São Ranieri de Pisa
17 de Junho
São Ranieri de Pisa
A cidade de Pisa era, nos séculos XI e XII, um importante pólo comercial marítimo da Itália, que contribuía também no combate aos piratas sarracenos. Assim, paralelamente, ao burburinho dos negócios, a vida mundana da corte era exuberante e tentadora, principalmente para os mais jovens.
Foi nessa época, no ano 1118, que Ranieri Scacceri nasceu em Pisa. Era filho único de Gandulfo e Emengarda, ambos de famílias tradicionais de nobres mercadores riquíssimos. A sua educação foi confiada ao bispo de Kinzica, para que recebesse boa formação religiosa e para os negócios. Porém Ranieri, mostrando forte inclinação artística, preferiu estudar lira e canto. E para desgosto dos pais e do bispo, seu tutor, ele se entregou à vida fútil e desregrada, apreciando as festas da corte onde se apresentava. Com isso, tornou-se uma figura popular e conhecida na cidade de Pisa.
Aos dezenove anos de idade, impressionado com a vida miserável dos pobres da cidade e percebendo a inutilidade de sua vida, decidiu mudar. Contribuiu para isso o encontro que teve com o eremita Alberto da Córsega, que o estimulou a voltar para a vida de valores cristãos e a serviço de Deus. Foi assim que Ranieri ingressou no Mosteiro de São Vito, em Pisa, apenas como irmão leigo.
Depois de viver, até os vinte e três anos de idade, recolhido como solitário, doou toda a sua fortuna aos pobres e necessitados e partiu em peregrinação à Terra Santa, onde permaneceu por quase quatorze anos. Viajou por todos os lugares santos de Jerusalém, Acre e outras cidades da Palestina, conduzindo a sua existência pelo caminho da santidade. Foi nessa ocasião que sua virtude taumatúrgica para com os pobres passou a manifestar-se. Vestido com roupas pobres, vivendo só de esmolas, Ranieri lia segredos nos corações, expulsava demônios, realizava curas e conversões.
Já com fama de santidade, em 1154 retornou a Pisa e ao Mosteiro de São Vito, mas sempre como irmão leigo. Em pouco tempo, tornou-se o apóstolo e diretor espiritual dos monges e dos habitantes da cidade. Segundo os registros da Igreja, os seus prodígios ocorriam por meio do pão e da água benzidos, os quais distribuía a todos os aflitos que o solicitavam, o que lhe valeu o apelido de 'Ranieri d'água'.
Depois de sete anos do seu regresso da longa peregrinação, Ranieri morreu no dia 17 de junho de 1161. E desde então os milagres continuaram a ocorrer por sua intercessão, por meio da água benzida com sua oração ou colocada sobre sua sepultura.
Canonizado pelo papa Alexandre III, são Ranieri de Pisa foi proclamado padroeiro dos viajantes e da cidade de Pisa. A catedral dessa cidade conserva suas relíquias, que são veneradas no dia de sua morte.
Fonte: http://www.comeceodiafeliz.com.br
São Francisco de Régis
16 de Junho
São Francisco Régis
João Francisco nasceu no início do ano de 1597. Filho de uma família abastada, se distinguiu pela pureza da fé numa época e região em que dominavam os hereges huguenotes (protestantes calvinistas). Foi aluno do colégio dos jesuítas de Béziers, mostrou-se um apóstolo nato e possuía uma devoção a Nossa Senhora que o levou a entrar na Congregação Mariana do colégio e tornou-se apóstolo de seus colegas. Desses colegas, 5 chegaram a se mudar para casa de Régis, para buscarem uma vida mais perfeita.
Com um pouco mais de 14 anos, compôs uma regra para eles na qual fixava as horas para os estudos, proibia toda conversação inútil, dispunha de uma leitura espiritual durante as refeições além de exame de consciência a noite e comunhão aos domingos.
Aos 19 anos, entrou no noviciado dos Jesuítas onde foi um exemplo de obediência, humildade e devoção. Em uma noite, na qual se levantou para ir rezar na capela da casa, um colega seu o avistou e o denunciou ao superior, e este usou dessas palavras para com o colega de João: “Não turbeis as comunicações que esse anjo mantém com Deus, respondeu-lhe o sacerdote, pois, ou muito me engano, ou um dia celebrar-se-á na Igreja a festa de vosso companheiro”. Um conhecido autor da vida dos santos utiliza-se dessas palavras para falar sobre o noviciado de Francisco de Régis: O sagrado caráter do sacerdócio encheu seu coração com tal abundância de espírito de humildade, que resolveu viver daí para a frente morto a si mesmo e totalmente entregue a promover a glória de Deus e a salvação das almas.
Após sua ordenação sacerdotal em 1630, os empestados de Toulouse receberam as primícias do ministério apostólico do neo-sacerdote. “Sua linguagem era simples e popular, mas o fogo da caridade, do qual ele estava inflamado, dava a seus discursos um poder tal que toda a cidade vinha escutá-lo e ninguém podia ouvi-lo sem derramar lágrimas .... Um pregador eloqüente e renomado, tendo-o ouvido, disse: ‘É em vão que trabalhamos para ornar nossos discursos. Enquanto os catecismos deste santo missionário convertem, nossa bela linguagem não faz senão entreter sem produzir nenhum fruto”. Em 1633, acompanhou o bispo de Viviers para acompanha-lo em sua Visita Pastoral à diocese, onde existia muita decadência religiosa e erros protestantes oriundos do calvinismo. Seus sermões e suas patéticas exortações produziam muitas conversões e em Sommières, que era uma cidade conhecida pela irreligião e corrupção de costumes, os resultados foram tão surpreendentes que até o próprio missionário ficou surpreso e, para consolidar esses frutos, o missionário instituiu a Confraria do Santíssimo Coração, restabeleceu o costume das orações da manhã e da noite nos lares e um modo de socorrer os pobres da paróquia. Todos esses resultados provinham da vida interior do apóstolo que nada negligenciava para aniquilar-se a si mesmo com vistas a obter graças em suas pregações. Além de macerar seu corpo com disciplinas e cilícios, dormir 4 horas diárias, e ainda sentado num rude banco.
Não era com concessões doutrinárias que São Francisco de Régis obtinha seus triunfos. Mas, por exemplo, avançando com o Crucifixo na mão contra soldados protestantes que se preparavam para pilhar uma igreja e cometer toda sorte de sacrilégios, increpava-os com tanta força e convicção, que os mesmos abandonavam seu intento. Sua energia contra as blasfêmias só igualava sua paternalidade no confessionário. Certa vez, tendo um homem ousado blasfemar em sua presença, deu-lhe sonora bofetada. A uma mulher que fizera o mesmo, cobriu-lhe a boca com barro.
Sobre São João Francisco de Régis, os Bolandistas dizem: Um desejo imenso de procurar a glória de Deus; coragem a que nenhum obstáculo, nenhum perigo podem causar temor; aplicação infatigável na conversão dos pecadores; doçura inalterável que o torna mestre dos corações mais rebeldes; inesgotável caridade pelos pobres; paciência à prova de todas as contradições e de todos os maus tratos; firmeza que as ameaças e mesmo a vista da morte não puderam jamais abalar; a humildade mais profunda, abnegação mais completa, despojamento mais absoluto, obediência mais exata, pureza de anjo, soberano desprezo do mundo, amor insaciável pelos sofrimentos, em uma palavra, todas as virtudes pelas quais uma pessoa santifica a si própria e santifica as outras, tal é o resumo desta admirável vida.”
Fonte: https://salvemaria.com.br
A Santidade no mundo
TEMPO COMUM. DÉCIMA PRIMEIRA SEMANA. TERÇA-FEIRA
– Chamada universal à santidade.
– Devemos ser santos no lugar onde nos encontramos. A mística do oxalá.
– Todas as circunstâncias são boas para crescer em santidade e realizar um apostolado fecundo.
I. TODA A SAGRADA ESCRITURA é uma chamada à santidade, à plenitude da caridade, mas Jesus nos diz hoje explicitamente no Evangelho da Missa: Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito1. E Cristo não se dirige aos Apóstolos ou a uns poucos, mas a todos. São Mateus faz-nos notar que, ao terminar este discurso, as multidões admiravam-se da sua doutrina 2. Jesus não pede a santidade unicamente ao grupo reduzido de discípulos que o acompanham por toda a parte, mas a todos os que se aproximam dEle, às multidões, entre as quais havia trabalhadores do campo e artesãos, que se deteriam para ouvi-lo ao voltarem do trabalho, mães de família, crianças, publicanos, mendigos, doentes...
A cada um de nós em particular, aos nossos vizinhos, aos colegas de trabalho ou de Faculdade, a essas pessoas que caminham pela rua..., Cristo nos diz: Sede perfeitos..., e nos dá as graças convenientes para isso. Não é um conselho do Mestre, mas um preceito. “Todos na Igreja, tanto os que pertencem à hierarquia como os que são apascentados por ela, estão chamados à santidade, conforme o que diz o Apóstolo: Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação (1 Tess 4, 3)” 3. “Todos os fiéis, de qualquer estado ou condição, estão chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade”4. Não existe na doutrina de Cristo uma chamada à mediocridade, mas ao heroísmo, ao amor, ao sacrifício alegre.
O amor está ao alcance da criança, do doente que jaz há meses no leito de um hospital, do empresário, do trabalhador braçal, do médico que não tem um minuto livre..., porque a santidade é questão de amor, de empenho por chegar, com a ajuda da graça, até o Mestre. Trata-se de dar um novo sentido à vida. A santidade implica exigência, combate ao comodismo, à tibieza, ao aburguesamento, e pede que sejamos heróicos, não apenas em situações extraordinárias, que poucos iremos encontrar, mas na contínua fidelidade aos deveres de todos os dias.
A liturgia relembra hoje umas palavras de São Cipriano que exortam assim os cristãos do século III: “Irmãos muito amados, devemos recordar e saber que, já que chamamos Pai a Deus, temos que comportar-nos como filhos, a fim de que Ele se compraza em nós [...]. Seja a nossa conduta tal qual convém à nossa condição de templos de Deus [...]. E como Ele disse: Sede santos porque eu sou santo, pedimos e rogamos que nós, que fomos santificados no batismo, perseveremos nessa santificação inicial. E pedimo-lo cada dia”5. É o que fazemos agora nestes minutos de oração: Concedei-nos, Senhor, um vivo desejo de santidade, que sejamos exemplares nos nossos afazeres, que Vos amemos cada dia mais.
II. O SENHOR NÃO SE CONTENTA com uma vida interior tíbia e com uma entrega pela metade. E a todo aquele que der fruto, Ele o podará para que dê mais fruto 6. É por isso que o Mestre purifica os seus, permitindo provas e contradições. “Se o ourives martela repetidamente o ouro, é para tirar dele a escória; se passa a lima uma e outra vez pelo metal, é para aumentar o seu brilho. O forno prova o vasilhame do oleiro, o homem prova-se na tribulação” 7. Toda a dor – física ou moral – que Deus permite, serve para purificar a alma e para que dê mais fruto. Devemos vê-la sempre assim, como uma graça do Céu.
Todas as épocas são boas para entrar por caminhos profundos de santidade, todas as circunstâncias são oportunas para amar mais a Deus, porque a vida interior se alimenta, com a ajuda do Espírito Santo, de tudo o que acontece à nossa volta, à semelhança do que se passa com as plantas. Elas não escolhem o lugar nem o meio, mas é o semeador que deixa cair as sementes neste ou naquele terreno, e ali se desenvolvem, convertendo em substância própria, com a ajuda da água que vem do céu, os elementos úteis que encontram na terra. Assim deitam raízes e se desenvolvem.
Com muito maior razão devemos nós crescer na vida cristã, pois foi o nosso Pai-Deus quem escolheu o terreno e nos concede as graças para que demos fruto. A terra em que o Senhor nos colocou é a família de que fazemos parte e não outra, com as virtudes, os defeitos e o modo de ser das pessoas que a integram. A terra em que devemos crescer e desenvolver-nos é o trabalho, que temos de amar para que nos santifique; são os colegas de profissão, os vizinhos... A terra em que devemos dar frutos de santidade é o país, a região, o sistema social ou político vigente, a nossa própria maneira de ser... e não outra. É aí, nesse ambiente no meio do mundo, que o Senhor nos diz que podemos e devemos viver todas as virtudes cristãs, com todas as suas exigências, sem reduzi-las. Deus chama-nos à santidade em todas as circunstâncias: na guerra e na paz, na doença e na saúde, quando parece que triunfamos e quando chocamos com o fracasso inesperado, quando temos muito tempo livre e quando andamos com a língua de fora de tanto correr de uma coisa para outra. O Senhor nos quer santos em todos os momentos. Mas os que não contam com a graça e encaram as coisas com uma visão puramente humana, estão dizendo constantemente: este tempo de agora não é tempo de santidade.
Não pensemos que em outro lugar e em outra situação seguiríamos a Deus mais de perto e desenvolveríamos um apostolado mais fecundo. Deixemos de lado a mística do oxalá. Os frutos de santidade que o Senhor espera de nós são os que a terra em que estamos plantados produz aqui e agora: cansaço, doença, família, trabalho, colegas de trabalho ou de estudo. “Portanto, deixem-se de sonhos, de falsos idealismos, de fantasias, disso que costumo chamar mística do oxalá: oxalá não me tivesse casado, oxalá não tivesse esta profissão, oxalá tivesse mais saúde, oxalá fosse jovem, oxalá fosse velho...; e atenham-se, pelo contrário, sobriamente à realidade mais material e imediata, que é onde o Senhor está” 8. Esse é o ambiente em que deve crescer e desenvolver-se o nosso amor a Deus, servindo-se precisamente dessas oportunidades. Não as deixemos passar; Jesus espera-nos aí.
III. SE CONTEMPLÁSSEMOS A VIDA com olhos puramente humanos, poderia realmente parecer-nos que há momentos e situações menos propícias para crescer em santidade ou para levar a cabo um apostolado fecundo: viagens, exames, excesso de trabalho, cansaço, falta de ânimo...; ou então: ambientes duros, encargos profissionais delicados, campanhas difamatórias... Esses são, no entanto, os momentos que acompanham toda a vida normal: pequenos triunfos e pequenas dificuldades, saúde e doença, alegrias e tristezas, preocupações, depressões; momentos de situação econômica folgada e outros de muita dificuldade... Quem não passa por eles? Se os fôssemos deixar de lado, e sonhássemos apenas com dias de paz absoluta para escutar a voz de Deus e pô-la em prática, a santidade não seria para nós, mas para alguns privilegiados. Deus espera que saibamos converter essas oportunidades em motivos de santidade e de apostolado.
Poremos nesses momentos mais atenção e empenho na oração diária (sempre arranjaremos tempo, porque o amor é engenhoso), no trato com a Santíssima Trindade, com Jesus sacramentado, com a Virgem Maria..., pois são ocasiões em que necessitamos de mais ajuda e só a conseguimos na oração e nos sacramentos. Então as virtudes firmam-se e toda a vida interior amadurece.
Também não devemos esperar por circunstâncias especiais para desenvolver uma ação apostólica eficaz. Todos os dias são bons. Qualquer ocasião é boa. Se os primeiros cristãos tivessem esperado uma conjuntura mais favorável para começarem a fermentar o ambiente em que viveram, provavelmente o mundo continuaria hoje a ser pagão na sua imensa maioria.
A tarefa apostólica nunca deixará de exigir audácia e espírito de sacrifício. O lavrador deve fatigar-se antes de colher os frutos9. É necessário esforço, é necessário pôr em jogo as virtudes humanas. O apostolado requer sobretudo constância: Perseverai, pois, com paciência, irmãos, até à vinda do Senhor. Bem vedes como o lavrador, na esperança de colher o precioso fruto da terra, espera pacientemente que venham as chuvas temporãs e serôdias. Aguardai vós também com paciência e fortalecei os vossos corações10. E com a constância, a generosidade para semear muito, em todas as direções, ainda que não vejamos o fruto.
Peçamos à Santíssima Virgem um desejo de santidade efetivo nas circunstâncias em que nos encontramos agora. Não esperemos por um tempo mais oportuno; este é o momento propício para amarmos a Deus com todo o nosso coração, com todo o nosso ser...
(1) Mt 5, 48; (2) cfr. Mt 7, 28; (3) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 39; (4) ib., 40; (5) Liturgia das Horas, Segunda leitura da terça-feira da décima primeira semana do Tempo Comum; (6) Jo 15, 2; (7) São Pedro Damião, Cartas, 8, 6; (8) Josemaría Escrivá, Questões atuais do cristianismo, n. 116; (9) 2 Tim 2, 6; (10) Ti 5, 7-8.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
A Vida na Graça
TEMPO COMUM. DÉCIMA PRIMEIRA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA
– Uma vida nova. Dignidade do cristão.
– A graça santificante, participação na natureza divina.
– A graça leva à identificação com Cristo: docilidade, vida de oração, amor à Cruz.
I. DESDE O MOMENTO em que os cristãos recebem a graça santificante pelo Batismo, têm uma nova vida sobrenatural, diferente da existência comum dos homens. É uma vida particular e exclusiva dos que crêem em Cristo, daqueles que não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus 1.
Essa vida que o cristão começa a viver é a mesma vida de Cristo2. Entre Ele e nós, estabelece-se uma comunhão de vida diferente, superior, mais forte e mais íntima que a dos membros da sociedade humana. É uma união tão profunda que transforma radicalmente a nossa existência e torna possível que a vida de Deus se desenvolva em nós como algo próprio. O Senhor descreve-a falando da videira e dos sarmentos3 e São Paulo compara-a à união entre o corpo e a cabeça 4, pois uma mesma seiva e um mesmo sangue percorrem a cabeça e os membros.
A primeira conseqüência desta realidade é a alegria incomparável de nos tornarmos filhos de Deus, isto é, de passarmos a sê-lo realmente. Quando uma pessoa adota alguém como filho, dá-lhe o seu sobrenome e os seus bens, oferece-lhe o seu carinho, mas não é capaz de comunicar-lhe uma parcela sequer da sua própria natureza nem da sua própria vida. A adoção humana é um fato externo; não muda a pessoa nem lhe acrescenta perfeições ou qualidades que não sejam meramente externas. Na adoção divina, é diferente: trata-se de um novo nascimento, que introduz uma melhora admirável na natureza de quem é adotado. Caríssimos – escreve São João –, nós agora somos filhos de Deus 5. Não é uma ficção, porque o próprio Espírito atesta ao nosso espírito que somos filhos de Deus 6. É uma realidade tão grande e tão excelsa que leva São Paulo a escrever: Portanto, já não sois estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos dos santos e familiares de Deus 7.
Quanto bem fará à nossa alma considerar freqüentemente que Cristo é a fonte de que jorra aos borbotões esta nova vida que nos foi dada! Por Ele – escreve o Apóstolo São Pedro – foram-nos dadas as mais preciosas e ricas promessas para que por elas vos torneis participantes da natureza divina8.
Diante de tal dignidade, a cabeça e o coração inclinam-se em contínuo agradecimento a Deus, que quis depositar em nós tanta riqueza, e decidimo-nos a viver conscientes das jóias preciosas que recebemos. Os anjos contemplam a alma em graça cheios de respeito e de admiração. E nós, como é que nos comportamos, se trazemos dentro de nós um tesouro de tão alto valor? Como é que olhamos os nossos irmãos, os homens, que receberam ou estão chamados a receber essa mesma dignidade? Sabemos realmente o que vale a nossa alma e sabemos manifestá-lo na conduta, na delicadeza com que evitamos a menor coisa que desdiga da dignidade da nossa condição de cristãos?
II. NO PRINCÍPIO, depois da primeira criação, a criatura era nova, perfeita, tal como Deus a havia feito. Mas o pecado a envelheceu e causou nela grandes estragos. Por isso Deus fez outra nova criação9: a graça santificante, uma participação limitada na natureza divina pela qual o homem, sem deixar de ser criatura, se torna semelhante a Deus, participa intimamente da vida divina.
É uma realidade interior que produz “uma espécie de resplendor e luz que limpa todas as manchas das nossas almas e as torna formosíssimas e muito brilhantes” 10. Esta graça é a que une a nossa alma a Deus num laço estreitíssimo de amor11. Como temos de protegê-la, persuadidos de que é o maior bem que possuímos! A Sagrada Escritura compara-a a uma prenda que Deus põe no coração dos fiéis 12, a uma semente que lança as suas raízes no interior do homem 13, a um manancial de águas que jorrará sem cessar até à vida eterna 14.
A graça santificante não é um dom passageiro e transitório, como acontece com esses impulsos e moções que nos incitam a praticar ou omitir alguma ação, e a que chamamos graças atuais; é “um princípio permanente de vida sobrenatural” 15, uma disposição estável radicada na própria essência da alma. E porque determina um modo de ser estável e permanente – ainda que possamos perdê-lo pelo pecado mortal –, chama-se também graça habitual.
A graça não violenta a ordem natural, antes a pressupõe, eleva e aperfeiçoa, e ambas se ajudam mutuamente, porque ambas procedem de Deus 16. Por isso o cristão, longe de ter que renunciar às obras da vida terrena – ao trabalho, à família... –, o que deve fazer é desenvolvê-las e aperfeiçoá-las, coordenando-as com a vida sobrenatural, de modo a chegar a enobrecer a própria vida natural 17.
É com esta dignidade que devemos viver e comportar-nos em todas as nossas ações. Em nenhum momento do dia devemos esquecer os dons com que fomos agraciados. A nossa vida será bem diferente se, no meio dos afazeres diários, tivermos presente a honra que o nosso Pai-Deus nos conferiu ao fazer com que – pela graça – nos chamássemos seus filhos e que o sejamos de verdade 18.
III. A GRAÇA SANTIFICANTE diviniza o cristão e converte-o em filho de Deus e templo da Santíssima Trindade. Esta semelhança no ser deve refletir-se necessariamente no agir: nos pensamentos, ações e desejos – à medida que progredimos na luta ascética –, de maneira que a vida puramente humana vá dando passagem à vida de Cristo. Há de verificar-se nas nossas almas aquele processo interior que as palavras do Batista nos deixam entrever: Convém que ele cresça e eu diminua 19. Devemos pedir a Deus que esta aspiração se torne cada vez mais firme em nós, que tenhamos no coração os mesmos sentimentos que Cristo Jesus teve no seu20; que desterremos o egoísmo e o menor sintoma de aburguesamento...
Por isso, os que se ufanam de ter o nome de cristãos, não só devem contemplar o Mestre como Modelo perfeitíssimo de todas as virtudes, mas hão de procurar reproduzir nos seus costumes a doutrina e a vida de Jesus Cristo, de tal modo que em tudo se assemelhem a Ele 21: na maneira de tratar os outros, na compaixão pela dor alheia, na perfeição do trabalho profissional, imitando os trinta anos de vida oculta do Senhor em Nazaré... Assim a vida de Jesus se repetirá na nossa, numa identificação crescente que o Espírito Santo levará a cabo de modo admirável, e que tem como termo de chegada a plena semelhança e união, que se consumará no Céu.
Mas – consideremo-lo serenamente na nossa oração –, para chegarmos a essa identificação, é necessária uma orientação muito clara de toda a nossa vida: que colaboremos com o Senhor na tarefa da nossa santificação, sabendo corresponder à graça. Há de ser uma disposição habitual, que se torne realidade dia a dia, minuto a minuto, e que poderia resumir-se em três pontos principais: sermos dóceis às inspirações do Espírito Santo, mantermos em todas as circunstâncias uma vida de oração e cultivarmos um constante espírito de penitência.
Docilidade, porque é o Espírito Santo “quem nos impele a aderir à doutrina de Cristo e a assimilá-la em profundidade; quem nos dá luz para tomarmos consciência da nossa vocação pessoal e forças para realizarmos tudo o que Deus espera de nós” 22.
Vida de oração, “porque a entrega, a obediência, a mansidão do cristão nascem do amor e para o amor se orientam. E o amor leva à vida de relação, à conversa assídua, à amizade. A vida cristã requer um diálogo constante com Deus Uno e Trino, e é a essa intimidade que o Espírito Santo nos conduz” 23.
União com a Cruz, “porque, na vida de Cristo, o Calvário precedeu a Ressurreição e o Pentecostes, e esse mesmo processo se deve reproduzir na vida de cada cristão” 24. Uma união aprazível, que se manifesta pela aceitação das contrariedades, grandes ou pequenas, que nos chegam, e pelo oferecimento a Deus, ao longo do dia, de muitos outros pequenos sacrifícios através dos quais nos unimos à Cruz, purificamos a nossa vida e nos preparamos para um diálogo íntimo e profundo com Deus.
Examinemos hoje, ao terminarmos a nossa oração, como é a nossa correspondência à graça nesses três pontos, porque dela depende o desenvolvimento da vida divina em nós. Dizemos ao Senhor que não queremos contentar-nos com o nível alcançado na oração, nos atos de presença de Deus, no sacrifício...; que, com a sua graça e com a proteção de Santa Maria, não nos deteremos até chegar à meta que dá sentido à nossa vida: a identificação plena com Jesus Cristo.
(1) Jo 1, 13; (2) cfr. Gál 3, 27; (3) Jo 15, 1-6; (4) 1 Cor 12, 27; (5) 1 Jo 3, 2; (6) Rom 8, 16; (7) Ef 2, 19; (8) 2 Pe 1, 4; (9) cfr. São Tomás, Comentário à segunda Epístola aos Coríntios, IV, 192; (10) Catecismo Romano, II, 2, 50; (11) cfr. ib., I, 9, 8; (12) cfr. 2 Cor 5, 5; (13) cfr. 1 Jo 3, 9; (14) Jo 4, 14; (15) Pio XI, Enc. Casti connubii, 31-XII-1930; (16) cfr. idem, Enc. Divini illius Magistri, 31-XII-1929; (17) cfr. ib.; cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 40; (18) cfr. 1 Jo 3, 1; (19) Jo 3, 30; (20) Fil 2, 5; (21) cfr. Pio XII, Enc. Mystici Corporis, 29-VI-1943; (22) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 135; (23) ib., n. 136; (24) ib., n. 137.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Beata Albertina Berkenbrock
15 de Junho
Beata Albertina Berkenbrock
A bem-aventurada Albertina Berkenbrock nasceu a 11 de Abril de 1919, no distrito de São Luís, município de Imaruí, interior de Santa Catarina, numa família de origem alemã, simples e profundamente cristã.
Há uma singular concordância entre os testemunhos dados nos vários processos canônicos, por parte das testemunhas que a tinham conhecido e convivido com a Serva de Deus, ao descrevê-la como uma menina bondosa no mais amplo sentido do termo. A natural mansidão e bondade de Albertina conjugavam-se bem com uma vida cristã compreendida e vivida completamente. Da prática cristã derivava a sua inclinação à bondade, às práticas religiosas e às virtudes, na medida em que uma criança da sua idade podia entendê-las e vivê-las.
Sabia ajudar os pais no trabalho dos campos e especialmente em casa. Sempre dócil, obediente, incansável, com espírito de sacrifício, paciente, até quando os irmãos a mortificavam ou lhe batiam ela sofria em silêncio, unindo-se aos sofrimentos de Jesus, que amava sinceramente.
A frequência aos sacramentos e a profunda compenetração que mostrava ter na participação da mesa eucarística é um índice de maturidade espiritual que a menina tinha alcançado; distinguia-se pela piedade, pela modéstia e pelo recolhimento.
O cenário no qual se consumou o seu martírio é terrivelmente simples, quanto atroz e violenta foi a morte da Serva de Deus.
No dia 15 de junho de 1931, Albertina estava apascentando os animais de propriedade da família quando o pai lhe disse para ir procurar um boi que se tinha distanciado. Ela obedeceu. Num campo vizinho encontrou Idanlício e perguntou-lhe se tinha visto o animal passar por ali.
Idanlício Cipriano Martins, conhecido com o nome de Manuel Martins da Silva, era chamado pelo apelido de Maneco. Tinha 33 anos, vivia com a mulher próximo da casa de Albertina e trabalhava para um tio dela. Embora já tivesse matado uma pessoa, era considerado por todos um homem reto e um trabalhador honesto. Albertina muitas vezes levava-lhe comida e brincava com os seus filhos; portanto, era uma pessoa do seu conhecimento.
Quando Albertina lhe perguntou se tinha visto o boi, Maneco responde que sim, acrescentando que o tinha visto ir para o bosque próximo dali e ofereceu-se para a acompanhar e ajudar na busca. Mas, ao chegarem perto do bosque, convidou-a para deitar com ele. Seguiu-a com intenção de lhe fazer mal. Albertina não consentiu e Maneco então a pegou pelos cabelos, jogou-a ao chão e, visto que não conseguia obter o que queria porque ela reagia, pegou um canivete e cortou o seu pescoço. A jovem morreu imediatamente.
Dos testemunhos dos companheiros de prisão de Maneco revelou-se que a menina declarou a sua indisponibilidade pois aquele ato era pecado. A intenção de Maneco era clara, a posição de Albertina também: não queria pecar.
Durante o velório, Maneco controlava a situação fingindo velar a vítima e ficando por perto da casa. Porém, antes que descobrissem quem era o assassino, algumas pessoas notaram um fenômeno particular: todas as vezes que ele se aproximava do cadáver da Serva de Deus, a grande ferida do pescoço começava a sangrar.
No funeral de Albertina participou um elevado número de pessoas e todos diziam já que era uma "pequena mártir", pois dado o seu temperamento, a sua piedade e delicadeza, eram convictos de que tinha preferido a morte ao pecado. A exemplo da italiana Santa Maria Goretti, Albertina sacrificou a vida somente pela virtude.
Beatificada em 2007 pelo Papa Bento XVI, hoje ela se encontra na companhia dos santos no Céu, cumprindo a palavra que diz: "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5, 8). Que do mesmo solo que recebeu o sangue desta santa jovem brotem almas puras e dispostas a antes morrer que ofender a Nosso Senhor — e que estas almas sejamos nós!
Fonte: https://padrepauloricardo.org
O Meio mais Eficaz
TEMPO COMUM. DÉCIMO PRIMEIRO DOMINGO. ANO A
– A messe é muita e os operários poucos.
– O Senhor chama a todos para a tarefa apostólica.
– Pedir vocações ao Senhor.
I. O EVANGELHO DA MISSA1 refere algo que deve ter acontecido muitas vezes enquanto o Senhor percorria cidades e aldeias pregando a chegada do Reino de Deus: ao ver a multidão, encheu-se de compaixão por ela, comoveu-se no mais íntimo do seu ser, porque estavam fatigados e prostrados como ovelhas sem pastor, profundamente desorientados. Os pastores, em lugar de guiá-las, desencaminhavam-nas e comportavam-se mais como lobos do que como pastores. Jesus dirigiu-se aos seus discípulos e disse: A messe é muita, mas os operários poucos.
As palavras do Senhor têm plena atualidade nos nossos dias. Há searas inteiras que se perdem porque não há quem as recolha; daí a urgente necessidade de cristãos alegres, eficazes, fiéis à Igreja, conscientes do que têm entre mãos. E isso diz respeito a todos nós, pois o Senhor necessita de todos: de trabalhadores e estudantes que saibam levar Cristo à fábrica e à Universidade, com o seu prestígio de bons profissionais e com o seu apostolado; de professores exemplares que ensinem com sentido cristão, que dediquem generosamente o seu tempo aos alunos e sejam verdadeiros mestres; de homens e mulheres conseqüentes com a sua fé em cada atividade humana; de pais e mães de família que se preocupem verdadeiramente com a educação religiosa dos seus filhos, que intervenham nas associações de pais nos colégios, nas associações de bairro.
Perante tanta gente desorientada, vazia de Deus e cheia somente de bens materiais ou do desejo de possuí-los, não podemos ficar à margem. Ainda que sob uma camada de indiferença, as pessoas, no fundo de suas almas, estão sedentas de que lhes falem de Deus e das verdades que dizem respeito à sua salvação. Se nós os cristãos não trabalharmos com sacrifício neste campo, acontecerá o que os Profetas anunciaram: Os campos estão devastados, o solo enlutado. O trigo foi destruído, o mosto perdido, o azeite estragado. Os lavradores estão desamparados, os vinhateiros lamentam-se por causa do trigo e da cevada. Não há colheita2. Deus esperava esses frutos, mas a colheita perdeu-se por desleixo daqueles que tinham que cuidar dela e recolhê-la.
A gravidade da missão que nos incumbe deve levar-nos a fazer um sério exame de consciência: Que fiz hoje para dar a conhecer Deus? A quem falei hoje de Cristo? Preocupo-me realmente com a salvação dos que me rodeiam? Sou consciente de que muitos se aproximariam do Senhor se eu fosse mais audaz?
II. AS DESCULPAS QUE nos podem ocorrer para não levarmos os outros a Cristo são muitas: falta de preparação suficiente, escassez de tempo, poucas relações no âmbito do trabalho profissional, as enormes distâncias na grande cidade em que vivemos..., mas o Senhor continua a dizer-nos a todos nós, e muito especialmente neste tempo de tantas deserções, que a messe é muita e os operários poucos. E a messe que não se recolhe a tempo, perde-se.
São João Crisóstomo deixou-nos umas palavras que podem ajudar-nos a examinar se nos desculpamos facilmente diante desse nobre dever a que Deus nos chama: “Não há nada mais frio – diz o santo – que um cristão despreocupado da salvação alheia. Não podes aduzir como pretexto a tua pobreza econômica. Acusar-te-á a velhinha que deu as suas moedas no Templo. O próprio Pedro disse: Não tenho ouro nem prata (At 3, 6). E Paulo era tão pobre que muitas vezes passava fome e não tinha o necessário para viver. Não podes pretextar a tua origem humilde: eles também eram pessoas humildes, de condição modesta. Nem a ignorância te servirá de desculpa: todos eles eram homens sem letras. Sejas escravo ou fugitivo, podes cumprir o que depende de ti. Assim foi Onésimo, e vê qual foi a sua vocação... Não invoques a doença como pretexto, pois Timóteo estava submetido a freqüentes indisposições [...]. Cada um pode ser útil ao seu próximo, se quiser fazer o que está ao seu alcance”3.
“A messe é muita, mas os operários poucos... Ao escutarmos isto – comenta São Gregório Magno –, não podemos deixar de sentir uma grande tristeza, porque é preciso reconhecer que há pessoas que desejam escutar coisas boas; falta, no entanto, quem se dedique a anunciá-las”4.
Para que haja muitos operários que trabalhem lado a lado e com entusiasmo neste campo do mundo, cada um no seu lugar, o próprio Senhor nos ensina o caminho a seguir: Rogai, pois, ao Senhor da messe, que envie operários à sua messe. Jesus convida-nos a orar para que Deus desperte na alma de muitos o desejo de um maior compromisso nesta tarefa de salvação. “A oração é o meio mais eficaz de proselitismo”5, de conseguir que muitos descubram que Deus os chama para seus colaboradores. Todos os cristãos devem rezar habitualmente para que o Senhor envie operários à sua messe. E se o fizermos com uma oração contínua, confiante e humilde, não só conseguiremos do Senhor novos operários para o seu campo, como nós mesmos nos sentiremos chamados a participar com muito mais audácia nessa missão divina.
III. JESUS PREPARA A SUA CHEGADA a outras cidades através dos seus discípulos. São pregoeiros que vão adiante dEle a todas as cidades aonde havia de ir6. Todo o trabalho apostólico culminaria com a chegada de Deus às almas, mas, para que chegasse esse momento, o terreno teve de ser preparado pelos enviados, pelos que já seguiam o Senhor.
Temos de pedir com freqüência a Deus que se verifique no povo cristão um ressurgir de homens e mulheres que descubram o sentido vocacional da sua vida; que não somente queiram ser bons, mas se saibam chamados a ser operários no campo do Senhor e correspondam generosamente a essa chamada: homens e mulheres, velhos e jovens, que vivam entregues a Deus no meio do mundo, muitos em celibato apostólico; cristãos correntes, ocupados nas mesmas tarefas dos seus iguais, que levem Cristo ao âmago da sociedade de que fazem parte.
O Senhor, que poderia realizar diretamente a sua obra redentora no mundo, quer necessitar de discípulos que o precedam nas cidades, nos povoados, nas fábricas, nas Universidades..., para que anunciem as maravilhas e as exigências do Reino dos Céus. É evidente que a Igreja – nossa Mãe – necessita de almas que se comprometam nesses caminhos de entrega e de santidade. Os Pontífices não cessam de recordar a necessidade dessas vocações de apóstolos, em cujas mãos está em boa parte a evangelização do mundo.
“Ajuda-me a clamar: Jesus, almas!... Almas de apóstolo! São para Ti, para a tua glória!
“Verás como acaba por escutar-nos”7.
Que faço eu para que essas vocações possam crescer à minha volta? Vocações que devem surgir entre os filhos, irmãos, amigos, conhecidos... Não devemos esquecer que Deus chama a muitos. Peçamos-lhe a graça de saber promover e dar alento a essas chamadas, que podem estar dirigidas a pessoas que vemos todos os dias.
Peçamos também à Santíssima Virgem que nos faça entender como dirigida a cada um de nós essa confidência que o Senhor faz aos seus – a messe é muita –, e formulemos um propósito concreto de empreender com urgência e constância um esforço grande para que sejam muitos os operários no campo de Deus. Peçamos-lhe a enorme alegria de ser instrumentos para que outros correspondam à chamada que Jesus lhes faz.
“«Uma boa notícia: mais um doido... para o manicômio». – E tudo é alvoroço na carta do «pescador».
“Que Deus encha de eficácia as tuas redes!”8
O Senhor nunca esquece o “pescador”.
(1) Mt 9, 36; 10, 8; (2) Jl 1, 10-12; (3) São João Crisóstomo, Homilia 20 sobre os Atos dos Apóstolos; (4) São Gregório Magno, Homilias sobre o Evangelho, 17; (5) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 800; (6) cfr. Lc 10, 1; (7) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 804; (8) ib., n. 808.
Beata Cândida da Eucaristia
14 de Junho
Beata Cândida da Eucaristia
Nasceu no dia 16 de janeiro de 1884, em Catanzaro (Itália), cidade para onde a família, originária de Palermo, se transferiu por um breve período de tempo devido ao trabalho do pai, Pedro Barba, que era Conselheiro do Tribunal de 1ª Instância; foi batizada três dias depois com o nome de Maria Barba. Sua mãe chamava-se Joana Florena. Maria era a décima de doze filhos.
Quando a menina completou dois anos, a família retornou para a capital siciliana e ali Maria viveu a sua juventude. Aos quinze anos manifestou a sua vocação religiosa à qual seus pais, apesar de serem profundamente religiosos, se opuseram com determinação. De fato, Maria teve que esperar quase vinte anos para poder realizar a sua aspiração, demonstrando, nestes anos de expectativa e de sofrimento interior, uma força de ânimo surpreendente e uma fidelidade incomum. Depois da morte de sua mãe, seguindo o conselho do Cardeal Alessandro Lualdi, entrou finalmente no Mosteiro das Carmelitas Descalças de Ragusa, que tinha surgido havia pouco tempo e era muito pobre.
Entrou no Carmelo a 16 de abril de 1920, onde assumiu o nome de Maria Cândida da Eucaristia, em certos aspectos profético. Em 17 de abril de 1921 pronunciou a profissão simples e a solene no dia 23 de abril de 1924.
O amor pela Eucaristia manifestou-se nela desde a primeira infância quando, com 10 anos, foi admitida à Primeira Comunhão e a sua maior alegria era poder comungar. Desde então, privar-se da Santa Comunhão tornou-se para ela "uma cruz pesada e angustiante".
Maria Barba, sempre estimulada por uma devoção especial ao mistério eucarístico, no qual ela via o mistério da presença sacramental de Deus no mundo e a concretização do seu amor infinito pelos homens, motivo da nossa confiança plena nas suas promessas, constrói alguns anos mais tarde um novo mosteiro, que ainda hoje existe.
Irmã Maria Cândida quis "fazer companhia a Jesus no seu estado de Eucaristia quanto mais fosse possível". Prolongava as suas horas de adoração e, sobretudo, das 23 às 24 horas de cada quinta-feira, prostrava-se diante do Tabernáculo em adoração. A Eucaristia polarizava verdadeiramente toda a sua vida espiritual, não tanto pelas manifestações devocionais, quanto pela incidência vital da relação da sua alma com Deus. Foi da Eucaristia que Maria Cândida encontrou as forças necessárias para se consagrar a Deus como vítima no dia 1 de novembro de 1927.
Seis meses depois da profissão solene, em 10 de novembro de 1924 foi nomeada pela primeira vez Priora do seu Mosteiro: um cargo que aceitou e uma responsabilidade que desempenhou em sinal de obediência a Deus, com dedicação total e grande seriedade. Durante os três primeiros anos como Priora, assumiu também o cargo de Mestra de noviças.
Desenvolveu plenamente o que ela mesma definia como a sua "vocação pela Eucaristia", ajudada pela espiritualidade carmelita – são muito conhecidas as páginas em que Santa Teresa de Jesus descreve a sua especialíssima devoção à Eucaristia e como na Eucaristia a Santa Fundadora experimentasse o mistério fecundo da Humanidade de Cristo – na qual se apoiou depois da leitura de "História de uma Alma" de Santa Teresinha do Menino Jesus.
Durante os anos em que guiou o seu mosteiro, de 1924 a 1947, salvo uma breve interrupção, infundiu na sua comunidade um profundo amor pela Regra de Santa Teresa de Jesus e contribuiu de modo direto para a expansão do Carmelo Teresiano na Sicília, a fundação de Siracusa, e para o retorno do ramo masculino da Ordem na região.
A partir da solenidade do Corpus Christi de 1933, Maria Cândida começou a escrever a sua pequena "obra-prima" de espiritualidade eucarística, "A Eucaristia, verdadeira joia de espiritualidade vivida". Trata-se de uma longa, intensa meditação sobre a Eucaristia, uma recordação da experiência pessoal e um aprofundamento teológico dessa experiência.
Na Eucaristia, a Beata vê sintetizadas todas as dimensões da experiência cristã.
A Fé: “Ó meu Amado Sacramento, eu Te vejo, eu creio em Ti! Ó Santa Fé!”. “Contemplar com Fé redobrada a nosso Amado no Sacramento: viver com Ele que vem cada dia”.
A Esperança: “Ó minha Divina Eucaristia, minha querida esperança, tudo espero de Ti! Desde menina foi grande minha esperança na Santíssima Eucaristia”.
A Caridade: “Jesus meu, quanto Te amo! É um imenso amor o que eu nutro em meu coração por Ti, ó Amor Sacramentado! Quão grande é o amor de um Deus feito pão para as almas! De um Deus feito prisioneiro por mim!”
Sem dúvida a Virgem Maria é o verdadeiro modelo de vida eucarística. Ela levou em seu seio o Filho de Deus e continuamente o engendrava nos corações de seus discípulos. “Eu quisera ser como Maria” – escreve a Beata em uma das páginas mais intensas e profundas de A Eucaristia – “ser Maria para Jesus, ocupar o lugar de sua mãe. Em minhas Comunhões, tenho sempre Maria presente. De suas mãos quero receber Jesus, Ela deve fazer de mim uma coisa só com Ele. Eu não posso separar Maria de Jesus. Salve, ó Corpo nascido de Maria! Salve Maria, aurora da Eucaristia!”
Para a Beata Maria Cândida, a Eucaristia é alimento, é encontro com Deus, é fusão de coração, é escola de virtude, é sabedoria de vida. “O Céu mesmo não possui mais; Aquele tesouro único está aqui, é Deus! Verdadeiramente, sim verdadeiramente: meu Deus e meu Tudo”. “Peço a meu Jesus ser colocada como sentinela de todos os sacrários do mundo até o fim dos tempos”.
No dia 12 de junho de 1949, na Solenidade da Santíssima Trindade, depois de alguns meses de sofrimentos físicos atrozes, Maria Cândida da Eucaristia faleceu.
Fonte: http://heroinasdacristandade.blogspot.com
O Valor da Palavra Dada
TEMPO COMUM. DÉCIMA SEMANA. SÁBADO
– O Senhor realça o valor da palavra dada. Nas situações normais, a nossa palavra deve bastar.
– Amor à verdade em todas as ocasiões e circunstâncias.
– Fidelidade e lealdade aos nossos compromissos.
I. NA ÉPOCA DE JESUS, a prática do juramento tornara-se abusiva, tanto pela sua freqüência como pela leviandade com que se pronunciava e pela casuística que surgira para legitimar o seu descumprimento. Jesus opõe-se a esse costume, e com a fórmula mas eu vos digo, que emprega freqüentemente para indicar a autoridade divina das suas palavras, proíbe que se invoque a Deus por testemunha, não só de coisas falsas, mas também de assuntos em que a palavra do homem deve bastar. Assim, diz o Evangelho de São Mateus na Missa de hoje 1: Seja a vossa palavra: sim, sim; não, não. O Senhor quer realçar e devolver o seu valor e força à palavra do homem de bem que se sente comprometido pelo que diz.
Jurar, isto é, invocar a Deus por testemunha de uma coisa que se afirma ou se promete, é lícito, e em determinadas ocasiões é necessário, quando se faz nas devidas condições. É então um ato da virtude da religião e dá honra ao nome de Deus. Mas já o profeta Jeremias sublinhava que o juramento grato a Deus deve ser feito em verdade, em juízo e em justiça 2; quer dizer, a afirmação deve ser verdadeira, formulada com prudência – nem ligeira nem temerária – e referida a uma coisa ou necessidade justa e boa.
Se a necessidade não o exige, a nossa palavra de cristãos e de homens honrados deve ser suficiente, porque devemos ser conhecidos como pessoas que buscam em tudo a verdade e que dão grande valor à palavra empenhada, pois nela se baseia toda a lealdade e fidelidade: a Cristo e aos compromissos livremente assumidos.
Nas situações normais da vida diária, a nossa palavra deve, pois, ser suficiente para dar toda a consistência necessária ao que afirmamos ou prometemos; mas, para que isso aconteça, devemos ser verazes no dia a dia, pelo cumprimento estrito dos nossos compromissos. É esse o conceito que fazem de nós no lugar em que trabalhamos, na família, entre os que se relacionam conosco? Sabem que procuramos não mentir nunca, nem sequer por brincadeira, ou para conseguir um bem, ou para evitar um mal maior?
II. NO ENSINAMENTO DE CRISTO, a hipocrisia e a falsidade são vícios muito combatidos 3, ao passo que a veracidade é uma das virtudes mais gratas ao Senhor: Eis um verdadeiro israelita, em quem não há duplicidade 4, diz Jesus de Natanael, quando o vê aproximar-se acompanhado por Filipe. Ele próprio é a Verdade 5; e o demônio, pelo contrário, é o pai da mentira 6.
A verdade transmite-se através do testemunho, do exemplo e da palavra: Cristo é testemunha do Pai 7; os Apóstolos 8, os primeiros cristãos, e nós agora, somos testemunhas de Cristo diante de um mundo que precisa de testemunhos vivos. E como é que os nossos amigos e colegas hão de crer na doutrina que queremos transmitir-lhes, se a nossa própria vida não se baseia num grande amor à verdade? Nós, cristãos, devemos poder dizer, como Jesus Cristo, que viemos ao mundo para dar testemunho da verdade 9, num momento em que muitos utilizam a mentira e o engano como uma ferramenta para escalar postos, para alcançar um maior bem-estar material ou para evitar compromissos e sacrifícios; ou simplesmente por covardia, por falta de caráter.
Devemos ser exemplares, estando dispostos a construir a nossa vida, o nosso patrimônio, a nossa profissão, sobre um grande amor à verdade. Não podemos sentir-nos tranqüilos quando está de permeio uma mentira. Devemos amar a verdade e empenhar-nos em encontrá-la, pois às vezes está tão obscurecida pelo pecado, pelas paixões, pela soberba, pelo materialismo..., que, se não a amássemos, não a poderíamos reconhecer. É tão fácil aceitar a mentira quando chega – dissimulada ou às claras – em reforço de um falso prestígio, de maiores lucros na profissão...! Mas diante da tentação, tantas vezes disfarçada sob inúmeros argumentos, devemos recordar a doutrina clara e diáfana de Jesus: Seja a vossa palavra: sim, sim; não, não10.
III. AO DARMOS A NOSSA PALAVRA, de certa forma damo-nos a nós próprios, comprometemo-nos no mais íntimo do nosso ser. Um cristão, um verdadeiro discípulo de Cristo, apesar dos seus defeitos e erros, deve ser leal, honesto, um homem de palavra; alguém que é fiel à sua palavra. Na Igreja, designamos os cristãos por fiéis, para expressar a sua condição de membros do Povo de Deus adquirida pelo Batismo11. Mas é fiel também a pessoa que inspira confiança, em quem podemos confiar, aquela cujo comportamento corresponde à confiança nela depositada, àquilo que dela exigem o amor, a amizade, o dever, e que é fiel a uma promessa, à palavra dada...12 Na Sagrada Escritura, o qualificativo fiel é atribuído ao próprio Deus, porque ninguém como Ele é digno de confiança de modo tão eminente. Ele é sempre fiel às suas promessas, não falha nunca. Fiel é Deus – diz São Paulo aos Coríntios –, que não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças...13
É fiel quem é leal à sua palavra. E é leal quem cumpre os seus compromissos: com Deus e com os homens. Mas a sociedade revela-se muitas vezes cheia de dúvidas e de relativismo, saturada de um ambiente de infidelidade; muitas pessoas, de todas as idades, parecem desconhecer a obrigação efetiva de serem fiéis à palavra empenhada, de levarem adiante os compromissos que adquiriram com total liberdade, de manterem uma conduta coerente com as decisões que tomaram na presença de Deus ou diante dos homens: na vida religiosa e na vida civil.
Estendeu-se por toda a parte uma idéia – às vezes, um sentimento difuso – de que os compromissos assumidos com Deus – os compromissos do Batismo – ou diante dEle – como o casamento – são uma espécie de “ideal”, uma meta para a qual se deve tender, mas que no fundo não obrigam em todas as situações porque há situações em que são inatingíveis. Nós, pelo contrário, devemos estar firmemente persuadidos de que sempre é possível viver as virtudes e os compromissos da vocação a que Deus nos chamou, com todas as suas conseqüências.
O cristão, esmerando-se na lealdade, não cederá quando as exigências morais forem ou parecerem mais duras. Temos que pedir a Deus esta retidão de consciência: quem cede, teoricamente “desejaria” viver as virtudes, “desejaria” não pecar, “desejaria” não desistir, mas acha que, se a tentação for forte ou as dificuldades grandes, estará praticamente justificado se vier a ceder.
Isto pode acontecer em face dos compromissos no trabalho, da necessidade de repelir com energia um clima de sensualidade, quando são necessários recursos pesados para a educação dos filhos, ou ante as exigências da fidelidade no casamento ou no caminho vocacional. Recordemos hoje na nossa oração a clara advertência de Jesus: Caiu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos e irromperam contra aquela casa, mas ela não desabou porque estava fundada sobre rocha14. A rocha é Cristo, que nos oferece sempre a sua fortaleza.
Fiéis a Cristo: este é o maior elogio que nos podem fazer; que Jesus Cristo possa contar conosco sem limitações de circunstâncias ou de futuro, que os nossos amigos saibam que não lhes falharemos, que a sociedade a que pertencemos possa apoiar-se, como num alicerce firme, nos pactos que subscrevemos, na palavra empenhada de modo livre e responsável. “Quando viajamos à noite de trem, nunca nos ocorreu pensar de repente que a vida de várias centenas de pessoas está nas mãos de um maquinista, de um agulheiro que, sem se importarem com o frio e o cansaço, permanecem nos seus postos? A vida de todo um país, a vida do mundo, dependem da fidelidade dos homens no cumprimento do seu dever profissional, da sua função social; de que cumpram fielmente os seus contratos e mantenham a palavra dada”15, sem necessidade de invocarem a Deus por testemunha, como homens íntegros.
Seja a vossa palavra: sim, sim; não, não. Homens de palavra, leais no cumprimento dos pequenos deveres diários, sem mentiras nem enganos no exercício da profissão, simples e prudentes, fugindo daquilo que não é claro: honestidade sem fissuras, diáfana. Se vivermos esta lealdade no humano, com a ajuda da graça seremos leais a Cristo, que é afinal o que importa. Não poderíamos construir a integridade da nossa fidelidade a Cristo sobre uma lealdade que metesse água cada dia no relacionamento humano.
Que alegria quando, no meio de uma dificuldade, um amigo se aproxima de nós e nos diz: “Pode contar comigo”! Agradará também a Deus que lhe digamos hoje na nossa oração, com a simplicidade de quem conhece a sua fraqueza: Senhor, podes contar comigo! Para sempre!
Peçamos a Maria Santíssima, Virgo fidelis, Virgem fiel, que nos ajude a ser leais e fiéis, à custa da própria vida, se for preciso.
(1) Mt 5, 33-37; (2) Jer 4, 2; (3) cfr. Mt 23, 13-32; (4) Jo 1, 47; (5) Jo 14, 6; (6) Jo 8, 44; (7) Jo 3, 11; (8) At 1, 8; (9) Jo 14, 6; (10) Mt 5, 37; (11) cfr. A. del Portillo, Fieles y laicos en la Iglesia, EUNSA, Pamplona, 1969, pág. 28 e segs.; (12) M. Moliner, Dicionário, verbete “Fiel”; (13) 1 Cor 10, 13; (14) Mt 7, 25; (15) G. Chevrot, Mas eu vos digo..., pág. 180.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Santo Antônio de Pádua
13 de Junho
Santo Antônio de Pádua
Santo Antônio ou Fernando Antônio de Bulhões, seu nome de nascença, nasceu em Lisboa, Portugal, em 15 de agosto do ano de 1195. De família nobre e rica, era filho único de Martinho de Bulhões, oficial do exercito de Dom Afonso e de Tereza Taveira. Sua formação inicial foi feita pelos cônegos da Catedral de Lisboa. Antônio gostava de estudar e de ficar mais recolhido.
Aos 19 anos entrou para o Mosteiro de São Vicente dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, contra a vontade de seu pai. Morou lá por 2 anos. Com uma grande biblioteca em mãos, Antônio avança na sua história pelo estudo e pela oração. É transferido para Coimbra, que é um importante centro de estudos de Portugal, ficando lá por 10 anos. Em Coimbra ele foi ordenado sacerdote. Logo se viu o dom da palavra que transbordava do jovem padre agostiniano. Ele tinha conhecimento e grande poder de pregação.
Em Coimbra o Padre Antônio conhece os freis franciscanos, entusiasma-se pelo fervor e radicalidade com que estes viviam o Evangelho e, pouco depois, torna-se Frei Antônio, mudando-se para o mosteiro de São Francisco de Assis.
Santo Antonio faz o pedido de ir para o Marrocos pregar o evangelho e os Franciscanos permitem. No meio do caminho, porém, Frei Antônio fica muito doente e é forçado a voltar para Portugal. Na viagem de volta, o barco é desviado e vai para Itália, terminando por parar na Sicília, em um grande encontro de mais de 5 mil frades franciscanos chamado Capítulo das Esteiras. Lá, Antônio conhece pessoalmente São Francisco de Assis. A mão de Deus o tinha guiado por caminhos diferentes.
Após conhecer São Francisco, Frei Antônio passa 15 meses como um eremita no monte Paolo. São Francisco enxerga os dons que Deus deu a ele, chama-o de Frei Antônio, meu Bispo e o encarrega da formação teológica dos irmãos do Mosteiro.
No capítulo geral da ordem dos franciscanos ele é enviado a Roma para tratar de assuntos da ordem com o Papa Gregório IX, que fica impressionado com sua inteligência e eloquência e o chama de Arca do Testamento.
Tinha uma força irresistível com as palavras e São Francisco o nomeou como o primeiro leitor de Teologia da Ordem. Em seguida, mandou-o estudar teologia para ensinar seus alunos e pregar ainda melhor. Juntavam-se as vezes mais de 30 mil pessoas para ouvi-lo pregar, e muitos milagres aconteciam. Após a morte de São Francisco, ele foi enviado a Roma para apresentar ao Papa a Regra da Ordem de São Francisco.
Protetor das coisas perdidas. Protetor dos casamentos. Protetor dos pobres. É o Santo dos milagres. Fez muitos ainda em vida. Durante suas pregações nas praças e igrejas, muitos cegos, surdos, coxos e muitos doentes ficavam curados. Redigiu os Sermões, tratados sobre a quaresma e os evangelhos, que estão impressos em dois grandes volumes de sua obra.
Santo Antônio morreu em Pádua, na Itália, em 13 de junho de 1231, com 36 anos. Por isso ele é conhecido também como Santo Antônio de Pádua. Antes de falecer nas portas de Pádua, Santo Antônio diz: ó Virgem gloriosa que estais acima das estrelas. E completou, estou vendo o meu Senhor. Em seguida, faleceu.
Os meninos da cidade logo saíram a dar a notícia: o Santo morreu. E em Lisboa os sinos das igrejas começaram a repicar sozinhos e só depois o povo soube da morte do Santo. Ele também é chamado de Santo Antônio de Lisboa, por ser sua cidade de origem.
Aconteceram tantos milagres após sua morte, que onze meses após ele foi beatificado e canonizado. Quando seu corpo foi exumado, sua língua estava intacta. São Boaventura estava presente e disse que esse milagre era a prova de que sua pregação era inspirada por Deus. Está exposta até hoje na Basílica de Santo Antônio na cidade de Pádua.
Sua canonização foi realizada pelo Papa Gregório IX, na catedral de Espoleto, em 30 de maio de 1232, sendo o processo mais rápido da história da Igreja.
Em 1934 foi declarado Padroeiro de Portugal. Em 1946 foi proclamado Doutor da Igreja pelo Papa Pio XII.
Fonte: https://cruzterrasanta.com.br
Pureza de Coração
TEMPO COMUM. DÉCIMA SEMANA. SEXTA-FEIRA
– O nono mandamento e a pureza da alma.
– A guarda do coração e a fidelidade de acordo com a vocação e o estado de cada um.
– A guarda da vista, da afetividade e dos sentidos internos.
I. EM VÁRIAS OCASIÕES Jesus sublinha que a fonte dos atos humanos está no coração, no interior do homem, no fundo do seu espírito; e esta interioridade deve manter-se pura e limpa de afetos desordenados, de rancores, de invejas...
É no coração que tem origem tudo aquilo que depois se tornará realidade na conduta externa da pessoa. Nele se consolidam, com a graça, uma piedade sincera no trato com Deus, e o amor limpo e a cordialidade no relacionamento com o próximo. E de uma interioridade manchada nascem o aburguesamento, o egoísmo, a cegueira espiritual. Porque do coração provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as fornicações, os roubos, os falsos testemunhos, as blasfêmias... 1 Por isso lemos no Livro dos Provérbios: Guarda o teu coração mais do que qualquer outra coisa, porque dele brotam os mananciais da vida 2. O coração é o símbolo do que o homem tem de mais íntimo.
O Senhor diz-nos hoje no Evangelho da Missa 3: Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher, cobiçando-a, já adulterou com ela no seu coração. Jesus Cristo declara no seu sentido mais autêntico a essência do nono mandamento, que proíbe os atos internos (pensamentos, desejos, imaginações) contra a virtude da castidade, bem como todo o afeto desordenado, ainda que aparentemente pareça limpo e desinteressado, que não esteja de acordo com a vontade de Deus nas circunstâncias de cada um.
Para vivermos com delicadeza este mandamento – condição de todo o amor verdadeiro –, é necessário, em primeiro lugar, que mantenhamos um relacionamento intenso com Deus, para que o seu amor acabe por apossar-se do nosso coração. É necessário, além disso, que evitemos os motivos de tentações internas contra a castidade. Estas podem aparecer quando não se é prudente em guardar os sentidos, quando não se mortifica a imaginação, deixando-a vaguear entre fantasias que afastam da realidade e do cumprimento do dever, quando se anda à busca de compensações afetivas, de vaidade..., ou se revolvem recordações.
Se, uma vez percebidas semelhantes tentações internas, não se empregam os meios adequados para afastá-las pronta e claramente – entre eles, em primeiro lugar, a oração humilde e confiante –, mantém-se um clima interior confuso, permeado de faltas de correspondência à graça que acostumam a alma a não ser generosa com o Senhor. E se se persiste em permanecer nesse limite duvidoso do consentimento, é fácil que a falta de mortificação interior chegue a dar origem a verdadeiros pecados internos contra a virtude da pureza. Com essa atitude, torna-se difícil e talvez impossível avançar pelo caminho do verdadeiro progresso espiritual.
Pelo contrário, quando a alma está decidida a manter-se limpa com a ajuda da graça, ou quando retifica com prontidão algum descuido, mesmo pequeno, então o Espírito Santo, doce Hóspede da alma, concede-lhe mais e mais graças. Assim se vai firmando nela a alegria, que é um dos frutos do Paráclito naqueles que preferem o Senhor às ridículas compensações que costumam deixar na alma um fundo de tristeza e solidão.
II. DEUS PEDE-NOS no nono mandamento não apenas que evitemos o que é claramente impuro em pensamentos e desejos contra a castidade, mas também que guardemos o coração, defendendo-o daquilo que possa incapacitá-lo para amar. Conservar a alma limpa significa cuidarmos da intimidade, dos afetos, sermos prudentes para que a ternura não transborde onde e quando não deve, sermos conseqüentes a todo o momento com a nossa vocação e estado 4.
Os que foram chamados ao caminho do matrimônio devem vigiar o seu coração para conservá-lo sempre entregue à pessoa com quem se casaram, tanto nos começos da vida conjugal como ao cabo dos anos. E para isso é necessário dominar e orientar perseverantemente o coração para que não se complique com compensações reais ou imaginárias. Os esposos não devem esquecer que “o segredo da felicidade conjugal está no quotidiano, não em sonhos [...]. Àqueles que foram chamados por Deus para formar um lar, digo constantemente que se amem sempre, que se amem com aquele amor entusiasmado que tinham quando eram noivos. Pobre conceito tem do matrimônio – que é um sacramento, um ideal e uma vocação – quem pensa que a alegria acaba quando começam as penas e os contratempos que a vida sempre traz consigo” 5.
Por sua vez, aqueles a quem o Senhor pediu um dia o coração inteiro, sem compartilhá-lo com outra criatura, têm, além disso, motivos mais altos para conservarem a sua alma limpa e livre de liames. Seria um engano lamentável deixarem o coração preso a ninharias que afogariam – como um talo frágil entre espinhos – o amor infinito de Deus a que foram chamados desde toda a eternidade. “Achas que chegaste ao cume da virtude – pergunta São Jerônimo –, porque ofereceste uma parte do todo? O Senhor te quer a ti próprio como hóstia viva e agradável a Deus” 6. A essas almas, o Senhor sempre lhes dá a sua graça para que conservem o coração intacto para Ele e para os homens todos por Ele, sem compensações, sem fiozinhos ou correntes que as impeçam de alcançar as alturas a que foram chamadas, com generosidade, com energia para cortarem um laço descarado ou sutil, ou para retificarem um afeto.
A guarda do coração exige principalmente que se cuide de desenvolver e manter sempre vivo o amor, pois uma pessoa humanamente desamorada, tíbia no trato com Deus, dificilmente poderá impedir que penetrem na sua alma desejos e ânsias de compensações, pois o coração foi feito para amar e não se resigna à secura e ao fastio.
Examinemos na nossa oração se o nosso relacionamento com o Senhor é um relacionamento pessoal, como o que se mantém com um amigo – com o Amigo –, se fugimos da rotina e da mediocridade. Vejamos também se os afetos do nosso coração estão ordenados de acordo com o querer de Deus, se afastamos com prontidão qualquer pensamento ou imaginação que os turve ou distorça.
III. A GUARDA DO CORAÇÃO começará muitas vezes pela guarda da vista. O senso comum e o sentido sobrenatural põem então como que um filtro diante dos olhos, para que não se detenham naquilo que não se deve olhar. E isto com naturalidade e simplicidade, sem fazer coisas estranhas, mas com energia e firmeza, sabendo bem o valor daquilo que se guarda; na rua, no trabalho ou no relacionamento social.
Para conhecer e amar, é necessário o trato mútuo. E para evitar que o coração se apegue ao que não deve, será preciso manter uma distância prudente das pessoas com quem é mais fácil que isso – esse apego – aconteça, quando Deus não quer que aconteça. Trata-se de uma distância moral, espiritual, afetiva, que se manifesta em evitar confidências indevidas, desabafos de penas ou desgostos com quem não se deve... Pode haver circunstâncias em que a prudência aconselhe até a manter uma distância física em relação a esta ou àquela pessoa. Se houver retidão na consciência, um exame atento e sincero descobrirá uma intenção menos reta em certa companhia ou em certos desabafos: porá às claras o que parece que se quer e o que na realidade se procura.
Não se trata de suprimir a afetividade (não seria possível nem seria humano), mas de orientá-la e encaminhá-la de acordo com o querer de Deus: trata-se de preencher o coração com um amor forte, limpo e nobre que o defenda dos afetos que não são gratos a Deus.
Com a guarda do coração relaciona-se o controle da memória, de modo a afastar cenas, diálogos, imagens que possam reacender as brasas de uma afetividade que impede de ter o coração onde se deve. E, paralelamente, o domínio da imaginação, que, se se descontrola ou se perde em sonhos fantásticos, nos impede de estar abertos à realidade cotidiana.
Quando se cede com alguma freqüência aos assaltos da imaginação – que talvez se tornem mais agudos em momentos de cansaço, de aridez interior, ou como compensação para os pequenos fracassos da existência –, vai-se produzindo uma brecha na unidade de vida entre esse mundo de sonhos – em que a vaidade sempre acaba por triunfar – e a vida real, austera, que é a única apta para que nos santifiquemos e para fazermos o bem que Deus espera de cada homem e de cada mulher.
Uma alma descontente com a sua situação e inclinada a refugiar-se numa interioridade irreal e fantasiosa, dificilmente enfrentará com generosidade e realismo o que tem de fazer em cada momento para crescer nas virtudes. Como é possível viver de fantasias sem descurar o cumprimento do dever? Como pode lutar contra os seus defeitos uma pessoa que, ao invés de enfrentá-los com humildade e esperança, foge deles e os vence apenas na imaginação? Que alegria se pode pôr no cumprimento daquilo que exige sacrifício, quando existe o hábito de refugiar-se no reduto de uma fantasia cheia de ilusões? E não nos esqueçamos de que também é possível ter o coração apegado – atado – a personagens de um filme, de um romance ou da vida real com os quais não se tem nenhum relacionamento. E o coração assim atado, e talvez manchado, não pode subir até Deus.
Peçamos a Nossa Senhora que Jesus seja o personagem central do nosso mundo interior, o centro real da nossa vida e, à sua sombra, esses outros amores nobres e limpos, sacrificados, que Ele também deseja para cada homem e para cada mulher, segundo a sua própria vocação. “Permite-me um conselho, para que o ponhas em prática diariamente. Quando o coração te fizer notar as suas baixas tendências, reza devagar à Virgem Imaculada: Olha-me com compaixão, não me deixes, minha Mãe! – E aconselha-o assim a outros” 7. Não me deixes, minha Mãe.
(1) Mt 15, 19; (2) Prov 4, 23; (3) Mt 8, 27-32; (4) cfr. José Luis Soria, Amar e viver a castidade, pág. 116; (5) São Josemaría Escrivá, Questões atuais do cristianismo, n. 91; (6) São Jerônimo, Epístola 118, 5; (7) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 849.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal