POR QUE JESUS QUIS LAVAR OS PÉS DOS APÓSTOLOS?

Um dos gestos mais marcantes de Jesus antes de subir o Calvário, é justamente o momento em que lava os pés dos seus discípulos e lhes manda fazer o mesmo. Não podemos deixar que isso passe por nós sem despertar nossos corações para a verdade presente neste gesto do Filho de Deus e Senhor Nosso. Primeiro é preciso entender que todos os gestos e atos que Jesus fez enquanto andou nesta terra são hoje mistérios que revelam coisas profundas. São João Crisóstomo dizia que uma só palavra de Cristo não pode nos enganar, neste sentido, podemos entender que também as atitudes de Cristo não podem nos enganar, ainda que sejam contrárias à nossa razão.

Para os judeus o fato de Jesus, que dizia ser o Filho de Deus e, portanto, o Mestre daqueles que o seguiam, ter-se rebaixado e lavado os pés dos outros homens, foi visto como uma afronta. Segundo a tradição judaica, sempre o menor dentre os outros, ou seja, o que tinha menos poder, deveria ser quem lavasse os pés dos seus superiores. Imaginem só a indignação dos fariseus quando souberam que Jesus tinha lavado os pés dos seus discípulos! Para eles, isso era inconcebível! No entanto, Nosso Senhor que sabia de tudo isso quis assim o fazer, para realmente mostrar que não só suas palavras eram importantes, mas, também as suas atitudes para com os outros.

Lavar os pés era uma prática oriental muito comum e possuía um sentido duplo, ou seja, em primeiro lugar era algo necessário, porque antigamente as pessoas não andavam de tênis e sapatos como andamos hoje, então banhar os pés era uma limpeza mesmo para entrar numa casa. Outra coisa é que a casa sempre foi vista como lugar da família, portanto, um lugar sagrado que para entrar devemos nos purificar. Vemos atitudes semelhantes no Antigo Testamento, como no tempo de Abraão (cf. Gn 18,4; 19,2) e na nação de Israel (cf. Jz 19,21). 

Nesta Quinta-Feira Santa, depois de ouvir o evangelho de São João 13,1-15 veremos os Sacerdotes realizando este Rito cumprindo o Mandato do Senhor: “Deis-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (v. 15). O grande doutor da Igreja, São Tomás de Aquino contemplou neste gesto de Jesus três coisas: 

  1. O derramar água na bacia é um símbolo do derramamento do Preciosíssimo Sangue de Jesus sobre a Terra. 

  2. Pelas palavras: “e começou a lavar” (v. 5), está simbolizada a imperfeição humana. 

  3. A tomada por parte de Nosso Senhor, das condenações devidas aos nossos pecados.

No primeiro ponto contemplamos que o Sangue de Jesus tem poder de limpeza e, por isso, pode ser também chamado de água. Segundo Santo Tomás, “a razão por que saiu água, junto de sangue, de seu lado na cruz era para mostrar que aquele sangue podia limpar o pecado”. Como também o fato de derramar água numa bacia, significa que por meio da fé da devoção, Nosso Senhor estampou em nossa alma a memória de sua Paixão. 

O segundo ponto a ser meditado é que nós, ainda depois de termos sido batizados, temos coisas que precisam ser limpas. Jesus sabia que nem todos estavam limpos e por isso lavou os seus pés. Nós, enquanto vivermos neste mundo, sempre teremos coisas para purificar. O gesto de Jesus nos faz entender que, “não importa o grau de perfeição de um homem, ele sempre precisa ainda ser aperfeiçoado; ele ainda está contraindo impurezas de algum tipo e em alguma medida” (Santo Tomás de Aquino). Mesmo que alguém se aproxime o mais santamente possível, continuará com os pés cravados no chão da realidade, do contrário, jamais poderá se aproximar Dele.

E, por fim, no terceiro ponto está simbolizado o fato de que Jesus tomou sobre si as penas dos nossos pecados. “Ele não apenas limpou os nossos pecados, mas também tomou sobre si mesmo a punição que eles mereceram. Pois nossas dores e penas não seriam suficientes se não estivessem fundadas no mérito e no poder da Paixão de Cristo” (Santo Tomás de Aquino). Portanto, Nosso Senhor ao enxugar os pés dos discípulos com uma toalha de linho quis nos dizer que a verdadeira toalha que pode enxugar os pés antes sujos é o seu Corpo, ou seja, a Sua Santa Igreja.

Segundo uma antiga máxima espiritual: Quanto mais entramos na luz, mais sujos nos sentimos. No nosso Batismo tomamos o “banho completo”, mas, como não morremos ainda é preciso deixar com que Jesus lave os nossos pés. Ou seja, é na Confissão que “o Senhor lava sempre de novo os nossos pés sujos e prepara-nos para a comunhão convival com Ele” (Bento XVI). Nossa amizade com Jesus será ainda mais verdadeira na medida em que nos deixarmos tocar pelas Mãos do Senhor que antes de tudo quer-nos por inteiros.

Com os pés fincados na realidade, continuemos a seguir Nosso Senhor e jamais impedir que Ele nos lave e purifique!