O Matrimônio e a Virgindade
TEMPO COMUM. DÉCIMA NONA SEMANA. SEXTA‑FEIRA
– O matrimônio, caminho vocacional. Dignidade, unidade, indissolubilidade.
– A fecundidade da virgindade e do celibato apostólico.
– A santa pureza, defensora do amor humano e do divino.
I. O EVANGELHO DA MISSA 1 apresenta‑nos uns fariseus que se aproximaram de Jesus e lhe fizeram uma pergunta para pô‑lo à prova: É lícito a um homem repudiar a sua mulher por um motivo qualquer? Era uma questão que dividia as diferentes escolas de interpretação da Escritura. O divórcio era comumente admitido; a questão que propõem a Jesus refere‑se à casuística sobre os motivos. Mas o Senhor serve‑se dessa pergunta banal para entrar no problema de fundo: a indissolubilidade. Cristo, Senhor absoluto de toda a legislação, devolve ao matrimônio a sua essência e dignidade originais, tal como foi concebido por Deus: Não lestes – responde Jesus – que no começo o Criador criou um homem e uma mulher, e disse: Por isso deixará o homem pai e mãe, e juntar‑se‑á com a sua mulher, e os dois serão uma só carne? Por isso já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu o homem não separe [...].
O Senhor proclamou para sempre a unidade e a indissolubilidade do matrimônio acima de qualquer consideração humana. Existem muitas razões em favor da indissolubilidade do vínculo matrimonial: a própria natureza do amor conjugal, o bem dos filhos, o bem da sociedade... Mas a raiz profunda do matrimônio indissolúvel está na própria vontade do Criador, que o fez assim: uno e indissolúvel. Este vínculo é tão forte que só a morte o pode romper. São Francisco de Sales emprega uma imagem muito expressiva para explicá‑lo: “Quando se colam duas peças de madeira de abeto, se a cola é fina, a união chega a ser tão sólida que será mais fácil quebrar as peças noutros lugares do que no lugar da junção” 2; assim é o matrimônio.
Para levar adiante esse compromisso, é necessário ter consciência da vocação matrimonial, que é um dom de Deus 3, de tal forma que a vida familiar e os deveres conjugais, a educação dos filhos, o esforço por sustentar e melhorar economicamente a família são situações que os esposos devem sobrenaturalizar 4, vivendo através delas uma vida de entrega a Deus; devem estar persuadidos de que Deus os assiste para que possam cumprir adequadamente esses deveres que configuram a situação em que devem santificar‑se.
Pela fé e pelos ensinamentos da Igreja, nós, cristãos, adquirimos um conhecimento profundo e completo do matrimônio, da importância de que a família se reveste para cada homem, para a Igreja e para a sociedade. Temos, portanto, a grande responsabilidade de defender essa instituição humana e divina, principalmente nuns momentos históricos em que se lançam contra ela ataques incessantes nos meios de comunicação de massas: nas revistas, nos jornais que dão especial publicidade aos escândalos mais chamativos, nos seriados de televisão que alcançam grande audiência e vão pouco a pouco deformando a consciência do público... Ao difundirmos a reta doutrina neste ponto – a da lei natural iluminada pela fé –, fazemos um bem enorme a toda a sociedade.
Meditemos hoje na nossa oração se defendemos a nossa família dessas agressões externas, e se nos esmeramos em viver delicadamente algumas virtudes que contribuem para a solidez da família: o respeito mútuo, o espírito de serviço, a amabilidade, a compreensão, o otimismo, a atenção vigilante para com todos...
II. A DOUTRINA DO SENHOR a respeito da indissolubilidade e dignidade do matrimônio foi tão chocante aos ouvidos de todos que até os próprios discípulos lhe disseram: Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, não é vantajoso casar‑se. Jesus aproveitou esse comentário para proclamar o valor do celibato e da virgindade por amor do Reino dos céus, a entrega plena a Deus, indiviso corde 5, que é um dos dons mais preciosos da Igreja.
Os que receberam a chamada para servir a Deus no matrimônio santificam‑se precisamente mediante o cumprimento abnegado e fiel dos deveres conjugais, que para eles se tornam caminho certo de união com Deus. Os que receberam a vocação para o celibato apostólico encontram na entrega total a Deus e aos outros por Deus a graça necessária para viverem felizes e alcançarem a santidade no meio dos seus afazeres temporais, se ali o Senhor os procurou e deixou: são cidadãos correntes, com uma vocação profissional definida, que se entregam a Deus e ao apostolado sem limites e sem condições. É uma chamada que revela uma especial predileção divina e para a qual o Senhor dá ajudas muito determinadas. A Igreja cresce assim em santidade pela fidelidade desses cristãos que correspondem à chamada peculiar que o Senhor lhes faz. É uma entrega plena que “sempre teve na Igreja um lugar de honra, como sinal e estímulo de caridade, e fonte peculiar de fecundidade espiritual no mundo” 6.
A virgindade e o celibato não só não contradizem a dignidade do matrimônio, como a pressupõem e confirmam. O matrimônio e a virgindade “são dois modos de exprimir e de viver o único mistério da Aliança de Deus com o seu povo” 7. E se não se estima a virgindade, não se compreende em toda a sua profundidade a dignidade matrimonial. Por sua vez, “quando não se considera a sexualidade humana como um grande valor dado pelo Criador, perde significado a renúncia pelo Reino dos céus” 8. “Quem condena o matrimônio – dizia já São João Crisóstomo – priva também a virgindade da sua glória; e quem o louva torna a virgindade mais admirável e luminosa” 9.
O amor vivido na virgindade ou no celibato apostólico é a alegria dos filhos de Deus, porque lhes permite ver o Senhor neste mundo de um modo novo, contemplar o rosto divino através das criaturas. É para os cristãos e para os não crentes um sinal luminoso da pureza da Igreja. É fonte de uma especial juventude interior e de uma eficácia gozosa no apostolado. “Embora tenha renunciado à fecundidade física, a pessoa virgem torna‑se espiritualmente fecunda, pai e mãe de muitos, cooperando na realização da família segundo o desígnio de Deus. Os esposos cristãos têm, portanto, o direito de esperar das pessoas virgens o bom exemplo e o testemunho da fidelidade à sua vocação até à morte. Assim como para os esposos a fidelidade se torna às vezes difícil e exige sacrifício, mortificação e renúncia, o mesmo pode acontecer às pessoas virgens. A fidelidade destas, mesmo nas eventuais provações, deve edificar a fidelidade daqueles” 10.
Deus, diz Santo Ambrósio, “amou tanto esta virtude, que não quis vir ao mundo senão acompanhado por ela, nascendo de Mãe virgem” 11. Peçamos com freqüência a Santa Maria que haja sempre no mundo pessoas que correspondam a esta chamada concreta do Senhor; que saibam ser generosas para entregarem ao Senhor um amor que não compartilham com ninguém e que lhes permite dar‑se sem medida aos outros.
III. PARA PODERMOS REALIZAR a nossa vocação, é necessário que vivamos a santa pureza, de acordo com as exigências do nosso estado de vida. Deus dá as graças necessárias aos que foram chamados ao matrimônio, bem como àqueles a quem pediu todo o coração, para que uns e outros sejam fiéis e vivam essa virtude, que não é a principal, mas é indispensável para termos acesso à intimidade de Deus.
Pode acontecer que haja ambientes em que a castidade seja uma virtude desvalorizada e que muitos pensem que vivê‑la com todas as suas conseqüências é algo incompreensível ou utópico. Meditemos nestas palavras de São João Crisóstomo, que parecem escritas para muitos cristãos dos nossos dias: “Que quereis que façamos? Que subamos aos montes e nos tornemos monges? E isso que dizeis é o que me faz chorar: que penseis que a modéstia e a castidade são próprias dos monges. Não. Cristo estabeleceu leis comuns a todos. E assim, quando disse: Quem olhar com cobiça para uma mulher (Mt 5, 28), não falava com o monge, mas com o homem da rua [...]. Eu não te proíbo que te cases, nem me oponho a que te divirtas. Só quero que o faças com temperança, não com impudor, não com culpas e pecados sem conta. Não estabeleço como lei que tenhais que viver nos montes e desertos, mas que sejais bons, modestos e castos, mesmo vivendo nas cidades” 12.
Que enorme bem podemos realizar no mundo vivendo delicadamente esta santa virtude! Levaremos a todos os lugares que freqüentamos o nosso próprio ambiente, com o bonus odor Christi 13, o bom aroma de Cristo, que é próprio das almas fortes e enérgicas que vivem a castidade.
Trata‑se de uma virtude que está rodeada de outras que chamam pouco a atenção, mas que definem um modo de comportamento sempre atraente. Assim são, por exemplo, os detalhes de modéstia e de pudor no vestir, no asseio, no esporte; a recusa clara e sem paliativos de participar em conversas que não condizem com um cristão e com qualquer pessoa de bem, o repúdio aos espetáculos imorais, o cuidado em guardar a vista com naturalidade pela rua, etc. Quem vive com esmero essas virtudes “menores” terá assegurado em grande parte a virtude da pureza, pois também neste campo o que é grande depende do que é pequeno.
Lembremo‑nos por fim de que a virtude da pureza, tão importante para uma eficaz ação apostólica no meio do mundo, é guardiã do Amor, do qual por sua vez se nutre e no qual encontra o seu sentido; protege e defende tanto o amor divino como o humano. Não pensemos que nos pede uma atitude repressiva, mas a abertura e a juventude de quem se entregou a um grande Amor.
(1) Mt 19, 3‑12; (2) São Francisco de Sales, Introdução à vida devota, 3, 38; (3) cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 11; (4) cfr. Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 23; (5) 1 Cor 7, 33; (6) Conc. Vat. II, op. cit., 42; (7) João Paulo II, Exort. Apost. Familiaris consortio, 22‑XI‑1981, 16; (8) ib.; (9) São João Crisóstomo, Tratado sobre a virgindade, 10; (10) João Paulo II, op. cit.; (11) Santo Ambrósio, Tratado sobre as virgens, 1; (12) São João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de São Mateus, 7, 7; (13) 2 Cor 2, 15.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Santa Dulce dos Pobres
13 de Agosto
Santa Dulce dos Pobres
Neste dia 13 de agosto é celebrado o dia da Beata Dulce dos Pobres, a religiosa baiana que dedicou sua vida ao serviço aos pobres e doentes e ainda hoje é conhecida como Anjo Bom do Brasil.
O 13 de agosto foi escolhido como o dia oficial da festa litúrgica da Santa porque foi nesta mesma data, em 1933, na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em Sergipe, que Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, aos 19 anos de idade, recebia o hábito de freira e adotava, em homenagem à sua mãe, o nome de Irmã Dulce.
Segunda filha do dentista Augusto Lopes Pontes e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, a pequena Maria Rita nasceu em 26 de maio de 1914, na capital baiana. Perdeu sua mãe aos sete anos de idade.
Desde cedo, começou a manifestar seu interesse pela vida religiosa. Aos 13 anos, passou a acolher mendigos e doentes em sua casa, transformando a residência da família em um centro de atendimento. A casa ficou conhecida como ‘A Portaria de São Francisco’, devido ao grande número de carentes que se aglomeravam à sua porta. Nessa época, expressou pela primeira vez o desejo de se dedicar à vida religiosa.
Entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe, em fevereiro 1933, tendo recebido o hábito em agosto do mesmo ano, quando passou a ser chamada Irmã Dulce.
Sempre com muita fé, amor e serviço, o Anjo Bom iniciou na década de 1930 um trabalho assistencial nas comunidades carentes, sobretudo nos Alagados, conjunto de palafitas que se consolidara na parte interna do bairro de Itapagipe, na capital baiana.
Em 1939, Irmã Dulce invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos, para abrigar os doentes que recolhia nas ruas de Salvador. Expulsa do lugar, peregrinou durante uma década, levando os seus doentes por vários locais da cidade. Até que em 1949, ocupou um galinheiro ao lado do convento, após a autorização da sua superiora, com os primeiros 70 doentes.
Esta iniciativa deu início à criação das Obras Sociais Irmã Dulce, instituição considerada hoje um dos maiores complexos de saúde pública do país, com cerca de quatro milhões de atendimentos ambulatoriais por ano.
“Quando nenhum hospital quiser aceitar algum paciente, nós aceitaremos. Esta é a última porta e por isso eu não posso fechá-la”, disse Irmã Dulce.
Em 1988, foi indicada pelo então presidente da República, José Sarney, com o apoio da Rainha Sílvia, da Suécia, para o Prêmio Nobel da Paz.
A religiosa também teve dois grandes momentos de sua vida ao lado de São João Paulo II. Em 7 de julho de 1980, encontrou-se com o então Papa que visitava pela primeira vez o Brasil. Na ocasião, ouviu dele o incentivo para prosseguir com a sua obra.
Os dois voltaram a se encontrar em 20 de outubro de 1991, na segunda visita do Sumo Pontífice ao Brasil. João Paulo II fez questão de quebrar o rigor da sua agenda e foi ao Convento Santo Antônio visitar a religiosa baiana, cuja saúde já se encontrava bastante debilitada em função de problemas respiratórios.
Cinco meses depois, no dia 13 de março de 1992, o Anjo Bom da Bahia faleceu, aos 77 anos. Todos choravam e queriam prestar sua última homenagem àquela que dera sua vida pelos doentes e pelos mais pobres. Quando ainda em vida, Irmã Dulce já era chamada de santa por causa da evidente santidade de sua vida. A Igreja também reconheceu a santidade de Irmã Dulce declarando-a beata no dia 22 de março de 2011. A declaração foi oficializada pelo Papa Bento XVI. E depois aos 13 de outubro de 2019, foi canonizada pelo Papa Francisco. A festa de Irmã Dulce dos pobres é celebrada no dia 13 de agosto.
Fonte: https://www.acidigital.com
A Dívida para com Deus
TEMPO COMUM. DÉCIMA NONA SEMANA. QUINTA‑FEIRA
– Os incontáveis benefícios do Senhor.
– A Missa é a ação de graças mais perfeita que se pode oferecer a Deus.
– Gratidão para com todos; perdoar sempre qualquer ofensa.
I. O REINO DOS CÉUS é semelhante a um rei que quis acertar as contas com os seus servos, lemos no Evangelho da Missa de hoje 1. Tendo dado início à sua tarefa, apresentou‑se‑lhe um que lhe devia dez mil talentos, uma soma imensa, impossível de ser paga.
Este primeiro devedor somos nós mesmos; a nossa dívida para com Deus é tão grande que nos é impossível pagá‑la. Devemos‑lhe o benefício de nos ter criado, preferindo‑nos a muitos outros que poderia ter chamado à existência em nosso lugar. Com a colaboração dos nossos pais, formou‑nos um corpo, para o qual criou diretamente uma alma imortal, irrepetível, destinada a ser eternamente feliz no Céu junto com o corpo. Estamos no mundo por um expresso desejo seu. Devemos‑lhe ainda a conservação na existência, pois sem Ele voltaríamos ao nada, como lhe devemos as energias e as qualidades do corpo e do espírito, a saúde, a vida e todos os bens que possuímos.
Acima desta ordem natural, estamos em dívida com o Senhor pelo benefício da Encarnação do seu Filho, pela Redenção, pela filiação divina que nos outorgou, pela possibilidade de participarmos da vida divina aqui na terra e mais tarde no Céu, com a glorificação da alma e do corpo. Devemos‑lhe o dom imenso de ser filhos da Igreja, na qual temos a alegria de poder receber os sacramentos e, de modo especial, a Sagrada Eucaristia. Na Igreja, pela Comunhão dos Santos, participamos das boas obras dos outros fiéis, recebemos a todo o momento incontáveis graças provenientes dos outros membros, dos que estão em oração ou daqueles que oferecem a Deus o seu trabalho ou a sua dor… Também recebemos continuamente o benefício dos santos que já estão no Céu, das almas do Purgatório e dos Anjos. Tudo isto nos chega pelas mãos de Santa Maria, nossa Mãe, e em última instância pela fonte inesgotável dos méritos infinitos de Cristo, nossa Cabeça 2, nosso Redentor e Mediador.
Devemos a Deus a graça com que contamos para praticar o bem, a constância nos propósitos, os desejos cada vez maiores de imitar Jesus Cristo, e todo o progresso nas virtudes. Devemos‑lhe de modo muito especial a graça imensa da vocação a que cada um de nós foi chamado, e da qual derivaram depois tantas outras graças e ajudas…
Na verdade, somos uns devedores insolventes, que não temos com que pagar. Só podemos adotar a atitude do servo da parábola: O servo, lançando‑se‑lhe aos pés, suplicava‑lhe: Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo. Como somos filhos de Deus, podemos aproximar‑nos dEle com uma confiança ilimitada. Os pais não se lembram dos empréstimos que um dia, por amor, fizeram aos seus filhos pequenos.
“Descansa na filiação divina. Deus é um Pai – o teu Pai! – cheio de ternura, de infinito amor.
“Chama‑lhe Pai muitas vezes, e diz‑lhe – a sós – que o amas, que o amas muitíssimo!: que sentes o orgulho e a força de ser seu filho” 3.
O nosso irmão mais velho, Jesus Cristo, paga de sobra por todos nós.
II. TEM PACIÊNCIA COMIGO, e eu te pagarei tudo…
Na Santa Missa, oferecemos com o sacerdote a hóstia pura, santa, imaculada: uma ação de graças de valor infinito, e a ela unimos a insuficiência do nosso pobre agradecimento: Recebei, ó Pai, esta oferenda, suplicamos todos os dias, como recebestes a oferta de Abel, o sacrifício de Abraão e os dons de Melquisedeque 4. Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a vós, ó Pai todo‑poderoso, toda a honra e toda a glória agora e para sempre na unidade do Espírito Santo… Com Cristo, unidos a Ele, podemos dizer: Eu te pagarei tudo.
A Missa é a mais perfeita ação de graças que se pode oferecer a Deus. Toda a vida de Cristo foi uma ação de graças contínua ao Pai, numa atitude interior que se traduzia freqüentemente em palavras e gestos, como nos relatam os Evangelistas. Pai, dou‑te graças, porque me tens ouvido, exclama Jesus antes da ressurreição de Lázaro 5. E igualmente no milagre dos pães e dos peixes, dá graças antes de fazer repartir pela multidão o alimento multiplicado 6. Na Última Ceia, tomou o pão, deu graças, e o partiu […]; e, tomando o cálice, deu graças… 7
No milagre da cura dos leprosos, vê‑se claramente que o Senhor não é indiferente ao agradecimento: Não se encontrou quem voltasse e desse glória a Deus a não ser este estrangeiro? 8, pergunta com estranheza; ao mesmo tempo, não deixa de prevenir os seus discípulos sobre o pecado de ingratidão em que podem incorrer aqueles que, tendo recebido tantos benefícios, acabam por não agradecer nenhum, porque se acostumaram a recebê‑los e até a achar que lhes são devidos. Tudo é dom de Deus. Estar em sintonia com Deus implica acolher os seus favores com a gratidão de quem é consciente dos dons que recebe. Se conhecesses o dom de Deus, e quem é aquele que te diz: “Dá‑me de beber”, tu lhe pedirias e ele te daria da água viva 9, explica o Senhor à Samaritana, que estava a ponto de fechar‑se à graça 10.
O nosso agradecimento a Deus por tantas e tantas dádivas, que não podemos pagar, deve unir‑se à ação de graças de Cristo na Santa Missa. Como poderei retribuir ao Senhor por todos os benefícios que me fez? 11, podemos perguntar‑nos todos os dias com o Salmista. E não encontraremos melhor forma de fazê‑lo do que participando diariamente com mais atenção e piedade da Santa Missa, oferecendo ao Pai o sacrifício do Filho, ao qual – apesar de valermos tão pouco – uniremos a nossa oblação pessoal: Dignai‑vos, ó Pai, aceitar e santificar estas oferendas… 12, diremos com o coração cheio de alegria.
III. AINDA QUE TODA A MISSA seja ação de graças, esta ressalta especialmente no momento do Prefácio. Num especial clima de alegria, reconhecemos e proclamamos que na verdade, ó Pai, Deus eterno e todo‑poderoso, é nosso dever dar‑vos graças, é nossa salvação dar‑vos glória, em todo o tempo e lugar, por Cristo, Senhor Nosso.
Em todo o tempo e lugar… Esta deve ser a nossa atitude perante Deus: ser agradecidos em todo o momento, em qualquer circunstância, também quando nos custe entender algum acontecimento. “É muito grato a Deus o reconhecimento pela sua bondade que denota recitar um «Te Deum» de ação de graças, sempre que ocorre algum acontecimento um pouco extraordinário, sem dar importância a que seja – como o chama o mundo – favorável ou adverso: porque, vindo das suas mãos de Pai, mesmo que o golpe de cinzel fira a carne, é também uma prova de Amor, que tira as nossas arestas para nos aproximar da perfeição” 13. Tudo é um apelo contínuo ut in gratiarum actione semper maneamus…, para que permaneçamos sempre numa contínua ação de graças 14.
Ut in gratiarum actione semper maneamus… Devemos transpor para a nossa vida de cada dia esta atitude de agradecimento que temos para com Deus. Aproveitemos os acontecimentos pequenos do dia para nos mostrarmos agradecidos a todas as pessoas que nos prestam tantos serviços na vida familiar e de relação. Mostremo‑nos agradecidos a quem nos vende o jornal, ao funcionário que nos atende, ao motorista que nos deu preferência no trânsito de uma grande cidade…
Mas o Senhor mostra‑nos nesta passagem do Evangelho outro modo de saldarmos as nossas dívidas para com Ele: Deus quer que perdoemos e desculpemos as possíveis ofensas que os outros nos tenham feito, pois, no pior dos casos, a soma dessas ofensas não ultrapassa cem denários, algo completamente irrelevante em comparação com os dez mil talentos (uns sessenta milhões de denários) que devemos. Se soubermos desculpar as pequenas coisas dos demais (ou mesmo uma injúria grave), o Senhor não levará em conta a imensa dívida que temos com Ele. Esta é a condição que Jesus estabelece ao concluir a parábola. E é o que dizemos a Deus sempre que rezamos o Pai‑Nosso: Perdoai‑nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. Quando desculpamos e esquecemos, imitamos o Senhor, pois “nada nos assemelha tanto a Deus como estarmos sempre dispostos a perdoar” 15.
Terminamos a nossa meditação com uma oração muito freqüente no povo cristão: Dou‑vos graças, meu Deus, por me terdes criado, feito cristão e conservado neste dia. Perdoai‑me as faltas que hoje cometi e, se algum bem fiz, aceitai‑o. Guardai‑me durante o repouso e livrai‑me dos perigos. A vossa graça seja sempre comigo e com todos os que me são caros.
(1) Mt 18, 23‑35; (2) cfr. São Tomás, Suma Teológica, III, q. 8; (3) Josemaría Escrivá, Forja, n. 331; (4) Missal Romano, Oração Eucarística I; (5) Jo 11, 41; (6) cfr. Mt 15, 36; (7) Lc 22, 19; Mt 26, 17; (8) Lc 17, 18; (9) Jo 4, 10; (10) cfr. J. M. Pero‑Sanz, La hora sexta, Rialp, Madrid, 1978, pág. 267; (11) Sl 115, 2; (12) Missal Romano, op. cit.; (13) Josemaría Escrivá, op. cit., n. 609; (14) Missal Romano, Oração depois da Comunhão na festa de São Justino; (15) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 19, 7.
Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal
Santa Joana Francisca de Chantal
12 de Agosto
Santa Joana Francisca de Chantal
Filha de um político bem posicionado na França, Joana recusou matrimônio com um fidalgo milionário, por ser ele protestante calvinista. Casou-se, então, com o barão de Chantal, católico fervoroso, com quem levou uma vida profundamente religiosa e feliz.
Joana nasceu em Dijon, França, em 28 de janeiro de 1572, filha de Benigno Frèmiot, presidente do parlamento de Borgonha. Após seu casamento, foi morar no castelo de Bourbillye, e sua primeira ordem na nova casa sinalizou qual seria o estilo de vida que se viveria ali. Mandou que, diariamente, fosse rezada uma missa e que todos os servidores domésticos participassem. Ocupou-se, pessoalmente, da educação religiosa dos serviçais, ajudando-os em todas as suas necessidades materiais.
Quando o barão feriu-se gravemente durante uma caçada, no castelo só se rezava por sua saúde. Mas logo veio a falecer. Joana ficou viúva aos 28 anos de idade, com os filhos para criar. Dedicou-se inteiramente à educação das suas crianças, abrindo espaço em seus horários apenas para a oração e o trabalho. Nessa época, conheceu o futuro são Francisco de Sales, então bispo de Genebra. Escolheu-o para ser seu diretor espiritual e fez-se preparar para a vida de religiosa.
Passados nove anos de viuvez e depois de ter muito bem casado as filhas, deixou o futuro barão de Chantal, então um adolescente de 15 anos, com o avô Benigno no castelo de Dijon e retirou-se em um convento. No ano seguinte, em 1610, junto com Francisco de Sales, fundou a Congregação da Visitação de Santa Maria, destinada à assistência aos doentes. Nessa empreitada juntaram-se, à baronesa de Chantal, a senhora Jacqueline Fabre e a senhorita Brechard.
Joana, então, professou os votos e foi a primeira a vestir o hábito da nova Ordem. Eleita a madre superiora, acrescentou Francisca ao nome de batismo e dedicou-se exclusivamente à Obra, vivendo na sua primeira sede, em Anecy. Fundou mais 75 Casas para suas religiosas com toda a sua fortuna. Mas não sem dificuldades e sofrimentos, e sofrendo muitas perseguições em Paris, sem nunca esmorecer.
Depois de uma dura agonia motivada por uma febre que pôs fim à sua existência, morreu em Moulins no dia 13 de dezembro de 1641. Atualmente, as Irmãs da Visitação estão espalhadas em todos os continentes e celebram, no dia 12 de agosto, santa Joana Francisca de Chantal, que foi canonizada em 1767 para ser venerada como modelo de perfeição evangélica em todos os estados de vida.
Texto: Paulinas Internet
O Poder de Perdoar os Pecados
TEMPO COMUM. DÉCIMA NONA SEMANA. QUARTA‑FEIRA
– Promessa e instituição do sacramento da Penitência. Dar graças por este sacramento.
– Razões para esse agradecimento.
– Somente o sacerdote pode perdoar os pecados. A Confissão, um juízo misericordioso.
I. JESUS CONHECE BEM a nossa fraqueza e debilidade. Por isso instituiu o sacramento da Penitência. Quis que pudéssemos corrigir os nossos passos, quantas vezes fosse necessário; tinha o poder de perdoar os pecados e exerceu‑o freqüentes vezes: com a mulher surpreendida em adultério1, com o bom ladrão arrependido na cruz 2, com o paralítico de Cafarnaum 3… Veio procurar e salvar o que estava perdido4, também atualmente, nos nossos dias.
Os Profetas tinham preparado e anunciado esta reconciliação, totalmente nova, do homem com Deus. Assim o refletem as palavras de Isaías: Vinde e entendamo‑nos, diz o Senhor. Ainda que os vossos pecados sejam como o escarlate, tornar‑se‑ão brancos como a neve; e se forem roxos como o carmesim, ficarão brancos como a branca lã 5. Foi essa também a missão de João Batista, que veio pregar um batismo de penitência para a remissão dos pecados 6. Como pode então haver quem se estranhe de que a Igreja pregue a necessidade da Confissão?
Jesus revela especialmente a sua misericórdia na atitude que manifesta com os pecadores. “Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição (Ier XXIX, 11), declarou Deus por boca do profeta Jeremias. A liturgia aplica essas palavras a Jesus, porque nEle se manifesta claramente que é assim que Deus nos ama. Não vem condenar‑nos, não vem lançar‑nos em rosto a nossa indigência ou a nossa mesquinhez: vem salvar‑nos, perdoar‑nos, desculpar‑nos, trazer‑nos a paz e a alegria” 7.
O Senhor quis que o seu perdão estivesse ao alcance não só daqueles que o encontrassem pelos caminhos e cidades da Palestina, como também de todos os que viessem ao mundo ao longo dos séculos. Por isso conferiu aos Apóstolos e aos seus sucessores ao longo dos séculos o poder de perdoar os pecados. Prometeu‑o de modo solene a Pedro, quando este o reconheceu como Messias 8, e pouco tempo depois – lemos hoje no Evangelho da Missa9 – estendeu‑o aos demais Apóstolos: Tudo o que atardes na terra será atado também nos céus; e tudo o que desatardes na terra será desatado também nos céus. A promessa tornou‑se realidade no próprio dia da Ressurreição: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser‑lhes‑ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser‑lhes‑ão retidos10. Foi o primeiro presente de Cristo à sua Igreja.
O sacramento da Penitência é uma portentosa expressão do amor e da misericórdia de Deus para com os homens. “Porque Deus, mesmo ofendido, continua a ser nosso Pai; mesmo irritado, continua a amar‑nos como filhos. Só procura uma coisa: não ter de castigar‑nos pelas nossas ofensas, ver que nos convertemos e lhe pedimos perdão” 11. Vamos dar graças ao Senhor na nossa oração de hoje pelo dom tão grande que significa podermos ser perdoados dos nossos erros e misérias.
II. O INCOMPARÁVEL BEM que o Senhor nos concedeu ao instituir o sacramento da Penitência resulta de muitos aspectos cuja consideração nos ajudará a ser agradecidos ao Senhor e a amar cada vez mais este sacramento.
Em primeiro lugar, a Confissão não é um mero remédio espiritual que o sacerdote possua para curar a alma doente ou mesmo morta para a vida da graça. Isso é muito, mas o nosso Pai‑Deus achou pouco. E assim como o pai da parábola não concedeu o perdão ao seu filho por meio de um emissário, mas correu em pessoa ao seu encontro, assim o Senhor, que anda em busca do pecador, faz‑se presente e abre‑nos os braços na pessoa do confessor. É o próprio Cristo quem nos absolve através do sacerdote, porque todo o sacramento é uma ação de Cristo. Na Confissão, encontramos Jesus12, como o encontrou o bom ladrão, ou a mulher pecadora, ou a samaritana, e tantos outros…; como o encontrou o próprio Pedro, depois das suas negações.
Também temos que dar graças pela universalidade deste poder concedido à Igreja na pessoa dos Apóstolos e dos seus sucessores. O Senhor está disposto a perdoar tudo, de todos e sempre, se encontra as devidas disposições. “A onipotência de Deus – diz São Tomás – manifesta‑se sobretudo no ato de perdoar e usar de misericórdia, porque a maneira que Deus tem de demonstrar o seu poder supremo é perdoar livremente” 13.
Jesus diz‑nos: Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância 14. Na Confissão, dá‑nos a oportunidade de esvaziarmos a alma de toda a imundície, de limpá‑la bem: “Pensa que Deus quer que transbordes de mel: se estás cheio de vinagre, onde irá depositar o mel? Primeiro, é necessário esvaziar o recipiente daquilo que contém […]: é preciso limpá‑lo, ainda que com custo, à força de esfregá‑lo, para que seja capaz de receber essa realidade misteriosa” 15.
Com esse pequeno esforço, que consistirá num exame de consciência diligente, na dor e nos propósitos de emenda bem feitos, sempre em torno da recepção freqüente do sacramento, o Espírito Santo irá forjando na nossa alma a delicadeza de consciência: não a consciência escrupulosa, que vê pecado onde não há, mas a finura interior que fortalece a decisão de abominar o pecado mortal e de fugir das ocasiões de cometê‑lo, ao mesmo tempo que faz crescer o sincero empenho em detestar o pecado venial. Deste modo, a Confissão robustece‑nos a confiança na luta, e quem a pratica nota que se trata sem dúvida do “sacramento da alegria” 16.
Com a eficácia silenciosa da sua ação incessante, o Espírito Santo vai‑nos dando através do sacramento da Penitência o “sentido do pecado”: ensina‑nos a doer‑nos mais, a avaliar com outra profundidade o que significa ofender a Deus, e infunde em nós um espírito filial de desagravo e de reparação. Por isso, a confissão pontual, contrita, bem preparada, é uma manifestação inequívoca do espírito de penitência. Agradeçamos ao Espírito Santo que tenha incutido nos Pastores da Igreja a preocupação de fomentar a prática da Confissão freqüente 17: com ela, progredimos na humildade, combatemos com eficácia os maus costumes – até desarraigá‑los –, enfrentamos os focos de tibieza, robustecemos a vontade e a graça santificante aumenta em nós em virtude do próprio sacramento18. Quantos benefícios o Senhor nos concede através deste sacramento!
III. O PODER DE PERDOAR os pecados foi confiado aos Apóstolos e aos seus sucessores 19. Só quem recebeu a Ordem sacramental tem a faculdade de perdoar os pecados. São Basílio compara a Confissão ao cuidado dos doentes, comentando que, assim como nem todos conhecem as doenças do corpo, também as doenças da alma não podem ser curadas por qualquer um20. Mas, à diferença dos médicos, esse poder não vem ao sacerdote da sua ciência, nem do seu prestígio, nem da comunidade, mas direta e gratuitamente de Deus, através do sacramento da Ordem.
Por disposição divina, para melhor ajudar o penitente a ser sincero e a aprofundar nas raízes da sua conduta, bem como para defender a pureza do Corpo Místico de Cristo, o confessor, que está no lugar de Cristo, deve julgar as disposições do pecador – a dor e o propósito de emenda – antes de admiti‑lo pela absolvição a uma comunhão mais plena com a Igreja. Por isso, o sacramento da Penitência é um verdadeiro julgamento a que o pecador se submete21; mas é um julgamento que tem por fim o perdão daquele que se declara culpado. “Repara que entranhas de misericórdia tem a justiça de Deus! – Porque, nos julgamentos humanos, castiga‑se a quem confessa a sua culpa; e no divino, perdoa‑se. – Bendito seja o Sacramento da Penitência!” 22
O sacerdote não poderia absolver quem não estivesse arrependido do seu pecado; não pode absolver aquele que se nega a restituir o que roubou, podendo fazê‑lo; aquele que não se decide a abandonar a ocasião próxima de pecado; e, em geral, os que não se propõem seriamente afastar‑se do pecado e emendar a sua vida. Eles próprios se excluem desta fonte de misericórdia.
O julgamento efetuado neste sacramento é, de certo modo, uma antecipação e preparação do juízo definitivo que terá lugar no fim da vida. Então compreenderemos em toda a sua profundidade a graça e a misericórdia de que Deus usou conosco nos momentos em que os nossos pecados foram perdoados. O nosso agradecimento será então sem limites, e manifestar‑se‑á em dar glória a Deus eternamente pela sua grande misericórdia. Mas o Senhor quer que sejamos também agradecidos nesta vida. Demos‑lhe graças e peçamos‑lhe que nunca faltem na sua Igreja sacerdotes santos, dispostos a administrar este sacramento com todo o amor e dedicação.
(1) Jo 8, 11; (2) Lc 23, 43; (3) Mc 2, 1‑12; (4) Lc 19, 10; (5) Is 1, 18; (6) Mt 1, 4; (7) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 165; (8) Mt 16, 17‑19; (9) Mt 18, 18; (10) Jo 20, 23; (11) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 22, 5; (12) cfr. Conc. Vat. II, Const. Sacrossanctum Concilium, 7; (13) São Tomás, Suma Teológica, I, q. 25, a. 3, ad. 3; (14) Jo 10, 10; (15) Santo Agostinho, Comentário à primeira Epístola de São João, 4; (16) cfr. Paulo VI, Audiência geral, 23‑III‑1977; (17) cfr. Pio XII, Enc. Mystici Corporis, 29‑VI‑1943, 39; (18) ib.; (19) cfr. Ordo Paenitentiae; (20) São Basílio, Regra breve, 288; (21) cfr. Conc. de Trento, sess. XIV, cap. 5; Dz 899; (22) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 309.
Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal
A Ovelha Desgarrada
TEMPO COMUM. DÉCIMA NONA SEMANA. TERÇA‑FEIRA
– Deus ama‑nos sempre, também quando nos extraviamos.
– O amor pessoal de Deus por cada homem.
– A nossa vida é a história do amor de Cristo..., que tantas vezes nos olhou com predileção.
I. LEMOS NO EVANGELHO da Missa de hoje uma das parábolas da misericórdia divina que mais comovem o coração humano 1. Um homem que tem cem ovelhas – um rebanho grande – perde uma delas, provavelmente por culpa da própria ovelha, que ficou para trás enquanto todo o rebanho seguia adiante em busca de pastos. E Jesus pergunta: esse pastor não deixará as noventa e nove nos montes para ir em busca daquela que se desgarrou? São Lucas registra estas palavras do Senhor: E tendo‑a encontrado, põe‑na sobre os ombros alegremente 2 até devolvê‑la ao redil.
Nenhuma das ovelhas recebeu tantas atenções como essa que se extraviou. Os cuidados de que a misericórdia divina cerca o pecador, nos cerca a nós, são esmagadores. Como não havemos de nos deixar carregar aos ombros pelo Bom Pastor, se alguma vez nos perdemos? Como não havemos de amar a Confissão freqüente, que é onde encontramos novamente o Bom Pastor, Cristo? Pois devemos ter em conta que somos fracos e, portanto, cheios de tropeços. Mas essa mesma fraqueza, se a reconhecemos como tal, sempre atrai a misericórdia de Deus, que acode em nosso auxílio com mais ajudas, com um amor mais particularizado. “Jesus, nosso Bom Pastor, apressa‑se a procurar a centésima ovelha, que se tinha extraviado... Maravilhosa condescendência a de Deus que assim procura o homem; dignidade grande do homem assim procurado por Deus!”3
Contamos sempre com o amor de Cristo, que nem mesmo nos piores momentos da nossa existência nos deixa de amar. Contamos sempre com a sua ajuda para voltar ao bom caminho, se o perdemos, e para recomeçar quantas vezes for preciso.
Ele mantém‑nos na luta, e “um chefe no campo de batalha estima mais o soldado que, depois de ter fugido, volta e ataca com ardor o inimigo, do que aquele que nunca voltou as costas, mas também nunca levou a cabo uma ação valorosa”4. Não se santifica quem nunca comete erros, mas quem sempre se arrepende, confiante no amor que Deus tem por ele, e se levanta para continuar lutando. O pior não é ter defeitos, mas pactuar com eles, não lutar, admiti‑los como parte do nosso modo de ser. Por esse caminho só se chega à mediocridade espiritual, que o Senhor não quer para os que o seguem.
II. JESUS AMA A CADA UM tal como é, com os seus defeitos; no seu amor, não idealiza os homens; vê cada um com as suas contradições e fraquezas, com as suas imensas possibilidades para o bem e com a sua debilidade, que aflora com tanta freqüência. “Cristo conhece o que há no interior do homem. Somente Ele o conhece!” 5, e assim o ama, assim nos ama.
Como Jesus entende o coração humano e como tem uma visão positiva da sua capacidade! “O olhar de Jesus vê através do véu das paixões humanas e penetra até os refolhos do homem, lá onde este se encontra só, pobre e nu” 6. Ele compreende‑nos sempre e anima‑nos a continuar lutando em todas as situações. Se pudéssemos aperceber‑nos um pouco mais do amor pessoal de Cristo por cada homem, das suas atenções, dos seus cuidados!
Esse amor pessoal do Senhor é a suprema realidade da nossa vida, a que é capaz de levantar o nosso espírito em qualquer momento e de nos deixar profundamente alegres. Isso apesar do fundo de miséria que se esconde no coração humano. “É este «apesar de tudo» que torna o amor de Cristo pelos homens tão incomparável, tão maternalmente terno e generoso, a ponto de ter ficado para sempre inscrito na memória da humanidade [...]. O seu amor distingue‑se da filantropia ensinada pelos sábios e filósofos. Não é puro ensinamento, mas vida; é um sofrer e morrer com os homens. Não se contenta com analisar a miséria humana e depois procurar os remédios para aliviá‑la: Ele mesmo põe‑se em contacto e penetra nessa miséria. Não suporta conhecê‑la sem participar dela. O amor de Jesus transpõe os limites do seu próprio coração para atrair os outros, ou melhor, para sair de si mesmo, identificando‑se com os outros a fim de viver e sofrer com eles” 7.
Jesus considera os homens como irmãos e amigos – é assim que os chama –, e une tão intimamente a sua sorte à deles que qualquer coisa que se faça por um outro, é por Ele que se faz 8. Os Evangelistas dizem‑nos constantemente que o Senhor sentia compaixão pelo povo 9: E teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor 10. Nunca deixa de comover‑se com a desgraça e a dor, mesmo que sejam as de uma mulher pagã como a Cananéia 11. Não deixa de atender os que o procuram, sem se importar de que o critiquem por ter violado o sábado 12. E convive com os publicanos e os pecadores, ainda que os que se julgam bons cumpridores da Lei se escandalizem. Nem sequer a sua própria agonia lhe impede de dizer ao bom ladrão: Hoje estarás comigo no paraíso 13.
O seu amor não tolera nenhuma exceção, e não tem nenhuma preferência por esta ou aquela classe social. Acolhe os ricos como Nicodemos, Zaqueu ou José de Arimatéia, e acolhe os pobres como Bartimeu, um mendigo que, depois de curado, o segue pelo caminho. Nas suas viagens, às vezes, faz‑se acompanhar por algumas mulheres que o servem com os seus bens 14. Atende com toda a prontidão os mais necessitados do corpo e sobretudo da alma. A sua preferência pelos mais necessitados não é no entanto excludente, não se limita aos desafortunados, aos marginalizados..., pois há realmente males que são comuns a todos os estratos sociais: a solidão, a falta de carinho...
A nossa vida é a história do amor de Cristo, que tantas vezes nos olhou com predileção, que em tantas ocasiões saiu à nossa procura. Perguntemo‑nos hoje como estamos correspondendo neste momento da vida a tantos cuidados por parte do Senhor: se nos esforçamos por receber os sacramentos com a freqüência e o amor devidos, se reconhecemos Cristo na direção espiritual, se vemos com agradecimento a solicitude daqueles que na Igreja cuidam da nossa alma: os Pastores. Sabemos exclamar nessas situações: É o Senhor!?
III. JESUS AMOU‑ME e entregou‑se por mim, diz São Paulo 15. Esta é a grande verdade que nos cumula sempre de consolação. Jesus ama‑nos a ponto de dar a sua vida por nós; e ama‑nos como se cada um de nós fosse o único destinatário desse amor. Devemos meditar muitas vezes nessa maravilhosa realidade – Deus me ama –, que ultrapassa as expectativas mais audazes do coração humano. Ninguém que estivesse à margem da Revelação divina se atreveu a vislumbrar e a reconhecer esta sublime vocação de cada homem: ser filho de Deus, chamado a viver numa relação de amizade com Ele e a participar da própria vida das Três Pessoas divinas. Em termos de lógica humana, isso parece uma ilusão, quase uma mentira, e, no entanto, é a grande verdade que nos deve levar a ser conseqüentes.
Jesus nunca cessou de amar‑nos, de ajudar‑nos, de proteger‑nos, de comunicar‑se conosco; nem sequer nos momentos de maior ingratidão, ou naqueles em que talvez tivéssemos cometido as maiores deslealdades.
Talvez tenha sido precisamente nessas tristes circunstâncias que tiveram lugar as maiores atenções do Senhor, como nos mostra a parábola que hoje consideramos. Entre as cem ovelhas que compunham o rebanho, só aquela, a que se tresmalhou, é que foi a que teve a honra de ser levada aos ombros pelo bom pastor. Eu estarei convosco todos os dias 16, diz‑nos o Senhor em cada situação, a cada momento.
Esta certeza da proximidade do Senhor deve animar‑nos a recomeçar sempre na luta interior, sem nos deixarmos esmagar pela experiência negativa dos nossos defeitos e pecados. Cada momento que vivemos é único e, portanto, bom para recomeçar, porque, como se lê no livro do Deuteronômio, o Senhor, que é o vosso guia, ele mesmo estará contigo; não te deixará nem te desamparará; não temas nem te assustes17.
Durante muitos séculos, a Igreja pôs nos lábios dos sacerdotes e dos fiéis, ao começar a Missa, umas palavras do Salmo 42: Subirei ao altar de Deus, / do Deus que alegra a minha juventude 18, e isto qualquer que fosse a idade do celebrante e dos assistentes. É o grito da alma que se dirige diretamente a Cristo, que se sabe amada e que deseja amor.
“Deus me ama... E o Apóstolo João escreve: «Amemos, pois, a Deus, porque Deus nos amou primeiro». – Como se fosse pouco, Jesus dirige‑se a cada um de nós, apesar das nossas inegáveis misérias, para nos perguntar como a Pedro: «Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?»...
“– É o momento de responder: «Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que eu te amo!», acrescentando com humildade: – Ajuda‑me a amar‑te mais, aumenta o meu amor!” 19 São jaculatórias que nos podem servir no dia de hoje: aproximar‑nos‑ão mais de Cristo. Ele espera de nós essa correspondência.
(1) Mt 18, 12‑24; (2) Lc 15, 6; (3) São Bernardo, Sermão para o primeiro Domingo do Advento, 7; (4) São João Crisóstomo, Comentário à primeira Epístola aos Coríntios, 3; (5) João Paulo II, Homilia, 22‑X‑1978; (6) K. Adam, Jesus Cristo, pág. 34; (7) ib., pág. 35; (8) Mt 25, 40; (9) Mc 8, 2; Mt 9, 36; 14, 14; etc.; (10) Mc 6, 34; (11) Mc 7, 26; (12) Mc 1, 21; (13) Lc 23, 43; (14) Lc 8, 3; (15) Gal 2, 20; (16) Mt 28, 20; (17) Deut 31, 8; Primeira leitura da Missa da terça‑feira da décima nona semana do TC, ano I; (18) Sl 42, 4; (19) Josemaría Escrivá, Forja, n. 497.
Fonte:
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Santa Clara
11 de Agosto
Santa Clara
Santa Clara de Assis, (Chiara D’Offreducci), nasceu no ano de 1194, em Assis, Itália. De família rica, seu pai, Favarone Scifi, era conde. Sua mãe se chamava Hortolana Fiuni. Clara era neta e filha de fidalgos (pessoas da classe nobre). Sua família vivia em um palácio na cidade, tinha muitas propriedades e até um castelo.
Clara tinha dois irmãos e duas irmãs. Suas irmãs Inês e Beatriz, mais tarde, iriam entrar para o convento junto com sua mãe, após esta ficar viúva. Quando Clara tinha por volta de doze anos, sua família vai morar em Corozano e depois vão para Perugia, refugiando-se de uma revolução.
Clara desde jovem já tinha a fama de muito religiosa e recolhida. Aos 18 anos ela fugiu com uma amiga, Felipa de Guelfuccio, para encontrar São Francisco de Assis, na Porciúncula, (capelinha de Santa Maria dos Anjos, onde nasceu a ordem dos Franciscanos e a ordem de Santa Clara). Lá ela era esperada para fazer os primeiros votos e entrar no convento dos franciscanos.
O próprio São Francisco cortou os cabelos de Clara, sinal do voto de pobreza e exigência para que ela pudesse ser uma religiosa. Depois da cerimônia ela foi levada para o Mosteiro das Beneditinas. Santa Clara de Assis vendeu tudo, inclusive seu dote para o casamento e distribui aos pobres. Era uma exigência de São Francisco para poder entrar para a vida religiosa.
A família de Santa Clara de Assis tentou buscá-la, mas ela se recusou a voltar, mostrando para o seu tio Monaldo os cabelos cortados. Ele, então, desistiu de levá-la. Nisso, sua irmã Inês, também foge para o convento aos 15 anos de idade. A família envia novamente o Tio Monaldo para busca-la à força. Monaldo amarra a moça e prepara-se para arrastá-la de volta para casa.
Clara não suporta ver o sofrimento da irmã e pede ao Pai Celeste que intervenha. Então a menina amarrada ficou tão pesada que ninguém conseguia movê-la. Monaldo, então, desistiu. Depois de ter passado pelo convento de Santo Ângelo de Panço, São Francisco leva Clara e suas seguidoras para o Santuário de São Damião, onde foram morar em definitivo.
Por causa da invasão muçulmana, a região de Assis passou necessidades. Tanto que, certa vez, as irmãs, que já eram mais de 50, não tinham o que comer. Então a irmã cozinheira chega desesperada e diz a Santa Clara de Assis que havia somente um pão na cozinha.
Santa Clara diz a ela: confie em Deus e divida o pão em 50 pedaços. A irmã cozinheira, mesmo sem entender, obedece. Então, de repente, dezenas de pães aparecem na cozinha e as irmãs conseguem se sustentar por vários dias.
Pela intercessão de Santa Clara muitos milagres se realizaram quando ela ainda era viva e também depois de seu falecimento. Um dos mais expressivos foi quando os sarracenos (muçulmanos) invadiram Assis e tentaram entrar no convento das Clarissas.
Santa Clara pegou o ostensório com o Santíssimo Sacramento e disse aos invasores que Cristo era mais forte que todos eles. Então, inexplicavelmente, todos, tomados de grande medo, fugiram sem saquear o convento. Por isso, Santa Clara é representada com suas vestes marrons segurando o ostensório.
Um ano antes de Santa Clara de Assis falecer, em 11 de agosto de 1253, ela queria muito ir a uma missa na Igreja de São Francisco (já falecido). Não tendo condições de ir por estar doente, ela entrou em oração e conseguiu assistir toda a celebração de sua cama em seu quarto no convento.
Segundo seus relatos, a Missa aparecia para ela como que projetada na parede de seu humilde quarto. Santa Clara conseguiu ver e ouvir toda a celebração sem sair de sua cama. O fato foi confirmado quando Santa clara de Assis contou fatos acontecidos na missa, detalhando palavras do sermão do celebrante. Mais tarde, várias pessoas que estiveram na missa confirmaram que o que Santa Clara narrou, de fato aconteceram.
Assim, pelo fato de Santa clara ter assistido a uma celebração à distância, em 14 de fevereiro de 1958, o Papa Pio XII proclamou oficialmente Santa Clara de Assis como a padroeira da televisão.
Santa Clara de Assis é a fundadora das Clarissas, (antes chamadas de senhoras pobres), com conventos espalhados por vários lugares da Europa e uma espiritualidade voltada para a pobreza, a oração e a ajuda aos mais necessitados.
Ela escreveu a Regra para as mulheres religiosas, (forma de vida), a regra de viver o mistério de Jesus Cristo de acordo com as propostas de São Francisco de Assis. Regra depois aprovada pela Papa. Ela foi o lado feminino dos franciscanos e as irmãs Clarissas permanecem até hoje.
Santa Clara de Assis morreu em Assis no dia 11 de agosto de 1253, aos 60 anos de idade. Um dia antes de sua morte ela recebeu a visita do Papa Inocencio lV, que lhe entregou a Regra escrita por ela aprovada e aplicada a todas as monjas.
Na hora de sua morte ela disse: Vá segura, minha alma, porque você tem uma boa escolha para o caminho. Vá, porque Aquele que a criou também a santificou. E, guardando-a sempre como uma mãe guarda o filho, amou-a com eterno amor. E Bendito sejais Vós, Senhor que me criastes.
O Papa mandou enterrá-la na Igreja de São Jorge, onde São Francisco estava enterrado. Em 1260 depois de construída a Basílica de Santa Clara, ao lado da Igreja de São Jorge seu corpo foi transladado com todas as honras para lá.
Sua canonização foi oficializada pelo Papa Alexandre lV, no ano de 1255, dois anos após sua morte. Santa Clara de Assis é representada com uma roupa marrom e touca branca, com uma custódia com o Santíssimo sacramento.
Fonte: https://cruzterrasanta.com.br
São Lourenço
10 de Agosto
São Lourenço
No ano 257, o imperador romano Valeriano ordenou uma perseguição contra os cristãos. No início, parecia mais branda do que a imposta por Décio. Ela tinha mais uma conotação repressora, porque proibia as reuniões dos cristãos, fechava os acessos às catacumbas, exilava os bispos e exigia respeito aos ritos pagãos.
Mas não obrigava a renegar a fé publicamente. Entretanto, no ano seguinte, Valeriano ordenou que os bispos e padres fossem todos mortos.
Lourenço, na ocasião, era o Arcediácono, do papa Xisto II, isto é, o primeiro dos sete diáconos a serviço da Igreja de Roma. Dados de sua vida, anterior a esse período, nunca foram encontrados. Porém devia ter uma boa formação acadêmica, pois seu cargo era de muita responsabilidade e importância. Depois do Papa, era Lourenço o responsável pela Igreja.
Isso quer dizer que ele era o assistente do Papa nas celebrações e na distribuição da eucaristia. Mas, além disso, era o único administrador dos bens da Igreja, cuidando das construções dos cemitérios, igrejas e da manutenção das obras assistenciais destinadas ao amparo dos pobres, órfãos, viúvas e doentes.
A partir do decreto de Valeriano, os bispos começaram a ser executados e um dos primeiros foi Cipriano de Cartago, que morreu em 258. Logo em seguida foi a vez de o Papa Xisto II ser executado, junto com os outros seis diáconos.
Conta à tradição que Lourenço conseguiu conversar com o Papa Xisto II um pouco antes dele morrer. O Papa pediu para que distribuísse aos pobres todos os seus pertences e os da Igreja também, pois temia que caíssem nas mãos dos pagãos. Lourenço foi preso e levado à presença do governador romano, Cornélio Secularos, justamente para entregar todos os bens que a Igreja possuía. Lourenço pediu um prazo de três dias, pois, como confessou, a riqueza era grande e tinha de fazer o balanço completo. Obteve o consentimento.
Assim, rapidamente distribuiu tudo aos pobres e, quanto aos livros e objetos sagrados, cuidou para que ficassem bem escondidos. Em seguida, reuniu um grupo de cegos, órfãos, mendigos, doentes e colocou-os na frente de Cornélio, dizendo: “Pronto, aqui estão os tesouros da Igreja”. Irado, o governador mandou que o amarrassem sobre uma grelha, para ser assado vivo, e lentamente. O suplício cruel não demoveu Lourenço de sua fé. Segundo uma narrativa de santo Ambrósio, Lourenço teria ainda encontrado disposição e muita coragem para dizer ao seu carrasco: “Vira-me, que já estou bem assado deste lado”.
Lourenço morreu no dia 10 de agosto de 258, rezando pela cidade de Roma. A população mostrou-se muito grata a são Lourenço, que, pelo seu feito, é chamado de “príncipe dos mártires”. Os romanos ergueram, ao longo do tempo, tantas igrejas em sua homenagem que nem mesmo São Pedro e são Paulo, os padroeiros de Roma, possuem igual devoção.
Fonte: https://www.rs21.com.br
Santa Teresa Benedita da Cruz
09 de Agosto
Santa Teresa Benedita da Cruz
Santa Edith Stein nasceu a 12 de outubro de 1891, no seio de uma família de judeus. A cidade que a viu nascer chama-se Breslau, na Alemanha. Apaixonadíssima pela busca e conhecimento da verdade, procurou-a com toda a força da sua alma, desde a sua juventude. Não encontrou a verdade, nem na religião judaica nem na filosofia que entretanto estudou e ensinou como professora na Universidade de Gottingen. Um dia, encontrando o Livro da Vida, escrito por Santa Teresa de Jesus, exclamou entusiasmada: «Esta é a verdade!», e não parou de ler enquanto não terminou o livro.
Batizou-se em 1922, tomando o nome de Teresa. Em 1933 entrou no Carmelo da Cidade de Colónia, tomando o nome de Teresa Benedita da Cruz; pois, como dizia, foi Santa Teresa quem a despertou para a Verdade e, em S. João da Cruz encontrou a perfeita vivência do mistério da Paixão, a razão do seu viver. Imitando-o tomou o nome da Cruz. Ofereceu-se como vítima de Deus, pelo seu povo e pela paz.
Antes de ingressar no Carmelo, algumas pessoas influentes tentaram demovê-la da sua decisão, dizendo-lhe que era mais útil na Universidade que no convento. Ao que Edith Stein respondeu dizendo: «Não é a atividade humana que nos há-de salvar, mas a Paixão de Cristo. Tomar parte nela é a minha aspiração». E depois de se ter tornado carmelita acrescentou: «A oração e o sacrifício valem muito mais do que se possa pensar… Por toda e qualquer oração, mesmo pela mais pequenina, acontece algo na Igreja… Aprendamos a servir-nos da oração, para que à hora, de cada dia, fazermos uma obra de eternidade».
A perseguição antissemita punha a sua vida em perigo. Os superiores decidiram, por isso, que deixasse a Alemanha, e transferiram-na para um Carmelo na Holanda. Foi-lhe muito difícil abandonar o Carmelo de Colónia onde entrara na Festa de Santa Teresa, a 15 de Outubro de 1933. Acerca do Carmelo escreveu dizendo: «É o santuário mais íntimo que a Igreja tem. Sempre me pareceu que Deus me tinha reservado, no Carmelo, alguma coisa que em nenhuma outra parte do mundo me poderia dar».
Após a invasão da Holanda por Hitler, a terrível polícia SS foi arrancá-la à clausura do Carmelo. A Irmã Teresa da Cruz saudou os polícias com a saudação cristã «Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo», porque como disse, estava convencida que com «aquela saudação não saudava a polícia alemã, antes os representantes daquela luta antiga entre Cristo e o Demónio». No dia 9 de Agosto de 1942, foi conduzida à câmara de gás, repetindo pela última vez o que já deixara escrito antes: «Não sou nada e nada valho, mas… quero oferecer-me ao Coração de Jesus como vítima pela verdadeira paz. Que seja derrubado o poder do Anticristo e a ordem se volte a estabelecer». Diante da morte soube manter-se serena até ser acolhida pelas mãos de Deus, das quais deixou dito: «Aquelas mãos dão e pedem ao mesmo tempo. Vós sábios, deponde a vossa sabedoria e tornai-nos simples como crianças. Segui-me porque é preciso decidir entre a luz e as trevas». Morreu no campo de concentração de Aushwitz, repetindo a sua doação como vitima pela paz e pelo seu povo de Israel.
Mulher de singular inteligência e cultura, afamada professora universitária de Filosofia, deixou-nos numerosos escritos de elevada doutrina e profunda espiritualidade. O centro da sua vida e da sua contemplação na oração, pode comprovar-se pelos seus escritos, era o mesmo de S. João da Cruz: o mistério grandioso de Cristo Crucificado.
Fonte: http://carmelitas.org.br
Deus sempre ajuda
TEMPO COMUM. DÉCIMO NONO DOMINGO. ANO A
– Ele nunca abandona os seus amigos.
– Cristo é apoio firme a que devemos agarrar‑nos.
– Confiança em Deus. Ele nunca chega tarde em nosso auxílio, se procuramos a sua ajuda com fé e empregamos em cada caso os meios oportunos.
I. A PRIMEIRA LEITURA da Missa1 relata‑nos o episódio em que o profeta Elias, cansado e afligido por muitas tribulações, se refugiou numa gruta do Horeb, o monte santo, onde outrora Deus se manifestara a Moisés. Ali recebeu esta indicação: Sai e espera o Senhor. Naquele momento, desencadeou‑se um furacão que gretou os montes e fendeu as rochas, e depois eclodiu um terremoto e alastrou‑se o fogo. Mas Deus não estava nem no vento, nem no terremoto, nem no fogo. Soprou a seguir um vento suave, como um sussurro, e o Senhor manifestou‑se dessa forma, dando a conhecer assim o seu misterioso modo de ser e a sua delicada bondade para com o homem fraco. Elias sentiu‑se reconfortado para a nova missão que o Senhor queria que realizasse.
O Evangelho2 relata‑nos uma tempestade que apanhou os Apóstolos no lago de Genesaré, numa ocasião em que Jesus não estava com eles na barca. Foi depois da multiplicação dos pães e dos peixes. Como nos lembramos, o Senhor mandara que os Apóstolos embarcassem e se dirigissem à outra margem do lago, enquanto Ele despedia a multidão. Depois, retirara‑se ao alto de um monte para orar, mas entretanto levantou‑se um vento forte e contrário que ameaçava a barca. Terminada a sua oração, o Senhor, que vira tudo do lugar em que se encontrava, dispôs‑se a ir em ajuda dos Apóstolos.
Na quarta vigília da noite, aproximou‑se da barca, andando sobre as ondas, e os discípulos amedrontaram‑se pensando que fosse um fantasma. Todos começaram a gritar. Então Jesus aproximou‑se um pouco mais e disse‑lhes: Tende confiança, sou eu, não temais. Eram palavras consoladoras, que nós também ouvimos muitas vezes sob formas diferentes, na intimidade do coração, quando nos víamos rodeados de acontecimentos que nos desconcertavam ou nos encontrávamos em situações difíceis.
Se a nossa vida se passar no cumprimento fiel do que Deus quer de nós – como Elias, que se retirou para o monte Horeb por indicação de Deus, ou como os Apóstolos, que embarcaram porque Jesus lhes mandou que o fizessem –, nunca nos faltará a ajuda divina. Na fraqueza, na fadiga, nas situações de maior dificuldade, Jesus aproximar‑se‑á de nós de modo inesperado e nos dirá: Sou Eu, não temais. Ele nunca abandona os seus amigos3, e muito menos quando o vento das tentações, do cansaço ou das dificuldades nos é contrário. “Se tiverdes confiança nEle e ânimos animosos, que Sua Majestade é muito amigo disso, não tenhais medo de que vos falte coisa alguma”4. O que poderá faltar‑nos se somos os seus amigos no mundo, se queremos segui‑lo dia após dia no meio de tantos que lhe viram as costas?
II. QUANDO OS APÓSTOLOS ouviram Jesus, ficaram cheios de paz. Então, Pedro dirigiu a Jesus um pedido cheio de audácia e de coragem: Senhor, se és tu, manda‑me ir até onde estás por sobre as águas. E o Mestre, que se encontrava ainda a uns metros da barca, respondeu‑lhe: Vem. Pedro teve muita fé, e trocou a segurança relativa da barca pela confiança absoluta nas palavras do Senhor: E descendo da barca, caminhava sobre as águas para ir ter com Jesus. Foram uns momentos impressionantes de firmeza e de amor.
Mas Pedro deixou de olhar para Jesus e, ao ver que o vento continuava a soprar com violência, encheu‑se de medo. Esqueceu que a força que o sustentava sobre as águas não dependia das circunstâncias, mas da vontade do Senhor, que domina o céu e a terra, a vida e a morte, a natureza, os ventos e o mar... E começou a afundar, não por causa das ondas, mas por falta de confiança nAquele que tudo pode. E gritou: Senhor, salva‑me! Imediatamente Jesus estendeu‑lhe a mão e, segurando‑o, disse‑lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?
Por vezes, o cristão deixa de olhar para Jesus e fixa os olhos em coisas que o põem em perigo de “perder o pé” na sua vida de relação com Deus e de afundar‑se, se não reage com rapidez. Quando alguém começa a não enxergar os valores da fé ou a vocação recebida de Deus, “deve examinar‑se com lealdade. Não tardará a descobrir que a sua vida cristã vem sofrendo há algum tempo um relaxamento, que a sua oração tem sido menos freqüente e menos atenta, que tem sido menos severo consigo mesmo. Não terá reincidido porventura nalgum pecado cuja gravidade pretende conscientemente dissimular? Certamente não reprime com a mesma energia as suas paixões ou até cede complacentemente a algumas. Um ressentimento permanente contra outra pessoa, um assunto econômico em que a sua honestidade não é completa, uma amizade excessivamente absorvente, ou simplesmente o despertar dos instintos que não são dominados com rapidez... Um só destes fatores é suficiente para que surjam nuvens entre Deus e nós. Então a fé se obscurece”5. Corre‑se nessa altura o perigo de atribuir essa situação às circunstâncias externas, quando o mal está no nosso coração.
Para voltar à superfície, Pedro teve que segurar a mão forte do Senhor, seu Amigo e seu Deus. Não era muito, mas era o esforço que Deus lhe pedia; é a colaboração da boa vontade que o Senhor sempre nos pede. “Quando Deus Nosso Senhor concede a sua graça aos homens, quando os chama com uma vocação específica, é como se lhes estendesse a mão, uma mão paternal, cheia de fortaleza, repleta sobretudo de amor, porque nos busca um por um, como a suas filhas e filhos, e porque conhece a nossa debilidade. O Senhor espera que façamos o esforço de agarrar a sua mão, essa mão que nos estende. Deus pede‑nos um esforço, que será prova da nossa liberdade”6.
Esse pequeno esforço que o Senhor pede aos seus discípulos de todos os tempos para tirá‑los de uma má situação pode ser muito diverso: intensificar a oração; cortar decididamente com uma ocasião próxima de pecar; obedecer com prontidão e docilidade de coração aos conselhos recebidos na confissão e na conversa com o diretor espiritual... Não nos esqueçamos nunca da advertência de São João Crisóstomo: “Quando falta a nossa cooperação, cessa também a ajuda divina”7. Ainda que seja o Senhor quem nos tira da água.
III. PEDRO RECUPEROU novamente a fé e a confiança em Jesus. Com Ele subiu à barca. E nesse instante o vento cessou, voltou a calma ao mar e ao coração dos discípulos, e reconheceram‑no como o seu Senhor e o seu Deus: E os que estavam na barca aproximaram‑se dEle e o adoraram dizendo: Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus.
As dificuldades através das quais experimentamos a nossa fraqueza devem servir‑nos para encontrar Jesus que nos estende a sua mão e penetra no nosso coração, dando‑nos uma paz imensa no meio de qualquer transe. Temos de aprender a nunca desconfiar de Deus, que não se apresenta apenas nos acontecimentos favoráveis, mas também nas tormentas dos sofrimentos físicos e morais da vida: Tende confiança, sou eu, não temais. Deus nunca chega tarde em nosso auxílio, e sempre nos ajuda nas nossas necessidades. Ele sempre chega no momento oportuno, ainda que por vezes de modo misterioso e oculto. Talvez faça menção de passar ao largo, mas é para que o chamemos. Não tardará a aproximar‑se de nós.
E se alguma vez sentimos que nos falta apoio, que submergimos, repitamos aquela súplica de Pedro: Senhor, salva‑me! Não duvidemos do seu Amor, nem da sua mão misericordiosa, não esqueçamos que “Deus não manda impossíveis, mas ao mandar pede que faças o que possas e peças o que não possas, e ajuda para que possas”8.
Que enorme segurança nos dá o Senhor! “Ele garantiu‑me a sua proteção; não é nas minhas forças que eu me apóio. Tenho nas minhas mãos a sua palavra escrita. Este é o meu báculo. Esta é a minha segurança, este é o meu porto tranqüilo. Ainda que o mundo inteiro se perturbe, eu leio esta palavra escrita que trago comigo, porque ela é o meu muro e a minha defesa. O que é que ela me diz? Eu estarei convosco até o fim do mundo.
Junto de Cristo, ganham‑se todas as batalhas, desde que tenhamos uma confiança sem limites na sua ajuda: “Cristo está comigo, que posso temer? Que venham assaltar‑me as ondas do mar e a ira dos poderosos; tudo isso não pesa mais do que uma teia de aranha”9. Não larguemos a sua mão; Ele não larga a nossa.
“Reza com toda a segurança com o Salmista: «Senhor, Tu és o meu refúgio e a minha fortaleza, confio em Ti!»
“Eu te garanto que Ele te preservará das insídias do «demônio meridiano» – nas tentações e... nas quedas! –, quando a idade e as virtudes teriam que ser maduras, quando deverias saber de cor que somente Ele é a Fortaleza”10.
Terminamos a nossa oração invocando como intercessora a Santíssima Virgem; Ela ajuda‑nos a clamar confiadamente com as preces litúrgicas: Renova, Senhor, as maravilhas do teu amor11; faz que vivamos firmemente ancorados em Ti.
(1) 1 Rs 19, 9; 11‑13; (2) Mt 14, 22‑33; (3) cfr. Santa Teresa, Vida, 11, 4; (4) idem, Fundações, 27, 12; (5) G. Chevrot, Simão Pedro, Quadrante, São Paulo, pág. 38; (6) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 17; (7) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 50, 2; (8) Santo Agostinho, Sobre a natureza e a graça, 43; (9) São João Crisóstomo, Homilia antes de partir para o desterro; (10) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 307; (11) Liturgia das horas, Domingo da IIIª semana. Prece das Vésperas.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal