Beata Ana de São Bartolomeu
07 de Junho
Beata Ana de São Bartolomeu
Ana Garcia nasceu em Almendral (Ávila) em 10 de outubro de 1549. Passou sua adolescência nos trabalhos do campo, mas já era agraciada por grandes graças místicas.
Aos 21 anos, em 1570, ingressou no primeiro mosteiro das Carmelitas Descalças, o mosteiro de São José, tornando-se a primeira irmã conversa da Reforma levada a efeito por Santa Teresa de Jesus.
Em 15 de agosto de 1572, a grande reformadora do Carmelo recebia sua profissão, e Ana logo se tornou sua assistente e a sua companheira de viagem; por ordem de Santa Teresa aprendeu a escrever quase que milagrosamente.
Ana acompanhou a Fundadora em três fundações e a sua presença tornou-se tão necessária à Santa, que esta não sabia pôr-se a caminho sem a sua companhia. Por vezes ela viajava dias inteiros sob a chuva ou sob a neve, não encontrando aldeia alguma por muitas léguas, não fazendo outra coisa senão tremer até os ossos.
Em 4 de outubro de 1582, em Alba de Tormes, Santa Teresa falecia. Ana de São Bartolomeu teve a consolação de assistir a Santa até os últimos momentos, pois ela queria morrer nos seus braços Tornou-se, então a herdeira da espiritualidade da Santa fundadora.
Ana continuou sua vida conventual em Ávila, em Madrid (1591), em Ocana (1595). Em 1604, com Ana de Jesus e outras quatro carmelitas, Ana de São Bartolomeu foi para a França para iniciar a reforma da Ordem também ali. Em 1605, foi eleita priora de Pontoise e de Tours em 1608.
Em 1611, voltou para Paris e obteve permissão para mudar-se para as Flandres para colocar-se sob a direção dos Carmelitas Descalços. Depois de um ano em Mons, Bélgica, parte para fundar um mosteiro em Anvers (1612), onde permaneceria os últimos quatorze anos de sua vida, gozando da estima dos arquiduques e do povo de Anvers, que suas orações haviam libertado da ocupação dos hereges.
Morreu na cidade belga no dia 7 de junho de 1626, Festa da Santíssima Trindade. Depois de sua morte ocorreram numerosos milagres; o seu corpo está sepultado no mosteiro anversano.
A vida da Beata Ana de São Bartolomeu foi toda voltada para o cumprimento da vontade de Deus, aceita com generosidade. Atingiu as mais altas vias de união com a Santíssima Trindade. Sua espiritualidade pode ser admirada na Autobiografia escrita por obediência. Deixou também alguns opúsculos espirituais formativos para as noviças carmelitas.
Foi beatificada em 6 de maio de 1917 pelo Papa Bento XV. Sua festa litúrgica é 7 de junho.
Fonte: http://heroinasdacristandade.blogspot.com
São Noberto
06 de Junho
São Noberto
Norberto nasceu, por volta de 1080, em Xauten, na Alemanha. Filho mais novo de uma família da nobreza, podia escolher entre a carreira militar e a religiosa. Norberto escolheu a segunda, mas buscou apenas prazeres e luxos, como faziam muitos nobres da Europa. Circulava em altas rodas, vestindo riquíssimas roupas da moda, dedicando-se a caçadas e à vida da corte, até que um dia foi atingido por um raio, quando cavalgava no bosque.
Seu cavalo morreu e, quando o jovem nobre despertou do desmaio, ouviu uma voz que lhe dizia para abandonar a vida mundana e praticar a virtude para salvar sua alma. Entendeu o acontecido como um presságio para uma conversa com Deus. A partir daquele instante, abandonou a família, amigos, posses e a vida dos prazeres. Passou a percorrer, na solidão, com os pés descalços e roupa de penitente, os caminhos da Alemanha, Bélgica e França. Para aprimorar o dom da pregação, completou os estudos teológicos no mosteiro de Siegburgo e recebeu a ordenação sacerdotal.
Talvez envergonhado pelo passado, empreendeu a luta por reformas na Igreja, visando acabar com os privilégios dos nobres no interior do cristianismo. Foi muito contestado, principalmente pelo próprio clero, mas conseguiu o apoio do papa e seu trabalho prosperou. Quando as reformas estavam já implantadas e em andamento, retirou-se para a solidão e fundou a Ordem dos Cônegos Regulares Premonstratenses, também conhecida como "dos Monges Brancos", uma referência ao hábito, que é dessa cor.
A principal regra da nova Ordem era fazer com que os sacerdotes vivessem sua vida apostólica com a disciplina e a dedicação dos monges, uma concepção de vida religiosa revolucionária para a época. Mas não encerrou aí seu apostolado, pois desejava continuar como pregador fora do mosteiro. Reiniciou sua obra de evangelização itinerante como um simples sacerdote mendicante.
Em 1126, foi nomeado arcebispo de Magdeburgo, lutando contra o cisma que ameaçava dividir a Igreja naquele tempo. Respeitado pelo rei Lotário III, da Alemanha, foi por ele escolhido para seu conselheiro espiritual e chanceler junto ao papa. Norberto morreu no dia 6 de junho de 1134, na sua sede episcopal, onde foi sepultado.
Ele foi canonizado, em 1582, pelo papa Gregório XIII. Devido à Reforma Protestante, suas relíquias foram trasladadas para a abadia de Strahov, na cidade de Praga, capital da República Tcheca, em 1627, onde estão guardadas até hoje. Ao lado de são Bernardo, são Norberto é considerado um dos maiores reformadores eclesiásticos do século XII. Atualmente, existem milhares de monges da Ordem de São Norberto, em vários mosteiros encontrados em muitos países de todos os continentes, inclusive no Brasil.
Fonte: http://www.arquisp.org.br
O Valor do que é Pequeno
TEMPO COMUM. NONA SEMANA. SÁBADO
– A esmola da viúva pobre. O importante para Deus.
– O amor dá valor ao que em si é pequeno e de pouca importância. A tibieza e o descuido do que é pequeno.
– A santidade é um tecido de pequenas miudezas. O crescimento nas virtudes e as coisas pequenas.
I. SÃO MARCOS RELATA no Evangelho da Missa de hoje1 que Jesus estava sentado defronte do gazofilácio do Templo e observava as pessoas que lançavam nele as suas esmolas. A cena tem lugar num dos átrios, na chamada câmara do tesouro ou sala das oferendas; os dias da Paixão já estavam próximos.
Havia muitos que lançavam grandes quantias, mas o Senhor continuava a observá-los sem fazer o menor comentário. A certa altura, porém, viu uma mulher que se aproximava com a vestimenta típica das viúvas e a clara aparência de ser uma mulher pobre. Provavelmente, tinha esperado que a aglomeração se desfizesse e, quando chegou a sua vez, deixou cair no cofre duas pequenas moedas, as de menor valor entre as que estavam em circulação. São Marcos esclarece para os leitores não judeus, a quem dirige particularmente o seu Evangelho, o valor real dessas moedas; quer chamar a atenção para a exigüidade da esmola. As duas moedas juntas perfaziam um quadrante, ou seja, a quarta parte de um asse; um asse, por sua vez, era a décima-sexta parte de um denário, e um denário, a diária de um trabalhador do campo. Poucas coisas se podiam, pois, comprar com um quadrante.
Se alguém se tivesse encarregado de anotar as oferendas que se iam fazendo nesse dia no Templo, certamente teria achado que não valia a pena tomar nota da esmola daquela mulher. E, no entanto, foi a mais importante de todas! Foi tão grata a Deus que Jesus convocou os seus discípulos dispersos pelo recinto para que aprendessem a lição daquela viúva. As pequenas moedas de cobre certamente não fizeram ruído nenhum, mas Jesus percebeu claramente o amor sem palavras de alguém que dava a Deus todas as suas economias. Em verdade vos digo: esta pobre viúva lançou no cofre mais do que ninguém, pois todos lançaram do que lhes sobrava, mas esta, da sua própria indigência, lançou tudo o que tinha, tudo o que lhe restava para o seu sustento 2.
Como é diferente o que é importante para Deus daquilo que é importante para nós, os homens! Como são diferentes as medidas! Nós costumamos impressionar-nos com o que é grande, chamativo. Deus comove-se – o Evangelho deixou-nos muitos outros testemunhos disso – com os pequenos detalhes de amor. É claro que também se comove com os gestos que costumamos considerar de grande importância, mas somente quando realizados com o mesmo espírito de retidão, de humildade e de amor.
Os Apóstolos, que seriam mais tarde o fundamento da Igreja, não esqueceram a lição daquele dia. E nós também sabemos agora como comover o coração de Deus: com a única coisa que temos normalmente ao nosso alcance – as coisas pequenas. “Não tens reparado em que «ninharias» está o amor humano? – Pois também em «ninharias» está o Amor divino” 3.
Podemos considerar hoje na nossa oração a grande quantidade de oportunidades que esta lição do Senhor nos abre: “Poucas vezes se apresentam grandes ocasiões de servir a Deus, mas as pequenas, continuamente. Pois deves compreender que quem for fiel no pouco será constituído no muito. Faze, pois, todas as tuas coisas para a honra de Deus, e as farás todas bem. Quer comas, quer bebas, quer durmas, quer te divirtas, quer estejas junto ao fogão, se souberes aproveitar essas tarefas, progredirás muito aos olhos de Deus realizando tudo isso porque assim quer Deus que o faças” 4.
II. SÃO AS PEQUENAS COISAS que tornam perfeita uma obra e, portanto, digna de ser oferecida ao Senhor. Não basta que aquilo que se realiza seja bom (trabalhar, rezar...); deve, além disso, ser uma obra bem terminada. Para que haja virtude – ensina São Tomás de Aquino –, é preciso reparar em duas coisas: naquilo que se faz e no modo de fazê-lo5. E quanto ao modo de fazê-lo, a cinzelada, a pincelada, o retoque final convertem aquele trabalho numa obra-prima. Pelo contrário, toda a obra “marretada”, feita de um modo desleixado e defeituoso, é sinal de languidez espiritual e de tibieza: Conheço as tuas obras, e que tens nome de vivo mas estás morto [...], pois não achei as tuas obras perfeitas na presença do meu Deus6. Quantas vezes os detalhes no trabalho, no estudo, no convívio social, são o coroamento de algo bom que, sem esse detalhe, ficaria incompleto!
O cuidado das pequenas coisas é exigido pela natureza própria da vocação cristã; é imitar Jesus nos seus anos de Nazaré, naqueles seus longos anos de trabalho, de vida familiar, de relacionamento amistoso com as pessoas da sua cidade. Um pequeno detalhe isolado pode não ter importância: “O que é pequeno, pequeno é; mas aquele que é fiel no pouco, esse é grande” 7, porque a perfeição no detalhe exige generosidade, sacrifício e sobretudo amor.
O amor é o que torna importantes as pequenas coisas8. Se faltasse, não teria sentido o interesse em estarmos atentos aos detalhes: converter-se-iam em mania ou farisaísmo; pagaríamos os dízimos da hortelã e do cominho – como faziam os fariseus –, e correríamos o risco de abandonar os pontos mais essenciais da lei, da justiça e da misericórdia.
Ainda que o que possamos oferecer a Deus como prova de amor por Ele nos pareça irrelevante – como a esmola da pobre viúva –, adquire um grande valor se o colocamos sobre o altar e o unimos ao oferecimento que o Senhor Jesus faz de si próprio ao Pai. Então “a nossa humilde entrega – insignificante em si, como o óleo da viúva de Sarepta ou o óbolo da pobre viúva – torna-se aceitável aos olhos de Deus pela sua união com a oblação de Jesus” 9.
Um dos sintomas mais claros de que se começa a enveredar pelo caminho da tibieza é que se passa a menosprezar os pormenores da vida de piedade, os detalhes no trabalho, os atos pequenos e concretos pelos quais se consolidam as virtudes. “A desgraça é tanto mais funesta e incurável quanto esse escorregar para o fundo mal se nota e se dá com maior lentidão [...]. É claro para todos que, com esse estado, se assesta um golpe mortal na vida do espírito” 10. O amor de Deus, pelo contrário, leva à vibração, ao engenho e ao esforço por encontrar em tudoocasião de amor a Deus e de serviço aos outros.
III. O SENHOR NÃO É INDIFERENTE a um amor que sabe esmerar-se nos detalhes. Não lhe é indiferente, por exemplo, que o cumprimentemos em primeiro lugar ao entrarmos numa igreja ou que o saudemos com o pensamento ao passarmos por uma delas; não lhe é indiferente o nosso esforço por chegarmos pontualmente (uns minutos antes) à Santa Missa; não lhe é indiferente uma genuflexão bem feita diante dEle no Sacrário ou a atitude recolhida com que estejamos na sua presença... Não é verdade que, quando se vê alguém dobrar o joelho com devoção diante do Sacrário, é fácil pensar: esse tem fé e ama a Deus? E esse gesto de adoração ajuda os outros a ter mais fé e mais amor. “Talvez vos possa parecer que a Liturgia está feita de coisas pequenas: atitudes do corpo, genuflexões, inclinações de cabeça, movimentos do incensário, do missal, das galhetas. É então que se devem recordar aquelas palavras de Cristo no Evangelho: Quem é fiel no pouco sê-lo-á no muito (Lc 16, 16). Por outro lado, nada é pequeno na Santa Liturgia, quando se pensa na grandeza dAquele a quem se dirige” 11, diz Paulo VI.
O espírito de sacrifício, por sua vez, concretiza-se normalmente em pequenos pormenores de renúncia ao longo do dia: na sobriedade à hora das refeições, em não comer nada fora delas, em comer com agradecimento o que nos servem, na pontualidade, na guarda da vista pela rua, em levantar-se da cama instantaneamente, em persistir numa tarefa, ainda que nos custe e nos tenha passado o entusiasmo, em sorrir para todos e sempre...
A caridade é também um feixe de detalhes muito pequenos da vida cotidiana, se a queremos viver de um modo delicado e heróico. “O dever da fraternidade para com todas as almas far-te-á exercitar «o apostolado das coisas pequenas», sem que o notem: com ânsias de serviço, de modo que o caminho se lhes mostre amável” 12. Será, por vezes, mostrarmo-nos verdadeiramente interessados naquilo que nos contam; ou deixarmos de lado as preocupações pessoais para pôr toda a atenção nos que estão naquele momento conosco; ou não nos irritarmos por coisas sem importância; ou ajudar a aliviar um peso que oprime os outros, e fazê-lo sem que o percebam; ou evitar o menor assomo de crítica; ou sermos sempre agradecidos..., coisas que estão ao alcance de todos... E o mesmo acontece com as demais virtudes, uma por uma.
Se estivermos atentos ao que é pequeno, viveremos em plenitude cada um dos nossos dias, saberemos dar a cada um dos instantes da nossa existência o sentido de uma preparação para a eternidade. Para isso, peçamos com muita freqüência a ajuda de Maria. Digamos-lhe constantemente: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós... agora, em cada situação pequena e normal da nossa vida.
(1) Mc 12, 38-44; (2) Mc 12, 43-44; (3) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 824; (4) São Francisco de Sales, Introdução à vida devota, III, 34; (5) cfr. São Tomás, Quodl., IV, a. 19; (6) Apoc 3, 1-2; (7) Santo Agostinho, Sobre a doutrina cristã, 14, 35; (8) cfr. Josemaría Escrivá, op. cit., n. 814; (9) João Paulo II, Homilia em Barcelona, 7-XI-1982; (10) B. Baur, A confissão freqüente, pág. 105; (11) Paulo VI, Alocução, 30-V-1967; (12) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 737.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
O Anjo da Guarda
TEMPO COMUM. NONA SEMANA. SEXTA-FEIRA
– Presença contínua do Anjo da Guarda.
– Devoção. Ajuda na vida ordinária e no apostolado
– Recorrer à sua ajuda na vida interior.
I. ALÉM DA CRIAÇÃO do mundo visível e do homem, Deus quis também difundir a sua bondade chamando à existência os anjos, criaturas de uma perfeição altíssima.
Espíritos puros – sem composição de matéria ou corpo –, os anjos são os seres mais perfeitos da criação. Por um lado, a sua inteligência atua com uma simplicidade e agudeza que estão acima do alcance do homem, e a sua vontade é mais perfeita que a humana. Por outro lado, são criaturas que, tendo já sido elevadas à visão beatífica, vêem Deus face a face. Esta maior excelência, por natureza e por graça, constitui os anjos como ministros ordinários de Deus e dá-lhes capacidade para influírem sobre os homens e sobre os seres inferiores. “O nome que a Sagrada Escritura lhes atribui indica que o que mais conta na Revelação acerca deles é a verdade sobre as suas tarefas com relação aos homens: anjo quer dizer mensageiro”1.
Além de intervirem em acontecimentos singulares da história, os anjos atuam constantemente na vida pessoal dos homens, pois “a providência divina deu aos anjos a missão de guardarem o gênero humano e socorrerem cada homem”2. São mais uma prova da bondade divina para conosco, e por isso nos socorrem, animam, confortam, e nos chamam ao bem, à confiança e à serenidade.
O Antigo Testamento contém um livro inteiro dedicado a relatar a ajuda de um arcanjo – São Rafael – à família de Tobias3. Sem dar a conhecer a sua condição, o arcanjo acompanha o jovem Tobias numa viagem longa e difícil, presta-lhe serviços e dá-lhe conselhos inestimáveis. Ao termo da viagem, ele mesmo se apresenta: Eu sou Rafael, um dos sete anjos que apresentam as orações dos justos e têm acesso à majestade do Santo4. O Senhor conhecia passo a passo a conduta honrada daquela família: Quando tu oravas [...], eu apresentava as tuas orações ao Senhor. Quando enterravas os mortos, eu também te assistia. Quando com diligência os sepultavas [...], eu estava contigo5.
A nossa vida também é um caminho longo e difícil, e, no final dele, quando com a ajuda da graça estivermos na casa do nosso Pai-Deus, o nosso Anjo da Guarda também poderá dizer-nos: “Eu estava contigo”, pois os Anjos da Guarda têm por missão ajudar cada homem a alcançar o fim sobrenatural a que é chamado por Deus. Eu mandarei um Anjo adiante de ti – disse o Senhor a Moisés – para que te defenda no caminho e te faça chegar ao lugar que te destinei6.
Agradeçamos a Deus que tenha querido confiar-nos a estes príncipes do Céu tão inteligentes e eficazes na sua ação, e manifestemos freqüentemente a estima que temos por eles.
II. OS ATOS DOS APÓSTOLOS narram alguns episódios que nos mostram a solicitude com que os anjos acompanham os homens: é a intervenção de um anjo na libertação dos Apóstolos da prisão, sobretudo na de Pedro, ameaçado de morte por Herodes; ou a de outro na conversão de Cornélio e da sua família; ou a de outro ainda, que leva o diácono Filipe até o ministro da rainha Candace, no caminho de Jerusalém a Gaza7.
O Papa João Paulo II cita estes episódios a título de exemplo na sua catequese sobre os anjos. E comenta: “Compreende-se assim como se pôde formar na consciência da Igreja a persuasão sobre o ministério confiado aos anjos em favor dos homens. Por isso a Igreja confessa a sua fé nos Anjos da Guarda, venerando-os na liturgia através de uma festa especial e recomendando o recurso à sua proteção mediante uma oração freqüente, como na invocação ao «Santo Anjo». Esta oração parece entesourar as belas palavras de São Basílio: «Todo o fiel tem junto de si um anjo como tutor e pastor, para levá-lo à vida»”8.
A oração ao “Santo Anjo”, que tantos cristãos aprenderam dos lábios de seus pais, diz assim, com uma ou outra variante: Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, hoje e sempre me rege e guarda, governa e ilumina. Amém. É uma oração breve, que é de muita ajuda na meninice, e que continua a fazer-nos bem quando já se passou uma boa parte da nossa vida e nem por isso deixamos de ter a mesma necessidade de proteção e amparo.
Se fizermos o propósito de invocar mais o Anjo da Guarda durante o dia de hoje, não deixaremos de notar a sua presença e de receber muitas graças e ajudas por seu intermédio. Além do seu auxílio espiritual, poderemos contar com a sua colaboração e o seu apoio nas pequenas necessidades da vida cotidiana: encontrar alguma coisa que não nos lembramos de onde a pusemos, chegar a tempo a uma entrevista marcada para uma hora de muito trânsito, conseguir que uma pessoa importante nos receba, etc., etc... Em tudo aquilo que se ordena para a glória de Deus – e todas as coisas retas podem ser ordenadas e dirigidas para a glória de Deus –, contamos com a ajuda do nosso Anjo da Guarda9. E podemos também relacionar-nos com os Anjos da Guarda dos nossos amigos, particularmente na tarefa de aproximá-los de Deus ou de evitar que se afastem dEle.
A piedade cristã tem considerado desde tempos muito antigos que há anjos adorando continuamente Jesus Sacramentado nos lugares em que está reservada a Santíssima Eucaristia. Apoiando-se na piedade popular, a arte cristã tem representado muitas vezes os anjos reunidos em torno dos ostensórios, com o rosto coberto pelas asas porque se consideram indignos de estar na presença do Senhor, tão grande é a sua majestade! Devemos pedir-lhes que nos ensinem a tratar Jesus, realmente presente no Sacrário, com a maior reverência e amor que possamos.
III. APESAR DA PERFEIÇÃO da natureza espiritual, os anjos não têm o poder e a sabedoria de Deus; não podem, por exemplo, ler o interior das consciências. Por isso, é necessário que lhes demos a conhecer o que precisamos deles em cada ocasião. Não são necessárias palavras, mas é necessário que nos dirijamos a eles com a mente, pois a sua inteligência está capacitada para conhecer o que imaginamos e pensamos explicitamente. Daí a razão por que se recomenda que fomentemos uma profunda amizade com o Anjo da Guarda.
O relacionamento com o Anjo da Guarda é menos palpável do que aquele que se tem com um amigo da terra, mas a sua eficácia é muito maior. Os seus conselhos vêm de Deus e calam mais fundo que a voz humana; a sua capacidade de ouvir-nos e compreender-nos é muitíssimo maior que a do melhor amigo; não só porque a sua permanência ao nosso lado é contínua, mas porque penetra muito mais profundamente naquilo de que precisamos ou que exprimimos.
É muito valiosa a assistência que o Anjo da Guarda nos pode prestar na vida interior, pois facilita a nossa piedade, orienta-nos na oração mental e nas orações vocais, e move-nos particularmente a procurar a presença de Deus por meio de atos freqüentes. Se o invocarmos, ele porá no trilho certo a nossa imaginação, sempre que esta nos dificulte o trabalho ou a oração. Sugerir-nos-á de algum modo propósitos para melhorarmos, ou uma maneira simples e prática de concretizarmos algum bom desejo que se revelava inoperante. Teremos sempre o recurso de pedir-lhe que se dirija em nosso nome a Deus, dizendo-lhe o que nós, na nossa inépcia, não sabemos expressar na nossa oração pessoal10. À hora de abrirmos a alma ao diretor espiritual, podemos pedir-lhe que nos sugira as palavras adequadas para vivermos plenamente a simplicidade e a sinceridade, depois de fazermos junto com ele o exame de consciência. E seremos mais serenos se nos lembrarmos dele nas nossas fraquezas.
A missão do Anjo da Guarda começa na terra, mas terá o seu pleno cumprimento no Céu, porque a sua amizade está chamada a perpetuar-se pelos séculos sem fim. É uma missão tão íntima e pessoal que os vínculos de amizade sobrenatural que criou na terra permanecerão no Céu. Ele será o nosso grande aliado no momento em que prestarmos contas a Deus da nossa vida.
“Será ele quem, no teu juízo particular, recordará as delicadezas que tiveres tido com Nosso Senhor, ao longo da tua vida. Mais ainda: quando te sentires perdido pelas terríveis acusações do inimigo, o teu Anjo apresentará aqueles impulsos íntimos – talvez esquecidos por ti mesmo –, aquelas manifestações de amor que tenhas dedicado a Deus Pai, a Deus Filho, a Deus Espírito Santo.
“Por isso, não esqueças nunca o teu Anjo da Guarda, e esse Príncipe do Céu não te abandonará agora, nem no momento decisivo”11. Será o nosso melhor amigo aqui na terra e mais adiante na eternidade.
(1) João Paulo II, Audiência geral, 30-VII-1986; (2) Catecismo Romano, IV, 9, 4; (3) Tob 11, 5-17; cfr. Primeira leitura da Missa da sexta-feira da nona semana do TC, ano ímpar; (4) Tob 12, 15; (5) cfr. Tob 12, 12-14; (6) Êx 23, 20; (7) cfr. At 5, 18-20; 10, 3-8; 8, 26 e segs.; (8) João Paulo II, Audiência geral, 6-VIII-1986; (9) cfr. G. Hubert, O meu Anjo caminhará à tua frente, 2ª ed., Prumo-Rei dos Livros, Lisboa, 1995, pág. 155; (10) cfr. Josemaría Escrivá, Forja, n. 272; (11) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 693.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Bonifácio
05 de Junho
São Bonifácio
Seu nome de batismo era Winfrid. Filho de uma família de nobres ingleses, nasceu em 673, na região de Devonshire, sudoeste da Inglaterra. Seguindo o costume da época, ainda na infância seus pais o levaram para um mosteiro beneditino para que ele recebesse a melhor educação possível, tanto acadêmica quanto religiosa. No mosteiro Winfrid se adaptou bem e quando chegou à juventude percebeu que tinha vocação para a vida religiosa e um desejo ardente de levar o nome de Jesus Cristo aos lugares mais distantes.
Quando completou dezenove anos, Winfrid fez seus votos religiosos na abadia beneditina de Exeter, também na Inglaterra. Lá, ele começou sua vida de professor. Lecionou regras monásticas em Exeter e também na abadia de Nurslig. Este tempo como professor o ajudou a descobrir sua vocação missionária, pois exercitou a oratória e a lida com pessoas de origens diferentes, saindo-se muito bem.
Dom Winfrid sentia em seu coração o desejo de anunciar o Evangelho aos povos germânicos que viviam além do rio Reno. Por isso, fez uma primeira tentativa de chegar à Alemanha para levar a fé cristã. Porém, por causa de divergências políticas entre um duque chamado Radbod, que era pagão, e o rei Carlos Martel, cristão, essa tentativa foi frustrada e ele não conseguiu realizar seu sonho.
No ano 718 Dom Winfrid fez uma peregrinação a Roma. Lá, conseguiu uma audiência com o Papa Gregório II e este decidiu apoiar seu intento de evangelização da Alemanha. Na ocasião, o Papa orientou Dom Winfrid a assumir o nome de Bonifácio, em homenagem a um famoso santo e mártir romano. Winfrid obedeceu e partiu para sua grande missão de evangelizar os povos germânicos, que ainda não conheciam Jesus Cristo.
Em território alemão, Dom Bonifácio chegou primeiramente à Turíngia. Depois, dirigiu-se à Frísia. Nos dois locais suas pregações conquistaram corações que se converteram à fé cristã. Depois disso, ele andou por quase toda a Alemanha levando a Boa Nova de Jesus Cristo e conquistando os corações dos germânicos. Sua missão frutificou e belas comunidades cristãs se firmaram em território alemão.
Aproximadamente no ano 723, Bonifácio viajou com um pequeno grupo de pessoas na região da Baixa Saxônia. Ele conhecia uma comunidade de pagãos perto de Geismar que, no meio do inverno, realizavam um sacrifício humano (onde a vítima normalmente era uma criança) a Thor, o deus do trovão, na base de um carvalho o qual consideravam sagrado e que era conhecido como “O Carvalho do Trovão”.
Bonifácio, acatando o conselho de um irmão bispo, quis destruir o Carvalho do Trovão não somente a fim de salvar a vítima, mas também para mostrar àqueles pagãos que ele não seria derrubado por um raio lançado por Thor.
O Santo e seus companheiros chegaram à aldeia na véspera de Natal, bem a tempo para interromper o sacrifício. Com seu báculo de bispo na mão, Bonifácio se aproximou dos pagãos que estavam reunidos na base do Carvalho do Trovão e lhes disse: “Aqui está o Carvalho do Trovão e aqui a cruz de Cristo que romperá o martelo do Thor, o deus falso”.
O verdugo levantou um martelo para matar o pequeno menino que tinha sido entregue para o sacrifício. Mas, o Bispo estendeu seu báculo para impedir o golpe e milagrosamente quebrou o grande martelo de pedra e salvou a vida deste menino.
Então, Bonifácio pegou um machado que estava perto dele e, segundo a tradição, quando o brandiu poderosamente ao carvalho, uma grande rajada de vento atingiu o bosque e derrubou a árvore, inclusive as suas raízes. A árvore caiu no chão, quebrou-se em quatro pedaços.
Depois deste acontecimento, o Santo construiu uma capela com a madeira do carvalho.
São Bonifácio voltou a Roma numa segunda peregrinação. O Papa nessa época, já era outro. Porém, ficou muito entusiasmado com o trabalho missionário na Alemanha e nomeou São Bonifácio como bispo de Mains. A partir desse momento, o apostolado de São Bonifácio ganhou nova força. Ele ordenou inúmeros padres e diáconos, fundou vários mosteiros masculinos e femininos, seguindo sua origem beneditina. Dentre esses mosteiros, destaca-se o de Fulda, que se tornou o grande centro da cultura religiosa da Alemanha. Liderou também a construção de várias igrejas e catedrais por todo o país. Para tanto, conseguiu a ajuda de um grande número de monges beneditinos vindos da Inglaterra. Estes ajudavam não só nas construções, mas também na evangelização do povo. Seu trabalho principal, porém, consistia na construção do templo invisível, que é a Igreja de Cristo. Por isso, ele viajou incansavelmente, participou de vários concílios e ajudou na promulgação de leis que tornaram a Alemanha um país melhor.
Devido ao grande sucesso de sua ação missionária, São Bonifácio estendeu sua missão até a França. Depois, em 754, foi para a Holanda. Lá exerceu também seu frutuoso apostolado, levando milhares de pessoas ao conhecimento de Jesus Cristo.
São Bonifácio estava na Holanda. No dia 6 de junho, dia de Pentecostes, ele foi celebrar a crisma de um enorme grupo de catecúmenos na cidade de Dokkun. Assim que ele iniciou a santa missa, uma horda de pagãos da Frísia invadiu a Igreja e matou todos os que estavam lá dentro. São Bonifácio recebeu um golpe de espada que partiu ao meio sua cabeça e ele entregou sua alma a Deus. Por isso, São Bonifácio é considerado mártir, pois deu sua vida por causa da fé em Cristo. Mas a semente que ele lançou, ganhou raízes profundas e se firmou para sempre no coração dos povos germânicos. Seus restos mortais foram levados para a igreja do belo mosteiro de Fulda.
Fonte: https://cruzterrasanta.com.br
O Primeiro Mandamento
TEMPO COMUM. NONA SEMANA. QUINTA-FEIRA
– Adorar o único Deus. A idolatria moderna.
– Razões para amar a Deus. Algumas faltas e pecados contra o primeiro Mandamento.
– O primeiro Mandamento abarca todos os aspectos da nossa vida. Manifestações do amor a Deus.
I. O EVANGELHO DA MISSA narra a pergunta de um escriba que, cheio de boa vontade, quer saber qual dos preceitos da lei é o mais importante 1. Jesus ratifica o que a Antiga Lei já havia estabelecido claramente: Escuta, Israel: o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor, e amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente e com todas as tuas forças. O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O escriba identifica-se plenamente com o ensinamento de Jesus, e a seguir repete devagar as palavras que acaba de ouvir. O Senhor dirige-lhe uma palavra carinhosa que o anima à conversão definitiva: Não estás longe do Reino de Deus.
Este mandamento, em que se resumem toda a Lei e os Profetas, começa pela afirmação da existência de um único Deus, e assim o repetimos no Credo: Credo in unum Deum – creio num só Deus. É uma verdade conhecida pela luz natural da razão, e os que faziam parte do Povo eleito sabiam bem que todos os deuses pagãos eram falsos.
No entanto, os ídolos foram para eles uma tentação constante e uma causa freqüente de afastamento do Deus verdadeiro, dAquele que os tirou da terra do Egito. Os Profetas sentir-se-ão impelidos a recordar-lhes a falsidade daquelas divindades que ficavam conhecendo quando entravam em contacto com nações mais poderosas e de uma cultura muito superior à deles, que os atraía e deslumbrava: tratava-se de povos mais ricos, materialmente mais avançados, mas mergulhados na escuridão da superstição, do erro e da ignorância. O Povo eleito, porém, não soube apreciar em muitas ocasiões a riqueza incomparável da Revelação, o tesouro da fé. Virou as costas à única fonte de águas vivas para ir beber em cisternas fendidas que não tinham água nem tinham capacidade para retê-la2.
Os antigos pagãos, homens civilizados para a época em que viveram, inventaram ídolos que adoravam de diversas formas. Muitos homens civilizados dos nossos dias – os novos pagãos – erguem ídolos mais bem construídos e mais refinados: parece que explode nos nossos dias uma verdadeira adoração e idolatria3 por tudo aquilo que se apresenta sob a aparência de “progresso” ou que proporciona mais bem-estar material, mais prazer, mais conforto... São atuais as palavras de São Paulo aos Filipenses: O Deus deles é o ventre, e a sua glória a própria vergonha, pois põem o coração nas coisas terrenas4. É a idolatria moderna, a que se vêem tentados também muitos cristãos, esquecendo o imenso tesouro da sua fé, a riqueza do amor a Deus.
O primeiro mandamento do Decálogo é violado quando se preferem outras coisas a Deus, ainda que sejam boas, pois então passa-se a amá-las desordenadamente, usando delas para um fim oposto ou diferente daquele para que foram criadas. Ao quebrar a ordem divina que o Decálogo nos estabelece, o homem já não encontra a Deus na criação e fabrica então o seu próprio deus, por trás do qual esconde radicalmente o seu próprio egoísmo e a sua soberba. Chega até a tentar nesciamente colocar-se no lugar de Deus, a erigir-se a si próprio como fonte do bem e do mal, caindo na cilada que o demônio estendeu aos nossos primeiros pais: Sereis como deuses, se não obedecerdes aos preceitos de Deus5.
Daí a necessidade – porque a tentação é real para cada ser humano – de nos perguntarmos muitas vezes – e assim o fazemos hoje na nossa oração – se Deus é verdadeiramente o que há de mais importante na nossa vida, o Sumo Bem, que orienta a nossa conduta e as nossas decisões. Amarás o Senhor teu Deus... e só a Ele adorarás. O empenho em seguir o caminho que Ele quer para nós – a vocação pessoal de cada um – é o modo concreto de vivermos esse amor e essa adoração.
II. AS RAZÕES PARA AMARMOS a Deus são muitas e muito poderosas: porque Ele nos tirou do nada, porque é Ele quem nos governa e nos proporciona o necessário para a nossa vida e sustento...6 Além disso, essa dívida que temos para com Ele pelo simples fato de existirmos, aumentou incomensuravelmente no momento em que o Senhor nos elevou à ordem da graça, e nos redimiu do poder do pecado pela Morte e Paixão do seu Filho Unigênito, e nos cumulou de incontáveis benefícios e dons: a dignidade de sermos seus filhos e templos do Espírito Santo... Seria uma terrível ingratidão se não lhe agradecêssemos o que nos deu; mais ainda – diz São Tomás –, seria como se fabricássemos um outro Deus, à semelhança dos filhos de Israel que, saindo do Egito, fizeram e adoraram um ídolo7.
A história pessoal de cada homem põe de relevo como a dignidade e a felicidade – mesmo humana – se conseguem pelos trilhos do amor a Deus, nunca fora deles. E quando a razão última de uma vida se cifra em qualquer coisa que não Deus, está-se exposto a cair sob o domínio das próprias paixões. Disse alguém com verdade que “o caminho do inferno já é um inferno”; cumprem-se então as palavras do profeta Jeremias aos que se sentiam deslumbrados com os ídolos das nações vizinhas: Os deuses alheios não vos concederão descanso8.
Deixar de amar a Deus é entrar por uma vertente em que uma concessão chama outra, pois quem ofende o Senhor “não se detém num pecado, mas, pelo contrário, é empurrado a consentir em outros: quem comete pecado é escravo do pecado (Jo 8, 34). Por isso não é nada fácil sair dele, como dizia São Gregório: «O pecado que não se extirpa pela penitência arrasta pelo seu próprio peso para outros pecados»”9. O amor a Deus, pelo contrário, leva a detestar o pecado, a fugir de qualquer ocasião em que possa haver perigo de ofendê-lo, a fazer penitência pelos pecados da vida passada.
Faltamos também ao amor de Deus quando não lhe prestamos o culto devido, quando não rezamos ou rezamos mal, quando nos detemos em dúvidas voluntárias contra a fé, quando damos crédito a superstições ou a doutrinas – ainda que se apresentem como científicas – que se opõem à fé, ambas fruto da ignorância; quando nos expomos – ou expomos os filhos ou pessoas que temos sob o nosso cuidado – a influências ou leituras danosas para a fé ou para a moral; quando desconfiamos de Deus, do seu poder, da sua bondade... Enfim, “este é o critério para que a alma possa conhecer com clareza se ama ou não a Deus com amor puro: se o ama, o seu coração não a levará a centrar-se em si mesma nem a ocupar-se obsessivamente em satisfazer os seus gostos e conveniências. Dedicar-se-á a buscar a honra e a glória de Deus e a agradar-lhe. Quanto mais coração tiver para si mesma, menos o terá para Deus”10.
III. O AMOR DE DEUS não se manifesta somente quando lhe prestamos o culto devido, mas quando o estendemos a todos os aspectos da vida. Amamos a Deus através do nosso trabalho bem feito, do cumprimento fiel dos nossos deveres na família, na empresa, na sociedade; amamo-lo com a mente, com o coração, com o porte exterior próprio de um filho de Deus...
Este mandamento exige acima de tudo que não encaremos a adoração – a procura da glória de Deus – como uma atitude ou uma disposição a cultivar entre muitas outras, mas como a finalidade última de todas as nossas ações, mesmo das mais vulgares: Quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus11. É uma orientação fundamental da alma, que exige, na prática, que façamos tudo – ou pelo menos que desejemos fazer tudo – para agradar a Deus; isto é, com retidão de intenção.
O amor de Deus alimenta-se através da oração e da freqüência de sacramentos, na luta constante por superarmos os nossos defeitos, no empenho por nos mantermos na presença de Deus ao longo do dia. De modo particular, a Sagrada Eucaristia deve ser a fonte que alimenta continuamente o nosso amor a Deus.
Devemos, pois, fazer com freqüência atos positivos de amor e de adoração a Deus: enchendo de conteúdo cada genuflexão – sinal de adoração – diante do Sacrário, ou talvez repetindo as palavras que dizemos ao recitar o Glória: Nós Vos louvamos, nós Vos bendizemos, nós Vos adoramos, nós Vos glorificamos, nós Vos damos graças. Assim poderemos dizer também, com palavras do hino eucarístico: Adoro te devote..., tibi se cor meum totum subiicit: Adoro-Vos, Senhor, com toda a devoção..., a Vós se submete o meu coração por inteiro.
Pensemos em que coisas temos o coração. Vejamos na nossa oração se lançamos mão de “expedientes humanos” para nos lembrarmos muitas vezes de Deus ao longo do nosso dia para, dessa forma, podermos amá-lo e adorá-lo sem cessar.
(1) Mc 12, 28-34; (2) cfr. Jer 2, 13; (3) Conc. Vat. II, Decr. Apostolicam actuositatem, 7; (4) Fil 3, 19; (5) Gên 3, 5; (6) Catecismo Romano, III, 2, 6; (7) cfr. São Tomás, Sobre o duplo preceito da caridade, 1; (8) Jer 16, 13; (9) São Tomás, op. cit.; (10) São João da Cruz, Cântico espiritual, 9, 5; (11) 1 Cor 10, 31.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Francisco Caracciolo
04 de Junho
São Francisco Caracciolo
São Francisco Caracciolo Ascânio Caracciolo era um italiano descendente, por parte de mãe, de santo Tomás de Aquino, portanto, como ele, tinha vínculos com a elite da nobreza. Nasceu próximo de Nápoles, na Vila Santa Maria de Chieti, em 13 de outubro de 1563. A família, muito cristã, preparou-o para a vida de negócios e da política, em meio às festas sociais e aos esportes.
Na adolescência, decidiu pela carreira militar. Mas foi acometido por uma doença rara na pele, parecida com a lepra e incurável também, alguns afirmam ter sido uma elefantíase que o desfigurava todo.
Quando todos os tratamentos se esgotaram, Ascânio rezou com fervor a Deus, pedindo que ele o curasse e prometendo que, se tal graça fosse concedida, entregaria a sua vida somente a seu serviço. Pouco depois a cura aconteceu.
Cumprindo sua determinação, tinha então vinte e dois anos, foi para Nápoles, onde estudou teologia e ordenou-se sacerdote. Começou seu trabalho junto aos “Padres Brancos da Justiça”, que se dedicavam ao apostolado dos encarcerados, doentes e pobres abandonados.
Entretanto, Deus tinha outros planos para ele. Na organização dos “Padres Brancos” havia um outro sacerdote que tinha exatamente o seu nome: Ascânio Caracciolo, só que era mais velho. Certo dia de 1588, o correio cometeu um erro, entregando uma carta endereçada ao Ascânio mais velho para o mais jovem, no caso ele. A carta fora escrita pelo sacerdote João Agostinho Adorno e por Fabrício Caracciolo, abade de Santa Maria Maior de Nápoles. E ambos se dirigiam ao velho Ascânio Caracciolo para pedir que colaborasse com a fundação de uma nova Ordem, a dos “Clérigos Regulares Menores”, dando alguns detalhes sobre o carisma que desejavam implantar.
O jovem Ascânio percebeu que a nova Ordem vinha ao encontro com o que ele procurava e foi conversar com os dois sacerdotes. Depois os três se isolaram no mosteiro dos camaldulenses, para rezar, jejuar e pedir a luz do Espírito Santo para a elaboração das Regras. Ao final de quarenta dias, com os regulamentos prontos, Ascânio propôs que fosse incluído um quarto voto, além dos três habituais de pobreza, obediência e castidade: o de não aceitar nenhum posto de hierarquia eclesiástica. O voto foi aceito e incorporado à nova Ordem.
Eles pretendiam estabelecer-se em Nápoles, mas o papa sugeriu que fossem para a Espanha, região que carecia de novas Ordens. Porém, ao chegarem em Madri, o rei não permitiu a sua fundação. Voltaram para Nápoles. Nessa ocasião morreu Adorno, que era o prepósito-geral da Ordem, tarefa que Francisco Caracciolo assumiu com humildade até morrer.
Fiel ao pedido do papa, não desistiu da Espanha, para onde voltou outras vezes. Entre 1595 e 1598, Francisco fundou, em Valadolid, uma casa de religiosos; em Alcalá, um colégio; e, em Madri, um seminário, no qual foi mestre dos noviços. Mais tarde, retornou para a Casa-mãe em Nápoles, que fora transferida para Santa Maria Maior devido ao seu rápido crescimento.
Foram atividades intensas de que seu corpo frágil logo se ressentiu. Adoeceu durante uma visita aos padres do Oratório da cidade de Agnone e morreu, aos quarenta e quatro anos de idade, em 4 de junho de 1608.
Três dias após a morte foi feita uma autópsia de seu corpo. Em torno de seu coração, foram encontradas impressas as seguintes palavras: "O zelo da tua casa me devorará!".
Durante a sua estada em Agnona, São Francisco Carcciolo encontrou um jovem levando uma vida dissoluta. Ele o exortou a se converter para evitar a condenação eterna. O tolo acolheu a exortação com um sorriso superior, zombando da ameaça. Em seguida, São Francisco Caracciolo disse, com olhar severo: "Tudo bem que você zombe de mim, mas peça a misericórdia de Deus ou dentro de uma hora você vai cair nas mãos de sua justiça!" Antes que o tempo previsto, é cumprida a profecia e o jovem mundano caiu morto.
No dia em que morreu, uma hora antes do amanhecer, ele levantou-se e gritou: “Para o Céu” e logo depois faleceu. O santo, ao morrer, lembrou-se dos sacerdotes, deixando quase um testamento: "Precioso Sangue do Meu Jesus, você é meu, e em você e com você espero me salvar. Ó sacerdotes, esforcem-se em celebrar a Missa todos os dias e de enebriar-se por completo desse sangue. "
Na Bula de canonização foi dito que nada em Francisco Carcciolo era mais doce do que falar sobre Deus, nada era normal que o desejo de amá-lo, porque ele foi chamado o promotor e pregador do amor divino. Nele, o fogo do amor divino era tão grande que até brilhava em seu rosto.
Distinguiu-se especialmente pelo seu ardente amor pela Eucaristia expressa pela prática da adoração perpétua. Foi um promotor da adoração ao Santíssimo. Diante do Sacramento ficava, às noites, em adoração, durante a qual, inflamado, derramava copiosas lágrimas. Para promover o culto da Eucaristia, decidiu que os alunos de sua ordem todos os dias, por sua vez, se revezariam adorando o Santíssimo Sacramento. Esse exercício piedoso escolheu como sua principal característica.
Ele não se cansava de exortar os sacerdotes a celebrar a missa diária e aos fiéis a receber a comunhão com frequência, e para promover a adoração ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia, promovia uma adoração a cada primeiro domingo do mês. Para isso seu bispo em Abruzzo deu-lhe o título de protetor do movimento eucarístico da sua região.
O fervor eucarístico se transformou em entusiasmo para cuidar do próximo. Em Nápoles, o Santo, era conhecido como o Bom Samaritano "dos subúrbios geográficos e morais". "Tal era a sua preocupação pela conversão dos pecadores, prostitutas e os condenados à morte que foi chamado de" caçador de almas ".
Ele foi diligente em visitar os doentes, ajudar os moribundos, para recolher esmolas para garantir a educação e o casamento de meninas. Foi realmente o "pai dos pobres". Incansável na escuta das confissões, no sentido de tornar a doutrina acessível para as crianças, para pregar as verdades eternas para os fiéis, organizou congregações e foi também chamado de "o homem bronze."
Canonizado em 1807 pelo papa Pio VII. Em 1838, ele foi escolhido como um dos santos padroeiros de Nápoles , onde seu corpo descansa.
Ele foi enterrado em Santa Maria Maggiore, mas depois foi transferido para a igreja de Monteverginella . Seu culto em Nápoles atingiu o seu apogeu durante o primeiro terço do século XIX, declinando mais tarde.
É padroeiro da Associação dos cozinheiros, chefs, italianos, escolhido em 1838. Entre seus numerosos milagres, temos a cura de um aleijado precisamente durante seus funerais, acendendo totalmente a devoção dos napolitanos para com este grande santo.
Fonte: http://santossanctorum.blogspot.com
Ressuscitaremos com os nossos próprios corpos
TEMPO COMUM. NONA SEMANA. QUARTA-FEIRA
– Uma verdade de fé ensinada expressamente por Jesus.
– Qualidades e dotes dos corpos gloriosos.
– Unidade entre o corpo e a alma.
I. OS SADUCEUS, que não criam na ressurreição, aproximaram-se de Jesus para tentar fazê-lo cair numa cilada. Segundo a antiga lei de Moisés 1, se um homem morria sem deixar filhos, o irmão devia casar-se com a viúva para dar descendência ao falecido, e devia pôr o nome deste ao primeiro dos filhos. Os saduceus pretendem pôr em ridículo diante de Jesus a fé na ressurreição dos mortos e inventam um problema pitoresco 2: se uma mulher se casa sete vezes ao enviuvar de sucessivos irmãos, de qual deles será ela esposa no céu? Jesus responde-lhes ressaltando a frivolidade da objeção. Citando diversas passagens do Antigo Testamento, reafirma-lhes a existência da ressurreição e desfaz-lhes o argumento comentando-lhes as propriedades dos corpos ressuscitados3.
Censura-os por não conhecerem as Escrituras nem o poder de Deus, pois a verdade da ressurreição já estava firmemente estabelecida na Revelação. Isaías havia profetizado: A multidão dos que dormem no pó da terra despertará, uns para eterna vida, outros para vergonha e confusão 4. A mãe dos Macabeus confortava os seus filhos no momento do martírio recordando-lhes que o Criador do mundo [...] vos restituirá, na sua misericórdia, tanto o espírito como a vida, se agora fizerdes pouco caso de vós mesmos por amor às suas leis5. E para Jó, esta mesma verdade será o consolo dos seus dias maus: Sei que o meu Redentor vive e que no último dia ressuscitarei do pó [...]; na minha própria carne contemplarei a Deus6.
Devemos fomentar nas nossas almas a virtude da esperança, e concretamente o desejo de ver a Deus. “Os que amam procuram ver-se. Os enamorados só têm olhos para o seu amor. Não é lógico que seja assim? O coração humano sente esses imperativos. Mentiria se negasse que me arrasta tanto a ânsia de contemplar a face de Jesus Cristo. Vultum tuum, Domine, requiram, procurarei, Senhor, o teu rosto” 7.
Este desejo será saciado se permanecermos fiéis à nossa vocação de cristãos, porque a solicitude de Deus pelas suas criaturas levou-o a estabelecer a ressurreição da carne, verdade que constitui um dos artigos fundamentais do Credo 8, pois se não há ressurreição dos mortos, nem Cristo ressuscitou, e se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e também é vã a vossa fé 9. “A Igreja crê na ressurreição dos mortos [...] e entende que a ressurreição se refere ao homem inteiro” 10, incluído o seu corpo, o mesmo que tiver tido durante a sua passagem pela terra11.
A liturgia transmite esta verdade consoladora em inúmeras ocasiões: nEle (em Cristo) brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E àqueles a quem a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola. Ó Pai, para os que crêem em Vós, a vida não é tirada, mas transformada; e, desfeito o nosso corpo mortal, é-nos dado nos céus um corpo imperecível 12.
Deus espera-nos para sempre na sua glória. Que tristeza tão grande para aqueles que puseram toda a sua confiança neste mundo! E que alegria para os que sabemos que seremos nós mesmos, alma e corpo, que, com a ajuda da graça, viveremos eternamente com Jesus Cristo, com os anjos e os santos, louvando a Santíssima Trindade!
II. O NOSSO CORPO NO CÉU terá características diferentes, mas continuará a ser corpo e ocupará um lugar, como acontece agora com o Corpo glorioso de Cristo e o da Virgem Maria. Não sabemos onde está esse lugar nem como se forma: a terra ter-se-á transfigurado 13.
A recompensa de Deus estender-se-á ao corpo e o tornará imortal, pois a caducidade é conseqüência e sinal do pecado e a criação passou a estar submetida a ela por causa do pecado14. Tudo o que ameaça e impede a vida desaparecerá 15. Os ressuscitados para a glória – como afirma São João no Apocalipse – não terão fome nem sede, nem o sol ou calor algum os abrasará 16.
A fé e a esperança na glorificação do nosso corpo levar-nos-ão a apreciá-lo no seu justo valor. O homem “não deve desprezar a vida corporal, antes pelo contrário, deve ter como algo bom e honrar o seu próprio corpo, como criatura de Deus que ressuscitará no último dia” 17. No entanto, como está tão longe desta justa avaliação o culto que vemos prestar ao corpo nos nossos dias!
Temos certamente o dever de cuidar dele, de empregar os meios oportunos para evitar as doenças, o sofrimento, a fome..., mas sem esquecer que esse corpo ressuscitará no último dia, e que o importante é que ressuscite para ir para o Céu, não para o inferno. Para além da saúde, devemos propor-nos aceitar amorosamente a vontade de Deus sobre a nossa vida.
Não tenhamos uma preocupação desmedida pelo bem-estar físico. Lembremo-nos sempre de que “ao corpo, é preciso dar-lhe um pouco menos que o devido. Senão, atraiçoa” 18. Saibamos também aproveitar sobrenaturalmente as incomodidades ou os achaques que nos possam atingir – sem deixar de fazer serenamente o possível por evitá-los –, e não perderemos a alegria e a paz por termos posto o coração num bem relativo e transitório que só será definitivo e pleno na glória. “Tinha razão quem disse que a alma e o corpo são dois inimigos que não se podem separar, e dois amigos que não se podem ver” 19.
Não devemos esquecer em momento nenhum para onde nos encaminhamos e o verdadeiro valor das coisas que tanto nos preocupam. Deus criou-nos para estarmos para sempre com Cristo, em alma e corpo. Por isso, aqui na terra, “a última palavra só poderá ser um sorriso..., um cântico jovial” 20, porque, no além, o Senhor espera-nos de braços abertos e com gesto acolhedor.
III. BASEANDO-SE NA NATUREZA da alma e em diversas passagens da Sagrada Escritura, a doutrina cristã mostra a conveniência de que os corpos ressuscitem e tornem a juntar-se à alma. Em primeiro lugar, porque a alma é apenas uma parte do homem e, enquanto estiver separada do corpo, não poderá gozar de uma felicidade tão completa e acabada como a que possui a pessoa inteira. Por outro lado, como a alma foi criada para unir-se a um corpo, sofreria uma violência sobre o seu modo próprio de ser se viesse a separar-se dele definitivamente. Por último, e principalmente, é mais conforme com a sabedoria, a justiça e a misericórdia divinas que a alma volte a unir-se ao corpo a fim de que ambos – o homem completo, que não é só alma nem só corpo – participem do prêmio ou do castigo merecido na sua passagem pela vida na terra, se bem que seja uma verdade de fé que a alma imediatamente depois da morte recebe o prêmio ou o castigo, sem esperar pelo momento da ressurreição do corpo.
À luz do ensinamento da Igreja, vemos pois com outra profundidade que o corpo não é um mero instrumento da alma, ainda que receba dela a capacidade de agir e contribua com ela para a existência e o desenvolvimento da pessoa. Pelo corpo, o homem está em contacto com a realidade terrena que deve dominar, trabalhar e santificar porque Deus assim o quis21. Pelo corpo, o homem pode entrar em comunicação com os seus semelhantes e colaborar na edificação e desenvolvimento da comunidade social. Não podemos esquecer também que o homem recebe através do corpo a graça dos sacramentos: Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? 22
Somos homens e mulheres de carne e osso, mas a graça estende a sua influência ao corpo, diviniza-o de certo modo, proporcionando-lhe uma espécie de antecipação da ressurreição gloriosa. A consideração freqüente de que este nosso corpo, templo da Santíssima Trindade quando vivemos em graça, está destinado por Deus a ser glorificado, pode ajudar-nos muito a viver com a dignidade e a compostura de um discípulo de Cristo.
Peçamos a São José que nos ensine a viver um respeito delicado pelos outros e por nós mesmos. O corpo que temos na vida terrena também está destinado a participar para sempre da glória inefável de Deus.
(1) Deut 24, 5 e segs.; (2) Mc 12, 18-27; (3) cfr. Santos Evangelhos, EUNSA, comentários a Mc 12, 18-27 e lugares paralelos; (4) Is 26, 19; (5) 2 Mac 7, 23; (6) Jo 19, 25-26; (7) Josemaría Escrivá, em Folha informativa, n. 1, pág. 5; (8) cfr. Symbolum Quicumque, Dz. 40; Bento XII, Const. Benedictus Deus, 29-I-1336; (9) 1 Cor 15, 13-14; (10) Congregação para a Doutrina da Fé, Carta sobre algumas questões referentes à escatologia, 17-V-1979; (11) Conc. XI de Toledo, a. 675; Dz. 287 (540); cfr. Conc. IV Latrão, Sobre a fé católica, cap. I, Dz. 429 (801); etc.; (12) Missal Romano, Prefácio I de defuntos; (13) cfr. M. Schmaus, Teologia dogmática, vol. VII, Os novíssimos, pág. 514; (14) Rom 8, 20; (15) cfr. M. Schmaus, op. cit., vol. VII, pág. 255 e segs.; (16) Apoc 7, 15; (17) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 14; (18) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 196; (19) ib., n. 195; (20) L. Ramoneda Molins, Vientos que jamás ha roto nadie, Danfel, Montevideo, 1984, pág. 41; (21) Gên 1, 28; (22) 1 Cor 6, 15.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Carlos Lwanga e Companheiros
03 de Junho
São Carlos Lwanga e Companheiros
São Carlos Lwanga e seus 21 companheiros são ugandenses. Sofreram o martírio durante o reinado de Muanga, de cuja corte faziam parte. Isto aconteceu por volta do ano 1885.
Carlos Lwanga, chefe dos pajens, foi o primeiro a ser assassinado. Foi queimado lentamente a começar pelos pés. Kalemba Murumba foi abandonado numa colina com as mãos e os pés amputados, morrendo de hemorragia. André Kagua foi decapitado e o último, João Maria, foi lançado em um pântano.
Foram canonizados no dia 18 de Outubro de 1964, pelo papa Paulo VI.
Os primeiros missionários cristãos a pisarem no atual território de Uganda eram protestantes. Em 1877, eles foram acolhidos por Mutesa, o monarca de "Buganda" – como então era chamado o reino –, ficando livres para expandir a fé cristã em meio à população. A tolerância do Rei era tanta, que os missionários podiam pregar Jesus Cristo entre os próprios membros da sua corte. Mutesa mesmo, no entanto, não estava disposto a abandonar a poligamia – nem a circuncidar-se, como pedia o Islã. Apesar de aberto à pregação de todas as religiões, ele ficaria sem escolher nenhuma.
Dois anos mais tarde, em 1879, era a vez dos católicos serem acolhidos em seu reino: os Missionários da África – ou "Padres Brancos", como eram denominados – também passaram a evangelizar Uganda.
Mwanga I demonstrou-se um verdadeiro inimigo da religião cristã. Os seus motivos eram manifestos. Influenciado por más amizades, passou a perseguir sistematicamente os cristãos de Buganda – tanto anglicanos, quanto católicos. Também não lhe agradava a rejeição dos cristãos ao tráfico de escravos, o qual constituía uma importante fonte de recursos para o reino. Para que pudesse agir como bem entendesse, Mwanga tinha tomado uma firme decisão: teria que riscar o cristianismo do mapa de seu reino.
Numa manhã, em que o rei Mwanga reuniu a corte, pairava no ar uma grande expectativa. Na sala percebia-se a insólita presença de alguns energúmenos, enquanto o grupo dos pajens reais, esplêndidos exemplares de beleza negra, se comprimia em volta do trono. A estes Mwanga deu uma ordem esquisita: “Todos aqueles entre vocês que não têm intenção de rezar podem ficar aqui ao lado do trono; aqueles, porém, que querem rezar reúnam-se contra aquele muro”.
O chefe dos pajens, Carlos Lwanga, foi o primeiro a se mover do lugar e depois dele outros quinze. “Mas vocês rezam de verdade?” perguntou o rei. “Sim, meu senhor, nós rezamos realmente”, respondeu em nome de todos Carlos, que com seus companheiros passara em oração a noite apenas finda. “E querem continuar rezando?” “Sim, meu senhor, até a morte”. “Então, matem-nos”, decidiu bruscamente o rei, dirigindo-se aos algozes.
Rezar, de fato, tinha-se tornado sinônimo de ser cristão, no reino de Mwanga, rei de Buganda, região que faz parte atualmente da Uganda. No reino de Mwanga rezar, ou seja, ser cristão era absolutamente proibido.
Na verdade os inícios tinham sido bons. O rei Mutesa acolhera bem os padres brancos de Lavigérie, mas tiveram de se retirar por manobras de alguns chefes. Novamente chamados por Mwanga em 1885, aí encontraram cristãos comprometidos que ocupavam cargos de responsabilidade. Mas a aliança do “katikiro” — uma espécie de chanceler, cuja conjuração contra o rei foi revelada pelos cristãos — com os cortesãos e feiticeiros teria sido fatal aos cristãos.
O Rei perguntou em alta voz: "Todos os pajens estão aqui reunidos?". Lwanga confirmou. O rei então disse: "Todos os que seguem a religião dos brancos devem se postar atrás do grupo. Os que professam a minha religião podem permanecer próximos a mim. E se algum cristão tentar se esconder, saiba que perderá a cabeça imediatamente.".
Carlos Lwanga levantou-se e falou: "Todos os homens de boa consciência não podem renegar seu Deus. Sempre nos dizes para seguir suas ordens e nunca nos omitimos, mesmo quando enfrentando os inimigos. Hoje, novamente, iremos seguir o seu comando."
Então, pegando pela mão um dos pajens chamado Kizito, posicionou-se calmamente ao fundo, no que foi seguido pelos demais. Todos se alegram pois assim confessavam sua fé. Nisto o rei ordenou que os amarrassem e matassem.
Muitos foram logo levados e enforcados em árvores, outros, à prisão. No dia marcado, foram levados para fora da prisão, amarrados uns aos outros. Seguiu-se como uma procissão, com os soldados e carrascos brandindo suas armas, tocando tambores e cantando.
Apareceu então Senkoole, o Guardador da Chama Sagrada, que havia prometido vingança, e apontando para Carlos Lwanga disse: "Você eu quero para meu proveito pessoal, vou sacrificá-lo aos deuses, serás uma oferenda de primeira."
Sabendo que Senkoole, por motivos religiosos, não podia permanecer no mesmo local onde outros seriam mortos, ao ser separado dos demais, os exortou: "Meus amigos, nos encontraremos logo no Paraíso, eu ficarei um pouco mais, vocês chegarão primeiro. Mantenham a coragem e perseverem até o final."
Um a um dos cristãos era queimado com uma tocha, acessa diretamente na Chama Sagrada, enquanto ouviam a sentença: "A tua desobediência é responsável por tua morte e não o deus Kabaka".
Senkoole levou Carlos Lwanga para um lugar mais próximo de onde estavam os demais cristãos, para que estes pudessem assistir melhor. A pira foi construída embaixo de uma árvore, como se fosse uma cerca. Lwanga, amarrado, seria descido para próximo do fogo. Pediu, então, que o desamarrassem para que pudesse arranjar melhor a pira. Assim, o mártir pode preparar a sua cama de morte.
Novamente amarrado, desceram-no até perto do fogo. Senkoole controlava as chamas para que não fossem muito altas e, assim, queimassem Lwanga mais lentamente. Os pés eram queimados, mas o restante do corpo permanecia bem.
Senkoole lhe falou: "Estou queimando o mais lentamente possível, para que teu Deus tenha tempo de vir salvá-lo".
Lwanga respondeu: "Pobre homem bobo! Não entendes o que estás a dizer. Estás me queimando, mas é como se estivésseis colocando água sobre minha cabeça. Eu estou morrendo por amor a Deus, mas fique atento pois se não te arrependeres, é tu que queimarás pela eternidade."
Após, Lwanga ficou orando em silêncio. Quando finalmente percebeu que se último suspiro estava próximo, gritou:"Meu Deus!".
Morreu na manhã do Dia da Ascensão do Senhor, festa na qual esperava ansiosamente comparecer e já estava a preparar adequadamente.
No total, doze católicos e nove anglicanos foram queimados. Um deles, Mgaba Tuzinde, estava na multidão assistindo ao martírio. Reconhecido, foi jogado ao fogo na mesma hora. O martírio se deu em 3 de Junho de 1886, em Uganda. Um ano após sua morte, o número de catecúmenos já havia se multiplicado por quatro.
José Mukasa Balikuddembe, conselheiro do rei, foi decapitado a 15 de novembro de 1885; Amigo pessoal tanto de Mutesa quanto de seu filho Mwanga, Mukasa tinha levado a fé a muitos dos jovens pajens que trabalhavam na corte real. A sua posição de influência junto do Rei confirmava ainda mais a sua liderança e eram muitos os que se faziam católicos graças à sua pregação.
Em maio de 1886 foram mortos Dionísio Sbuggwawo, Ponciano Ngondwe, André Kaggwa, Atanásio Bazzukuketta, Gonzaga Gonga, Matias Kalemba, Noé Mwaggali.
Depois foi a vez dos pajens de que falávamos, três dos quais foram poupados, segundo o costume, após ter sido feito um sorteio. Ficou fazendo parte dos treze mártires Mbaga Tuzinda, filho do chefe dos carrascos, que tentou em vão repetidamente salvá-lo, mas ele não queria saber de separar-se dos seus amigos, entre os quais estava também um menino de 18 anos, Kizito.
Os vinte e dois mártires ugandenses foram beatificados por Bento XV e canonizados por Paulo VI a 18 de outubro de 1964, na presença dos padres do Concílio Vaticano II, e o próprio Paulo VI consagrou em 1969 o altar do grandioso santuário que surgiu em Namugongo, onde os três pajens guiados por Carlos Lwanga quiseram rezar até a morte.
Fonte: http://santossanctorum.blogspot.com
Santos Marcelino e Pedro
02 de Junho
Santos Marcelino e Pedro
Esta página da história da Igreja foi-nos confirmada pelo próprio papa Dâmaso, que na época era um adolescente e testemunhou os acontecimentos. Foi assim que tudo passou.
Na Roma dos tempos terríveis e sangrentos do imperador Diocleciano, padre Marcelino era um dos sacerdotes mais respeitados entre o clero romano. Por meio dele e de Pedro, outro sacerdote, exorcista, muitas conversões ocorreram na capital do império. Como os dois se tornaram conhecidos por todos daquela comunidade, inclusive pelos pagãos, não demorou a serem denunciados como cristãos. Isso porque os mais visados eram os líderes da nova religião e os que se destacavam como exemplo entre a população. Intimados, Marcelino e Pedro foram presos para julgamento. No cárcere, conheceram Artêmio, o diretor da prisão.
Alguns dias depois notaram que Artêmio andava triste. Conversaram com ele e o miliciano contou que sua filha Paulinha estava à beira da morte, atacada por convulsões e contorções espantosas, motivadas por um mal misterioso que os médicos não descobriam a causa. Para os dois, aquilo indicava uma possessão demoníaca. Falaram sobre o cristianismo, Deus e o demônio e sobre a libertação dos males pela fé em Jesus Cristo. Mas Artêmino não lhes deu crédito. Até que naquela noite presenciou um milagre que mudou seu destino.
Segundo consta, um anjo libertou Pedro das correntes e ferros e o conduziu à casa de Artêmio. O miliciano, perplexo, apresentou-o à sua esposa, Cândida. Pedro, então, disse ao casal que a cura da filha Paulinha dependeria de suas sinceras conversões. Começou a pregar a Palavra de Cristo e pouco depois os dois se converteram. Paulinha se curou e se converteu também.
Dias depois, Artêmio libertou Marcelino e Pedro, provocando a ira de seus superiores. Os dois foram recapturados e condenados à decapitação. Entrementes, Artêmio, Cândida e Paulinha foram escondidos pelos cristãos, mas eles passaram a evangelizar publicamente, conseguindo muitas conversões. Assim, logo foram localizados e imediatamente executados. Artêmio morreu decapitado, enquanto Cândida e Paulinha foram colocadas vivas dentro de uma vala que foi sendo coberta por pedras até morrerem sufocadas.
Quanto aos santos, o prefeito de Roma ordenou que fossem também decapitados, porém fora da cidade, para que não houvesse comoção popular. Foram levados para um bosque isolado onde lhes cortaram as cabeças. Era o dia 2 de junho de 304.
Os seus corpos ficaram escondidos numa gruta límpida por muito tempo. Depois foram encontrados por uma rica e pia senhora, de nome Lucila, que desejava dar uma digna e cristã sepultura aos santos de sua devoção. O culto dedicado a eles se espalhou no mundo católico até que o imperador Constantino mandou construir sobre essas sepulturas uma igreja. Outros séculos se passaram e, em 1751, no lugar da igreja foi erguida a belíssima basílica de São Marcelino e São Pedro, para conservar a memória dos dois santos mártires, a qual existe até hoje.
Fonte: https://sagradamissao.com.br