Crescer em vida interior

TEMPO COMUM. TERCEIRA SEMANA. QUINTA-FEIRA

– A vida interior está destinada a crescer. Corresponder às graças recebidas.
– A fidelidade através dos pormenores e o espírito de sacrifício.
– A contrição e o crescimento interior.

I. NALGUMAS OCASIÕES, Jesus, ao expor aos Apóstolos a sua doutrina, pede-lhes que prestem toda a atenção; noutras, reúne-os para explicar-lhes de novo, a sós, uma parábola, ou para fazê-los observar algum episódio de que devem extrair um ensinamento, pois receberam um tesouro para toda a Igreja do qual terão depois que prestar contas.

Prestai atenção..., disse-lhes Jesus certa vez. E transmitiu-lhes este ensinamentoA quem tem, dar-se-lhe-á; e a quem não tem, mesmo aquilo que parece ter ser-lhe-á tirado 1. E a este propósito comenta São João Crisóstomo: “A quem é diligente e fervoroso, dar-se-lhe-á toda a ajuda que depende de Deus; mas a quem não tem amor nem fervor, nem faz o que está ao seu alcance, também não lhe será dado o que depende de Deus. Porque perderá – diz o Senhor – ainda aquilo que parece ter; não porque Deus lho tire, mas porque se incapacita para novas graças” 2.

A quem tem, dar-se-lhe-á... É um ensinamento fundamental para a vida interior de cada cristão. Àquele que corresponde à graça, dar-se-lhe-á ainda mais graça; mas quem não faz frutificar as inspirações, moções e ajudas do Espírito Santo, ficará cada vez mais empobrecido. Os que negociaram com os talentos que tinham recebido em depósito, vieram a receber uma fortuna ainda maior; mas aquele que enterrou o seu, perdeu-o3. A vida interior, tal como o amor, está destinada a crescer; exige sempre que se progrida, que se esteja aberto a novas graças. “Se dizes «basta», já estás morto” 4; quando não se avança, retrocede-se.

Deus prometeu-nos que nos concederia sempre as ajudas necessárias. Podemos dizer a cada instante com o Salmista: O Senhor anda solícito por mim 5. As dificuldades, as tentações, os obstáculos internos ou externos nada mais são do que ocasiões para crescer; quanto mais forte for a dificuldade, maior será a graça; e se as tentações ou contradições forem muito fortes, maiores serão as ajudas de Deus para convertermos aquilo que parecia dificultar ou impossibilitar a santidade num motivo de progresso espiritual e de eficácia na ação apostólica.

Só o desamor e a tibieza é que fazem adoecer ou morrer a vida da alma. Só a má vontade, a falta de generosidade com Deus, é que atrasa ou impede a união com Ele. “Conforme for a capacidade que o cântaro da fé leva à fonte, assim será o que dela há de receber”6. Jesus Cristo é uma fonte inesgotável de ajuda, de amor, de compreensão: com que capacidade – com que desejos – nos aproximamos dEle? Senhor – dizemos-lhe na nossa oração –, dai-me mais e mais sede de Vós, que eu Vos deseje mais intensamente que o infeliz que anda perdido no deserto e a ponto de morrer por falta de água.

II. AS CAUSAS que levam a não progredir na vida interior e, portanto, a retroceder e a dar lugar ao desalento, podem ser muito diversas, mas por vezes podem reduzir-se a poucas: ao desleixo, à falta de vigilância nas pequenas coisas que dizem respeito ao serviço e à amizade com Deus, e ao recuo perante os sacrifícios que essa amizade nos pede 7.

Tudo o que possuímos para oferecer ao Senhor são pequenos atos de fé e de amor, ações de graças, uma breve visita ao Santíssimo Sacramento, as orações costumeiras ao longo do dia; e esforço no trabalho profissional, amabilidade nas respostas, delicadeza ao prestar ou ao pedir um favor... Muitas pequenas coisas feitas com amor e por amor constituem o nosso tesouro deste dia que levaremos para a eternidade.

Normalmente, a vida interior alimenta-se, pois, do corriqueiro realizado com atenção e com amor. Pretender outra coisa seria errar de caminho, não achar nada, ou muito pouco, para oferecer a Deus. “Vem a propósito – diz-nos Mons. Escrivá – recordar a história daquele personagem imaginado por um escritor francês, que pretendia caçar leões nos corredores da sua casa e, naturalmente, não os encontrava. A nossa vida é comum e corrente: pretender servir o Senhor com coisas grandes seria como tentar ir à caça de leões pelos corredores. Assim como o caçador do conto, acabaríamos de mãos vazias”8, sem nada que oferecer.

As nossas pequenas obras são como as gotas de água que, somadas umas às outras, fecundam a terra sedenta: um olhar a uma imagem de Nossa Senhora, uma palavra de alento a um amigo, uma genuflexão reverente diante do Sacrário, um movimento imperceptível de domínio da vista pela rua, um pequeno ato de força de vontade para fugir de um dissimulado convite à preguiça... criam os bons hábitos, as virtudes, que conservam e fazem progredir a vida da alma. Se formos fiéis em realizar esses pequenos atos, quando tivermos de enfrentar alguma coisa mais importante – uma doença mais séria, um fracasso profissional... –, saberemos também tirar fruto dessa situação que o Senhor quis ou permitiu. Cumprir-se-ão então as palavras de Jesus:Aquele que é fiel no pouco também o é no muito 9.

Outra causa de retrocesso na vida da alma é “negarmo-nos a aceitar os sacrifícios que Deus nos pede” 10, esquivando-nos a essas ocasiões em que devemos dar combate ao nosso egoísmo para procurar Cristo durante o dia, ao invés de nos procurarmos a nós mesmos. O amor a Deus “adquire-se na fadiga espiritual” 11. Não existe amor, nem humano nem divino, sem este sacrifício voluntário. “O amor cresce e desenvolve-se em nós no meio das contradições, entre as resistências que o interior de cada um de nós lhe opõe, e ao mesmo tempo entre os obstáculos que provêm «de fora», isto é, das múltiplas forças que lhe são estranhas e até hostis” 12.

Como o Senhor nos prometeu que não nos faltaria com a ajuda da sua graça, o nosso progresso só depende da nossa correspondência, do nosso empenho em recomeçar constantemente, sem desanimar, apoiando-nos nos “muitos poucos” 13 que compõem a nossa vida e que estão sempre ao nosso alcance, como um convite ao sacrifício por amor.

III. A VIDA INTERIOR tem uma oportunidade muito particular de crescer quando depara com situações adversas. E não existe obstáculo maior para a alma do que aquele que resulta do seu próprio desleixo e das suas faltas de amor. Mas o Espírito Santo ensina-nos e estimula-nos a reagir de modo sobrenatural, com um ato de contrição: Tem piedade de mim, Senhor, que sou um pecador 14. Os atos de contrição são um meio eficaz de progresso espiritual.

Pedir perdão é também amar, pois é contemplar Cristo cada vez mais inclinado à compreensão e à misericórdia. E como somos pecadores 15, o nosso caminho há de estar repleto de atos de dor, de amor, que inundam a alma de esperança e de novos desejos de reempreender a luta pela santidade.

É necessário que regressemos ao Senhor uma vez e outra e mil, sem desânimo e sem angústias, ainda que tenham sido muitas as vezes em que não fomos fiéis ao Amor. Devemos fazer como o filho pródigo que, em lugar de permanecer longe da casa paterna, num país estranho, vivendo mal e coberto de vergonha, caindo em si, disse:... Levantar-me-ei e irei para meu pai 16. “De certo modo, a vida humana é um constante retorno à casa do nosso Pai. Retorno mediante a contrição [...]. Deus espera-nos como o pai da parábola, de braços estendidos, ainda que não o mereçamos. O que menos importa é a nossa dívida. Como no caso do filho pródigo, basta simplesmente abrirmos o coração, termos saudades do lar paterno, maravilharmo-nos e alegrarmo-nos perante o dom divino de nos podermos chamar e ser verdadeiramente filhos de Deus, apesar de tanta falta de correspondência da nossa parte” 17. Ele nunca nos abandona.

Devemos pensar freqüentemente nessas coisas que, mesmo sendo pequenas, nos separam de Deus. Sentir-nos-emos assim movidos à dor e à contrição, e, portanto, muito mais perto do Senhor. E assim também a nossa vida interior sairá enriquecida não só dos obstáculos, mas também das fraquezas, dos erros e dos pecados.

Façamos muitos atos de contrição no dia de hoje. Repitamos humildemente a oração do publicano: Tem piedade de mim, Senhor, que sou um pobre pecador. Ou a oração do rei Davi: Cor contritum et humiliatum, Deus, non despicies: Não desprezarás, ó Deus, um coração contrito e humilhado 18. Ser-nos-á de grande ajuda pronunciarmos mentalmente essas ou outras jaculatórias quando avistarmos uma igreja, sabendo que ali está, em pessoa, Jesus Sacramentado, fonte de toda a misericórdia.

A Virgem Maria, que é Mãe de graça, de misericórdia, de perdão, avivará sempre em nós a meta ambiciosa de sermos santos. Ponhamos nas suas mãos o fruto desta oração, convencidos de que quem corresponde à graça recebe ainda mais graça.

(1) Mc 4, 24-25; (2) São João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de São Mateus, 45, 1; (3) cfr. Mt 25, 14-30; (4) Santo Agostinho, Sermão 51, 3; (5) Sl 39, 18; (6) Santo Agostinho, Tratado sobre o Evangelho de São João, 17; (7) cfr. Garrigou-Lagrange, Las tres edades de la vida interior, 4ª ed., Palabra, Madrid, 1982, vol. I, págs. 531 e segs.; (8) São Josemaría Escrivá, Carta, 24-III-1930; (9) cfr. Lc 16, 10; (10) R. Garrigou-Lagrange, op. cit., pág. 533; (11) João Paulo II, Homilia, 3-II-1980; (12) ib.; (13) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 827; (14) Lc 18, 13; (15) cfr. 1 Jo 1, 8-8; (16) Lc 15, 17-18; (17) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 64; (18) Sl 50, 19.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal.


30 de Janeiro 2020

A SANTA MISSA

3ª Semana do Tempo Comum – Quinta-feira 
Cor: Verde

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1ª Leitura: 2Sm 7,18-19.24-29

Quem sou eu, Senhor Deus,
e o que é a minha família? 

Leitura do Segundo Livro de Samuel

Depois que Natan falara a Davi, o rei entrou no tabernáculo 18 foi assentar-se diante do Senhor, e disse: ‘Quem sou eu, Senhor Deus, e o que é a minha família, para que me tenhas conduzido até aqui? 19 Mas, como isto te parecia pouco, Senhor Deus, ainda fizeste promessas à casa do teu servo para um futuro distante. Porque esta é a lei do homem, Senhor Deus! 24 Estabeleceste o teu povo, Israel, para que ele seja para sempre o teu povo; e tu, Senhor, te tornaste o seu Deus. 25 Agora, Senhor Deus, cumpre para sempre a promessa que fizeste ao teu servo e à sua casa, e faze como disseste! 26 Então o teu nome será exaltado para sempre, e dirão: ‘O Senhor Todo-poderoso é o Deus de Israel’. E a casa do teu servo Davi permanecerá estável na tua presença. 27 Pois tu, Senhor Todo-poderoso, Deus de Israel, fizeste esta revelação ao teu servo: ‘Eu te construirei uma casa. Por isso o teu servo se animou a dirigir-te esta oração. 28 Agora, Senhor Deus, tu és Deus e tuas palavras são verdadeiras. Pois que fizeste esta bela promessa ao teu servo, 29 abençoa, então, a casa do teu servo, para que ela permaneça para sempre na tua presença. Porque és tu, Senhor Deus, que falaste, e é graças à tua bênção que a casa do teu servo será abençoada para sempre’.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 13l, 1-2. 3-5.11. 12. 13-14 (R. Lc 1,32b)

R. O Senhor vai dar-lhe o trono
de seu pai, o rei Davi.

1 Recordai-vos, ó Senhor, do rei Davi *
e de quanto vos foi ele dedicado;
2 do juramento que ao Senhor havia feito *
e de seu voto ao Poderoso de Jacó:      R.

3 ‘Não entrarei na minha tenda, minha casa, *
nem subirei à minha cama em que repouso,
4 não deixarei adormecerem os meus olhos, *
nem cochilarem em descanso minhas pálpebras,
5 até que eu ache um lugar para o Senhor, *
uma casa para o Forte de Jacó!’       R.

11 O Senhor fez a Davi um juramento, *
uma promessa que jamais renegará:
‘Um herdeiro que é fruto do teu ventre *
colocarei sobre o trono em teu lugar!       R.

12 Se teus filhos conservarem minha Aliança *
e os preceitos que lhes dei a conhecer,
os filhos deles igualmente hão de sentar-se *
eternamente sobre o trono que te dei!’        R.

13 Pois o Senhor quis para si Jerusalém *
e a desejou para que fosse sua morada:
14 ‘Eis o lugar do meu repouso para sempre, *
eu fico aqui: este é o lugar que preferi!’        R. 

Evangelho: Mc 4,21-25 

 A lâmpada, traz-se, para ser colocada sobre o candelabro.
Com a mesma medida com que medirdes, também vós sereis medidos. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo, Jesus disse à multidão: 21 ‘Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote, ou debaixo da cama? Ao contrário, não a coloca num candeeiro? 22 Assim, tudo o que está escondido deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá ser descoberto. 23 Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.’ 24 Jesus dizia ainda: ‘Prestai atenção no que ouvis: com a mesma medida com que medirdes, também vós sereis medidos; e vos será dado ainda mais. 25 Ao que tem alguma coisa, será dado ainda mais; do que não tem, será tirado até mesmo o que ele tem.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Santa Martinha

30 de Janeiro

Santa Martinha

Esta célebre Santa, uma das padroeiras de Roma, era de família distinta. O pai, três vezes eleito cônsul, era possuidor das mais belas virtudes e afortunado.

Martinha recebeu uma educação esmerada, baseada nos princípios do Cristianismo, mas teve a infelicidade de perder bem cedo os pais. Inflamada de amor a Jesus Cristo, deu todos os bens aos pobres, e fez voto de castidade.

Tinha o imperador Alexandre Severo (222-235) concebido o plano de exterminar os Galileus (assim alcunhava aos cristãos). Conhecendo a formosura, nobreza e bondade de Martinha, tudo fez para afastá-la da religião cristã e chegou até a oferecer a dignidade de Imperatriz, caso se decidisse sacrificar a Apolo. Martinha respondeu: “O meu sacrifício pertence a Deus imaculado; a Ele sacrificarei, para que confunda e aniquile a Apolo e, este deixe de perder almas”.

Alexandre Severo, interpretando esta resposta em seu favor, organizou uma grande festa no templo de Apolo, para onde levou Martinha, na presença dos sacerdotes e de muito povo. Os olhos de todos estavam dirigidos para a jovem que, no meio do grande silêncio que reinava, fez o sinal da cruz, elevou olhos e braços ao céu e disse em alta voz: “Ó Deus e meu Senhor! Ouvi esta minha súplica e fazei com que se despedace este ídolo cego e mudo, para que todos, imperador e povo, conheçam, que só Vós sois o único Deus verdadeiro e que não é licito adorar senão a Vós!” No mesmo instante a cidade inteira foi sacudida por um forte terremoto, a imagem de Apolo caiu do seu lugar; parte do templo ruiu por terra, sepultando nos escombros os sacerdotes e muita gente.

O imperador ordenou que Martinha fosse esbofeteada, flagelada e tivesse as carnes dilaceradas com torqueses. Os algozes porém não puderam cumprir a ordem, porque um Anjo de Deus defendia a donzela e esta, no meio dos maus tratos, entoava cânticos de louvor a Jesus Cristo e convidava os algozes a se converterem à religião de Jesus. Deus abençoou-lhes as palavras: oito algozes caíram de joelhos, pediram perdão à Mártir e confessaram alto a fé em Jesus Cristo. O imperador, ainda mais enraivecido com este incidente, mandou levá-los todos ao cárcere, torturar barbaramente os oito algozes, os quais, por uma graça especial divina, ficando fiéis a fé, receberam a palma do martírio, pela decapitação. No dia seguinte a “feiticeira” foi citada ao palácio do Imperador, que a recebeu com estas palavras: “Basta de embustes. Dize-me, para que eu saiba com quem estou tratando: Sacrificas aos deuses ou preferes aderir ao feiticeiro, ao Cristo?” Com santa indignação respondeu Martinha: “Não admito que insultes a meu Deus! Se queres aplicar-me novas torturas, aqui estou; não as temo; pois sei que Deus me dá força”. A resposta do imperador foi a condenação da Mártir a suplícios crudelíssimos e desumanos. Martinha, no meio das dores, glorificou a Deus e as feridas exalavam-lhe um suave perfume. Grande foi o espanto de Alexandre Severo ao ouvir, no dia seguinte, a notícia de que Martinha que se achava no cárcere, estava perfeitamente curada das feridas e não só isto: Os guardas viram, durante a noite, o cárcere iluminado por uma luz maravilhosa e ouviram, extasiados, cânticos celestiais.

O furor do imperador chegou ao extremo. Não mais senhor de sua paixão, condenou Martinha às feras no anfiteatro, e fez timbre de achar-se entre os espectadores.

Novo milagre. Martinha, de uma beleza sobrenatural encantadora, ajoelhada na “arena”, calma se achava à espera do leão. Este, o indômito rei do Saara, possante e belo em sua força, se anuncia com rugido aterrador e em dois saltos se acha ao lado da vítima. Como que, domado por uma força invisível, arroja-se aos pés de Martinha, manso como um cordeiro. De repente se levanta, e num salto medonho ganha a barreira, entrando no recinto dos espectadores, matando alguns deles. O pânico foi indescritível.

O imperador, longe de convencer da intervenção divina na defesa da mártir, atribui o fato extraordinário às forças mágicas de Martinha, as quais, segundo sua opinião, teriam sua sede na rica cabeleira da Santa. Deu ordem para a rica cabeleira ser-lhe cortada imediatamente e a donzela, assim profanada, ser fechada no templo de Júpiter. Nos dois dias seguintes Alexandre Severo, acompanhado de sacerdotes e muito povo, se dirigiu ao templo. Não entrou, porém, porque teve a impressão de ouvir vozes masculinas e julgou que fossem os deuses, que se tivessem reunido para converter Martinha. Aberto o templo no terceiro dia, ao imperador apresentou-se um espetáculo estranho: Achavam-se derrubados ao chão todas as imagens dos deuses. À sua pergunta onde estava a estátua de Júpiter, Martinha respondeu sorrindo: “Tendo ele que dar satisfação a Cristo, porque não salvou estes doze ídolos? Meu Deus entregou-o aos demônios, que dele fizeram o que vedes”.

Fulo de raiva por este escárnio, Severo ordenou que se despejasse banha fervente sobre o corpo de Martinha e a entregassem às chamas. Veio, porém, uma grande chuva apagar a fogueira. Restava então só a morte pela espada. Martinha aceitou a sentença, com toda submissão e gratidão para com Deus. Espontaneamente ofereceu a cabeça ao algoz, que a fez entrar nas eternas núpcias do Senhor Jesus.

Os cristãos apoderaram-se clandestinamente do corpo da Santa e sepultaram-no com todas as honras. As relíquias de Santa Martinha foram encontradas em 1634 e acham-se hoje na Igreja do mesmo nome, a qual se ergue perto do arco do triunfo de Severo.

Fonte: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.


A Semeadura e a Colheita

TEMPO COMUM. TERCEIRA SEMANA. QUARTA-FEIRA

– Parábola do semeador. Nós somos colaboradores do Senhor. Dar doutrina. As disposições das almas podem mudar.
– Otimismo no apostolado. O Senhor permite que em muitas ocasiões não vejamos os frutos. Paciência e constância. “As almas, como o bom vinho, melhoram com o tempo”.
– O fruto é sempre superior à semente que se perde. Muitos dos nossos amigos estão esperando que lhes falemos de Cristo.

I. SAIU O SEMEADOR a semear a sua semente, diz-nos o Senhor no Evangelho 1. O campo, o caminho, os espinhos e as pedras receberam a semente: o semeador semeia a mãos cheias e a semente cai em toda a parte.

Com esta parábola, Cristo quis declarar que Ele derrama a sua graça em todos com muita generosidade. Assim como o lavrador não escolhe a terra que pisa com os seus pés, lançando a sua semente de forma natural e indiscriminada, assim também o Senhor não distingue o pobre do rico, o sábio do ignorante, o tíbio do fervoroso, o valente do covarde 2. Deus semeia em todos; dá a cada homem as ajudas necessárias para a sua salvação.

No escritório, na empresa, na farmácia, no consultório, na oficina, na loja, nos hospitais, na lavoura, no teatro..., onde quer que nos encontremos, podemos dar a conhecer a mensagem do Senhor. É Ele próprio que espalha a semente nas almas. “Nós somos simples trabalhadores, porque é Deus quem semeia” 3. Somos colaboradores de Deus, e no seu campo: Jesus “por intermédio dos cristãos, prossegue a sua semeadura divina. Cristo aperta o trigo em suas mãos chagadas, embebe-o no seu sangue, limpa-o, purifica-o e lança-o no sulco que é o mundo” 4 com infinita generosidade.

Assim como não nos cabe senão preparar a terra e semeá-la em nome do Senhor, assim também não somos nós que fazemos crescer a semente; é tarefa do Senhor fazer com que a semente germine e chegue a dar os frutos desejados 5. Devemos recordar sempre que “os homens não são mais do que instrumentos, de quem Deus se serve para a salvação das almas; e deve-se procurar que esses instrumentos estejam em bom estado para que Deus possa utilizá-los” 6. A grande responsabilidade de quem se sabe instrumento é esta: manter-se em bom estado.

A semente caiu em toda a parte: no campo, no caminho, entre os espinhos, sobre pedras. “E qual a razão para semear entre os espinhos, sobre pedras, sobre o caminho? Tratando-se de semente e de terra, certamente não haveria razão para isso, pois não é possível que a pedra se converta em terra, nem que o caminho já não seja caminho ou os espinhos deixem de sê-lo; mas com as almas não é assim. Porque é possível que a pedra se transforme em terra boa e que o caminho já não seja pisado nem permaneça aberto a todos os que passam, antes se torne um campo fértil, e que os espinhos desapareçam e a semente frutifique nesse terreno” 7. Não há terrenos demasiado duros ou baldios para Deus. A nossa oração e a nossa mortificação, se formos humildes e pacientes, podem conseguir do Senhor a graça necessária para transformar as condições interiores das almas que queremos aproximar de Deus.

II. O TRABALHO COM AS ALMAS é sempre eficaz. Deus faz com que os nossos esforços dêem fruto, muitas vezes de uma forma insuspeitada. Os meus escolhidos não trabalharão em vão8, prometeu-nos o Senhor.

A missão apostólica ora é semeadura, sem frutos visíveis, ora é colheita daquilo que outros semearam com a sua palavra, com a sua dor no leito de um hospital ou com um trabalho escondido e monótono que passou desapercebido aos olhos humanos. Em ambos os casos, o Senhor quer que se alegrem juntos aquele que semeia e aquele que recolhe 9. O apostolado é tarefa alegre e ao mesmo tempo sacrificada: na semeadura e na colheita.

É também tarefa paciente e constante. Assim como o lavrador sabe esperar dias e dias até ver despontar a semente, e mais ainda até à colheita, assim também devemos nós saber esperar no nosso empenho por aproximar as almas de Deus. O Evangelho e a nossa própria experiência nos ensinam que a graça normalmente necessita de tempo para frutificar nas almas. Sabemos também da resistência que muitos corações oferecem à graça, tal como pode ter acontecido conosco noutros tempos. A nossa ajuda aos outros manifestar-se-á, pois, numa maior paciência – virtude muito relacionada com a da fortaleza – e numa constância sem desânimos. Não tentemos arrancar o fruto antes de estar maduro. “E é esta paciência a que nos leva também a ser compreensivos com os outros, persuadidos de que as almas, como o bom vinho, melhoram com o tempo” 10.

A espera não se confunde com o desleixo nem com a desistência. Pelo contrário, leva a empregar os meios mais adequados para a situação em que se encontra a pessoa que queremos ajudar: abundância de luz da doutrina, mais oração e alegria, espírito de sacrifício, amizade mais íntima...

E quando parece que a semente caiu em terreno pedregoso ou cheio de espinhos, e que o fruto desejado tarda a chegar, devemos afastar qualquer sombra de pessimismo. “É muito freqüente que nos enganemos quando dizemos: «Errei na educação dos meus filhos», ou «não soube fazer o bem à minha volta». O que acontece é que ainda não conseguimos o resultado que pretendíamos, ainda não vemos o fruto que desejaríamos, porque a messe não está madura. O que importa é que tenhamos semeado, que tenhamos dado Deus às almas. Quando Deus quiser, essas almas voltarão para Ele. Pode ser que não estejamos ali para vê-lo, mas haverá outros para recolher o que foi semeado”11. Sobretudo, ali estará Cristo, para quem nos esforçamos.

Trabalhar quando não se vêem os frutos é um bom sintoma de fé e de retidão de intenção, um bom sinal de que vamos realizando verdadeiramente uma tarefa que é só para a glória de Deus. “A fé é um requisito imprescindível no apostolado, que muitas vezes se manifesta na constância em falar de Deus, ainda que os frutos demorem a vir. Se perseverarmos, se insistirmos, bem convencidos de que o Senhor assim o quer, também à tua volta, por toda a parte, se irão notando sinais de uma revolução cristã: uns haverão de entregar-se, outros tomarão a sério a sua vida interior, e outros – os mais fracos – ficarão pelo menos alertados” 12.

