A palha no olho alheio
TEMPO COMUM. DÉCIMA SEGUNDA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA
– A soberba tende a exagerar as faltas alheias e a diminuir e desculpar as próprias.
– Aceitar as pessoas como são. Ajudar com a correção fraterna.
– A crítica positiva.
I. CERTA VEZ, O SENHOR disse aos que o escutavam: Como vês a palha no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu? Ou como ousas dizer ao teu irmão: Deixa que eu tire a palha do teu olho, tendo tu uma trave no teu? Hipócrita: tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás tirar a palha do olho do teu irmão1. Uma manifestação de humildade é evitar o juízo negativo – e muitas vezes injusto – sobre os outros.
Pela nossa soberba pessoal, tendemos a ver aumentadas as menores faltas dos outros e, por contraste, a diminuir e justificar os maiores defeitos pessoais. Mais ainda, a soberba tende a projetar nos outros o que na realidade são imperfeições e erros próprios.
Por isso Santo Agostinho aconselhava sabiamente: “Procurai adquirir as virtudes que julgais faltarem nos vossos irmãos, e já não lhes vereis os defeitos, porque vós mesmos não os tereis” 2.
A humildade, pelo contrário, exerce positivamente o seu influxo numa série de virtudes que permitem uma convivência humana e cristã. Só a pessoa humilde está em condições de perdoar, de compreender e de ajudar, porque só ela é consciente de ter recebido tudo de Deus, só ela conhece as suas misérias e sabe como anda necessitada da misericórdia divina. Daí que trate o seu próximo com benignidade – também à hora de julgar –, desculpando e perdoando quando necessário. Por outro lado, nunca esquecerá que a nossa visão das ações alheias sempre é e será limitada, pois só Deus penetra nas intenções mais íntimas, lê nos corações e dá o verdadeiro valor a todas as circunstâncias que acompanham uma ação.
Devemos aprender a desculpar os defeitos, talvez patentes e inegáveis, daqueles com quem convivemos diariamente, de tal forma que não nos afastemos deles nem deixemos de estimá-los por causa das suas falhas e incorreções. Aprendamos do Senhor, que, “não podendo de forma alguma desculpar o pecado daqueles que o haviam posto na cruz, procurou no entanto reduzir-lhe a malícia, alegando a ignorância daqueles homens. Quando nós não pudermos desculpar o pecado, ao menos julguemo-lo digno de compaixão, atribuindo-o à causa mais tolerante que possa ser-lhe aplicada, como é a ignorância ou a fraqueza” 3.
Se nos habituarmos a ver as qualidades dos outros, descobriremos que essas deficiências do seu caráter, essas falhas no seu comportamento, são, normalmente, de pouca importância em comparação com as virtudes que possuem. Esta atitude positiva, justa, em face daqueles com quem lidamos habitualmente, ajudar-nos-á muito a aproximar-nos do Senhor, pois cresceremos em caridade e em humildade.
“Procuremos sempre – aconselhava Santa Teresa – olhar as virtudes e coisas boas que vemos nos outros, e tapar os seus defeitos com os nossos grandes pecados. Ainda que depois não o consigamos com perfeição, este é um modo de agir que nos faz ganhar uma grande virtude, que é a de termos a todos por melhores do que nós. E assim começamos a ganhar o favor de Deus” 4.
Em face das deficiências dos outros, mesmo dos seus pecados externos (murmurações, maus modos, pequenas vinganças...), devemos adotar uma atitude positiva: rezar em primeiro lugar por eles, desagravar o Senhor, crescer em paciência e fortaleza, querer-lhes bem e apreciá-los mais, porque necessitam mais da nossa estima.
II. O SENHOR NÃO MANDOU embora os Apóstolos nem deixou de estimá-los por causa dos defeitos que tinham, aliás bem patentes nos Evangelhos. Quando começam a segui-lo, vemos que às vezes se deixam dominar pela inveja, que têm sentimentos de ira, que ambicionam os primeiros postos. O Mestre corrige-os com delicadeza, tem paciência com eles e não deixa de querer-lhes bem. Ensina aos que seriam transmissores da sua doutrina algo de importância vital para a sua missão, para a Igreja inteira, para a família, para o mundo do trabalho: o exercício da caridade com atos.
Amar os outros, mesmo com os seus defeitos, é cumprir a Lei de Cristo, pois toda a Lei se cumpre num só preceito: Amarás o teu próximo como a ti mesmo 5, e este mandamento de Jesus não diz que se deva amar só os que não têm defeitos ou aqueles que têm determinadas virtudes. O Senhor pede que saibamos estimar em primeiro lugar – porque a caridade é ordenada – aqueles que Ele colocou ao nosso lado por laços de parentesco, de trabalho, de amizade, de vizinhança.
Esta caridade terá matizes e notas particulares de acordo com os vínculos que nos unam, mas em qualquer caso a nossa atitude deve ser sempre aberta, amistosa, desejosa de ajudar a todos. E não se trata de viver essa virtude com pessoas ideais, mas com aqueles com quem convivemos ou trabalhamos, ou que encontramos na rua à hora do tráfego mais intenso, ou quando os transportes públicos vão lotados. Às vezes, teremos talvez no nosso próprio lar, no nosso próprio escritório, pessoas que têm mau gênio, que são egoístas e invejosas, ou que um dia se levantaram indispostas ou cansadas. Trata-se de conviver, de estimar e de ajudar essas pessoas concretas e reais.
Diante das faltas do próximo, a resposta do cristão, além de compreender e rezar, há de ser, quando for oportuno, ajudar através da correção fraterna, que o próprio Senhor recomendou 6 e que sempre se viveu na Igreja. É uma ajuda fraternal que, por ser fruto da caridade, deve ser feita humildemente, sem ferir, a sós, de forma amável e positiva. Jamais deve dar a impressão de que é uma reclamação, um desabafo, uma manifestação de mau-humor ou de defesa de interesses pessoais, antes deve deixar absolutamente claro que o que se quer é que esse amigo ou colega compreenda que aquela ação ou atitude concreta faz mal à sua alma, ao trabalho, à convivência, ao prestígio humano a que tem direito. O preceito evangélico ultrapassa amplamente o plano meramente humano das convenções sociais e até a própria amizade. É uma prova de lealdade humana, que evita toda a crítica ou murmuração.
III. SE TOMARMOS COMO NORMA habitual não reparar na palha no olho alheio, ser-nos-á fácil não falar mal de ninguém. Se em algum caso temos que pronunciar-nos sobre determinada atuação, sobre a conduta de alguém, faremos essa avaliação na presença do Senhor, na oração, purificando a intenção e cuidando das normas elementares de prudência e de justiça. “Não me cansarei de insistir-vos – costumava repetir Mons. Escrivá – em que aqueles que têm obrigação de julgar devem ouvir as duas partes, os dois sinos. Porventura a nossa lei condena alguém sem tê-lo ouvido primeiro e examinado o seu proceder?, recordava Nicodemos, aquele varão reto e nobre, leal, aos sacerdotes e fariseus que procuravam condenar Jesus” 7.
E se temos que exercer o dever da crítica, esta deve ser construtiva, oportuna, ressalvando sempre a pessoa e as suas intenções, que não conhecemos senão parcialmente. A crítica do cristão é profundamente humana, não fere e até conquista a amizade dos que lhe são contrários, porque se manifesta cheia de respeito e de compreensão. Por honradez humana, o cristão não julga quem não conhece e, quando emite um juízo, sabe que este deve subordinar-se sempre a uns requisitos de tempo, de lugar e de matizes, sem os quais poderia converter-se facilmente em detração ou difamação. Por caridade e por honradez, teremos além disso o cuidado de não converter em juízo inamovível o que foi uma simples impressão, ou de não transmitir como verdade o que “disseram”, ou a simples notícia sem confirmação que fere o bom nome de uma pessoa ou de uma instituição.
Se a caridade nos inclina a ver os defeitos alheios unicamente num contexto de virtudes e de qualidades positivas, a humildade leva-nos a descobrir em nós mesmos tantos erros e defeitos que não quereremos senão pedir perdão a Deus e nunca teremos vontade de criticar os outros; pelo contrário, estaremos sempre dispostos a receber e aceitar a crítica honrada das pessoas que nos conhecem e nos apreciam. “Sinal certo da grandeza espiritual é saber deixar que nos digam as coisas, recebendo-as com alegria e agradecimento” 8. Só o soberbo é que não tolera nenhuma advertência, antes se desculpa ou reage contra quem – levado pela caridade e pela melhor das amizades – quer ajudá-lo a superar um defeito ou a evitar que se repita determinado comportamento errôneo.
Entre os muitos motivos para agradecer a Deus, oxalá possamos contar também o de ter pessoas ao nosso lado que saibam dizer-nos oportunamente o que fazemos mal e o que podemos e devemos fazer melhor, numa crítica amiga e honesta.
A Virgem Santa Maria sempre soube dizer a palavra adequada; nunca murmurou e muitas vezes guardou silêncio.
(1) Mt 7, 3-5; (2) Santo Agostinho, Comentário sobre os salmos, 30, 2, 7; (3) São Francisco de Sales, Introdução à vida devota, 3, 28; (4) Santa Teresa, Vida, 13, 6; (5) Gal 5, 14; (6) Mt 18, 15-17; (7) São Josemaría Escrivá, Carta, 29-IX-1957; (8) S. Canals, Reflexões espirituais, pág. 120.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Luíz Gonzaga
21 de Junho
São Luíz Gonzaga
Neste dia 21 de junho, é celebrada a festa de São Luís Gonzaga, padroeiro da juventude cristã e protetor dos jovens estudantes. Ele passou por muitas incompreensões e sofrimentos na “Vida de luxo” que teve que experimentar, até que ouviu um “chamado especial”.
São Luís Gonzaga nasceu em 1568 na Itália, em uma família nobre. Sua mãe, preocupada pelas questões de fé, consagrou-o à Virgem e batizou-o, enquanto ao seu pai só interessava o futuro mundano do filho e que fosse soldado como ele.
São Luís frequentava muito os quartéis e aprendeu a importância de ser corajoso, mas também adquiriu um vocabulário rude. Seu tutor o fez ver que essa linguagem era grosseira, vulgar e blasfema. Então, o menino nunca mais voltou a falar desse modo.
Aos poucos foi crescendo na fé e, aos nove anos, fez um voto de virgindade. Quando tinha treze anos, conheceu o Bispo São Carlos Borromeu, que ficou impressionado com a sabedoria e a inocência de Luís e deu-lhe a Primeira Comunhão.
Alguns historiadores afirmam que o ambiente em que se vivia na nobreza e sociedade daquela época estava repleto de fraude, vício, crime e luxúria. Por isso, São Luís se submeteu a uma ordem rigorosa e práticas de piedade constantes, sem descurar de suas responsabilidades na corte.
Por assuntos de seu pai, teve que viajar para a Espanha e, na igreja dos jesuítas em Madri, ouviu uma voz que lhe dizia: “Luís, ingressa na Companhia de Jesus”. Sua mãe recebeu com alegria os projetos de Luís, mas o pai ficou furioso e não aceitou facilmente a inquietude vocacional do filho.
Mais tarde, depois de tê-lo enviado a várias viagens e lhe dado cargos importantes, o pai teve que ceder e escreveu ao superior dos jesuítas dizendo: “Envio o que mais amo no mundo, um filho no qual toda a família tinha colocado suas esperanças”.
São Luís entrou para o noviciado da Companhia de Jesus. Continuou com suas penitências e mortificações que já tinham afetado a sua saúde. Com o tempo, tornou-se um noviço modelo, manteve-se fiel às regras e sempre buscava exercer as tarefas mais humildes. Em algumas ocasiões, durante o intervalo ou no refeitório, caia em êxtase.
Naquela época, a população de Roma foi afetada por uma epidemia de febre, os jesuítas abriram um hospital onde os membros da ordem atendiam. Luís começou a mendigar mantimentos para os doentes e conseguiu cuidar dos enfermos até que contraiu a doença.
Recuperou-se desse mal, mas ficou afetado por uma febre intermitente que em poucos meses levou-o a um estado de grande debilidade. Acompanhado por seu confessor São Roberto Belarmino, foi se preparando para a morte.
Em uma ocasião, caiu em êxtase e lhe foi revelado que morreria na oitava de Corpus Christi. Com o olhar posto no crucifixo e o nome de Jesus em seus lábios, partiu para a Casa do Pai por volta da meia noite, entre os dias 20 e 21 de junho, com apenas 23 anos.
Fonte: https://www.acidigital.com
Viver Sem Medo
TEMPO COMUM. DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO. ANO A
– Valentia na vida ordinária.
– A nossa fortaleza baseia-se na consciência da nossa filiação divina.
– Valentia e confiança em Deus nas grandes provas e nas pequenas coisas da vida ordinária.
I. O SENHOR PEDE-NOS no Evangelho da Missa1 que vivamos sem medo, como filhos de Deus. Às vezes, encontramos pessoas angustiadas e atemorizadas pelas dificuldades da vida, por acontecimentos adversos e por obstáculos que se agigantam quando só se conta com as forças humanas para enfrentá-los. Vemos também por vezes cristãos que parecem atenazados por um medo envergonhado de falar claramente de Deus, de dizer não à mentira, de mostrar, quando necessário, a sua condição de discípulos fiéis de Cristo; têm medo do que os outros podem dizer, de um comentário desfavorável, de chamar a atenção... E como é que um discípulo de Cristo não haveria de chamar a atenção em ambientes de costumes paganizados, em que os valores econômicos são muitas vezes os valores supremos?
Jesus diz-nos que não nos preocupemos demasiado com a calúnia e a murmuração, se nos chegam a atingir. Não os temais, pois, porque não há nada oculto que não venha a descobrir-se. Que pena se mais tarde se viesse a descobrir que tivemos medo de proclamar aos quatro ventos a verdade que o Senhor nos confiou! O que vos digo em segredo, dizei-o à luz, e o que vos digo ao ouvido, pregai-o sobre os telhados. Se alguma vez nos calamos, que seja porque nesse momento o mais oportuno é calar-se por prudência sobrenatural, por caridade; nunca por temor ou por covardia. Nós, os cristãos, não somos amigos das sombras e dos cantos escuros, mas da luz, da claridade na vida e na palavra.
Vivemos uns tempos em que é mais necessário proclamar a verdade sem ambigüidades, porque a mentira e a confusão imperam por toda a parte. A sã doutrina, as normas morais, a retidão de consciência no exercício da profissão ou à hora de se viverem as exigências do matrimônio, o simples senso comum... gozam algumas vezes de menos prestígio, por absurdo que pareça, do que uma doutrina chocante e errada, que se qualifica de “valente” ou a que se dá um colorido de progresso.
Não tenhamos medo de perder o brilho de um prestígio apenas aparente, ou de sofrer a murmuração ou até a calúnia, por não irmos contra a corrente ou contra a moda do momento. Pois todo aquele que me confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante de meu Pai que está nos céus, diz-nos o Senhor. Esta promessa divina compensa de longe as incompreensões que possamos sofrer por vivermos a nossa fé com valentia e audácia santas.
Porque tenho por certo – diz São Paulo – que os padecimentos do tempo presente nada são em comparação com a glória que há de manifestar-se em nós 2. “Portanto – comenta São Cipriano –, quem não se há de esforçar por alcançar glória tão grande, por fazer-se amigo de Deus, por alegrar-se em breve com Cristo, por receber prêmios divinos após os tormentos e suplícios desta terra? Se para os soldados deste mundo é uma glória voltarem triunfantes à sua pátria depois de abaterem o inimigo, quanto maior glória e mais plausível não será, uma vez vencido o diabo, voltarmos triunfantes para o céu [...]; levarmos para lá os troféus vitoriosos [...]; sentarmo-nos ao lado de Deus quando vier julgar o mundo, sermos co-herdeiros com Cristo, equipararmo-nos aos anjos e desfrutarmos com os Patriarcas, com os Apóstolos e com os Profetas da posse do Reino dos Céus?” 3
II. SEM MEDO À VIDA e sem medo à morte 4, alegres no meio das dificuldades, esforçados e abnegados perante os obstáculos e as doenças, serenos perante um futuro incerto: o Senhor pede-nos que vivamos assim. E isto será possível se considerarmos muitas vezes ao dia que somos filhos de Deus, especialmente quando somos assaltados pela inquietação, pela perturbação e pelas sombras da vida. Não se vendem dois passarinhos por um asse? Contudo, nem um deles cai na terra sem a permissão do vosso Pai. Quanto a vós, até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Portanto, não temais; valeis mais que muitos passarinhos.
O Senhor declara o imenso carinho que tem por nós e o grande valor que os homens têm para Ele. São Jerônimo, comentando esta passagem do Evangelho da Missa, escreve: “Se os passarinhos, que são tão baratos, não deixam de estar sob a providência e o cuidado de Deus, como é que vós, que pela natureza da vossa alma sois eternos, podereis temer que não vos olhe com particular solicitude Aquele a quem respeitais como Pai?”5
A filiação divina fortalece-nos no meio das fraquezas pessoais, dos obstáculos com que tropeçamos, das dificuldades de um ambiente afastado de Deus que às vezes se opõe agressivamente aos ideais cristãos. Mas o Senhor está comigo, como soldado forte, diz-nos o profeta Jeremias na primeira Leitura da Missa6. É o grito de esperança e de segura confiança do Profeta, quando se encontra só, no meio dos seus inimigos. Meu Pai-Deus está comigo como soldado forte, podemos nós repetir sempre que vejamos o perigo rondar-nos e o horizonte fechar-se. Dominus, illuminatio mea et salus mea, quem timebo? O Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei?7
Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé8, proclamava o Apóstolo São João no meio das grandes dificuldades que provinham do mundo pagão, de um mundo em que os cristãos, como cidadãos normais que eram, exerciam as profissões e os ofícios mais variados e realizavam um apostolado eficaz. E do alicerce seguro de uma fé inamovível surge uma moral de vitória que não é orgulho nem ingenuidade, mas a firmeza alegre do cristão que, apesar das suas misérias e limitações pessoais, sabe que essa vitória foi ganha por Cristo com a sua Morte na Cruz e com a sua gloriosa Ressurreição. Deus é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei? Nem ninguém nem nada, Senhor. Tu és a segurança dos meus dias!
III. DEVEMOS SER FORTES e valorosos diante das dificuldades, como é próprio dos filhos de Deus: Não tenhais medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perder a alma e o corpo no inferno. Jesus exorta-nos a não temer nada, exceto o pecado, que tira a amizade com Deus e conduz à condenação eterna.
O temor de Deus é um dom do Espírito Santo que facilita a luta decidida contra aquilo que nos separa dEle e que nos move a fugir das ocasiões de pecar, a não confiar em nós mesmos, a ter presente a todo o momento que temos os “pés de barro”, frágeis e quebradiços. Os males corporais, e a própria morte, não são nada em comparação com os males da alma, com o pecado.
Fora o temor de perder a Deus – que é preocupação filial e precaução para não ofendê-lo –, nada nos deve inquietar. Em determinados momentos do nosso caminho, poderão ser grandes as tribulações que padeçamos, mas o Senhor nos dará então a graça necessária para superá-las e para crescer em vida interior: Basta-te a minha graça9, dir-nos-á Jesus.
Aquele que assim estendeu a mão ao Apóstolo Paulo há de vir também em nosso auxílio. Nesses momentos de aflição, invocaremos o Senhor com fé e com humildade: “Senhor, não te fies de mim! Eu, sim, é que me fio de Ti. E ao vislumbrarmos na nossa alma o amor, a compaixão, a ternura com que Cristo Jesus nos olha – porque Ele não nos abandona –, compreenderemos em toda a sua profundidade as palavras do Apóstolo: Virtus in infirmitate perficitur, a virtude se fortalece na fraqueza (2 Cor 12, 9); com fé no Senhor, apesar das nossas misérias – ou melhor, com as nossas misérias –, seremos fiéis ao nosso Pai-Deus, e o poder divino brilhará, sustentando-nos no meio da nossa fraqueza” 10.
Ordinariamente, no entanto, devemos manifestar a nossa fortaleza e valentia em situações menos transcendentes: recusando com bons modos, mas com firmeza, um convite para ir a um lugar ou para assistir a um espetáculo em que um bom cristão deve sentir-se mal; manifestando desacordo com determinada orientação que os professores querem dar à educação dos nossos filhos; cortando essa conversa menos limpa ou convidando um amigo a umas aulas de formação cristã... Muitas vezes, são as pequenas covardias que refreiam ou impedem um apostolado de horizontes amplos. Paralelamente, são também as “pequenas valentias” que tornam uma vida eficaz.
“Na hora do desprezo da Cruz, Nossa Senhora está lá, perto do seu Filho, decidida a correr a sua mesma sorte. – Percamos o medo de nos comportarmos como cristãos responsáveis, quando isso não é cômodo no ambiente em que nos desenvolvemos: Ela nos ajudará” 11.
(1) Mt 10, 26-33; (2) Rom 8, 18; (3) São Cipriano, Epístola a Fortunato, 13; (4) cfr. São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 132; (5) São Jerônimo, Comentário ao Evangelho segundo São Mateus, 10, 29-31; (6) cfr. Jer 20, 10-13; (7) Sl 27, 1; (8) 1 Jo 5, 4; (9) 2 Cor 12, 9; (10) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 194; (11) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 977.
Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal
Imaculado Coração de Maria
– O Coração de Maria.
– Um Coração materno.
– Cor Mariae dulcissimum, iter para tutum.
Depois da consagração do mundo ao dulcíssimo e maternal Coração de Maria, feita em 1942, chegaram ao Romano Pontífice numerosos pedidos para que estendesse a toda a Igreja esse culto que já existia em alguns lugares. Pio XII acedeu em 1945, “na certeza de encontrarmos no seu amantíssimo Coração [...] o porto seguro no meio das tempestades que por toda a parte nos oprimem”. Por meio do símbolo do coração, veneramos em Maria o seu amor puríssimo e perfeito por Deus e o seu amor maternal por cada homem. Nele encontramos refúgio no meio de todas as dificuldades e tentações da vida e o caminho seguro – iter para tutum – para chegarmos rapidamente ao seu Filho.
I. EM MIM ESTÁ TODA A GRAÇA do caminho e da verdade, em mim toda a esperança de vida e de virtude, lemos na Antífona de entrada da Missa 1.
Como considerávamos na festa de ontem, o coração expressa e simboliza a intimidade da pessoa. A primeira vez que se menciona o Coração de Maria no Evangelho é para revelar toda a riqueza da vida interior da Virgem: Maria – escreve São Lucas – guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração 2.
O Prefácio da Missa proclama que o Coração de Maria é sábio, porque entendeu como nenhuma outra criatura o sentido das Escrituras e conservou a recordação das palavras e das coisas relacionadas com o mistério da salvação; imaculado, quer dizer, imune de toda a mancha de pecado; dócil, porque se submeteu fidelissimamente ao querer de Deus em todos os seus desejos; novo, conforme a profecia de Ezequiel – Eu vos darei um coração novo e um espírito novo 3 –, porque está revestido da novidade da graça merecida por Cristo; humilde, pois imitou o de Cristo, que disse: Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração 4; simples, livre de toda a duplicidade e cheio do Espírito de verdade; limpo, capaz de ver a Deus, conforme a bem-aventurança do Senhor 5; firme na aceitação da vontade divina quando Simeão lhe anunciou que uma espada de dor atravessaria o seu coração 6, quando se desencadeou a perseguição contra o seu Filho 7, ou quando chegou o momento da sua Morte; preparado, já que, enquanto Cristo dormia no sepulcro, Maria – à semelhança da esposa do Cântico dos Cânticos 8 – permaneceu em vigília à espera da ressurreição de Cristo.
O Coração Imaculado de Maria é chamado sobretudo santuário do Espírito Santo 9, em virtude da sua Maternidade divina e da inabitação contínua e plena do Espírito divino na sua alma.
É uma maternidade excelsa, que coloca Maria acima de todas as criaturas, e que teve lugar no seu Coração Imaculado antes de se ter realizado nas suas entranhas puríssimas. O Verbo que Maria deu à luz segundo a carne foi antes concebido segundo a fé no seu coração, afirmam os Santos Padres 10. Foi em vista do seu Coração Imaculado, cheio de fé e de amor humilde, que Maria mereceu trazer o Filho de Deus no seu seio virginal. Como não havemos de recorrer continuamente a esse Coração dulcíssimo?
“Sancta Maria, Stella maris – Santa Maria, Estrela do mar, conduz-nos Tu!
“Clama assim com energia, porque não há tempestade que possa fazer naufragar o Coração Dulcíssimo da Virgem. Quando vires chegar a tempestade, se te abrigares nesse Refúgio firme que é Maria, não haverá perigo algum de que venhas a soçobrar ou a afundar-te” 11. Nele encontraremos um porto seguro que tornará impossível naufragar.
II. MARIA CONSERVAVA todas estas coisas, meditando-as no seu coração 12. O Coração de Maria conservava como um tesouro o anúncio do Anjo sobre a sua Maternidade divina. Guardou também para sempre todas as coisas que aconteceram na noite de Belém: o revoar dos anjos, o que os pastores disseram diante do presépio, a chegada dos Magos com os seus dons...; depois, a profecia de Simeão e as dificuldades da viagem ao Egito... Mais tarde, afligiu-se profundamente com a perda do Menino-Deus no Templo e impressionaram-na as palavras que Ela e José lhe ouviram quando, por fim, angustiados, o encontraram 13.
Maria jamais esqueceu, nos anos em que viveu na terra, os acontecimentos que envolveram a morte do seu Filho na Cruz, bem como as palavras que o Senhor lhe dirigiu naquele instante supremo: Mulher, eis aí o teu filho 14. Desde aquele momento, amou-nos no seu Coração com um amor de mãe, com o mesmo amor com que amou Jesus. Reconheceu o seu Filho não só em João, mas em cada um de nós, conforme Ele mesmo tinha dito:Todas as vezes que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes 15.
Mas Nossa Senhora exerceu a sua maternidade mesmo antes de se ter consumado a redenção no Calvário, pois passou a ser nossa Mãe desde o momento em que, com o seu faça-se, prestou a sua colaboração para a salvação de todos os homens.
No relato da bodas de Caná, São João revela-nos um traço verdadeiramente maternal do Coração de Maria: a sua delicada solicitude para com os outros. Um coração maternal é sempre um coração atento, vigilante: nada do que diz respeito ao filho passa inadvertido à mãe. Em Caná, o Coração maternal de Maria estendeu a sua vigilante solicitude a uns parentes ou amigos, para solucionar uma situação certamente embaraçosa, mas sem conseqüências graves. Por inspiração divina, o Evangelista quis mostrar-nos que nada de humano lhe é indiferente, que ninguém é excluído da sua zelosa ternura. As nossas pequenas carências, tanto como as nossas culpas, são objeto dos seus desvelos. Debruça-se sobre os nossos lapsos e preocupações passageiras, como se debruça sobre as grandes angústias que às vezes podem sufocar-nos a alma. Não têm vinho 16, diz ao seu Filho. Todos estavam distraídos; ninguém o tinha percebido. E ainda que não parecesse ter chegado a hora dos milagres, Ela soube adiantá-la. Maria conhece bem o Coração do seu Filho e sabe como chegar até Ele.
Agora, no Céu, a sua atitude não mudou; pela sua intercessão, as nossas súplicas chegam “antes, mais e melhor” à presença do Senhor. Por isso, podemos dirigir-lhe hoje uma antiga oração da Igreja: Recordare, Virgo Mater Dei, dum steteris in conspectu Domini, ut loquaris pro nobis bona, lembra-te, ó Virgem Mãe de Deus, Tu que estás continuamente na presença do Senhor, de falar bem de nós 17. Como necessitamos disso!
Ao meditarmos no Coração Imaculado de Maria, reparemos que não se trata de acrescentar mais uma devoção às que já temos, mas de aprender a tratar a Virgem com mais confiança, com a simplicidade das crianças que recorrem às suas mães a cada momento: não se dirigem a elas apenas quando estão numa grande aflição, mas também nos pequenos percalços com que tropeçam a cada instante. As mães ajudam-nas com alegria a resolver os menores problemas. Elas – as mães – aprenderam da nossa Mãe do Céu.
III. AO CONSIDERARMOS o esplendor e a santidade do Coração Imaculado de Maria, podemos examinar hoje a nossa própria intimidade: se estamos abertos e somos dóceis às graças e às inspirações do Espírito Santo, se guardamos zelosamente o coração de tudo aquilo que possa separá-lo de Deus, se arrancamos pela raiz os pequenos rancores, as invejas... que tendem a aninhar-se nele. Sabemos que da riqueza ou pobreza do nosso coração falam as palavras e as obras, pois o homem bom, do bom tesouro do seu coração tira coisas boas 18.
Do coração de Nossa Senhora brotam torrentes de graças de perdão, de misericórdia, de ajuda nas situações difíceis... Por isso queremos pedir-lhe hoje que nos dê um coração puro, humano, compreensivo com os defeitos dos que convivem conosco, amável com todos, capaz de suportar a dor em qualquer situação em que a encontremos, sempre disposto a ajudar os que precisam. “Mater Pulchrae dilectionis, Mãe do Amor Formoso, roga por nós! Ensina-nos a amar a Deus e aos nossos irmãos como tu os amaste: faz com que o nosso amor pelos outros seja sempre paciente, benigno, respeitoso [...]; faz com que a nossa alegria seja sempre autêntica e plena, para podermos comunicá-la a todos” 19.
Recordamos hoje como a Igreja e os seus filhos, quando as necessidades se tornaram mais prementes, sempre recorreram ao Coração Dulcíssimo de Maria, para consagrar-lhe o mundo, as nações ou as famílias 20. Sempre tivemos a intuição de que somente nesse Doce Coração estamos seguros. Hoje voltamos a entregar-lhe, uma vez mais, tudo o que somos e temos. Deixamos no seu regaço os dias bons e os que parecem maus, as doenças e as fraquezas, o trabalho, o cansaço e o repouso, os ideais nobres que o Senhor despertou na nossa alma; pomos especialmente nas suas mãos o nosso caminhar para Cristo, a fim de que Ela o preserve de todos os perigos e o guarde com ternura e fortaleza, como fazem as mães. Cor Mariae dulcissimum, iter para tutum, “Coração dulcíssimo de Maria, prepara-me..., prepara-nos um caminho seguro” 21.
Terminamos a nossa oração pedindo ao Senhor, com a liturgia da Missa: Ó Deus, que preparastes no Imaculado Coração de Maria uma digna morada para o vosso Filho e um santuário para o Espírito Santo, concedei-nos um coração limpo e dócil, para que, sempre submissos aos vossos preceitos, Vos amemos sobre todas as coisas e ajudemos os nossos irmãos em todas as suas necessidades” 22.
(1) Antífona de entrada da Missa do Imaculado Coração de Maria; (2) Lc 2, 19; (3) cfr. Ez 36, 26; (4) Mt 11, 29; (5) cfr. Mt 5, 8; (6) cfr. Lc 2, 35; (7) cfr. Mt 2, 13; (8) cfr. Cant 5, 2; (9) cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 53; (10) cfr. Santo Agostinho, Tratado sobre a virgindade, 3; (11) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 1055; (12) Lc 2, 19; Antífona de comunhão, ib.; (13) Lc 2, 51; (14) Jo 19, 26; (15) Mt 25, 40; (16) cfr. Jo 2, 3; (17) Missal de São Pio V, Oração sobre as oferendas da Missa de Santa Maria, medianeira de todas as graças, cfr. Jer 18, 20; (18) Mt 12, 35; (19) João Paulo II, Homilia, 31-V-1979; (20) cfr. Pio XII, Alocução Benedicite Deum, 31-X-1942; João Paulo II, Homilia em Fátima, 13-V-1982; (21) cfr. Hino Ave Maris Stella; (22) Oração coleta, ib.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Imaculado Coração de Maria
20 de Junho
Imaculado Coração de Maria
Um dia após a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a Igreja celebra a festa do Imaculado Coração de Maria, a fim de mostrar que estes dois corações são inseparáveis e que Maria sempre leva a Jesus.
Esta celebração foi criada pelo Papa Pio XII, em 1944, para que, por intercessão de Maria se obtenha “a paz entre as nações, liberdade para a Igreja, a conversão dos pecadores, amor à pureza e a prática da virtude”.
São João Paulo II declarou que esta festividade em honra à Mãe de Deus é obrigatória e não opcional. Ou seja, deve ser realizada em todo o mundo católico.
Durante as aparições da Virgem de Fátima aos três pastorinhos em 1917, Nossa Senhora disse a Lúcia: “Jesus quer servir-Se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração”.
“A quem a abraçar, prometo a salvação; e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o Seu Trono”.
Em outra ocasião, disse-lhes: “Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: ‘Ó Jesus, é por Vosso amor, pela conversão dos pecadores, e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria’”.
Muitos anos depois, quando Lúcia era uma postulante no Convento de Santa Doroteia, em Pontevedra (Espanha), a Virgem lhe apareceu com o menino Jesus e, mostrando-lhe o seu coração rodeado por espinhos, disse: “Olha, minha filha, o meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos me cravam com blasfêmias e ingratidões”.
“Tu, ao menos, vê de me consolar e diz que, todos aqueles que durante cinco meses no primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um terço e me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do rosário com o fim de me desagravar, eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas’”.
Fonte: https://www.acidigital.com
Sagrado Coração de Jesus
19 de Junho
Sagrado Coração de Jesus
Sagrado Coração de Jesus foi revelado no dia 27 de dezembro de 1673. O próprio Jesus Cristo apareceu a Santa Margarida Maria Alacoque, freira que pertencia a uma Congregação conhecida como Ordem da Visitação. A aparição aconteceu durante uma exposição do Santíssimo Sacramento. Santa Margarida teve a visão de Jesus Cristo mais duas vezes. Nas aparições, o próprio Senhor pediu para que ela divulgasse a devoção a seu Sagrado Coração.
Mostrando o seu Coração transpassado pela espada, Jesus disse a Santa Margarida:
Eis o coração que tanto tem amado os homens e em recompensa não recebe da maior parte deles, senão ingratidões pelas irreverências e sacrilégios, friezas e desprezos que tem por mim nesse sacramento do Amor. E continuou dizendo: Prometo-te pela minha excessiva misericórdia, a todos que comungarem nas primeiras sextas de nove meses consecutivos, a graça da penitência final. Estes não morrerão em minha inimizade, nem sem receberem os sacramentos. O meu Sagrado Coração lhes será refugio seguro nessa última hora.
As primeiras sextas-feiras, devem ser dias de reparação pela frieza, desprezo e sacrilégios, que muitas vezes sofreu na Eucaristia, por parte dos maus cristãos e dos que não acreditam em Jesus Cristo.
Nessas aparições Jesus deixou 12 promessas e pediu para que Santa Margarida difundisse essa devoção para o mundo inteiro. Ela foi responsável pelo início da devoção.
A Beata Maria do Divino Coração pediu ao Papa Leão XIII que consagrasse solenemente esta devoção. Em resposta, no dia 11 de junho de 1889 após a publicação de encíclica Annum Sacrum o Papa disse: A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é uma forma por excelência de religiosidade. Essa devoção que recomendamos a todos, será muito proveitosa. No Sagrado Coração está o símbolo e a imagem expressa do Amor Infinito de Jesus Cristo, que nos leva a retribuir-lhe esse amor. Sua festa é comemorada na primeira sexta-feira após a festa de Corpus Christi, Corpo de Cristo, na oitava da Páscoa e todo o mês de junho, é dedicado ao Sagrado Coração de Jesus.
Em todas as Igrejas nas primeiras sextas-feiras, se fazem atos solenes de reparação, para estimular os cristãos e retribuir com amor tantas e tão grandes provas de amor que Jesus fez e faz por toda a humanidade.
São conhecidos vários milagres no Brasil e no mundo obtidos pela misericórdia do Sagrado Coração de Jesus. Muitos casais passaram a viver em harmonia no lar, filhos foram resgatados de caminhos de perdição, pessoas se converteram, padres e religiosos perseveraram na vocação que Deus lhes deu, doenças foram curadas e infinitas graças foram concedidas. Todos esses milagres do Sagrado Coração de Jesus são obtidos pelas orações fervorosos feitas de acordo com a Vontade de Deus.
Fonte: http://arquisp.org.br
Sagrado Coração de Jesus
SEXTA-FEIRA DA SEGUNDA SEMANA DEPOIS DE PENTECOSTES
– Origem e sentido da festa.
– O amor de Jesus por cada um de nós.
– Amor reparador.
A devoção ao Coração de Jesus já existia na Idade Média. Como festa litúrgica, aparece em 1675, após as aparições do Senhor a Santa Margarida Maria Alacoque. Nestas revelações, a Santa ganhou uma consciência extremamente viva da necessidade de reparar pelos pecados pessoais e de todo o mundo, e de corresponder ao amor de Cristo. A festa celebrou-se pela primeira vez em 21 de junho de 1686. Pio IX estendeu-a a toda a Igreja. Pio XI, em 1928, deu-lhe o esplendor atual.
Sob o símbolo do Coração humano de Jesus, considera-se sobretudo o Amor infinito de Cristo por cada homem; por isso, o culto ao Sagrado Coração “nasce das próprias fontes do dogma católico”, como o Papa João Paulo II expôs na sua abundante catequese sobre este mistério tão consolador.
I. OS PROJETOS DO CORAÇÃO do Senhor permanecem ao longo das gerações, para libertar da morte todos os homens e conservar-lhes a vida em tempo de penúria1, lemos no começo da Missa.
O caráter desta Solenidade que hoje celebramos é duplo: de ação de graças pelas maravilhas do amor de Deus e de reparação, porque freqüentemente este amor é pouco ou mal correspondido 2, mesmo por aqueles que têm tantos motivos para amar e agradecer. A consideração do amor de Jesus por todos os homens sempre foi o fundamento da piedade cristã; por isso, o culto ao Sagrado Coração de Jesus “nasce das próprias fontes do dogma católico” 3. Por outro lado, recebeu um forte impulso da devoção e piedade de numerosos santos a quem o Senhor mostrou os segredos do seu Coração amabilíssimo, movendo-os a difundir esse culto e a fomentar o espírito de reparação.
Numa sexta-feira da oitava da festa do Corpus Christi, o Senhor pediu a Santa Margarida Maria de Alacoque que promovesse o amor à comunhão freqüente, sobretudo nas primeiras sextas-feiras de cada mês. Devia ser uma prática reparadora, e o Senhor prometeu-lhe fazê-la participar – nas noites dessa primeira quinta para sexta-feira de cada mês – do seu sofrimento no Horto das Oliveiras. Tornou a aparecer-lhe um ano mais tarde e, mostrando-lhe o seu Coração Sacratíssimo, dirigiu-lhe estas palavras, que têm alimentado a piedade de tantas almas: Olha este Coração que tanto amou os homens e que a nada se poupou até esgotar-se e consumir-se para lhes manifestar o seu amor; e em reconhecimento, Eu não recebo da maioria dos homens senão ingratidões pelas suas irreverências e sacrilégios e pela frieza e desprezo com que me tratam neste sacramento de amor. Mas o que mais me dói é ver-me tratado assim por almas que me estão consagradas. Por isso te peço que se dedique a primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento a uma festa particular destinada a honrar o meu Coração, comungando nesse dia e desagravando-me com algum ato de reparação...
Em muitos lugares, existe o costume privado de desagravar o Sagrado Coração de Jesus com algum ato eucarístico ou com a recitação das ladainhas do Sagrado Coração, na primeira sexta-feira de cada mês. Além disso, “o mês de junho é especialmente dedicado à veneração do Coração divino.
Não apenas um dia – a festa litúrgica cai normalmente dentro do mês de junho –, mas todos os dias do mês” 4.
O Coração de Jesus é fonte e expressão do seu infinito amor por cada homem, seja qual for a sua situação: Eu mesmo – diz um belíssimo texto do profeta Ezequiel – cuidarei das minhas ovelhas e velarei por elas. Assim como o pastor se preocupa com o seu rebanho, quando vê as ovelhas dispersarem-se, assim eu me preocuparei com o meu; eu o reconduzirei de todos os lugares por onde se tenha dispersado num dia de nuvens e de trevas 5. Cada um de nós é uma criatura que o Pai confiou ao Filho para que não pereça, ainda que tenha ido para longe.
Jesus, Deus e Homem verdadeiro, ama o mundo com “coração de homem” 6, um Coração que serve de vazão ao amor infinito de Deus. Ninguém nos amou mais do que Jesus, ninguém nos amará mais. Ele me amou e se entregou por mim 7, diz São Paulo, e cada um de nós pode repeti-lo. O seu Coração está repleto do amor do Pai: repleto à maneira divina e ao mesmo tempo humana.
II. O CORAÇÃO DE JESUS amou como nenhum outro; experimentou alegria e tristeza, compaixão e pena. Os Evangelistas anotam com muita freqüência: Tinha compaixão da multidão 8, tinha compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor 9. O pequeno êxito dos Apóstolos na sua primeira missão evangelizadora fez com que Jesus se sentisse como nós quando recebemos uma boa notícia: Encheu-se de alegria, diz São Lucas 10; e chora quando a morte lhe arrebata um amigo 11.
Também não ocultou as suas desilusões: Jerusalém, que matas os profetas! [...] Quantas vezes eu quis reunir os teus filhos... 12 Jesus vê a história do Antigo Testamento e de toda a humanidade: uma parte do povo judeu e dos gentios de todos os tempos rejeitará o amor e a misericórdia divina. De alguma maneira podemos dizer que Deus chora com os seus olhos humanos por causa do sofrimento que aflige o seu coração de homem. E este é o significado real da devoção ao Sagrado Coração: traduzir-nos a natureza divina em termos humanos. Não foi indiferente para Jesus – não lhe é agora no nosso trato diário com Ele – ver que uns leprosos não voltavam para agradecer-lhe a cura, ou que um anfitrião omitia as mostras de delicadeza ou hospitalidade que se têm com um convidado, como dirá a Simão o fariseu. Em contrapartida, experimentou em muitas ocasiões a imensa alegria de ver que alguém se arrependia dos seus pecados e o seguia, ou a generosidade dos que deixavam tudo para segui-lo, e contagiou-se com a alegria dos cegos que começavam a enxergar, talvez pela primeira vez.
Antes de celebrar a Última Ceia, ao pensar que ficaria para sempre conosco mediante a instituição da Eucaristia, manifestou aos seus mais íntimos: Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco, antes de padecer 13; emoção que deve ter sido muito mais profunda quando tomou o pão, deu graças, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: Isto é o meu Corpo... 14 E quem poderá explicar os sentimentos do seu Coração amabilíssimo quando nos deu no Calvário a sua Mãe como Mãe nossa?
Mal expirou, um dos soldados atravessou-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água 15. Essa ferida recorda-nos hoje o imenso amor que Jesus tem por nós, pois derramou voluntariamente até a última gota do seu precioso Sangue por cada um de nós, por mim, como se não houvesse mais ninguém no mundo. Como não havemos de aproximar-nos dEle com confiança? Que misérias humildemente reconhecidas podem impedir o nosso amor?
III. DEPOIS DA ASCENSÃO AOS CÉUS com o seu Corpo glorioso, Jesus não cessa de amar-nos, de chamar-nos para que vivamos sempre muito perto do seu Coração amabilíssimo. “Mesmo na glória do Céu, ostenta nas feridas das suas mãos, dos seus pés e do seu lado os resplandecentes troféus da sua tríplice vitória: sobre o demônio, sobre o pecado e sobre a morte; traz, além disso, no seu Coração, como numa arca preciosíssima, os imensos tesouros dos seus méritos, fruto da sua tríplice vitória, que agora distribui generosamente pelo gênero humano já redimido” 16.
Hoje, nesta Solenidade, adoramos o Coração Sacratíssimo de Jesus “como participação e símbolo natural – o mais expressivo – daquele amor inexaurível que o nosso Divino Redentor sente ainda hoje pelo gênero humano. Já não está submetido às perturbações desta vida mortal; no entanto, vive e palpita e está unido de modo indissolúvel à Pessoa do Verbo divino, e nela e por ela, à sua divina vontade. E porque o Coração de Cristo transborda de amor divino e humano, e porque está cheio dos tesouros de todas as graças que o nosso Redentor adquiriu pelos méritos da sua vida, padecimentos e morte, é, sem dúvida, a fonte perene daquele amor que o seu Espírito comunica a todos os membros do seu Corpo Místico” 17.
Ao meditarmos hoje sobre o amor que Cristo tem por nós, sentir-nos-emos movidos a agradecer profundamente tanto dom, tanta misericórdia imerecida. E ao vermos como muitos vivem de costas para Deus, como nós mesmos não somos muitas vezes plenamente fiéis, que são muitas as nossas fraquezas, iremos ao seu Coração amabilíssimo e ali encontraremos a paz. Teremos que recorrer muitas vezes ao seu amor misericordioso em busca dessa paz, que é fruto do Espírito Santo: Cor Iesu sacratissimum et misericors, dona nobis pacem, Coração sacratíssimo e misericordioso de Jesus, dai-nos a paz.
E a certeza de que Jesus está tão perto das nossas preocupações e dos nossos problemas e ideais levar-nos-á a dizer-lhe: “Obrigado, meu Jesus!, porque quiseste fazer-te perfeito Homem, com um Coração amante e amabilíssimo, que ama até à morte e sofre; que se enche de gozo e de dor; que se entusiasma com os caminhos dos homens e nos mostra aquele que conduz ao Céu; que se submete heroicamente ao dever e se guia pela misericórdia; que vela pelos pobres e pelos ricos; que cuida dos pecadores e dos justos... – Obrigado, meu Jesus, e dá-nos um coração à medida do Teu!” 18
Muito perto de Jesus, encontramos sempre a sua Mãe. Recorremos a Ela ao terminarmos a nossa oração e pedimos-lhe que torne firme e seguro o caminho que nos conduz ao seu Filho.
(1) Sl 32, 11.19; Antífona de entrada da Missa da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus; (2) cfr. A. G. Martimort, La Iglesia en oración, pág. 97; (3) Pio XII, Enc. Haurietis aquas, 15-V-1956, 27; (4) João Paulo II,Angelus, 27-VI-1982; (5) Ez 34, 11-16; Primeira leitura, ib., ciclo C; (6) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 22; (7) Gal 2, 20; (8) Mc 8, 2; (9) Mc 6, 34; (10) Lc 10, 21; (11) cfr. Jo 11, 35; (12) Mt 23, 17; (13) Lc 22, 15; (14) cfr. Lc 22, 19-20; (15) Jo 19, 34; (16) Pio XII, op. cit., 22; (17) ib.; (18) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 813.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Gregório João Barbarigo
18 de Junho
São Gregório João Barbarigo
Gregório João Barbarigo nasceu em Veneza, no dia 16 de setembro de 1625, numa família rica da aristocracia italiana. Aos quatro anos de idade ficou órfão de mãe, sendo educado pelo pai, que encaminhou os filhos no seguimento de Cristo. Foi tão bem sucedido que Gregório, aos dezoito anos de idade, era secretário do embaixador de Veneza.
Em 1648, acompanhou o embaixador à Alemanha para as negociações do Tratado de Vestefália, referente à Guerra dos Trinta Anos. Na ocasião, conheceu Fábio Chigi, o núncio apostólico, que o orientou nos estudos e o encaminhou para o sacerdócio.
Quando o núncio foi eleito papa, com o nome de Alexandre VII, nomeou Gregório Barbarigo cônego de Pádua; em 1655, prelado da Casa pontifícia e dois anos mais tarde foi consagrado bispo de Bérgamo. Finalmente, em 1660, tornou-se cardeal.
O papa sabia o que estava fazendo, pois as atividades apostólicas de Gregório Barbarigo marcaram profundamente a sua época. Dotou o seminário de Pádua com professores notáveis, provenientes não só da Itália, mas também de outros países da Europa, aparelhando a instituição para o estudo das línguas orientais. E fundou uma imprensa poliglota, uma das melhores que a Itália já teve.
Pôde desenvolver plenamente seu trabalho pastoral, fundando escolas populares e instituições para o ensino da religião, para orientação de pais e educadores. Num período de peste, fez o máximo na dedicação ao próximo. Cuidou para estender a assistência à saúde para mais de treze mil pessoas.
Gregório Barbarigo fundou, ainda, inúmeros seminários, que colocou sob as regras de são Carlos Borromeu, e constituiu a Congregação dos Oblatos dos Santos Prosdócimo e Antônio. Foi um dos grandes pacificadores do seu tempo, intervindo, pessoalmente, nas graves disputas políticas de modo que permanecessem apenas no campo das idéias.
Depois de executar tão exuberante obra reformista, morreu em Pádua no dia 18 de junho de 1697. Foi canonizado por seu conterrâneo, o papa João XXIII, em 1960, que, como afirmou no seu discurso na solenidade, elevou são Gregório João Barbarigo ao posto que ele merecia ocupar na Igreja.
Fonte: https://franciscanos.org.br
Orações Vocais
TEMPO COMUM. DÉCIMA PRIMEIRA SEMANA. QUINTA-FEIRA
– Necessidade.
– Orações vocais habituais.
– Atenção. Lutar contra a rotina e as distrações.
I. E, AO ORARDES, não empregueis muitas palavras, como os gentios, que pensam que pela sua loquacidade serão escutados, diz-nos o Senhor no Evangelho da Missa 1. Jesus quer afastar os seus discípulos dessa visão errônea de muitos judeus do seu tempo, e ensina-os a tratar a Deus com a simplicidade com que um filho fala com seu pai. A oração vocal é muito agradável a Deus, mas tem que ser verdadeira oração: as palavras devem manifestar o sentir do coração. Não basta recitar fórmulas, pois Deus não quer um culto exclusivamente externo; quer a nossa intimidade 2.
A oração vocal é um meio simples e eficaz, adequado ao nosso modo de ser, de manter o sentido da presença de Deus durante o dia, de manifestar o nosso amor e as nossas necessidades. Como lemos no mesmo trecho do Evangelho da Missa, o Senhor quis deixar-nos a oração vocal por excelência, o Pai Nosso, em que compendia em poucas palavras tudo o que o homem pode pedir a Deus 3. Ao longo dos séculos, esta oração tem subido continuamente a Deus, cumulando de esperança e de consolo inúmeras almas, nas situações e nos momentos mais diversos.
Negligenciar as orações vocais acarretaria um grande empobrecimento da vida espiritual. Pelo contrário, quando as apreciamos, essas orações – às vezes muito curtas, mas cheias de amor – facilitam extraordinariamente o caminho da contemplação de Deus no meio do trabalho ou na rua.
“Começamos com orações vocais, que muitos de nós repetimos quando crianças: são frases ardentes e singelas, dirigidas a Deus e à sua Mãe, que é nossa Mãe. Ainda hoje, de manhã e à tarde, não um dia, mas habitualmente, renovo aquele oferecimento de obras que me ensinaram meus pais: Ó Senhora minha, ó minha Mãe! Eu me ofereço todo a Vós. E, em prova do meu afeto filial, vos consagro neste dia os meus olhos, os meus ouvidos, a minha boca, o meu coração... Não será isto – de certa maneira – um princípio de contemplação, demonstração evidente de confiado abandono? [...].
“Primeiro uma jaculatória, e depois outra, e mais outra..., até que parece insuficiente esse fervor, porque as palavras se tornam pobres..., e se dá passagem à intimidade divina, num olhar para Deus sem descanso e sem cansaço” 4.
E Santa Teresa, como todos os santos, sabia bem deste caminho acessível a todos para chegar até o Senhor: “Sei que muitas pessoas, rezando vocalmente [...], são elevadas por Deus, sem que elas saibam como, a uma alta contemplação” 5.
Pensemos hoje no interesse que pomos nas nossas orações vocais, na freqüência com que as recitamos ao longo do dia, nas pausas que se tornam necessárias para que aquilo que dizemos ao Senhor não sejam “meras palavras enfiadas umas atrás das outras” 6. Meditemos na necessidade do pequeno esforço necessário para afastarmos das nossas orações a rotina, que em breve significaria a morte da verdadeira devoção, do verdadeiro amor. Procuremos que cada uma das nossas jaculatórias, cada uma das nossas orações vocais seja um ato de amor.
II. O SEGREDO DA FECUNDIDADE dos bons cristãos está na sua oração, em que rezem muito e bem. Da oração – tanto da mental como da vocal – tiramos forças para a abnegação e o sacrifício, e para superar e oferecer a Deus o cansaço no trabalho, para sermos fiéis nos pequenos atos heróicos de cada dia... A oração é como o alimento e a respiração da alma, porque nos põe em relação íntima com Deus, fonte de sentido para a vida.
A autêntica piedade é essa atitude estável que permite ao cristão encarar o vaivém e a azáfama diária como um leque imenso de ocasiões para o exercício das virtudes, para o oferecimento das obras bem acabadas, para as pequenas renúncias... Quase sem nos apercebermos disso, estamos então “metidos em Deus”, e passamos a orar também com o exercício do nosso trabalho, ainda que nesses momentos não façamos atos expressos de oração.
Um olhar ao crucifixo ou a uma imagem de Nossa Senhor, uma jaculatória, uma breve oração vocal, ajudam então a manter “esse modo estável de ser da alma”, e assim nos é possível orar sem interrupção 7, orar sempre, como o Senhor nos pede 8. Há muitos momentos em que devemos concentrar-nos no trabalho e em que a cabeça não nos permite pensar ao mesmo tempo em Deus e no que fazemos. No entanto, se preservarmos essa disposição habitual da alma, essa união com Deus, pelo menos o desejo de fazer tudo pelo Senhor, estaremos orando sem interrupção...
Tal como o corpo necessita de alimento e os pulmões de ar puro, assim a alma necessita de se dirigir ao Senhor. “O coração saberá desafogar-se habitualmente, por meio de palavras, nessas orações vocais ensinadas pelo próprio Deus – o Pai Nosso – ou pelos seus anjos – a Ave Maria. Outras vezes, utilizaremos orações acrisoladas pelo tempo, nas quais se verteu a piedade de milhões de irmãos na fé: as da liturgia – lex orandi –, ou as que nasceram do ardor de um coração enamorado, como tantas antífonas marianas: Sub tuum praesidium..., Memorare..., Salve Regina...” 9
Muitas dessas orações vocais (o Bendita a tua pureza, o Adoro te devote, que podemos rezar às quintas-feiras, adorando o Senhor na Eucaristia...) foram compostas por homens e mulheres – conhecidos ou não – cheios de muito amor a Deus, e foram guardadas no seio da Igreja como pedras preciosas para que nós as utilizássemos. Talvez tenham para muitos o candor daquelas lições fundamentais para a vida que aprenderam de suas mães. São uma parte muito importante da bagagem espiritual que possuímos para enfrentar todo o tipo de dificuldades.
A oração vocal é superabundância de amor, e por isso é lógico que seja muito freqüente desde que iniciamos o dia até o nosso último pensamento antes de dormir. E uma ou outra sairá dos nossos lábios – talvez “sem ruído de palavras” – nos momentos mais inesperados. “Habitua-te a rezar orações vocais pela manhã, ao vestir-te, como as crianças. – E terás mais presença de Deus depois, ao longo da jornada” 10.
III. A SAGRADA ESCRITURA diz-nos do Patriarca Enoc que andava sempre na presença de Deus 11, que o tinha presente nas suas alegrias. “Oxalá acontecesse algo parecido conosco! Oxalá pudéssemos andar por esse mundo com Deus ao nosso lado! Tão junto dEle, sentindo a sua presença tão vivamente, que compartilhássemos tudo com Ele. Receberíamos então tudo da sua mão, cada raio de sol, cada sombra de incerteza que passasse pela nossa vida; aceitaríamos com gratidão consciente tudo o que Ele nos mandasse, obedecendo ao mais leve sopro da sua chamada” 12.
Muitas vezes, porém, o nosso centro de referência infelizmente não é o Senhor, mas nós mesmos. Daí a necessidade desse empenho contínuo por estarmos metidos em Deus, “atentos” às suas mais leves insinuações, evitando enclausurar-nos nas nossas coisas; ou pelo menos tendo-as presentes na medida em que fazem referência a Deus: porque nos permitem praticar o bem, porque as oferecemos a Deus...
É necessário pôr atenção no que dizemos ao Senhor. E para isso temos que lutar às vezes em detalhes muito pequenos, mas necessários; pronunciando claramente as palavras, com pausa, fugindo da rotina. Tem que haver tempo também para a reflexão, de modo que cada uma das nossas orações vocais chegue a ser, de certa forma, uma verdadeira oração mental, ainda que não possamos evitar totalmente as distrações.
Sem uma graça especial de Deus, não é possível manter uma atenção contínua e perfeita ao significado das palavras. Por isso, haverá ocasiões em que a atenção se concentrará particularmente no modo como essas palavras se pronunciam; noutras, teremos presente a pessoa a quem nos dirigimos. Mas haverá momentos em que, por circunstâncias pessoais ou do ambiente, não conseguiremos de modo conveniente nenhuma dessas três formas de atenção. Então será necessário pormos ao menos nas nossas orações um cuidado externo, que consiste em afastar qualquer atividade exterior que pela sua própria natureza impeça a atenção interior.
Alguns trabalhos manuais, por exemplo, não impedem de ter a cabeça em outra coisa; como a mãe de família, que reza o terço em casa enquanto cuida da limpeza do lar ou olha pelos filhos pequenos; ainda que se distraia em algum momento, mantém ao menos essa atenção interior, coisa que não aconteceria se quisesse ao mesmo tempo ver televisão. De qualquer forma, devemos organizar o nosso plano de vida de tal forma que, sempre que seja possível, o tempo que dedicamos a algumas orações vocais, como o Angelus ou o terço, seja uma ocasião em que possamos concentrar-nos bem.
Juntamente com as orações vocais, a alma necessita do alimento diário da oração mental. E, desse modo, “graças a esses momentos de meditação, às orações vocais, às jaculatórias, saberemos converter o nosso dia num contínuo louvor a Deus, sempre com naturalidade e sem espetáculo. Assim, à semelhança dos enamorados, que não tiram nunca os sentidos da pessoa que amam, manter-nos-emos sempre na sua presença; e todas as nossas ações – mesmo as mais pequenas e insignificantes – transbordarão de eficácia espiritual”13. O Senhor as olhará com agrado e as abençoará.
(1) Mt 6, 7-15; (2) São Cipriano, Tratado sobre o Pai-nosso; in Liturgia das horas, Segunda leitura do décimo primeiro domingo do Tempo Comum; (3) cfr. Santo Agostinho, Sermão 56; (4) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 296; (5) Santa Teresa, Caminho de perfeição, 30, 7; (6) R. Garrigou-Lagrange, As três idades da vida interior, vol. I, pág. 506; (7) 1 Tess 5, 17; (8) Lc 18, 1; (9) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 119; (10) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 473; (11) cfr. Gên 5, 21; (12) R. Knox, Deus e eu, pág. 41; (13) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 119.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
A Oração Mental
TEMPO COMUM. DÉCIMA PRIMEIRA SEMANA. QUARTA-FEIRA
– Necessidade e frutos.
– A oração preparatória. Pôr-se na presença de Deus.
– A ajuda da Comunhão dos Santos.
I. O EVANGELHO DA MISSA de hoje 1 é uma chamada à oração mental. E quando orardes – diz-nos Jesus –, não sejais como os hipócritas, que gostam de orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens... Tu, pelo contrário, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, ora a teu Pai, que está no oculto...
O Senhor dá-nos um ensinamento que praticou durante a sua vida na terra; o Evangelho afirma muitas vezes que Ele se retirava a sós para orar 2. E os Apóstolos seguiram esse mesmo exemplo, assim como os primeiros cristãos e, depois, todos aqueles que quiseram seguir o Mestre de perto. “A senda que conduz à santidade é senda de oração; e a oração deve vingar pouco a pouco na alma, como a pequena semente que se converterá mais tarde em árvore frondosa” 3.
A oração mental ensina-nos sobretudo a relacionar-nos com o Mestre e a crescer no amor.
“Não deixeis de orar! – aconselha-nos João Paulo II –. A oração é um dever, mas também uma alegria, porque é um diálogo com Deus por intermédio de Jesus Cristo!” 4 Na oração estamos com Jesus; isso nos deve bastar. Entregamo-nos a Ele para conhecê-lo, para aprender a amá-lo.
O modo de fazê-la depende de muitas circunstâncias: do momento pelo qual passamos, das alegrias que tivemos, das dores... que se convertem em felicidade perto de Cristo. Muitas vezes, consideraremos alguma passagem do Evangelho e contemplaremos a Santíssima Humanidade de Jesus, aprendendo assim a amá-lo, pois não se ama a quem não se conhece bem. Em outras ocasiões, veremos se estamos santificando o trabalho, se ele nos aproxima de Deus; ou como é o nosso trato com as pessoas com quem convivemos: a família, os amigos... Talvez sigamos algum livro – como este –, convertendo em tema pessoal o que lemos, dizendo ao Senhor com o coração uma jaculatória que essa leitura nos sugere, continuando com um afeto que o Espírito Santo suscitou no fundo da alma, fazendo um pequeno propósito para esse dia ou reavivando outro que já havíamos formulado.
A oração mental é uma tarefa que mobiliza a inteligência e a vontade, com a ajuda da graça, e exige que estejamos dispostos a lutar decididamente contra as distrações, não as aceitando nunca de maneira voluntária, e que nos esforcemos por dialogar com o Senhor, coisa que é a essência de toda a oração: falar-lhe com o coração, olhá-lo, escutar a sua voz no íntimo da alma. E sempre devemos ter a firme determinação de dedicar a Deus, estando a sós com Ele, o tempo que tenhamos previsto, ainda que sintamos uma grande aridez e nos pareça que não tiramos nenhum fruto desses momentos. “Não importa se não se pode fazer mais do que permanecer de joelhos durante esse tempo e combater as distrações com absoluta falta de êxito: não se está perdendo o tempo” 5. A oração é sempre frutuosa, se há empenho em levá-la adiante apesar das distrações e dos momentos de aridez. Jesus nunca nos deixa sem graças abundantes para todo o dia. Ele “agradece” sempre com muita generosidade os momentos em que o acompanhamos.
II. É PARTICULARMENTE IMPORTANTE colocar-nos na presença dAquele com quem desejamos falar. Muitas vezes, o resto da oração depende desses primeiros minutos em que nos esforçamos por estar junto dAquele que sabemos que nos ama. Se cuidarmos com esmero, com amor, desses primeiros momentos, se nos situarmos verdadeiramente diante de Cristo, uma boa parte da aridez e das dificuldades para falar com Ele desaparecem..., porque eram simplesmente dissipação, falta de recolhimento interior.
Para nos pormos na presença de Deus no começo da oração mental, devemos fazer algumas breves considerações que nos ajudem a afastar outras preocupações da nossa mente. Podemos dizer a Jesus: “Meu Senhor e meu Deus, creio firmemente que estás aqui, que me vês, que me ouves. Adoro-te com profunda reverência. Peço-te perdão dos meus pecados e graça para fazer com fruto este tempo de oração. Minha Mãe Imaculada, São José, meu Pai e Senhor, meu Anjo da Guarda, intercedei por mim”. Vejamos como Mons. Josemaría Escrivá comenta esta oração preparatória que muitos recitam ao iniciarem os seus minutos de meditação diária, depois de se persignarem.
“Meu Senhor e meu Deus, creio firmemente que estás aqui, para escutar-me. Está no Tabernáculo, realmente presente sob as espécies sacramentais, com o seu Corpo, o seu Sangue, a sua Alma e a sua Divindade; e está presente em nossa alma pela graça, sendo o motor dos nossos pensamentos, afetos, desejos e obras sobrenaturais [...]: que me vês, que me ouves!
“A seguir, o cumprimento, tal como se costuma fazer quando conversamos com uma pessoa da terra. Cumprimentamos a Deus adorando-o: Adoro-te com profunda reverência! E se alguma vez ofendemos essa pessoa, se a tratamos mal, pedimos-lhe perdão. Com Deus Nosso Senhor, a mesma coisa: Peço-te perdão dos meus pecados e graça para fazer bem, com fruto, este tempo de oração, de conversa contigo. E já estamos fazendo oração, já nos encontramos na intimidade de Deus.
“Mas, além disso, que faríamos se essa pessoa principal, com quem queremos conversar, tivesse mãe, e uma mãe que nos ama? Iríamos buscar a sua recomendação, uma palavra sua a nosso favor! Temos, pois, que invocar a Mãe de Deus, que é também nossa Mãe e nos quer tanto: Minha Mãe Imaculada! E recorrer a São José, o pai nutrício de Jesus, que também pode muito na presença de Deus: São José, meu Pai e Senhor! E ao Anjo da Guarda, esse príncipe do Céu que nos ajuda e nos protege... Intercedei por mim!
“Uma vez feita a oração preparatória, com essas apresentações que são de praxe entre pessoas bem educadas na terra, já podemos falar com Deus. De quê? Das nossas alegrias e das nossas penas, dos nossos trabalhos, dos nossos desejos e dos nossos entusiasmos... De tudo!
“Também podemos dizer-lhe com toda a simplicidade: Senhor, aqui estou feito um bobo, sem saber o que contar-te... Quereria falar contigo, fazer oração, meter-me na intimidade do teu Filho Jesus. Sei que estou junto de Ti, e não sei dizer-te duas palavras. Se estivesse com a minha mãe, com aquela pessoa querida, falar-lhes-ia disto e daquilo; contigo, não me ocorre nada.
“Isto é oração [...]! Permanecei diante do Sacrário, como um cachorrinho aos pés do seu amo, durante todo o tempo fixado de antemão. Senhor, aqui estou! E custa-me. Ir-me-ia embora por aí, mas continuo aqui, por amor, porque sei que me estás vendo, que me estás escutando, que me estás sorrindo” 6.
E junto dEle, mesmo quando não sabemos muito bem o que dizer, enchemo-nos de paz, recuperamos as forças para enfrentar os nossos deveres, e a cruz se torna leve porque já não é só nossa: Cristo nos ajuda a carregá-la.
III. JUNTO DE CRISTO no Sacrário, ou onde quer que nos encontremos fazendo a nossa oração mental, perseveraremos por amor, quando sentirmos gosto e quando nos for difícil e nos parecer que aproveitamos pouco. Ser-nos-á de muita ajuda, de vez em quando, sabermo-nos unidos à Igreja orante em todas as partes do mundo. A nossa voz une-se ao clamor que em cada instante se eleva a Deus Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. “À hora da oração mental, e também durante o dia – continua a dizer-nos Mons. Escrivá –, lembrai-vos de que nunca estamos sós, ainda que talvez nos encontremos materialmente isolados. Na nossa vida [...], permanecemos sempre unidos aos Santos do Paraíso, às almas que se purificam no Purgatório e a todos os nossos irmãos que ainda pelejam na terra. Além disso – e isto é um grande consolo para mim, porque é uma demonstração admirável da continuidade da Igreja Santa –, podeis unir-vos à oração de todos os cristãos de qualquer época: dos que nos precederam, dos que vivem agora, dos que virão nos séculos futuros. Assim, sentindo esta maravilha da Comunhão dos Santos, que é um canto infindável de louvor a Deus, ainda que não vos apeteça ou ainda que vos sintais com dificuldades – secos! –, rezareis com esforço, mas com mais confiança.
“Enchei-vos de alegria, pensando que a nossa oração se une à daqueles que conviveram com Jesus Cristo, à súplica incessante da Igreja triunfante, padecente e militante, e à de tantos cristãos que virão. Portanto [...], quando te sentires árido na oração, esforça-te e diz ao Senhor: meu Deus, eu não quero que falte a minha voz neste coro de louvor permanente dirigido a Ti e que não cessará nunca” 7.
Na oração diária encontramos a origem de todo o nosso progresso espiritual e uma fonte contínua de alegria, se estivermos decididos a estar “a sós com quem sabemos que nos ama” 8. A vida interior progride ao compasso da oração e repercute nas ações da pessoa, no seu trabalho, na sua atividade apostólica, no espírito de sacrifício...
Recorramos com freqüência a Santa Maria para que nos ensine como tratar o seu Filho, pois nenhuma pessoa no mundo soube dirigir-se a Ele com o carinho e a intimidade com que a sua Mãe o fez. E junto dEla, São José, que tantas vezes falou com Jesus, enquanto o Menino crescia, enquanto trabalhavam, enquanto descansavam, enquanto passeavam pelos arredores de Nazaré... Depois de Maria, José foi quem passou mais horas junto do Filho de Deus. Ele nos dirá como manter um trato íntimo com o Mestre, e, se lho pedirmos, ajudar-nos-á cada dia a tirar propósitos firmes, concretos e claros, que nos ajudarão a limar as asperezas do caráter, a ser mais serviçais, a estar alegres apesar de todas as contrariedades.
(1) Mt 6, 1-6; 16-18; (2) cfr. Mt 14, 23; Mc 1, 35; Lc 5, 6; etc.; (3) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 295; (4) João Paulo II, Alocução, 14-III-1979; (5) E. Boylan, Amor supremo, pág. 141; (6) São Josemaría Escrivá, Registro Histórico do Fundador do Opus Dei, 20165, pág. 1410; (7) ib., 20165, pág. 1411; (8) Santa Teresa, Vida, 8, 2.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal