TEMPO COMUM. DÉCIMA OITAVA SEMANA. SÁBADO

– A fé é capaz de transportar montanhas. Diariamente acontecem na Igreja os maiores milagres.
– Quanto maiores os obstáculos, maiores as graças.
– Fé com obras.

I. DENTRE UMA IMENSA MULTIDÃO que esperava Jesus, destacou‑se um homem que, lançando‑se de joelhos diante dele, disse‑lhe: Senhor, tem piedade do meu filho…1 É uma oração humilde a deste pai, como se pode inferir dos seus atos e das suas palavras. Não apela para o poder de Cristo, mas para a sua compaixão; não faz valer os seus méritos nem oferece nada: acolhe‑se à misericórdia de Jesus.

Recorrer ao Coração misericordioso de Cristo significa ser sempre ouvido: o filho ficará curado, coisa que os Apóstolos não tinham conseguido anteriormente. Mais tarde, a sós, os discípulos perguntaram ao Senhor por que tinham eles fracassado em curar o garoto endemoninhado. E Jesus disse‑lhes: Por causa da vossa incredulidade. Porque na verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Vai daqui para acolá, e ele irá, e nada vos será impossível2.

Quando a fé é profunda, participamos da onipotência de Deus, a tal ponto que Jesus chega a dizer em outro momento: Aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará outras ainda maiores, porque eu vou para o Pai. Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu a farei3. E Santo Agostinho comenta: “Aquele que crê em Mim não será maior do que Eu; mas Eu farei coisas ainda maiores do que as que agora faço; farei mais por meio daquele que crê em Mim do que aquilo que agora faço por Mim mesmo”4.

Nesta passagem do Evangelho da Missa, o Senhor, empregando uma expressão proverbial, diz aos Apóstolos que, se tiverem fé, poderão “transportar montanhas” de um lugar para outro; e a palavra do Senhor cumpre‑se todos os dias no seio da Igreja de um modo superior. Alguns Santos Padres sublinham que o ato de “transportar uma montanha” realiza‑se sempre que alguém, com a ajuda da graça, chega aonde as forças humanas não conseguem chegar. Assim acontece na obra da nossa santificação pessoal, que o Espírito Santo vai levando a cabo na alma. É um ato mais sublime do que transportar uma montanha e que se opera todos os dias em tantas almas santas, ainda que passe desapercebido aos olhos da maioria.

Os Apóstolos e muitos santos ao longo dos séculos fizeram admiráveis milagres de natureza física; mas os maiores milagres e os mais importantes foram, são e serão os das almas que, tendo estado imersas na morte do pecado e da ignorância, ou na mediocridade espiritual, renascem e crescem na nova vida dos filhos de Deus5. “«Si habueritis fidem, sicut granum sinapis!» Se tivésseis uma fé do tamanho de um grãozinho de mostarda!…

“– Que promessas não encerra esta exclamação do Mestre!”6 Promessas para a vida sobrenatural da nossa alma, para o apostolado, para tudo aquilo de que precisamos…

II. SENHOR, por que não pudemos nós expulsá‑lo? Por que não pudemos fazer o bem em teu nome? São Marcos7, bem como muitos manuscritos que incluem o texto de São Mateus, acrescentam estas palavras do Senhor: Esta espécie (de demônios) não se pode expulsar senão mediante a oração e o jejum.

Os Apóstolos não puderam libertar esse endemoninhado porque lhes faltou a fé que era necessária, uma fé que deveria ter‑se traduzido em oração e sacrifício. Nós também encontramos pessoas que necessitam desses remédios sobrenaturais para saírem da prostração do pecado, da ignorância religiosa… Acontece com as almas algo de semelhante ao que se passa com os metais, que se fundem a diversas temperaturas. Há casos em que a dureza interior dos corações necessita de meios sobrenaturais tanto mais fortes quanto mais incrustados estiverem no mal. Não deixemos as almas imobilizadas no pecado por falta de oração e jejum.

Uma fé do tamanho de um grão de mostarda é capaz de transportar montanhas, ensina‑nos o Senhor. Peçamos muitas vezes, ao longo do dia de hoje, essa fé que se traduz depois em abundância de meios sobrenaturais e humanos. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé8“Diante dela caem as montanhas, os obstáculos mais formidáveis que possamos encontrar no caminho, porque o nosso Deus não perde batalhas. Caminhai, pois, in nomine Domini, com alegria e segurança no nome do Senhor. Sem pessimismos! Se surgem dificuldades, surge também em maior abundância a graça de Deus; se surgem mais dificuldades, o céu envia mais graça de Deus; se surgem muitas dificuldades, chega‑nos muita graça de Deus. A ajuda divina é proporcional aos obstáculos que o mundo e o demônio podem opor ao trabalho apostólico. Por isso, atrever‑me‑ia até a dizer que convém que haja dificuldades, porque desse modo teremos mais ajuda de Deus: Onde abundou o pecado, superabundou a graça (Rom 5, 20)”9.

Os maiores obstáculos a esses milagres que o Senhor também quer realizar agora nas almas, com a nossa colaboração, podem provir sobretudo de nós mesmos: porque, com a nossa visão humana, podemos estreitar o horizonte que Deus abre continuamente na alma dos nossos amigos, parentes, colegas de trabalho ou de estudo. No trabalho apostólico, não podemos dar ninguém por impossível; como tantas vezes demonstraram os santos, a palavra impossível não existe na alma que vive de fé verdadeira. “Deus é o mesmo de sempre. – O que falta são homens de fé; e renovar‑se‑ão os prodígios que lemos na Santa Escritura.

“– «Ecce non est abbreviata manus Domini». – O braço de Deus, o seu poder, não encolheu!”10 Continua a realizar hoje as maravilhas de sempre.

III. “JESUS CRISTO ESTABELECE esta condição: que vivamos da fé, porque depois seremos capazes de remover montanhas. E há tantas coisas por remover… no mundo e, primeiro, no nosso coração! Tantos obstáculos à graça! Portanto, fé. Fé com obras, fé com sacrifício, fé com humildade, porque a fé nos converte em criaturas onipotentes: E tudo o que na oração pedirdes com fé, alcançá‑lo‑eis (Mt XXI, 22)”11.

A fé deve traduzir‑se em obras na vida corrente. Sede, pois, realizadores da palavra, e não ouvintes somente12, exorta‑nos o Apóstolo São Tiago. Não basta assentir à doutrina, é necessário viver as verdades que contém, praticá‑las. A fé deve gerar uma vida de fé, que é manifestação da amizade com Jesus Cristo. Temos de ir a Deus com a vida, com as obras, com as penas e as alegrias…, com tudo!13

Com freqüência, as dificuldades procedem ou agigantam‑se pela falta de fé: porque valorizamos excessivamente as circunstâncias do ambiente em que nos movemos, ou porque damos demasiada importância a considerações de prudência humana, que podem proceder de uma insuficiente retidão de intenção. “Não há coisa alguma, por mais fácil que seja, que a nossa tibieza não apresente como difícil e pesada; como não há nada que seja difícil e penoso que o nosso fervor e a nossa determinação não tornem fácil e leve”14.

A vida de fé produz um sadio “complexo de superioridade”, que nasce de uma profunda humildade pessoal. É que a fé “não é própria dos soberbos, mas dos humildes”, recorda Santo Agostinho15: corresponde à convicção profunda de saber que a eficácia vem de Deus e não de nós mesmos. Esta confiança leva o cristão a enfrentar os obstáculos que encontra na sua alma e no apostolado com moral de vitória, ainda que por vezes os frutos tardem a chegar.

Com a oração e a mortificação, com a nossa alegria habitual, podemos realizar grandes milagres nas almas. Seremos capazes de “transportar montanhas”, de remover barreiras que pareciam insuperáveis, de aproximar os nossos amigos do sacramento da Confissão, de pôr no caminho do Senhor pessoas que iam na direção oposta.

A nossa Mãe Santa Maria ensinar‑nos‑á a encher‑nos de fé, de amor e de audácia diante das tarefas que Deus nos indicou no meio do mundo, pois Ela é “o bom instrumento que se identifica por inteiro com a missão recebida. Uma vez conhecidos os planos de Deus, Santa Maria torna‑os coisa própria; não são algo alheio a Ela. Compromete plenamente na realização cabal desses projetos o seu entendimento, a sua vontade e as suas energias. Em nenhum momento a Santíssima Virgem nos aparece como uma espécie de marionete inerme: nem quando empreende a viagem às montanhas da Judéia para visitar Isabel; nem quando, exercendo verdadeiramente o seu papel de Mãe, procura e encontra o Menino Jesus no templo de Jerusalém; nem quando provoca o primeiro milagre do Senhor, nem quando se situa – sem necessidade de que a convocassem – ao pé da Cruz em que o seu Filho morre… É Ela que livremente, ao dizer Faça‑se, põe em jogo toda a sua personalidade a serviço do cumprimento da missão recebida: uma tarefa que de modo algum lhe é estranha; os interesses de Deus são os interesses pessoais de Santa Maria. Não é que algum objetivo pessoal lhe dificultasse os planos do Senhor: é que, além disso, esses objetivos pessoais eram exatamente os planos divinos”16.

(1) Mt 17, 14‑20; (2) Mt 17, 19; (3) Jo 14, 12‑14; (4) Santo Agostinho, Tratado sobre o Evangelho de São João, 72, 1; (5) cfr. Sagrada Bíblia, Santos Evangelhos, EUNSA, Pamplona, 1983; (6) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 585; (7) Mc 9, 29; (8) 1 Jo 5, 4; (9) A. del Portillo, Carta pastoral, 31‑V‑1987, n. 22; (10) Josemaría Escrivá, op. cit., n. 586; (11) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 203; (12) Ti 1, 22; (13) cfr. P. Rodríguez, Fe y vida de fe, pág. 173; (14) São João Crisóstomo, De compunctione, 1, 5; (15) Santo Agostinho, cit. em Catena Aurea, vol. VI, pág. 297; (16) J. M. Pero‑Sanz, La hora sexta, Rialp, Madrid, 1978, pág. 292.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal