Santa Lúcia Filippini

26 de Março

Santa Lúcia Filippini

Lúcia nasceu no dia 13 de janeiro de 1672, em Corneto Tarquínia, proximidades de Roma, numa família honrada e abastada. Quando ainda tinha um ano de idade, perdeu a mãe, que faleceu com apenas 27 anos de idade, e alguns anos mais tarde, o pai. Passou a viver com os tios e foi entregue, para ser formada e educada, às Irmãs beneditinas e junto delas a menina descobriu o dom que tinha para ensinar.
Seu amor a Jesus na Eucaristia era tão grande que não passava dia sem que O fosse visitar no tabernáculo.
Muito dedicada aos estudos da Sagrada Escritura, e com a alma cheia de caridade, tomou para si, ainda no início da adolescência a função de ensinar o catecismo às crianças. Tantos eram os pequenos que a procuravam e tão cativante era sua forma de transmitir as verdades de nossa Fé, que logo o padre do local a nomeou oficialmente a catequista paroquial.
Quando Lucia tinha 16 anos, passou pela sua cidade o Cardeal Marcantonio Barbarigo. O Cardeal benevolentemente concedeu-lhe uma audiência: ficou surpreendido com a simplicidade, com o candor, com a sensatez de Lúcia e dela ouviu os votos e as aspirações. Pouco tempo depois, com o consentimento dos tios, chamou-a a Montefiascone, destinando-a ao Mosteiro de Santa Clara, onde com o estudo e a oração ela se preparava para a missão que Deus lhe reservara.
Lúcia contava apenas com vinte anos; está no pleno vigor de suas forças e já preparada para um novo gênero de apostolado, planejado pelo zeloso Purpurado. Foi colocada na liderança de uma missão que o cardeal julgava essencial para corrigir os costumes cristãos de sua diocese: fundar escolas católicas em diversas cidades. Lúcia, em sua humildade, a princípio relutou, achando que a função estava acima de suas possibilidades. Mas o cardeal insistiu e ela iniciou seu trabalho que duraria quarenta anos.
Iluminar as inteligências e elevar os corações era o seu ideal nobre. Com a ajuda do Cardeal Barbarigo, tendo como respaldo a regra da Beata Rosa Venerini e com a colaboração de uma grande dama, ela realizou seu plano apostólico, dando origem ao ministério educacional benéfico e nunca suficientemente louvado.
A missão exigiu imensos esforços, tantos foram os sacrifícios a que teve de se submeter, mas nada a afastou da tarefa recebida. Nas próximas quatro décadas preparou professoras, catequistas, fundou escolas e organizou-as em muitas cidades e dioceses. Quando o Cardeal Barbarigo faleceu, as dificuldades aumentaram. Lúcia uniu-se então a outras professoras e catequistas, juntando todas numa congregação: fundou em 1692 o Instituto das Professoras Pias.
A fama do seu trabalho chegou ao Vaticano e em 1707, o Papa Clemente XI pediu para que Lúcia criasse uma de suas escolas em Roma.
O nome e a santidade da jovem apóstola se expandem por todo o Lácio. O Papa Clemente XI a chama a Roma: Lúcia, acompanhada de algumas Irmãs, parte de Montefiascone para a Cidade Eterna, colocando-se à inteira disposição de Sua Santidade. Também em Roma o Instituto das Mestras Pias se afirma e adquire maior prestígio. E até hoje continua a dar copiosos frutos. 
Muito embora estivesse sobrecarregada de obrigações, achava sempre tempo para atender a obras de misericórdia. Seguia exatamente aquilo que o Papa Clemente XI lhe havia dito na primeira audiência: “Onde há um pobre a socorrer, ali está Jesus”.
Um dia, surpreendida por um pavoroso tufão, invoca a ajuda divina e logo após o tempo serena. Outra vez, com o sinal da cruz cura uma mulher a que se devia amputar um braço.
Ela vivia só e inteiramente para Deus, alegre por poder cumprir Sua santíssima Vontade. Todos os dias recebia Jesus na Eucaristia, porque, sem Jesus, aquele dia era considerado perdido para ela.
Lúcia Filippini faleceu aos sessenta anos, no dia 25 de março de 1732, de câncer, mas docemente e feliz pela sua vida entregue à Deus e às crianças, sementes das novas famílias que são a seiva da sociedade. Seu corpo descansa na catedral de Montefiascone, onde começaram as escolas católicas do Instituto das Professoras Pias Filippinas, como são chamadas atualmente.
A festa litúrgica à Santa Lúcia Filippini foi marcada para o dia 26 de março pelo Papa Pio XI, na solenidade de sua canonização, em 22 de junho de 1930. Pio XI exaltou a nobre figura de Santa Lúcia Filippini, e à Itália e ao mundo proclamou sua santidade, associando-a ao apostolado de Rosa de Viterbo e Catarina de Sena.
O Instituto das Mestras Pias Filippini tem por objetivo a educação, a instrução moral e civil da juventude. Hoje, as escolas das professoras pias filippinas, além de atuarem em toda a Itália, estão espalhadas por todo território norte-americano, num trabalho muito frutífero junto à comunidade católica.
Fonte: http://heroinasdacristandade.blogspot.com

A Vocação de Nossa Senhora

– O exemplo de Nossa Senhora.
– Corresponder à nossa vocação.
– O sim que o Senhor nos pede.

I. ENTRANDO NESTE MUNDO, disse o Senhor: Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade 1. A Anunciação e Encarnação do Filho de Deus é o acontecimento mais maravilhoso e extraordinário, o mistério mais tocante das relações entre Deus e os homens e o mais transcendental da humanidade: Deus faz-se homem para sempre!

No entanto, esse evento deu-se num pequeno povoado de um país praticamente desconhecido no seu tempo. Em Nazaré, “aquele que é Deus verdadeiro nasce como homem verdadeiro, sem que nada falte à integridade da sua natureza humana, conservando a totalidade da essência que lhe é própria e assumindo a totalidade da nossa essência humana, para restaurá-la” 2.

São Lucas narra com simplicidade esse supremo acontecimento: Estando Isabel no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria 3. A piedade popular representou Santa Maria recolhida em oração no momento em que recebia a embaixada do anjo: Salve, cheia de graça, o Senhor é contigo. A nossa Mãe perturbou-se ao ouvir essas palavras, mas a perturbação não a deixou paralisada. Maria conhecia bem a Escritura pela instrução que todos os judeus recebiam desde os primeiros anos e, sobretudo, pela clareza e penetração que lhe davam a sua fé incomparável, o seu profundo amor e os dons do Espírito Santo. Por isso entendeu a mensagem daquele enviado de Deus e a sua alma abriu-se completamente ao que o Senhor lhe ia pedir.

O Anjo apressa-se a tranqüilizá-la e desvenda-lhe os desígnios de Deus sobre Ela, a sua vocação: Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; e Ele reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.

“O mensageiro saúda Maria como a cheia de graça; e chama-a assim como se esse fosse o seu verdadeiro nome. Não a chama pelo nome próprio: “Miryam” (Maria), mas por um nome novo: cheia de graça. E o que significa esse nome? Por que é que o arcanjo chama desse modo a Virgem de Nazaré?

“Na linguagem da Bíblia, «graça» significa um dom especial que, segundo o Novo Testamento, tem a sua fonte na vida trinitária do próprio Deus, que é amor (cfr. 1 Jo 4, 8)” 4. Maria é chamada cheia de graça porque esse nome designa o seu verdadeiro ser. Quando Deus muda o nome de uma pessoa ou lhe acrescenta um sobrenome, destina-a para algo de novo ou descobre-lhe a sua verdadeira missão na história da Salvação. Maria é chamada cheia de graça, agraciadíssima, em virtude da sua Maternidade divina.

O anúncio do Anjo descobre a Maria a sua missão no mundo, a chave de toda a sua existência. A Anunciação foi para Ela uma iluminação perfeitíssima que banhou toda a sua vida e a tornou plenamente consciente do seu papel excepcional na história da humanidade. “Maria é introduzida definitivamente no mistério de Cristo por meio desse acontecimento” 5.

Todos os dias – no Angelus –, muitos cristãos em todo o mundo recordam à Virgem esse acontecimento que foi inefável para Ela e para toda a humanidade. Procuremos introduzir-nos nessa cena e contemplar a Senhora que abraça com amorosa piedade a santa vontade de Deus. “Como enamora a cena da Anunciação! – Maria – quantas vezes temos meditado nisso! – está recolhida em oração..., aplica os seus cinco sentidos e todas as suas potências na conversa com Deus. Na oração conhece a Vontade divina; e com a oração converte-a em vida da sua vida. Não esqueças o exemplo de Nossa Senhora!” 6

II. EIS-ME AQUI para fazer a tua vontade 7.

A Santíssima Trindade tinha traçado um plano para Nossa Senhora, um destino único e absolutamente excepcional: ser a Mãe do Deus encarnado. Mas Deus pede a Maria que o aceite livremente. Maria não duvidou das palavras do anjo, como tinha feito Zacarias; manifesta, no entanto, a incompatibilidade entre a sua decisão de viver sempre a virgindade, que o próprio Deus lhe inspirara, e a concepção de um filho. É então que o Anjo lhe anuncia em termos claros e sublimes que será mãe sem perder a virgindade: O Espírito Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso o Santo que de ti há de nascer será chamado Filho de Deus.

Maria escuta e pondera no seu coração essas palavras. Não há a menor resistência na sua inteligência e no seu coração: tudo está aberto à vontade divina, sem restrição nem limitação alguma. Este abandono em Deus é o que faz a alma de Maria ser boa terra, capaz de receber a semente divina 8Ecce ancilla Domini..., eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra. Nossa Senhora aceita com imensa alegria não ter outro querer senão o do seu Amo e Senhor, que desde aquele momento é também seu Filho, feito homem nas suas entranhas puríssimas.

Entrega-se sem limitação alguma, sem querer fixar condições, com júbilo e livremente. “Assim Maria, filha de Adão, consentindo na palavra divina, converteu-se em Mãe de Jesus. E, abraçando a vontade salvífica de Deus de todo o coração e sem obstáculo de pecado algum, consagrou-se totalmente como serva do Senhor à pessoa e obra do seu Filho, servindo o mistério da redenção sob Ele e com Ele, por graça de Deus onipotente. É por isso que os Santos Padres pensam com razão que Maria não foi um instrumento puramente passivo nas mãos de Deus, mas cooperou para a salvação humana com livre fé e obediência” 9.

A vocação de Santa Maria é o exemplo perfeito de toda a vocação, da chamada divina à luz da qual se entende a vida e os acontecimentos que a rodeiam, e que abre à pessoa o caminho para o Céu e para a sua plenitude sobrenatural e humana. A vocação não é tanto a escolha que a pessoa faz, como a que Deus faz da pessoa, por meio de mil circunstâncias que ela deve interpretar com fé e com um coração limpo e reto. Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi 10.

“Toda a vocação, toda a existência, é por si mesma uma graça que encerra em si muitas outras. Uma graça, isto é, um dom, algo que se nos dá, que nos é presenteado sem direito algum da nossa parte, sem mérito próprio que o motive ou – menos ainda – justifique. Não é necessário que a vocação, a chamada para o cumprimento de um desígnio, a missão atribuída por Deus, seja grande ou brilhante: basta que Deus tenha querido servir-se de nós, basta o fato de que confia na nossa colaboração. Isto é já em si mesmo tão inaudito, tão grandioso, que toda uma vida dedicada ao agradecimento não seria suficiente para corresponder” 11.

Hoje será muito grato a Deus que agradeçamos as incontáveis luzes com que Ele foi balizando o itinerário da nossa chamada, e que o façamos por meio dAquela que correspondeu tão fiel e prontamente ao que o Senhor lhe pedia.

III. NE TIMEAS...Não temas. Aqui radica o elemento constitutivo da vocação. Com efeito, o homem teme. Teme ser chamado não só ao sacerdócio, mas também à vida, às suas obrigações, a uma profissão, ao matrimônio. Este temor põe a descoberto um sentido de responsabilidade imaturo. É preciso superar o temor para chegar a uma responsabilidade madura: é preciso aceitar a chamada, escutá-la, assumi-la, ponderá-la conforme as nossas luzes e responder: Sim, sim.

“Não temas, não temas, pois achaste a graça, não temas a vida, não temas a tua maternidade, não temas o teu matrimônio, não temas o teu sacerdócio, pois encontraste a graça. Esta certeza, esta consciência ajuda-nos da mesma forma que ajudou Maria. Efetivamente, «a terra e o paraíso esperam o teu sim, ó Virgem Puríssima». São palavras de São Bernardo, famosas e formosíssimas palavras. Esperam o teu sim, Maria. Esperam o teu sim, mãe de família que vais ter mais um filho; esperam o teu sim, homem que deves assumir uma responsabilidade pessoal, familiar e social... Esta é a resposta de Maria, a resposta de uma mãe, a resposta de um jovem: um sim para toda a vida” 12, que nos compromete gozosamente.

Mas Deus não quer um “sim” qualquer. A resposta de Maria – fiat, faça-se – é muito mais definitiva que um simples sim dito impensadamente, ou pela emoção do momento, ou com reservas mentais. A resposta de Maria significou a entrega total da sua vontade ao que Deus lhe pedia naquele momento e ao longo de toda a vida. Este fiat terá a sua culminância no Calvário quando, junto da Cruz, a Mãe se oferecer juntamente com o Filho. O sim que o Senhor nos pede, a cada um no seu próprio caminho, prolonga-se por toda a vida em chamadas sucessivas que, ao longo dos acontecimentos, são por sua vez preparação para as seguintes.

O sim a Jesus leva-nos a não pensar em nós mesmos e a estar atentos, com o coração vigilante, ao lugar de onde vem a voz do Senhor que nos vai detalhando o caminho que nos traça. E nesta correspondência amorosa vão-se entrelaçando, a cada momento e em perfeita harmonia, a nossa liberdade e a vontade divina.

Peçamos hoje a Nossa Senhora o desejo sincero e grande de conhecermos em toda a sua profundidade a vocação a que nos chama, e depois luz e força para correspondermos aos sucessivos desdobramentos dessa chamada. Que saibamos dar sempre – é o que pedimos – uma resposta rápida e firme em cada circunstância, pois somente a vocação fielmente sustentada ao longo dos dias e dos anos é que preenche uma vida e lhe dá sentido.

(1) Hebr 10, 5-7; (2) Liturgia das Horas, Segunda Leitura, São Leão Magno, Carta 28 a Flaviano, 3; (3) Lc 1, 26-37; (4) João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 25-III-1987, 8; (5) ib.; (6) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 481; (7) Sl 39, 7; Salmo responsorial da Missa do dia 25 de março; (8) cfr. M. D. Phillipe, Mistério de Maria, Rialp, Madrid, 1986, pág. 108; (9) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 56; (10) Jo 15, 16; (11) F. Suárez, A Virgem Nossa Senhora; (12) João Paulo II, Alocução, 25-III-1982.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


25 de Março 2020

A SANTA MISSA

Anunciação do Senhor – Solenidade 
Cor: Branca

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1ª Leitura: Is 7,10-14; 8,10

Eis que uma virgem conceberá. 

Leitura do Livro do Profeta Isaías

Naqueles dias, 1 o Senhor falou com Acaz, dizendo: 11 “Pede ao Senhor teu Deus que te faça ver um sinal, quer provenha da profundeza da terra, quer venha das alturas do céu”. 12 Mas Acaz respondeu: “Não pedirei nem tentarei o Senhor”. 13 Disse o profeta: “Ouvi então, vós, casa de Davi; será que achais pouco incomodar os homens e passais a incomodar até o meu Deus? 14 Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel, 8,10 porque Deus está conosco.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 39(40),7-8a.8b-9.10,11 (R. 8a.9a)

R. Eis que venho fazer, com prazer,
a vossa vontade, Senhor!

7 Sacrifício e oblação não quisestes, *
mas abristes, Senhor, meus ouvidos;
não pedistes ofertas nem vítimas, +
holocaustos por nossos pecados, *
8a E então eu vos disse: “Eis que venho!”      R.

8b Sobre mim está escrito no livro: +
9 “Com prazer faço a vossa vontade, *
guardo em meu coração vossa lei!”      R.

10 Boas-novas de vossa justiça +
anunciei numa grande assembleia; *
vós sabeis: não fechei os meus lábios!      R.

11 Proclamei toda a vossa justiça, +
sem retê-la no meu coração; *
vosso auxílio e lealdade narrei.
Não calei vossa graça e verdade *
na presença da grande assembleia.      R.

2ª Leitura: Hb 10,4-10

No livro está escrito a meu respeito:
Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade. 

Leitura da Carta aos Hebreus

Irmãos: 4 É impossível eliminar os pecados com o sangue de touros e bodes. 5 Por isso, ao entrar no mundo, Cristo afirma: “Tu não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste-me um corpo. 6 Não foram do teu agrado holocaustos nem sacrifícios pelo pecado. 7 Por isso eu disse: Eis que eu venho. No livro está escrito a meu respeito: Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade”. 8 Depois de dizer: “Tu não quiseste nem te agradaram vítimas, oferendas, holocaustos, sacrifícios pelo pecado” coisas oferecidas segundo a Lei – 9 ele acrescenta: “Eu vim para fazer a tua vontade”. Com isso, suprime o primeiro sacrifício, para estabelecer o segundo. 10 É graças a esta vontade que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas.

– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.

 

Evangelho: Lc 1,26-38 

Eis que conceberás e darás à luz um filho. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo: 26 O anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27 a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da virgem era Maria 28 O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’ 29 Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. 30 O anjo, então, disse-lhe: ‘Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. 31 Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. 32 Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. 33 Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim’. 34 Maria perguntou ao anjo: ‘Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?’ 35 O anjo respondeu: ‘O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. 36 Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, 37 porque para Deus nada é impossível’. 38 Maria, então, disse: ‘Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!’ E o anjo retirou-se.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Anunciação do Senhor

25 de Março

Anunciação do Senhor

Antiquíssima é a festa que a Igreja celebra hoje, e tem o nome de Anunciação do Senhor pelo seguinte motivo: Estava no plano de Deus, que a segunda Pessoa da Santíssima Trindade salvasse o gênero humano e para este fim tomasse a natureza humana. Tendo chegado o momento escolhido desde a eternidade para a realização deste grande mistério, o Arcanjo São Gabriel foi incumbido da missão de comunica-lo a Maria, santa donzela, que residia em Nazaré e que era descendente do rei Davi.

A Virgem, por Deus tão privilegiada, achava-se em oração, quando o Arcanjo entrou no seu aposento. Não é destituída de razão a opinião de Santos Padres que supõem que o objeto da oração de Maria tivesse sido o que interessava vivamente a nação inteira: a vinda do Messias. O Arcanjo saudou-a com estas palavras : “Ave, Maria, cheia sois de graça, o Senhor é convosco ; bendita sois entre as mulheres”.  Maria, ao ouvir esta saudação, assustou-se. O Arcanjo, porém, prosseguiu: "Nada temais, Maria! Achastes graça diante de Deus. Eis, concebereis e dareis á luz um filho a quem poreis o nome de Jesus. Este será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo e Deus lhe dará o trono de seu pai Davi e ele reinará eternamente na casa de Davi e seu reinado não terá fim”.

O que se passou na alma da Santíssima Virgem, ao ouvir estas palavras, das quase cada uma encerra um mistério insondável, é mais fácil imaginar-se do que exprimir-se em palavras. Maria não se perturbou e perguntou ao Arcanjo: “Como se fará isto, visto que eu não conheço homem?” Estas palavras não eram a expressão duma dúvida que a SS. Virgem tivesse do que o Arcanjo dissera: eram antes a linguagem ela humildade, que não podia supor que Deus a tivesse escolhido para tão alta dignidade, eram ainda o reflexo da sua perplexidade, em não saber como havia de conciliar a maternidade com a virgindade votada a Deus.

São Gabriel esclareceu-a imediatamente sobre este ponto, mostrando-lhe que ser mãe não implicaria seu estado de virgem e disse: “O Espírito Santo virá sobre vós e a virtude do Altíssimo vos cobrirá”. Ao ouvir esta declaração, Maria Santíssima, com toda humildade se sujeitou á vontade divina e disse: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo vossa palavra.” No mesmo momento realizou-se o grande mistério da Encarnação. O Verbo de Deus se fez carne, o verdadeiro Filho de Deus tomou a natureza humana. A palavra de Maria significava para Deus a maior humilhação, para ela, porém, a elevação á mais alta dignidade. O Filho unigênito de Deus se fez homem; Maria Santíssima veio a ser Mãe de Deus, sem com isto perder sua virgindade.

O dia da Anunciação foi o grande dia, pois que o anelava o mundo inteiro. No dia de hoje se realizaram os desejos, suspiros e profecias dos patriarcas e profetas do antigo Testamento. Maria, tão privilegiada por Deus, escolhida entre as demais mulheres, merece toda a nossa veneração. É opinião de Santo Anselmo e de outros Santos Padres que criatura alguma em tempo algum alcançou tão alta dignidade como Maria Santíssima, sendo Mãe do Altíssimo. Como Mãe de Jesus Cristo ela está acima de todos os anjos e santos do céu, que nela reconhecem e veneram sua gloriosa Rainha. Como bons católicos devemos ser filhos gratos e devotos de Maria Santíssima. No momento em que ela foi elevada á dignidade de Mãe de Deus, ficou sendo também nossa Mãe, porque, pela Encarnação, Jesus Cristo se dignou ser nosso irmão.

Fonte: Na luz Perpétua, Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1928.


Luta paciente contra os defeitos

TEMPO DA QUARESMA. QUARTA SEMANA. TERÇA-FEIRA

– O paralítico de Betesda. Constância na luta e nos desejos de melhorar.
– Ser pacientes na luta interior. Voltar para o Senhor todas as vezes que for preciso.
– Paciência com os outros. Contar com os seus defeitos. Pacientes e constantes no apostolado.

I. O EVANGELHO DA MISSA de hoje apresenta-nos um homem que estava doente havia trinta e oito anos, e que esperava a sua cura milagrosa das águas da piscina de Betesda 1Jesus, vendo-o deitado e sabendo que já havia muito tempo que estava enfermo, perguntou-lhe: Queres ficar curado?

O enfermo falou-lhe com toda a simplicidade: Senhor, não tenho ninguém que me meta no tanque, quando a água é agitada; enquanto vou, já outro desceu antes de mim. Ordenou-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda. O paralítico obedeceu: E no mesmo instante aquele homem ficou curado, tomou o seu leito e começou a andar.

O Senhor está sempre disposto a escutar-nos e a dar-nos em cada situação aquilo de que precisamos. A sua bondade supera sempre os nossos cálculos; mas quer a nossa correspondência pessoal, o nosso desejo de sair da situação em que nos encontramos, que não pactuemos com os nossos defeitos ou erros e que nos esforcemos por superá-los.

Não podemos “conformar-nos” nunca com deficiências e fraquezas que nos separam de Deus e dos outros, dizendo que fazem parte da nossa maneira de ser, que já tentamos combatê-los outras vezes e não tivemos resultados positivos...

Cristo pede-nos perseverança para lutar e recomeçar quantas vezes for necessário, sabendo que é nessa luta que está o amor. “O Senhor não pergunta ao paralítico para saber – era supérfluo –, mas para mostrar a paciência daquele homem que, durante trinta e oito anos, sem se deixar abater, insistiu, esperando ver-se livre da sua doença” 2.

O nosso amor a Cristo manifesta-se na decisão e no esforço por arrancar quanto antes o defeito dominante ou por alcançar determinada virtude difícil de conseguir. Mas também se manifesta na paciência com que devemos lutar interiormente: é possível que o Senhor nos peça um longo período de luta, talvez trinta e oito anos, para crescer em determinada virtude ou para superar certo aspecto negativo da nossa vida interior.

Um conhecido autor espiritual indica a importância de sabermos ter paciência com os nossos defeitos; diz ele que devemos cultivar a arte de aproveitar as nossas faltas 3. Não podemos surpreender-nos se, tendo lançado mão de todos os meios que estão razoavelmente ao nosso alcance, não acabamos de atingir determinada meta espiritual que nos tínhamos proposto. Não devemos “acostumar-nos” às nossas faltas, mas podemos aproveitá-las para crescer em verdadeira humildade, em experiência, em maturidade de juízo...

Este homem que o Evangelho da Missa nos apresenta foi perseverante durante trinta e oito anos, e não nos custa admitir que continuaria a sê-lo até o fim da vida. O prêmio dado à sua constância foi, antes de mais nada, o encontro com Cristo.

II. TENDE, POIS, PACIÊNCIA, meus irmãos, até que o Senhor chegue. Vede como o lavrador aguarda com esperança o precioso fruto da terra, e tem paciência até receber as chuvas do outono e da primavera 4.

É necessário saber esperar e lutar com paciente perseverança, convencidos de que assim agradamos a Deus. “É preciso sofrer com paciência – diz São Francisco de Sales – as demoras na nossa perfeição, fazendo sempre o que possamos por progredir e com bom ânimo. Esperemos com paciência, e, ao invés de nos inquietarmos por termos feito tão pouco no passado, procuremos com diligência fazer mais no futuro” 5.

Além disso, normalmente, não se consegue adquirir uma virtude com violentos esforços esporádicos, mas com a continuidade na luta, com a constância nas nossas tentativas diárias, ajudados pela graça. “Nas batalhas da alma, a estratégia é muitas vezes questão de tempo, de aplicar o remédio conveniente, com paciência, com teimosia. Aumentai os atos de esperança. Quero lembrar-vos que, na vida interior, sofrereis derrotas, ou passareis por altos e baixos – Deus permita que sejam imperceptíveis –, porque ninguém está livre desses percalços. Mas o Senhor, que é onipotente e misericordioso, concedeu-nos os meios idôneos para vencer. Basta que os utilizemos [...] com a resolução de começar a cada instante, se for preciso” 6.

A alma da constância é o amor; só por amor se pode ser paciente 7 e lutar, sem aceitar os defeitos e as falhas como coisa inevitável e sem remédio. Não podemos ser como aqueles a quem, depois de muitas batalhas e pelejas, “acabou-se-lhes o esforço, faltou-lhes o ânimo” quando estavam “a dois passos da fonte de água viva” 8.

Ser paciente no trabalho de arrancar as más tendências e os defeitos do caráter significa também apresentar-se muitas vezes diante do Senhor como aquele servo que não tinha com que pagar 9: humildemente, pedindo novas graças. Na nossa caminhada para o Senhor, sofreremos abundantes derrotas, mas o desagravo e a contrição nos aproximarão ainda mais de Deus. Esta dor e arrependimento pelos nossos pecados e deficiências não são tristes, porque são dor e lágrimas de amor. São o pesar de não estarmos retribuindo ao Senhor todo o Amor de que Ele nos cerca, a dor de estarmos devolvendo mal por bem Àquele que nos ama tanto.

III. ALÉM DE SERMOS PACIENTES conosco próprios, temos que sê-lo com as pessoas das nossas relações, sobretudo se temos mais obrigação de ajudá-las na sua formação, numa doença etc. Devemos contar com os defeitos dos que nos rodeiam. A compreensão e a fortaleza ajudar-nos-ão a ter calma, a esperar um pouco de tempo antes de corrigi-los, a dar uma resposta afetuosa, a sorrir... Tudo isso pode permitir que as nossas palavras consigam chegar ao coração dessas pessoas, que de outra forma permaneceriam fechadas, e que as ajudemos muito mais, com maior eficácia.

A impaciência dificulta a convivência e inutiliza a possível ajuda e a correção. “Continua a fazer as mesmas exortações – recomenda-nos São João Crisóstomo –, e nunca com preguiça; atua sempre com amabilidade e graça. Não vês com que esmero os pintores ora apagam os traços que fazem, ora os retocam, quando retratam um belo rosto? Não te deixes superar pelos pintores. Pois se eles põem tanto cuidado na pintura de uma imagem corporal, com maior razão nós, que procuramos formar a imagem de uma alma, devemos pôr todo o empenho em terminá-la com perfeição” 10.

Devemos ser especialmente constantes e pacientes na ação apostólica. As pessoas necessitam de tempo para chegar a Deus, e Deus tem paciência: Ele nos dá a cada momento a sua graça, perdoa-nos e anima-nos a continuar. Se teve e tem conosco essa paciência sem limites, nós devemos tê-la com os amigos que queremos levar ao Senhor, ainda que algumas vezes pareça que não nos escutam, que não se interessam pelas coisas de Deus. Não os abandonemos por isso. Nessas ocasiões, ser-nos-á necessário intensificar a oração e a mortificação, como também a nossa caridade e a nossa amizade sincera.

Nenhum dos nossos amigos, em momento algum da sua vida, deveria poder fazer sua a resposta daquele homem paralítico ao Senhor: Não tenho ninguém que me ajude. Porque “é o que poderiam afirmar – infelizmente! – muitos doentes e paralíticos do espírito, que podem servir... e devem servir. – Senhor: que eu nunca fique indiferente diante das almas” 11, pedimos-lhe hoje.

Examinemos agora na nossa oração se nos preocupamos com as pessoas que nos acompanham ao longo da nossa vida: se nos preocupamos pela sua formação ou se, pelo contrário, nos acostumamos aos seus defeitos como se não tivessem remédio; e, ao mesmo tempo, vejamos se somos pacientes.

Para todos os males da humanidade, o remédio é Jesus Cristo. Todos podemos encontrar nEle a salvação e a vida. Ele é a fonte das águas que tudo vivificam. É o que nos diz o profeta Ezequiel na leitura da Missa: Estas águas, disse-me ele, correm para a parte oriental; elas descerão até à planície do Jordão e se lançarão ao mar de águas pútridas e o purificarão. Por toda a parte onde desembocar a corrente, todos os animais que se movem na água poderão viver, e haverá lá grande quantidade de peixes. Lá onde esta água chegar, o mar ficará limpo, e onde a corrente chegar, haverá vida 12. Cristo converte em vida o que antes era morte, e em virtude as deficiências e os erros.

(1) Jo 5, 1-16; (2) São João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de São João, 36; (3) J. Tissot, El arte de aprovechar nuestras faltas, 6ª ed., Palabra, Madrid, 1976; (4) Ti 5, 7; (5) J. Tissot, op. cit., pág. 32; (6) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 219; (7) cfr. São Tomás, Suma Teológica, 2-2, q. 136, a. 3; (8) cfr. Santa Teresa, Caminho de perfeição, 19, 2; (9) cfr. Mt 18, 23 e segs.; (10) São João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de São Mateus, 30; (11) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 212; (12) Ez 47, 8-9.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


24 de Março 2020

A SANTA MISSA

4ª Semana da Quaresma – Terça-feira 
Cor: Roxa

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1ª Leitura: Ez 47,1-9.12

 Vi sair água do lado direito do templo,
e todos os que esta água tocou foram salvos. 
 

Leitura da Profecia de Ezequiel

Naqueles dias: 1 O anjo fez-me voltar até a entrada do Templo e eis que saia água da sua parte subterrânea na direção leste, porque o Templo estava voltado para o oriente; a água corria do lado direito do Templo, a sul do altar. 2 Ele fez-me sair pela porta que dá para o norte, e fez-me dar uma volta por fora, até à porta que dá para o leste, onde eu vi a água jorrando do lado direito. 3 Quando o homem saiu na direção leste, tendo uma corda de medir na mão, mediu quinhentos metros e fez-me atravessar a água: ela chegava-me aos tornozelos. 4 Mediu outros quinhentos metros e fez-me atravessar a água: ela chegava-me aos joelhos. 5 Mediu mais quinhentos metros e me fez-me atravessar a água: ela chegava-me à cintura. Mediu mais quinhentos metros, e era um rio que eu não podia atravessar. Porque as águas haviam crescido tanto, que se tornaram um rio impossível de atravessar, a não ser a nado. 6 Ele me disse: ‘Viste, filho do homem?’ Depois fez-me caminhar de volta pela margem do rio. 7 Voltando, eu vi junto à margem muitas árvores, de um e de outro lado do rio. 8 Então ele me disse: ‘Estas águas correm para a região oriental, descem para o vale do Jordão, desembocam nas águas salgadas do mar, e elas se tornarão saudáveis. 9 Onde o rio chegar, todos os animais que ali se movem poderão viver. Haverá peixes em quantidade, pois ali desembocam as águas que trazem saúde; e haverá vida onde chegar o rio. 12 Nas margens junto ao rio, de ambos os lados, crescerá toda espécie de árvores frutíferas; suas folhas não murcharão e seus frutos jamais se acabarão: cada mês darão novos frutos, pois as águas que banham as árvores saem do santuário. Seus frutos servirão de alimento e suas folhas serão remédio’.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

 

Salmo Responsorial: Sl 45, 2-3. 5-6. 8-9 (R. 8)

R. Conosco está o Senhor do Universo!
O nosso refúgio é o Deus de Jacó.

2 O Senhor para nós é refúgio e vigor, *
sempre pronto, mostrou-se um socorro na angústia;
3 assim não tememos, se a terra estremece, *
se os montes desabam, caindo nos mares.     R.

5 Os braços de um rio vêm trazer alegria *
à Cidade de Deus, à morada do Altíssimo.
6 Quem a pode abalar? Deus está no seu meio! *
Já bem antes da aurora, ele vem ajudá-la.      R.

8 Conosco está o Senhor do universo! *
O nosso refúgio é o Deus de Jacó!
9 Vinde ver, contemplai os prodígios de Deus *
e a obra estupenda que fez no universo.      R. 

Evangelho: Jo 5,1-16 

 No mesmo instante o homem ficou curado. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João

1 Houve uma festa dos judeus, e Jesus foi a Jerusalém. 2 Existe em Jerusalém, perto da porta das Ovelhas, uma pscina com cinco pórticos, chamada Betesda em hebraico. 3 Muitos doentes ficavam ali deitados -cegos, coxos e paralíticos -, esperando que a água se movesse. 4 De fato, uma anjo descia, de vez em quando, e movimentava a água da piscina, e o primeiro doente que aí entrasse, depois do borbulhar da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse. 5 Aí se encontrava um homem, que estava doente havia trinta e oito anos. 6 Jesus viu o homem deitado e sabendo que estava doente há tanto tempo, disse-lhe: ‘Queres ficar curado?’ 7 O doente respondeu: ‘Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água é agitada. Quando estou chegando, outro entra na minha frente’. 8 Jesus disse: ‘Levanta-te, pega na tua cama e anda.’ 9 No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou na sua cama e começou a andar. Ora, esse dia era um sábado. 10 Por isso, os judeus disseram ao homem que tinha sido curado: ‘É sábado! Não te é permitido carregar tua cama.’ 11 Ele respondeu-lhes: ‘Aquele que me curou disse: ‘Pega tua cama e anda’.’ 12 Então lhe perguntaram: ‘Quem é que te disse: ‘Pega tua cama e anda?’ 13 O homem que tinha sido curado não sabia quem fora, pois Jesus se tinha afastado da multidão que se encontrava naquele lugar. 14 Mais tarde, Jesus encontrou o homem no Templo e lhe disse: ‘Eis que estás curado. Não voltes a pecar, para que não te aconteça coisa pior’. 15 Então o homem saiu e contou aos judeus que tinha sido Jesus quem o havia curado. 16 Por isso, os judeus começaram a perseguir Jesus, porque fazia tais coisas em dia de sábado.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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São Gabriel Arcanjo

24 de Março

São Gabriel Arcanjo

Originalmente a Festa de São Gabriel Arcanjo foi, para o Rito Romano, marcada para a véspera da Anunciação de Nossa Senhora, ou seja, em 24 de março. Data esta ainda observada no Santoral antigo.

São Gabriel (confidente de Deus) é um dos anjos que assistem diante de Deus (Lc 1, 19). São João Evangelista fala diversas vezes nos sete espíritos, nos sete anjos que viu em pé diante de Deus. (Apoc 1, 4–8; 2). Com razão São Gabriel é chamado o anjo da Redenção, porque sua Missão, tanto no Antigo como no Novo Testamento, se relaciona com a vinda do Salvador.

Ao profeta Daniel foi o arcanjo Gabriel que lhe explicou a visão que teve do carneiro e do bode (Dn 8, 1). Importantes são as revelações sobre a época de o Messias aparecer, contidas ao capítulo 9 do mesmo livro. É o mesmo arcanjo Gabriel que apareceu ao sacerdote Zacarias, quando este prestava o serviço de levita no templo. Da boca do arcanjo o sacerdote ouviu a anunciação do nascimento de São João Batista, precursor do Messias. Pondo em dúvida a veracidade da mensagem celeste, e argumentando com a idade provecta sua e da sua esposa, Gabriel revelou-lhe seu nome e também lhe infligiu uma mudez que se prolongou até o nascimento de São João Batista. (cf. Lc 1, 5-23).

Sua maior e mais nobre missão, porém, foi a de levar à Bem-aventurada Virgem Maria a mensagem da Encarnação do Verbo Divino no seu castíssimo seio. São Lucas, no capítulo 2 de seu Evangelho, descreve magistralmente o modo como o excelso Príncipe do céu se desempenhou desta augustíssima tarefa.

Se o arcanjo Gabriel teve outras missões ainda relativas à vida de Nosso Senhor, nós não sabemos. Não é improvável que tenha sido ele quem aos pastores de Belém trouxe a Boa Nova do nascimento de Jesus; improvável não é que do Anjo São Gabriel os reis Magos receberam o aviso de não voltar a Jerusalém; que tenha sido o mesmo Anjo, que a São José deu a ordem de fuga para o Egito, e mais tarde, de retornar para Nazaré (Mt 2, 13-20). Não está fora de propósito supor que tenha sido Gabriel o consolador de Jesus no horto das Oliveiras (Lc 22, 43) e quem às santas mulheres anunciou a ressurreição gloriosa do Mestre (Mt 28, 2-5). Seja como for, das Sagradas Escrituras sabemos que São Gabriel é o anjo que mais íntimo contato apareceu com o mistério da Anunciação, e portanto de preferência merece o belo título de anjo da Encarnação de Cristo.

As razões porque São Gabriel foi por Deus escolhido para desempenhar tão alta missão, encontramo-las no próprio amor divino, e na predileção de Deus por esta sublime criatura celeste. Nada impede supor que São Gabriel tenha sido dono de qualidades especiais, que mais do que a qualquer outro anjo o indicaram para tão elevada incumbência. Como São Miguel se distinguiu por uma fidelidade sem par a Deus, cuja autoridade defendeu contra os anjos rebeldes, assim pode ser que, ao lado do arcanjo batalhador, fosse São Gabriel a revelar um amor extraordinário e dedicação especial a Deus Filho, futuro Salvador, em cuja Encarnação os maus espíritos encontraram o que os escandalizasse. Se assim foi, como asseveram abalizados teólogos, a missão confiada a Gabriel constitui uma recompensa bem merecida pela sua fidelidade e amor ao Salvador. Era bem digno pois de ser intermediário entre Deus e a Virgem Imaculada.

Por sua alta posição no céu e seus extraordinários merecimentos que tem em relação ao Salvador, à Santa Igreja e a todos nós, São Gabriel é credor da nossa veneração e gratidão.

Por três modos nos é dado cumprir este nosso dever junto ao grande arcanjo. Primeiro, dando graças a Deus por ter designado este seu mensageiro e o ter adornado de tantos dons e com tanta magnificência. Como todos os santos anjos, São Gabriel nos honra, nos ama, e sempre pronto está para nos beneficiar, visto que o próprio Deus tanto nos tem honrado e amado. “Os Anjos”, diz São Paulo, “são enviados para exercer o seu ministério ajudando-nos a ter parte com eles na herança da salvação”. (Hb. 1, 14).

Segundo: imitar, na medida do possível, o seu exemplo. O serviço mais nobre reservado aos santos anjos, Deus Nosso Senhor o caracteriza nestes termos: “Eu vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem”. (Jo 1, 51.) Em outras palavras: servidores que são do Salvador, com amor e dedicação se lhe oferecem, para conduzir os homens ao conhecimento da verdade e a participação da graça divina. Vimos quantas vezes desceu sobre o Filho do homem. Foi ele o primeiro a pronunciar e fazer conhecer o doce nome de Jesus. Grande e inestimáveis coisas disse ele de Cristo Nosso Senhor. Felizes de nós se, querendo imitar o seu exemplo e ter parte na sua glória, nos dispusermos a tornar conhecido e amado o nome de Jesus entre os homens, e para isto não nos negarmos a rezar, trabalhar e sofrer. As palavras do anjo ao profeta Daniel: “Eis um homem de complacência de Deus” (Dn 9, 23; 10, 11) e a Zacarias: “Tua oração foi ouvida” (Lc 1, 13) são a prova de que os anjos observam e acompanham as boas obras dos homens.

Em terceiro lugar temos no Arcanjo São Gabriel um modelo de veneração e amor a Maria Santíssima; pois foi ele que pronunciou a primeira “Ave Maria”, e com quanto respeito, com quanta devoção e amor não o fez! Em cada “Ave Maria” que rezamos, poderá o arcanjo São Gabriel servir-nos de modelo. Pronunciando suas palavras, imitemo-lo também na sua devoção, no seu amor à Mãe de Deus.

Fonte: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.


23 de Março 2020

A SANTA MISSA

4ª Semana da Quaresma – Segunda-feira 
Cor: Roxa

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1ª Leitura: Is 65,17-21

 Nunca mais se ouvirá a voz do pranto e o grito de dor. 

Leitura do Livro do Profeta Isaías

Assim fala o Senhor: 17 Eis que eu criarei novos céus e nova terra, coisas passadas serão esquecidas, não voltarão mais à memória. 18 Ao contrário, haverá alegria e exultação sem fim em razão das coisas que eu vou criar; farei de Jerusalém a cidade da exultação e um povo cheio de alegria. 19 Eu também exulto com Jerusalém e alegro-me com o meu povo; ali nunca mais se ouvirá a voz do pranto e o grito de dor. 20 Ali não haverá crianças condenadas a poucos dias de vida nem anciãos que não completem seus dias. Será considerado jovem quem morrer aos cem anos; e quem não alcançar cem anos, passará por maldito. 21 Construirão casas para nelas morar, plantarão vinhas para comer seus frutos.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 29, 2.4. 5-6. 11.12a.13b (R. 2a)

R. Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes!

2 Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes,*
e não deixastes rir de mim meus inimigos!
4Vós tirastes minha alma dos abismos*
e me salvastes, quando estava já morrendo!      R.

5 Cantai salmos ao Senhor, povo fiel,*
dai-lhe graças e invocai seu santo nome!
6 Pois sua ira dura apenas um momento,*
mas sua bondade permanece a vida inteira;
se à tarde vem o pranto visitar-nos,*
de manhã vem saudar-nos a alegria.      R.

11 Escutai-me, Senhor Deus, tende piedade!*
Sede, Senhor, o meu abrigo protetor!
12a Transformastes o meu pranto em uma festa,*
13b Senhor meu Deus, eternamente hei de louvar-vos!      R. 

Evangelho: Jo 4,43-54 

 Vai, teu filho está vivo. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo: 43 Jesus partiu da Samaria para a Galiléia. 44 O próprio Jesus tinha declarado, que um profeta não é honrado na sua própria terra. 45 Quando então chegou à Galiléia, os galileus receberam-no bem, porque tinham visto tudo o que Jesus havia feito em Jerusalém, durante a festa. Pois também eles tinham ido à festa. 46 Assim, Jesus voltou para Caná da Galiléia, onde havia transformado a água em vinho. Havia em Cafarnaum um funcionário do rei que tinha um filho doente. 47 Ouviu dizer que Jesus tinha vindo da Judeia para a Galiléia. Ele saiu ao seu encontro e pediu-lhe que fosse a Cafarnaum curar seu filho, que estava morrendo. 48 Jesus disse-lhe: ‘Se não virdes sinais e prodígios, não acreditais.’ 49 O funcionário do rei disse: ‘Senhor, desce, antes que meu filho morra!’ 50 Jesus lhe disse: ‘Podes ir, teu filho está vivo.’ O homem acreditou na palavra de Jesus e foi embora. 51 Enquanto descia para Cafarnaum, seus empregados foram ao seu encontro, dizendo que o seu filho estava vivo. 52 O funcionário perguntou a que horas o menino tinha melhorado. Eles responderam: ‘A febre desapareceu, ontem, pela uma da tarde’. 53 O pai verificou que tinha sido exatamente na mesma hora em que Jesus lhe havia dito: ‘Teu filho está vivo’. Então, ele abraçou a fé, juntamente com toda a sua família. 54 Esse foi o segundo sinal de Jesus. Realizou-o quando voltou da Judéia para a Galiléia.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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São Turíbio Mongrovejo

23 de Março

São Turíbio Mongrovejo

Turíbio Alfonso de Mongrovejo nasceu na cidade de Majorca de Campos, em Leon, na Espanha, em 1538, no seio de uma família nobre e rica. Estudou em Valladolid, Salamanca e Santiago de Compostela, licenciou-se em Direito e foi membro da Inquisição. Sua vida era pautada pela honestidade e lisura, mas jamais poderia suspeitar que Deus o chamaria para um grande ministério: foi nomeado arcebispo para a América espanhola, pelo papa Gregório XIII, a pedido do rei Felipe II, da Espanha, que tinha muita estima por Turíbio.

O mais curioso é que ele teve de receber de uma só vez todas as ordens, até finalizar com a do sacerdócio, para, em 1580, aos 40 anos de idade, ser consagrado arcebispo da Cidade dos Reis, chamada posteriormente de Lima, atual capital do Peru. Isso ocorreu porque, apesar de ser tonsurado, isto é, ter o cabelo cortado como os padres, ainda não pertencia ao clero. E foi assim que surgiu um dos maiores apóstolos da Igreja, muitas vezes comparado a Santo Ambrósio.

Chegando à América espanhola, em 1581, ficou espantado com a miséria espiritual e material em que viviam os índios. Aprendeu sua língua e passou a defendê-los contra os colonizadores, que os exploravam e maltratavam. Era venerado pelos fiéis e considerado um defensor enérgico da justiça diante dos opressores.

Apoiado pela população, organizou as comunidades de sua diocese e depois reuniu assembleias e sínodos, convocando todos os habitantes para a evangelização. Sob sua direção, foram realizados dez concílios diocesanos e os três provinciais que formaram a estrutura legal da Igreja da América espanhola até o século XX. Inclusive, o Sínodo Provincial de Lima, em 1582, foi comparado ao célebre Concílio de Trento. Conta-se que, nesse sínodo, com fina ironia, Turíbio desafiou os espanhóis, que se consideravam tão inteligentes, a aprenderem uma nova língua, a dos índios.

Quando enviou um relatório ao rei Felipe II, em 1594, reportou que havia percorrido 15 mil quilômetros e administrado o sacramento da crisma a 60 mil fiéis. Aliás, teve o privilégio e a graça de crismar três peruanos que depois se tornaram santos da Igreja: Rosa de Lima, Francisco Solano e Martinho de Porres.

Turíbio fundou o primeiro seminário da América e, pouco antes de morrer, doou suas roupas, inclusive as do próprio corpo, aos pobres e aos que o serviram, gesto que revelou o conteúdo de toda a sua vida. Faleceu no dia 23 de março de 1606, na pequena cidade de Sanã, no Peru. Foi canonizado, em 1726, pelo papa Bento XIII, que declarou São Turíbio de Mongrovejo “apóstolo e padroeiro do Peru”, para ser celebrado no dia de sua morte.

Texto: Paulinas Internet


A Oração Pessoal

TEMPO DA QUARESMA. QUARTA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA

– Necessidade da oração. O exemplo de Jesus.
– Oração pessoal: diálogo confiante com Deus.
– Empregar os meios para rezar com recolhimento e evitar as distrações.

I. JESUS ESTAVA ORANDO em certo lugar...1 Muitas passagens do Evangelho nos mostram Jesus que se retira e fica a sós para rezar 2; e o fato ganha destaque nos momentos mais importantes do seu ministério público: por ocasião do batismo 3, da escolha dos Apóstolos 4, na primeira multiplicação dos pães 5, na Transfiguração 6, etc. Era uma atitude habitual em Jesus. “Às vezes, passava a noite inteira ocupado num colóquio íntimo com seu Pai. Como cativou os primeiros discípulos a figura de Cristo em oração!” 7 E como nos ajuda a cada um de nós!

Nesta Quaresma, podemos deter-nos especialmente numa cena que se contempla no Santo Rosário: a oração de Jesus no Horto das Oliveiras. Imediatamente antes de se entregar à Paixão, o Senhor dirige-se com os Apóstolos ao Horto de Getsêmani, um lugar onde tinha rezado muitas vezes, pois São Lucas diz: Jesus saiu e dirigiu-se como de costume ao monte das Oliveiras 8. Mas desta vez a sua oração terá um matiz muito particular, pois chegou a hora da sua agonia.

Chegado ao Horto, disse aos que o acompanhavam: Orai para não cairdes em tentação 9. Antes de retirar-se para orar, o Senhor pede, pois, aos Apóstolos que permaneçam também em oração. Sabe que dentro de breves horas se verão a braços com uma forte tentação de escândalo, quando virem o Mestre aprisionado. Anunciara-o durante a Última Ceia, e agora previne-lhes que não poderão resistir à prova se não permanecerem vigilantes e orando.

A oração nos é indispensável, porque, se abandonamos o trato com Deus, a nossa vida espiritual enlanguidece pouco a pouco.

“Se se abandona a oração, primeiro vive-se das reservas espirituais..., e depois, da trapaça” 10. Em contrapartida, a oração une-nos a Deus, que nos diz: Sem mim não podeis fazer nada 11. Convém orar perseverantemente 12, sem nunca desfalecer. Temos que falar com o Senhor e procurá-lo com insistência, em todas as circunstâncias da nossa vida. Além disso, agora, durante este tempo da Quaresma, estamos indo com Jesus Cristo a caminho da Cruz, e “sem oração, como é difícil acompanhá-Lo!” 13

O Senhor ensina-nos com o exemplo da sua vida qual deve ser a nossa atitude fundamental: dialogar sempre filialmente com Deus. “Pois outra coisa, em meu parecer, não é a oração mental, senão tratar intimamente com Aquele que sabemos que nos ama e estar muitas vezes conversando a sós com Ele” 14. Temos que procurar manter-nos habitualmente na presença de Deus e contemplar os mistérios da nossa fé; é um diálogo com o Senhor que não só não deve interromper-se, como deve ser alimentado no meio de todas as atividades. Mas é indispensável que seja mais intenso nos tempos que dedicamos diariamente à oração mental, pois nesses momentos meditamos na presença do Senhor, conversamos com Ele, sabendo que Ele nos vê e nos ouve verdadeiramente. A par do preceito da caridade, talvez seja a oração um dos pontos em que Jesus mais vezes insistiu na sua pregação.

II. AFASTOU-SE DELES à distância de um tiro de pedra e, ajoelhando-se, orava: Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice. Não se faça, porém, a minha vontade, mas a tua 15.

Quando o sofrimento espiritual se torna de tal modo intenso que o faz entrar em agonia, o Senhor dirige-se ao Pai numa oração cheia de confiança. Chama-o Abba, Pai, e dirige-lhe palavras íntimas. Este é o caminho que também nós devemos seguir. Na nossa vida, haverá momentos de paz espiritual e outros de luta mais intensa, talvez de escuridão e de dor profunda, com tentações de desalento... A imagem de Jesus no Horto mostra-nos como devemos proceder nesses casos: com uma oração perseverante e confiada. Para avançar no caminho da santidade, especialmente quando sentimos o peso da nossa fraqueza, temos que recolher-nos em oração e em conversa íntima com o Senhor.

A oração pública (ou em comum), em que participam todos os fiéis, é santa e necessária – pois Deus quer ver os seus filhos rezarem juntos 16 –, mas nunca pode substituir o preceito do Senhor: Entra no teu quarto, fecha a porta e ora a teu Pai 17. A liturgia é a oração pública por excelência, “é o cume para o qual tende toda a atividade da Igreja e ao mesmo tempo a fonte de que brota toda a sua força [...]. Mas a vida espiritual não se contém unicamente na participação da Sagrada Liturgia. Pois o cristão, chamado a orar em comum, deve não obstante entrar também no seu quarto e orar a seu Pai em segredo, e, além disso, conforme ensina o Apóstolo, deve rezar sem interrupções (1 Tess 5, 17)” 18. Por outro lado, as orações feitas em comum com os outros cristãos também devem ser oração pessoal, enquanto os lábios as recitam com as pausas oportunas e a mente põe nelas toda a sua atenção.

Na oração pessoal, fala-se com Deus como se conversa com um amigo, sabendo-o presente e sempre atento ao que lhe dizemos, ouvindo-nos e respondendo. É nessa conversa íntima, como a que agora procuramos manter com Deus, que abrimos a nossa alma ao Senhor, para adorá-lo, dar-lhe graças, pedir-lhe ajuda e aprofundar – como os Apóstolos – nos ensinamentos divinos.

“Escreveste-me: «Orar é falar com Deus. Mas de quê?» – De quê? DEle e de ti: alegrias, tristezas, êxitos e malogros, ambições nobres, preocupações diárias..., fraquezas!; e ações de graças e pedidos; e Amor e desagravo. – Em duas palavras: conhecê-Lo e conhecer-te – ganhar intimidade!” 19

A nossa oração nunca pode ser anônima, impessoal, porque Deus, que redimiu todos os homens, deseja manter um diálogo com cada um deles. No fim, a salvação ou condenação dependerá da correspondência pessoal de cada um. Deve, pois, a oração ser o diálogo de uma pessoa concreta – que tem um ideal e uma profissão concreta, e determinadas amizades, e umas graças de Deus específicas – com seu Pai-Deus.

III. DEPOIS DE TER REZADO, levantou-se, foi ter com os discípulos e achou-os adormecidos de tristeza. Disse-lhes: Por que dormis? Levantai-vos e orai para não cairdes em tentação 20.

Os Apóstolos não seguiram a recomendação do Senhor. Ele os deixara ali, perto dEle, para que velassem e orassem, e assim não caíssem em tentação; mas ainda não amavam o suficiente, e deixaram-se vencer pelo sono e pela fraqueza, abandonando Jesus naqueles momentos de agonia. O sono, imagem da fraqueza humana, permitiu que se apoderasse deles uma tristeza má: desfalecimento, desistência do espírito de luta.

Não cairemos nessa situação se mantivermos vivo o diálogo com Deus em cada tempo do nosso dia que dedicamos à oração. Para isso, teremos que recorrer freqüentemente aos Santos Evangelhos ou a outro livro – como este –, para que nos ajudem a aproximar-nos mais do Senhor, a centrar esse diálogo em que nada nem ninguém nos pode substituir. Assim fizeram muitos santos: “A não ser logo após a comunhão – diz Santa Teresa –, jamais ousava começar a oração sem um livro; a minha alma temia tanto estar sem ele como se fosse lutar contra muitas pessoas. Com este remédio, que era como uma companhia ou um escudo que teria que receber o ataque dos muitos pensamentos, ficava consolada” 21.

Temos que empregar os meios necessários para podermos entregar-nos a essa oração mental com recolhimento: no lugar mais adequado, de acordo com as circunstâncias pessoais – sempre que seja possível, diante do Senhor no Sacrário –, e na hora que tivermos determinado no nosso plano de vida. Devemos prevenir-nos também contra as distrações, o que exige, em grande parte, a mortificação da memória e da imaginação; temos que evitar ter “os sentidos despertos e a alma adormecida” 22.

Se lutarmos decididamente contra as distrações, o Senhor ajudar-nos-á a retornar ao diálogo com Ele; além disso, o Anjo da Guarda tem, entre outras, a missão de interceder por nós. O importante é não querermos estar distraídos e não nos distrairmos voluntariamente. As distrações involuntárias, que se devem à fraqueza da nossa natureza, e que procuramos afastar assim que tomamos consciência delas, não tiram o proveito nem o mérito da nossa oração. O pai e a mãe não se aborrecem quando a criança que não sabe falar fica balbuciando coisas sem sentido. Deus conhece a nossa fraqueza e tem paciência, mas nós devemos pedir-lhe: “Concedei-nos o espírito de oração” 23.

Será muito grato ao Senhor ver-nos fazer o propósito de progredir na oração mental todos os dias da nossa vida, incluídos aqueles em que nos parece mais custosa, difícil e árida, pois “a oração não é problema de falar ou de sentir, mas de amar. E ama-se quando se faz o esforço de tentar dizer alguma coisa ao Senhor, ainda que não se diga nada”24. Se agirmos assim, toda a nossa vida ficará enriquecida e fortalecida. A oração é um farol potentíssimo que dá luz para iluminar melhor os nossos problemas, para conhecer melhor as pessoas e desse modo poder ajudá-las no seu caminhar para Cristo. A oração deixa na alma uma atmosfera de serenidade e de paz que se transmite aos outros. A alegria que produz é uma antecipação da felicidade celestial.

Nenhuma pessoa deste mundo soube conviver com Jesus como sua Mãe Santa Maria, que passou longas horas olhando-o, falando com Ele, tratando-o com toda a simplicidade e veneração. Se recorrermos à nossa Mãe do Céu, em breve aprenderemos a falar com Jesus cheios de confiança, e a segui-lo de perto, muito de perto, até à sua Cruz.

(1) Lc 11, 1-3; (2) cfr. Mt 14, 23; Mc 1, 35; Lc 5, 16; etc.; (3) cfr. Lc 3, 21; (4) cfr. Lc 6, 12; (5) cfr. Mc 6, 46; (6) cfr. Lc 9, 29; (7) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 119; (8) Lc 22, 39; (9) Lc 22, 40; (10) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 445; (11) Jo 15, 5; (12) cfr. Lc 18, 1; (13) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 89; (14) Santa Teresa, Vida, 8, 2; (15) Lc 22, 41-42; (16) cfr. Mt 18, 19-20; (17) Mt 6, 6; (18) Conc. Vat. II, Const. Sacrossanctum Concilium, 10, 12; (19) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 91; (20) Lc 22, 45-46; (21) Santa Teresa, Vida, 6, 3; (22) cfr. São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 368; (23) Preces de laudes, Liturgia das Horas da segunda-feira da quarta semana da Quaresma; (24) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 464.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal