10 de Outubro
São Francisco de Borja
Primogênito de João de Borja, duque de Gandia (Valência), Francisco formou-se na corte de Carlos V, que o adornou do título de marquês aos 20 anos.
A imperial Toledo trocou as habituais vestes festivas pelo negro de luto naquele 1º de maio de 1539. A morte viera bater às portas de suas muralhas, ceifando a preciosa vida da imperatriz Isabel, cujo passamento deixou no esposo, Carlos V, e em todo o povo espanhol, uma tristeza inconsolável.
O formoso semblante da mais bela soberana das cortes europeias não mais encantaria a nobreza e a plebe. Só cabia sepultá-la junto a seus avós Fernando e Isabel, os Reis Católicos. Partiu, pois, para Granada um faustoso préstito conduzindo seus restos mortais. O imperador confiou os cuidados do traslado a um homem da máxima confiança, para que nenhum imprevisto viesse aumentar sua dor, de si já tão grande. Era ele Francisco de Borja, o qual lastimava como ninguém o fato de a imperatriz ter deixado esta vida no auge de sua esplendorosa existência. Silencioso e reflexivo, avançava à testa do cortejo que cruzou quase metade do país, chegando a Granada, onde o aguardava o monarca.
O longo trajeto propiciou ao jovem marquês graves e profundas meditações sobre o fim último do homem, semeando bons propósitos em seu interior. O acontecido fez evanescer a seus olhos as esperanças até então depositadas nas honras e dignidades deste mundo, uma vez que à sua senhora de nada serviram quando Deus a chamou para junto de Si.
Ao chegar a Granada, precisava o marquês testemunhar perante os notários ser realmente aquele o corpo da soberana. Mas ao abrir-se o caixão, espalhou-se no mesmo instante por todo o recinto o pior dos odores e constatou-se ser impossível reconhecer naquele cadáver, já putrefato, os traços daquela cuja beleza fora objeto da admiração geral.
Ali mesmo, depois de cumprir sua dolorosa obrigação, Francisco de Borja consumou com uma resolução concreta as inspirações vindas da graça. Uma famosa sentença, tantas vezes repetida pelos seus biógrafos, teria selado essa decisão: “Nunca mais servirei um senhor que possa vir a morrer!”.
Exerceu por quatro anos o cargo de governador da Catalunha, embora secretamente votado à vida religiosa. A alta posição que ocupava permitiu-lhe nesse tempo estabelecer os filhos. Mas o anseio de abandonar o mundo falava em seu coração mais forte do que todas as grandezas terrenas. E a morte da esposa em 1546, quando ele contava apenas 36 anos, veio possibilitar a realização de seus desejos de entregar-se por inteiro à vida de perfeição.
Em 1546 fechou definitivamente a porta às honras mundanas e, demitindo-se dos altos cargos, depois de haver feito os exercícios espirituais, emitiu voto de castidade, empenhando-se com outro voto a ingressar na Companhia de Jesus. E o fez, de modo efetivo, em 1548 e, oficialmente, dois anos depois.
Em Roma foi acolhido pelo próprio santo Inácio de Loyola, e a 26 de maio de 1551 celebrou a primeira missa.
Intensos e fecundos foram os meses passados junto ao fundador. Como São Francisco Xavier, foi este outro Francisco um daqueles que mais profundamente conheceu seu coração e de modo mais integral soube espelhá-lo no próprio. Seguindo o exemplo de fidelidade a Santo Inácio dado pelo Apóstolo das Índias, Francisco de Borja foi confidente e, mais tarde, executor dos grandes anseios do fundador, pois sabe-se que neste período inicial, “os dois santos se comunicaram longamente seus projetos”. Ao longo de algum tempo de convívio, pôde ele receber o carisma inaciano em sua pureza e plenitude.
Após a morte de Santo Inácio, em 1556, o padre Diego Laynez governou a Companhia por nove anos, dois como Vigário Geral e sete como Superior Geral, vindo a falecer em 1565. Em seu leito de morte, fitou longamente o padre Francisco de Borja, numa premonição do futuro que o aguardava. As eleições realizadas nesse mesmo ano confirmaram seu mudo presságio, pois foi ele o escolhido. A unanimidade com que todos se voltaram para o Santo constitui uma prova de estarem convictos do quanto este representava o espírito da Instituição.
Por sete anos governou a Companhia de Jesus. Neles coube-lhe a grave responsabilidade de formar a primeira geração de religiosos que não conheceu o fundador, tarefa desempenhada com exímia fidelidade. Sob seu generalato, a Ordem adquiriu estabilidade, abriu numerosos colégios e consolidou-se nas missões. Em tão curto período, 66 jesuítas foram martirizados, entre os quais Inácio de Azevedo e seus 39 companheiros.
O falecimento de São Francisco de Borja, ocorrido em Roma, na madrugada de 1º de outubro de 1572, foi uma partida cheia de alegria para a Pátria Eterna, própria de quem deu tudo por Deus e estava prestes a receber d’Ele incomparavelmente mais. Foi canonizado em 1671.
Fonte: http://santossanctorum.blogspot.com