III. OUTRA PARTE DA SEMENTE, no entanto, caiu em terra boa e deu fruto, uma cem, outra sessenta, outra trinta.

Ainda que uma parte se tenha perdido por ter caído em mau terreno, outra parte deu uma colheita excelente. A fertilidade da boa terra compensou de longe a semente que deixou de dar o fruto devido. Não devemos esquecer nunca o otimismo radical que impregna a mensagem cristã; o apostolado sempre dá um fruto infinitamente superior ao dos meios empregados. Se formos fiéis, o Senhor há de permitir-nos ver na outra vida todo o bem produzido pela nossa oração, pelas horas de trabalho que oferecemos pelos outros, pelas conversas que tivemos com os nossos amigos, pelas horas de doença oferecidas, por aquele encontro com alguém que nunca mais nos deu um ar da sua graça, por tudo aquilo que nos pareceu um fracasso; há de mostrar-nos para quem serviu aquele terço que rezamos quando voltávamos da Faculdade ou do escritório...

Nada ficou sem fruto: uma parte deu cem, outra sessenta, outra trinta. O grande erro do semeador seria não lançar a semente por medo de que uma parte caísse em terreno pouco propício para frutificar: deixar de falar de Cristo pelo receio de não saber semear bem a semente, ou de que alguém possa interpretar mal as suas palavras, ou lhe diga que não está interessado, ou...

Na ação apostólica, devemos ter presente que Deus já sabe que haverá pessoas que corresponderão à nossa chamada e outras que se recusarão. Ao fazer do homem uma criatura livre, Deus – na sua Sabedoria infinita – contou com o risco de que usasse mal da sua liberdade e aceitou que alguns homens não quisessem dar fruto: “Cada alma é dona do seu destino, para bem ou para mal [...]. Sempre nos impressiona esta terrível capacidade – que possuímos tu e eu, que todos possuímos –, e que revela ao mesmo tempo o sinal da nossa nobreza” 13.

Deus poderia ter-nos criado sem liberdade, de modo que lhe déssemos glória tal como a dão os animais e as plantas, que se movem segundo as leis necessárias da sua natureza, dos seus instintos, submetidos à servidão de uns estímulos externos ou internos. Poderíamos ter sido uns animais mais aperfeiçoados, mas sem liberdade. Deus, porém, quis criar-nos livres, para que reconhecêssemos voluntariamente a nossa dependência dEle por amor. Digamos livremente como Maria: Eis aqui a escrava do Senhor14. Tornarmo-nos escravos de Deus por amor compensa todas as ofensas que os outros possam fazer-lhe por utilizarem mal a sua liberdade.

Vivamos a alegria da semeadura, “cada um conforme as suas possibilidades, faculdades, carismas e ministérios. Todos, por conseguinte, tanto os que semeiam como os que colhem, tanto os que plantam como os que regam, devem ser necessariamente um só, para que assim, «trabalhando livre e ordenadamente para o mesmo fim», empenhem unanimemente as suas forças na edificação da Igreja”15.

(1) Mc 4, 1-20; (2) cfr. São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 44, 3; (3) Santo Agostinho, Sermão 73, 3; (4) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 157; (5) cfr. 1 Cor 3, 7; (6) São Pio X, Enc. Haerent animo; (7) São João Crisóstomo, op. cit., 44; (8) Is 65, 23; (9) cfr. Jo 4, 36; (10) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 78; (11) G. Chevrot, El pozo de Sicar, Rialp, Madrid, 1981, pág. 267; (12) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 207; (13) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 33; (14) Lc 1, 38; (15) Conc. Vat. II, Decr. Ad gentes, 28.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal.


Beata Boleslava Maria Lament

29 de Janeiro

Beata Boleslava Maria Lament

Primeira dos oito filhos do casal Martino Lament e Lúcia Cyganowska, Boleslava Lament, nasceu em 3 de julho de 1862 em Lowicz, Polônia.

Durante sua infância viu com dor a morte de suas irmãzinhas Helena e Leocádia, e do pequeno Martino; era um tempo em que a mortalidade infantil dizimava as crianças, fazendo com que as famílias numerosas perdessem muitos de seus membros. A pequena Boleslava foi marcada irremediavelmente por estas dolorosas experiências.

Depois dos cursos elementar e colegial, Boleslava foi para Varsóvia onde conseguiu o diploma de modista em uma escola de artes e profissões; de volta a Lowicz abriu, junto a sua irmã Estanislava, uma casa de modas, enquanto vivia uma intensa vida espiritual em seu interior.

Em 1884, aos 22 anos, decidiu entrar na Congregação da Família de Maria, que estava se organizando em Varsóvia na clandestinidade por causa das perseguições czaristas.

Como religiosa, distinguiu-se pelo dom da oração, do recolhimento, da seriedade e da fidelidade no cumprimento de seus deveres. Depois do noviciado e da profissão dos votos simples, trabalhou como mestra de costura e educadora em muitas Casas da Congregação, abertas no território do império russo.

Mas depois de nove anos, antes de pronunciar os votos solenes, teve uma profunda crise que a fez sentir-se insegura de sua vocação naquela congregação, por isto a deixou e voltou para sua casa em Lowicz, com a intenção de entrar em um convento de clausura.

Aconselhada por seu confessor, optou pelas obras de assistência aos sem-teto, atividade que também continuou em Varsóvia, quando a família mudou-se para lá. Para ajudar nos gastos familiares, abriu uma casa de modas com sua irmã Maria.

Logo lhe confiaram a direção de uma hospedagem para os sem-teto, onde também se preocupou em por em ordem a vida ética e religiosa de seus socorridos. Ela os preparava para receber os Sacramentos, visitava os doentes em suas pobres casas ou nos refúgios, cuidava das crianças.

Em 1894, uma epidemia de cólera atingiu seu pai, colocando sobre seus ombros outras responsabilidades familiares; levou consigo sua mãe e seu irmão Estevão, que era aluno do colégio em Varsóvia e que desejava ser sacerdote.

Ingressou na Ordem Terceira Franciscana onde conheceu o Beato Honorato Kozminski (1829-1916), frade capuchinho, fundador de diversas congregações religiosas que trabalhavam na clandestinidade por causa dos acontecimentos políticos que afetavam a Polônia naqueles tempos.

     Em 1900, uma vez mais a morte golpeou sua família: aos pés do caixão de seu irmão Estevão, Boleslava Lament prometeu voltar à vida de religiosa. Dois anos depois o Pe. Honorato apresentou-a a uma senhora chegada da Bielorrússia, que buscava religiosas para dirigir a Ordem Terceira e um centro educativo em Mogilev, cidade junto ao Rio Dnieper.

Boleslava consciente de todas as dificuldades que enfrentaria, aceitou a tarefa e em 1903 partiu para Mogilev, uma cidade de cerca de 40.000 habitantes. No início morou com Leocádia Gorczynska, que dirigia uma oficina de costura, para ensinar ali essa profissão às meninas das famílias pobres; depois Boleslava alugou uma casa de madeira para convertê-la em sua casa de modas.

Admirada com a laboriosidade de Boleslava, Leocádia Gorczynska decidiu ir viver com ela; em seguida juntou-se a elas Lúcia Czechowska. Neste ponto Boleslava começou a pensar em fundar uma Congregação, rigorosamente religiosa, entregue ao apostolado entre os ortodoxos.

Com a ajuda do Padre Félix Wiecinski, que contribuiu diretamente com a fundação, em outubro de 1905 as três mulheres começaram a nova congregação, chamada inicialmente Sociedade da Sagrada Família, mas que em seguida mudou o nome para Congregação das Irmãs Missionárias da Sagrada Família. Boleslava foi sua primeira superiora.

No outono de 1907, Boleslava mudou-se para Petersburgo com as seis monjas que então formavam a comunidade, onde desenvolveu um ampla atividade educativa, dedicada sobretudo aos jovens, e em 1913 estendeu sua atividade à Finlândia, abrindo um colégio para meninas em Wyborg.

Em Petersburgo empreendeu uma intensa atividade catequética, educativa e assistencial nos bairros mais pobres, se esforçou para criar bom relacionamento entre as alunas e as famílias de diferentes nacionalidades e religiões.

     Como consequência das dificuldades geradas pela 1ª. Guerra Mundial e o Movimento Bolchevique que tomou o poder na Rússia em outubro de 1917, Boleslava foi obrigada a deixar a Rússia em 1921 e voltar para a Polônia. Tudo isto produziu enormes perdas materiais, também na Polônia; a Congregação vivia pobremente, mas Madre Boleslava Lament, com sua grande fé, se encomendou totalmente à vontade de Deus e paulatinamente aquilo foi sendo superado.

Durante alguns meses Madre Boleslava dirigiu o trabalho das monjas em Wolynia, em 1922 fundou uma nova Casa na Pomerânia, na Polônia oriental, onde a população era pobre e a maior parte de religião ortodoxa.

 A partir de 1924, começou a abrir outras Casas na arquidiocese de Vilna e na diocese de Pinsk; em 1935 já existiam 33 Casas espalhadas por toda Polônia e uma em Roma.

m 1925, Madre Boleslava foi a Roma para conseguir a aprovação pontifícia de sua Congregação, mas não a conseguiu por falta de clareza sobre as tarefas das monjas, divididas em dois ramos: apostolado e ensino e direção doméstica das Casas.

Em 1935, Madre Boleslava Maria Lament decidiu renunciar ao cargo de Superiora Geral por graves motivos de saúde, e num acordo com a nova Superiora se retirou em Bialystok, onde, embora idosa e gravemente doente, se dedicou a abrir escolas, um hospital para mulheres sozinhas e um refeitório para os desempregados.

A 2ª. Guerra Mundial gerou novas dificuldades para a idosa Madre Boleslava, incluindo a ameaça nazista; foi obrigada a mudar a forma de atuar, adaptando-se às necessidades da época. Em 1941 foi atacada pela paralisia e se dedicou a uma vida mais ascética, transmitindo preciosos conselhos às suas irmãs de hábito.

Morreu santamente em Bialystok em 29 de janeiro de 1946, aos 84 anos; foi levada para o convento de Ratow e enterrada na cripta da Igreja de Santo Antônio.

A Congregação das Irmãs Missionárias da Sagrada Família está difundida na Polônia, Rússia, Zâmbia, Líbia, EUA e Itália.

Fonte: http://heroinasdacristandade.blogspot.com


29 de Janeiro 2020

A SANTA MISSA

3ª Semana do Tempo Comum – Quarta-feira 
Cor: Verde

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1ª Leitura: 2Sm 7,4-17 

Suscitarei, depois de ti, um filho teu,
e confirmarei a sua realeza. 

Leitura do Segundo Livro de Samuel

Naqueles dias: 4 A palavra do Senhor foi dirigida a Natã nestes termos: 5 ‘Vai dizer ao meu servo Davi: ‘Assim fala o Senhor: Porventura és tu que me construirás uma casa para eu habitar? 6 Pois eu nunca morei numa casa, desde que tirei do Egito os filhos de Israel, até ao dia de hoje, mas tenho vagueado em tendas e abrigos. 7 Por todos os lugares onde andei com os filhos de Israel, disse, porventura, a algum dos chefes de Israel, que encarreguei de apascentar o meu povo: Por que não me edificastes uma casa de cedro?` 8 Dirás pois, agora, ao meu servo Davi: ‘Assim fala o Senhor Todo-poderoso: Fui eu que te tirei do pastoreio, do meio das ovelhas, para que fosses o chefe do meu povo, Israel. 9 Estive contigo em toda parte por onde andaste, e exterminei diante de ti todos os teus inimigos, fazendo o teu nome tão célebre como o dos homens mais famosos da terra. 10 Vou preparar um lugar para o meu povo, Israel: eu o implantarei, de modo que possa morar lá sem jamais ser inquietado. Os homens violentos não tornarão a oprimi-lo como outrora, 11 no tempo em que eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. Concedo-te uma vida tranqüila, livrando-te de todos os teus inimigos. E o Senhor te anuncia que te fará uma casa.12 Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza. 13 Será ele que construirá uma casa para o meu nome, e eu firmarei para sempre o seu trono real. 14 Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Se ele proceder mal, eu o castigarei com vara de homens e com golpes dos filhos dos homens. 15 Mas não retirarei dele a minha graça, como a retirei de Saul, a quem expulsei da minha presença. 16 Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre’. 17 Natã comunicou a Davi todas essas palavras e toda essa revelação.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 88, 4-5. 27-28. 29-30 (R. 29a)

R. Guardarei eternamente para ele a minha graça.

4 ‘Eu firmei uma Aliança com meu servo, meu eleito, *
e eu fiz um juramento a Davi, meu servidor:
5 Para sempre, no teu trono, firmarei tua linhagem, *
de geração em geração garantirei o teu reinado!’      R.

27 Ele, então, me invocará: ‘Ó Senhor, vós sois meu Pai, *
sois meu Deus, sois meu Rochedo onde encontro a salvação!`
28 E por isso farei dele o meu filho primogênito, *
sobre os reis de toda a terra farei dele o Rei altíssimo.      R.

29 Guardarei eternamente para ele a minha graça *
e com ele firmarei minha Aliança indissolúvel.
30 Pelos séculos sem fim conservarei sua descendência, *
e o seu trono, tanto tempo quanto os céus, há de durar’.      R. 

Evangelho: Mc 4,1-20 

 O semeador saiu a semear. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo: 1 Jesus começou a ensinar de novo às margens do mar da Galileia. Uma multidão muito grande se reuniu em volta dele, de modo que Jesus entrou numa barca e se sentou, enquanto a multidão permanecia junto às margens, na praia. 2 Jesus ensinava-lhes muitas coisas em parábolas. E, em seu ensinamento, dizia-lhes: 3 ‘Escutai! O semeador saiu a semear. 4 Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho; vieram os pássaros e a comeram. 5 Outra parte caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra; brotou logo, porque a terra não era profunda, 6 mas, quando saiu o sol, ela foi queimada; e, como não tinha raiz, secou. 7 Outra parte caiu no meio dos espinhos; os espinhos cresceram, a sufocaram, e ela não deu fruto. 8 Outra parte caiu em terra boa e deu fruto, que foi crescendo e aumentando, chegando a render trinta, sessenta e até cem por um.’ 9 E Jesus dizia: ‘Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.’ 10 Quando ficou sozinho, os que estavam com ele, junto com os Doze, perguntaram sobre as parábolas. 11 Jesus lhes disse: ‘A vós, foi dado o mistério do Reino de Deus; para os que estão fora, tudo acontece em parábolas, 12 para que olhem mas não enxerguem, escutem mas não compreendam, para que não se convertam e não sejam perdoados.’ 13 E lhes disse: ‘Vós não compreendeis esta parábola? Então, como compreendereis todas as outras parábolas? 14 O semeador semeia a Palavra. 15 Os que estão à beira do caminho são aqueles nos quais a Palavra foi semeada; logo que a escutam, chega Satanás e tira a Palavra que neles foi semeada. 16 Do mesmo modo, os que receberam a semente em terreno pedregoso, são aqueles que ouvem a Palavra e logo a recebem com alegria, 17 mas não têm raiz em si mesmos, são inconstantes; quando chega uma tribulação ou perseguição, por causa da Palavra, logo desistem. 18 Outros recebem a semente entre os espinhos: são aqueles que ouvem a Palavra; 19 mas quando surgem as preocupações do mundo, a ilusão da riqueza e todos os outros desejos, sufocam a Palavra, e ela não produz fruto. 20 Por fim, aqueles que recebem a semente em terreno bom, são os que ouvem a Palavra, a recebem e dão fruto; um dá trinta, outro sessenta e outro cem por um.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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A Vontade de Deus

TEMPO COMUM. TERCEIRA SEMANA. TERÇA-FEIRA

– Santa Maria e o cumprimento da vontade divina. A “nova família” de Jesus.
– Manifestações do querer de Deus. O cumprimento dos deveres próprios.
– Averiguar na oração quais os planos de Deus sobre nós.

I. SÃO MARCOS DIZ-NOS no Evangelho da Missa de hoje 1 que a Mãe de Jesus o procurou certa vez, acompanhada por alguns parentes, quando Ele falava a um grande número de pessoas.

Talvez por causa da multidão que abarrotava a casa, Maria ficou fora e mandou recado ao seu Filho. Então Ele respondeu a quem lhe falava: Quem é minha mãe e quem são os meus irmãos? E, lançando um olhar sobre os que estavam sentados ao seu redor, disse: Eis a minha mãe e os meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão e minha irmã e minha mãe. É a nova família de Cristo, unida por laços mais fortes que os do sangue, e à qual Maria pertence em primeiro lugar, já que ninguém cumpriu a vontade divina com mais amor e maior profundidade do que Ela.

Santa Maria está unida a Jesus por um duplo vínculo. Em primeiro lugar porque, ao aceitar a mensagem do Anjo, uniu-se intimamente à vontade de Deus, de um modo que nós mal podemos vislumbrar, e adquiriu uma maternidade espiritual sobre o Filho concebido que a fez pertencer a essa família de vínculos mais fortes que Jesus Cristo proclama diante dos seus discípulos. “A maternidade corporal teria servido de pouco a Maria – comenta Santo Agostinho –, se Ela, da maneira mais bem-aventurada, não tivesse concebido primeiro o Filho no seu coração e só depois no seu corpo”2. Maria é Mãe de Jesus por tê-lo concebido no seu seio, por ter cuidado dEle, alimentando-o e protegendo-o, como toda a mãe faz com o seu filho. Mas Jesus veio formar a grande família dos filhos de Deus, e “nela incluiu benignamente Maria, pois Ela cumpria a vontade do Pai [...]; e, ao referir-se diante dos seus discípulos a esse parentesco celestial, o Senhor mostrou que a Virgem Maria estava unida a Ele numa nova linhagem de família” 3; Maria é Mãe de Jesus segundo a carne, e é também a “primeira” de todos aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a cumprem plenamente 4.

Todos nós temos a enorme alegria de podermos pertencer, com laços mais fortes que os do sangue, à família de Jesus, na medida em que cumprimos a vontade divina.

Por isso o discípulo de Cristo deve dizer, como o seu Mestre: O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou5, mesmo que para isso tenha que sacrificar – colocando-os no seu devido lugar – os sentimentos naturais da família. São Tomás explica as palavras com que Jesus antepõe o vínculo da graça ao da ordem familiar, dizendo que o Senhor tinha uma geração eterna e outra temporal, e antepôs a eterna à temporal. E todo o fiel que cumpre a vontade divina é irmão de Cristo porque se faz semelhante Àquele que sempre cumpriu a vontade do Pai 6.

Podemos examinar nestes momentos de oração se desejamos cumprir sempre o que Deus quer de nós, no que é grande e no que é pequeno, no que nos é grato e no que nos desagrada. E pedir a Nossa Senhora que nos ensine a amar a vontade divina em todos os acontecimentos, mesmo naqueles que nos custa entender ou interpretar adequadamente. Assim passamos a ser da família de Jesus.

II. A SANTIDADE a que devemos aspirar consiste, pois, em identificarmos o nosso querer com o de Cristo: “Esta é a chave para abrir a porta e entrar no Reino dos Céus: «Qui facit voluntatem Patris mei qui in coelis est, ipse intrabit in regnum coelorum» – quem faz a vontade de meu Pai..., esse entrará!” 7

Em contraste com a atitude daqueles que encaram com uma triste resignação o cumprimento da tarefa redentora do Mestre, Ele ama ardentemente a vontade de seu Pai-Deus, e assim o manifesta em muitas ocasiões 8. E se nós queremos imitar Cristo, a nossa atitude há de ser a mesma: amar o que Deus quer, porque, entendamo-lo ou não, esse é sempre o caminho que conduz ao Céu. Santa Catarina de Sena põe nos lábios do Senhor estas palavras consoladoras: “A minha vontade só quer o vosso bem, e tudo o que permito ou dou, Eu o permito ou dou para que alcanceis o fim para o qual vos criei” 9. Ele só deseja o nosso bem.

Deus manifesta-nos a sua vontade através dos Mandamentos, que são a expressão de todas as nossas obrigações e a norma prática para que a nossa conduta se oriente para o Senhor; quanto mais fielmente os cumprirmos, tanto melhor amaremos o que Ele quer de nós. Deus manifesta-se igualmente através das indicações, conselhos e mandamentos da nossa Mãe a Igreja, “que nos ajudam a guardar os Mandamentos da lei de Deus” 10. E a par desses preceitos, também as obrigações de estado determinam o que Deus quer de nós, segundo as circunstâncias pessoais em que a nossa vida se desenvolve. Nunca amaremos a Deus, nunca poderemos santificar-nos, se não cumprirmos com fidelidade essas obrigações. Reconhecer e amar a vontade de Deus nos deveres cotidianos é haurir a força necessária para executá-los com perfeição humana e sentido sobrenatural.

Por fim, a vontade de Deus manifesta-se nos acontecimentos que o Senhor permite, e que sempre nos hão de proporcionar um bem muito maior, se soubermos permanecer ao lado do nosso Pai-Deus com confiança, com amor. Há sempre uma providência oculta por trás de cada acontecimento.

Acostumar-se a realizar atos de identificação com a vontade de Deus em todas as circunstâncias é ter a certeza de que se produzirão abundantes frutos na alma: “Jesus, o que Tu «quiseres»..., eu o amo” 11. E eu só desejo amar o que Tu queres que eu ame.

III. TODO AQUELE QUE faz a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão e minha irmã e minha mãe. O cumprimento da vontade de Deus deve ser o único anseio do cristão. Por isso devemos perguntar-nos com freqüência em face dos acontecimentos diários: Que quer Deus de mim neste assunto?, no relacionamento com esta pessoa? E fazê-lo.

A oração pessoal sobre a nossa conduta diária, sobre o comportamento na vida familiar, com os amigos, no trabalho, dá-nos uma grande luz para não errarmos no cumprimento da vontade divina. Esses momentos diários a sós com Deus, num colóquio sem palavras, hão de induzir-nos muitas vezes a atuar de uma determinada maneira, e não raramente a mudar ou retificar a nossa vida e o nosso comportamento para que estejam mais de acordo com o querer divino.

Sempre que notemos que Deus quer alguma coisa de nós, devemos executá-la com prontidão e alegria. Porque há muitos que se insurgem quando os projetos do Senhor não coincidem com os seus; outros que aceitam a vontade de Deus com resignação, como se tivessem que dobrar-se diante dos planos divinos por não terem outra saída; outros, enfim, que simplesmente baixam a cabeça, mas sem amor. O Senhor, porém, quer que amemos o querer divino com uma disposição de ânimo positiva e confiante, que descansa plenamente em Deus-Pai, sem por isso deixar de empregar os meios humanos exigidos por cada situação. Senhor, que queres que eu faça? Como são poucas as pessoas que alimentam no seu íntimo esta disposição de obediência plena, que renunciam à sua vontade a tal ponto que nem os desejos do seu próprio coração lhes pertencem! 12

Para adquirirmos estes vínculos fortes – mais fortes que os do sangue – de que Cristo nos fala no Evangelho, temos que procurar entregar-nos a Deus cada dia, abandonar-nos em seus braços sem reservas, mesmo sem entendermos tudo aquilo que Ele permite; ser incondicionalmente dóceis à sua ação, manifestada nas provas interiores e exteriores com que deseja purificar-nos a alma; acolher com agradecimento as inúmeras alegrias da vida familiar, do trabalho, do descanso...; aceitar e acolher também as dificuldades, obstáculos e penas que a vida traz consigo, as tentações, a secura na vida de piedade quando não se deve à tibieza...

“Devemos aceitar essa ação de Deus e essas permissões da sua Providência sem a menor reserva, sem qualquer curiosidade, inquietação ou desconfiança, porque sabemos que Deus sempre quer o nosso bem; aceitá-las com agradecimento, confiando na proximidade divina e na assistência da sua graça. Que a nossa única resposta à ação de Deus em nós seja sempre: «Seja como tu queres, Senhor; faça-se a tua vontade»” 13.

E isto perante a dor, a doença, o fracasso ou um desastre que parece irreparável... E, imediatamente, pedir forças ao nosso Pai-Deus e empregar os meios humanos que razoavelmente se possam empregar; pedir que essas contrariedades passem, se for essa a vontade divina, e pedir a graça de obter fruto sobrenatural e humano de todos os transes da vida. O que acontece cada dia no pequeno universo da nossa profissão e família, no círculo dos nossos amigos e conhecidos, pode e deve ajudar-nos a encontrar Deus providente. A aceitação e o cumprimento do querer divino são fonte de serenidade e de agradecimento. Não raras vezes acabaremos por acolher com agradecimento aquilo que a princípio nos parecia um desastre irremediável.

“A Virgem Santa Maria, Mestra de entrega sem limites. – Lembras-te? Com palavras que eram um louvor dirigido a Ela, Jesus Cristo afirma: «Aquele que cumpre a Vontade de meu Pai, esse – essa – é minha mãe!...»” 14

(1) Mc 3, 31-35; (2) Santo Agostinho, Sobre a virgindade, 3; (3) idem, Carta 243, 9-10; (4) cfr. João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 25-III-1987, 20-21; (5) Jo 4, 34; (6) cfr. São Tomás, Comentário sobre São Mateus, 14, 49-50; (7) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 754; (8) cfr. Lc 22, 42; Jo 6, 38; (9) Santa Catarina de Sena, O diálogo, 2, 6; (10) Catecismo de São Pio X, n. 472; (11) São Josemaría Escrivá, op. cit., n. 773; (12) cfr. São Bernardo, Sermão I, Sobre a conversão de S. Paulo; (13) B. Baur, En la intimidad con Dios, Herder, Barcelona, 1962, pág. 219-220; (14) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 33.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


Santo Tomás de Aquino

28 de Janeiro

Santo Tomás de Aquino

Tommaso d’Aquino nasceu no ano de 1225, em Roccasecca, no Condado de Aquino, atual região do Lácio. Seu pai, o Conde Landulfo de Aquino, e sua mãe, Teodora Caracciolo, pretendiam que o filho não seguisse a carreira militar como o resto da família, mas que seguisse o exemplo do tio Sinibaldo, irmão de seu pai, que era abade da Abadia de Monte Cassino, em Cassino, Itália.

Aos cinco anos de idade Tomás começou a estudar em Monte Cassino. Depois de algum tempo, devido ao conflito militar entre o rei Frederico II e o Papa Gregório IX, seus pais mandaram-no para a Universidade de Nápoles, onde travou conhecimento com a Ordem Dominicana, à qual quis se filiar.

O jovem Tomás, com 19 anos, a fim de realizar este desejo, teve que enfrentar oposição cerrada da família, especialmente da condessa, sua mãe. Para subtrair-se a ela, viajou, às escondidas, para Roma, encerrando-se no mosteiro dominicano de Santa Sabina, de onde pouco depois foi enviado a Paris.

Contudo, em sua viagem, foi detido por um pelotão de soldados, guiados por dois de seus irmãos, que serviam as tropas imperiais sediadas na Itália. Enviado ao lar paterno, no castelo de Roccaseca, Tomás ficou detido por ordem de sua mãe. Com isso esperava dissuadi-lo do serviço à Igreja. Os ambiciosos familiares o queriam destinar a um cargo político ou administrativo ou, pelo menos, a um rendoso ofício prelatício, pois  Tomás estava escolhendo uma ordem desconhecida, com o designativo de mendicante.

Toda a oposição foi em vão. Quando libertado, ele seguiu sua vocação. Cursou em Colônia os estudos filosóficos e teológicos, sob a direção do célebre mestre Alberto Magno. Passou depois para Paris, o maior centro de estudos superiores na Europa. Daí por diante sua vida foi inteiramente tomada pelo ensino e pela elaboração de suas obras filosóficas e teológicas.

Seus 49 anos de vida não foram nada tranquilos – como poderia fazer-nos pensar a magnitude de sua obra. Viajou continuamente e desempenhou várias funções: professor universitário, consultor da Ordem, pregador oficial. Em meio de tantas viagens e ocupações, lia, meditava e redigia suas obras. Sua Suma Teológica é uma das obras fundamentais do pensamento humano. Obra que marcou o rumo da orientação filosófico-teológica da Igreja durante meio milênio. Santo Tomás aparece assim como um dos grandes elaboradores do pensamento cristão. O esforço realizado pelos Santos Padres na incorporação da cultura clássica à mensagem cristã foi completado por Santo Tomás no campo filosófico, enxertando a filosofia de Aristóteles em seu sistema teológico.

A pedido do papa, Tomás preparou a liturgia, ofício e missa, da solenidade de Corpus Christi, o que resultou numa maravilhosa síntese de teologia eucarística e, ao mesmo tempo, um monumento de fé e de amor à presença de Cristo na Eucaristia.

No ano de 1054, o Grande Cisma dividiu a Igreja entre Igreja Latina e sob a liderança do Papa, o ocidente e os quatro patriarcados do oriente. Numa tentativa de reunir as duas partes, o Papa Gregório X convocou o Segundo Concílio de Lyon, para 01 de maio de 1274 e ordenou que Tomás comparecesse para apresentar sua obra “Contra os Erros Gregos” (Contra Errores Graecorum). Quando estava a caminho do Concílio, enquanto viajava pela Via Ápia, montado num burro, bateu a cabeça no galho de uma árvore tombada. Foi seriamente ferido e foi mandado para Monte Cassino para se recuperar. Depois de descansar por um tempo, tentou novamente seguir viagem, mas teve que parar novamente doente, na Abadia Cisterciense de Fossanova. Apesar dos esforços dos monges, ele não resistiu e morreu no dia 07 de março de 1274, enquanto ditava seus comentários sobre o Cântico dos Cânticos.

Foi canonizado dia 18 de Julho de 1323 pelo papa João XXII que, aos que objetavam que faltasse milagre no processo, respondeu: “Quantas as proposições teológicas que ele escreveu, tantos são os milagres que fez”.

Sua memória é venerada no dia 28 de janeiro porque foi o dia em que seu corpo foi transladado para Toulouse, em 1369, e permanece até os dias de hoje.

Fonte: https://pt.aleteia.org


28 de Janeiro 2020

A SANTA MISSA

3ª Semana do Tempo Comum – Terça-feira 
Memória: Santo Tomás de Aquino, presbítero e doutor
Cor: Branca

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1ª Leitura: 2Sm 6, 12b-15.17-19

 “Davi e toda a casa de Israel
transportaram a arca do Senhor, com brados de alegria” 

Leitura do Segundo Livro de Samuel

Naqueles dias, 12b Davi pôs-se a caminho e transportou festivamente a arca de Deus da casa de Obed-Edom para a cidade de Davi. 13 A cada seis passos que davam, os que transportavam a arca do Senhor, sacrificavam um boi e um carneiro. 14 Davi, cingido apenas com um efod de linho, dançava com todas as suas forças diante do Senhor. 15 Davi e toda a casa de Israel conduziram a arca do Senhor, soltando gritos de júbilo e tocando trombetas. 17 Introduziram a arca do Senhor e depuseram-na em seu lugar, no centro da tenda que Davi tinha armado para ela. Em seguida, ele ofereceu holocaustos e sacrifícios pacíficos na presença do Senhor. 18 Assim que terminou de oferecer os holocaustos e os sacrifícios pacíficos, Davi abençoou o povo em nome do Senhor Todo-poderoso. 19 E distribuiu a toda a multidão de Israel, a cada um dos homens e das mulheres, um pão de forno, um bolo de tâmaras e uma torta de uvas.  Depois todo o povo foi para casa.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 23(24), 7.8.9.10(R. cf. 8a)

R. Dizei-nos: ‘Quem é leste Rei da glória?
É o Senhor, o valoroso, o grandioso!’

7 ‘Ó portas, levantai vossos frontões! +
Elevai-vos bem mais alto, antigas portas, *
a fim de que o Rei da glória possa entrar!’ R.

8 Dizei-nos: ‘Quem é este Rei da glória?’ +
‘É o Senhor, o valoroso, o onipotente, *
o Senhor, o poderoso nas batalhas!’      R.

9 ‘Ó portas, levantai vossos frontões! +
Elevai-vos bem mais alto, antigas portas, *
a fim de que o Rei da glória possa entrar!’       R.

10 Dizei-nos: ‘Quem é este Rei da glória?’ +
‘O Rei da glória é o Senhor onipotente, *
o Rei da glória é o Senhor Deus do universo!’      R.

Evangelho: Mc 3, 31-35 

“Quem fizer a vontade de Deus
esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe” 
 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo, 31 Chegaram a mãe de Jesus e seus irmãos. Eles ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. 32 Havia uma multidão sentada ao redor dele. Então lhe disseram: ‘Tua mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura.’ 33 Ele respondeu: ‘Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?’ 34 E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: ‘Aqui estão minha mãe e meus irmãos. 35 Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Justiça nas Palavras e no Juízo

TEMPO COMUM. TERCEIRA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA

— Os "pecados da língua". Calar-se quando não se pode louvar.
— Não fazer juízos precipitados. O amor à verdade deve levar-nos a procurar uma informação veraz e a contribuir com os meios ao nosso alcance para a veracidade nos meios de comunicação.
— O respeito à intimidade.

I. AS PESSOAS de coração simples ficavam pasmadas ante os milagres e a pregação do Senhor, mas havia aqueles que, perante os fatos mais prodigiosos, não queriam crer na divindade de Jesus.

O Senhor acaba de expulsar um demônio - diz São Marcos no Evangelho da Missa1 - e, ao passo que a multidão ficou assombrada2, os escribas que haviam descido de Jerusalém diziam: Está possuído por Belzebu e é por virtude do príncipe dos demônios que expulsa os demônios. Por falta de boas disposições, as obras do Senhor são interpretadas como obras do demônio. Tudo pode ser confundido se falta retidão na consciência! No auge da obcecação, chegam a dizer que Jesus tinha um espirito imundo, Ele que era a própria santidade!

Por amor a Deus e ao próximo, por amor à justiça, o cristão deve ser justo também ao falar, num mundo em que tanto se maltratam os outros com as palavras. "Deve-se ao homem o bom nome, o respeito, a consideração, a fama que mereceu. Quanto mais conhecemos o homem, tanto mais se revelam aos nossos olhos a sua personalidade, o seu caráter, a sua inteligência e o seu coração, e tanto mais nos apercebemos [...] do critério com que devemos «medi-lo», e o que quer dizer sermos justos com ele" 4.

Todas as pessoas têm o direito de conservar o seu bom nome, enquanto não demonstrarem com fatos indignos, públicos e notórios, que não o merecem. A calúnia, a maledicência, a murmuração... constituem grandes faltas de justiça para com o próximo, pois o bom nome é preferível às grandes riquezas 5, já que, com a sua perda, o homem se torna incapaz de realizar boa parte do bem que poderia levar a cabo 6.

Frequentemente, o pouco domínio da língua, "a leviandade no agir e no dizer", são manifestações de "estouvamento e de frivolidade" 7, de falta de conteúdo interior e de sentido da presença de Deus. E quantas injustiças não podemos cometer ao emitirmos juízos irresponsáveis sobre o comportamento daqueles que convivem, trabalham ou se relacionam conosco! Não esqueçamos, além disso, que a origem mais frequente da difamação, da crítica negativa, da murmuração, é a inveja, que não suporta as boas qualidades do próximo, o prestígio ou o êxito de uma pessoa ou de uma instituição. Diz-nos o Apóstolo São Tiago que a língua pode chegar a ser um mundo de iniqüidade 8.

Difamam e murmuram não só os que divulgam notícias desabonadoras da honra dos outros, mas os que comentam levianamente rumores infundados; ou os que cooperam para a propagação da maledicência através da palavra, da imprensa ou de qualquer outro meio de comunicação, fazendo-se eco e dando publicidade a palavras caluniosas comentadas ao ouvido; ou então os que o fazem através do silêncio, omitindo-se quando deveriam sair em defesa da pessoa injuriada, pois o silêncio - não poucas vezes - equivale a uma aprovação daquilo que se ouve. Como também se pode difamar "elogiando", se se rebaixa injustamente o bem realizado.

E não são só as pessoas que têm direito à honra e à boa fama, mas também as instituições. A difamação que se comete contra estas tem a mesma gravidade que a que se comete contra as pessoas, e frequentemente maior, pelas consequências - às vezes irreversíveis — que o desprestígio público lançado sobre o bom nome dessas instituições pode ocasionar9.

Podemos perguntar-nos hoje na nossa oração se, nos ambientes em que se passa a nossa vida, somos conhecidos como pessoas que nunca falam mal do próximo; e se realmente vivemos aquele sábio conselho: "Quando não puderes louvar, cala-te" 10.

II. DEVEMOS PEDIR AO SENHOR que nos ensine a dizer aquilo que convém, a não pronunciar palavras vãs, a conhecer o momento certo e a medida exata de falar, a saber dizer o necessário e a dar a resposta oportuna, "a não conversar tumultuadamente e a não deixar cair as palavras que nos vêm à cabeça como uma chuva de granizo, pela impetuosidade no falar"11. Coisa que, por desgraça, é frequente em muitos ambientes.

Viveremos exemplarmente este aspecto da caridade e da justiça se mantivermos no nosso interior um clima de presença de Deus ao longo do dia e se evitarmos com prontidão os juízos negativos. Devemos viver as virtudes da justiça e da caridade primeiro no nosso coração, pois da abundância do coração fala a boca 12. É aí, no nosso interior, que devemos preservar habitualmente uma atitude de benevolência para com o próximo, evitando o juízo estreito e a medida mesquinha, pois "muitas pessoas, mesmo entre as que se consideram cristãs [...], antes de mais nada, imaginam o mal. Sem prova alguma, pressupõem-no; e não só admitem essa ordem de pensamentos, como ainda se atrevem a manifestá-los num juízo aventurado, diante da multidão" 13.

O amor à justiça deve levar-nos a não formar juízos precipitados sobre pessoas e acontecimentos, baseados numa informação superficial. É necessário manter um são espírito crítico em face das informações que nos chegam, muitas das quais podem ser tendenciosas ou simplesmente incompletas. E frequente que os fatos objetivos se apresentem envolvidos em opiniões pessoais; e quando se trata de notícias sobre a fé, a Igreja, o Papa, os bispos, etc, se essas notícias são dadas por pessoas sem fé ou cheias de preconceitos, é fácil que nos cheguem deformadas na sua realidade mais íntima.

O amor à verdade deve defender-nos de um cômodo conformismo e levar-nos a discernir, a fugir das simplificações apressadas, a deixar de lado os canais informativos sectários, a desprezar o "ouvi dizer" e a contribuir positivamente para a boa informação dos outros: enviando cartas de esclarecimento aos jornais, aproveitando uma notícia parcial ou sectária para retificá-la com veracidade e sentido positivo no círculo das nossas relações... e, evidentemente, não colaborando nem com um centavo para a manutenção do jornal, da revista ou do boletim que a publicou. Se todos nós, cristãos, atuássemos assim, muito em breve mudaríamos a situação confusa de desrespeito à dignidade das pessoas que se observa em muitos países.

Outra manifestação clara de amor à justiça e à verdade será retificarmos a opinião - se necessário também publicamente - quantas vezes percebermos que, apesar da nossa boa intenção, nos enganamos ou tivemos conhecimento de um dado novo que nos obrigava a reformular uma afirmação anterior.

Sejamos intransigentes nesta matéria tão pegajosa. Comecemos nós mesmos por ser justos nos nossos juízos, nas nossas palavras, e procuremos que essa virtude seja vivida à nossa volta, sem permitir nunca a calúnia, nem a difamação, nem a maledicência, por nenhum motivo.

III. QUEM TEM A VISTA DEFORMADA vê os objetos deformados; e quem tem os olhos da alma doentes vê intenções retorcidas e pouco claras onde há somente desejos de servir a Deus; ou vê defeitos que, na realidade, são dele mesmo. Já Santo Agostinho aconselhava: "Procurai adquirir as virtudes que julgais faltarem aos vossos irmãos, e já não vereis os seus defeitos, porque vós mesmos não os tereis" 14. Peçamos com insistência ao Senhor a graça de vermos sempre e em primeiro lugar tudo o que há de bom - e que é muito - naqueles que convivem conosco. Assim saberemos desculpar-lhes os erros e ajudá-los a superar essas falhas.

Viver a justiça nas palavras e nos juízos significa também respeitar a intimidade das pessoas, protegê-la de curiosidades estranhas, não expondo em público o que deve permanecer em privado, no âmbito da família ou da amizade. É um direito elementar que vemos ferido e maltratado freqüentemente.

"Não custaria nenhum trabalho apontar na nossa época casos dessa curiosidade agressiva que leva a indagar morbidamente da vida privada dos outros. Um mínimo senso de justiça exige que, mesmo na investigação de um presumível delito, se proceda com cautela e moderação, sem tomar por certo o que é apenas uma possibilidade. Compreende-se até que ponto se deva qualificar como perversão a curiosidade malsã em desentranhar o que não só não é um delito, como pode até ser uma ação honrosa.

"Perante os mercadores da suspeita, que dão a impressão de organizarem um tráfico da intimidade, é preciso defender a dignidade de cada pessoa, o seu direito ao silêncio. Costumam estar de acordo nesta defesa todos os homens honrados, sejam ou não cristãos, porque está em jogo um valor comum: a legítima decisão de cada qual ser como é, de não se exibir, de conservar em justa e púdica reserva as suas alegrias, as suas penas e dores de família" 15.

"«Sancta Maria, Sedes Sapientiae» - Santa Maria, Sede da Sabedoria. - Invoca com freqüência, deste modo, a Nossa Mãe, para que Ela cumule os seus filhos - no seu estudo, no seu trabalho, na sua convivência - da Verdade que Cristo nos trouxe" 16.

(1) Mc 3, 22-30; (2) cfr. Lc 11, 14; (3) Mc 3, 30; (4) João Paulo II, Alocação, 8-XI-1978; (5) Prov 22, 1; (6) cfr. São Tomás, Suma Teológica, 2-2, q. 73, a. 2; (7) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 17; (8) Ti 3, 6; (9) F. Fernández Carvajal, Antologia de textos, verbete "Difamação"; (10) Josemaría Escrivá, op. cit, n. 443; (11) São Gregório Niceno, Homília I, Sobre os pobres que hão de ser amados', (12) Mt 12, 34; (13) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 67; (14) Santo Agostinho, Comentário ao Salmo 30; (15) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 69; (16) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 607.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal