará pensar que o fim de seus dias se aproxima e ele chamará toda a comunidade de Nossa Senhora da Vida para revelar-lhe alguns segredos profundos do seu coração e deixar-lhe o seu testamento espiritual:
“Vocês perceberam provavelmente que quando eu falo do Espírito Santo, eu me inflamo muito facilmente. Eu O chamo meu Amigo e creio ter razões para isto…Eu quero pedir para vocês o Espírito Santo. Este é o testamento que eu vos deixo! Que Ele desça sobre vocês e que vocês possam dizer o mais rápido possível que o Espírito Santo é vosso amigo, vossa luz e vosso mestre. Esta é a oração que eu vou continuar a fazer nesta terra enquanto o Bom Deus me deixar aqui e que eu continuarei certamente durante a eternidade”.
Esta pneumonia não tirará sua vida nem o impedirá de trabalhar pela Igreja durante o tempo que lhe resta e apesar do cansaço, enquanto Provincial, ele continuará a visitar os Carmelos, a fazer conferências, ademais, ele continuará a acompanhar de perto o grupo e Nossa Senhora da Vida que agora está bem estruturado com suas três ramificações, sendo duas para leigos (homens e mulheres) consagrados e a terceira para sacerdotes diocesanos. Todos comprometidos com uma vida de oração intensa e a serem testemunhos de Deus para todos, guardando o duplo espírito de “ação e contemplação bem unidas” como o dizia o fundador.
Em 1967 atingido por um câncer de próstata que ele chamará de “um pequeno acontecimento ”, Frei Maria Eugênio deverá deixar suas atividades definitivamente, mas continuará a responder a algumas cartas e a concelebrar as missas.
Ele passará o Tríduo Pascal em grande agonia e no dia 27 de março (segunda-feira de Páscoa) de 1967 aos 73 anos, Frei Maria Eugênio entra na vida eterna.
Misteriosa “coincidência”, as segundas-feiras de Páscoa eram festejadas no Instituto como o dia de Nossa Senhora da Vida. Data escolhida pelo próprio Frei.
Aberto no dia 07 abril 1985, o processo de canonização do Frei Maria Eugênio caminha lentamente e enfrenta as dificuldades comuns encontradas nesses trabalhos tão complexos e exigentes. No dia 19 de dezembro de 2011 o Santo Padre Bento XVI assinou o decreto que reconhece as virtudes heroicas do servo de Deus, passando a ser chamado de Venerável Maria-Eugênio do Menino Jesus.
Aprovado o milagre para sua beatificação, o Venerável Servo de Deus, por decreto do Papa Francisco, foi solenemente proclamado BEATO em cerimônia presidida pelo Arcebispo de Avignon, França, no dia 19 de novembro de 2017.
Fonte: http://www.santosebeatoscatolicos.com
04 de Fevereiro 2020
A SANTA MISSA

4ª Semana do Tempo Comum – Terça-feira
Cor: verde
1ª Leitura: 2Sm 18, 9-10.14b.24-25a.30 – 19, 3
“Absalão, meu filho, quem me dera ter morrido em teu lugar”
Leitura do Segundo Livro de Samuel
Naqueles dias,9 Absalão encontrou-se por acaso na presença dos homens de Davi. Ia montado numa mula e esta meteu-se sob a folhagem espessa de um grande carvalho. A cabeça de Absalão ficou presa nos galhos da árvore, de modo que ele ficou suspenso entre o céu e a terra, enquanto que a mula em que ia montado passou adiante. 10 Alguém viu isto e informou Joab, dizendo: ‘Vi Absalão suspenso num carvalho’. 14b Joab tomou então três dardos e cravou-os no peito de Absalão. 24 Davi estava sentado entre duas portas da cidade. A sentinela que tinha subido ao terraço da porta, sobre a muralha, levantou os olhos e divisou um homem que vinha correndo, sozinho 25a Pôs-se a gritar e avisou o rei, que disse: ‘Se ele vem só, traz alguma boa nova’. 30 O rei disse-lhe: ‘Passa e espera aqui’. Tendo ele passado e estando no seu lugar, 31 apareceu o etíope e disse: ‘Trago-te, senhor meu rei, a boa nova: O Senhor te fez justiça contra todos os que se tinham revoltado contra ti’. 32 O rei perguntou ao etíope: ‘Vai tudo bem para o jovem Absalão?’ E o etíope disse: ‘Tenham a sorte deste jovem os inimigos do rei, meu senhor, e todos os que se levantam contra ti para te fazer mal! ‘ 19,1 Então o rei estremeceu, subiu para a sala que está acima da porta e caiu em pranto. Dizia entre soluços: ‘Meu filho Absalão! Meu filho, meu filho Absalão! Por que não morri eu em teu lugar? Absalão, meu filho, meu filho! ‘ 2 Anunciaram a Joab que o rei estava chorando e lamentando-se por causa do filho. 3 Assim, a vitória converteu-se em luto, naquele dia, para todo o povo, porque o povo soubera que o rei estava acabrunhado de dor por causa de seu filho.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 85(86), 1-2.3-4.5-6(R. 1a)
R. Inclinai vosso ouvido, ó Senhor, e respondei-me!
1 Inclinai, ó Senhor, vosso ouvido, *
escutai, pois sou pobre e infeliz!
2 Protegei-me, que sou vosso amigo, +
e salvai vosso servo, meu Deus, *
que espera e confia em vós! R.
3 Piedade de mim, ó Senhor, *
porque clamo por vós todo o dia!
4 Animai e alegrai vosso servo, *
pois a vós eu elevo a minh’alma. R.
5 Ó Senhor, vós sois bom e clemente, *
sois perdão para quem vos invoca.
6 Escutai, ó Senhor, minha prece, *
o lamento da minha oração! R.
Evangelho: Mc 5, 21-43
“Menina, Eu te ordeno: levanta-te”
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo,21 Jesus atravessou de novo, numa barca, para a outra margem. Uma numerosa multidão se reuniu junto dele, e Jesus ficou na praia. 22 Aproximou-se, então, um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo. Quando viu Jesus, caiu a seus pés, 23 e pediu com insistência: ‘Minha filhinha está nas últimas. Vem e põe as mãos sobre ela, para que ela sare e viva!’ 24 Jesus então o acompanhou. Uma numerosa multidão o seguia e o comprimia. 25 Ora, achava-se ali uma mulher que, há doze anos, estava com uma hemorragia; 26 tinha sofrido nas mãos de muitos médicos, gastou tudo o que possuía, e, em vez de melhorar, piorava cada vez mais. 27 Tendo ouvido falar de Jesus, aproximou-se dele por detrás, no meio da multidão, e tocou na sua roupa. 28 Ela pensava: ‘Se eu ao menos tocar na roupa dele, ficarei curada’. 29 A hemorragia parou imediatamente, e a mulher sentiu dentro de si que estava curada da doença. 30 Jesus logo percebeu que uma força tinha saído dele. E, voltando-se no meio da multidão, perguntou: ‘Quem tocou na minha roupa?’ 31 Os discípulos disseram: ‘Estás vendo a multidão que te comprime e ainda perguntas: ‘Quem me tocou’?’ 32 Ele, porém, olhava ao redor para ver quem havia feito aquilo. 33 A mulher, cheia de medo e tremendo, percebendo o que lhe havia acontecido, veio e caíu aos pés de Jesus, e contou-lhe toda a verdade. 34 Ele lhe disse: ‘Filha, a tua fé te curou. Vai em paz e fica curada dessa doença’. 35 Ele estava ainda falando, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, e disseram a Jairo: ‘Tua filha morreu. Por que ainda incomodar o mestre?’ 36 Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da sinagoga: ‘Não tenhas medo. Basta ter fé!’ 37 E não deixou que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e seu irmão João. 38 Quando chegaram à casa do chefe da sinagoga, Jesus viu a confusão e como estavam chorando e gritando. 39 Então, ele entrou e disse: ‘Por que essa confusão e esse choro? A criança não morreu, mas está dormindo’. 40 Começaram então a caçoar dele. Mas, ele mandou que todos saíssem, menos o pai e a mãe da menina, e os três discípulos que o acompanhavam. Depois entraram no quarto onde estava a criança. 41 Jesus pegou na mão da menina e disse: ‘Talitá cum’ – que quer dizer: ‘Menina, levanta-te!’ 42 Ela levantou-se imediatamente e começou a andar, pois tinha doze anos. E todos ficaram admirados. 43 Ele recomendou com insistência que ninguém ficasse sabendo daquilo. E mandou dar de comer à menina.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Comunhões Espirituais
TEMPO COMUM. QUARTA SEMANA. TERÇA-FEIRA
– O nosso encontro com Cristo na Eucaristia.
– As comunhões espirituais. Desejo de receber a Cristo.
– A Comunhão sacramental. Preparação e ação de graças.
I. SENHOR, OUVI A MINHA ORAÇÃO e chegue até Vós o meu clamor. Não oculteis de mim a vossa face no dia da minha angústia. Inclinai para mim o vosso ouvido e, quando Vos invocar, socorrei-me prontamente 1.
O Evangelho da Missa 2 relata os milagres que Jesus realizou certa vez, depois de ter voltado à outra margem do lago, provavelmente a Cafarnaum. São Lucas diz-nos que todos estavam à sua espera3; agora mostram-se contentes por tê-lo de novo com eles. E o Senhor toma imediatamente o caminho para a cidade, seguido dos seus discípulos e da multidão que o rodeia por todos os lados.
No meio de tantos que caminham num círculo apertado à sua volta, uma mulher vacilante ora consegue aproximar-se dEle, ora se vê atirada para longe, enquanto não cessa de repetir para si mesma: Se eu tocar nem que seja a orla do seu manto, ficarei curada. Estava doente havia doze anos e já tinha recorrido sem nenhum sucesso a todos os remédios humanos ao seu alcance: Sofrera muito nas mãos de vários médicos, gastando tudo o que possuía, sem achar nenhum alívio. Mas naquele dia compreendeu que Jesus era o seu único remédio: não só para uma doença que a tornava impura perante a lei, mas para toda a sua vida. A certa altura, conseguiu esticar a mão e tocar a orla do manto do Senhor. E nesse exato momento Jesus deteve-se e ela sentiu-se curada.
Quem tocou as minhas vestes?, perguntou Jesus, dirigindo-se aos que o cercavam. Eu sei que uma força saiu de mim 4. Naquele instante, a mulher viu fixarem-se nela aqueles olhos que chegavam até o fundo do coração. Atemorizada, trêmula e cheia de alegria, tudo ao mesmo tempo, lançou-se aos seus pés.
Nós também necessitamos do contacto com Cristo, porque são muitas as nossas doenças e grande a nossa fraqueza. E chegamos a ter esse encontro com Ele sempre que o recebemos na Comunhão, oculto nas espécies sacramentais. E são tantos os bens que então recebemos que o Senhor nos fita e nos pode dizer: Eu sei que uma força saiu de mim. É uma torrente de graças que nos inunda de alegria, que nos dá a firmeza necessária para continuarmos a caminhar e que causa assombro aos anjos.
Quando a nossa amizade com Cristo cresce sempre mais, passamos a desejar que chegue o momento de cada Comunhão. Procuramos o Senhor com a mesma persistência daquela mulher doente, servindo-nos para isso de todos os meios ao nosso alcance, tanto humanos como sobrenaturais. Se, em alguma ocasião, devido a uma viagem, a um contratempo na família, a uma época de exames ou de trabalho mais intenso, etc., se torna mais difícil comungar, fazemos um esforço maior, somos mais engenhosos em vencer os obstáculos, pomos mais amor. Procuramos então o Senhor com o mesmo empenho com que Maria Madalena foi ao sepulcro ao raiar do terceiro dia, sem se importar com os soldados que estavam de guarda, nem com a pedra que lhe impedia a passagem...
Santa Catarina de Sena explica com um exemplo a importância de se desejar vivamente a Comunhão. Suponhamos – diz-nos – que várias pessoas têm uma vela de peso e tamanho diferentes. A primeira tem uma vela de cem gramas, a segunda de duzentos, a terceira de trezentos, e outra de um quilo. Cada uma acende a sua vela. A que tem a vela de cem gramas tem menos capacidade de iluminar do que a que possui a vela de um quilo. Assim acontece com os que vão comungar. Cada um leva um círio, que são os santos desejos com que recebe este sacramento 5. Esses “santos desejos” são a condição de uma Comunhão fervorosa.
II. PARA QUEM ESTÁ EM GRAÇA, todas as condições para receber sempre com fruto a Comunhão sacramental podem resumir-se numa: ter fome da Sagrada Eucaristia6. Esta fome e esta sede de Cristo não podem ser substituídas por nada.
O vivo desejo de comungar, sinal de fé e de amor, há de levar-nos a muitas comunhões espirituais antes de recebermos o Senhor sacramentalmente, e isso durante o dia, no meio da rua ou do trabalho. “A comunhão espiritual consiste num desejo ardente de receber Jesus Sacramentado e num abraço amoroso como se já o tivéssemos recebido” 7. Prolonga de certa maneira os frutos da Comunhão anterior, prepara para a seguinte e ajuda-nos a desagravar o Senhor pelas vezes em que talvez não nos tenhamos preparado para recebê-lo com a delicadeza e o amor que Ele esperava, e também por todos aqueles que comungam com pecados graves na consciência ou que, de um modo ou de outro, se esqueceram de que Cristo ficou neste sacramento.
“A comunhão espiritual pode ser feita sem que ninguém nos veja, sem que se esteja em jejum, e a qualquer hora, porque consiste num ato de amor; basta dizer de todo o coração: [...] Creio, ó meu Jesus, que estais no Santíssimo Sacramento; eu Vos amo e desejo muito receber-Vos, vinde ao meu coração; eu Vos abraço; não Vos ausenteis de mim” 8. Ou, como muitos outros cristãos, que o aprenderam talvez por ocasião da sua Primeira Comunhão: Eu quisera, Senhor, receber-Vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu a vossa Santíssima Mãe, com o espírito e o fervor dos santos 9.
Devemos praticar especialmente as comunhões espirituais nas horas que antecedem a Missa e a Comunhão: à noite, quando chega a hora do descanso; de manhã, a partir do momento em que nos levantamos. Se pusermos um pouco de esforço e pedirmos ajuda ao nosso Anjo da Guarda, a Eucaristia presidirá à nossa vida e será “o centro e o cume” 10 para o qual se dirigem todos os nossos atos do dia que começa.
Recorramos hoje ao nosso Anjo da Guarda para que nos recorde freqüentemente a proximidade de Cristo nos sacrários da cidade onde vivemos ou onde nos encontramos, e nos consiga abundantes graças para que cada dia seja maior o nosso desejo de receber Jesus, e maior o nosso amor, particularmente nesses minutos em que o temos sacramentalmente em nosso coração.
III. DEVEMOS PÔR O MAIOR empenho em abeirar-nos de Cristo com a fé daquela mulher, com a sua humildade, com o seu grande desejo de ficar curada. “Quem somos nós, para estarmos tão perto dEle? Tal como àquela pobre mulher no meio da multidão, o Senhor ofereceu-nos uma oportunidade. E não só para tocar uma ponta da sua túnica, ou, num breve momento, o extremo do seu manto, a orla. Temo-lo inteiro. Entrega-se totalmente a cada um de nós, com o seu Corpo, com o seu Sangue, com a sua Alma e com a sua Divindade. Comemo-lo todos os dias, falamos intimamente com Ele, como se fala com o pai, como se fala com o Amor” 11. É uma realidade, tanto quanto o é a nossa existência ou o mundo e as pessoas que encontramos todos os dias.
A Comunhão não é um prêmio à virtude, mas alimento para os fracos e necessitados: para nós. E a nossa Mãe a Igreja exorta-nos a comungar com freqüência, se possível diariamente, e ao mesmo tempo insiste em que nos esforcemos a fundo por afastar a rotina, a tibieza, a falta de amor, em que purifiquemos a alma dos pecados veniais através de atos de contrição e da confissão freqüente e, antes de mais nada, em que nunca comunguemos com a menor sombra de pecado grave, isto é, sem termos recebido previamente o sacramento do perdão 12. Quanto às faltas leves, o Senhor pede-nos o que está ao nosso alcance: arrependimento e desejo de evitar que se repitam.
O amor a Jesus presente na Sagrada Eucaristia manifesta-se também no modo de lhe mostrarmos o nosso agradecimento depois da Comunhão; o amor é inventivo e sabe encontrar modos próprios para expressar a sua gratidão, mesmo que a alma se ache mergulhada na aridez mais completa. A aridez não é tibieza, mas amor com ausência de sentimento, que impele, no entanto, a pôr mais esforço e a pedir ajuda aos intercessores do Céu, como o nosso Anjo da Guarda, que nos prestará grandes serviços numa ocasião como esta, tal como o faz em tantas outras.
As próprias distrações devem ajudar-nos a alcançar um maior fervor à hora de darmos graças a Deus pelo bem incomparável de nos ter visitado. Tudo nos deve servir para que, nesses minutos em que temos o próprio Deus conosco, nos encontremos nas melhores disposições possíveis dentro das nossas limitações. “Quando o receberes, diz-lhe: – Senhor, espero em Ti; adoro-te, amo-te, aumenta-me a fé. Sê o apoio da minha debilidade, Tu, que ficaste na Eucaristia, inerme, para remediar a fraqueza das criaturas” 13.
A Virgem Nossa Senhora ajudar-nos-á a preparar a nossa alma com aquela pureza, humildade e devoção com que Ela o recebeu depois da mensagem do Anjo.
(1) Sl 101; (2) Mc 5, 21-43; (3) cfr. Lc 8, 41-56; (4) cfr. Lc 8, 46; (5) Santa Catarina de Sena, O Diálogo, pág. 385; (6) cfr. R. Garrigou-Lagrange, Las tres edades de la vida interior, vol. I, pág. 484; (7) Santo Afonso Maria de Ligório, Visitas ao Santíssimo Sacramento, Rialp, Madrid, 1965, pág. 40; (8) ib., pág. 41; (9) Orações do cristão, Quadrante, São Paulo, pág. 16; (10) cfr. Conc. Vat. II, Decr. Ad gentes, 9; (11) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 199; (12) cfr. 1 Cor 11, 27-28; Paulo VI, Instr. Eucharisticum Mysterium, 37; (13) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 832.
Fonte: livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal.
03 de Fevereiro 2020
A SANTA MISSA

4ª Semana do Tempo Comum – Segunda-feira
Cor: Verde
1ª Leitura: 2Sm 15,13-14.30;16,5-13a
Fujamos de Absalão!
Deixai Semei amaldiçoar, conforme a permissão do Senhor.
Leitura do Segundo Livro de Samuel
Naqueles dias: 13 Um mensageiro veio dizer a Davi: ‘As simpatias de todo o Israel estão com Absalão’. 14 Davi disse aos servos que estavam com ele em Jerusalém: ‘Depressa, fujamos, porque, de outro modo, não podemos escapar de Absalão! Apressai-vos em partir, para que não aconteça que ele, chegando, nos apanhe, traga sobre nós a ruína, e passe a cidade ao fio da espada’. 30 Davi caminhava chorando, enquanto subia o monte das Oliveiras, com a cabeça coberta e os pés descalços. E todo o povo que o acompanhava, subia também chorando, com a cabeça coberta. 16,5 Quando o rei chegou a Baurim, saiu de lá um homem da parentela de Saul, chamado Semei, filho de Gera, que ia proferindo maldições enquanto andava. 6 Atirava pedras contra Davi e contra todos os servos do rei, embora toda a tropa e todos os homens de elite seguissem agrupados à direita e à esquerda do rei Davi. 7 Semei amaldiçoava-o, dizendo: ‘Vai-te embora! Vai-te embora, homem sanguinário e criminoso! 8 O Senhor fez cair sobre ti todo o sangue da casa de Saul, cujo trono usurpaste, e entregou o trono a teu filho Absalão. Tu estás entregue à tua própria maldade, porque és um homem sanguinário’. 9 Então Abisai, filho de Sarvia, disse ao rei: ‘Por que há de este cão morto continuar amaldiçoando o senhor, meu rei? Deixa-me passar para lhe cortar a cabeça’. 10 Mas o rei respondeu: ‘Não te intrometas, filho de Sarvia! Se ele amaldiçoa e se o Senhor o mandou maldizer a Davi, quem poderia dizer-lhe: ‘Por que fazes isto?’. 11 E Davi disse a Abisai e a todos os seus servos: ‘Vede: Se meu filho, que saiu das minhas entranhas, atenta contra a minha vida, com mais razão esse filho de Benjamim. Deixai-o amaldiçoar, conforme a permissão do Senhor. 12 Talvez o Senhor leve em conta a minha miséria, restituindo-me a ventura em lugar da maldição de hoje’. 13a E Davi e seus homens seguiram adiante.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 3,2-3. 4-5. 6-7 (R. 8a)
R. Levantai-vos, ó Senhor, vinde salvar-me!
2 Quão numerosos, ó Senhor, os que me atacam; *
quanta gente se levanta contra mim!
3 Muitos dizem, comentando a meu respeito: *
‘Ele não acha a salvação junto de Deus!’ R.
4 Mas sois vós o meu escudo protetor, *
a minha glória que levanta minha cabeça!
5 Quando eu chamei em alta voz pelo Senhor, *
do Monte santo ele me ouviu e respondeu. R.
6 Eu me deito e adormeço bem tranquilo; *
acordo em paz, pois o Senhor é meu sustento.
7 Não terei medo de milhares que me cerquem *
e furiosos se levantem contra mim. R.
Evangelho: Mc 5,1-20
Espírito impuro, sai desse homem!
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos
1 Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar, na região dos gerasenos. 2 Logo que saiu da barca, um homem possuído por um espírito impuro, saindo de um cemitério, foi ao seu encontro. 3 Esse homem morava no meio dos túmulos e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. 4 Muitas vezes tinha sido amarrado com algemas e correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava as algemas. E ninguém era capaz de dominá-lo. 5 Dia e noite ele vagava entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras. 6 Vendo Jesus de longe, o endemoninhado correu, caiu de joelhos diante dele 7 e gritou bem alto: ‘Que tens a ver comigo, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Eu te conjuro por Deus, não me atormentes!’ 8 Com efeito, Jesus lhe dizia: ‘Espírito impuro, sai desse homem!’ 9 Então Jesus perguntou: ‘Qual é o teu nome?’ O homem respondeu: ‘Meu nome é ‘Legião’, porque somos muitos.’ 10 E pedia com insistência para que Jesus não o expulsasse da região. 11 Havia aí perto uma grande manada de porcos, pastando na montanha. 12 O espírito impuro suplicou, então: ‘Manda-nos para os porcos, para que entremos neles.’ 13 Jesus permitiu. Os espíritos impuros saíram do homem e entraram nos porcos. E toda a manada – mais ou menos uns dois mil porcos – atirou-se monte abaixo para dentro do mar, onde se afogou. 14 Os homens que guardavam os porcos saíram correndo e espalharam a notícia na cidade e nos campos. E as pessoas foram ver o que havia acontecido. 15 Elas foram até Jesus e viram o endemoninhado sentado, vestido e no seu perfeito juízo, aquele mesmo que antes estava possuído pela Legião. E ficaram com medo. 16 Os que tinham presenciado o fato explicaram-lhes o que havia acontecido com o endemoninhado e com os porcos. 17 Então começaram a pedir que Jesus fosse embora da região deles. 18 Enquanto Jesus entrava de novo na barca, o homem que tinha sido endemoninhado pediu-lhe que o deixasse ficar com ele. 19 Jesus, porém, não permitiu. Entretanto, lhe disse: ‘Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti.’ 20 Então o homem foi embora e começou a pregar na Decápole tudo o que Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Desprendimento e Vida Cristã
TEMPO COMUM. QUARTA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA
– A presença de Jesus na nossa vida pode por vezes significar a perda de bens materiais. Jesus vale mais.
– Todas as coisas devem ser meios que nos aproximem de Cristo.
– Desprendimento. Alguns detalhes.
I. DIZ-NOS SÃO MARCOS no Evangelho da Missa 1 que Jesus chegou à região dos gerasenos, uma terra de não-judeus, do outro lado do lago de Genesaré. Logo depois de deixar a barca, saiu-lhe ao encontro um endemoninhado que, prostrando-se diante dEle, gritava: Que há entre ti e mim, Jesus, Filho de Deus Altíssimo? Por Deus te conjuro que não me atormentes. Porque Jesus dizia-lhe: Sai desse homem, espírito impuro. Jesus perguntou-lhe pelo nome e ele respondeu: Legião é o meu nome, porque somos muitos. E suplicava-lhe insistentemente que não os lançasse fora daquela região. Perto do lugar, havia uma grande vara de porcos.
A chegada do Messias traz consigo a derrota do reino de Satanás, e é por isso que o vemos resistir e esbravejar em diversas passagens do Evangelho. Como nos demais milagres, quando Jesus expulsa o demônio, põe em relevo o seu poder redentor. O Senhor sempre se apresenta na vida dos homens livrando-os dos males que os oprimem:Passou fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo diabo 2, dirá São Pedro, resumindo esta e outras expulsões de demônios operadas pelo Senhor.
Os demônios falam pela boca daquele homem e queixam-se de que Jesus tenha vindo destruir-lhes o seu reinado na terra. E pedem-lhe para ficar naquele lugar. Por isso querem entrar nos porcos. Talvez fosse também uma maneira de prejudicarem e de se vingarem das pessoas da região, e de as predisporem contra Jesus. O Senhor, contudo, cede ao pedido dos demônios. A vara correu então com ímpeto pelo despenhadeiro até ao mar e pereceu na água. Os que cuidavam dos porcos fugiram e espalharam a notícia pela cidade e pelo campo. E a gente do povoado foi ver o que tinha acontecido.
São Marcos indica-nos expressamente que os porcos que se afogaram eram ao redor de dois mil. Deve ter significado uma grande perda para aqueles gentios. Talvez fosse o resgate que se pedia a esse povo para livrar um deles do poder do demônio: perderam uns porcos, mas recuperaram um homem. E este endemoninhado, este homem “rebelde e dividido, miseravelmente dominado por uma multidão de espíritos imundos, não tem porventura uma certa semelhança com um tipo humano que não é alheio ao nosso tempo? Em qualquer caso, o alto custo pago pela sua libertação, a hecatombe da vara de dois mil porcos afogados nas águas do mar da Galiléia, talvez seja um índice do elevado preço que se deve pagar pelo resgate do homem pagão contemporâneo. Um custo que se pode avaliar também em riquezas que se perdem; um resgate cujo custo é a pobreza daquele que generosamente tenta redimi-lo. A pobreza real dos cristãos talvez seja o valor que Deus tenha fixado pelo resgate do homem de hoje. E vale a pena pagá-lo [...]; um só homem vale muito mais do que dois mil porcos” 3.
II. PARA OS HOMENS daquele povoado, no entanto, pesou mais o dano material que a libertação do endemoninhado. Na troca de um homem por uns porcos, inclinaram-se pelos porcos. Ao verem o que havia acontecido, pediram a Jesus que se retirasse da sua região. Coisa que Jesus fez imediatamente.
A presença de Jesus nas nossas vidas pode significar por vezes perdermos uma ocasião única de fecharmos um bom negócio, porque não era inteiramente honesto, ou porque não podíamos concorrer em igualdade de condições com alguns colegas inescrupulosos..., ou, simplesmente, porque o Senhor queria que lhe ganhássemos o coração com a nossa pobreza. Pode significar termos de renunciar a um cargo público ou de mudar de emprego....
Nunca caiamos na aberração de dizer a Jesus que se retire da nossa vida pelo risco de sofrermos um prejuízo material de qualquer tipo. Antes pelo contrário, devemos dizer-lhe muitas vezes, com as palavras que o sacerdote pronuncia em voz baixa antes da Comunhão na Santa Missa: Fac me tuis semper inhaerere mandatis, et a te numquam separari permittas – fazei-me cumprir sempre a vossa vontade e jamais separar-me de Vós. É mil vezes preferível estar com Cristo sem nada, a ter todos os tesouros do mundo sem Ele. “A Igreja sabe bem que só Deus, a quem ela serve, satisfaz as aspirações mais profundas do coração do homem” 4.
Todas as coisas da terra são meios para nos aproximarmos de Deus. Se não servem para isso, já não servem para nada. Jesus vale mais que qualquer negócio, mais que a própria vida. “Se o afastas de ti e o perdes, aonde irás, a quem buscarás por amigo? Não podes viver sem um amigo; e se Jesus não for o teu grande amigo, estarás muito triste e desconsolado”5. Perderás muito nesta vida e tudo na outra.
Os primeiros cristãos e, com eles, muitos homens e mulheres ao longo dos séculos, preferiram o martírio a perder Cristo. “Durante as perseguições dos primeiros séculos, as penas habituais eram a morte, a deportação e o exílio. Hoje, uniram-se à prisão, aos campos de concentração ou de trabalhos forçados e à expulsão da própria pátria, outras penas menos chamativas mas mais sutis: já não se trata de uma morte sangrenta, mas de uma espécie de morte civil; não apenas de segregação numa prisão ou num campo, mas de uma restrição permanente à liberdade pessoal ou de uma discriminação social [...]” 6. Seríamos nós capazes de perder, se fosse necessário, a honra ou a fortuna, para podermos permanecer com Deus?
Seguir Jesus não é compatível com qualquer coisa. É preciso escolher, é preciso renunciar a tudo o que seja um impedimento para estar com Ele.
Para tanto, devemos pedir ao Senhor e à sua Mãe que afastem de nós a menor coisa que nos separe dEle: “Mãe, livrai os vossos filhos de toda a mancha, de tudo o que nos afaste de Deus, ainda que tenhamos que sofrer, ainda que nos custe a vida” 7. Para que quereríamos o mundo inteiro se perdêssemos Jesus?
III. “PELO DESENLACE de todo este episódio – diz São João Crisóstomo –, vê-se claramente que entre os moradores daquela região havia gente tola. Porque, quando deveriam ter-se prostrado em adoração, admirando o poder do Senhor, mandaram-lhe um recado pedindo-lhe que se fosse embora da sua região” 8. Jesus fora visitá-los e eles não souberam compreender quem estava ali, apesar dos prodígios que fez. Esta foi a maior tolice daquelas pessoas: não reconhecerem Jesus.
O Senhor passa ao lado da nossa vida todos os dias. Se tivermos o coração apegado às coisas materiais, não o reconheceremos; e há muitas formas, algumas delas extremamente sutis, de dizer-lhe que se retire dos nossos domínios, da nossa vida, já que ninguém pode servir a dois senhores; pois, ou odiando um, amará o outro, ou aderindo a um, menosprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas9.
Conhecemos por experiência própria o perigo que corremos de nos escravizarmos aos bens terrenos, nas suas múltiplas manifestações: pela avidez sempre crescente de mais bens, pelo aburguesamento, pelo apego às comodidades, ao luxo, aos caprichos, aos gastos desnecessários, etc. E vemos também o que acontece à nossa volta: “Não poucos homens parecem como que dominados pela realidade econômica, de tal modo que toda a sua vida pessoal e social se acha impregnada de um certo espírito materialista” 10.
Nós devemos estar desprendidos de tudo o que temos. Assim saberemos utilizar os bens da terra tal como Deus o dispôs, e teremos o coração nEle e nos bens que nunca se esgotam. O desprendimento faz da vida um caminho saboroso de austeridade e eficácia. O cristão deve examinar-se com freqüência e averiguar se se mantém vigilante para não cair no comodismo ou num aburguesamento absolutamente incompatível com o seguimento de Cristo; se procura não criar necessidades falsas; se as coisas da terra o aproximam ou o afastam de Deus. Podemos e devemos sempre ser parcos nas necessidades pessoais – tem sempre mais aquele que precisa de menos11 –, reduzindo os gastos supérfluos, não cedendo aos caprichos, vencendo a propensão para comparar o que possuímos com o que os outros possuem, sendo generosos na esmola.
O Senhor vale infinitamente mais do que todos os bens criados. Não há de suceder na nossa vida o que sucedeu àqueles gerasenos: Toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, ao vê-lo, pediram-lhe que se retirasse da sua região 12. Digamos-lhe, pelo contrário, com as palavras de São Boaventura na oração para depois da Comunhão: Que só Vós sejais sempre [...] a minha herança, a minha posse, o meu tesouro, no qual estejam sempre fixa e firme e inabalavelmente arraigadas a minha alma e o meu coração 13. Senhor, para onde iria eu sem Vós?
(1) Mc 5, 1-20; (2) At 10, 38; (3) J. Orlandis, La vocación cristiana del hombre de hoy, 2ª ed., Rialp, Madrid, 1964, pág. 186; (4) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 41; (5) T. Kempis, Imitação de Cristo, II, 8, 3; (6) João Paulo II, Meditação-oração, Lourdes, 14-VIII-1983; (7) A. del Portillo, Carta, 31-V-1987, n. 5; (8) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 28, 3; (9) Mt 6, 24; (10) Conc. Vat. II, op. cit., 63; (11) cfr. São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 630; (12) Mt 8, 34; (13) Missal Romano, Oração para a ação de graças da Comunhão.
Fonte: livro "Falar com Deus", de Francisco Fernandez Carvajal.