16 de Maio 2020

A SANTA MISSA

5ª Semana da Páscoa – Sábado 
Cor: Branca

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1ª Leitura: At 16,1-10

 ‘Vem à Macedônia e ajuda-nos!’ 

Leitura dos Atos dos Apóstolos

Naqueles dias, 1 Paulo foi para Derbe e Listra. Havia em Listra um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia, crente, e de pai grego. 2 Os irmãos de Listra e Icônio davam bom testemunho de Timóteo. 3 Paulo quis então que Timóteo partisse com ele. Tomou-o consigo e circuncidou-o, por causa dos judeus que se encontravam nessas regiões, pois todos sabiam que o pai de Timóteo era grego. 4 Percorrendo as cidades, Paulo e Timóteo transmitiam as decisões que os apóstolos e anciãos de Jerusalém haviam tomado. E recomendavam que fossem observadas. 5 As Igrejas fortaleciam-se na fé e, de dia para dia, cresciam em número. 6 Paulo e Timóteo atravessaram a Frígia e a região da Galácia, pois o Espírito Santo os proibira de pregar a Palavra de Deus na Ásia. 7 Chegando perto da Mísia, eles tentaram entrar na Bitínia, mas o Espírito de Jesus os impediu. 8 Então atravessaram a Mísia e desceram para Trôade. 9 Durante a noite, Paulo teve uma visão: na sua frente, estava de pé um macedônio que lhe suplicava: “Vem à Macedônia e ajuda-nos!” 10 Depois dessa visão, procuramos partir imediatamente para a Macedônia, pois estávamos convencidos de que Deus acabava de nos chamar para pregar-lhes o Evangelho.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 99, 2. 3. 5 (R. 2a)

R. Aclamai o Senhor, ó terra inteira.

Ou: Aleluia, Aleluia, Aleluia

2Aclamai o Senhor, ó terra inteira,
servi ao Senhor com alegria,*
ide a ele cantando jubilosos!       R.

3Sabei que o Senhor, só ele, é Deus,
Ele mesmo nos fez, e somos seus,*
nós somos seu povo e seu rebanho.      R.

5 Sim, é bom o Senhor e nosso Deus,
sua bondade perdura para sempre,*
seu amor é fiel eternamente!       R. 

Evangelho: Jo 15,18-21 

 Não sois do mundo, porque eu vos escolhi e apartei do mundo. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 18 “Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro me odiou a mim. 19 Se fôsseis do mundo, o mundo gostaria daquilo que lhe pertence. Mas, porque não sois do mundo, porque eu vos escolhi e apartei do mundo, o mundo por isso vos odeia. 20 Lembrai-vos daquilo que eu vos disse: ‘O servo não é maior que seu senhor’. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós. Se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. 21 Tudo isto eles farão contra vós por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou”.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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O Santo Rosário

TEMPO PASCAL. QUINTA SEMANA. SÁBADO

– No Rosário, Nossa Senhora ensina-nos a contemplar a vida do seu Filho.
– O terço em familia. É “arma poderosa”.
– As distrações no terço.

I. O AMOR A NOSSA SENHORA manifesta-se na nossa vida de formas muito diversas. No Santo Rosário – a oração mariana mais recomendada pela Igreja ao longo dos séculos –, a piedade mostra-nos um resumo das principais verdades da fé cristã; através da consideração de cada um dos mistérios, a Santíssima Virgem ensina-nos a contemplar a vida do seu Filho. Em alguns deles, Maria ocupa o primeiro lugar; em outros, é Cristo quem atrai primeiro a nossa atenção. Maria fala-nos sempre do Senhor: da alegria do seu nascimento, da sua morte na Cruz, da sua Ressurreição e Ascensão gloriosa.

O Rosário é a oração preferida da nossa Mãe, e “com a consideração dos mistérios, a repetição do Pai-Nosso e da Ave-Maria, os louvores à Beatíssima Trindade e a constante invocação à Mãe de Deus, é um contínuo ato de fé, de esperança e de amor, de adoração e reparação” 1.

Segundo a sua etimologia, o Rosário “é uma coroa de rosas, costume encantador que em todos os povos representa uma oferenda de amor e um símbolo de alegria” 2. “É o modo mais excelente de oração meditada, constituída à maneira de mística coroa em que a saudação angélica, a oração dominical e a doxologia à Augusta Trindade se entrelaçam com a consideração dos mais altos mistérios da nossa fé: nele, através de muitas cenas, a mente contempla o drama da Encarnação e da Redenção de Nosso Senhor” 3.

Nesta oração mariana, a oração vocal funde-se com a meditação dos mistérios cristãos, que é como que a alma do Rosário. É uma meditação pausada, que permite desenvolver a oração pessoal ao ritmo das palavras. “Introduzir-se como mais um personagem” nas cenas que se contemplam no Rosário ajuda a rezá-lo bem. Assim, “viveremos a vida de Jesus, Maria e José”.

“Todos os dias Lhes havemos de prestar um novo serviço. Ouviremos as suas conversas de família. Veremos crescer o Messias. Admiraremos os seus trinta anos de obscuridade... Assistiremos à sua Paixão e Morte... Pasmaremos ante a glória da sua Ressurreição... Numa palavra: contemplaremos, loucos de Amor – não há outro amor além do Amor –, todos e cada um dos instantes de Cristo Jesus” 4.

Com a consideração dos mistérios, vivifica-se a oração vocal – o Pai-Nosso e as Ave-Marias –, e a vida interior se vê enriquecida pelo profundo conteúdo dessas cenas, que se tornam fonte de oração e contemplação ao longo do dia. Pouco a pouco identificamo-nos com os sentimentos de Cristo e passamos a viver num clima de intensa piedade: alegramo-nos com Cristo gozoso, sofremos com Cristo padecente, vivemos antecipadamente na esperança a glória de Cristo ressuscitado. “Ainda que em planos de realidade essencialmente diversos – dizia Paulo VI –, (a liturgia e o Rosário) têm por objeto os mesmos acontecimentos salvíficos realizados por Cristo. A primeira torna presentes [...] os maiores mistérios da nossa redenção; a segunda, pelo piedoso afeto da contemplação, volta a evocar os mesmos mistérios na mente de quem ora e estimula a sua vontade para deles extrair normas de vida” 5.

II. O CONCÍLIO VATICANO II pede “a todos os filhos da Igreja que promovam generosamente o culto à Bem-aventurada Virgem [...], que dêem grande valor às práticas e aos exercícios de piedade recomendados pelo Magistério no curso dos séculos” 6.

Sabemos bem com que insistência a Igreja sempre recomendou a oração do Santo Rosário. Concretamente, é “uma das mais excelentes e eficazes orações em comum que a família cristã é convidada a rezar”7, e muitas vezes será um bom objetivo de vida cristã para muitas famílias. Em alguns casos, bastará começar com a recitação de uma única dezena, aproveitando talvez ocasiões tão especiais como o mês de maio ou a visita a um Santuário ou ermida da Virgem... Ganha-se muito e poupam-se muitas preocupações se se começa a introduzir os filhos desde pequenos nesta prática.

O terço em família é uma fonte de bens para todos, pois atrai a misericórdia de Deus sobre o lar.

Diz o Papa João Paulo II: “Tanto a recitação do Angelus como a do terço devem ser para todo o cristão e muito mais para as famílias cristãs como que um oásis espiritual no decorrer do dia, para ganharem coragem e confiança” 8. E o Santo Padre insiste: “Conservai zelosamente esse terno e confiado amor à Virgem que vos caracteriza. Não o deixeis esfriar nunca [...]. Sede fiéis aos exercícios de piedade mariana tradicionais na Igreja: a oração do Angelus, o mês de Maria e, de modo muito especial, o terço. Oxalá ressurgisse o belo costume de rezar o terço em família!” 9

Hoje podemos examinar na nossa oração se nos valemos do Santo Rosário como “arma poderosa” 10 para conseguir da Virgem as graças e favores de que tanto necessitamos, se o rezamos com atenção, se procuramos aprofundar no seu conteúdo riquíssimo, particularmente detendo-nos por uns momentos a meditar em cada um dos mistérios, se procuramos que os nossos familiares e amigos comecem a rezá-lo e assim procurem e amem mais a nossa Mãe do Céu.

III. ÀS VEZES, QUANDO PROCURAMOS difundir a recitação do terço como uma forma de manter diariamente um trato de intimidade com a Virgem, deparamos com pessoas, mesmo de boa vontade, que se desculpam dizendo que se distraem com freqüência e que “se é para rezá-lo mal, é melhor não rezá-lo” ou algo semelhante. Ensinava o Papa João XXIII que “o pior terço é aquele que não se reza”. Nós podemos dizer aos nossos amigos que, ao invés de abandoná-lo, devem compreender que é mais grato à Virgem procurar rezá-lo da melhor forma possível, ainda que se tenham distrações. Também pode acontecer que – como escreve Santo Afonso Maria de Ligório – “se tens muitas distrações durante a oração, talvez seja porque o demônio se sente muito incomodado com essa oração” 11.

Há quem compare o terço a uma canção: a canção da Virgem. Por isso, ainda que por vezes não sejamos conscientes da “letra”, a melodia nos levará, quase sem o percebermos, a ter o pensamento e o coração postos em Nossa Senhora. As distrações involuntárias não anulam os frutos do terço, nem de qualquer outra oração vocal, desde que se lute por evitá-las.

São Tomás diz que pode haver uma tríplice atenção na oração vocal: a de quem pronuncia corretamente todas as palavras, a daquele que repara mais no sentido dessas palavras e a dos que se concentram na finalidade da oração, quer dizer, em Deus e naquilo por que se ora. Esta última é a atenção mais importante e necessária, e é acessível mesmo a pessoas pouco cultas ou que não entendem bem o sentido das palavras que pronunciam, “podendo ser tão intensa que arrebate a mente para Deus” 12.

Quando há esforço, pode-se rezar o terço cada vez melhor; cuidando da pronúncia, das pausas, da atenção, detendo-se por uns instantes a considerar o mistério que se inicia, oferecendo talvez essas dez ave-marias por uma intenção concreta (a Igreja Universal, o Sumo Pontífice, as intenções do bispo da diocese, a família, as vocações sacerdotais, o apostolado, a paz e a justiça em determinado país, um assunto que nos preocupa...), procurando que essas “rosas” oferecidas à Virgem não estejam fanadas ou murchas pela rotina ou pelas distrações mais ou menos consentidas... Será muito difícil, e às vezes praticamente impossível, evitar todas as distrações, mas a Virgem também o sabe e aceita o nosso desejo e o nosso esforço.

Para recitá-lo com devoção, é conveniente fazê-lo num momento adequado: “Uma triste forma de não rezar o terço: deixá-lo para o fim do dia. Quando se deixa para o momento de deitar-se, recita-se pelo menos de má maneira e sem meditar os mistérios. Assim, dificilmente se evita a rotina, que afoga a verdadeira piedade, a única piedade” 13. “Sempre adias o terço para depois, e acabas por omiti-lo por causa do sono. – Se não dispões de outros momentos, reza-o pela rua e sem que ninguém o note. Isso te ajudará também a ter presença de Deus” 14.

Uma das vantagens do terço é que se pode rezá-lo em qualquer lugar: na igreja, na rua, no carro..., sozinho ou em família, enquanto se aguarda na sala de espera do médico ou na fila da agência bancária. Poucos cristãos poderão dizer com sinceridade que não arranjam tempo para rezar “a oração mais querida e recomendada pela Igreja”.

Um dia o Senhor nos mostrará as conseqüências de termos rezado o terço com devoção, ainda que também com algumas distrações: desastres que se evitaram por especial intercessão da Virgem, ajudas a pessoas queridas, conversões, graças ordinárias e extraordinárias para nós e para outros, e as inúmeras pessoas que se beneficiaram desta oração e que nem sequer conhecemos.

Esta oração tão eficaz e grata a Nossa Senhora será em muitos momentos da nossa vida o meio mais eficaz de pedir e de agradecer, como também de reparar pelos nossos pecados: “«Virgem Imaculada, bem sei que sou um pobre miserável, que não faço mais do que aumentar todos os dias o número dos meus pecados...» Disseste-me o outro dia que falavas assim com a Nossa Mãe. – E aconselhei-te, com plena segurança, que rezasses o terço: bendita monotonia de ave-marias, que purifica a monotonia dos teus pecados!” 15

(1) São Josemaría Escrivá, Santo Rosário, pág. 9; (2) Pio XII, Alocução, 16-X-1940; (3) João XXIII, Enc. Grata recordatio, 26-IX-1959; (4) São Josemaría Escrivá, op. cit., pág. 13; (5) Paulo VI, Enc. Marialis cultus, 46; (6) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 67; (7) Paulo VI, op. cit., 54; (8) João Paulo II, Angelus em Otranto, 5-X-1980; (9) idem, Homilia, 12-X-1980; (10) Josemaría Escrivá, op. cit., pág. 7; (11) Santo Afonso M. de Ligório, Tratado sobre a oração; (12) São Tomás, Suma Teológica, 2-2, q. 83, a. 3; (13) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 476; (14) ib., n. 478; (15) ib., n. 475.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


São Simão Stock

16 de Maio

São Simão Stock

De nacionalidade inglesa Simão Stock viveu no Século XIII e morreu em Bordéus, na França. Frequentou a universidade de Oxford onde se doutorou em Teologia. Acredita-se que era natural do condado de Kent e que, muito jovem, optou por uma vida eremítica, vivendo muitos anos na concavidade de um tronco, por isso lhe chamam Stock, que em inglês quer dizer «tronco».

A partir do ano 1232, os carmelitas visitaram várias vezes a Inglaterra, até que em 1242, fundam lá o seu primeiro convento. Numa destas visitas Simão conheceu os carmelitas e deixou-se cativar por eles, vindo a pedir o hábito da Ordem. Dirigiu-se para a Terra Santa, com os religiosos, tendo vivido no Monte Carmelo.

Cinco anos mais tarde, a ordem celebrou o Capítulo Geral na Inglaterra e Frei Simão Stock foi eleito Prior Geral da Europa. A vinda dos carmelitas para a Europa e a sua rápida expansão atraía a si imensos jovens universitários cativados pelo estilo de vida do Carmo desencadeando-se, ao mesmo tempo, uma onda de ciúme e inveja em muitos setores da Igreja. Párocos, reitores e bispos moveram uma guerra surda aos carmelitas «não deixando construir igrejas e obrigando-os a impostos e serviços graves insuportáveis, que nunca tinham tido no Monte Carmelo ou em outros conventos da Terra Santa».

Em 1251, Frei Simão Stock convocou um Capítulo Geral pedindo a toda a Ordem que rezasse noite e dia pela resolução do problema. Acudiram ao céu e ao Papa. São Simão liderava esta campanha rezando com insistência à Mãe do Carmo para que deles se compadecesse. Um dia em que, como tantas vezes, rezava a oração do «Flos Carmeli», apareceu-lhe a Virgem Maria na sua cela e entregou-lhe o escapulário dizendo que este símbolo era o sinal da sua proteção para com os carmelitas e para quem a partir de então o usasse. Pensa-se que esta aparição se deu na noite de 15 ou 16 de julho. Era o ano de 1251.

A 13 de janeiro de 1252, o Papa escreve uma carta aos bispos defendendo os carmelitas. Porém, quatro anos mais tarde, sobrevém novo ataque aos carmelitas e mais perigoso que o primeiro, pois os frades estão divididos: uns querem apenas a vida eremítica tal como se vivia no princípio, no Monte do Carmo. Outros, como Frei Simão Stock, pretendem uma vida equilibrada e adaptada à Europa: solidão e apostolado, o que exigia a fundação de conventos, não no deserto, mas junto de cidades e universidades. Recorre Frei Simão, Prior Geral, ao Papa que lhe concede razão e proteção.

Mais uma vez, em 1264, São Simão presidiu o Capítulo Geral em Tolosa, França, vindo a morrer em Bordéus no ano de 1265, onde ainda hoje se guardam os seus restos mortais.

Fonte: http://carmelitas.org.br


Santo Isidoro Lavrador

15 de Maio

Santo Isidoro Lavrador

Isidoro nasceu em Madri, na Espanha, em 1070, filho de pais camponeses, simples e seguidores de Cristo. O menino cresceu sereno, bondoso e muito caridoso, trabalhando com os familiares numa propriedade arrendada. Levantava muito cedo para assistir a missa antes de seguir para o campo. Quando seus atos de fé começaram a se destacar, já era casado com Maria Toríbia e pai de um filho.

Sua notoriedade começou quando foi acusado de ficar rezando pela manhã, na igreja, em vez de trabalhar. De fato, tinha o hábito de parar o trabalho uma vez ao dia para rezar, de joelhos, o terço. Mas isso não atrapalhava a produção, porque depois trabalhava com vontade e vigor, recuperando o tempo das preces. Sua bondade era tanta que o patrão nada lhe fez.

Não era só na oração que Isidoro se destacava. Era tão solidário que dividia com os mais pobres tudo o que ganhava com seu trabalho, ficando apenas com o mínimo necessário para alimentar os seus. Quando seu filho morreu, ainda criança, Isidoro e Maria não se revoltaram, ao contrário, passaram a se dedicar ainda mais aos necessitados.

Isidoro Lavrador morreu pobre e desconhecido, no dia 15 de maio de 1130, em Madri, sendo enterrado sem nenhuma distinção. A partir de então começou a devoção popular. Muitos milagres, atribuídos à sua intercessão, são narrados pela tradição do povo espanhol. Quarenta anos depois, seu corpo foi trasladado para uma igreja.

Humilde e incansável foi esse homem do campo, e somente depois de sua morte, e com a devoção de todo o povo de sua cidade, as autoridades religiosas começaram a reconhecer o seu valor inestimável: a devoção a Deus e o cumprimento de seus mandamentos, numa vida reta e justa, no seguimento de Jesus.

Foi o rei da Espanha, Filipe II, que formalizou o pedido de canonização do santo lavrador, ao qual ele próprio atribuía a intercessão para a cura de uma grave enfermidade. Em 1622, o papa Gregório XV canonizou santo Isidoro Lavrador, no mesmo dia em que santificou Inácio de Loyola, Francisco Xavier, Teresa d'Ávila e Filipe Néri.

Fonte: https://sagradamissao.com.br


O Valor da Amizade

TEMPO PASCAL. QUINTA SEMANA. SEXTA-FEIRA

– Jesus, “o amigo que nunca atraiçoa”. NEle aprendemos o verdadeiro valor da amizade.
– A amizade é um grande bem humano que podemos sobrenaturalizar. Qualidade da verdadeira amizade.
– Apostolado com os amigos.

I. NINGUÉM TEM MAIOR AMOR do que aquele que dá a vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos [...]. Já não vos chamo servos [...], mas chamei-vos amigos 1, diz-nos o Senhor no Evangelho da Missa.

Jesus é o nosso Amigo. NEle os Apóstolos encontraram a sua melhor amizade. Era alguém que os amava, a quem podiam comunicar as suas penas e alegrias, a quem podiam fazer perguntas com toda a confiança. Sabiam bem o que Ele desejava exprimir quando lhes dizia: Amai-vos uns aos outros... como eu vos amei 2. As irmãs de Lázaro não encontraram melhor título que o da amizade para solicitarem a sua presença: o teu amigo está doente 3, mandam dizer-lhe, cheias de confiança.

Jesus procurou a amizade de todos os que encontrou pelos caminhos da Palestina. Aproveitava sempre o diálogo para chegar ao fundo das almas e cumulá-las de amor. E, além do seu infinito amor por todos os homens, ofereceu a sua amizade a pessoas bem determinadas: aos Apóstolos, a José de Arimatéia, a Nicodemos, a Lázaro e à sua família... Não negou ao próprio Judas o honroso título de amigo, precisamente no momento em que este o entregava às mãos dos seus inimigos. Estimava muito a amizade dos seus amigos; depois da tríplice negação, perguntará a Pedro: Amas-me? 4, és meu amigo?, posso confiar em ti? E entrega-lhe a Igreja: Apascenta os meus cordeiros..., apascenta as minha ovelhas.

“Cristo, Cristo ressuscitado, é o companheiro, o Amigo. Um companheiro que se deixa ver apenas entre sombras, mas cuja realidade inunda toda a nossa vida e nos faz desejar a sua companhia definitiva” 5. Ele, que compartilhou a nossa natureza, quer compartilhar também os nossos fardos: Eu vos aliviarei 6, diz a todos. É o mesmo que deseja ardentemente que partilhemos da sua glória por toda a eternidade.

Jesus Cristo é o Amigo que nunca atraiçoa 7; quando vamos vê-lo, falar-lhe, está sempre disponível, dá-nos as boas-vindas sempre com o mesmo calor, ainda que nos veja frios ou distraídos. Ele ajuda sempre, anima sempre, consola em qualquer ocasião.

II. A AMIZADE COM O SENHOR, que nasce e cresce pela oração e pela digna recepção dos sacramentos, faz-nos entender melhor o significado da amizade humana, que a Sagrada Escritura qualifica como um tesouro: Um amigo fiel é uma proteção poderosa; quem o achou descobriu um tesouro. Nada é comparável a um amigo fiel; seu preço é incalculável 8.

Compreende-se bem que o trato diário e a amizade com Jesus Cristo nos aumentem a capacidade de ter amigos, pois fomentam em nós uma atitude aberta: a oração afina a alma e torna-a especialmente apta para compreender os outros, aumenta a generosidade, o otimismo, a cordialidade na convivência, a gratidão..., e essas virtudes facilitam ao cristão o caminho da amizade.

A verdadeira amizade é sempre desinteressada, pois consiste mais em dar do que em receber; não procura o proveito próprio, mas o do amigo: “O amigo verdadeiro não pode ter duas caras para o seu amigo; a amizade, se deve ser leal e sincera, exige renúncia, retidão, troca de favores, de serviços nobres e lícitos. O amigo é forte e sincero na medida em que, de acordo com a prudência sobrenatural, pensa generosamente nos outros, com sacrifício pessoal. Do amigo espera-se correspondência ao clima de confiança que se estabelece na verdadeira amizade; espera-se o reconhecimento do que somos e, quando necessário, a defesa clara e sem paliativos” 9.

Para que haja uma amizade verdadeira, é necessário que o afeto e a benevolência sejam mútuos 10. E então tenderá sempre a tornar-se mais forte: não se deixará corromper pela inveja, não arrefecerá pelas suspeitas, crescerá na dificuldade 11, “até fazer sentir o amigo como outro eu. Por isso diz Santo Agostinho: Retratou bem o seu amigo aquele que o chamou metade da sua alma” 12. Então compartilham-se com naturalidade as alegrias e as penas.

A amizade é um bem humano e, ao mesmo tempo, ocasião de desenvolver muitas virtudes humanas, porque cria “uma harmonia de sentimentos e gostos que prescinde do amor dos sentidos, desenvolvendo, por outro lado, até graus muito elevados, e mesmo até o heroísmo, a dedicação do amigo ao amigo. Pensamos – ensinava Paulo VI – que os encontros [...] são uma oportunidade para que as almas nobres e virtuosas gozem desta relação humana e cristã que se chama amizade. Ela pressupõe e desenvolve a generosidade, o desinteresse, a simpatia, a solidariedade e, especialmente, a possibilidade de sacrifícios mútuos” 13.

O bom amigo não desaparece nas dificuldades, não atraiçoa; nunca fala mal do amigo nem permite que, quando ausente, seja criticado, porque toma a sua defesa. Amizade é sinceridade, confiança, compartilhar penas e alegrias, animar, consolar, ajudar com o exemplo.

III. AO LONGO DOS SÉCULOS, a amizade foi um caminho pelo qual muitos homens e mulheres se aproximaram de Deus e alcançaram o Céu. É um caminho natural e simples, que elimina muitos obstáculos e dificuldades. O Senhor conta com freqüência com esse meio para se dar a conhecer. Os primeiros que o conheceram foram comunicar a boa notícia àqueles que amavam. André trouxe Pedro, seu irmão; Filipe trouxe o seu amigo Natanael; e foi João com certeza quem levou ao Senhor o seu irmão Tiago...

Assim se difundiu a fé em Cristo na primitiva cristandade: através dos irmãos, de pais para filhos, de filhos para pais, do servo para o seu amo e vice-versa, de amigo para amigo.

A amizade é uma base excepcional para dar a conhecer Cristo, porque é o meio natural de comunicar sentimentos, de partilhar confidências com os que estão junto de nós por razões de família, trabalho, inclinações...

É próprio da amizade dar ao amigo o melhor que se possui. O nosso valor mais alto, sem comparação possível, é termos encontrado o Senhor. Não teríamos verdadeira amizade pelos nossos amigos se não lhes comunicássemos o imenso dom que é a nossa fé cristã. Em cada um de nós, cristãos que queremos seguir o Senhor de perto, os nossos amigos devem encontrar apoio, fortaleza e um sentido sobrenatural para as suas vidas. A certeza de encontrarem em nós compreensão, interesse, atenção, animá-los-á a abrir o coração confiadamente, cientes de que são estimados, de que estamos dispostos a ajudá-los. E isto enquanto realizamos as nossas tarefas diárias, procurando ser exemplares na profissão ou no estudo, permanecendo abertos ao convívio com todos, movidos pela caridade.

A amizade leva-nos a iniciar os nossos amigos numa verdadeira vida cristã, se estão longe da Igreja, ou a fazê-los reempreender o caminho que um dia abandonaram, se deixaram de praticar a fé que receberam. Com paciência e constância, sem pressas, sem pausas, irão aproximando-se do Senhor, que os espera. Haverá ocasiões em que poderemos fazer juntamente com eles uns minutos de oração, praticar juntos uma obra de misericórdia visitando um doente ou uma pessoa necessitada; pedir-lhes que nos acompanhem numa breve visita a Jesus sacramentado... Quando for oportuno, falar-lhes-emos do sacramento da misericórdia divina, a Confissão, e os ajudaremos a preparar-se para recebê-lo.

Quantas confidências ao abrigo da amizade são caminhos abertos pelo Espírito Santo para um apostolado fecundo! “Essas palavras que tão a tempo deixas cair ao ouvido do amigo que vacila; a conversa orientadora que soubeste provocar oportunamente; e o conselho profissional que melhora o seu trabalho universitário; e a discreta indiscrição que te faz sugerir-lhe imprevistos horizontes de zelo... Tudo isso é «apostolado da confidência»” 14.

O Senhor deseja que tenhamos muitos amigos porque o seu amor pelos homens é infinito e a nossa amizade é um instrumento para chegar a eles. Quantas pessoas com quem estamos em contacto todos os dias esperam, mesmo sem o perceberem, que lhes chegue a luz de Cristo! Que alegria de cada vez que um amigo nosso se torna amigo do Amigo!

Jesus, que passou fazendo o bem 15 e conquistou o coração de tantas pessoas, é o nosso Modelo. Assim devemos nós passar pela família, pelo trabalho, pelos vizinhos, pelos amigos. Hoje é um dia oportuno para que nos perguntemos se as pessoas das nossas relações se sentem animadas pelo nosso exemplo e pela nossa palavra a aproximar-se do Senhor; se nos preocupamos pelas suas almas, se se pode dizer de verdade que, como Jesus, estamos passando pelas suas vidas fazendo o bem.

(1) Jo 15, 13-15; (2) Jo 13, 14; (3) Jo 11, 3; (4) Jo 21, 16; (5) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 116; (6) Mt 11, 28; (7) cfr. São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 88; (8) Eclo 6, 14; (9) São Josemaría Escrivá, Carta, 11-III-1940, citado por J. Cardona, em Gran Enciclopedia, Rialp, voz Amistad II; (10) cfr. São Tomás, Suma Teológica, 2-2, q. 23, a. 1; (11) cfr. Beato Elredo, Trat. sobre la amistad espiritual, 3; (12) São Tomás, Suma Teológica, 2-2, q. 28, a. 1; (13) Paulo VI, Alocução, 26-VII-1978; (14) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 973; (15) At 10, 38.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


14 de Maio 2020

A SANTA MISSA

Festa: São Matias, Apóstolo
Cor: Vermelha

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1ª Leitura: At 1,15-17.20-26 

A sorte caiu em Matias,
o qual foi juntado ao número dos onze apóstolos.

Leitura dos Atos dos Apóstolos

15 Naqueles dias, Pedro levantou-se no meio dos irmãos e disse: 16 “Irmãos, era preciso que se cumprisse o que o Espírito Santo, por meio de Davi, anunciou na Escritura sobre Judas, que se tornou o guia daqueles que prenderam Jesus. 17 Judas era um dos nossos e participava do mesmo ministério. 20 De fato, no livro dos Salmos está escrito: `fique deserta a sua morada, nem haja quem nela habite!’ E ainda: `Que outro ocupe o seu lugar!’ 21 Há homens que nos acompanharam durante todo o tempo em que o Senhor Jesus vivia no meio de nós, 22 a começar pelo batismo de João até ao dia em que foi elevado ao céu. Agora, é preciso que um deles se junte a nós para ser testemunha da sua ressurreição.” 23 Então eles apresentaram dois homens: José, chamado Barsabás, que tinha o apelido de Justo, e Matias. 24 Em seguida, fizeram esta oração: “Senhor, tu conheces os corações de todos. Mostra-nos qual destes dois escolhestes 25 para ocupar, neste ministério e apostolado, o lugar que Judas abandonou para seguir o seu destino!” 26 Então tiraram a sorte entre os dois. A sorte caiu em Matias, o qual foi juntado ao número dos onze apóstolos.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 112(113),1-2.3-4.5-6.7-8 (R. cf.8)

R. O Senhor fez o indigente assentar-se com os nobres.
Ou:
R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.

1 Louvai, louvai, ó servos do Senhor, *
louvai, louvai o nome do Senhor!
2 Bendito seja o nome do Senhor, *
agora e por toda a eternidade!     R.

3 Do nascer do sol até o seu ocaso, *
louvado seja o nome do Senhor!
4 O Senhor está acima das nações, *
sua glória vai além dos altos céus.     R.

5 Quem pode comparar-se ao nosso Deus, +
ao Senhor, que no alto céu tem o seu trono *
6e se inclina para olhar o céu e a terra?      R.

7 Levanta da poeira o indigente *
e do lixo ele retira o pobrezinho,
8 para fazê-lo assentar-se com os nobres, *
assentar-se com nobres do seu povo.     R.

Evangelho: Jo 15,9-17 

 Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 9 Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. 10 Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. 11 Eu eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena. 12 Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. 13 Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. 14 Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. 15 Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. 16 Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. 17 Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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São Matias Apóstolo

– É Deus quem escolhe.
– Nunca nos faltam as graças necessárias para levarmos a bom termo a nossa vocação.
– A felicidade e o sentido da vida estão em seguir a chamada que Deus faz a cada homem.

Depois da Ascensão, enquanto esperavam a vinda do Espírito Santo, os Apóstolos escolheram Matias para que ocupasse o lugar de Judas e se completasse o número dos Doze, que representavam as doze tribos de Israel. Matias fora discípulo do Senhor e testemunha da Ressurreição. Segundo diz a tradição, evangelizou a Etiópia, onde sofreu o martírio. As suas relíquias foram levadas a Tréveris por ordem de Santa Helena. É o padroeiro da cidade.

I. NÃO FOSTES VÓS que me escolhestes, mas eu que vos escolhi e vos enviei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça 1.

Depois da traição de Judas, tinha ficado um lugar vago entre os Doze Apóstolos. Com a eleição do novo Apóstolo, viria a cumprir-se o que o próprio Espírito Santo tinha profetizado e o que Jesus tinha instituído expressamente. O Senhor quis que fossem doze os seus Apóstolos 2. O novo Povo de Deus devia estar alicerçado sobre doze colunas, como o antigo tinha estado sobre as doze tribos de Israel 3.

São Pedro, exercendo o seu primado diante dos cento e vinte discípulos, declara as condições que devia ter aquele que completaria o Colégio Apostólico, conforme aprendera do Mestre: o discípulo devia ter convivido com Jesus. Por isso diz no seu discurso: É necessário que, destes homens que nos acompanharam durante todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós, desde o batismo de João até o dia em que foi arrebatado dentre nós, um deles seja constituído testemunha conosco da sua ressurreição 4. O Apóstolo ressalta a necessidade de que o novo eleito tivesse sido testemunha ocular da pregação e dos atos de Jesus ao longo da sua vida pública, e de modo muito especial da Ressurreição. Trinta anos mais tarde, dirá nas últimas palavras que dirigiu a todos os cristãos: Porque não foi seguindo fábulas engenhosas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas depois de termos sido testemunhas oculares da sua grandeza 5.

Pedro não escolhe, mas deixa a sorte nas mãos de Deus, conforme se fazia por vezes no Antigo Testamento 6Lançam-se sortes, mas é Deus quem decide, lê-se no Livro dos Provérbios 7. Mencionaram-se dois: José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome o Justo, e Matias, forma abreviada de Matatias, que significa presente de Deus. Tiraram os seus nomes à sorte, e a sorte caiu sobre Matias, que foi associado aos onze Apóstolos. Um historiador antigo alude a uma tradição segundo a qual este discípulo pertencia ao grupo dos setenta e dois que, enviados por Jesus, tinham ido pregar pelas cidades de Israel 8.

Antes da eleição, Pedro e toda a comunidade oraram a Deus, porque a eleição não seria feita por eles: a vocação é sempre uma escolha divina. Por isso disseram: Tu, Senhor, que conheces os corações de todos, mostra-nos qual destes dois escolheste. Os onze e os outros discípulos não se atreveram a tomar por si próprios, levados por considerações ou simpatias pessoais, a responsabilidade de indicar um sucessor para Judas. São Paulo, quando se sentir movido a declarar a origem da sua missão, dirá que foi constituído não pelos homens nem pela autoridade de um homem, mas somente por Jesus Cristo, e por Deus, seu Pai 9. É o Senhor quem escolhe e envia. Também agora.

Cada um de nós tem uma vocação divina, uma chamada para a santidade e para o apostolado, recebida no batismo e especificada depois nas sucessivas intervenções de Deus na sua história pessoal. E há momentos em que esta chamada se torna especialmente intensa e clara. “Eu também não pensava que Deus me apanharia como o fez. Mas o Senhor [...] não nos pede licença para nos “complicar a vida”. Mete-se e... pronto!” 10 E depois cabe a cada um a responsabilidade de corresponder. Hoje podemos perguntar-nos na nossa oração: Sou fiel ao que o Senhor quer de mim? Procuro cumprir a vontade de Deus em todos os meus projetos? Estou disposto a corresponder ao que o Senhor me vai pedindo ao longo da vida?

II. ... ET CECIDIT SORS super Matthiam..., a sorte caiu sobre Matias... A chamada de Matias recorda-nos que a vocação recebida é sempre um dom imerecido. Deus chama-nos para que nos assemelhemos cada vez mais a Cristo, para que participemos da vida divina; atribui-nos uma missão na existência e quer que permaneçamos bem ao seu lado, numa vida felicíssima, já aqui na terra e depois na eterna. Cada um é chamado por Deus para estender o seu reinado no lugar em que se encontra e de acordo com as suas circunstâncias.

Mas, além dessa chamada universal à santidade e à dedicação apostólica, Jesus faz chamadas especiais. E chama muitos: uns para que dêem dEle um testemunho particular afastando-se do mundo, ou para que prestem um serviço particular pelo exercício do sacerdócio; outros, a imensa maioria, para que, permanecendo no mundo, o vivifiquem por dentro, mediante a vida matrimonial, que é um “caminho de santidade” 11, ou mediante o celibato, pelo qual se entrega a Deus o coração inteiro, por amor a Ele e às almas.

A vocação não nasce de bons desejos ou de grandes aspirações. Não foram os Apóstolos, e agora Matias, que escolheram o Senhor como Mestre, conforme o costume judeu de selecionar o rabino com quem se queria aprender. Foi Cristo quem os escolheu: a quase todos, diretamente, e, no caso de Matias, por meio dessa eleição que a Igreja depositou nas mãos de Deus. Não fostes vós que me escolhestes – recordará Jesus na Última Ceia, conforme lemos hoje no Evangelho da Missa –, mas eu que vos escolhi e vos destinei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça 12. Por que estes homens gozaram desse imenso dom? Por que precisamente eles e não outros? Não tem cabimento fazer uma pergunta dessas. Foram escolhidos simplesmente porque o Senhor os chamou. E nessa libérrima escolha de Cristo – chamou os que quis 13 – reside toda a honra e a essência da vida dos escolhidos.

Desde o primeiro momento em que Jesus fixa o seu olhar numa alma e a convida a segui-lo, passa a haver muitas outras chamadas, que talvez pareçam pequenas, mas que sinalizam o caminho: “Ao longo da vida, ordinariamente pouco a pouco, mas de modo constante, Deus propõe-nos – com convites exigentes – muitas «determinações» dessa chamada radical, que implicam sempre uma relação de pessoa a pessoa com Cristo. Deus pede-nos desde o princípio a decisão de segui-lo, mas, com uma sábia pedagogia, oculta-nos a totalidade dos posteriores desdobramentos daquela decisão, talvez porque não seríamos capazes de aceitá-los in actu 14, naquele momento. O Senhor vai dando à alma luzes e graças particulares, mediante novos impulsos através dos quais o Espírito Santo parece puxá-la para cima, em desejos de ser melhor, de servir mais os homens.

Segundo a tradição, Matias morreu mártir, como os outros Apóstolos. A essência da sua vida consistiu em realizar a doce e por vezes dolorosa a tarefa que naquele dia o Espírito Santo colocou sobre os seus ombros. Na fidelidade à nossa vocação, desde o momento em que o Senhor nos chama e ao longo dos seus contínuos detalhamentos, está também a nossa maior felicidade e o sentido da nossa vida.

III. JESUS ESCOLHE os seus discípulos, chama-os. Esta chamada é o seu maior bem, o que lhes dá direito a uma especial união com o Mestre, a graças especiais, a serem amorosamente escutados na intimidade da oração. “A vocação de cada um funde-se até certo ponto com o seu próprio ser: pode-se dizer que vocação e pessoa tornam-se uma coisa só. Isto significa que na iniciativa criadora de Deus está presente um particular ato de amor para com os que são chamados não apenas à salvação, mas ao ministério da salvação.

Por isso, desde a eternidade, desde que começamos a existir nos desígnios do Criador e Ele nos quis criaturas, também nos quis chamados, predispondo em nós os dons e as condições para a resposta pessoal, consciente e oportuna, ao apelo de Cristo ou da Igreja. Deus, que nos ama, que é Amor, é também «Aquele que chama» (cfr. Rom 9, 11)” 15.

Paulo começa as suas cartas assim: Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado a ser Apóstolo, escolhido para o Evangelho de Deus16. Chamado e eleito não pelos homens, nem pela autoridade de um homem, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai 17. O Senhor chama-nos como chamou Moisés 18, Samuel 19, Isaías 20. É uma chamada que não se baseia em méritos pessoais: O Senhor chamou-me antes de eu ter nascido 21. E Paulo dirá ainda mais categoricamente: Deus chamou-nos com uma vocação santa, não em virtude das nossas obras, mas segundo o seu desígnio 22.

Jesus chamou os seus discípulos para que partilhassem com Ele o seu cálice, isto é, a sua vida e a sua missão. Agora convida-nos a cada um de nós: temos de estar atentos para não abafar essa voz com o ruído das coisas, que, se não são nEle e por Ele, não têm o menor interesse. Quando se ouve a voz de Cristo que convida a segui-lo completamente, nada mais importa... E Ele, ao longo da vida, vai-nos descobrindo a imensa riqueza contida na primeira chamada, a daquele dia em que passou mais perto de nós.

Mal foi eleito, Matias mergulhou novamente no silêncio. Como os outros Apóstolos, experimentou o ardente transporte de Pentecostes. Calcorriou caminhos, pregou e curou doentes, mas o seu nome não volta a aparecer na Sagrada Escritura. Como os outros Apóstolos, deixou um rasto luminoso de fé inquebrantável que dura até os nossos dias. Foi uma luz viva que Deus contemplou do Céu, com imensa alegria.

(1) Jo 15, 16; Antífona da entrada da Missa de 14 de maio; (2) cfr. Mt 19, 28; (3) cfr. Ef 2, 20; (4) At 1, 21-22; (5) 2 Pe 1, 16; (6) cfr. Lev 16, 8-9; Num 26, 55; (7) Prov 16, 33; (8) cfr. Eusébio, História Eclesiástica, 1, 12; (9) Gal 1, 1; (10) Josemaría Escrivá, Forja, n. 902; (11) Josemaría Escrivá, Questões atuais do cristianismo, 3ª ed., Quadrante, São Paulo, 1986, n. 92; (12) Jo 15, 16; (13) Mc 3, 13; (14) P. Rodriguez, Vocatión, trabajo, contemplación, EUNSA, Pamplona, 1986, pág. 28; (15) João Paulo II, Alocução em Porto Alegre, 5-VII-1980; (16) Rom 1, 1; Cor 1, 1; (17) Gal 1, 1; (18) Ex 3, 4; 19, 20; 24, 16; (19) 1 Sam 3, 4; (20) Is 49, 1; (21) Is 48, 8; (22) 2 Tim 1, 9.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


São Matias, Apóstolo

14 de Maio

São Matias

São Matias é citado pela primeira vez no livro dos Atos dos Apóstolos, 1, 15-26. Matias se tornou um dos doze Apóstolos depois da morte e ressurreição de Jesus. Foi ele quem ocupou o lugar de Judas Iscariotres, que se suicidou depois de perceber o grave erro que cometera. O número 12 era muito importante para o grupo dos Apóstolos, pois simbolizava as 12 tribos de Israel que, por sua vez, simboliza todo o povo de Deus. Os 12 Apóstolos de Jesus simbolizam, assim, a restauração do povo de Deus. Por isso, era importante escolher o décimo segundo Apóstolo. Por ter sido escolhido depois, ele é chamado também de “Apóstolo Póstumo”.

Através deste relato do Livro dos Atos, podemos deduzir que, embora não tenha sido contado entre os doze desde o início, Matias foi um discípulo de Jesus e acompanhou o ministério do Mestre desde o início:E o eleito deve ser dos que estiveram entre nós o tempo todo em que o Senhor conviveu entre nós, desde que foi batizado por João Batista até que ressuscitou e subiu aos céus...” Portanto, ele conheceu Jesus pessoalmente. Certamente deve ter sido um dos setenta e dois discípulos que Jesus enviou a pregar pelas cidades conforme Lucas 10, 1-24. Matias era, portanto, um discípulo fiel de Jesus. Tanto que estava lá, presente entre os seguidores do Mestre, após a morte, ressurreição e Ascensão do Senhor.

Segundo a Tradição, o Apóstolo São Matias, depois de receber a força do Espírito Santo em Pentecostes, saiu em missão para evangelizar a Judéia, a região da Capadócia e, depois, ainda esteve nas terras distantes da Etiópia. Sua missão foi eficaz e converteu a muitos em todos esses lugares. Por isso mesmo, ele sofreu duras perseguições até o martírio.

São Matias sofreu duras perseguições durante toda a sua missão apostólica. Porém, não desanimou. Incansável, anunciou o Evangelho de Jesus Cristo até o fim de sua vida. E entregou sua vida por Cristo. A Tradição conta que São Matias morreu por apedrejamento e que, depois disso, foi decapitado na cidade de Jerusalém. Sabe-se que ele testemunhou até o fim sua fidelidade a Jesus, a despeito das injúrias, das torturas e da morte. Por causa de seu testemunho, muitos se converteram à fé em nosso Senhor Jesus Cristo.

A Tradição conta que Santa Helena, mãe de Constantino, o imperador romano, ordenou a trasladação das relíquias do Apóstolo São Matias para a cidade de Roma. Uma parte delas permaneceu guardada na famosa igreja de Santa Maria Maior. O restante foi trasladado para a igreja de São Matias, que fica na cidade de Treves, Alemanha. Há uma tradição que diz que esta cidade foi evangelizada por São Matias. Por isso, ele foi instituído como seu padroeiro.

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br


13 de Maio 2020

A SANTA MISSA

5ª Semana da Páscoa – Quarta-feira 
Cor: Branca

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1ª Leitura: At 15,1-6 

Decidiram que Paulo, Barnabé e alguns outros fossem a Jerusalém,
para tratar dessa questão com os apóstolos e anciãos. 

Leitura dos Atos dos Apóstolos

1 Naqueles dias, chegaram alguns da Judeia e ensinavam aos irmãos de Antioquia, dizendo: “Vós não podereis salvar-vos, se não fordes circuncidados, como ordena a Lei de Moisés”. 2 Isto provocou muita confusão, e houve uma grande discussão de Paulo e Barnabé com eles. Finalmente, decidiram que Paulo, Barnabé e alguns outros fossem a Jerusalém, para tratar dessa questão com os apóstolos e os anciãos. 3 Depois de terem sido acompanhados pela Comunidade, Paulo e Barnabé atravessaram a Fenícia e a Samaria. Contaram sobre a conversão dos pagãos, causando grande alegria entre todos os irmãos. 4 Chegando a Jerusalém, foram recebidos pelos apóstolos e os anciãos, e narraram as maravilhas que Deus tinha realizado por meio deles. 5 Alguns dos que tinham pertencido ao partido dos fariseus e que haviam abraçado a fé levantaram-se e disseram que era preciso circuncidar os pagãos e obrigá-los a observar a Lei de Moisés. 6 Então, os apóstolos e os anciãos reuniram-se para tratar desse assunto.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 121, 1-2. 3-4a. 4b-5 (R. Cf. 1)

R. Que alegria, quando me disseram: Vamos à casa Senhor!

Ou: Aleluia, Aleluia, Aleluia

1 Que alegria, quando ouvi que me disseram:*
‘Vamos à casa do Senhor!’
2 E agora nossos pés já se detêm, Jerusalém, em tuas portas.      R.

3 Jerusalém, cidade bem edificada num conjunto harmonioso;
4a para lá sobem as tribos de Israel, as tribos do Senhor.      R.

4b Para louvar, segundo a lei de Israel, o nome do Senhor.
5 A sede da justiça lá está e o trono de Davi.      R

Evangelho: Jo 15,1-8 

 Quem permanecer em mim, e eu nele, produz muito fruto 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 1 “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. 2 Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda. 3 Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei. 4 Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim. 5 Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. 6 Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. 7 Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado. 8 Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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A Vide e os Sarmentos

TEMPO PASCAL. QUINTA SEMANA. QUARTA-FEIRA

– Jesus Cristo é a verdadeira vide. A vida divina na alma.
– “Jesus nos poda para que demos mais fruto”. Sentido da dor e da mortificação.
– União com Cristo. O apostolado, “superabundância da vida interior”. O ramo seco.

I. EU SOU A VIDEIRA, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto, lemos no Evangelho da Missa 1.

Pela sua ingratidão, o Povo eleito havia sido comparado com freqüência a uma vinha; assim, fala-se da ruína e restauração da vinha arrancada do Egito e plantada em outra terra 2; e Isaías manifesta a queixa do Senhor porque a sua vinha, depois de inúmeros cuidados, contando que lhe daria uma colheita de uvas, deu a graço, uvas amargas 3. Jesus também utilizou a imagem da vinha para significar a rejeição do Messias por parte dos judeus e a chamada dirigida aos gentios 4.

Mas aqui o Senhor emprega a imagem da videira e dos ramos num sentido totalmente novo. Cristo é a verdadeira videira, que comunica a sua própria vida aos ramos. É a vida da graça que flui de Cristo e se comunica a todos os membros do seu Corpo, que é a Igreja: sem essa seiva nova, esses membros não produzem fruto algum, pois estão secos, mortos.

É uma vida de valor tão alto que Jesus derramou até a última gota do seu sangue para que pudéssemos recebê-la. Todas as suas palavras, ações e milagres nos introduzem progressivamente nessa vida, ensinando-nos como nasce e cresce em nós, como morre e como nos é restituída se a perdemos 5. Eu vim, diz-nos Ele, para que tenham vida e a tenham em abundância6. Permanecei em mim e eu permanecerei em vós 7.

O Senhor nos faz participar da própria vida divina! Quando é batizado, o homem transforma-se no mais profundo do seu ser, de tal modo que é como se nascesse de novo: torna-se filho de Deus, irmão de Cristo e membro do seu Corpo que é a Igreja. Esta vida é eterna, se não a perdemos pelo pecado mortal. A morte já não tem verdadeiro poder sobre aquele que a possui, pois esse jamais morrerá, mas apenas mudará de casa 8, para ir morar definitivamente no Céu.

Jesus Cristo quer que os seus irmãos participem dessa vida que Ele tem em plenitude. “A vida que da adorável Trindade se derramou sobre a santa Humanidade do Senhor transborda novamente, estende-se e propaga-se. Da cabeça desce aos membros [...]. O tronco e os ramos formam um único ser, nutrem-se e atuam conjuntamente, produzindo os mesmos frutos porque são alimentados pela mesma seiva” 9.

Eu vos escrevo isto, diz-nos São João depois de nos ter narrado inúmeras maravilhas, para que saibais que tendes a vida eterna 10. Esta vida nova chega até nós ou se fortalece especialmente pelos sacramentos, que o Senhor quis instituir para que a Redenção pudesse chegar a todos os homens de uma maneira simples e acessível. Nesses sete sinais eficazes da graça encontramos Cristo, o manancial de todas as graças. “Neles o Senhor fala conosco, perdoa-nos, conforta-nos; neles nos santifica, neles nos dá o ósculo da reconciliação e da amizade; neles nos comunica os seus próprios méritos e o seu próprio poder; neles se nos dá Ele mesmo” 11.

II. TODO O RAMO que não der fruto em mim, ele o cortará; e todo aquele que der fruto, ele o podará para que dê mais fruto 12.

O cristão que inutiliza os canais pelos quais lhe chega a graça – a oração e os sacramentos – fica sem alimento para a sua alma, e “esta morre às mãos do pecado mortal, porque as suas reservas se esgotaram e chega um momento em que nem sequer é necessária uma forte tentação para que caia: cai por si própria, porque já não tem forças para manter-se de pé. Morre porque a sua vida acabou. E se os canais da graça não estiverem bem desimpedidos, porque uma montanha de apatias, negligências, preguiças, comodismos, respeitos humanos, influências do ambiente, pressas e outros afazeres [...] os obstrui, então a vida da alma vai enlanguidecendo e agoniza até que acaba por morrer. E, naturalmente, a sua esterilidade é total, pois não dá nenhum fruto” 13.

A vontade do Senhor, no entanto, é que demos fruto e o demos abundantemente 14. É por isso que Ele poda o sarmento. É interessante observar que o Senhor utiliza o mesmo verbo para falar da poda dos ramos e, logo a seguir, da limpeza dos seus discípulos: Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho anunciado 15. Ao pé da letra, a tradução teria que ser esta: “E todo aquele que der fruto, ele o limpará para que dê mais fruto” 16.

Temos que dizer sinceramente ao Senhor que estamos dispostos a deixar que Ele arranque tudo o que em nós for obstáculo à sua ação: defeitos do caráter, apegos ao nosso critério ou aos bens materiais, respeitos humanos, pequenos pontos de comodismo ou de sensualidade...; que estamos decididos, ainda que nos custe, a deixar-nos limpar de todo esse peso morto, porque queremos dar mais frutos de santidade e de apostolado.

O Senhor nos limpa e purifica de muitas maneiras, por vezes permitindo fracassos, doenças, difamações... “Não ouviste dos lábios do Mestre a parábola da videira e das varas? – Consola-te. Ele exige muito de ti porque és vara que dá fruto... E te poda, «ut fructum plus afferas» – para que dês mais fruto. – É claro!: dói esse cortar, esse arrancar. Mas, depois, que louçania nos frutos, que maturidade nas obras!” 17

III. ASSIM COMO O RAMO não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim 18.

“Portanto – comenta Santo Agostinho –, todos nós, unidos a Cristo, nossa Cabeça, somos fortes, mas, separados da nossa Cabeça, não valemos nada [...]. Porque, unidos à nossa cabeça, somos vide; sem a nossa cabeça [...], somos ramos cortados, destinados não ao uso dos agricultores, mas ao fogo. Por isso Cristo diz no Evangelho: Sem mim não podeis fazer nada. Ó Senhor! Sem ti, nada; contigo, tudo [...]. Sem nós, Ele pode muito ou, melhor, tudo; nós sem Ele, nada” 19.

Os frutos que o Senhor espera de nós são muito diversos, mas tudo seria inútil – como se tentássemos colher bons cachos de uvas de um ramo que se desprendeu da cepa – se não tivéssemos vida de oração, se não estivéssemos unidos ao Senhor. “Olhemos para esses sarmentos, repletos por participarem da seiva do tronco: só assim aqueles minúsculos rebentos de alguns meses atrás puderam converter-se em polpa doce e madura, que cumulará de alegria a vista e o coração (cfr. Sl 100, 15). No chão talvez tenham ficado alguns gravetos soltos, meio enterrados. Eram sarmentos também, mas secos, crestados. São o símbolo mais expressivo da esterilidade” 20.

A vida de união com o Senhor ultrapassa o âmbito pessoal e manifesta-se no modo de trabalhar, no convívio com os colegas, nas atenções para com a família..., em tudo. Dessa unidade com o Senhor brota a riqueza apostólica, pois “o apostolado, seja qual for, é uma superabundância da vida interior” 21. Uma vez que Cristo é “a fonte e origem de todo o apostolado da Igreja, torna-se evidente que a fecundidade do apostolado dos leigos depende da sua união vital com Cristo. Pois é o Senhor quem diz: Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, porque sem mim nada podeis fazer (Jo 15, 5). Esta vida de união íntima com Cristo na Igreja alimenta-se de auxílios espirituais comuns a todos os fiéis... Os leigos devem servir-se de tal sorte desses auxílios que, enquanto cumprem com esmero as suas obrigações no meio do mundo, nas condições ordinárias da vida, não separem a união com Cristo da sua vida privada, mas cresçam intensamente nessa união, realizando as suas tarefas segundo a vontade de Deus” 22.

Em todos as facetas da vida acontece a mesma coisa: ninguém dá o que não tem. Só da árvore boa se podem colher bons frutos. “Os ramos da videira são desprezíveis quando não estão unidos ao tronco; e nobres quando estão [...]. Se se cortam, não servem para nada, não interessam nem ao agricultor nem ao carpinteiro. Para os ramos, de duas uma: ou a videira ou o fogo; para não irem para o fogo, que estejam unidos à videira” 23.

Estamos dando os frutos que o Senhor espera de nós? Os nossos amigos têm-se aproximado de Deus, por nosso intermédio? Damos frutos de paz e de alegria no meio daqueles com quem mais convivemos? São perguntas que poderiam ajudar-nos a concretizar algum propósito antes de terminarmos a nossa oração. E fazemo-lo junto de Maria, que nos diz: Cresci como vinha de agradável odor, e minhas flores deram frutos de glória e abundância 24. Pois quem me acha encontra a vida e alcança o favor do Senhor 25. Ela é o caminho mais curto para chegarmos a Jesus, que nos cumula de vida divina.

(1) Jo 15, 1-8; (2) cfr. Sl 79; (3) cfr. Is 5, 1-5; (4) cfr. Mt 21, 33-34; (5) cfr. P. M. de la Croix, Testimonio espiritual del Evangelio de San Juan, Rialp, Madrid, 1966, pág. 141; (6) Jo 10, 10; (7) Jo 15, 4; (8) cfr. Missal Romano, Prefácio dos defuntos I; (9) M. V. Bernadot, Da Eucaristia à Trindade; (10) 1 Jo 5, 13; (11) E. Boylan, Amor Sublime; (12) Jo 15, 2; (13) F. Suarez, La vid y los sarmientos, 2ª ed., Rialp, Madrid, 1980, págs. 41-42; (14) cfr. Jo 15, 8; (15) Jo 15, 3; (16) cfr. nota a Jo 15, 2, em Santos Evangelhos; (17) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 701; (18) Jo 15, 4-6; (19) Santo Agostinho, Comentário ao Salmo 30, II, 1, 4; (20) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 254; (21) ib., n. 239; (22) Conc. Vat. II, Decr. Apostolicam actuositatem, 4; (23) Santo Agostinho, Trat. Evangelho de São João, 81, 3; (24) Eclo 24, 23; (25) Prov 8, 35.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal