TEMPO COMUM. DÉCIMO PRIMEIRO DOMINGO. ANO A

– A messe é muita e os operários poucos.
– O Senhor chama a todos para a tarefa apostólica.
– Pedir vocações ao Senhor.

I. O EVANGELHO DA MISSA1 refere algo que deve ter acontecido muitas vezes enquanto o Senhor percorria cidades e aldeias pregando a chegada do Reino de Deus: ao ver a multidão, encheu-se de compaixão por ela, comoveu-se no mais íntimo do seu ser, porque estavam fatigados e prostrados como ovelhas sem pastor, profundamente desorientados. Os pastores, em lugar de guiá-las, desencaminhavam-nas e comportavam-se mais como lobos do que como pastores. Jesus dirigiu-se aos seus discípulos e disse: A messe é muita, mas os operários poucos.

As palavras do Senhor têm plena atualidade nos nossos dias. Há searas inteiras que se perdem porque não há quem as recolha; daí a urgente necessidade de cristãos alegres, eficazes, fiéis à Igreja, conscientes do que têm entre mãos. E isso diz respeito a todos nós, pois o Senhor necessita de todos: de trabalhadores e estudantes que saibam levar Cristo à fábrica e à Universidade, com o seu prestígio de bons profissionais e com o seu apostolado; de professores exemplares que ensinem com sentido cristão, que dediquem generosamente o seu tempo aos alunos e sejam verdadeiros mestres; de homens e mulheres conseqüentes com a sua fé em cada atividade humana; de pais e mães de família que se preocupem verdadeiramente com a educação religiosa dos seus filhos, que intervenham nas associações de pais nos colégios, nas associações de bairro.

Perante tanta gente desorientada, vazia de Deus e cheia somente de bens materiais ou do desejo de possuí-los, não podemos ficar à margem. Ainda que sob uma camada de indiferença, as pessoas, no fundo de suas almas, estão sedentas de que lhes falem de Deus e das verdades que dizem respeito à sua salvação. Se nós os cristãos não trabalharmos com sacrifício neste campo, acontecerá o que os Profetas anunciaram: Os campos estão devastados, o solo enlutado. O trigo foi destruído, o mosto perdido, o azeite estragado. Os lavradores estão desamparados, os vinhateiros lamentam-se por causa do trigo e da cevada. Não há colheita2. Deus esperava esses frutos, mas a colheita perdeu-se por desleixo daqueles que tinham que cuidar dela e recolhê-la.

A gravidade da missão que nos incumbe deve levar-nos a fazer um sério exame de consciência: Que fiz hoje para dar a conhecer Deus? A quem falei hoje de Cristo? Preocupo-me realmente com a salvação dos que me rodeiam? Sou consciente de que muitos se aproximariam do Senhor se eu fosse mais audaz?

II. AS DESCULPAS QUE nos podem ocorrer para não levarmos os outros a Cristo são muitas: falta de preparação suficiente, escassez de tempo, poucas relações no âmbito do trabalho profissional, as enormes distâncias na grande cidade em que vivemos…, mas o Senhor continua a dizer-nos a todos nós, e muito especialmente neste tempo de tantas deserções, que a messe é muita e os operários poucos. E a messe que não se recolhe a tempo, perde-se.

São João Crisóstomo deixou-nos umas palavras que podem ajudar-nos a examinar se nos desculpamos facilmente diante desse nobre dever a que Deus nos chama: “Não há nada mais frio – diz o santo – que um cristão despreocupado da salvação alheia. Não podes aduzir como pretexto a tua pobreza econômica. Acusar-te-á a velhinha que deu as suas moedas no Templo. O próprio Pedro disse: Não tenho ouro nem prata (At 3, 6). E Paulo era tão pobre que muitas vezes passava fome e não tinha o necessário para viver. Não podes pretextar a tua origem humilde: eles também eram pessoas humildes, de condição modesta. Nem a ignorância te servirá de desculpa: todos eles eram homens sem letras. Sejas escravo ou fugitivo, podes cumprir o que depende de ti. Assim foi Onésimo, e vê qual foi a sua vocação… Não invoques a doença como pretexto, pois Timóteo estava submetido a freqüentes indisposições […]. Cada um pode ser útil ao seu próximo, se quiser fazer o que está ao seu alcance”3.

A messe é muita, mas os operários poucos… Ao escutarmos isto – comenta São Gregório Magno –, não podemos deixar de sentir uma grande tristeza, porque é preciso reconhecer que há pessoas que desejam escutar coisas boas; falta, no entanto, quem se dedique a anunciá-las”4.

Para que haja muitos operários que trabalhem lado a lado e com entusiasmo neste campo do mundo, cada um no seu lugar, o próprio Senhor nos ensina o caminho a seguir: Rogai, pois, ao Senhor da messe, que envie operários à sua messe. Jesus convida-nos a orar para que Deus desperte na alma de muitos o desejo de um maior compromisso nesta tarefa de salvação. “A oração é o meio mais eficaz de proselitismo”5, de conseguir que muitos descubram que Deus os chama para seus colaboradores. Todos os cristãos devem rezar habitualmente para que o Senhor envie operários à sua messe. E se o fizermos com uma oração contínua, confiante e humilde, não só conseguiremos do Senhor novos operários para o seu campo, como nós mesmos nos sentiremos chamados a participar com muito mais audácia nessa missão divina.

III. JESUS PREPARA A SUA CHEGADA a outras cidades através dos seus discípulos. São pregoeiros que vão adiante dEle a todas as cidades aonde havia de ir6. Todo o trabalho apostólico culminaria com a chegada de Deus às almas, mas, para que chegasse esse momento, o terreno teve de ser preparado pelos enviados, pelos que já seguiam o Senhor.

Temos de pedir com freqüência a Deus que se verifique no povo cristão um ressurgir de homens e mulheres que descubram o sentido vocacional da sua vida; que não somente queiram ser bons, mas se saibam chamados a ser operários no campo do Senhor e correspondam generosamente a essa chamada: homens e mulheres, velhos e jovens, que vivam entregues a Deus no meio do mundo, muitos em celibato apostólico; cristãos correntes, ocupados nas mesmas tarefas dos seus iguais, que levem Cristo ao âmago da sociedade de que fazem parte.

O Senhor, que poderia realizar diretamente a sua obra redentora no mundo, quer necessitar de discípulos que o precedam nas cidades, nos povoados, nas fábricas, nas Universidades…, para que anunciem as maravilhas e as exigências do Reino dos Céus. É evidente que a Igreja – nossa Mãe – necessita de almas que se comprometam nesses caminhos de entrega e de santidade. Os Pontífices não cessam de recordar a necessidade dessas vocações de apóstolos, em cujas mãos está em boa parte a evangelização do mundo.

“Ajuda-me a clamar: Jesus, almas!… Almas de apóstolo! São para Ti, para a tua glória!

“Verás como acaba por escutar-nos”7.

Que faço eu para que essas vocações possam crescer à minha volta? Vocações que devem surgir entre os filhos, irmãos, amigos, conhecidos… Não devemos esquecer que Deus chama a muitos. Peçamos-lhe a graça de saber promover e dar alento a essas chamadas, que podem estar dirigidas a pessoas que vemos todos os dias.

Peçamos também à Santíssima Virgem que nos faça entender como dirigida a cada um de nós essa confidência que o Senhor faz aos seus – a messe é muita –, e formulemos um propósito concreto de empreender com urgência e constância um esforço grande para que sejam muitos os operários no campo de Deus. Peçamos-lhe a enorme alegria de ser instrumentos para que outros correspondam à chamada que Jesus lhes faz.

“«Uma boa notícia: mais um doido… para o manicômio». – E tudo é alvoroço na carta do «pescador».

“Que Deus encha de eficácia as tuas redes!”8

O Senhor nunca esquece o “pescador”.

(1) Mt 9, 36; 10, 8; (2) Jl 1, 10-12; (3) São João Crisóstomo, Homilia 20 sobre os Atos dos Apóstolos; (4) São Gregório Magno, Homilias sobre o Evangelho, 17; (5) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 800; (6) cfr. Lc 10, 1; (7) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 804; (8) ib., n. 808.