BENTO XVI NOS APONTA UM CAMINHO DE SENTIDO

Certa vez, um andarilho passou numa cidade, bateu nas portas das casas e encontrou o suficiente para saciar suas necessidades, depois disso pôs-se novamente a caminho, andando sem rumo, sem previsão de chegada. Para ele, andar sem ter horário de chegada era a coisa mais comum da vida. Nas suas andanças encontrava nevoeiros, chuvas, perigos e tantas outras dificuldades. O difícil havia se tornado sua rotina.

Como podemos imaginar, o homem narrado era acostumado a pedir esmolas e por muitas vezes sentia sede e fome, mas, tais implicações não eram motivos para que o mendigo deixasse de caminhar. Ao lermos esse pequeno conto é muito provável que sintamos “dó” deste desconhecido mendigo, ou, ainda que fiquemos com a curiosidade de descobrir o seu nome e saber qual o seu fim.

Conforme Santo Agostinho, “o homem é um mendigo de Deus”[1], pois, é um ser necessitado do amor do Pai. Tal afirmação não assusta quando paramos para meditar e nos descobrimos tão parecidos com quem vagueia pelas ruas pedindo ajuda. O mundo é nossa rua, onde andamos, trabalhamos, amamos familiares e os irmãos de fé que a vida nos apresenta.

No entanto, algo de muito estranho têm acontecido nos nossos dias, não é mesmo? Muitos estão caminhando sem rumo, andando sem saber aonde chegar ou descansar, outros já nem sabem o nome de quem está por trás da tela do celular que diariamente temos por mais tempo diante dos nossos olhos do que o próprio chão das ruas. Sim, o homem moderno anda e por vezes nem disso têm consciência.

Bento XVI, o caminhante da fé, manteve-se acordado enquanto peregrinou nestas terras e quando questionado a respeito de suas esperanças, sabia claramente apontar para o fim último das andanças dos filhos de Deus. Em uma de suas últimas catequeses[2], o então papa Ratzinger afirmou que o desejo misterioso presente em cada pessoa não devia ser silenciado ou esquecido, mas sim elevado.

O desejo de Deus está em cada coração e isso é um fato, assim como quando abrimos a torneira encontramos água. Tal desejo religioso intrínseco em cada um é a marca, o selo do criador, pois, se Ele nos fez, só Ele (Deus) poderia nos saciar plenamente. A sede que permanece em nós, mesmo depois de tomarmos água, a fome que continuamos a sentir depois de comer, serão saciadas somente por algo superior a nós mesmos.

Com tantos avanços tecnológicos e científicos, parte da humanidade ficou iludida e começou a buscar saciar sua sede de sentido nas coisas feitas deste mundo, acabando por desprezar os bens eternos, o que realmente não passará e a única coisa que realmente pode nos preencher. E mais uma vez, Nosso Senhor Jesus Cristo não se esqueceu de nós, fez-Se carne mais uma vez por meio das mãos e boca de Bento XVI a fim de nos despertar.

A vida e o pontificado deste papa foi um sinal estupendo para o mundo moderno, cheio de incredulidade. Abrindo um caminho absurdo para muitos e ainda não compreendido para tantos que continuam a viver como se Deus não estivesse no final do caminho percorrido. Deus quer elevar o verdadeiro desejo de O possuirmos, dando-nos ânimo para continuar a caminhar de um modo sempre novo, isto é, pela fé.

Eis o caminho tão antigo e tão novo apontado por Josef Ratzinger: é possível, ainda vivendo neste mundo, sujeitos às dificuldades do tempo presente, procurar a Deus e tudo elevar a Ele, pois, verdadeiramente Ele nos aguarda na pia batismal, na mesa da comunhão e no confessionário. Nosso Senhor Jesus Cristo é o único caminho que verdadeiramente enche a nossa vida de sentido. Como tão bem nos ensinou o Papa Bento XVI: “Quem tudo dá a Cristo não perde nada e ganha tudo”.

 

[1] Cf. Santo Agostinho, Sermão 56, 6, 9: ed. P. Verbraken: Revue Bénédictine 68 (1958) 31 (PL 38, 381).

[2] BENTO XVI, Audiência Geral de 7 de novembro de 2012.