TEMPO COMUM. QUARTA SEMANA. QUINTA-FEIRA

– Imitar Cristo no amor e no cuidado dos doentes.
– A Unção dos Enfermos.
– Valor corredentor da dor e da doença. Aprender a santificá-la.

I. O EVANGELHO DA MISSA1 fala-nos da missão que os Doze empreenderam pelas aldeias e regiões da Palestina. Pregaram a necessidade de fazer penitência para entrar no Reino de Deus e expulsavam os demônios e ungiam com óleo muitos doentes e os curavam.

O azeite era utilizado com freqüência para curar as feridas2, e o Senhor determinou que fosse essa a matéria do sacramento da Unção dos Enfermos. Nas breves palavras do Evangelho de São Marcos a Igreja viu insinuado este sacramento3, que foi instituído pelo Senhor e mais tarde promulgado e recomendado aos fiéis pelo Apóstolo São Tiago4. É mais uma demonstração da solicitude de Cristo e da sua Igreja pelos cristãos mais necessitados.

O Senhor mostrou sempre a sua compaixão infinita pelos enfermos. Ele próprio se revelou aos discípulos enviados pelo Batista chamando-lhes a atenção para o que estavam vendo e ouvindo: os cegos recuperavam a vista e os coxos andavam; os leprosos ficavam limpos e os surdos ouviam; os mortos ressuscitavam e os pobres eram evangelizados5.

Na parábola do banquete das bodas, os criados recebem esta ordem: Saí pelos caminhos… e trazei os pobres, os aleijados, os cegos, os coxos…6 São inúmeras as passagens em que Jesus se mostra compadecido ao contemplar a dor e a doença, e em que cura muitos como sinal da cura espiritual que realizava nas almas.

Ora, Jesus quis que nós, os seus discípulos, o imitássemos numa compaixão eficaz por aqueles que sofrem na doença e em toda a dor. “A Igreja cerca de amor todos os afligidos pela fraqueza humana; mais ainda, reconhece nos pobres e nos que sofrem a imagem do seu Fundador pobre e sofredor. Faz o possível por mitigar-lhes a pobreza e neles procura servir a Cristo”7.

Nos doentes, vemos o próprio Cristo que nos diz: O que fizestes por um destes, a mim o fizestes8. “Quem ama verdadeiramente o próximo deve fazer-lhe bem ao corpo tanto como à alma – escreve Santo Agostinho –, e isso não consiste apenas em acompanhar os outros ao médico, mas também em cuidar de que não lhes falte alimentação, bebida, roupa, moradia, e em proteger-lhes o corpo contra tudo o que possa prejudicá-lo… São misericordiosos os que usam de delicadeza e humanidade quando proporcionam aos outros o necessário para resistirem aos males e às dores”9.

Entre as atenções que podemos ter com os doentes está o cuidado de visitá-los com a freqüência oportuna, de procurar que a doença não os intranquilize, de facilitar-lhes o descanso e o cumprimento de todas as prescrições do médico, de fazer com que o tempo que estejamos com eles lhes seja grato. Não esqueçamos que os doentes são o “tesouro da Igreja” e que têm um poder muito grande diante de Deus, pois o Senhor os olha com particular predileção. “Criança. – Doente. – Ao escrever estas palavras, não sentis a tentação de as pôr com maiúsculas? É que, para uma alma enamorada, as crianças e os doentes são Ele”10.

II. DEVEMOS PREOCUPAR-NOS pela saúde física dos que estão doentes e também pela sua alma. Procuraremos ajudá-los com os meios humanos ao nosso alcance e, sobretudo, procuraremos fazê-los ver que, se unirem essa dor aos padecimentos de Cristo, ela se converterá num bem de valor incalculável: será ajuda eficaz para toda a Igreja, purificação das faltas passadas e uma oportunidade que Deus lhes dá para progredirem muito na santidade pessoal, porque não raras vezes Cristo abençoa com a Cruz.

O sacramento da Unção dos Enfermos é um dos cuidados que a Igreja reserva para os seus filhos doentes. Este sacramento foi instituído para ajudar os homens a alcançar o Céu, mas não pode ser administrado aos sãos, nem mesmo aos que não padecem de uma doença grave, ainda que se achem em perigo de vida, porque foi instituído a modo de remédio espiritual, e os remédios não se dão aos que estão bem de saúde, mas aos doentes11.

A Igreja também não deseja que se espere até os momentos finais para recebê-lo, mas quando se começa a estar em perigo de morte por doença ou velhice12; pode-se, porém, reiterá-lo, se o doente se recupera depois da Unção ou se, durante a mesma doença, se acentua o perigo ou a gravidade13; pode-se administrá-lo também a quem vai submeter-se a uma intervenção cirúrgica, desde que a causa da operação seja uma doença grave14.

O maior bem deste sacramento é livrar o cristão do abatimento e da fraqueza que contraiu pelos seus pecados15.

Deste modo a alma sai fortalecida e recupera a juventude e o vigor que tinha perdido em conseqüência das suas faltas e debilidades.

O Papa Paulo VI, citando o Concílio de Trento, explicava e resumia assim os efeitos deste sacramento: outorga “a graça do Espírito Santo, cuja unção tira os pecados, se ainda resta algum por apagar, como também os vestígios do pecado; alivia e fortalece também a alma do doente, despertando nela uma grande confiança na misericórdia divina; permite-lhe, sustentado dessa forma, suportar facilmente as provas e penalidades da doença, bem como resistir com maior facilidade às tentações do demônio que está à espreita (Gen 3, 15), e por vezes recuperar a saúde corporal, se for conveniente para a saúde da alma”16.

É um sacramento que infunde uma grande paz e alegria na alma do doente que esteja lúcido, movendo-o a unir-se a Cristo na Cruz e a corredimir com Ele, e que “prolonga o interesse que o Senhor manifestou pelo bem-estar corporal e espiritual de quem está doente, como testemunham os Evangelhos, e que Ele desejava que os seus discípulos também manifestassem”17.

Examinemos hoje se sabemos ver Cristo dolente nos enfermos, em cada um deles, se os atendemos com carinho e respeito, se lhes prestamos essas pequenas ajudas que tanto agradecem. Sobretudo, vejamos junto do Senhor se os ajudamos com sentido de oportunidade a santificar a dor, a corredimir com Cristo.

III. QUANDO O SENHOR nos fizer experimentar a sua Cruz através da dor e da doença, deveremos considerar-nos filhos prediletos. Ele pode enviar-nos a dor física ou outros sofrimentos: humilhações, fracassos, injúrias, desgostos na família… Não devemos esquecer então que a obra redentora de Cristo prossegue através de nós.

Por muito pouco que possamos valer, o sofrimento converte-nos em corredentores com Cristo, e a dor – que era inútil e má – transforma-se em alegria e num tesouro. E podemos dizer com o Apóstolo São Paulo:Agora alegro-me com os meus padecimentos por vós, e supro na minha carne o que falta às tribulações de Cristo pelo seu corpo que é a Igreja18.

João Paulo II afirma que a dor “não só é útil aos outros, como também lhes presta um serviço insubstituível. No Corpo de Cristo […] o sofrimento, impregnado do espírito de sacrifício de Cristo, é o mediador insubstituível e o autor dos bens indispensáveis à salvação do mundo. Mais do que qualquer outra coisa, é o sofrimento que abre caminho à graça que transforma as almas humanas. Mais do que qualquer outra coisa, é ele que torna presentes na história da humanidade as forças da Redenção”19.

Para aproveitarmos esta riqueza de graças, precisamos de “uma preparação remota, feita cada dia com um santo desapego de nós mesmos, para que nos disponhamos a carregar com garbo – se o Senhor assim o permite – a doença ou a desventura. Sirvamo-nos desde já das ocasiões normais, de alguma privação, da dor nas suas pequenas manifestações habituais, da mortificação, para pôr em prática as virtudes cristãs”20.

Recorremos à nossa Mãe, Santa Maria. Ela, “que no Calvário, permanecendo de pé valorosamente junto à Cruz do Filho (cfr. Jo 19, 25), participou da sua paixão, sabe sempre convencer novas almas a unirem os seus próprios sofrimentos ao sacrifício de Cristo, num «ofertório» que, transpondo o tempo e o espaço, abraça e salva toda a humanidade”21.

Peçamos-lhe que as penas – inevitáveis nesta vida – nos ajudem a unir-nos mais ao seu Filho, e que, quando chegarem, saibamos entendê-las como uma bênção para nós mesmos e para toda a Igreja.

(1) Mc 6, 7-13; (2) cfr. Is 1, 6; Lc 10, 34; (3) cfr. Conc. de Trento, Sess. XIV, Doctrina de sacramento extremae unctionis, cap. I; (4) cfr. Ti 5, 14 e segs.; (5) cfr. Mt 11, 5; (6) cfr. Lc 14, 21; (7) cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 8; (8) cfr. Mt 25, 40; (9) Santo Agostinho, Sobre os costumes da Igreja Católica, 1, 28, 56; (10) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 419; (11) cfr. Catecismo Romano, II, 6, 9; (12) Conc. Vat. II, Const. Sacrossanctum Concilium, 73; (13) cfr. Ritual da Unção, Praenotanda, n. 8; (14) cfr. ib., n. 10; (15) Catecismo Romano, II, 6, 14; (16) Paulo VI, Const. Apost.Sacram Unctionem infirmorum, 30-XI-1972; (17) Ritual da Unção, Praenotanda, n. 5; (18) Col 1, 24; (19) João Paulo II, Carta Apost. Salvifici doloris, 11-II-1984, 27; (20) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 124; (21) João Paulo II, Homilia, 11-XI-1980.

Fonte: livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal.