09 de Junho

São José de Anchieta

José de Anchieta nasceu na Espanha, nas Ilhas Canárias, em 1534. Logo adolescente, foi estudar na cidade de Coimbra, em Portugal. Ali, distinguiu-se por sua disciplina e vida de virtudes. Com apenas 16 anos, diante de uma imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho, fez um voto de castidade, consagrando sua virgindade à Virgem Maria. Algum tempo depois, ingressou na recém-fundada Companhia de Jesus, onde desenvolveu uma piedade eucarística extraordinária, participando de várias Missas – ele chegava a acolitar cinco por dia – e aprendendo a adorar o Senhor na hóstia consagrada.

Apesar de seu entusiasmo, o noviço Anchieta tinha uma saúde muito frágil. Por conta de um problema sério que tinha na coluna, o rapaz chegou a supor que jamais poderia ser jesuíta. Por providência, o padre Manuel da Nóbrega, que já estava no Brasil, chamava os membros da Companhia para cá, principalmente os doentes, pois dizia que o clima daqui faria que se recuperassem logo. José de Anchieta veio, então, para o Brasil, por uma questão de saúde. Mas, já na viagem, foi obtendo melhora, ao cuidar de seus companheiros de tripulação que ficavam enjoados por causa do mar agitado.

Além de dar aulas para seus irmãos de Companhia, Anchieta, em um prazo de três anos, aprendeu tão bem a língua tupi que escreveu uma gramática. A catequese que dava às crianças era tão eficaz, que elas começavam a fiscalizar os seus pais para que eles não pecassem: desenvolveu-se nas tribos indígenas uma verdadeira “infância missionária”.

O irmão Anchieta, como bom católico, sempre lia as coisas que lhe aconteciam com os olhos do sobrenatural. Tendo composto uma peça teatral, decidiu encená-la ao ar livre, para que o maior número de pessoas possível pudesse assistir-lhe. No entanto, uma imensa tempestade começou a aparecer no horizonte e todos, com medo, queriam ir embora. Anchieta, vendo nisto a ação do demônio, que queria ver as almas privadas dessa recreação piedosa, disse: “Não precisam ir embora, não vai chover”. E, realmente, por três horas, a água ficou suspensa nas nuvens e não caiu.

José de Anchieta, bem como o padre Manuel da Nóbrega, estão ligados à fundação das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

Logo ao chegar ao Brasil, os dois empreenderam sua primeira viagem, a fim de criar um colégio, e, no dia 25 de janeiro, foi celebrada a primeira Missa na região que hoje é a cidade de São Paulo. A “terra da garoa” nasceu em grande virtude. Toda a gente acordava já bem cedo, as crianças punham-se a rezar o rosário e os adultos assistiam ao Santo Sacrifício – as mulheres de um lado, os homens de outro. Aqueles que já eram batizados e podiam comungar davam um nobre exemplo de devoção eucarística. Quando algum índio pagão aparecia-lhes propondo algum pecado, eles respondiam, com convicção: “Não fazemos isso, porque somos homens de comunhão”.

O impulso missionário de Anchieta não cessava de engendrar novos cristãos: era cada vez maior o número dos índios que, admirados pelo celibato e pelo testemunho dos missionários, lhes pediam o batismo. São José de Anchieta fez resplandecer o brilho da castidade: em voto a Nossa Senhora, prometeu que contaria a Sua vida em versos, caso ela guardasse intacta a sua pureza. Por isso Anchieta é retratado escrevendo nas areias do mar. Foi aí que ele compôs 5786 versos em honra à Mãe de Deus, antes de passá-los ao papel.

Para se manter puro, Anchieta serviu-se de três armas, que continuam válidas para os sacerdotes, seminaristas e demais cristãos que querem guardar a castidade: a primeira, a oração, ele empunhou especialmente ao escrever com esmero e capacidade extraordinárias tantos versos à Santíssima Virgem; a segunda, a penitência, ele praticava quotidianamente, através de jejuns, vigílias e do uso do flagelo e do cilício – como escreve o padre Armando Cardoso, “Anchieta, que não tivera medo do bárbaro, teve medo do bárbaro dentro de si”; a terceira, o apostolado, ele usava incessantemente: ensinar os índios a fugir e evitar o pecado fez, no fim das contas, que ele mesmo se convertesse mais e se santificasse.

Algum tempo depois, na Bahia, José de Anchieta, já com 32 anos, foi finalmente ordenado sacerdote. Sua primeira Missa foi celebrada com todo zelo e piedade de um verdadeiro amante de Jesus eucarístico. Depois dessa se seguiriam muitas outras, rezadas nos mais remotos locais, já que o caráter sacerdotal não o destituiu de sua evidente vocação missionária.

Em suas andanças pelos “Brasis”, Anchieta não só fazia incursões continente adentro, como visitava as aldeias já evangelizadas, para que fossem confirmadas na fé. Sempre descalço, com sua batina surrada, um rosário no pescoço e um crucifixo na mão, o incansável apóstolo atravessava vastas porções de terra. Os seus pés, de tão castigados, deixavam rastros de sangue por onde passavam.

Sua capacidade de mandar até sobre animais selvagens rendeu-lhe a alcunha de “primeiro Adão”. Em sua própria explicação, “o homem obediente a Deus tem todas as criaturas subjugadas”. Mais impressionante que seu poder com os animais, entretanto, era sua extraordinária capacidade com os índios. Em Iperoig, sozinho, quando os índios irados se aproximavam para matá-lo, eles imediatamente se detinham, olhavam para o seu rosto e desistiam de seu intento. Várias vezes, sertão adentro, índios selvagens se pacificavam tão somente com a sua presença.

Anchieta também ficou conhecido como grande taumaturgo. Conta-se que uma menina havia morrido, deixando seus pais desconsolados. O padre Anchieta chega, vai até o seu cadáver e diz-lhe: “Minha filha, tu estás querendo roubar o paraíso facilmente. Volta e luta”. Imediatamente, a menina ressuscita.

Depois de uma vida totalmente gasta por causa do Evangelho, o reverendíssimo padre José de Anchieta morreu na cidade de Reritiba, Espírito Santo, aos 9 de junho de 1597. Após receber o viático, seu rosto, então pálido, ficou cheio de vida e ele pôde partir em paz, invocando os santíssimos nomes de Jesus e Maria. Ao receberem a notícia de sua morte, os indígenas acordavam, de madrugada, batiam nas portas uns dos outros e diziam: “Morreu o nosso pai, morreu quem nos amava, morreu aquele que deu a vida por nós”.

Fonte: https://padrepauloricardo.org