OS REMÉDIOS CONTRA A “FALSA VERGONHA” DE SE CONFESSAR
O Sacramento da Reconciliação ou da Confissão foi instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo para perdoar os pecados cometidos após o Batismo. Reconciliação, porque é por meio dele que nos reconciliamos com Deus, e voltamos ao caminho da graça divina. Chama-se também de Confissão porque, para alcançar o perdão dos pecados, não basta detestá-los, é preciso também acusar-se deles diante do Sacerdote, ou seja, é necessário confessá-los ao Padre. Nosso Senhor instituiu esse Sacramento no dia da Ressurreição, quando, depois de entrar no cenáculo, deu solenemente aos seus Apóstolos o poder de perdoar os pecados, dizendo: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos” (Jo 20, 23).
Conforme a Tradição da Igreja, o fiel depois de um atento exame de consciência, descobrindo-se amado por Deus, procura o Ministro da Igreja para confessar seus pecados. “Se reconhecemos os nossos pecados (Deus aí está) fiel e justo para perdoar os pecados e para nos purificar de toda iniquidade” (1Jo 1,9). Assim como na Santa Missa, na Confissão, o Sacerdote age in persona Christi, isto é, na pessoa de Cristo. As mãos do homem (o padre) que se levantam para perdoar os nossos pecados, são na verdade as mãos do próprio Cristo Ressuscitado que continuam prontas para absolver aqueles que Dele se aproximam arrependidos das suas faltas.
O grande Santo Afonso de Ligório nos alerta para um grande mal, que muito está presente nos nossos dias: a “falsa vergonha” de confessar os próprios pecados. Segundo este doutor da Igreja, aquele que diz sentir vergonha de procurar o Sacerdote para confessar os seus pecados tem na realidade uma vergonha falsa, ou seja, por fora parece ser vergonha, mas, por dentro, o coração é orgulhoso e tem vergonha de assumir-se miserável diante do Ministro da Igreja. Isso é uma miséria, pois acaba limitando a ação da graça. Todo aquele se que se aproxima do Confessionário, ainda que atribulado, alcançará a cura: “O coração atribulado é curado, o coração repleto de orgulho é derrubado” (Santo Agostinho).
Esta vergonha de confessar os pecados aponta para um problema mais profundo que podemos estar vivendo, ou seja, de não levar a sério a nossa conversão pessoal. Há uma ligação profunda entre a reconciliação e a conversão pessoal. Mais do que termos pecado, é necessário reconhecer a nossa condição pecadora: “És pó, e pó te hás de tornar” (Gn 3,19). Todos os dias precisamos pedir ao Senhor que tenha piedade de nós, porque somos pecadores. Se envergonhar do pecado cometido é uma graça, agora, deixar de confessá-lo por vergonha do padre ou de qualquer outro motivo é algo sério e que precisa ser retirado da nossa caminhada cristã.
O Papa Francisco disse que: “confessar-se com um sacerdote é um modo de pôr a minha vida nas mãos e no coração de outro, que nesse momento atua em nome e por conta de Jesus. É uma maneira de sermos concretos e autênticos; estar frente à realidade olhando para outra pessoa e não para si mesmo refletido num espelho”. Sabemos que não temos uma visão clara de nós mesmos, por isso precisamos dos outros. Muito mais, precisamos de Deus e, nesse Sacramento temos a graça de nos humilhar diante do homem sacerdote que atua em nome do Sumo Sacerdote, Jesus Cristo.
“Quando o sacerdote nos dá a absolvição, devemos pensar numa só coisa: que o sangue de Deus corre sobre a nossa alma para lavá-la, purificá-la e torná-la tão bela como era após o Batismo” (São João Maria Vianney).
Dois remédios espirituais podem ajudar a vencer qualquer vergonha ou timidez de confessar os pecados: a humildade e a meditação. Primeiramente a humildade, porque ela é a base da vida espiritual, se não formos humildes diante de Deus, jamais faremos a experiência sempre nova do Amor. Santa Teresinha do Menino Jesus ensina que: “O que agrada a Jesus em minha pequenina alma é ver que amo a minha pequenez e minha pobreza, é a cega esperança que tenho em sua misericórdia”. Sempre a humildade será o caminho para Deus. Em segundo lugar a meditação dos mistérios, particularmente os mistérios dolorosos, onde de modo real vemos o Senhor Jesus se oferecendo por nós, não para nos acusar, mas, para nos salvar. São Boaventura ensina que “quem quiser crescer sempre de virtude em virtude, de graça em graça, deve meditar sempre Jesus na sua Paixão”.
Que a Virgem Maria, Mãe das Dores, nos auxilie nesse duro combate contra o orgulho, nos mostrando o caminho da verdadeira humildade!