TEMPO COMUM. VIGÉSIMA SÉTIMA SEMANA. SÁBADO
– A Virgem sempre nos conduz ao seu Filho.
– O Santo Rosário, a oração preferida da Virgem.
– Frutos da devoção a Santa Maria.
I. COMO EM TANTAS outras ocasiões, Jesus estava falando à multidão. E eis que uma mulher do povo levantou a voz e gritou: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos que te amamentaram1.
Jesus deve ter-se lembrado naquele momento da sua Mãe, e esse louvor da mulher desconhecida tocou-lhe com certeza o Coração. O Senhor olhou-a sem dúvida com complacência e agradecimento. “Profundamente emocionada no seu coração pelos ensinamentos de Jesus, e perante a sua figura amável, aquela mulher não pôde conter a sua admiração. Reconhecemos nas suas palavras uma amostra genuína da religiosidade popular sempre viva entre os cristãos ao longo da história”2. Naquele dia começou a cumprir-se o Magnificat: … Todas as gerações me chamarão bem-aventurada. Uma mulher, com o à-vontade do povo, tinha começado o que não terminaria até o fim dos tempos.
Jesus, fazendo-se eco do louvor, torna ainda mais profundo o elogio à sua Mãe: Bem-aventurados antes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática. Maria é bem-aventurada, certamente, por ter trazido o Filho de Deus no seu seio puríssimo e por tê-lo alimentado e cuidado dele, mas é-o ainda mais por ter acolhido com extrema fidelidade a palavra de Deus. “No decurso da pregação de Jesus, Ela recebeu as palavras pelas quais o seu Filho, exaltando o Reino por cima das raças e dos vínculos da carne e do sangue, proclamou bem-aventurados os que ouvem e guardam a palavra de Deus, tal como Ela mesma fielmente o fazia (cfr. Lc 2, 19)”3.
Esta passagem do Evangelho4, que se lê na Missa de hoje, ensina-nos uma excelente forma de louvar e de honrar o Filho de Deus: venerar e enaltecer a sua Mãe.
Os elogios a Maria soam muito gratamente aos ouvidos de Jesus. É por isso que nos dirigimos muitas vezes a Ela com tantas jaculatórias e devoções, com a recitação do Santo Rosário.
“Do mesmo modo que aquela mulher do Evangelho – diz o Papa João Paulo II – lançou um grito de bem-aventurança e de admiração para Jesus e sua Mãe, assim também vós, no vosso afeto e na vossa devoção, costumais unir sempre Maria a Jesus. Compreendeis que a Virgem nos conduz ao seu divino Filho, e que Ele sempre escuta as súplicas dirigidas à sua Mãe”5.
A Virgem é o caminho mais curto para chegarmos a Cristo, e por Ele, à Santíssima Trindade. Honrando Maria, sendo verdadeiramente filhos seus, imitamos Cristo e fazemo-nos semelhantes a Ele. “Pois Maria, tendo entrado intimamente na história da salvação, une em si e de certo modo reflete as supremas normas da fé. Quando é proclamada e cultuada, leva os fiéis ao seu Filho, ao sacrifício do Filho e ao amor do Pai”6. Com Ela andamos bem seguros.
II. TAMBÉM NÓS queremos unir-nos a esse longo desfile de pessoas tão diversas que através dos séculos souberam honrar Maria. A nossa voz une-se a esse clamor que jamais cessará. Nós também aprendemos a ir a Jesus por Maria, e neste mês, seguindo o costume da Igreja, queremos fazê-lo pondo mais empenho em rezar atentamente o terço, “que é fonte de vida cristã. Procurai rezá-lo diariamente, sozinhos ou em família, repetindo com uma grande fé essas orações fundamentais do cristão que são o Pai-Nosso, a Ave-Maria e o Glória – exortava o Romano Pontífice –. Meditai nessas cenas da vida de Jesus e de Maria, que nos recordam os mistérios de gozo, dor e glória. Aprendereis assim,nos mistérios gozosos, a pensar em Jesus que se fez pobre e pequeno: uma criança!, por nós, para nos servir; e vos sentireis impelidos a servir o próximo nas suas necessidades. Nos mistérios dolorosos, compreendereis que aceitar com docilidade e amor os sofrimentos desta vida – como Cristo na sua Paixão –, leva à felicidade e à alegria, que se manifesta nos mistérios gloriosos de Cristo e de Maria à espera da vida eterna”7.
O Santo Rosário é a oração preferida de Nossa Senhora8, uma oração que sempre chega ao seu Coração de Mãe e nos concede inumeráveis graças e bens.
Já se comparou esta devoção a uma escada, que subimos degrau a degrau, indo “ao encontro da Senhora, que quer dizer ao encontro de Cristo. Porque esta é uma das características do Rosário, a mais importante e a mais bela de todas: uma devoção que por meio da Virgem nos leva a Cristo. Cristo é o termo desta longa e repetida invocação a Maria. Fala-se a Maria para chegar a Cristo”9.
Que paz nos deve dar repetir devagar a Ave-Maria, detendo-nos talvez em alguma das suas partes! Ave, Maria…, e a saudação, ainda que a tenhamos repetido milhões de vezes, soa sempre a algo novo. Santa Maria…, Mãe de Deus!… rogai por nós… agora! E Ela nos olha, e sentimos a sua proteção maternal. “A piedade – tal como o amor – não se cansa de repetir com freqüência as mesmas palavras, porque o fogo da caridade que as inflama faz com que sempre tenham algo novo”10.
III. A DEVOÇÃO À VIRGEM não é de maneira nenhuma “um sentimento estéril e transitório, nem uma certa vã credulidade”11, própria de pessoas de pouca idade ou formação. Pelo contrário – continua a afirmar o Concílio Vaticano II –, “procede da verdadeira fé, pela qual somos levados a reconhecer a excelência da Mãe de Deus e impelidos a um amor filial para com a nossa Mãe e à imitação das suas virtudes”12.
O amor à Virgem anima-nos a imitá-la e, portanto, a cumprir fielmente os nossos deveres, a levar alegria a todos os lugares aonde vamos. Move-nos a repelir todo o pecado, até o mais leve, e incita-nos a lutar com empenho contra os nossos defeitos. Contemplar a docilidade de Maria à ação do Espírito Santo na sua alma é sentirmo-nos estimulados a cumprir a vontade de Deus a todo o momento, também quando nos custa. O amor que nasce no nosso coração ao invocá-la é o melhor remédio contra a tibieza e contra as tentações de orgulho e da sensualidade.
Quando fazemos uma romaria ou visitamos um santuário dedicado à nossa Mãe do Céu, fazemos uma boa provisão de esperança. Ela mesma – Spes nostra – é a nossa esperança! Sempre que rezamos com atenção o terço e nos detemos uns instantes a meditar cada um dos mistérios que nele se propõem, obtemos mais forças para lutar, mais alegria e desejos mais firmes de ser melhores. “Não se trata tanto de repetir fórmulas como de falar como pessoas vivas com uma pessoa viva, que, se não a vedes com os olhos do corpo, podeis no entanto vê-la com os olhos da fé. Com efeito, a Virgem e o seu Filho vivem no Céu uma vida muito mais “viva” do que a nossa – mortal – que vivemos aqui na terra.
“O Rosário é um colóquio confidencial com Maria, uma conversa cheia de confiança e de abandono. É confiar-lhe as nossas penas, manifestar-lhe as nossas esperanças, abrir-lhe o nosso coração. É declararmo-nos à sua disposição para tudo o que Ela, em nome do seu Filho, nos peça. É prometer-lhe fidelidade em todas as circunstâncias, mesmo as mais dolorosas e difíceis, certos da sua proteção, certos de que, se o pedimos, Ela sempre obterá do seu Filho todas as graças necessárias à nossa salvação”13.
Façamos o propósito neste sábado mariano de oferecer-lhe com mais amor essa coroa de rosas que a palavra “rosário” significa na sua etimologia. Não rosas murchas pela falta de amor ou pelo descuido.
“Santo Rosário. Os gozos, as dores e as glórias da vida de Nossa Senhora tecem uma coroa de louvores que os Anjos e os Santos do Céu repetem ininterruptamente…, como também os que amam a nossa Mãe aqui na terra. – Pratica diariamente esta devoção santa e difunde-a”14.
Através desta devoção, a nossa Mãe do Céu devolver-nos-á a esperança se alguma vez, ao considerarmos tantas fraquezas, sentirmos na alma a sombra do desalento. “«Virgem Imaculada, bem sei que sou um pobre miserável, que não faço mais do que aumentar todos os dias o número dos meus pecados…» Disseste-me o outro dia que falavas assim com a Nossa Mãe. E aconselhei-te, com plena segurança, que rezasses o terço: bendita monotonia de ave-marias, que purifica a monotonia dos teus pecados!”15
(1) Lc 11, 27-28; (2) João Paulo II, Alocução, 5.04.87; (3) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 58; (4) Lc 11, 27-28; (5) João Paulo II, Alocução; (6) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 65; (7) João Paulo II, Alocução; (8) Paulo VI, Carta Encíclica Mense Maio, 29.04.65; (9) Paulo VI, Alocução, 10.05.64; (10) Pio XI, Carta Encíclica Ingravescentibus malis, 29.09.37; (11) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 67; (12) ibid.; (13) João Paulo II, Alocução, 25.04.87; (14) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Forja, n. 621; (15) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Sulco, n. 475.
Fonte: Livro “Falar com Deus” de Francisco Fernández Carvajal