Oração Humilde e Perseverante
TEMPO COMUM. QUINTA SEMANA. QUINTA-FEIRA
– A cura da filha da mulher cananéia. Condições da verdadeira oração.
– Confiança de filhos e perseverança nas nossas petições.
– Na oração, devemos pedir graças sobrenaturais e também bens e ajudas materiais. Pedir para os outros. O Rosário, "arma poderosa".
I. DIZ-NOS SÃO MARCOS no Evangelho da Missa de hoje que, tendo Jesus chegado com os seus discípulos à região de Tiro e Sídon, aproximou-se deles uma mulher paga, de origem siro-fenícia, pertencente à primitiva população da Palestina 1. Lançou-se aos pés do Senhor e pediu-lhe a cura da sua filha, que estava possuída pelo demônio.
Jesus escutou o pedido mas não disse nada, e os discípulos, cansados da insistência da mulher, pediram-lhe que a despedisse 2. O Senhor tratou então de explicar à mulher que o Messias devia dar-se a conhecer em primeiro lugar aos judeus, aos filhos. E, com uma expressão difícil de compreender sem ter presente a sua compostura sempre amável, disse-lhe: Deixa que primeiro se saciem os filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e atirá-lo aos cachorrinhos.
A mulher não se sentiu ferida nem humilhada, antes insistiu ainda mais, com profunda humildade: Sem dúvida, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos. Diante de tanta virtude, Jesus, comovido, não adiou mais o milagre que a siro-fenícia lhe pedia e despediu-a com estas palavras: Por isto que disseste, vai-te, o demônio saiu da tua filha. Deus, que resiste aos soberbos, dá a sua graça aos humildes 3; aquela mulher alcançou o que queria e conquistou o coração do Mestre. É o exemplo perfeito que devem ter diante dos olhos todos aqueles que desistem de rezar por julgarem que não são escutados. Nessa atitude relatada pelo Evangelho, acham-se reunidas as condições de toda e qualquer oração de petição: fé, humildade, perseverança e confiança. O intenso amor daquela mulher pela filha possuída pelo demônio deve ter agradado muito a Cristo. E os próprios Apóstolos voltaram certamente a lembrar-se dessa mulher quando ouviram mais tarde a parábola da viúva importuna 4, que também conseguiu o que queria pela sua teimosia, pela sua insistência.
A verdadeira oração é infalivelmente eficaz porque -como diz São Tomás - Deus, que nunca se desdiz, decretou que fosse assim 5. E para que não deixássemos de pedir, o Senhor incutiu-nos essa certeza com exemplos simples e claros: Se entre vós um filho pede pão ao pai, porventura lhe dará ele uma pedra? Ou, se lhe pede um peixe, dar-lhe-á, em vez do peixe, uma serpente?... Quanto mais vosso Pai que está nos céus...6 "Deus nunca negou nem negará nada aos que pedem as suas graças da forma devida. A oração é o grande recurso que temos para sair do pecado, para perseverar na graça, para tocar o coração de Deus e atrair sobre nós todo o tipo de bênçãos do céu, tanto para a alma como para as nossas necessidades temporais" 7.
Sempre que pecamos a Deus algum dom, devemos pensar que somos seus filhos, e que Ele está infinitamente mais atento a nós do que o melhor pai da terra pode estar em relação ao mais necessitado dos seus filhos.
II. TEMOS TANTA NECESSIDADE de pedir para conseguir a ajuda de Deus, para fazer o bem, para perseverar na sua prática, como tem o agricultor de semear para depois colher o trigo 8. Sem semeadura, não há espigas; sem petição, não teremos as graças que devemos receber e que Deus previu desde toda a eternidade.
Há ocasiões em que o Senhor nos faz esperar porque quer preparar-nos melhor, porque quer que desejemos essas graças com mais profundidade e fervor; como há ocasiões em que não nos concede o que lhe pedimos porque, talvez sem nos apercebermos disso, estamos pedindo um mal que a nossa vontade revestiu com a aparência de bem. Uma mãe não dá ao seu filho uma faca afiada que brilha e atrai, e que a pequena criança deseja apaixonadamente. Ora nós somos como um filho pequeno diante de Deus. Quando pedimos uma coisa que seria um mal, ainda que tenha a aparência de um bem, Deus faz como as boas mães com os seus filhos pequenos: dá-nos outras graças que serão realmente para o nosso bem, ainda que pela nossa visão curta as desejemos menos. Portanto, a nossa oração deve ser confiante, como quem pede a um pai, e serena, porque Deus conhece as necessidades que temos muito melhor que nós mesmos.
A confiança move-nos a pedir com constância, com perseverança, sem parar, insistindo repetidas vezes, com a certeza de que receberemos muito mais e melhor do que pedimos.
Devemos insistir como o amigo importuno que não tinha pão, ou como a viúva indefesa que clamava dia e noite perante o juiz iníquo. Pedi e dar-se-vos-à; buscai e acha-reis; batei e abrir-se-vos-á. Porque todo aquele que pede recebe, e quem busca acha, e àquele que bate abrir-se-lhe-á 9.
A própria perseverança na petição aumenta a confiança e a amizade com Deus. "E esta amizade produzida pela oração de petição abre caminho a uma súplica ainda mais confiante [...], como se, tendo sido introduzidos na intimidade divina pela primeira petição, pudéssemos implorar com muito mais confiança na vez seguinte. Por isso a constância, a insistência na oração dirigida a Deus, nunca é importuna. Antes pelo contrário, agrada a Deus" 10. A mulher cananéia é um exemplo de constância que devemos imitar, ainda que aparentemente o Senhor não a escute.
Santo Agostinho ensina que às vezes a nossa oração não é escutada porque não somos bons, porque nos falta pureza no coração ou retidão na intenção, ou porque pedimos mal, sem fé, sem perseverança, sem humildade; ou ainda porque pedimos coisas más, isto é, o que não nos convém, o que nos pode fazer mal ou desviar-nos do nosso caminho 11. Quer dizer, a oração não é eficaz quando não é verdadeira oração. Mas, quando é autêntica, "em que negócio humano te podem dar mais garantias de êxito?" 12 Em verdade vos digo que, se tiverdes fé, tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá 13.
III. LIVRAI-NOS DE TODOS OS MALES, ó Pai, e dai-nos hoje a vossa paz. Ajudados pela vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de. todos os perigos... 14, reza o sacerdote em voz alta durante a Missa.
Na oração de petição, podemos solicitar coisas para nós mesmos e para os outros; em primeiro lugar, os bens e as graças necessárias à nossa alma. Ainda que sejam muitas e urgentes as limitações e privações materiais, temos sempre mais necessidade dos bens sobrenaturais: da graça para podermos servir a Deus e ser-lhe fiéis, da santidade pessoal, de ajuda para vencermos um defeito, para nos confessarmos bem, para nos prepararmos para a Sagrada Comunhão...
Quanto aos bens temporais, pedimo-los na medida em que são úteis à nossa salvação e se subordinam a esse fim. O primeiro milagre que Jesus fez - o das bodas de Cana, a pedido de sua Mãe - e pelo qual se manifestou aos seus discípulos 15, foi de tipo material. E, no entanto, Maria, "manifestando ao Filho com delicada súplica uma necessidade temporal, obteve também um efeito de graça: realizando o primeiro dos seus «sinais», Jesus confirmava os discípulos na fé em Cristo" 16. Pela unidade que há entre todos os aspectos da nossa vida, os bens de caráter material redundam de algum modo na glória de Deus. O milagre de Cana anima-nos e move-nos a pedir também graças de cunho temporal, mas sem nos esquecermos da advertência de São Gregório Magno: "Uma pessoa pede a Deus na oração que lhe conceda por esposa uma mulher à medida do que deseja, outro pede uma casa de campo, outro uma roupa, outro alimentos. Devemos realmente pedir essas coisas a Deus Todo Poderoso quando nos forem necessárias; mas devemos ter sempre presente na nossa memória o preceito do nosso Redentor: Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e o resto vos será dado por acréscimo (Mt 6, 33)" 17. Não dediquemos o melhor da nossa oração a pedir só os "acréscimos".
É também muito grato a Deus que lhe peçamos graças e ajudas para os outros, e que encareçamos a outras pessoas que rezem por nós e pelas nossas iniciativas apostólicas: "«Reze por mim», pedi-lhe como faço sempre. E respondeu-me espantado: «Mas está-lhe acontecendo alguma coisa?»
"Tive de esclarecer-lhe que a todos nos acontece ou ocorre alguma coisa em qualquer instante; e acrescentei-lhe que, quando falta a oração, «passam-se e pesam mais coisas»" 18. E a oração consegue evitá-las e aliviá-las.
A nossa oração deve estar repassada de abandono em Deus e de profundo senso sobrenatural, pois - diz João Paulo II - trata-se de cumprir a obra de Deus, não a nossa. Trata-se de cumpri-la segundo a sua inspiração e não segundo os nossos sentimentos 19.
A Virgem Nossa Senhora retificará todas as nossas petições que não sejam inteiramente retas, para que obtenhamos sempre o melhor. O Rosário é uma "arma poderosa" 20 para alcançarmos de Deus tantas ajudas de que necessitamos diariamente, quer para nós, quer para as pessoas por quem pedimos. Senhor, nosso Deus, concedei-nos sempre a saúde da alma e do corpo, e fazei com que, pela intercessão da Virgem Maria, libertados das tristezas presentes, gozemos das alegrias eternas 21.
(1) Mc 7, 24-30; (2) Mt 15, 23; (3) 1 Pe 5, 5; (4) Lc 18, 3 e segs.; (5) cfr. São Tomás, Suma Teológica, 2-2, q. 83, a. 2; (6) cfr. Lc 11, 11--13; (7) Cura d'Ars, Sermão para o quinto domingo depois da Páscoa', (8) cfr. R. Garrigou-Lagrange, Las três edades de Ia vida interior, vol. I, pág. 500; (9) Lc 11, 9-10; (10) São Tomás, Compêndio de Teologia, II, 2; (11) cfr. Santo Agostinho, Sobre o sermão do Senhor no monte, II, 27, 73; (12) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 96; (13) Jo 16, 23; (14) Missal Romano, Ordinário da Missa; (15) cfr. Jo 2, 11; (16) Paulo VI, Exort. Apost. Ma-rialis cultus, 2-II-1974, 18; (17) São Gregório Magno, Homilia 27 sobre os Evangelhos; (18) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 479; (19) cfr. João Paulo II, Aos bispos franceses em visita "ad limina", 21-11-1987; (20) cfr. Josemaría Escrivá, Caminho, n. 558; (21) Missal Romano, Missa votiva de Nossa Senhora. Oração coleta.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
13 de Fevereiro 2020
A SANTA MISSA

5ª Semana do Tempo Comum – Quinta-feira
Cor: Verde
1ª Leitura: 1Rs 11,4-13
Já que não guardaste a minha aliança, tirar-te-ei o reino;
mas deixarei ao teu filho uma tribo, por consideração para com meu servo Davi.
Leitura do Primeiro Livro dos Reis
4 Quando Salomão ficou velho, suas mulheres desviaram o seu coração para outros deuses e seu coração já não pertencia inteiramente ao Senhor, seu Deus, como o do seu pai Davi. 5 Salomão prestou culto a Astarte, deusa dos sidônios, e a Melcom, ídolo dos amonitas. 6 Ele fez o que desagrada ao Senhor e não lhe foi inteiramente fiel, como seu pai Davi. 7 Foi então que Salomão construiu um santuário para Camos, ídolo de Moab, no monte que está defronte de Jerusalém, e para Melcom, ídolo dos amonitas. 8 Fez o mesmo para todas as suas mulheres estrangeiras, as quais queimavam incenso e ofereciam sacrifícios aos seus deuses. 9 Então o Senhor irritou-se contra Salomão, porque o seu coração tinha-se desviado do Senhor, Deus de Israel, que lhe tinha aparecido duas vezes 10 e lhe proibira expressamente seguir a outros deuses. Mas ele não obedeceu à ordem do Senhor. 11 E o Senhor disse a Salomão: ‘Já que procedeste assim, e não guardaste a minha aliança, nem as leis que te prescrevi, vou tirar-te o reino e dá-lo a um teu servo. 12 Mas, por amor de teu pai Davi, não o farei durante a tua vida; é da mão de teu filho que o arrebatarei. 13 Não te tirarei o reino todo, mas deixarei ao teu filho uma tribo, por consideração para com meu servo Davi e para com Jerusalém, que escolhi’.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 105, 3-4. 35-36. 37.40 (R. 4)
R. Lembrai-vos, ó Senhor, de mim lembrai-vos,
segundo o amor que demonstrais ao vosso povo!
3 Felizes os que guardam seus preceitos *
e praticam a justiça em todo o tempo!
4 Lembrai-vos, ó Senhor, de mim, lembrai-vos, *
pelo amor que demonstrais ao vosso povo! R.
35 misturaram-se, então, com os pagãos, *
e aprenderam seus costumes depravados.
36 Aos ídolos pagãos prestaram culto, *
que se tornaram armadilha para eles. R.
37 pois imolaram até mesmo os próprios filhos, *
sacrificaram suas filhas aos demônios.
40 Acendeu-se a ira de Deus contra o seu povo, *
e o Senhor abominou a sua herança. R.
Evangelho: Mc 7,24-30
Os cachorrinhos, debaixo da mesa,
comem as migalhas que as crianças deixam cair.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo: 24 Jesus saiu dali e foi para a região de Tiro e Sidônia. Entrou numa casa e não queria que ninguém soubesse onde ele estava. Mas não conseguiu ficar escondido. 25 Uma mulher, que tinha uma filha com um espírito impuro, ouviu falar de Jesus. Foi até ele e caiu a seus pés. 26 A mulher era pagã, nascida na Fenícia da Síria. Ela suplicou a Jesus que expulsasse de sua filha o demônio. 27 Jesus disse: ‘Deixa primeiro que os filhos fiquem saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos.’ 28 A mulher respondeu: ‘É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair.’ 29 Então Jesus disse: ‘Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa. O demônio já saiu de tua filha.’ 30 Ela voltou para casa e encontrou sua filha deitada na cama, pois o demônio já havia saído dela.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
12 de Fevereiro 2020
A SANTA MISSA

5ª Semana do Tempo Comum – Quarta-feira
Cor: Verde
1ª Leitura: 1Rs 10,1-10
A rainha de Sabá viu toda a sabedoria de Salomão.
Leitura do Primeiro Livro dos Reis
Naqueles dias: 1 A rainha de Sabá, tendo ouvido falar – para a glória do Senhor – da fama de Salomão, veio prová-lo com enigmas. 2 Chegou a Jerusalém com numerosa comitiva, com camelos carregados de aromas, e enorme quantidade de ouro e pedras preciosas. Apresentou-se ao rei Salomão e expôs-lhe tudo o que tinha em seu pensamento. 3 Salomão soube responder a todas as suas perguntas: para ele nada houve tão obscuro que não pudesse esclarecer. 4 Quando a rainha de Sabá viu toda a sabedoria de Salomão, a casa que tinha construído, 5 os manjares da sua mesa, os cortesãos sentados em ordem à mesa, as diversas classes dos que o serviam e suas vestes, os copeiros, os holocaustos que ele oferecia no templo do Senhor, ficou pasmada e disse ao rei: 6 ‘Realmente era verdade o que eu ouvi no meu país a respeito de tuas palavras e de tua sabedoria! 7 Eu não queria acreditar no que diziam, até que vim e vi com os meus próprios olhos, e reconheci que não me tinham dito nem a metade. Tua sabedoria e tua riqueza são muito maiores do que a fama que chegara aos meus ouvidos. 8 Feliz a tua gente, felizes os teus servos que gozam sempre da tua presença e que ouvem a tua sabedoria! 9 Bendito seja o Senhor, teu Deus, a quem agradaste, que te colocou sobre o trono de Israel, porque o Senhor amou Israel para sempre, e te constituiu rei para governares com justiça e equidade’. 10 Depois, ela deu ao rei cento e vinte talentos de ouro e grande quantidade de aromas e pedras preciosas. Nunca mais foi trazida tanta quantidade de aromas como a que a rainha de Sabá deu ao rei Salomão.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 36,5-6. 30-31. 39-40 (R. 30a)
R. O justo tem nos lábios o que é sábio.
5 Deixa aos cuidados do Senhor o teu destino; *
confia nele, e com certeza ele agirá.
6 Fará brilhar tua inocência como a luz, *
e o teu direito, como o sol do meio-dia. R.
30 O justo tem nos lábios o que é sábio, *
sua língua tem palavras de justiça;
31 traz a Aliança do seu Deus no coração, *
e seus passos não vacilam no caminho. R.
39 A salvação dos piedosos vem de Deus; *
ele os protege nos momentos de aflição.
40 O Senhor lhes dá ajuda e os liberta, +
defende-os e protege-os contra os ímpios, *
e os guarda porque nele confiaram. R.
Evangelho: Mc 7,14-23
O que torna impuro o homem é o que sai do seu interior.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo: 14 Jesus chamou a multidão para perto de si e disse: ‘Escutai todos e compreendei: 15 o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. 16 Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.’ 17 Quando Jesus entrou em casa, longe da multidão, os discípulos lhe perguntaram sobre essa parábola. 18 Jesus lhes disse: ‘Será que nem vós compreendeis? Não entendeis que nada do que vem de fora e entra numa pessoa, pode torná-la impura, 19 porque não entra em seu coração, mas em seu estômago e vai para o fossa?’ Assim Jesus declarava que todos os alimentos eram puros. 20 Ele disse: ‘O que sai do homem, isso é que o torna impuro. 21 Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, 22 adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. 23 Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem.’
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Santa Eulália
12 de Fevereiro
Santa Eulália
Santa Eulália, filha de pais ilustres da Espanha, nasceu pelos fins do século dois. Já na meninice deu sinais inequívocos de alma privilegiada. Inimiga da vaidade e dos divertimentos geralmente queridos pela mocidade feminina, Eulália procurou unicamente agradar ao Esposo Divino e adornar a alma de virtudes cristãs.
Tendo apenas doze anos de idade deu provas de coragem admirável, na defesa da honra do divino Esposo. Quando, em 304, o imperador Maximiano encetou perseguição crudelíssima contra os cristãos, Eulália sentiu o coração tomado de ardente desejo de oferecer a Jesus o sacrifício da sua vida.
Para não expor a filha ao perigo que a ameaçava, os pais procuraram moderar o entusiasmo da mesma e esconderam-na numa casa longe da cidade. Inútil foi a preocupação. O amor de Deus e o desejo do martírio eram tão fortes na alma da donzela, que esta, iludindo a vigilância dos parentes e aproveitando-se do silêncio e das trevas da noite, fez a viagem de algumas horas, para chegar à cidade.
Sem demora se dirigiu ao palácio do juiz e, estando na presença do executor das ordens imperiais, invectivou-o energicamente por causa da idolatria. O Pretor, pasmo de ver tamanha coragem em uma jovem de tão pouca idade, entregou-a aos soldados para que a castigassem. Prevalecendo-lhe, porém, por um momento os sentimentos humanos na alma, já acostumados às crueldades da carnificina, procurou ganhar a simpatia de Eulália e ganhá-la para a religião oficial. Eulália, porém, em vez de responder à voz blandiciosa do sedutor, atirou para longe o turíbulo, com que devia incensar as imagens das divindades.
Foi o bastante para ser entregue à tortura. Com ferros em brasa os algozes queimaram o corpo da donzela. Esta, cheia de alegria e gratidão para com Deus, exclamou em alta voz: “Agora, meu Jesus, vejo em meu corpo os traços da Vossa Sagrada Paixão”. Tendo aplicado ainda outros tormentos, os algozes recorreram finalmente ao fogo e no meio das chamas Eulália entregou o espírito a Deus. O historiador Prudêncio, a quem devemos a narração do martírio de Santa Eulália, diz que o próprio algoz viu a alma da mártir, em forma de pomba, subir ao céu.
Eulália morreu em 304 e seu corpo repousa na Igreja de Merida, onde sofreu o martírio. São Gregório de Tours conta que no adro daquela Igreja existiam três árvores, que no dia da festa de Santa Eulália, se cobriam de flores aromáticas, as quais, aplicadas a doentes, deram-lhes cura das moléstias.
Fonte: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico - Juiz de Fora - Minas Gerais, 1959.
A Dignidade do Trabalho
TEMPO COMUM. QUINTA SEMANA. QUARTA-FEIRA
– O mandamento divino do trabalho não é um castigo, mas uma bênção; faz-nos participar do poder criador de Deus. O cansaço e a fadiga devem ajudar-nos a ser corredentores com Cristo.
– Prestígio profissional. A preguiça, o grande inimigo do trabalho.
– Virtudes do trabalho bem realizado.
I. DEPOIS QUE DEUS criou a terra e a enriqueceu com todo o tipo de bens, tomou o homem e colocou-o no paraíso de delícias para que o cultivasse e guardasse 1, isto é, para que o trabalhasse. O Senhor, que tinha feito o homem à sua imagem e semelhança 2, quis também que ele participasse do seu poder criador, transformando a matéria, descobrindo os tesouros que ela encerra e plasmando a beleza mediante as obras das suas mãos. O trabalho nunca foi um castigo, mas, pelo contrário, “uma dignidade de vida e um dever imposto pelo Criador, já que o homem foi criado ut operaretur, para trabalhar. O trabalho é um meio pelo qual o homem se torna participante da criação e, portanto, não só é digno, seja qual for, mas é instrumento para se conseguir a perfeição humana – terrena – e a perfeição sobrenatural” 3.
Este preceito divino existia antes de os nossos primeiros pais terem pecado. O pecado original acrescentou ao trabalho a fadiga e o cansaço, mas o trabalho em si continua a ser nobre, digno, por ser participação no poder criador de Deus, ainda que “agora se faça acompanhar de penas e sofrimentos, de infecundidade e cansaço. Continua a ser um dom divino e uma tarefa que deve ser realizada sob condições penosas, tal como o mundo continua a ser o mundo de Deus, mas um mundo em que já não se distingue com clareza a voz divina” 4.
Com a Redenção, os aspectos penosos do trabalho ganharam um valor santificador para quem o exerce e para toda a humanidade. O suor e a fadiga, oferecidos com amor, tornam-se tesouros de santidade, pois o trabalho feito por amor a Deus representa a participação humana, não só na obra da Criação, mas também na da Redenção.
Todo o trabalho implica uma quota-parte de fadiga e de preocupação que podemos oferecer ao Senhor em expiação das culpas humanas. Aceitar com humildade essa parte de esforço, que mesmo a melhor organização trabalhista não consegue eliminar, significa colaborar com Deus na purificação da nossa inteligência, da nossa vontade e dos nossos sentimentos 5.
Examinemos hoje na nossa oração se oferecemos ao Senhor a fadiga e o cansaço por fins nobremente ambiciosos. Averigüemos se, nesses aspectos menos agradáveis de qualquer trabalho, encontramos a mortificação cristã que nos purifica e que nos permite oferecê-lo pelos outros.
II. O TRABALHO É UM TALENTO que o homem recebe para fazer frutificar, e “é testemunho da dignidade do homem, do seu domínio sobre a criação; é meio de desenvolvimento da personalidade; é vínculo de união com os outros seres; fonte de recursos para o sustento da família; meio de contribuir para o progresso da sociedade em que se vive e para o progresso de toda a humanidade” 6. Para o cristão, é, além disso, ocasião de um encontro pessoal com Jesus Cristo e meio para que todas as realidades deste mundo sejam vivificadas pelo espírito do Evangelho.
Para que “o homem se faça mais homem” 7 com o trabalho, para que este seja meio e ocasião de amar a Cristo e de fazer com que o conheçam, são necessárias diversas condições humanas: a diligência, a constância, a pontualidade..., a competência profissional. Em sentido contrário, o pouco interesse por aquilo que se realiza, a incompetência, a impontualidade e as ausências no trabalho... são incompatíveis com o sentido autenticamente cristão da vida. O trabalhador negligente ou desinteressado, seja qual for o posto que ocupe na sociedade, ofende em primeiro lugar a própria dignidade da sua pessoa e a daqueles a quem se destinam os frutos dessa tarefa mal feita. E ofende ainda a sociedade em que vive, pois nela repercute de alguma forma todo o mal e todo o bem dos indivíduos. Além disso, o trabalho realizado descuidadamente, com atrasos e mal acabado, não é uma falta ou um pecado apenas contra a virtude da justiça, mas também contra a caridade, pelo mau exemplo e pelas conseqüências que derivam dessa atitude.
O grande inimigo do trabalho é a preguiça, que se manifesta de muitas maneiras. Não é preguiçoso somente aquele que deixa o tempo passar sem fazer nada, mas também aquele que se dedica a muitas coisas, mas foge da sua obrigação concreta: escolhe as suas ocupações de acordo com o gosto do momento, realiza-as sem energia, e qualquer pequena dificuldade é suficiente para que mude de tarefa.
O preguiçoso costuma ser amigo dos “começos”, mas a repugnância que sente pelo sacrifício de um trabalho contínuo e profundo impede-o de pôr as “últimas pedras”, de acabar bem o que começou.
Se queremos imitar Jesus Cristo, devemos esforçar-nos por adquirir uma preparação profissional adequada, dando-lhe continuidade nos anos de exercício da nossa profissão ou ofício. A mãe de família que se dedica aos seus filhos deve saber cuidar do lar, ser boa administradora dos recursos e dos bens domésticos: manter a casa agradável, arrumada com bom gosto mais do que com luxo, para que toda a família se sinta bem; conhecer o caráter dos filhos e do marido, e saber, quando chegue a ocasião, como falar-lhes daquelas questões difíceis em que podem corrigir-se e melhorar; deve ser forte e ao mesmo tempo doce e simples. Deverá conduzir essa tarefa com mentalidade profissional, sujeitando-se a um horário fixo, não perdendo o tempo em conversas intermináveis, evitando ligar a televisão nas horas em que não deve...
O estudante, se quiser ser um bom cristão, deve ser bom estudante: assistindo às aulas, tendo as matérias em dia, aprendendo a distribuir o tempo que dedica a cada matéria. Devem ser igualmente competentes o arquiteto, a secretária, a costureira, o empresário... “O cristão que falha nas suas obrigações temporais – ensina o Concílio Vaticano II –, falha nos seus deveres para com o próximo; falha, sobretudo, nas suas obrigações para com Deus e põe em perigo a sua salvação eterna” 8; errou de caminho numa matéria essencial e, se não muda, estará impossibilitado de encontrar a Deus.
Olhemos para Jesus enquanto realiza o seu trabalho na oficina de José e perguntemo-nos hoje se somos conhecidos no nosso ambiente pelo esmero com que trabalhamos.
III. O PRESTÍGIO PROFISSIONAL é conquistado dia após dia, num trabalho silencioso, cuidado até o menor detalhe, feito conscientemente, na presença de Deus, sem dar muita importância a que seja visto ou não pelos homens. Este prestígio na própria profissão, ofício ou estudo, tem repercussões imediatas nos colegas e amigos, pois a palavra com que tratamos de aproximá-los de Deus passará a ter peso e autoridade, e o nosso exemplo de um trabalho profissional competente os ajudará a melhorar nas suas tarefas. A profissão converte-se assim num pedestal de Cristo, que permite avistá-lo mesmo de longe.
Com o prestígio profissional, o Senhor pede-nos outras virtudes: o espírito de serviço amável e sacrificado, a simplicidade e a humildade para ensinar, a serenidade para não converter a atividade intensa em ativismo e saber deixar as tarefas e as preocupações de lado quando chega o momento de dedicar uns minutos à oração ou de cuidar da família e escutar a mulher, o marido, os filhos, os pais, os amigos...
Se o trabalho ocupasse o dia de tal maneira que invadisse esses momentos que se devem dedicar a Deus, à família, à formação religiosa, aos amigos..., seria um sintoma claro de que não nos estamos santificando, mas de que nos estamos buscando a nós mesmos. Seria mais uma forma de corrupção desse “dom divino”, uma deformação talvez mais perigosa na nossa época, pelas próprias exigências desfocadas em que se baseiam muitas ocupações. Um cristão corrente e normal não pode esquecer nunca que deve encontrar Cristo no meio e através dos seus afazeres, sejam quais forem.
Peçamos a São José que nos ensine as virtudes fundamentais que devemos viver no exercício da nossa profissão. “José devia tirar muita gente de dificuldades, com um trabalho bem acabado. O seu trabalho profissional era uma ocupação orientada para o serviço, tinha em vista tornar mais grata a vida das outras famílias da aldeia; e far-se-ia acompanhar de um sorriso, de uma palavra amável, de um comentário dito como que de passagem, mas que devolve a fé e a alegria a quem está prestes a perdê-las” 9. Perto de José, encontraremos Maria.
(1) Gên 2, 15; Primeira leitura da Missa da quarta-feira da quinta semana do TC, ciclo A; (2) cfr. Gên 1, 27; (3) São Josemaria Escrivá, Carta, 31-V-1954; (4) M. Schmaus, Teologia dogmática, Rialp, Madrid, 1959, vol. II, pág. 411; (5) cfr. Card. Wyszynsky, El espíritu del trabajo, Rialp, Madrid, 1958, pág. 95; (6) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 47; (7) cfr. João Paulo II, Alocução, 10-I-1979; (8) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 43; (9) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 51.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Nossa Senhora de Lourdes
11 de Fevereiro
Nossa Senhora de Lourdes
Nossa Senhora em Lourdes e sua devoção começaram no dia 11 de fevereiro de 1858, na pequena vila de Lourdes, França. Nesse dia, três amigas foram buscar lenha na mata que ficava perto da vila: Bernadete Soubirus de 14 anos, sua irmã Marie Toinette de 11 anos e a amiga Jeane Abadie, de 12 anos.
A caminho do rio Gave, passaram por uma gruta. Ali, Bernadete ouviu a voz de uma mulher chamando-a carinhosamente. A voz vinha de dentro da gruta. Curiosa e obediente, Bernadette entrou e viu a figura de uma jovem senhora vestida de branco, com uma faixa azul na cintura e um rosário de contas de pérolas em sua mão.
As duas começaram a rezar juntas, e pouco depois, Maria desapareceu. Por um período de cinco meses, Nossa Senhora de Lourdes apareceu, sempre marcando o dia e a hora que iria aparecer.
A notícia se espalhou e muitas pessoas foram à gruta no desejo de ver a Senhora, mas só Bernardete a via, o que gerou muita desconfiança e dúvida na população. Muitas vezes Bernadete foi vitima de agressões e zombarias feitas pela população.
O próprio governo francês se envolveu na polêmica e interditou a gruta por um determinado tempo. Nessa ocasião. Bernadete, porém, fortalecida pela graça de Deus, se manteve firme e insistia que Nossa Senhora pediu para que se construísse uma capela no local das aparições.
Tanto a população quanto a Igreja desconfiaram de Bernadete. E esta resistência começou a ficar muito séria. Por isso, Nossa Senhora, numa de suas últimas aparições, disse a Bernadete que fosse à gruta em determinado dia e hora e começasse a cavar o chão com as próprias mãos. Bernadete obedeceu e no local onde ela cavou, começou a brotar água e nunca mais parou. E era sabido por todos que ali, era um lugar seco onde jamais tivera fonte de água.
Ao saber da água que brotou na gruta, o povo começou a ir até lá em busca de cura. Então, começaram a acontecer curas inexplicáveis entre o povo que se banhava nas águas da gruta de Lourdes. Curas de pessoas deficientes físicas, paraplégicos e de enfermidades incuráveis, confirmadas por médicos e cientistas. As curas, aliás, nunca deixaram de acontecer em Lourdes até hoje. Tanto que lá existe uma comissão de médicos pronta para avaliar e atestar se determinada cura foi ou não um milagre.
No dia 18 de janeiro de 1862, Dom Laurence, bispo de Tarbes, deu a declaração oficial proclamando a posição da Igreja diante dos acontecimentos de Lourdes: Inspirados pela Comissão composta por sábios, doutores e experientes sacerdotes que questionaram a criança, estudaram os fatos, examinaram tudo e pesaram todas as provas.
Chamamos também a ciência, e estamos convencidos de que as aparições são sobrenaturais e divinas, e que por consequência, o que Bernadete viu foi a Santíssima Virgem Maria. Nossas convicções são baseadas no depoimento de Bernadete, mas, sobretudo, sobre os fatos que têm acontecido, coisas que não podem ser outra coisa senão uma intervenção divina.
Depois que Nossa Senhora de Lourdes apareceu pela última vês, Bernadete ingressou na congregação das Irmãs de Caridade de Nevers. Ela estava com 22 anos e morreu aos 34 anos.
Uma das grandes revelações de Maria em Lourdes foi afirmar que Ela era a Imaculada Conceição, título que o Papa Pio IX havia dado a Maria 4 anos antes em Roma. Bernadete não tinha conhecimento disso.
No ano de 1876 foi edificada a Basílica de Lourdes no local em que Nossa Senhora havia aparecido. Um local que recebe anualmente milhões de peregrinos do mundo inteiro. Hoje este Santuário está em uma área com várias Igrejas e outras instituições construídas em torno da gruta.
Bernadete foi Canonizada pelo Papa Pio XI no dia 8 de dezembro do ano de 1933 e Lourdes tornou-se um dos maiores locais de visitação dos peregrinos do mundo todo.
A grande mensagem de Nossa Senhora em Lourdes é uma mensagem de conversão e de penitência. Nossa Senhora chamou insistentemente que aqueles que estão distantes de Deus voltem para a casa do Pai, pois estamos num tempo de grandes dificuldades. Oração do terço, penitência e conversão, esta é a grande mensagem de Nossa Senhora Lourdes.
Fonte: https://cruzterrasanta.com.br
11 de Fevereiro 2020
A SANTA MISSA

5ª Semana do Tempo Comum – Terça-feira
Cor: Verde
1ª Leitura: 1Rs 8,22-23.27-30
Disseste: ‘Aqui estará o meu nome!
Ouve as súplicas de teu povo Israel.
Leitura do Primeiro Livro dos Reis
Naqueles dias: 22 Salomão pôs-se de pé diante do altar do Senhor, na presença de toda a assembleia de Israel, estendeu as mãos para o céu e disse: 23 ‘Ó Senhor, Deus de Israel, não há Deus igual a ti nem no mais alto dos céus, nem aqui embaixo na terra; tu és fiel à tua misericordiosa aliança com teus servos, que andam na tua presença de todo o seu coração. 27 Mas será que Deus pode realmente morar sobre a terra? Se os mais altos céus não te podem conter, muito menos esta casa que eu construí! 28 Mas atende, Senhor meu Deus, à oração e à súplica do teu servo, e ouve o clamor e a prece que ele faz hoje em tua presença. 29 Teus olhos estejam abertos noite e dia sobre esta casa, sobre o lugar do qual disseste: ‘Aqui estará o meu nome! Ouve a oração que o teu servo te faz neste lugar. 30 Ouve as súplicas de teu servo e de teu povo Israel, quando aqui orarem. Escuta-os do alto da tua morada, no céu, escuta-os e perdoa!
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 83, 3. 4. 5.10. 11 (R. 2)
R. Quão amável, ó Senhor, é vossa casa!
3 Minha alma desfalece de saudades *
e anseia pelos átrios do Senhor!
Meu coração e minha carne rejubilam *
e exultam de alegria no Deus vivo! R.
4 Mesmo o pardal encontra abrigo em vossa casa, +
e a andorinha ali prepara o seu ninho, *
para nele seus filhotes colocar:
vossos altares, ó Senhor Deus do universo! *
vossos altares, ó meu Rei e meu Senhor! R.
5 Felizes os que habitam vossa casa; *
para sempre haverão de vos louvar!
10 Olhai, ó Deus, que sois a nossa proteção, *
vede a face do eleito, vosso Ungido! R.
11 Na verdade, um só dia em vosso templo *
vale mais do que milhares fora dele!
Prefiro estar no limiar de vossa casa, *
a hospedar-me na mansão dos pecadores! R.
Evangelho: Mc 7,1-13
Vós abandonais o mandamento de Deus
para seguir a tradição dos homens.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo: 1 Os fariseus e alguns mestres da Lei vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus. 2 Eles viam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. 3 Com efeito, os fariseus e todos os judeus só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos. 4 Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre. 5 Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram então a Jesus: ‘Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?’ 6 Jesus respondeu: ‘Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. 7 De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. 8 Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens.’ 9 E dizia-lhes: ‘Vós sabeis muito bem como anular o mandamento de Deus, a fim de guardar as vossas tradições. 10 Com efeito, Moisés ordenou: ‘Honra teu pai e tua mãe’. E ainda: ‘Quem amaldiçoa o pai ou a mãe, deve morrer’. 11 Mas vós ensinais que é lícito alguém dizer a seu pai e à sua mãe: ‘O sustento que vós poderíeis receber de mim é Corban, isto é, Consagrado a Deus’. 12 E essa pessoa fica dispensada de ajudar seu pai ou sua mãe. 13 Assim vós esvaziais a Palavra de Deus com a tradição que vós transmitis. E vós fazeis muitas outras coisas como estas.’
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
O Quatro Mandamento
TEMPO COMUM. QUINTA SEMANA. TERÇA-FEIRA
— Bênção de Deus para quem cumpre este mandamento. O "dulcíssimo preceito".
— Amor com obras.
— O que significa honrar os pais. O amor aos filhos. Alguns deveres dos pais.
I. NO EVANGELHO da missa de hoje 1, o Senhor declara o verdadeiro alcance do quarto mandamento do Decálogo em face das explicações errôneas da casuística dos escribas e fariseus. O próprio Deus dissera por boca de Moisés: Honra teu pai e tua mãe, e quem maldisser o seu pai ou a sua mãe será réu de morte.
O cumprimento deste mandamento é tão grato a Deus que Ele o revestiu de muitas promessas de bênção: Quem honra seu pai expia os seus pecados; e quando reza, será escutado. Quem honra sua mãe é semelhante àquele que acumula um tesouro. Quem respeita seu pai gozará de vida longa 2. Esta promessa de uma vida longa para quem ama e honra os seus pais repete-se constantemente. Honra teu pai e tua mãe; assim prolongarás a vida na terra que o Senhor, teu Deus, te dará 3. E São Tomás, ao explicar esta passagem, ensina que a vida é longa quando é plena, e esta plenitude não se mede pelo tempo, mas pelas obras. Vive-se uma vida plena quando está repleta de virtudes e de frutos; então vive-se muito, ainda que o corpo morra jovem 4.
Apesar da clareza com que o mandamento é exposto nestas e em muitas outras passagens do Antigo Testamento, os doutores e os sacerdotes do Templo haviam torcido o seu sentido e cumprimento 5. Ensinavam que, se alguém dizia ao seu pai ou à sua mãe: Qualquer coisa que da minha parte possas receber ou necessitar é "corban", isto é, oferenda6, os pais já não podiam tomar nada desses bens ainda que estivessem muito necessitados, pois cometeriam um sacrilégio apropriando-se de algo que fora declarado oferenda para o altar. Este costume era freqüentemente um mero artifício legal para as pessoas continuarem a desfrutar dos seus bens e sentirem-se desobrigadas do dever natural de ajudar os pais necessitados 7. O Senhor, Messias e Legislador, explica no seu justo sentido o alcance do mandamento, desfazendo os profundos erros que havia naquela época sobre o tema.
O quarto mandamento, que é também de direito natural, exige de todos os homens, especialmente daqueles que querem ser bons cristãos, a ajuda abnegada e cheia de carinho aos pais, sobretudo quando estes entram na velhice ou passam necessidade 8. Deus nunca pede coisas contraditórias, e por isso sempre há mil maneiras de viver o amor aos pais, mesmo que se tenham de cumprir primeiro outras obrigações familiares, sociais ou religiosas. Abre-se aqui um grande campo à responsabilidade, que os filhos devem examinar com freqüência na sua oração pessoal.
Deus paga com a felicidade, já nesta vida, a quem cumpre com amor esses deveres, ainda que vez por outra possam ser custosos. São Josemaría Escrivá costumava chamar ao quarto mandamento "dulcíssimo preceito do Decálogo", porque é uma das mais gratas obrigações que o Senhor nos deixou.
II. O CUMPRIMENTO AMOROSO do quarto mandamento tem as suas raízes mais profundas no sentido da nossa filiação divina. Deus, de quem deriva toda a paternidade no céu e na terra 9, é o único que se pode considerar Pai em toda a sua plenitude, e os nossos pais, ao gerar-nos, participaram dessa paternidade divina que se estende a toda a criação. Vemos neles um reflexo do Criador: ao amá-los e honrá-los retamente, estamos honrando e amando neles o próprio Deus como Pai.
Na quadra do Natal, contemplávamos a Sagrada Família - Jesus, Maria e José - como modelo e protótipo de amor e espírito de serviço para todas as famílias. Jesus deixou-nos o exemplo e a doutrina que devemos seguir para cumprir o doce preceito do quarto mandamento tal como Deus o quer.
Antes de mais nada, Jesus afirmou que o amor a Deus tem uns direitos absolutos, e que a ele se devem subordinar todos os amores humanos: Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o seu filho ou a sua filha mais do que a mim não é digno de mim 10. Por isso, é contrário à vontade de Deus - e portanto não é verdadeiro amor - o apegamento à própria família, quando se converte em obstáculo para cumprir a vontade de Deus: E Jesus disse-lhes: Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o reino de Deus.
Jesus deixou-nos um exemplo cabal de entrega plena à vontade do Pai celestial - Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai? 12, dirá a Maria e a José quando o encontram em Jerusalém -, mas, ao mesmo tempo, é o Modelo perfeito de como devemos cumprir o quarto mandamento e do apreço que devemos ter pelos vínculos familiares: viveu sujeito à autoridade de seus pais 13 e ajudou São José a sustentar o lar; realizou o seu primeiro milagre a pedido de sua Mãe 14; escolheu entre os seus parentes três dos seus discípulos 15; e, antes de morrer por nós na Cruz, confiou a São João o cuidado de sua Mãe Santíssima16; sem contar os inúmeros milagres que realizou movido pelas lágrimas ou pelas palavras de uma mãe 17 ou de um pai18. As orações dos pais pelos filhos chegam a Deus com um acento muito particular.
São imensos os modos de honrar e de amar os pais. "Honramo-los quando suplicamos submissamente a Deus que tudo lhes corra prosperamente; que gozem da estima e consideração dos homens e que sejam bem aceitos aos olhos de Deus e dos Santos que estão no céu.
"Honramos igualmente os pais quando os socorremos, ministrando-lhes o necessário para o seu sustento e para uma vida digna. Prova-o a palavra de Cristo ao censurar a impiedade dos fariseus... Esse dever é mais exigente sobretudo quando os pais ficam gravemente doentes. Cumpre-nos então cuidar de que não omitam a Confissão e os demais Sacramentos que todos os cristãos devem receber na iminência da morte [...].
"Por último, quando morrem, honram-se os pais cuidando do funeral, promovendo condignas exéquias, preparando-lhes uma honrosa sepultura, garantindo os sufrágios e Missas de aniversário e executando fielmente as suas declarações de última vontade". Assim se expressa em resumo o Catecismo Romano 19.
Se, por infelicidade, os pais estão longe da fé, o Senhor dar-nos-á a graça necessária para realizarmos com eles um apostolado cheio de afeto e respeito, que consistirá, ordinariamente, em orar por eles, em dar-lhes o apoio de uma conduta filial alegre, exemplar, cheia de carinho, juntamente com o empenho em procurar ocasiões de aproximá-los de pessoas que lhes possam falar de Deus com mais autoridade do que nós, porque os filhos não podem arvorar-se por iniciativa própria em mestres de seus pais.
III. O PRIMEIRO DEVER dos pais é amarem os filhos com um amor verdadeiro: interno, generoso, ordenado, que não olha para as suas qualidades físicas, intelectuais ou morais, e que sabe querer-lhes com os seus defeitos. Devem amá-los. Devem amá-los por serem seus filhos e também por serem filhos de Deus.
Por isso é um dever fundamental dos pais amarem e respeitarem a vontade de Deus sobre os seus filhos, mais ainda quando estes recebem uma vocação de entrega plena a Deus - muitas vezes, os pais até a desejarão e pedirão a Deus para este ou aquele filho -, porque "não é sacrifício entregar os filhos ao serviço de Deus; é honra e alegria"20.
Este amor deve ser operativo, deve traduzir-se eficazmente em obras. Manifestar-se-á no real esforço para que os filhos sejam trabalhadores, austeros e sóbrios, bem educados no sentido pleno da palavra... Que ganhem raízes neles essas bases do caráter que são as virtudes humanas: a rijeza, a responsabilidade, a generosidade, a lealdade, o amor à verdade, a simplicidade, o otimismo...
O amor verdadeiro levará os pais a preocuparem-se pelo colégio em que os filhos estudam, permanecendo muito atentos à qualidade do ensino que recebem, e, particularmente, ao ensino religioso, pois dele pode depender que sejam bons cristãos e, em última análise, que se salvem. Movê-los-á a buscar um local adequado para a época de férias e para os fins de semana - sacrificando não raras vezes as suas preferências pessoais -, de modo a evitarem aqueles ambientes
que tornariam impossível, ou pelo menos muito difícil, a prática de uma verdadeira vida cristã. Os pais não devem esquecer - e devem expô-lo aos filhos no momento oportuno -que são administradores de um enorme tesouro de Deus e que, por serem cristãos, não são uma família como outra qualquer, antes formam uma família em que Cristo está presente e que por isso tem umas características inteiramente novas.
Esta viva realidade levará os pais a serem exemplares em todas as ocasiões (nas conversas, à mesa, no modo de cumprirem os deveres profissionais, pela sua sobriedade, pela ordem e asseio, pela delicadeza de maneiras...). E os filhos encontrarão neles o caminho que conduz a Deus. "No rosto de toda a mãe pode-se captar um reflexo da doçura, da intuição, da generosidade de Maria. Honrando a vossa mãe, honrareis também aquela que, sendo Mãe de Cristo, é igualmente Mãe de cada um de nós"21.
Terminemos a nossa oração pondo as nossas famílias sob a proteção da Santíssima Virgem e dos santos Anjos da Guarda.
(1) Mc 7, 1-13; (2) Ecle 3, 4-5, 7; (3) Ex 20, 12; (4) cfr. São Tomás, Sobre o duplo preceito da caridade, Marietti, n. 1245; (5) cfr. Sagrada Bíblia, Santos Evangelhos, págs. 299-300; (6) Mc 7, 11; (7) cfr. B. Orchard e outros, Verbum Dei, Barcelona, 1963, vol. III; (8) Cone. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 48; (9) Ef 3, 15; (10) Mt 10, 37; cfr. também Lc 9, 60; 2; (11) Lc 9, 60; (12) Lc 2, 49; (13) Lc 2, 51; (14) cfr. Jo 2, 1-11; (15) cfr. Mc 3, 17-18; (16) cfr. Jo 19, 26-27; (17) cfr. Lc 7, 11-17; Mt 18-26; (18) cfr. Mt 9, 18-26; 17, 14-20; (19) Catecismo Romano, III, 5, 10-12; (20) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 22; (21) João Paulo II, Alocu-Ção, 10-1-1979.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Viver em Sociedade
TEMPO COMUM. QUINTA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA
— Dimensão social do homem.
— Caridade e solidariedade humana. Conseqüências na vida de um cristão.
— Contribuições para o bem comum.
I. A PRIMEIRA PÁGINA da Sagrada Escritura descreve-nos com simplicidade e grandiosidade a criação do mundo: E Deus viu que era bom tudo o que saía das suas mãos 1. Depois, coroando tudo quanto havia feito, Deus criou o homem à sua imagem e semelhança 2. E a própria Escritura nos ensina que o enriqueceu de dons e privilégios sobrenaturais, destinando-o a uma felicidade inefável.
Revela-nos também que os demais homens procedem de Adão e Eva. E que, embora estes se tenham afastado do seu Criador, Deus não deixou de considerá-los seus filhos e os destinou novamente à sua amizade 3. A vontade divina dispôs que a criatura humana participasse na conservação e propagação do gênero humano, que povoasse a terra e a submetesse, dominando sobre os peixes do mar, sobre os pássaros do céu, sobre todos os animais e sobre tudo o que vive e se move à face da terra 4.
O Senhor quis também que as relações entre os homens não se reduzissem a um simples trato ocasional e passageiro de vizinhança, antes constituíssem vínculos fortes e duradouros que viessem a ser as bases da vida em sociedade. O homem deveria buscar ajuda para tudo aquilo que a necessidade e o decoro da vida exigem, pois a Providência divina organizou-lhe a natureza de tal modo que nascesse inclinado a associar-se e a unir-se aos outros, na sociedade doméstica e na sociedade civil 5. O Concilio Vaticano II recorda-nos que "o homem, pela sua íntima natureza, é um ser social e não pode viver nem desenvolver as suas qualidades sem se relacionar com os outros" 6.
A vida em sociedade proporciona-nos assim os meios materiais e espirituais necessários para desenvolvermos a vida humana e sobrenatural. Mas se essa convivência é fonte de bens, também gera obrigações nas diversas esferas em que a nossa existência se insere: família, sociedade civil, vizinhança, trabalho... São obrigações que têm um caráter moral pela relação do homem com o seu último fim, Deus. A sua observância aproxima-nos de Deus e o seu descumpri-mento afasta-nos dEle. São matéria de exame de consciência.
"Vejamos hoje neste tempo de oração se vivemos abertos aos outros, particularmente àqueles que o Senhor colocou mais perto de nós. Pensemos se cumprimos exemplarmente os deveres familiares e sociais, se pedimos com freqüência luz ao Senhor para saber o que devemos fazer em cada ocasião, e energia para realizá-lo com firmeza, com valentia, com espírito de sacrifício." 7
Perguntemo-nos muitas vezes: que mais posso eu fazer pelos outros? A vida passa. Cruzamo-nos com as pessoas nos variadíssimos caminhos ou avenidas da vida humana. Quanto resta por fazer!... E por dizer!... É verdade que primeiro é preciso fazer (cfr. At 1, 1); mas depois é preciso dizer: cada ouvido, cada coração, cada mente têm o seu momento, esperam a voz amiga que pode despertá-los do marasmo e da tristeza. Se se ama a Deus, não se pode deixar de sentir a censura dos dias que passam, das pessoas (às vezes tão próximas) que passam... sem que nós saibamos fazer o que seria necessário fazer, dizer o que se deveria dizer.
II. ESTA SOLIDARIEDADE e mútua dependência entre os homens, nascida por vontade divina, foi reforçada e fortalecida por Jesus Cristo ao assumir a natureza humana e ao redimir todo o gênero humano na Cruz. Este é o novo título de unidade: termos sido constituídos filhos de Deus e irmãos dos homens. Devemos tratar assim todos aqueles que encontramos diariamente no nosso caminho. "Talvez se trate de um filho ignorante da sua grandeza e até rebelde contra o seu Pai. Mas em todos, mesmo no mais deformado, há um brilho da grandeza divina [...]. Sabendo olhar, notamos que estamos rodeados de príncipes, a quem temos que ajudar a descobrir as raízes e as exigências da sua estirpe" 8.
Além disso, na noite anterior à sua Paixão, o Senhor estabeleceu-nos um mandamento novo, a fim de que superássemos - heroicamente, se necessário - as ofensas, o rancor e tudo o que é causa de separação. Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei 9, isto é, sem limites. Portanto, a nossa vida está cheia de razões poderosas para convivermos em sociedade. Não somos como grãos de areia soltos e desligados uns dos outros, pois estamos relacionados mutuamente por vínculos naturais, e os cristãos, além disso, por vínculos sobrenaturais 10.
Uma parte importante da moral são os deveres relativos ao bem comum de todos os homens, da pátria em que vivemos, da empresa em que trabalhamos, do bairro em que moramos, da família que é objeto dos nossos desvelos. Não é cristão nem humano considerar esses deveres apenas na medida em que nos são úteis pessoalmente. Deus espera-nos no nosso empenho por melhorar a sociedade e os homens que a compõem, na medida das nossas possibilidades. Não lhe agradaríamos se, de uma forma ou de outra, nos isolássemos das pessoas que temos à nossa volta ou se as tratássemos com indiferença. "Temos de reconhecer Cristo que nos sai ao encontro nos nossos irmãos, os homens. Nenhuma vida humana é uma vida isolada, mas entrelaça-se com as outras vidas. Nenhuma pessoa é um verso solto: fazemos todos parte de um mesmo poema divino, que Deus escreve com o concurso da nossa liberdade" 11.
III. O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE dá-se graças à contribuição dos seus membros, mediante os dons que cada um recebeu de Deus e que desenvolveu com a sua inteligência, a ajuda da sociedade e a graça divina. Estes bens e dons foram-nos dados para desenvolvermos a nossa personalidade e para alcançarmos o fim último, mas também para servirmos o próximo. Não poderíamos alcançar o nosso fim pessoal se não contribuíssemos para o bem de todos 12.
Como o desenvolvimento da sociedade está dentro dos planos de Deus, o contributo pessoal de cada um para o bem comum deixa de ser algo facultativo ou que dependa das circunstâncias individuais, e menos ainda um peso. "A vida social não é uma sobrecarga acidental para o homem. Por isso, através do trato com os demais, da reciprocidade de serviços, do diálogo com os irmãos, a vida social engrandece o homem em todas as suas qualidades e capacita-o para corresponder à sua vocação" 13.
Deve ser uma norma de conduta e de ação prática. "Há aqueles que defendem opiniões amplas e generosas, mas na realidade vivem sempre como se nunca tivessem a menor preocupação pelas necessidades sociais. Mais ainda, em vários países são muitos os que menosprezam as leis e as normas sociais" 14, e vivem de costas para os seus irmãos os homens e para Deus.
Pensemos junto do Senhor naqueles que nos rodeiam. Contribuo de acordo com as minhas possibilidades para fomentar o bem comum? Por exemplo, dedicando algum tempo a instituições e obras que trabalham para o bem da sociedade, colaborando com elas economicamente, apoiando iniciativas em prol dos outros, particularmente dos mais carentes? Cumpro fielmente as obrigações que derivam da vida em sociedade: respeitando as regras de trânsito, as posturas municipais, pagando as taxas e impostos?
"Oxalá te habitues a ocupar-te diariamente dos outros, com tanta entrega que te esqueças de que existes!"15; assim teremos encontrado uma boa parte da felicidade que se pode conseguir nesta terra e teremos ajudado os outros a ser muito mais felizes, tendo presente que são filhos de Deus e nossos irmãos.
(1) Gên 1, 1 e segs; cfr. Primeira leitura da Missa da segunda-feira da quinta semana do TC, ciclo A; (2) cfr. Gên 1, 27; (3) cfr. Gên 12; (4) Gên 1, 28; (5) cfr. Leão XIII, Ene. Immortale Dei, 1-XI-1885; (6) Cone. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 12; (7) C. Lopez Pardo, Sobre Ia vida y Ia muerte, Rialp, Madrid, 1973, pág. 438; (8) /A, págs. 346-347; (9) Jo 15, 12; (10) cfr. Pio XII, Ene. Summi pontificatus, 20-10-1939; (11) São Josemaria Escrivá, Ê Cristo que passa, n. 111; (12) cfr. Leão XIII, Ene. Rerum novarum, 15-V-1891; (13) Cone. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 25; (14) ib. (15) São Josemaria Escrivá, Sulco, n. 947.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Santa Escolástica
10 de Fevereiro
Santa Escolástica
Escolástica, irmã de São Bento, grande fundador das Ordens monásticas no Ocidente, nasceu em Spoleto, na Itália, e teve, como o irmão, uma educação primorosíssima de pais piedosos e tementes a Deus. Modelo de donzela cristã, Escolástica era piedosa, virtuosa, cultivadora da oração, temente a Deus e inimiga do espírito do mundo e das vaidades.
Igual ao irmão, nutria o desejo de dedicar a vida exclusivamente ao serviço de Deus. Bento tinha fundado o mosteiro no Monte Cassino, e em sua companhia já viviam muitos religiosos, que observavam a regra por ele elaborada. Ao irmão se dirigiu Escolástica, com o pedido de indicar-lhe o caminho a tomar, para realizar seu plano. São Bento mandou construir uma pequena cela perto do mosteiro e deu-lhe uma norma de vida, nos traços principais igual a dos monges. À eremita associaram-se, pouco a pouco, muitas pessoas de seu sexo e a construção de um grande convento impôs-se como necessária. É esta a história da fundação da Ordem das Beneditinas, que teve uma aceitação simpática em todo o mundo, chegando a contar 14.000 mosteiros. Escolástica foi a primeira Superiora Geral. Nesta qualidade não só trabalhou para sua santificação, mas zelou também pela fiel observação da regra em todos os mosteiros.
Nos conventos das monjas beneditinas era observada rigorosamente a clausura, sendo proibida a entrada de homens. Só uma vez por ano Escolástica recebia a visita do irmão. O lugar onde realizava esse encontro, era uma casa, nas proximidades do Monte Cassino.
Em uma dessas visitas, quando tinham já tomado a refeição da tarde, e São Bento se aprontava para voltar ao mosteiro, Escolástica lhe disse: “Peço-te, meu irmão, que te detenhas esta noite aqui, para que possamos conversar sobre as coisas celestes”. São Bento, não querendo passar a noite fora do mosteiro, não a quis atender. Escolástica pôs as mãos sobre a mesa, inclinou a cabeça sobre elas e nesta posição pediu a Deus que lhe proporcionasse o consolo de conversar sobre coisas religiosas com o irmão até o dia seguinte.
Eis que inesperadamente se anuviou o céu, desabou forte tempestade e a chuva caiu com tanta quantidade, que São Bento e os companheiros se viram obrigados a ficar. Embora o Santo reconhecesse a intervenção de Deus no efeito da oração da irmã, disse-lhe em tom de repreensão: “Deus te perdoe, minha irmã, o que fizeste“. Escolástica, porém, respondeu: “Eu te pedi e não quiseste atender-me; dirigi-me a Deus e fui ouvida“. Tendo ambos passado a noite em piedosos colóquios, no dia seguinte separaram-se para sempre. Três dias depois Escolástica trocou esta pátria provisória pela eterna, entregando a alma a Deus. São Bento, viu a alma da irmã, qual uma pomba, subir ao céu.
O corpo de Escolástica foi transportado para o mosteiro de São Bento e sepultado no túmulo que o santo abade tinha mandado preparar para si. Escolástica morreu em 543, na idade de 60 anos. No século sétimo, suas relíquias, com as de seu santo irmão, foram levados para Mans, na França. Uma donzela que tinha morrido naquela ocasião voltou à vida, quando se lhe impuseram as relíquias da santa.
Terminemos os traços biográficos de Santa Escolástica com referência a uma prática por ela usada, quando se achava em grandes tribulações: era fixar o olhar no Crucifixo. Este olhar trazia-lhe consolo e coragem para vencer todas as dificuldades. “Um único olhar sobre a imagem do Crucificado – confessou a mesma – tira-me toda a aflição e suaviza-me o sofrimento“.
Fonte: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.