Maria, Corredentora com Cristo

TEMPO COMUM. DÉCIMA SEGUNDA SEMANA. SÁBADO

– Maria presente no sacrifício da Cruz.
– Corredentora com Cristo.
– Maria e a Santa Missa.

I. AO LONGO DA VIDA terrena de Jesus, sua Mãe Santa Maria cumpriu a vontade divina e atendeu-o com solicitude amorosa, em Belém, no Egito, em Nazaré. Teve para com Ele todos os cuidados normais de que precisou, iguais aos de qualquer outra criança, e também as atenções extraordinárias que foram necessárias para proteger a sua vida. O Menino cresceu, entre Maria e José, num ambiente cheio de amor sacrificado e alegre, de proteção firme e de trabalho.

Mais tarde, durante a sua vida pública, Maria poucas vezes seguiu o Senhor de perto, mas Ela sabia a cada momento onde o seu Filho se encontrava, e chegava-lhe o eco dos seus milagres e da sua pregação. Jesus foi algumas vezes a Nazaré, e então demorava-se um pouco mais com a sua Mãe; a maioria dos seus discípulos já a conhecia desde as bodas de Caná da Galiléia1. Salvo o milagre da conversão da água em vinho, em que teve uma participação tão importante, os Evangelistas não nos falam de que tivesse presenciado nenhum outro milagre. Como não esteve presente nos momentos em que as multidões vibravam de entusiasmo pelo seu Filho. “Não a vereis entre as palmas de Jerusalém, nem – afora as primícias de Caná – à hora dos grandes milagres. – Mas não foge ao desprezo do Gólgota; ali está, «iuxta crucem Iesu», junto à cruz de Jesus, sua Mãe” 2.

Deus amou a Virgem de um modo singular. Não a dispensou, no entanto, do transe do Calvário, permitindo-lhe que sofresse como ninguém jamais sofreu, exceto o seu Filho. Nesses momentos angustiantes, poderia ter-se retirado talvez para a intimidade da sua casa, longe do Calvário, na companhia amável das mulheres da aldeia; “ao fim e ao cabo, nada podia fazer, e a sua presença não evitava nem aliviava as dores nem a humilhação do seu Filho. Mas não o fez. E não o fez pela mesma razão pela qual uma mãe permanece junto do leito do filho agonizante, apesar de nada poder fazer pela sua sobrevivência”3. Enquanto o drama caminhava para o seu desfecho, foi-se aproximando pouco a pouco da Cruz; os soldados permitiram-lhe que se aproximasse.

Jesus olha para Maria e Maria olha para Jesus. Numa estreitíssima união, Maria oferece o seu Filho a Deus Pai, corredimindo com Ele. Em comunhão com o Filho dolente e agonizante, suportou a dor e quase a morte; “abdicou dos direitos de mãe sobre o seu Filho, para conseguir a salvação dos homens; e para apaziguar a justiça divina, naquilo que dela dependia, imolou o seu Filho, de modo que se pode afirmar com razão que redimiu com Cristo a linhagem humana” 4.

A Virgem não só “acompanhou” Jesus, mas esteve unida ativa e intimamente ao sacrifício que se oferecia naquele primeiro altar. Participou de modo voluntário na redenção da humanidade, consumando o fiat – faça-se – que havia pronunciado anos antes em Nazaré. Por isso podemos pensar que Maria está presente em cada Missa, nesse ato que é o centro e o coração da Igreja. Esta realidade ajudar-nos-á a viver melhor o sacrifício eucarístico – unindo à entrega de Cristo a nossa, que também deve ser holocausto –, e a sentir-nos muito perto de Nossa Senhora.

II. DO ALTO DA CRUZ, Jesus confia a Santa Maria o seu Corpo Místico, a Igreja, na pessoa de São João. Sabia que necessitaríamos constantemente de uma Mãe que nos protegesse, que nos levantasse e intercedesse por nós. A partir desse momento, “Ela cuida e cuidará da Igreja com a mesma fidelidade e a mesma força com que cuidou do seu Primogênito desde a gruta de Belém, passando pelo Calvário, até o Cenáculo de Pentecostes, onde teve lugar o nascimento da Igreja. Maria está presente em todas as vicissitudes da Igreja [...]. Está unida à Igreja de modo muito particular nos momentos mais difíceis da sua história [...]. Maria aparece-nos particularmente próxima da Igreja, porque a Igreja é sempre como o seu Cristo, primeiro ainda Menino e depois Crucificado e Ressuscitado” 5.

A Virgem Santa Maria intercede para que Deus imprima na alma dos cristãos os mesmos anseios que pôs na dela, o desejo corredentor de que todos os homens voltem a ser amigos de Deus. “A fé, a esperança e a ardente caridade da Virgem no cume do Gólgota, que a tornam Corredentora com Cristo de modo eminente, são também um convite para que cresçamos, para que sejamos humana e sobrenaturalmente fortes diante das dificuldades externas; um convite para que perseveremos sem desanimar na ação apostólica, ainda que por vezes pareça não haver frutos ou o horizonte se apresente obscurecido pela potência do mal.

“Lutemos – lute cada um de nós! – contra esse acostumar-se, contra esse ir tocandomonotonamente, contra esse conformismo que equivale à inação. Olhemos para Cristo na Cruz, olhemos para Santa Maria junto à Cruz: sob os seus olhos abrem caminho, com espantosa arrogância, a traição, a mofa, os insultos...; mas Cristo, e, secundando a sua ação redentora, Maria, continuam fortes, perseverantes, cheios de paz, com otimismo na dor, cumprindo a missão que a Trindade lhes confiou. É uma batida à porta de cada um de nós, a recordar-nos que à hora da dor, da fadiga e da contradição mais horrenda, Cristo – e tu e eu temos que ser outros Cristos – dá cumprimento à sua missão [...]. Decido-me a aconselhar-te que voltes os teus olhos para a Virgem e lhe peças para ti e para todos: Mãe, que tenhamos confiança absoluta na ação redentora de Jesus, e que – como tu, Mãe – queiramos ser corredentores...” 6

Participar na Redenção, cooperar na santificação do mundo, salvar almas para a eternidade: existe ideal maior para preencher toda uma vida? A Virgem corredime junto do seu Filho no Calvário, mas também o fez quando pronunciou o seu fiat – faça-se – ao receber a embaixada do Anjo, e em Belém, e no tempo em que permaneceu no Egito, e na sua vida normal de Nazaré... Podemos ser corredentores, tal como Ela, durante todas as horas do dia, se as cumularmos de oração, se trabalharmos conscienciosamente, se vivermos uma caridade amável com aqueles que encontramos nas nossas tarefas, na família, se oferecermos com serenidade as contrariedades de cada dia.

III. VENDO JESUS A SUA MÃE e o discípulo a quem amava, o qual estava ali, disse à sua Mãe: Mulher, eis aí o teu filho7. Era o último ato de entrega de Jesus antes de expirar; deu-nos a sua Mãe por Mãe nossa.

Desde então, o discípulo de Cristo tem algo que lhe é próprio: tem Maria como sua Mãe. O posto de Mãe na Igreja será de Maria para sempre: E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa8. Aquela foi a hora de Jesus, que inaugurava com a sua morte redentora uma nova era até o fim dos tempos. Desde então, diz Paulo VI, “se queremos ser cristãos, devemos ser marianos” 9. A obra de Jesus pode resumir-se em duas maravilhosas realidades: deu-nos a filiação divina, tornando-nos filhos de Deus, e fez-nos filhos de Santa Maria.

Um autor do século III, Orígenes, faz notar que Jesus não disse a Maria: “Esse também é teu filho”, mas: “Eis aí o teu filho”; e como Maria só teve Jesus por filho, as suas palavras equivaliam a dizer-lhe: “Esse, daqui por diante, será para ti Jesus”10. A Virgem vê em cada cristão o seu filho Jesus. Trata-nos como se em nosso lugar estivesse o próprio Cristo. Como se esquecerá de nós quando nos vir necessitados? Que deixará de conseguir do seu Filho em nosso favor? Jamais poderemos fazer uma pálida idéia do amor de Maria por cada um de nós.

Acostumemo-nos a encontrar Santa Maria enquanto celebramos ou participamos da Santa Missa. “No Sacrifício do altar, a participação de Nossa Senhora evoca-nos o silencioso recato com que acompanhou a vida de seu Filho, quando andava pelas terras da Palestina. A Santa Missa é uma ação da Trindade; por vontade do Pai, cooperando com o Espírito Santo, o Filho oferece-se em oblação redentora. Nesse insondável mistério, percebe-se, como por entre véus, o rosto puríssimo de Maria: Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho, Esposa de Deus Espírito Santo.

“O relacionamento com Jesus, no Sacrifício do altar, traz consigo necessariamente o relacionamento com Maria, sua Mãe. Quem encontra Jesus, encontra também a Virgem sem mancha, como aconteceu com aqueles santos personagens – os Reis Magos – que foram adorar Cristo: Entrando na casa, encontraram o Menino com Maria, sua Mãe (Mt 2, 11)”11.

Com Ela, podemos oferecer a Deus toda a nossa vida – todos os nossos pensamentos, anseios, trabalhos, afetos, ações, amores –, identificando-nos com os mesmos sentimentos que teve Cristo Jesus12: “Pai Santo!”, dizemos-lhe na intimidade do nosso coração, e podemos repeti-lo interiormente durante a Santa Missa, “pelo Coração Imaculado de Maria, eu Vos ofereço Jesus, vosso Filho muito amado, e me ofereço a mim mesmo nEle, com Ele e por Ele, por todas as suas intenções e em nome de todas as criaturas”13.

Celebrar ou assistir ao santo Sacrifício do altar tal como convém é o melhor serviço que podemos prestar a Jesus, ao seu Corpo Místico e a toda a humanidade. Junto de Maria, na Santa Missa, estamos particularmente unidos a toda a Igreja.

(1) Cfr. Jo 2, 1-10; (2) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 507; (3) F. Suárez, A Virgem Nossa Senhora, pág. 256; (4) Bento XV, Epist. Inter sodalicia, 22-V-1918; (5) K. Wojtyla, Sinal de contradição, pág. 261; (6) A. del Portillo, Carta pastoral, 31-V-1987, n. 19; (7) Jo 19, 26; (8) Jo 19, 27; (9) Paulo VI, Homilia, 24-VI-1970; (10) Orígenes, Comentário sobre o Evangelho de São João, I, 4, 23; (11) São Josemaría Escrivá, La Virgen, em Libro de Aragón, Caja de Ahorros, Saragoça, 1976; (12) cfr. Fil 2, 5; (13) P. M. Sulamitis, Oración de la ofrenda al Amor Misericordioso, Madrid, 1931.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal


A Virtude da fidelidade

TEMPO COMUM. DÉCIMA SEGUNDA SEMANA. SEXTA-FEIRA

– É uma virtude exigida pelo amor, pela fé e pela vocação.
– O fundamento da fidelidade.
– Amor e fidelidade no pormenor.

I. A SAGRADA ESCRITURA fala-nos da virtude da fidelidade, da necessidade de mantermos a promessa, o compromisso livremente aceito, o empenho em acabar uma missão a que nos tenhamos comprometido. O Senhor disse a Abraão: Anda na minha presença e sê fiel. Guarda o pacto que faço contigo e com os teus descendentes por todas as gerações 1. A firmeza da aliança com o Patriarca e com os seus descendentes será contínua fonte de bênçãos e de felicidade; e, pelo contrário, a transgressão desse pacto por parte de Israel será a causa dos seus males.

Deus pede fidelidade aos homens porque Ele próprio nos é sempre fiel, apesar das nossas fraquezas e debilidades. Javé é o Deus da lealdade 2rico em amor e fidelidade 3fiel em todas as suas palavras4, e a sua fidelidade permanece para sempre 5. Os que são fiéis são-lhe muito gratos6, e Ele lhes promete um dom definitivo: quem for fiel até à morte receberá a coroa da vida 7.

Jesus fala muitas vezes desta virtude ao longo do Evangelho: põe-nos diante dos olhos o exemplo do servo fiel e prudente, do criado bom e leal, do administrador honesto. A idéia da fidelidade penetrou tão fundo na vida dos primeiros cristãos que o título de fiéis bastou para designar os discípulos de Cristo8. São Paulo, que havia dirigido inúmeras exortações àquela primeira geração para que vivesse esta virtude, quando sente próxima a sua morte entoa um canto à fidelidade. Escreve a Timóteo: Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Já me está preparada a coroa da justiça, que naquele dia o Senhor, justo Juiz, me concederá, e não só a mim, mas a todos os que amam a sua vinda 9.

A fidelidade consiste em cumprir o que se prometeu, conformando assim as palavras com os atos10. Somos fiéis se guardamos a palavra dada, se mantemos firmemente os compromissos adquiridos, apesar dos obstáculos e dificuldades. A perseverança está intimamente ligada a esta virtude e muitas vezes identifica-se com ela.

O âmbito da fidelidade é muito vasto: com Deus, entre marido e mulher, entre os amigos... É uma virtude essencial: sem ela, é impossível a convivência. Referida à vida espiritual, relaciona-se estreitamente com o amor, com a fé e com a vocação. “Faz-me tremer aquela passagem da segunda epístola a Timóteo, quando o Apóstolo se dói de que Demas tenha fugido para Tessalônica, atrás dos encantos deste mundo... Por uma bagatela, e por medo das perseguições, atraiçoa a tarefa divina um homem que São Paulo cita, em outras epístolas, entre os santos.

“Faz-me tremer, conhecendo a minha pequenez; e leva-me a exigir de mim fidelidade ao Senhor até nos fatos que podem parecer indiferentes, porque, se não me servem para unir-me mais a Ele, não os quero!”11 Para que nos servem, se não nos levam a Cristo?

Anda na minha presença e sê fiel. Guarda o pacto que faço contigo, diz-nos Deus continuamente no íntimo do nosso coração.

II. A NOSSA ÉPOCA não se caracteriza pelo florescimento da virtude da fidelidade. Talvez por isso o Senhor nos peça que saibamos apreciá-la mais, tanto nos nossos compromissos de entrega livremente adquiridos com Deus, como na vida humana, no relacionamento com os outros.

Muitos se perguntam: como pode o homem, que é mutável, fraco e instável, comprometer-se por toda a vida? Pode!, porque a sua fidelidade é sustentada por Aquele que não é mutável, nem fraco, nem instável; por Deus. Fiel é Javé em todas as suas palavras12. É Ele quem sustenta essa disposição do homem que quer ser leal aos seus compromissos, sobretudo ao mais importante de todos: àquele que diz respeito a Deus – e aos homens por Deus –, como é o da vocação para uma entrega plena, para a santidade. Toda a dádiva boa, todo o dom perfeito vem do alto, desce do Pai das luzes, no qual não há mudança13. “Cristo – diz João Paulo II – necessita de vós e vos chama para ajudardes milhões de irmãos vossos a serem plenamente homens e a salvar-se. Vivei com esses nobres ideais nas vossas almas [...]. Abri os vossos corações a Cristo, à sua lei de amor, sem condicionar a disponibilidade, sem medo das respostas definitivas, porque o amor e a amizade não têm fim”14, porque o amor não envelhece.

São Tomás ensina que amamos alguém quando queremos o bem para ele; se, no entanto, o procuramos para tirar algum proveito pessoal, porque nos agrada ou nos é útil para alguma coisa, então não o amamos propriamente: desejamo-lo15. Quando amamos, toda a nossa pessoa se entrega a esse amor, para além dos gostos e dos estados de ânimo: “O pagamento, a diária do amor, é receber mais amor”16.

Temos que pedir a Deus a firme persuasão de que o principal no amor não é o sentimento, mas a vontade e as obras; e de que o amor exige esforço, sacrifício e entrega. O sentimento não oferece base segura para construir algo tão fundamental como a fidelidade. Esta virtude bebe a sua firmeza no amor verdadeiro. Por isso, quando o amor – humano ou divino – já passou pelo período de maior sentimento, o que resta não é o menos importante, mas o essencial, o que dá sentido a tudo.

O Senhor tem para cada homem, para cada um em concreto, uma chamada, um desígnio, uma vocação. Ele prometeu que sustentará essa chamada no meio das variadas tentações e dificuldades pelas quais uma vida pode passar. E para demonstrar-nos essa permanência da sua solicitude, emprega uma comparação que todos entendemos bem: a do amor e dos cuidados que uma mãe tem para com os seus filhos. Imaginem, diz-nos, uma mãe profundamente mãe, não a mãe egoísta – se é que pode haver –, que anda metida nas suas coisas. Como pode uma mãe assim esquecer-se do seu filho?17 Parece-nos impossível, mas imaginemos contudo que se esquecesse do filho, que não se importasse com ele. Mesmo nesse caso, Eu, diz-nos o Senhor, jamais me esqueceria de ti, da tua tarefa na vida, do meu desígnio amoroso sobre ti, da tua vocação. A fidelidade é a correspondência amorosa a esse amor de Deus. Sem amor, não demoram a aparecer as gretas, as fissuras e, por fim, a deserção.

III. O QUE PODEREI DAR ao Senhor por todos os benefícios que me fez?18 Todos podemos fazer o que está ao nosso alcance para assegurar a fidelidade. A perseverança até o final da vida torna-se possível com a fidelidade nas pequenas situações de cada dia e com o recomeçar sempre que tenha havido algum passo em falso por fraqueza. Em muitos momentos da vida, a fidelidade a Deus concretiza-se na fidelidade à vida de oração, a essas devoções e costumes que nos mantêm bem junto do Senhor. Um homem ou mulher de oração sabe sempre sair das ciladas que lhe armam as suas tendências desordenadas, os seus desânimos ou as misérias próprias ou alheias. Porque no colóquio silencioso com Deus, em que a alma se desnuda, esse homem ou mulher fortalece ou recupera o critério claro e as energias para resistir. Sabe que é uma loucura trocar uma prova de predileção do Senhor – como é a chamada para um compromisso por toda a vida – por um prato de lentilhas19, isto é, pela miragem de um amorico que não tardará a desvanecer-se, por uma mal-entendida liberdade que parece um libertar-se de vínculos e, a curto prazo, se revela corrente que escraviza.

O amor “é o peso que me arrasta”20, o centro de gravidade, o norte da nossa alma na tarefa da fidelidade. Por isso, o amor a Deus, que não permite muros nem divisões entre o homem e o seu Deus, leva à sinceridade, suporte seguro da fidelidade. Sinceridade, em primeiro lugar, na intimidade da consciência: reconhecer e chamar pelo seu nome os desejos, pensamentos, aspirações e sonhos, mesmo quando ainda nem sequer tomaram corpo, mas já se percebe que rumam para fora do próprio caminho. E, imediatamente, sinceridade com Deus, uma sinceridade humilde que pede ajuda de verdade, não para justificar a infidelidade com argumentos falazes, mas para perseverar até à morte; e sinceridade com quem nos orienta espiritualmente a alma, manifestando-lhe esses sintomas do egoísmo que tentam instalar-se no coração de qualquer maneira. Assim sairemos sempre vencedores e mais fortes que nunca.

As virtudes da fidelidade e da lealdade devem informar todas as manifestações da vida do cristão: relacionamento com Deus, com a Igreja, com o próximo, no trabalho, nos deveres de estado... E vive-se a fidelidade em todas as suas formas quando se é fiel à vocação recebida de Deus, porque nela estão integrados todos os demais valores a que devemos lealdade e fidelidade. Se faltasse a fidelidade a Deus, tudo se quebraria em mil pedaços e a vida se transformaria em cascalho.

“O Coração de Jesus, o Coração humano de Deus-Homem, está abrasado pela chama vivado Amor trinitário, que jamais se extingue”21 e é fiel no seu amor pelos homens. Nós devemos aprender desse amor fiel. E também dirigir-nos a Maria: Virgo fidelis, ora pro nobis, ora pro me – Virgem fiel, rogai por nós, rogai por mim.

(1) Gên 17, 1-9; Primeira leitura da Missa da sexta-feira da décima segunda semana do TC, ano ímpar; (2) Deut 3, 4; (3) Êx 34, 6-7; (4) Sl 144, 13; (5) Sl 116, 1-2; (6) cfr. Prov 12, 22; (7) cfr. Apoc 2, 20; (8) At 10, 45; (9) 2 Tim 4, 7; (10) cfr. São Tomás, Suma Teológica, II-II, q. 110, a. 3; (11) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 343; (12) Sl 144, 3; (13) Ti 1, 17; (14) João Paulo II, Discurso, Xavier, Espanha, 6-XI-1982; (15) São Tomás, op. cit., I-II, q. 26, a. 4; (16) São João da Cruz, Cântico espiritual, 9, 7; (17) cfr. Is 49, 15; (18) Sl 115, 21; (19) cfr. Gên 25, 29-34; (20) Santo Agostinho, op. cit., 13, 9; (21) João Paulo II, Meditação dominical, 23-VI-1986.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal.


São Josemaria Escrivá

26 de junho

São Josemaria Escrivá

“Deus não te arranca do teu ambiente, não te retira do mundo, nem do teu estado de vida, nem das tuas ambições humanas nobres, nem do teu trabalho profissional... mas, aí, te quer santo!”, dizia São Josemaría Escrivá , fundador do Opus Dei e conhecido como “o santo do ordinário”.

São Josemaría Escrivá de Balaguer nasceu em Barbastro (Espanha – 1902) em uma família profundamente cristã. Quando criança, teve uma infância muito difícil. Três irmãs mais novas que ele morreram ainda meninas, o negócio de seu pai faliu e a família teve que se mudar para Logroño.

Certo dia, viu pegadas na neve dos pés descalços de um religioso e sentiu que Deus desejava algo dele. Pouco a pouco, foi aumentando sua inquietude vocacional e ingressou no seminário. Mais tarde, estudou Direito na Universidade de Saragoça.

Caracterizava-se por um caráter generoso e alegre, enquanto sua simplicidade e serenidade o fizessem muito querido entre seus companheiros. Tinha muito esmero na piedade, disciplina e estudo, tornando-se um exemplo para seus colegas.

Foi ordenado sacerdote em 28 de março de 1925. Anos mais tarde, com a permissão de seu Bispo, mudou-se para Madri para obter seu doutorado em Direito. Em 2 de outubro de 1928, Deus lhe fez ver o que queria dele e fundou o Opus Dei.

Na ocasião, São Josemaría definiu o Opus Dei como “uma mobilização de cristãos que soubessem sacrificar-se gostosamente pelos outros, que tornassem divinos os caminhos humanos da terra (todos!), santificando qualquer trabalho nobre, qualquer trabalho limpo”.

Em 1933, o Santo promoveu uma academia universitária compreendendo que o mundo da cultura e da ciência é um ponto importante para a evangelização de toda a sociedade. Com a eclosão da guerra civil em 1936, teve início a perseguição religiosa e São Josemaría se viu obrigado a refugiar-se em vários lugares até chegar a Burgos.

Com o fim da guerra, em 1939, retornou para Madrid e terminou seus estudos de doutorado em direito. Sua fama de santidade foi se estendendo e dirigiu muitos exercícios espirituais a pedido de vários bispos e superiores religiosos. Em 1946, mudou-se para Roma e obteve da Santa Sé a aprovação definitiva do Opus Dei.

Aos poucos, foi-lhe sendo confiados cargos importantes no Vaticano e seguiu com atenção o Concílio Vaticano II, relacionando-se com muitos padres conciliares. Viajou por vários países da Europa e América, impulsionando e consolidando o trabalho apostólico do Opus Dei. É autor do livro ‘Caminho’, que se converteu em um clássico moderno da espiritualidade católica.

“Ali onde estão vossas aspirações, vosso trabalho, vossos amores, ali está o lugar de seu encontro cotidiano com Cristo”, incentivava São Josemaría.

Partiu para a Casa do Pai em 26 de junho de 1975, por causa de uma parada cardíaca, e aos pés de um quadro da Santíssima Virgem de Guadalupe. Foi canonizado por João Paulo II em 2002.

Fonte: https://www.acidigital.com


Nossa Senhora Rainha da Paz

25 de Junho

Nossa Senhora Rainha da Paz

A pequena cidade de Medjugorje pronuncia-se Mediugórie, da antiga Iugoslávia, hoje Bósnia-Herzegovina, está situada entre montanhas rochosas. A população é formada por famílias de camponeses humildes de tradição católica, cuja vida social está toda ligada as atividades paroquiais.

O lugar ganhou expressão mundial a partir de 1981, quando começaram as mais intensas e longas aparições da Virgem Maria, da história da Igreja Católica. No dia 24 de junho desse ano, as jovens Ivanka, com quinze anos e Miriana, com dezesseis, caminhavam para suas casas, após o habitual passeio ao entardecer. A certa altura Ivanka olhou para trás, seguida pelo olhar da amiga, e viu o vulto de uma mulher em pé numa nuvem, flutuando sobre um arbusto, não muito distante. Assustadas desceram correndo a montanha aos gritos de "é a Gospa", que no idioma local quer dizer Nossa Senhora.

No dia seguinte, 25 de junho, Ivanka e Miriana voltaram ao local, seguidas por Jacó, com dez anos, Maria, com dezesseis anos, Ivan, com quinze anos e Vicka, com dezessete anos, e todos presenciaram a aparição de Nossa Senhora. Ela disse à Miriana, dez segredos sobre futuros eventos e a autorizou entregá-los ao Padre Petar, com cinquenta anos, para serem revelados com antecedência de três dias. Em seguida deixou a primeira mensagem ao mundo: voltar a Deus através da conversão, fé, oração, jejum, reconciliação e, sobretudo através da vida sacramental.

No terceiro dia da aparição consecutiva, 26 de junho, a Virgem Santíssima surgiu chorando e repetindo: "Paz, paz, paz; entre Deus e a humanidade precisa haver paz novamente!". A Mãe ressaltou: "Se não houver a conversão, esperem sofrimento no futuro, porque a humanidade está preparando sua própria tragédia". Por esta razão recebeu o título de "Rainha da Paz". Neste dia além dos seis jovens havia cerca de duas mil pessoas. As aparições continuaram diariamente na mesma hora, porém, além dos seis videntes, outros devotos e peregrinos viram a Santíssima Virgem.

Uma vez, a aparição se deu na igreja da paróquia, na presença do sacerdote e vários fiéis. Depois, ocorreu na Montanha da Cruz, onde ficou cerca de meia hora, sendo vista por todos os presentes. No local, hoje existe uma grande escultura da imagem de Nossa Senhora Rainha da Paz. Existem registros da aparição de um sinal no céu em letras douradas formando a palavra MIR, que naquele dialeto significa PAZ.

Medjugorje começou a receber muitos romeiros de outras fronteiras. O país, na época vivia sob o regime comunista e as autoridades civis ficaram alarmadas. Tentaram impedir as manifestações de fé da população, mas sem sucesso. Até porque a maioria das pessoas assistiu manifestações de sinais no sol, na lua e nas estrelas, alguns apesar da chuva e da roupa comum, não se molharam. Além de constantes curas e conversões de milhares de incrédulos que foram apenas acompanhando as romarias.

Nossa Senhora de Medjugorje ou Rainha da Paz foi descrita por todos os videntes como uma jovem mulher de estatura mediana, semblante sereno, olhos azuis, pele branca e rosada, cabelos negros cobertos com um véu branco, seu vestido em geral é cinza claro, acima da cabeça tem doze estrelas e seus pés estão sobre uma nuvem. Mais de três décadas depois, a Virgem continua aparecendo diariamente, ratificando a urgência da conversão, para que reine a paz no planeta.


Frutos da Missa

TEMPO COMUM. DÉCIMA SEGUNDA SEMANA. QUINTA-FEIRA

– Os frutos da Missa. O sacrifício eucarístico e a vida ordinária do cristão.
– A nossa participação na Santa Missa deve ser oração pessoal, união com Jesus Cristo, Sacerdote e Vítima.
– Preparação para assistir à Missa. O apostolado e o sacrifício eucarístico.

I. O CONCÍLIO VATICANO II “recorda-nos que o sacrifício da cruz e a sua renovação sacramental na Missa constituem uma mesma e única realidade, à exceção do modo de oferecer [...], e que, conseqüentemente, a Missa é ao mesmo tempo sacrifício de louvor, de ação de graças, propiciatório e satisfatório”1.

Os fins que o Salvador deu ao seu sacrifício na Cruz costumam sintetizar-se nesses quatro, e alcançam-se em medidas e modos diversos. Os fins que se referem diretamente a Deus, como a adoração ou louvor e a ação de graças, produzem-se sempre infalível e plenamente no seu valor infinito, mesmo sem o nosso concurso, ainda que nenhum fiel assista à celebração da Missa ou assista distraído. Cada vez que se celebra o sacrifício eucarístico, louva-se a Deus Nosso Senhor sem limites, e oferece-se uma ação de graças que o satisfaz plenamente. Esta oblação, diz São Tomás, agrada mais a Deus do que o ofendem todos os pecados do mundo2, pois o próprio Cristo é o Sacerdote principal de cada Missa e também a Vítima que se oferece em todas elas.

Já os outros dois fins do sacrifício eucarístico (propiciação e de petição), que revertem em favor dos homens e que se chamam frutos da Missa, nem sempre atingem efetivamente a plenitude dos efeitos que poderiam alcançar. Os frutos de reconciliação com Deus e de obtenção do que pedimos à sua benevolência poderiam ser também infinitos, porque se baseiam nos méritos de Cristo, mas na realidade nunca os recebemos nesse grau porque nos são aplicados de acordo com as nossas disposições pessoais. Daí a importância de melhorarmos continuamente a nossa participação pessoal no Sacrifício do altar, unindo-nos intimamente ao próprio louvor, ação de graças, expiação e impetração de Cristo Sacerdote.

Neste sentido, o rito externo da Missa (as ações e cerimônias), ao mesmo tempo que significam o sacrifício interior de Jesus Cristo, são também sinal da entrega e da oblação dos fiéis unidos a Ele3: exigem e simultaneamente fomentam a entrega de todo o nosso ser, tanto durante a celebração como ao longo da vida: “Todas as suas obras, preces e iniciativas apostólicas – indica o Concílio Vaticano II –, bem como a vida conjugal e familiar, o trabalho cotidiano, o descanso do corpo e da alma, se praticados no Espírito, e mesmo os incômodos da vida pacientemente suportados, tornam-se «hóstias espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo» (1 Pe 2, 5), hóstias que são piedosamente oferecidas ao Pai com a oblação do Senhor na celebração da Eucaristia”4. Todas as nossas obras e a própria vida adquirem um novo valor, porque tudo passa então a girar em torno da Santa Missa, que se converte no centro do dia.

II. PARA OBTERMOS CADA DIA mais frutos da Santa Missa, a nossa Mãe a Igreja quer que assistamos a ela não como “espectadores estranhos e mudos”, mas tratando de compreendê-la cada vez melhor, nos seus ritos e orações, participando da ação sagrada de modo consciente, piedoso e ativo, pondo a alma em consonância com as palavras que dizemos e colaborando com a graça divina5.

Devemos, pois, prestar atenção aos diálogos, às aclamações, e viver conscientemente esses elementos externos que também fazem parte da liturgia: as posições do corpo (de joelhos, em pé, sentados), a recitação ou canto de partes comuns (Glória, Credo, Santo, Pai Nosso...), etc.

Muitas vezes, ser-nos-á bastante útil ler no nosso missal as orações do celebrante. Como também o esforço por viver a pontualidade – chegando pelo menos uns minutos antes do começo –, nos ajudará a preparar-nos melhor e será uma atenção delicada com Cristo, com o sacerdote que celebra a Missa e com os que já estão na igreja. O Senhor agradece que também nisto sejamos exemplares. Por acaso não seríamos pontuais se se tratasse de uma audiência importante? Não há nada mais importante no mundo do que a Santa Missa.

Além da participação externa, devemos fomentar a participação interna, pela união com Jesus Cristo que se oferece a si mesmo. Esta participação consiste principalmente no exercício das virtudes: em atos de fé, de esperança e de amor, de humildade, de contrição, ao longo das orações e nos momentos de silêncio: antes do “Confesso a Deus todo-poderoso”, devemos realmente sentir todo o peso dos nossos pecados; no momento da Consagração, podemos repetir, com o Apóstolo São Tomé, aquelas suas palavras cheias de fé e de amor: Meu Senhor e meu Deus, ou outras que a piedade nos sugira.

A nossa participação na Santa Missa deve ser, pois, e antes de mais nada, oração pessoal, o ponto culminante do nosso diálogo habitual com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Diz Paulo VI que esse espírito de oração, “na medida em que for possível a cada um, é condição indispensável para uma participação litúrgica autêntica e consciente. E não somente condição, mas também seu fruto e conseqüência [...]. É necessário, hoje e sempre, mas hoje mais do que nunca, manter um espírito e uma prática de oração pessoal... Sem uma íntima e contínua vida interior de oração, de fé, de caridade pessoal, não podemos continuar a ser cristãos; não podemos participar de uma maneira útil e proveitosa no renascimento litúrgico; não podemos dar testemunho eficaz daquela autenticidade cristã de que tanto se fala; não podemos pensar, respirar, atuar, sofrer e esperar plenamente com a Igreja viva e peregrina... Dizemos a todos vós: orai, irmãos – orate, fratres. Não vos canseis de tentar que surja do fundo do vosso espírito, com o clamor mais íntimo, esse Tu! dirigido ao Deus inefável, a esse misterioso Outro que vos observa, espera e ama. E certamente não vos sentireis desiludidos ou abandonados, antes experimentareis a alegria nova de uma resposta embriagante: Ecce adsum, eis que estou contigo”6.

De modo muito particular, temos Deus junto de nós e em nós no momento da Comunhão, em que a participação na Santa Missa chega ao seu momento culminante. “O efeito próprio deste sacramento – ensina São Tomás de Aquino – é a conversão do homem em Cristo, para que diga com o Apóstolo: Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim7.

III. ANTES DA SANTA MISSA, devemos preparar a nossa alma para nos aproximarmos do acontecimento mais importante que se dá cada dia no mundo. A Missa celebrada por qualquer sacerdote, no lugar mais recôndito, é o evento mais importante que acontece naquele instante sobre a terra, ainda que não esteja presente uma única pessoa sequer. É a coisa mais grata a Deus que os homens lhe podem oferecer; é a ocasião por excelência de agradecer-lhe os muitos benefícios que dEle recebemos, de pedir-lhe perdão por tantos pecados e faltas de amor... e de solicitar-lhe tantas coisas espirituais e materiais de que necessitamos.

“Quem não tem coisas a pedir? Senhor, esta doença... Senhor, essa tristeza... Senhor, essa humilhação que não sei suportar por teu amor... Queremos o bem, a felicidade e a alegria das pessoas da nossa casa; oprime-nos o coração a sorte dos que padecem fome e sede de pão e de justiça, dos que experimentam a amargura da solidão, dos que, no fim dos seus dias, não recebem um olhar de carinho nem um gesto de ajuda.

“Mas a grande miséria que nos faz sofrer, a grande necessidade a que queremos pôr remédio é o pecado, o afastamento de Deus, o risco de que as almas se percam para toda a eternidade. Levar os homens à glória eterna no amor de Deus: esta é a nossa aspiração fundamental ao participarmos da Missa, como foi a de Cristo ao entregar a sua vida no Calvário”8. Desta maneira, também o nosso apostolado se integra na Santa Missa e dela sai fortalecido.

Os minutos de ação de graças depois da Missa completarão esses momentos tão importantes do dia, e terão uma influência direta no trabalho, na família, na alegria com que tratamos a todos, na segurança e na confiança com que vivemos o resto do dia. A Missa vivida assim nunca será um ato isolado; será alimento de todas as nossas ações e lhes dará umas características peculiares.

E na Santa Missa encontramos sempre a nossa Mãe, Santa Maria. “Como poderíamos tomar parte no Sacrifício do altar sem recordar e invocar a Mãe do Sumo Sacerdote e Mãe da Vítima? Nossa Senhora participou tão intimamente do sacerdócio do seu Filho, durante a sua vida na terra, que devia ficar para sempre unida ao exercício desse sacerdócio. Assim como esteve presente no Calvário, está presente na Missa, que é prolongamento necessário da Cruz do Senhor. No Calvário, Nossa Senhora assistia o seu Filho que se oferecia ao Pai; no altar, assiste a Santa Igreja que se oferece com a sua Cabeça. Ofereçamos Jesus pelas mãos de Nossa Senhora”9. Procuremos ter presente a nossa Mãe Santa Maria durante a Santa Missa, e Ela nos ajudará a participar da imolação do seu Filho com outra piedade e recolhimento.

(1) Missal Romano, Ordenação geral, Proêmio, 2; (2) cfr. São Tomás, Suma Teológica, III, q. 48, a. 2; (3) cfr. Pio XII, Enc. Mediator Dei, 20-XI-1947; (4) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 34; (5) cfr. Conc. Vat. II, Const. Sacrossanctum Concilium, 11, 48; (6) Paulo VI, Alocução, 14-VIII-1969; (7) São Tomás, In IV Sent., d. 12, q. 2, a. 1; (8) São Josemaría Escrivá, Amar a Igreja, pág. 79-80; (9) P. Bernadot, Nossa Senhora na minha vida, Agir, Rio de Janeiro, 1946, pág. 180.

Fonte: livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal.


Natividade de São João Batista

– A missão do Batista.
– A nossa missão: preparar os corações para que Cristo possa entrar neles.
– Oportet illum crescere... Convém que Cristo cresça mais e mais na nossa vida e que diminua a estima própria.

Esta solenidade era celebrada já no século IV. João, filho de Zacarias e Isabel, parente da Virgem, é o Precursor de Jesus Cristo, e coloca a serviço dessa missão toda a sua vida, cheia de austera penitência e de zelo pelas almas. Como Ele próprio nos disse: Convém que Ele cresça e eu diminua. Esse é também o processo que deve verificar-se na vida de todo o fiel cristão.

I. HOUVE UM HOMEM enviado por Deus, de nome João. Veio para dar testemunho da luz e preparar para o Senhor um povo bem disposto 1.

Santo Agostinho faz notar que “a Igreja celebra o nascimento de João como algo sagrado, e é o único nascimento que se festeja: celebramos o nascimento de João e o de Cristo” 2. É o último Profeta do Antigo Testamento e o primeiro que indica o Messias. O seu nascimento “foi motivo de alegria para muitos” 3, para todos aqueles que pela sua pregação conheceram a Cristo; foi a aurora que anuncia a chegada do dia. Por isso São Lucas faz constar expressamente a época em que o Batista iniciou a sua missão, num momento histórico bem determinado: No ano décimo quinto do reinado de Tibério Cesar, sendo governador da Judéia Pôncio Pilatos, tetrarca da Galiléia Herodes... 4 João representa a linha divisória entre os dois Testamentos. A sua pregação foi o começo do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus 5. E o seu martírio, um presságio da Paixão do Salvador 6. Contudo, “João era uma voz passageira; Cristo é a palavra eterna desde o princípio” 7.

Os quatro Evangelistas não duvidam em aplicar a João o belíssimo oráculo de Isaías: Eis que eu envio o meu mensageiro para que te preceda e te prepare o caminho. Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas 8. O Profeta refere-se em primeiro lugar ao regresso dos judeus à Palestina, depois do cativeiro da Babilônia: vê o Senhor como rei e redentor do seu povo, depois de tantos anos no desterro, caminhando à sua frente pelo deserto da Síria para conduzi-lo com firmeza à pátria. Conforme o antigo costume do Oriente, é precedido por um arauto, que anuncia a proximidade da sua chegada e faz com que se preparem os caminhos, de que ninguém naqueles tempos costumava cuidar a não ser em circunstâncias muito relevantes. Esta profecia, além de se ter cumprido com o fim do cativeiro, viria a ter um segundo cumprimento, mais pleno e profundo, ao chegarem os tempos messiânicos. O Senhor também teria o seu arauto na pessoa do Precursor, que o precederia preparando os corações para a sua vinda 9.

Contemplando hoje a grande figura do Batista, que cumpriu tão fielmente a sua missão, podemos pensar se também nós aplainamos os caminhos do Senhor, para que Ele entre na alma dos nossos amigos e parentes que ainda estão longe da sua amizade, e para que os que estão próximos se dêem mais generosamente. Nós, cristãos, somos os arautos de Cristo no mundo de hoje. “O Senhor serve-se de nós como tochas, para que essa luz ilumine... Depende de nós que muitos não permaneçam nas trevas, mas andem por caminhos que levam até à vida eterna” 10.

II. A MISSÃO DE JOÃO caracteriza-se sobretudo por ser o Precursor, aquele que anuncia outro: Veio para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por ele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz 11. Assim diz no início do seu Evangelho aquele discípulo que conheceu Jesus graças à preparação e à indicação expressa que recebeu do Batista: No dia seguinte, achando-se João outra vez com dois dos seus discípulos, fixou os olhos em Jesus que passava e disse: Eis o Cordeiro de Deus. Ouvindo as suas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus 12. Que grandes recordações e que imenso agradecimento não teria o Apóstolo São João quando, quase no fim da vida, evocava no seu Evangelho aquele tempo passado junto do Batista, que foi instrumento do Espírito Santo para que conhecesse Jesus, seu tesouro e sua vida!

A pregação do Precursor estava em perfeita harmonia com a sua vida austera e mortificada: Fazei penitência – clamava sem descanso –, porque o reino dos Céus está próximo 13. Tais palavras, corroboradas pela sua vida exemplar, causaram uma forte impressão em toda a região, e em breve João se viu rodeado por um numeroso grupo de discípulos, dispostos a ouvir os seus ensinamentos. Um forte movimento religioso sacudiu toda a Palestina. As multidões, como agora, estavam sedentas de Deus, e a esperança do Messias era muito viva. São Mateus e São Marcos sublinham que iam ter com João pessoas de todos os lugares: de Jerusalém e das outras aldeias da Judéia 14, como também da Galiléia, pois os primeiros discípulos que Jesus encontrou eram galileus 15. Diante dos enviados do Sinédrio, João dá-se a conhecer com as palavras de Isaías: Eu sou a voz que clama.

Com a sua vida e as suas palavras, João deu testemunho da verdade: sem covardias perante os que ostentavam o poder, sem se deixar afetar pelos louvores das multidões, sem ceder às contínuas pressões dos fariseus. Deu a vida em defesa da lei de Deus contra todas as conveniências humanas: Não te é lícito ter a mulher do teu irmão 16, disse a Herodes.

A força de João era pouca para conter os desvarios do tetrarca, e o alcance da sua voz muito limitado para preparar para o Messias um povo bem disposto. Mas a palavra de Deus ganhava força nos seus lábios. Na segunda Leitura da Missa 17, a liturgia aplica ao Batista as palavras do Profeta: Tornou a minha boca semelhante a uma espada afiada, cobriu-me com a sombra da sua mão. Fez de mim uma flecha penetrante, guardou-me na sua aljava. E enquanto Isaías pensa: Foi em vão que padeci, foi em vão que gastei as minhas forças, o Senhor diz-lhe: Vou converter-te em luz das nações, para propagar a minha salvação até os confins da terra.

O Senhor deseja que o anunciemos por meio da nossa conduta e da nossa palavra no ambiente em que nos desenvolvemos, ainda que nos pareça que esse apostolado não tem grande alcance. A missão que o Senhor nos encomenda atualmente é a mesma de João: preparar os caminhos, sermos seus arautos, os que o anunciam aos corações. A coerência entre a doutrina e a conduta é a melhor prova da validade daquilo que proclamamos; e é, em muitas ocasiões, a condição imprescindível para falarmos de Deus às almas.

III. A MISSÃO DO ARAUTO é desaparecer, ficar em segundo plano quando chega aquele que foi anunciado. “Tenho para mim – diz São João Crisóstomo – que por isso foi permitida quanto antes a morte de João, para que, desaparecido ele, todo o fervor da multidão se dirigisse para Cristo, ao invés de se repartir entre os dois” 18. Um erro grave de qualquer precursor seria deixar que o confundissem com aquele que esperam, ainda que fosse por pouco tempo.

Uma virtude essencial em quem anuncia Cristo é, pois, a humildade. Dos doze Apóstolos, cinco, conforme menção expressa do Evangelho, tinham sido discípulos de João. E é muito provável que os outros sete também o fossem; ao menos, todos eles o tinham conhecido e podiam dar testemunho da sua pregação 19. No apostolado, a única figura que deve ser conhecida é Cristo. Ele é o tesouro que anunciamos e é a Ele que temos de levar os outros.

A santidade de João, as suas virtudes rijas e atraentes, a sua pregação..., tinham contribuído para que pouco a pouco ganhasse corpo a idéia de que era ele o Messias esperado. Profundamente esquecido de si mesmo, João só deseja a glória do seu Senhor e do seu Deus; por isso protesta abertamente: Eu vos batizo em água, mas eis que está para chegar outro mais forte do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das sandálias; Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo 20. João, diante de Cristo, considera-se indigno de prestar-lhe os serviços mais humildes, reservados ordinariamente aos escravos de ínfima categoria: trazer e levar as sandálias, desatar-lhes as correias. Diante do Batismo instituído pelo Senhor, o seu não é senão água, símbolo da limpeza interior que deveriam efetuar nos seus corações aqueles que esperavam o Messias. O Batismo de Cristo é o do Espírito Santo, que purifica à semelhança do fogo 21.

Olhemos novamente para o Batista: um homem de caráter firme, como Jesus recorda à multidão: Que saístes a ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento? O Senhor sabia, e as pessoas também, que a personalidade de João não se compaginava com a falta de caráter. A humildade não é falta de caráter, mas hombridade enérgica que se apaga diante do Senhor, porque sabe que é Ele que produz em nós o querer e o agir 22.

Quando os judeus foram dizer aos discípulos de João que Jesus reunia mais discípulos que o seu mestre, e o comentário chegou aos ouvidos do Batista, este respondeu: Eu não sou o Messias, mas fui enviado adiante dEle... É necessário que Ele cresça e eu diminua 23. Esta é a tarefa da nossa vida: que Cristo tome conta do nosso viver. Convém que Ele cresça... Então a nossa felicidade não terá limites, pois poderemos dizer com o Apóstolo: Eu vivo, mas não sou eu; é Cristo que vive em mim 24. Na medida em que Cristo for penetrando mais e mais nas nossas pobres vidas, a nossa alegria será irreprimível.

Peçamos ao Senhor, com o poeta: “Que eu seja como uma flauta de cana, simples e oca, onde só Tu possas soprar. Ser somente a voz de outro que clama no deserto”. Ser a tua voz, Senhor, no meio do mundo, no ambiente e no lugar onde queres que transcorra a minha vida.

(1) Jo 1, 6-7; Lc 1, 17; Antífona de entrada da Missa do dia 24 de junho; (2) Liturgia das Horas, Segunda leitura, ib.; Santo Agostinho, Sermão 293, 1; (3) Prefácio, ib.; (4) cfr. Lc 3, 1 e segs.; (5) cfr. Mc 1, 1; (6) cfr. Mt 17, 12; (7) Santo Agostinho, op. cit., 3; (8) Mc 1, 2; (9) cfr. L. Cl. Fillion, Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, 8ª ed., Fax, Madrid, 1966, pág. 260; (10) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 1; (11) Jo 1, 6; (12) Jo 1, 29-30; (13) Mt 3, 2; (14) cfr. Mt 3, 5; Mc 1, 1-5; (15) cfr. Jo 1, 40-43; (16) Mc 6, 18; (17) Is 49, 1-6; Segunda leitura, ib.; (18) São João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de São João, 29, 1; (19) cfr. At 1, 22; (20) Jo 3, 15-16; (21) cfr. São Cirilo de Alexandria, Catequese, 20, 6; (22) cfr. Fil 2, 13; (23) cfr. Jo 3, 27-30; (24) Gal 2, 20.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


Natividade de São João Batista

24 de Junho

Natividade de São João Batista

João Batista é o único santo, além da Virgem Maria, de quem a Liturgia celebra o nascimento terreno. Isto se deve, certamente, à sua missão única, que lhe foi confiada na História da Salvação, desde o seio da sua mãe, Isabel. Mais tarde, o próprio Salvador, seu primo, fez-lhe o lindo elogio: “Entre os nascidos de mulher, não há ninguém maior que João...”.

A vida de João Batista não teve origem por iniciativa humana, mas por dom de Deus a seus pais de idade avançada, Zacarias e Isabel,  e, por isso, não podiam mais gerar filhos.

O paralelismo de Lucas, sobre a infância de Jesus e de João Batista, levou a Liturgia a celebrar o nascimento de ambos: o de Jesus, no solstício de inverno, e o de João, no solstício de verão.

A festa do nascimento de João Batista faz-nos refletir sobre o amor de Deus, que prepara o nascimento de João: “Um anjo do Senhor anunciou a Zacarias que sua mulher, idosa e estéril, iria ter um filho, cujo nascimento seria a alegria de muitos”. O nome João significa “Deus dá a graça”. Ele foi enviado para preparar os caminhos do Senhor, o “ano de graça” do Senhor, a vinda de Jesus.

Assim, Deus prepara os tempos e os corações dos homens para receber seus dons. Por isso, devemos ser vigilantes, estar atentos à ação divina em nós, saber discernir os acontecimentos dos tempos. João acreditou e indicou Jesus aos que o seguiam: “Depois de mim, virá alguém maior do que eu… Eis o Cordeiro de Deus!”

A Solenidade da Natividade do Precursor de Jesus é um convite a conhecermos mais a Cristo, que vive na Eucaristia, e darmos seu testemunho, mediante o ardor, o desapego e a generosidade de São João Batista.

A festa da Natividade de João Batista leva-nos a refletir também que ele foi um profeta austero, que pregou a penitência com uma linguagem rígida: “Raça de víboras... produzam frutos dignos de conversão...”. Mas, o profeta exortava a uma penitência, que se tornaria alegria e purificação pela vinda do Senhor. A missão de João Batista é, de certa forma, a missão de todos: preparar e anunciar a vinda do Senhor!

Fonte: https://www.vaticannews.va


A Porta Estreita

TEMPO COMUM. DÉCIMA SEGUNDA SEMANA. TERÇA-FEIRA

– O caminho que conduz ao Céu é estreito. Temperança e mortificação.
– Necessidade da mortificação. A luta contra o comodismo e o aburguesamento.
– Alguns exemplos de temperança e de mortificação.

I. ENQUANTO IAM A CAMINHO de Jerusalém, alguém perguntou a Jesus: Senhor, são poucos os que se salvam? 1 Jesus não lhe respondeu diretamente, mas disse-lhe: Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque vos digo: muitos procurarão entrar e não poderão. E no Evangelho da Missa de hoje São Mateus deixou-nos esta exclamação do Senhor: Como é estreita a porta e como é apertada a senda que leva à vida, e quão poucos os que acertam com ela! 2

A vida é como um caminho que termina em Deus, um caminho curto. Importa acima de tudo que, ao chegarmos, a porta nos seja aberta e possamos entrar: “Caminhamos como peregrinos em direção à consumação da história humana. O Senhor diz: Eis que eu venho em breve, e comigo a minha recompensa, para dar a cada um segundo as suas obras... (Apoc 22, 12-13)” 3.

Dois caminhos, duas atitudes na vida: buscar o mais cômodo e agradável, regalar o corpo e fugir do sacrifício e da penitência, ou buscar a vontade de Deus ainda que custe, ter os sentidos guardados e o corpo sob controle; viver como peregrinos que levam o estritamente necessário e se entretêm pouco nas coisas porque estão de passagem, ou ficar ancorados na comodidade, no prazer ou nos bens temporais, utilizados como fins e não como simples meios.

O primeiro desses caminhos conduz ao Céu; o outro, à perdição, e são muitos os que andam por ele. Temos que nos perguntar com freqüência por onde caminhamos e para onde vamos. Dirigimo-nos diretamente para o Céu, ainda que não faltem derrotas e fraquezas? Andamos pela senda estreita? Qual é realmente o fim dos nossos atos?

“Se olharmos as coisas não como uma pura teoria, mas referidas à vida, talvez seja possível entender melhor a questão. Se um universitário quer ser médico, não se matricula em Filologia Românica... Na verdade, se se matricula em Filologia Românica, está demonstrando que o que de fato quer é ser filólogo, não médico, apesar de tudo o que diga [...]. Isto é assim porque, quando se quer alguma coisa, é preciso escolher os meios adequados [...]. Se alguém quer ir para casa e deliberadamente escolhe o caminho que conduz à casa do seu inimigo, o que sem dúvida está querendo é ir para onde diz que não deseja ir”4. E se diz que escolheu esse determinado caminho porque é mais cômodo, então o que realmente lhe interessa é o caminho, não o fim a que este conduz.

II. O HOMEM TENDE A IR pelo caminho mais largo e cômodo da vida. Prefere uma porta ampla que não conduz ao Céu: muitas vezes lança-se sem medida sobre as coisas, sem regra nem temperança.

O caminho que o Senhor nos indica é alegre, mas, ao mesmo tempo, é caminho de cruz e de sacrifício, de temperança e de mortificação. Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me 5. Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só; mas, se morre, dá muito fruto 6.

A temperança é necessária nesta vida para podermos entrar na outra. Pede-se-nos aos cristãos que estejamos desprendidos dos bens que temos e usamos, que evitemos a preocupação desmedida, que prescindamos do supérfluo e, quanto ao necessário, que usemos dele com austeridade, que é sinal de retidão de intenção. Não podemos ser como esses homens que “parecem guiar-se pela economia, de tal forma que quase toda a sua vida pessoal e social está como que imbuída de certo espírito materialista” 7. Esses homens esquecem facilmente que a sua vida é um caminho para Deus. Unicamente isso: um caminho para Deus. Estai atentos – previne-nos o Senhor – para que não suceda que os vossos corações se embotem pela crápula, pela embriaguez e pelas preocupações da vida8. Estejam cingidos os vossos corpos e acesas as vossas lâmpadas, e sede como homens que esperam o amo de volta das bodas 9.

Na senda ampla da comodidade, do conforto e da falta de mortificação, as graças dadas por Deus queimam-se e ficam sem fruto. Tal como a semente caída entre espinhos: afoga-se nos cuidados, na riqueza e nos prazeres da vida, e não chega a dar fruto 10. A sobriedade, pelo contrário, facilita o trato com Deus, pois “com o corpo pesado e enfartado de alimento, a alma está muito mal aparelhada para voar para o alto” 11.

Dirigimo-nos a toda a pressa para Deus, e a única coisa verdadeiramente importante é não errar de caminho. Estamos nós no caminho bom, do sacrifício e da penitência, da alegria e da entrega aos outros? Lutamos decididamente, com obras, contra os desejos de comodismo que nos espicaçam continuamente?

III. NO MEIO DE UM AMBIENTE materialista, a temperança é de grande eficácia apostólica. É um dos exemplos mais atraentes da vida cristã. Onde quer que nos encontremos, devemos esforçar-nos por dar sempre esse exemplo, que há de manifestar-se com simplicidade no nosso comportamento. A exemplaridade de um cristão nesta matéria foi para muitos o começo de um verdadeiro encontro com Deus.

A vida de relação oferece-nos mil oportunidades de darmos esse exemplo de sobriedade e de mortificação, sem com isso chamarmos a atenção ou sermos tidos por pessoas aborrecidas, estranhas ou moralizantes. Começa pela sobriedade no comer e no beber, nos convites para almoços ou jantares em que, sem constranger ninguém, podemos ser comedidos na escolha do prato, nos acompanhamentos, na bebida; ou são os aperitivos de fim de semana, ou os pratos típicos, ou as sobremesas... À hora de escolher, lembremo-nos de que não temos espírito de desprendimento e sobriedade se, podendo escolher de maneira discreta, não escolhemos para nós o pior 12. A moderação no falar é outra ocasião excelente de vivermos a temperança: evitaremos falar muito, ou falar de nós, ou manter conversas inúteis e frívolas, ou entreter-nos em murmurações que beiram a difamação... No ambiente de trabalho, já a intensidade no aproveitamento do tempo, fugindo das constantes interrupções e pequenas ausências, das conversas alheias ao cumprimento do dever, em suma, de toda a indolência, é um exemplo magnífico de austeridade; e a ela podem somar-se tantas outras, como a demonstração prática de que trabalhamos por amor ao trabalho feito por Deus, e não por amor ao dinheiro ou às honras. E ainda a exemplaridade na guarda da vista pela rua, à saída do trabalho com um colega, ou nas relações com uma colega de escritório, cheias de uma delicadeza sem familiaridades.

A senda estreita passa por todas as atividades do cristão: desde as comodidades do lar até o uso dos instrumentos de trabalho e o modo de nos divertirmos. No descanso, por exemplo, não é preciso fazer grandes gastos nem dedicar excessivas horas ao esporte em prejuízo de outros afazeres. Também dá exemplo de austeridade e de temperança quem sabe usar moderadamente da televisão e, em geral, dos instrumentos de conforto que a técnica oferece constantemente. Se tivermos presente que a nossa conduta ou constrói ou destrói em cada momento, veremos que podemos ser o bonus odor Christi 13, o bom odor de Cristo, que prepara os que nos vêem e acompanham para se deixarem cativar pela figura amável do Senhor.

O caminho estreito é seguro e sólido. E no meio dessa vida, que tem certamente um tom austero e sacrificado, encontramos a alegria, porque a “Cruz já não é um patíbulo, mas o trono do qual reina Cristo. E a seu lado encontrarás Maria, sua Mãe, Mãe nossa também. A Virgem Santa te alcançará a fortaleza de que necessitas para caminhar com decisão, seguindo os passos do seu Filho”14.

(1) Lc 13, 23; (2) Mt 7, 14; (3) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 45; (4) F. Suárez, A porta estreita, págs. 37-38; (5) Lc 9, 23; (6) Jo 12, 34; (7) Conc. Vat. II, op. cit., 63; (8) Lc 21, 34; (9) Lc 12, 35; (10) Lc 8, 14; (11) São Pedro de Alcântara, Tratado da oração e da meditação, II, 3; (12) cfr. São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 635; (13) 2 Cor 2, 15; (14) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 141.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


São José Cafasso

23 de Junho

São José Cafasso

“Não será morte, mas um doce sonho para ti, minha alma, se ao morrer te assiste Jesus e te recebe a Virgem Maria”, escreveu pouco tempo antes de morrer São José Cafasso, padroeiro das prisões italianas e modelo de sacerdote comprometido com a confissão e direção espiritual. Sob sua orientação, formou-se São João Bosco.

São José Cafasso nasceu na Itália, em 1811. Desde pequeno, sua família e as pessoas do povoado o estimavam como um “santinho”. Foi ordenado sacerdote em 1833 e, meses depois, estabeleceu-se no Colégio Eclesiástico para aperfeiçoar sua formação sacerdotal.

São José Cafasso acompanhou à forca muitos condenados à morte e todos morreram confessados, arrependidos e assistidos por sua paternal presença, porque lhe recordavam Cristo prisioneiro.

São José Cafasso ajudou São João Bosco no seminário e, mais tarde, no Colégio. No apostolado das prisões, Bosco presenciou os horrores que a juventude sofre por não ter quem os oriente na fé e na educação. Assim, foi surgindo a inquietude de criar obras que previnam os jovens de parar nesses lugares.

Apesar das críticas, São José Cafasso sempre defendeu o serviço juvenil de seu discípulo e tornou-se um benfeitor da nascente comunidade salesiana.

Ele se caracterizava por sua amabilidade e uma alegria contagiante. Costumava incutir em seus alunos uma grande devoção ao Santíssimo Sacramento e à Virgem Maria.

“Toda santidade, perfeição e proveito de uma pessoa está em fazer perfeitamente a vontade de Deus... querer o que Deus quer, querê-lo no modo, no tempo e nas circunstâncias que Ele quer, e querer tudo isso unicamente porque Deus assim o quer”, dizia São José Cafasso.

Certo dia, em um sermão, expressou: “Como é belo morrer em um sábado, dia da Virgem, para ser levado por Ela para o céu”. Assim aconteceu, partiu para a casa do Pai no sábado, 23 de junho de 1860.

São João Bosco, na oração fúnebre, recordou seu diretor espiritual e confessor como mestre do clero, um seguro conselheiro, consolo dos moribundos e grande amigo.

Fonte: https://www.acidigital.com


São João Fisher e São Tomás More

22 de Junho

São João Fisher e São Tomás More

“O homem não pode ser separado de Deus, nem a política da moral”, disse São Tomás More, declarado padroeiro dos governantes e dos políticos por São João Paulo II e cuja memória litúrgica é recordada neste 22 de junho.

Morreu mártir quando se negou a reconhecer o divórcio de Henrique VIII e o projeto de uma igreja liderada pelo rei da Inglaterra e não pelo Papa.

São Tomás nasceu em Londres, em 1477, e manteve sempre uma vida de fé. Graduou-se na Universidade de Oxford como advogado e sua carreira bem-sucedida o levou ao parlamento. Casou-se com Jane Colt, teve um filho e três filhas. Após a morte de sua esposa, casou-se com Alice Middleton.

Em 1516, São Tomás escreveu o seu livro mais famoso, conhecido como “Utopia”. Esta obra chamou muito a atenção de Henrique VIII e o colocou em um cargo importante.

Quando o rei Henrique VIII continuava com a intenção de repudiar sua esposa para se casar com outra e planejava se separar da Igreja de Roma para formar a igreja anglicana sob sua autoridade, São Tomás More renunciou.

Em seguida, Tomás se dedicou a escrever em defesa da Igreja e com seu amigo, o Bispo São João Fisher, recusou-se a obedecer ao rei como “cabeça” da igreja. Ambos, fiéis a Cristo, foram presos. Alguns meses após a prisão, executaram São João Fisher e posteriormente São Tomás, condenados como traidores do reino.

Antes de ser executado, o santo disse à multidão: “Morrerei como bom servidor do rei, mas sobretudo como servo de Deus”. Foi decapitado no dia 6 de julho de 1535. O dia de São Tomás More é comemorado a cada 22 de junho, junto com São João Fisher.

“A vida de São Tomás More ilustra, com clareza, uma verdade fundamental da ética política. De fato, a defesa da liberdade da Igreja face a indevidas ingerências do Estado é simultaneamente uma defesa, em nome do primado da consciência, da liberdade da pessoa frente ao poder político. Está aqui o princípio basilar de qualquer ordem civil respeitadora da natureza do homem”, disse São João Paulo II no ano 2000.

Fonte: https://www.acidigital.com