É PECADO QUEBRAR A PENITÊNCIA DA QUARESMA? 

Como de costume, todos os anos escolhemos algumas penitências para fazer durante a Quaresma, ações que formalmente recebem o nome de votos. Isto significa que as obras que nos comprometemos a fazer, deveremos nos responsabilizar delas diante de Deus. Geralmente prometemos realizar obras espirituais como rezar o Santo Terço diariamente, aumentar o tempo de oração, rezar a Via Sacra, dentre outras coisas. E, nos comprometemos a fazer obras corporais como intensificar as mortificações, os jejuns e a esmola para os que mais precisam. Sejam compromissos de ordem espiritual, sejam os de ordem corporal, assumidos como penitências quaresmais, deveriam ser eles vivenciados durante toda a Quaresma da Igreja.

Conforme a Doutrina da Igreja, essas promessas são votos livres, deliberadamente feitos a Deus (conf. CDC, cân. 1191), tendo por finalidade a maior glória de Deus. Neste sentido, quem se obriga a cumprir um voto deve entender que isso tem um peso, caso seja descumprido incorrerá em consequências. Todo e qualquer voto deve ser feito com o consentimento do diretor espiritual ou pároco. Mas, enfim é pecado descumprir um voto de penitência? A resposta é que nesse âmbito, a Igreja nos permite auto legislar, ou seja, somos nós que nos impomos as penas. Por exemplo: Me comprometi de não comer carne em todas as quartas durante a Quaresma, isso é uma abstinência. Caso eu a descumpra, pratiquei um pecado leve e devo pedir perdão a Deus.

Podemos também prometer que deixaremos de comer chocolate durante o período quaresmal. Se porventura ceder à minha vontade e comer, posso incorrer em pecado venial. Não seria um pecado grave, mas, necessariamente eu deveria me confessar, porque descumpri um voto. Outra coisa seria: Prometi jejuar todas as sextas da Quaresma, sob pena de pecado mortal, logo, se não cumpri o jejum prometido, estou em pecado e devo me confessar. Mas, temos esse poder? Sim, temos o poder racional de discernir o que é bom ou não para a nossa salvação. É tradição que os fieis aproveitem o tempo quaresmal para intensificar a busca por Deus, por isso, podemos nos dedicar na intensidade de nossas penitências, com o apoio e discernimento do nosso diretor espiritual.

Não é aconselhável que nos obriguemos a uma penitência sob pena de pecado mortal, pois, isso é muito sério. Por isso, é importante procurar o pároco de nossa Paróquia ou nosso diretor espiritual e pedir conselho nessa área, para não assumirmos algo que não conseguiremos praticar. Caso tenhamos feito tais votos e nos arrependemos, devemos procurar o pároco para que ele retire esses votos. Existem muitos modos de fazer penitência e, por isso, podemos nos dedicar a fazer o pouco, do que prometer coisas grandes e não conseguir praticá-las. O discernimento é importante na vida espiritual e o direcionamento de um sacerdote é fundamental.

É importante ressaltar que essas promessas podem ser feitas em qualquer momento do ano e não só na Quaresma. Mas, este tempo, que iniciou com a imposição das Cinzas nos chamando à conversão, quer nos recordar de modo salutar da necessidade que temos de Deus: 

“Quando proclama a sua autonomia total de Deus, o homem contemporâneo torna-se escravo de si mesmo e encontra-se muitas vezes numa solidão desconsolada. Então, o convite à conversão é um impulso a voltarmos aos braços de Deus, Pai terno e misericordioso, a termos confiança nele e a confiarmo-nos a Ele como filhos adoptivos, regenerados pelo seu amor” (Papa Bento XVI).

Clique aqui e assista uma preciosa explicação do Irmão Emanuel Maria sobre esse assunto.

Que nossas penitências tenham sempre o propósito de nos unir mais a Deus e dar-lhe glória e jamais nos afastar de sua presença misericordiosa.