São Luís Martin e Santa Zélia Guérin

12 de Julho

São Luís Martin e

Santa Zélia Guérin

“Ele era relojoeiro; ela rendeira: de origem burguesa, santos por eleição. São eles: Luís Martin (1823-1894) e Zélia Guérin (1831-1877) os pais de Teresa do Menino Jesus. É o segundo casal de esposos depois de Luís e Maria Beltrame Quattrocchi, beatificados em 2001 por João Paulo II que é elevado às honras dos altares.

Ambos eram filhos de militares e foram educados num ambiente disciplinado, severo, muito rigoroso e marcado por um certo jansenismo ainda rastejante na França da época. Os dois receberam uma educação de cunho religioso: nos Irmãos das escolas cristãs, Luís; nas Irmãs da adoração perpétua, Zélia. Ao terminar os estudos, no momento de escolher o próprio futuro, Luís orientou-se para a aprendizagem do ofício de relojoeiro, não obstante o exemplo do pai, conhecido oficial do exército napoleónico. Zélia, inicialmente, ajudava a mãe na administração da loja de família. Depois, especializou-se no “ponto de Alençon” na escola que ensina a tecer rendas. Em poucos anos os seus esforços foram premiados: abriu uma modesta fábrica para a produção de rendas e obteve um discreto sucesso.

Ambos nutrem desde a adolescência o desejo de entrar numa comunidade religiosa. Ele experimentou pedir para ser admitido entre os cónegos regulares de Santo Agostinho do hospício do Grande São Bernardo nos Alpes suíços, mas não foi aceite porque não conhecia o latim. Também ela tenta entrar nas Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, mas compreende que não é a sua estrada.

O encontro entre os dois acontece em 1858 na ponte de São Leonardo em Alençon. Ao ver Luís, Zélia percebeu distintamente que ele seria o homem da sua vida.

Após poucos meses de noivado, casam. Conduzem uma vida conjugal no seguimento do Evangelho, ritmada pela missa quotidiana, pela oração pessoal e comunitária, pela confissão frequente, pela participação na vida paroquial. Da sua união nascem nove filhos, quatro dos quais morrem prematuramente. Entre as cinco filhas que sobreviveram, está Teresa, a futura santa, que nasceu em 1873. As recordações da carmelita sobre os seus pais são uma fonte preciosa para compreender a sua santidade. A família Martin educou as suas filhas a tornar-se não só boas cristãs mas também honestas cidadãs. Aos 45 anos Zélia recebe a terrível notícia de que tinha um tumor no seio. Viveu a doença com firme esperança cristã até à morte ocorrida em Agosto de 1877.

Com 54 anos, Luís teve que se ocupar sozinho da família. A primogénita tem 17 anos e a última, Teresa, tem 4 e meio. Então, transferiu-se para Lisieux, onde morava o irmão de Zélia. Deste modo, as filhas receberam os cuidados da tia Celina. Entre os anos de 1882 e 1887 Luís acompanhou as três filhas ao carmelo. O sacrifício maior para ele foi afastar-se de Teresa que entra para as carmelitas com apenas 15 anos. Luís foi atingido por uma enfermidade que o tornou inválido e que o levou à perda das faculdades mentais. Foi internado no sanatório de Caen. Morreu em Julho de 1894.

São Luís Martin e Santa Zélia Guérin, pais de Santa Teresa de Lisieux, foram o primeiro casal a ser canonizado em uma mesma cerimônia na história da Igreja.

“Os santos esposos (…) viveram o serviço cristão na família, construindo dia após dia um ambiente cheio de fé e amor; e, neste clima, germinaram as vocações das filhas, nomeadamente a de Santa Teresinha do Menino Jesus”, disse o Papa Francisco em 18 de outubro de 2015, durante a Missa canonização.

Fonte: http://www.templariodemaria.com.br


Amor à Verdade

TEMPO COMUM. DÉCIMA QUARTA SEMANA. SÁBADO

– Falar de Deus e da sua doutrina com clareza e firmeza, sem medos.
– Agir sempre em consciência. Sinceridade conosco próprios.
– Dizer sempre a verdade: nas coisas importantes e no que parece pequeno.

I. O EVANGELHO DA MISSA1 é um novo convite do Senhor para que levemos uma vida veraz, resultado da fé que trazemos no coração, sem medo dos contratempos e das murmurações que seguir o Senhor de perto nos acarreta por vezes. Não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor. Se ao amo da casa chamaram‑no Belzebu, quanto mais aos da sua casa. Não os temais...

Pode acontecer que numa ou noutra situação tenhamos que sofrer a calúnia ou a difamação por sermos verazes, por sermos fiéis à verdade; noutras, as nossas palavras ou as nossas ações serão talvez mal interpretadas. Em qualquer caso, o Senhor espera de nós, seus discípulos, que falemos sempre com clareza, abertamente: O que vos digo às escuras, dizei‑o à luz do dia; e o que escutastes ao ouvido, proclamai‑o sobre os telhados.

Com uma pedagogia divina, Jesus fora falando às multidões em parábolas e descobrira‑lhes pouco a pouco a sua verdadeira personalidade e as verdades do Reino. Mas jamais disfarçou a sua doutrina. Depois da vinda do Espírito Santo, os que o seguissem deveriam proclamar a verdade à luz do dia, em cima dos telhados, sem medo de que a doutrina que ensinassem fosse oposta às opiniões que estivessem na moda ou arraigadas no ambiente. De que outra forma poderiam converter o mundo?

Alguns pensam, por tática ou por covardia, que a vida dos cristãos e a sua concepção do mundo, do homem e da sociedade, devem passar inadvertidas quando as circunstâncias são adversas ou comprometedoras. Esses cristãos ficariam então como que “emboscados” no meio de uma sociedade orientada para objetivos radicalmente diferentes; e não teria nenhuma ressonância o fato de serem homens e mulheres que olham para Cristo como o ideal supremo. Essa não é a doutrina do Senhor.

“«Ego palam locutus sum mundo»: Eu preguei publicamente diante de toda a gente, responde Jesus a Caifás, quando se aproxima o momento de dar a sua Vida por nós.

“– E, no entanto, há cristãos que se envergonham de manifestar «palam» – patentemente – veneração pelo Senhor” 2.

Na sociedade em que vivemos, teremos que falar com firmeza – com a segurança de quem tem a verdade do seu lado – de muitos temas de grande transcendência para a família, para a sociedade e para a dignidade da pessoa: indissolubilidade do casamento, liberdade de ensino, doutrina da Igreja sobre a transmissão da vida humana, dignidade e beleza da castidade, sentido grandioso do celibato e da virgindade por amor de Cristo, conseqüências da justiça social em relação aos gastos perdulários ou simplesmente desnecessários, aos salários injustos... Talvez haja ocasiões em que, por prudência ou por caridade, devamos calar‑nos. Mas nem a prudência nem a caridade nascem da covardia ou do comodismo. E nunca é prudência calar‑se quando desse modo se dá lugar ao escândalo ou à desorientação, ou quando essa atitude equívoca debilita a fé dos outros.

O que vos digo às escuras, dizei‑o à luz do dia... O Senhor dirige‑se com essas palavras a cada um de nós, pois são muitos os inimigos de Deus e da verdade que pretendem e se empenham em conseguir que os cristãos não sejam nem sal nem luz no meio das tarefas que os ocupam.

II. HÁ UM EPISÓDIO no Evangelho 3 que nos mostra como agiam uns fariseus que não se caracterizavam pelo seu amor à verdade. Enquanto Jesus passava pelos átrios do Templo, aproximaram‑se dEle os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos para perguntar‑lhe: Com que autoridade fazes estas coisas? Quem te deu poder? O Senhor está disposto a responder‑lhes se eles demonstrarem sinceridade de coração. Pergunta‑lhes o que pensam do batismo de João: se era do céu, e portanto gozava da aprovação divina, ou se era apenas dos homens, e como tal não merecia maior consideração.

Mas eles não lhe dão a sua opinião autêntica, a sua opinião em consciência. Analisam antes as conseqüências das suas possíveis respostas, procurando a mais conveniente para a situação em que se encontram: “Se dissermos do céu – pensam –, dirá: Por que não crestes nele? Mas se dissermos que o batismo do Precursor era dos homens, a multidão nos apedrejará”, porque todos tinham João por um verdadeiro profeta.

Apesar de serem líderes religiosos, não são homens de princípios capazes de informar as suas palavras e as suas obras. “São homens «práticos», dedicam‑se a fazer «política». No que tange ao seu interesse ou comodidade, o raciocínio que fazem é inteligente. Mas não estão dispostos a ir mais longe no seu raciocinar: são homens em quem o comodismo substituiu a consciência” 4. Têm por norma de conduta seguir o mais conveniente em cada ocasião. Não atuam de acordo com a verdade. Por isso dizem: Não sabemos. Não lhes interessava sabê‑lo e muito menos dizê‑lo.

A reação de Jesus é muito significativa: Então também eu não vos direi com que autoridade faço estas coisas. É como se lhes dissesse: se não estais dispostos a ser sinceros, a olhar nos vossos corações e a encarar a verdade, é inútil o diálogo. Eu não posso falar convosco nem vós comigo. Não nos entenderíamos.

Acontece o mesmo todos os dias. “A pessoa cuja vida não se rege pela sinceridade, por uma disposição habitual de encarar a verdade ou os ditames da consciência – por mais incômodos ou duros que sejam –, afasta‑se rotundamente de toda a possibilidade de comunicação divina. Quem tem medo de olhar de frente a sua consciência tem medo de olhar de frente para Deus, e só os que se dispõem a estar cara a cara com Deus podem ter verdadeiro trato de amizade com Ele” 5. Não é possível encontrar a Deus sem este amor radical pela verdade. Como também não é possível entender‑se com os homens e conviver com eles.

O amor à verdade levar‑nos‑á a ser sinceros em primeiro lugar conosco próprios, a manter uma consciência clara, sem subterfúgios, a não permitir que fique embaçada por erros não admitidos, por ignorâncias culposas, pelo medo de aprofundar nas exigências pessoais que a verdade implica. Se, com a ajuda da graça, formos sinceros conosco próprios, também o seremos com Deus, e a nossa vida se inundará de luz, de paz e de fortaleza. “Lias naquele dicionário os sinônimos de insincero: «ambíguo, ladino, dissimulado, matreiro, astuto»... – Fechaste o livro, enquanto pedias ao Senhor que nunca pudessem aplicar‑se a ti esses qualificativos, e te propuseste aprimorar ainda mais esta virtude sobrenatural e humana da sinceridade” 6.

III. NUM MUNDO em que a mentira e a dissimulação constituem tantas vezes o miolo do comportamento habitual de muitos, nós, os cristãos, devemos ser homens verazes, que fogem sempre até da mais pequena mentira. Devemos ser conhecidos pelos que convivem conosco como homens e mulheres que nunca mentem, mesmo nos assuntos de pouca importância, que eliminaram das suas vidas o que cheira a dissimulação, a hipocrisia, a falsidade, que sabem retificar quando erram. A nossa vida terá então uma grande fecundidade apostólica, pois sempre se pode confiar numa pessoa íntegra, que sabe dizer a verdade com caridade, sem ferir, com compreensão para com todos.

“Quantas debilidades, quanto oportunismo, quanto conformismo, quanta vileza!” 7, dizia o Papa Paulo VI referindo‑se a “essas boas pessoas, que esquecem a beleza e a gravidade dos compromissos que os unem à Igreja”. Esta mesma situação, que talvez nestes anos tenha ficado mais patente, há de levar‑nos a detestar a falsidade, por ínfima que possa parecer, porque “a mentira opõe‑se à verdade como a luz se opõe às trevas, a piedade à impiedade, a justiça à iniqüidade, a bondade ao pecado, a saúde à doença e a vida à morte. Portanto, quanto mais amemos a verdade, tanto mais devemos aborrecer a mentira” 8.

Não se trata de saber até que ponto se podem dizer coisas falsas sem incorrer em falta grave. Trata‑se de detestar a mentira em todas as suas formas, de dizer a verdade total; e quando por prudência ou caridade não seja possível fazê‑lo, então devemos ficar calados, mas não inventar recursos formalistas que tranqüilizem falsamente a consciência 9. Devemos amar a verdade em si mesma e por si mesma, e não apenas pelas suas conseqüências em relação ao próximo. Devemos detestar a mentira como coisa torpe e vil, seja qual for o fim com que lancemos mão dela. Devemos detestá‑la porque é uma ofensa a Deus, suma Verdade.

Acredita‑se facilmente naquilo em que se deseja acreditar. E assim, por exemplo, muitos inimigos da Igreja estão sempre inclinados a dar por certos todos os rumores injuriosos que lhes chegam aos ouvidos, julgando sem indícios suficientes e até informando a opinião pública com base em conjecturas. E isso, no fim das contas, equivale à mentira propriamente dita, pela sua origem e pelas suas conseqüências.

Contra a mentira, friamente empregada tantas vezes, nós temos a verdade, a clareza, a sinceridade sem equívocos nem ambigüidades: a prática firme de uma veracidade nas relações pessoais diárias, nos negócios, na família, nos estudos e nos órgãos de opinião pública quando temos acesso a eles. Não sabemos responder a uma mentira com outra mentira.

A oração litúrgica convida‑nos a clamar: Que a nossa voz, Senhor, o nosso espírito e toda a nossa vida sejam um contínuo louvor em vossa honra... 10 Que a nossa conversação seja sempre veraz, própria de um filho de Deus.

(1) Mt 10, 24‑33; (2) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 50; (3) Mc, 11 27‑33; (4) C. Burke, Consciencia y libertad, Rialp, Madrid, 1976, pág. 51, nota 7; (5) ib.; (6) São Josemaría Escrivá, op. cit., n. 337; (7) Paulo VI, Alocução, 17‑II‑1965; (8) Santo Agostinho, Contra a mentira, 3, 4; (9) cfr. São Francisco de Sales, Introdução à vida devota, III, 30; (10) Liturgia das Horas, Oração de Laudes da 2ª semana.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


São Bento

11 de Julho

São Bento

São Bento nasceu na Umbria, Itália, no ano de 480. Era de família nobre romana. Desde pequeno manifestou um gosto especial pela oração. Realizou os primeiros estudos na região de Nurcia, próximo à cidade de Spoleto. Depois foi morar em Roma para estudar filosofia.

Um eremita chamado Romano encontrou Bento e lhe deu um hábito de monge. Romano ensinou a São Bento tudo sobre a vida de eremita e levando-o para uma gruta escondida, (gruta santa), no monte de Subíaco. Lá, o jovem Bento aprofundava-se na vida de eremita e Romano o ajudava regularmente com alimentos.

São Bento ficou ali por 3 anos só em orações e estudos, sem receber visitas. Um dia, porém, um sacerdote da região, fazendo seu jantar, ouviu uma voz dizendo: estás fazendo seu jantar enquanto meu servo Bento morre de fome no deserto.  O sacerdote, com muito esforço, partiu para o deserto, encontrou a gruta em que Bento estava escondido e após uma oração, disse que era o dia da Páscoa do Senhor e serviu-lhe a comida.

Tempos depois o jovem bento foi descoberto por pastores e assim passou a receber muitas visitas para conselhos e orações. Logo sua fama começou a crescer e ele passou a ser visitado por mais e mais pessoas em busca de aconselhamentos e orações.

Por causa de sua fama de santidade, São Bento foi chamado para ser o abade (superior) do convento de Vicovaro. Ele aceitou, desejando prestar um serviço. Porém, não combinou com a vida que os monges viviam, porque não era incondicional como ele achava que deveria ser o seguimento de Cristo.

Foi se formando entre os religiosos uma antipatia contra o santo, chegando ao cúmulo de tentarem matá-lo com veneno, mas, abençoando a taça de vinho envenenada, como fazia com todos os alimentos que comia, ela se quebrou. Assim, bento disse em seguida que Deus perdoe a vocês, meus irmãos. Depois disso, abandonou o convento e voltou para Subíaco.

São Bento fundou em poucos anos doze mosteiros. Antes de Bento, os monges viviam como eremitas, isolados, sozinhos. São Bento organizou a vida monástica comunitária e os mosteiros começaram a florescer. Todos eles seguiam a famosa Regra de São Bento.  As famílias nobres de Roma começaram a mandar seus filhos para estudarem nos mosteiros fundados por São Bento.

A Regra de São Bento (Regula Monasteriorum) é um livro escrito por São Bento, com as regras para a vida monástica comunitária. É um livro com 73 capítulos curtos. A regra prioriza o silêncio, a oração, o trabalho, o recolhimento, a caridade fraterna e a obediência. Assim nascia a famosa Ordem dos Beneditinos, ou Ordem de São Bento, que permanece viva e atuante até hoje, seguindo a mesma regra escrita há mais de 1500 anos. A Regra de São Bento foi também adaptada para várias congregações de monges do ocidente.

No Monte Cassino, Itália, Bento começou a pregar o Evangelho para o povo. Com a pregação e os inúmeros milagres que fazia, inclusive vários exorcismos, o povo começou a se converter. Assim, o povo de Monte Cassino derrubou o templo de Apolo, que fora construído no cume do monte e com suas ruínas construíram dois conventos com as bênçãos de São João Batista e São Martinho. Esta foi a origem do grande mosteiro de Monte Cassino, criado em 529, com a bênção do Papa Felix lll.

São Bento morreu em 21 de março no ano de 547, aos 67 anos. Predisse sua morte no mesmo ano da morte de sua irmã Santa Escolástica, fundadora do ramo feminino da ordem de São Bento. Mandou abrir sua própria sepultura e depois de falar aos monges, de pé com as mãos para o céu, morreu. Parte de suas relíquias estão no Mosteiro de Monte Cassino e outras na abadia de Fleury, na França. São Bento foi canonizado no ano de 1220 e sua festa é comemorada no dia 11 de julho.

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br


Prudentes e Simples

TEMPO COMUM. DÉCIMA QUARTA SEMANA. SEXTA‑FEIRA

– Jesus, exemplo destas duas virtudes, que se aperfeiçoam mutuamente.
– Pedir conselho.
– A falsa prudência.

I. JESUS ENVIA os Doze por todo o país para anunciarem que o Reino de Deus está já muito próximo. E dá‑lhes uns conselhos bem precisos sobre o que devem fazer e dizer, e fala‑lhes das dificuldades que encontrarão. Assim, lemos no Evangelho da Missa: Olhai que eu vos envio como cordeiros entre lobos. Sede pois prudentes como as serpentes e simples como as pombas 1.

Os Apóstolos devem ser cautos para não se deixarem enganar pelo mal, para reconhecerem os lobos disfarçados de cordeiros, para distinguirem os falsos profetas dos verdadeiros 2, e para não desaproveitarem uma só ocasião de anunciar o Evangelho e de fazer o bem. Mas devem ser ao mesmo tempo simples, porque só quem é simples pode conquistar o coração de todos. Sem simplicidade, a prudência converte‑se facilmente em astúcia.

Nós, cristãos, devemos caminhar pelo mundo com essas duas virtudes, que se fortalecem e complementam. A simplicidade implica retidão de intenção e coerência na conduta. A prudência mostra em cada ocasião quais os meios mais adequados para cumprirmos o nosso fim. Santo Agostinho ensina que a prudência “é o amor que discerne o que ajuda a ir para Deus daquilo que o dificulta” 3.

Esta virtude permite‑nos conhecer objetivamente a realidade das coisas, de acordo com o fim último; ajuda‑nos a julgar acertadamente sobre o caminho a seguir e a atuar de modo conseqüente. “Não é prudente – como se julga amiúde – quem sabe ajeitar as coisas na vida e tirar delas o máximo proveito, mas quem consegue edificar a vida inteira de acordo com a voz da consciência reta e com as exigências da moral justa. Deste modo, a prudência torna‑se o ponto chave para que cada um realize a tarefa fundamental que recebeu de Deus. Esta tarefa consiste na perfeição do próprio homem” 4, na santidade.

O Senhor ensinou‑nos com a sua palavra e com o seu exemplo a ser prudentes. Da primeira vez que falou nos átrios do Templo, aos doze anos, todos admiravam‑se da sua prudência 5. Mais tarde, durante a sua vida pública, as suas palavras e a sua doutrina eram tão claras como prudentes, de tal maneira que os seus inimigos não podiam contradizê‑lo. O Senhor não anda com subterfúgios, mas tem em conta o público a quem fala; por isso, dá a conhecer a sua condição de Messias de modo gradual e vai anunciando a sua morte na Cruz conforme o grau de preparação e conhecimento daqueles que o escutam. Nós devemos aprender de Cristo.

II. PARA SERMOS PRUDENTES, é necessário que tenhamos luz no entendimento; assim poderemos julgar com retidão os acontecimentos e as circunstâncias 6; só com uma boa formação doutrinal religiosa e ascética, e com a ajuda da graça, saberemos descobrir os caminhos que conduzem verdadeiramente a Deus, as decisões que devemos tomar...

Não obstante, em muitas ocasiões teremos que pedir conselho. “O primeiro passo da prudência é o reconhecimento das nossas limitações: a virtude da humildade. É admitir, em determinadas questões, que não apreendemos tudo, que em muitos casos não podemos abarcar circunstâncias que importa não perder de vista à hora de julgar. Por isso nos socorremos de um conselheiro. Não de qualquer um, mas de quem for idôneo e estiver animado dos nossos mesmos desejos sinceros de amar a Deus e de o seguir fielmente. Não basta pedir um parecer; temos que dirigir‑nos a quem no‑lo possa dar desinteressada e retamente” 7.

São Tomás diz que, ordinariamente, antes de tomarmos decisões que acarretem graves conseqüências para nós ou para os outros, devemos pedir conselho 8. Mas não devemos pedi‑lo somente nesses casos extremos. Às vezes, torna‑se urgente uma orientação, para os mais velhos e para os jovens, no que se refere à leitura de livros, revistas e jornais, ou à assistência a espetáculos que, umas vezes de forma violenta e outras de maneira solapada, podem arrancar a fé da alma ou criar um fundo mau no coração. Não existe justificativa alguma para não nos afastarmos de uma situação que pode ser o começo do descaminho.

Mas há tantas outras circunstâncias em que não chegamos por nós mesmos a um critério seguro ou em que percebemos claramente que “o juízo próprio é mau conselheiro!” 9 É um conflito familiar, que não sabemos como resolver de modo a retornar à paz e ao bom entendimento. É um filho ou uma filha‑problema, que não vemos como encaminhar. É a grave questão da paternidade responsável, que não pode ser resolvida consultando apressadamente o comodismo, o conforto material ou a opinião das vizinhas. É o dilema de saber se determinado gasto mais vultuoso é realmente necessário ou não é ditado pela vaidade, pela ânsia do supérfluo e por tantos outros motivos igualmente fúteis. A virtude da prudência exige nesses casos que saibamos procurar quem nos possa dar um conselho experiente e isento e ajudar‑nos a formar um critério cristão que, seja do inteiro agrado de Deus.

E para isso é que é necessária também a virtude da simplicidade, que nos leva a consultar a pessoa certa – não aquela que nos diga o que queremos ouvir –, a expor‑lhe o problema em todos os seus matizes e, sobretudo, a fazer‑lhe caso quando porventura nos sugere uma solução que é contra os nossos interesses imediatos: do orgulho, da ambição ou do comodismo. Só as almas simples sabem ser dóceis aos conselhos recebidos de quem os pode dar com espírito isento. Mas essa simplicidade, tão próxima da humildade, não é difícil de viver para quem se acostuma a reconhecer os seus erros, a retificar as suas opiniões ou a sua conduta quando se engana ou quando aparecem dados novos que mudam os termos de um problema. Sabemos conjugar assim a prudência e a simplidade na nossa vida de todos os dias?

III. NÃO SERIA BOA a prudência que, invocando a necessidade de ponderar os dados, escondesse a covardia de não tomar uma decisão arriscada, de evitar enfrentar um problema. Não é prudente a atitude daquele que se deixa levar pelos respeitos humanos no apostolado e deixa passar as ocasiões, esperando outras melhores que talvez nunca se apresentem. A esta falsa virtude, São Paulo dá o nome de prudência da carne 10. É a mesma que desejaria mais razões e argumentos para entregar‑se de vez a Deus, com tudo o que é e tem, a mesma que se preocupa excessivamente com o futuro e se serve disso como argumento para não ser generoso no presente; é aquela que sempre encontra alguma razão para não tomar decisões que comprometem totalmente.

A prudência não é falta de arrojo para empenhar todas as forças nos empreendimentos de Deus, não é a habilidade de procurar compromissos tíbios ou de justificar com teorias muito razoáveis uma atitude remissa e negligente. Os Apóstolos não agiram assim. Procuraram a cada momento, com as suas fraquezas e às vezes com os seus temores, o caminho de uma mais rápida propagação da doutrina do seu Mestre, ainda que esses caminhos às vezes os conduzissem a tribulações sem conta, e mesmo ao martírio.

A vida de seguimento do Senhor compõe‑se de pequenas e grandes loucuras, como acontece com todo o amor verdadeiro. Quando o Senhor nos pede mais – e sempre o pede –, não podemos deter‑nos, paralisados por uma falsa prudência – a prudência do mundo –, pelo juízo daqueles que não se sentem chamados e que vêem tudo com olhos humanos, e às vezes nem sequer humanos, porque têm uma visão exclusivamente terrena e rasteira da vida. Com essa prudência da carne, nenhum homem nem nenhuma mulher se teriam entregado a Deus ou teriam metido ombros a uma tarefa de caráter sobrenatural. Sempre teriam encontrado argumentos e “razões” para dizer que não, ou para adiar a resposta para um tempo mais oportuno, o que muitas vezes vem a dar na mesma.

Jesus foi tachado de louco 11, e a mais elementar cautela lhe teria bastado para escapar da morte. Umas poucas fórmulas lhe teriam sido suficientes para mitigar a sua doutrina e chegar a uma “conciliação de interesses” com os fariseus, para apresentar de outra maneira a sua doutrina sobre a Eucaristia na sinagoga de Cafarnaum 12, onde muitos o abandonaram; ter‑lhe‑iam bastado umas poucas palavras – a Ele que era a Sabedoria eterna! – para conseguir a liberdade quando estava nas mãos de Pilatos.

Jesus não foi prudente segundo o mundo, mas foi mais prudente do que as serpentes, mais do que os homens, mais do que os seus inimigos. Com outro gênero de prudência. Essa deve ser a nossa, ainda que, ao imitá‑lo, os homens nos chamem loucos e imprudentes. A prudência sobrenatural mostra‑nos em todo o momento o caminho mais rápido e direto para chegarmos a Cristo..., acompanhados de muitos amigos, parentes, colegas...

“Queres viver a audácia santa, para conseguir que Deus atue através de ti? – Recorre a Maria, e Ela te acompanhará pelo caminho da humildade, de modo que, diante dos impossíveis para a mente humana, saibas responder com um «fiat!» – faça‑se! – que una a terra ao Céu” 13.

(1) Mt 10, 16; (2) Mt 7, 15; (3) Santo Agostinho, Dos costumes da Igreja Católica, 25, 46; (4) João Paulo II, Alocução, 25‑X‑1978; (5) Lc 2, 47; (6) cfr. R. Garrigou‑Lagrange, Las tres edades de la vida interior, vol. II, pág. 625 e segs.; (7) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 86; (8) São Tomás, Suma Teológica, II‑II, q. 49, a. 3.; (9) cfr. São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 59; (10) cfr. Rom 8, 6; (11) Mt 3, 21; (12) cfr. Jo 6, 1 e segs.; (13) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 124.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


Santo Olavo

10 de Julho

Santo Olavo

Santo Olavo, rei da Noruega, nasceu em 995, de família real. Quando jovem, participou duma expedição vichink e entrou em contato na Inglaterra com o Cristianismo, recebendo o batismo em 1014. Aos vinte anos de idade Olavo voltou para sua pátria na qualidade de herdeiro do trono, depois da morte do pai. Mas, em sua ausência, usurpadores do reino provocaram desordem e Olavo teve que sustentar combates para reduzi-los à submissão! Então organizou o reino conforme as leis e os usos cristãos, procurando eliminar o paganismo até então dominante na Noruega. Construiu igrejas, introduziu sacerdotes da Inglaterra, a fim de catequizarem o povo.

A Noruega estava sendo agitada pelos poderosos Jarls (espécie de feudatários) que impediam a unificação do reino conforme os esforços do rei Olavo. Neste conflito, ele teve muito que sofrer, inclusive por algum tempo se exilar. Voltando para sua pátria, Olavo foi vítima de um conflito armado por seus opositores em Nidares, aos 29 de julho de 1030.

Sobre seu túmulo foi edificada uma igreja, que foi por toda a Idade Média o santuário mais afamado na Noruega. Seu culto tornou-se muito popular nos países nórdicos. A Reforma protestante procurou abafar a veneração granjeada por Olavo, mas não conseguiu porque recentemente o dia de sua morte foi proclamado festa nacional em toda Noruega.

Olavo é considerado o apóstolo do Cristianismo na Noruega, fundador do reino e seu primeiro legislador.

Fonte: http://www.filhosdapaixao.org.br


A Missão Sobrenatural Da Igreja

TEMPO COMUM. DÉCIMA QUARTA SEMANA. QUINTA‑FEIRA

– A Igreja anuncia a mensagem de Cristo e realiza a sua obra no mundo.
– A missão da Igreja é de ordem sobrenatural, mas ela não se desentende das tarefas que afetam a dignidade humana.
– Os cristãos manifestam a sua unidade de vida mediante a promoção das obras de justiça e de misericórdia.

I. JESUS CONSUMA A OBRA da Redenção com a sua Paixão, Morte e Ressurreição. Após a sua Ascensão ao Céu, envia o Espírito Santo para que os seus discípulos possam anunciar o Evangelho e fazer com que todos participem da salvação. Os Apóstolos são, assim, os operários enviados à messe pelo seu dono, os servos enviados para chamarem os convidados às bodas, com a recomendação de encherem a sala do banquete 1.

Mas, além desta missão, os Apóstolos representam o próprio Cristo e o Pai: Quem vos ouve, a mim me ouve; e quem vos rejeita, a mim me rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou 2. A missão dos Apóstolos ficará intimamente unida à missão de Jesus: Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio 3. Será precisamente através deles que a missão de Cristo se estenderá a todas as nações e a todos os tempos. A Igreja, fundada por Cristo e edificada sobre os Apóstolos, continua a anunciar a mesma mensagem do Senhor e realiza a sua obra no mundo 4.

O Evangelho da Missa de hoje 5 narra como Jesus insta com os Doze, que acaba de escolher, para que partam e cumpram a sua nova tarefa. Este primeiro encargo é preparação e figura da missão definitiva que o Senhor lhes confiará depois de ressuscitar: Ide [...], pregai o Evangelho a todas as nações. Eu estarei convosco todos os dias até o fim do mundo 6. Até a chegada de Jesus, os Profetas haviam anunciado ao povo escolhido do Antigo Testamento os bens messiânicos, às vezes com imagens adaptadas à sua mentalidade ainda pouco madura para entenderem a realidade que estava próxima. Agora – nesta primeira missão apostólica – Jesus envia os seus discípulos com a missão de anunciarem que o Reino de Deus prometido é iminente e manifestarem os seus aspectos espirituais.

O Senhor concretiza o que devem pregar: O Reino de Deus está próximo. Não lhes diz nada sobre a libertação do jugo romano que oprimia a nação, ou do sistema social e político no qual deviam viver, ou de outras questões exclusivamente terrenas. Cristo não veio para isso, nem para isso foram eles escolhidos. Viverão para dar testemunho de Cristo, para difundir a sua doutrina e participar a salvação a todos os homens.

Foi o mesmo caminho seguido por São Paulo. “Se lhe perguntarmos de que coisas costumava tratar na pregação, ele mesmo as compendiará assim: Julguei não dever saber coisa alguma entre vós a não ser Jesus Cristo, e este crucificado (1 Cor 2, 2). Fazer com que os homens conhecessem mais e mais Jesus Cristo, com um conhecimento que não se detivesse somente na fé, mas se traduzisse nas obras da vida, foi nisso que o Apóstolo se empenhou com todas as energias do seu coração” 7.

A Igreja, continuadora no tempo da obra de Jesus Cristo, tem a mesma missão sobrenatural que o seu Divino Fundador transmitiu aos Apóstolos. “A Igreja nasceu com a missão de expandir o reino de Cristo por toda a terra, para a glória de Deus Pai, a fim de tornar todos os homens participantes da redenção salutar e de orientar verdadeiramente através deles o mundo inteiro para Cristo” 8. A sua missão transcende os movimentos sociais, as ideologias, as reivindicações de grupos.

II. IDE E PREGAI que o Reino de Deus está próximo. A missão da nossa Mãe a Igreja é dar aos homens o tesouro mais sublime que podemos imaginar, conduzi‑los ao seu destino sobrenatural e eterno principalmente por meio da pregação e dos sacramentos: “Este, e não outro, é o fim da Igreja: a salvação das almas, uma a uma. Para isso o Pai enviou o Filho, e eu vos envio também a vós (Jo 20, 21). Daí o mandato de dar a conhecer a doutrina e de batizar, para que a Santíssima Trindade habite pela graça na alma” 9.

O próprio Jesus nos anunciou: Eu vim para que todos tenham vida e para que a tenham em abundância 10. O Senhor não se referia a uma vida terrena cômoda e sem dificuldades, mas à vida eterna. Veio libertar‑nos principalmente daquilo que nos impede de alcançar a vida definitiva: do pecado, que é o único mal absoluto. Desse modo, dá‑nos também a possibilidade de superar as múltiplas conseqüências do pecado neste mundo: a angústia, as injustiças, a solidão...; ou de suportá‑las por Deus com alegria, quando não se podem evitar, convertendo a dor em sofrimento fecundo que conquista a eternidade.

A Igreja não toma partido por opções temporais determinadas, como também não o fez o seu Mestre. Aqueles que, sem fé, o viram quase sozinho na cruz, puderam pensar que tinha fracassado “precisamente por não ter optado por uma das soluções humanas: nem os judeus nem os romanos o seguiram. Mas não; foi precisamente o contrário: judeus e romanos, gregos e bárbaros, livres e escravos, homens e mulheres, sãos e enfermos, todos vão seguindo esse Deus feito homem, que nos libertou do pecado para nos levar a um destino eterno, o único em que se cumprirá a verdadeira realização, liberdade e plenitude do homem, feito à imagem e semelhança de Deus, e cuja aspiração mais profunda suplanta qualquer tarefa passageira, por mais nobre que seja” 11.

A Igreja tem como missão levar os seus filhos para Deus, para o seu destino eterno. Mas não se desentende das tarefas humanas; pela sua missão espiritual, anima os seus filhos e todos os homens a tomarem consciência da raiz de que provêm todos os males, e insta‑os a pôr remédio a tantas injustiças, às deploráveis condições em que vivem mui-tos homens e que são uma ofensa ao Criador e à dignidade humana. A esperança do Céu “não enfraquece o esforço pelo progresso da cidade terrestre, mas, pelo contrário, dá‑lhe sentido e força. Convém, certamente, distinguir cuidadosamente progresso terrestre e crescimento do Reino, que não são da mesma ordem. No entanto, tal distinção não é uma separação; pois a vocação do homem para a vida eterna não suprime, antes confirma a sua missão de pôr em ação as energias e os meios que recebeu do Criador para desenvolver a sua vida temporal” 12.

Nós somos corredentores com Cristo, e devemos perguntar‑nos se levamos aos nossos familiares e amigos o dom mais precioso que temos: a fé em Cristo; e se, ao lado des-te bem incomparável, nos sentimos animados – charitas enim Christi urget nos 13, a caridade de Cristo urge‑nos – a promover à nossa volta um mundo mais justo e mais humano.

III. CURAI OS DOENTES, ressuscitai os mortos, sarai os leprosos...

Já nos começos da Igreja, os fiéis cristãos levavam a fé a todos os lugares, e já a partir daqueles primeiros momentos uma multidão de cristãos “tem dedicado as suas forças e a sua vida à libertação de todas as formas de opressão e à promoção da dignidade humana. A experiência dos santos e o exemplo das suas inúmeras obras a serviço do próximo constituem um estímulo e uma luz para as iniciativas libertadoras que hoje se impõem” 14, talvez com mais urgência que em outras épocas.

A fé em Cristo move‑nos a sentir‑nos solidários com os outros homens nos seus problemas e carências, na sua ignorância e falta de recursos econômicos. Esta solidariedade não é um “sentimento superficial pelos males de tantas pessoas que estão perto ou longe”, mas “a determinação firme e perseverante de empenhar‑se pelo bem comum; quer dizer, pelo bem de todos e cada um, para que todos sejamos verdadeiramente responsáveis por todos” 15.

A fé leva‑nos a sentir um profundo respeito pelas pessoas, por todas as pessoas, a nunca permanecer indiferentes diante das necessidades alheias: Curai os doentes, ressuscitai os mortos, sarai os leprosos, expulsai os demônios... O seguimento de Cristo manifestar‑se‑á em obras de justiça e de misericórdia, no interesse por conhecer os princípios da doutrina social da Igreja e por levá‑los à prática em primeiro lugar no nosso próprio ambiente.

De cada um de nós deveria poder‑se dizer no final da vida que, como Jesus Cristo, passou fazendo o bem 16: na família, com os colegas de trabalho, com os amigos, com aqueles que encontramos casualmente. “Os discípulos de Jesus Cristo devem ser semeadores de fraternidade em todo o momento e em todas as circunstâncias da vida. Quando um homem ou uma mulher vivem intensamente o espírito cristão, todas as suas atividades e relações refletem e comunicam a caridade de Deus e os bens do Reino. É necessário que os cristãos saibam colocar nas suas relações cotidianas de família, amizade, vizinhança, trabalho e descanso, o selo do amor cristão que é simplicidade, veracidade, fidelidade, mansidão, generosidade, solidariedade e alegria”17.

(1) Cfr. Mt 9, 38; Jo 4, 38; Mt 22, 3; (2) Lc 10, 16; (3) Jo 20, 21; (4) cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 3; (5) Mt 10, 7‑15; (6) cfr. Mc 16, 15; Mt 28, 18‑20; (7) Bento XV, Enc. Humani generis Redemptionem, 15‑VI‑1917; (8) Conc. Vat. II Decr. Apostolicam actuositatem, 2; (9) São Josemaría Escrivá, Amar a Igreja, Prumo‑Rei dos Livros, Lisboa, 1990, pág. 53; (10) Jo 10, 10; (11) J. M. Casciaro, Jesucristo y la sociedad política, 3ª ed., Palabra, Madrid, 1973, pág. 114; (12) S. C. para a doutrina da fé, Instr. Liberdade cristã e libertação, 22‑III‑1986, 60; (13) 2 Cor 5, 14; (14) S. C. para a doutrina da fé, op. cit., 57; (15) João Paulo II, Enc. Sollicitudo rei socialis, 3‑XII‑1987, 38; (16) cfr. At 10, 38; (17) Conferência Episcopal Espanhola, Instr. Los católicos en la vida pública, 22‑IV‑1986, 111.

Fonte: livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal


Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus

09 de Julho

Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus

Seu nome de batismo era Amábile Lúcia Visintainer. Ela nasceu em de dezembro de 1865, na cidade de Vigolo Vattaro, região de Trento, que fica ao norte da Itália. Foi a segunda filha de Anna e Napoleão. Seus pais eram cristãos fervorosos, porém muito pobres. Durante a infância de Amábile, toda a Itália passava por uma grave crise econômica e pestes contagiosas. Por isso, quando ela tinha nove anos, seus pais decidiram emigrar para o Brasil.

Em 1875 a família de Amábile chegou ao Brasil. Foram para o Estado de Santa Catarina, mais precisamente para a região de Nova Trento, onde vários trentinos já estavam morando. Eles foram se estabelecer num vilarejo recém fundado no meio da mata chamado Vigolo. Tudo era muito precário e pobre. As famílias procuravam manter-se unidas para sobreviverem, alimentando o sonho de um dia prosperarem.

No vilarejo de Vigolo, Amábile travou amizade com uma menina que a acompanharia por toda a vida: Virgínia Nicolodi. As duas já tinham uma fé sólida e esta afinidade as fez crescer ainda mais na amizade. As duas eram sempre vistas rezando na capelinha de madeira. Elas fizeram a primeira comunhão no mesmo dia. Nessa época, Amábile já tinha doze anos de idade.

O vilarejo de Vigolo crescia aos poucos. Por isso, o padre responsável pela região, chamado Servanzi, iniciou um trabalho pastoral ali. Logo ele percebeu o espírito comprometido e sábio da adolescente Amábile e incumbiu-a de lecionar o catecismo às crianças, além da ajuda aos doentes e de manter limpa a capelinha do vilarejo, que era dedicada a São Jorge. Esta incumbência certamente ajudou a amadurecer a vocação religiosa no coração de Amábile.

Amábile assumiu a missão de corpo e alma, levando sempre consigo a amiga Virgínia. As duas dedicavam-se totalmente à caridade para com os mais pobres, ajudando aos doentes, conseguindo mantimentos para os necessitados, ajudando aos doentes, idosos, crianças, enfim, a todos que precisassem. Amábile e Virgínia começaram a ser reconhecidas por todo o povo italiano que vivia naquela região distante e abandonada do Brasil.

Em 1888 Amábile teve o primeiro de três sonhos com a Virgem Maria. Nesses sonhos, Nossa Senhora disse a Amábile: “Amábile, é meu ardente desejo que comeces uma obra: trabalharás pela salvação de minhas filhas.” Amábile responde: “Mas como fazer isso minha Mãe? Não tenho meios, sou tão miserável, ignorante…” Quando acordou após o terceiro sonho, Amábile assim respondeu em oração: “Servir-vos Minha querida Mãe… sou uma pobre criatura, mas para satisfazer o vosso desejo, prometo me esforçar o máximo que eu puder!”

Amábile pediu e seu pai a ajudou a construir uma casinha de madeira, num terreno perto da capela, doado por um barão. O casebre se transformaria num pequeno hospital onde Amábile e Virgínia dedicaram-se arduamente ao cuidado dos doentes, mas, também, ao cuidado e à instrução das crianças. As duas nem sabiam, mas ali estava nascendo a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição.

A primeira pessoa doente que Amábile e Virgínia receberam no pequeno hospital, foi uma mulher que tinha câncer, em estado terminal. A pobre não tinha ninguém que pudesse cuidar dela. Assim, as duas assumiram a mulher no casebre. Era dia 12 de julho de 1890. Mais tarde, Amábile e Virgínia consideraram essa data como o dia da fundação da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. A Obra iniciou no dia em que as duas amigas começaram a atuar como enfermeiras.

A Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição foi a primeira congregação feminina fundada no Brasil. Pela santidade e necessidade dessa Obra, ela foi aprovada rapidamente pelo bispo de Curitiba, em agosto de 1895. Quatro meses após a aprovação eclesiástica, Amábile, Virgínia e outra jovem chamada Teresa Maule, fizeram os votos religiosos na Congregação. Na ocasião, Amábile adotou o nome de irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Além disso, ela foi nomeada superiora da pequena congregação. Por isso, passou a ser chamada de Madre Paulina.

A santidade, a caridade e a prática apostólica de Madre Paulina e suas coirmãs fizeram por atrair muitas outras jovens. Apesar da pobreza e das imensas dificuldades em que as irmãzinhas viviam, o exemplo que elas davam arrastava. Por isso, muitas jovens ingressaram na Congregação. Elas continuaram a cuidar dos doentes, da paróquia, das crianças órfãs e dos pobres. Além disso, começaram uma pequena indústria da seda para terem como sobreviver e manter as obras de caridade.

Em 1903, apenas oito anos após a aprovação eclesiástica, o reconhecimento da Congregação já era notório no Brasil por causa da santidade de vida das Irmãzinhas e do trabalho extremamente necessário que realizavam. Por isso, nesse ano, Madre Paulina foi chamada para estender sua obra a São Paulo. Ela viu no convite um chamado de Deus e aceitou o desafio.

Em 1903, Madre Paulina e algumas irmãs chegaram a São Paulo. Lá, foram morar no bairro Ipiranga, ao lado de uma capela. Logo ela iniciou uma obra importante: a obra da "Sagrada Família", que tinha como objetivo abrigar ex-escravos e suas famílias após a abolição da escravatura, que tinha acontecido em 1888. Essas famílias viviam em péssimas condições e a obra de Madre Paulina deu a elas um pouco de dignidade.

Algum tempo depois, a obra cresceu em número de irmãs e em ações sociais. Nesse ínterim, Madre Paulina passou a ser perseguida e caluniada por uma rica senhora, chamada Ana Brotero. Esta, ajudava nas obras. A perseguição foi tanta que, em 1909 o bispo Dom Duarte destituiu Madre Paulina do cargo de superiora da congregação e a exilou em Bragança Paulista, SP. Madre Paulina, num exemplo de obediência, acatou a ordem do bispo, mesmo que em lágrimas de dor. Na ocasião, ela disse: “Meu  único desejo é que a obra da Congregação continue para que Jesus Cristo seja conhecido e amado por todos.” No “exílio”, Madre Paulina sujeitou-se aos trabalhos mais humildes e pesados, sem murmurar nem reclamar, mas entregando tudo ao Senhor.

Nove anos depois do chamado “exílio”, Madre Paulina foi chamada pelo mesmo bispo de volta à casa geral da Congregação em São Paulo. Suas virtudes de humildade e obediência foram reconhecidas, depois dessa prova de fogo. Por isso, ela foi chamada para viver entre as novas irmãs e servir de exemplo e testemunho cristão para todas. Nesse tempo, destacou-se seu espírito de oração e a grande caridade que tinha para com todas as irmãs, especialmente as doentes.

A partir de 1938 Madre Paulina iniciou um período de grandes sofrimentos físicos. Por causa do diabetes, seu braço direito teve que ser amputado. Depois disso, ficou cega. Foram quatro anos de sofrimentos físicos e de testemunho de fé. Ela permaneceu firme, louvando ao senhor por tudo e sendo cada vez mais amada e admirada pelas irmãzinhas. Por fim, após quatro anos de dor, ela entregou sua alma a Deus, na casa geral da congregação fundada por ela. Era o dia 9 de julho de 1942. O papa João Paulo II celebrou sua beatificação em 1991, em visita ao Brasil. Sua canonização aconteceu em 2002, pelo mesmo Papa. Assim, ela passou a ser a primeira santa canonizada no Brasil.

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br


Santos Áquila e Priscila

08 de Julho

Santos Áquila e Priscila

Áquila e Priscila tinham uma vida unida, sempre em movimento, com o olhar fixo em Cristo. Seu dinamismo em dar testemunho de fé chamou a atenção de Paulo de Tarso, do qual se tornaram amigos íntimos. Os poucos dados sobre a vida deste casal podemos encontrar nas Cartas do Apóstolo dos Gentios e nos Atos, quando Paulo elogia seus amigos.
Áquila era um judeu, nascido em Ponto, atual Turquia; ao imigrar para Roma, apaixonou-se e casou-se com uma jovem romana chamada Priscila. Juntos, iniciam uma fábrica de tendas e, juntos, convertem-se ao cristianismo. Mas, não puderam permanecer por muito tempo na Cidade Eterna, por causa do edito, promulgado pelo Imperador Cláudio, no ano 49, que previa a expulsão de todos os judeus acusados de fomentar tumultos.

Áquila e Priscila transferiram-se para Corinto, uma cidade cosmopolita, onde prosperava o culto a Afrodite. Ali, encontraram Paulo, que o hospedaram em sua casa, o envolveram em seu trabalho, para que pudesse providenciar o necessário para a sua subsistência.
Naquela cidade, capital da Acaia, o apóstolo escolheu, como local de culto e pregação, a casa do prosélito, Tício Justo, próxima àquela dos cônjuges. A amizade deles, arraigada em Jesus, nunca se interrompeu, nem quando Paulo decidiu voltar para a Síria. Os dois esposos acompanham-no, em parte da viagem, e se estabeleceram em Éfeso.

Na cidade jônica da Anatólia, centro de intercâmbios culturais, religiosos e comerciais, os três encontraram-se novamente. Ali, Paulo morou por mais de dois anos e fundou uma Igreja. Áquila e Priscila, sem deixar suas atividades comerciais, ajudaram-no na formação de novos convertidos; de modo especial, acompanharam a iniciação cristã de Apolo, um judeu de Alexandria, profundo conhecedor das Escrituras; ele ficou fascinado pela catequese deles, que se tonou crível pelo testemunho reciprocidade e oblação conjugal.
A grande casa em Éfeso, adquirida pelos cônjuges, tornou-se logo ponto de referência para a comunidade recém-nascida, que ali se encontrava para ouvir a Palavra e celebrar a Eucaristia. Ali, o Apóstolo se hospedou, recordando sempre, com gratidão, a calorosa acolhida dos dois amigos, que, para o salvar - escreve na Carta aos Romanos - "arriscaram a sua vida".

Ao cessar o edito imperial, concernente à expulsão dos judeus, Áquila e Priscila retornaram a Roma, sempre propensos ao zelo missionário e ao testemunho do Ressuscitado.
Nada se sabe sobre a morte dos dois esposos. Há quem identifica Priscila com Prisca, a primeira mulher mártir, decapitada e venerada na igreja homônima do bairro romano do Aventino. Outros, com a Priscila, proprietária das catacumbas na Via Salária. A estas duas era ligada a gens Acilia, que alguns estudiosos intitulam o nome de Áquila.

Fonte: https://www.vaticannews.va


Ide a José

TEMPO COMUM. DÉCIMA QUARTA SEMANA. QUARTA‑FEIRA

– José, filho de Jacó, figura de São José, Esposo virginal de Maria.
– Patrocínio de São José sobre a Igreja universal e sobre cada um de nós. Recorrer a ele nas necessidades.
– Ite ad Ioseph... Ide a José.

I. AO LONGO DOS SÉCULOS, muitos cristãos conscientes da missão excepcional de São José na vida de Jesus e de Maria, procuraram na história do povo hebreu episódios e imagens que prefigurassem o esposo virginal de Maria, pois o Antigo Testamento anuncia o Novo. Numerosos Padres da Igreja viram São José profetizado no filho do patriarca Jacó, que tinha o mesmo nome. O Papa Pio IX, ao proclamar São José padroeiro da Igreja Universal, mencionou esses antigos testemunhos. E a liturgia também faz o mesmo paralelismo. As duas figuras não só tiveram o mesmo nome, como também é possível encontrar neles virtudes e atitudes extraordinariamente coincidentes, numa vida tecida de provas e alegrias.

Por uma série de circunstâncias providenciais, tanto José, o filho de Jacó, como o esposo virginal de Maria foram para o Egito: o primeiro, perseguido pelos irmãos e vendido a uma caravana de mercadores, numa atitude ditada pela inveja que prefigura a traição que se cometeria com Cristo; o segundo, fugindo de Herodes para salvar Aquele que trazia a salvação ao mundo 1.

José, o filho de Jacó, recebeu de Deus o dom de interpretar os sonhos do Faraó, pelo que veio a saber o que aconteceria mais tarde. O novo José também recebeu a mensagem de Deus em sonhos. Àquele – faz notar São Bernardo –, foi‑lhe dada a inteligência dos mistérios dos sonhos; este mereceu conhecer e participar dos mistérios soberanos 2. Foi como se os sonhos do primeiro, ainda que efetivados na sua pessoa, houvessem tido a sua plena realização no segundo.

José teve um sonho e contou‑o aos seus irmãos [...]. «Ouvi – disse‑lhes ele – o sonho que tive: estávamos atando feixes no campo, e eis que o meu feixe se levantou e se pôs de pé, enquanto os vossos o cercavam e se prostravam diante dele [...]». José teve ainda outro sonho, que contou aos seus irmãos: «O sol, a lua e onze estrelas prostravam‑se diante de mim» [...] 3.

Esses sonhos cumpriram‑se quando Jacó, seu pai, se mudou para o Egito com toda a família e se prostrou efetivamente diante do filho, convertido em primeiro ministro do país. Mas, ao mesmo tempo, podemos pensar que prefiguravam o mistério da casa de Nazaré, na qual Jesus, Sol da justiça, e Maria, louvada na liturgia como uma brilhante Lua branca e bela, se submeteriam à autoridade do chefe de família.

O primeiro José obteve a confiança e o favor do Faraó e converteu‑se no intendente dos celeiros de trigo do Egito; quando a fome assolava os povos vizinhos e as multidões recorriam ao Faraó pedindo‑lhe trigo para poderem sobreviver, este dizia‑lhes: Ide a José e fazei o que ele vos disser 4. Quando a fome se espalhou pela terra, José abriu os celeiros e repartiu víveres entre os egípcios... E de todas as regiões vinha‑se ao Egito comprar trigo a José, porque a fome era violenta em toda a terra.

E agora, que a fome também assola a terra – fome principalmente de doutrina, de piedade, de amor –, a Igreja recomenda‑nos: Ide a José. Em face de todas as necessidades que nos afligem pessoalmente, diz‑nos: recorrei ao Santo Patriarca de Nazaré. E Jesus acrescenta: aquele que em vida teve a grande missão de cuidar de Mim e de minha Mãe nas nossas necessidades corporais, aquele que amparou as nossas vidas em tantos momentos difíceis, continuará a cuidar de Mim nos meus membros, que são todos os homens necessitados. Ide a José e ele vos dará tudo quanto vos for necessário.

II. ESTE É O SERVO fiel e prudente a quem o senhor colocou à frente da sua família 5. São palavras que a liturgia aplica a São José: pai fiel e solícito, que atende com prontidão as necessidades dessa grande família do Senhor que é a Igreja.

José governou a casa de Nazaré, e a Sagrada Família não só simboliza a Igreja, mas também de certo modo a conteve, como a semente contém a árvore, e a fonte o rio. A santa casa de Nazaré conteve as premissas da Igreja nascente. Esta é a razão pela qual o Santo Patriarca “considera especialmente confiada a si a multidão dos cristãos que compõem a Igreja, quer dizer, esta imensa família espalhada por toda a terra, sobre a qual – por ser Esposo de Maria e Pai de Jesus Cristo – possui, por assim dizer, uma autoridade de pai. Portanto, é coisa natural e digníssima do bem‑aventurado José que, assim como uma vez proveu a todas as necessidades da família de Nazaré e a protegeu santamente, cubra agora com a sua celestial proteção e defesa a Igreja de Jesus Cristo” 6.

Este patrocínio do Santo Patriarca sobre a Igreja universal é principalmente de ordem espiritual; mas estende‑se também à ordem temporal, como a do outro José, o filho de Jacó, chamado pelo rei do Egito “salvador do mundo”.

A ele recorreram os santos e os bons cristãos de todos os tempos. Santa Teresa relata a grande devoção que tinha por São José e a experiência do seu patrocínio. “Não me recordo até agora de lhe ter suplicado coisa alguma que tenha deixado de me atender. É coisa de causar espanto as grandes mercês que Deus me fez por meio deste bem‑aventurado santo, os perigos de que me livrou, tanto do corpo como da alma. A outros santos o Senhor parece ter‑lhes dado graça para socorrer numa determinada necessidade; quanto a este glorioso santo, tenho experiência de que socorre em todas e de que o Senhor nos quer dar a entender que, assim como lhe esteve sujeito na terra – que, como tinha nome de pai sendo aio, podia mandar‑lhe –, assim no céu faz tudo quanto lhe pede [...].

“Se fosse pessoa com autoridade para escrever, de boa vontade me estenderia em dizer muito detalhadamente as mercês que este glorioso santo me fez a mim e a outras pessoas [...]. Só peço, pelo amor de Deus, que o experimente quem não acreditar em mim, e verá por experiência o grande bem que é encomendar‑se a este glorioso Patriarca e ter‑lhe devoção; em especial, as pessoas de oração deveriam sempre ser‑lhe afeiçoadas, que não sei como se pode pensar na Rainha dos Anjos, no tempo que tanto passou com o Menino Jesus, que não se dêem graças a São José pelo bem que lhes fez” 7.

III. DEVEMOS RECORRER a São José pedindo‑lhe que ampare e proteja a Igreja, pois é o seu defensor e protetor. Pedimos a sua ajuda nas nossas necessidades familiares, espirituais e materiais: Sancte Ioseph, ora pro eis, ora pro me..., rogai por eles, rogai por mim.

Para os homens e mulheres do nosso tempo, e para os de qualquer época, São José constitui uma figura entranhada e venerável, cuja vocação e dignidade admiramos, e cuja fidelidade a serviço de Jesus e de Maria agradecemos; “por São José vamos diretamente a Maria, e por Maria à fonte de toda a santidade, Jesus Cristo” 8.

São José ensina‑nos a tratar Cristo com piedade, respeito e amor: “São José, varão feliz – dizemos‑lhe com uma antiga oração da Igreja –, que tivestes a dita de ver e ouvir o próprio Deus, a quem muitos reis quiseram ver e não viram, ouvir e não ouviram; e não só ver e ouvir, mas ainda trazê‑lo em vossos braços, beijá‑lo, vesti‑lo e guardá‑lo..., ensina‑nos a recebê‑lo com amor e reverência na Sagrada Comunhão, e dá‑nos para isso uma maior delicadeza de alma.

“São José, nosso Pai e Senhor, castíssimo, limpíssimo, tu que mereceste trazer Jesus Menino em teus braços, e lavá‑lo e abraçá‑lo: ensina‑nos a tratar o nosso Deus, a ser limpos, dignos de ser outros Cristos.

“E ajuda‑nos a fazer e a ensinar, como Cristo, os caminhos divinos – ocultos e luminosos – dizendo aos homens que podem ter continuamente, na terra, uma eficácia espiritual extraordinária” 9.

São José proporciona‑nos, além disso, um modelo, cujo ensinamento silencioso podemos e devemos empenhar‑nos em seguir: “Nas coisas humanas, José foi mestre de Jesus; conviveu diariamente com Ele, com carinho delicado, e cuidou dEle com abnegação alegre. Não será esta uma boa razão para considerarmos este varão justo, este Santo Patriarca, em quem culmina a fé da Antiga Aliança, como Mestre de vida interior? A vida interior não é outra coisa senão uma relação de amizade assídua e íntima com Cristo, para nos identificarmos com Ele. E José saberá dizer‑nos muitas coisas sobre Jesus. Por isso, não abandonemos nunca a devoção que lhe dedicamos: Ite ad Ioseph, ide a José, como diz a tradição cristã servindo‑se de uma frase tirada do Antigo Testamento (Gen XLI, 55).

“Mestre de vida interior, trabalhador empenhado no seu ofício, servidor fiel de Deus, em relação contínua com Jesus: este é José. Ite ad Ioseph. Com São José, o cristão aprende o que significa pertencer a Deus e estar plenamente entre os homens, santificando o mundo. Procuremos a intimidade com José, e encontraremos Jesus. Procuremos a intimidade com José, e encontraremos Maria, que encheu sempre de paz a amável oficina de Nazaré” 10.

(1) Cfr. M. Gasnier, José, o silencioso, Editorial Aster, Lisboa, 1984, págs. 12‑13; (2) cfr. São Bernardo, Homilia sobre a Virgem Mãe, 2; (3) cfr. Gen 37, 5‑10; (4) Gen 41, 55; Primeira leiturada Missa da quarta‑feira da décima quarta semana do TC, ano I; (5) Missal Romano, Missa da solenidade de São José, Antífona de entrada, Lc 12, 42; (6) Leão XIII, Enc. Quamquam pluries, 15‑VIII‑l889; (7) Santa Teresa, Vida, 6; (8) Bento XV, Motu proprio Bonum sane et salutare, 25‑VII‑1920; (9) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 553; (10 ) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 56.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


São Vilibaldo

07 de Julho

São Vilibaldo

Vilibaldo nasceu em 22 de outubro de 700, na cidade de Wessel, na Inglaterra. Pertencia à casa real dos Kents, seu pai era o rei Ricardo I e os irmãos eram Vunibaldo e Valburga. Todos eles, mais tarde, inscritos no livro dos santos da Igreja.

Ainda criança, ele foi confiado aos monges beneditinos da Abadia de Waltham, que cuidaram se sua formação intelectual e religiosa. Foi ali, entre eles, que decidiu ser também um monge. Mas, em 720, saiu do mosteiro e da Inglaterra, antes de fazer os votos definitivos, e nunca mais voltou para sua pátria. Na companhia de seu pai e seu irmão, seguiu para uma longa peregrinação, cuja meta final era Jerusalém. A viagem foi interrompida em 722, quando seu pai, o rei, morreu na Itália. Assim, ele e o irmão resolveram ficar em Roma.

Dois anos depois, sem Vunibaldo, continuou a peregrinação percorrendo toda a Palestina, que estava sob o domínio árabe. Os peregrinos, em geral, eram bem acolhidos, entretanto, por causa das tensões políticas com o Império do Oriente, Vilibaldo e outros peregrinos quase foram presos, mas puderam prosseguir o caminho em paz. Cinco anos depois, em 729, retornou para Roma.

Nesse mesmo ano, o papa Gregório II o enviou para o Mosteiro de Montecassino, que havia sido reerguido das ruínas e carecia de um novo quadro de monges. Vilibaldo deu, então, novo fôlego a esse celeiro de homens dedicados à santificação, restabelecendo as regras beneditinas, de acordo com o Livro do fundador, que permanecera a salvo em Roma. Assim, este 'quase-monge' inglês, que ainda continuava sem os votos definitivos, recebeu a relíquia do papa e com ela organizou e formou uma nova geração de monges, dentro da verdadeira tradição e do estilo de vida espiritual instituído pelo fundador. A essa obra dedicou outros dez anos de sua vida.

Novamente foi a Roma, para encontrar-se com o papa sucessor, Gregório III, que lhe pediu ajuda para a evangelização da Germânia. Assim, Vilibaldo tornou a partir, viajando por todos os recantos da Europa. Até ser requisitado por seu tio, o arcebispo da Alemanha, que alicerçava uma estrutura diocesana na região e precisava do seu auxilio. Só em 740 Vilibaldo recebeu a ordem sacerdotal definitiva, para ser consagrado bispo de Eichestat, pelo próprio tio, Bonifácio, hoje santo e chamado 'apóstolo da Alemanha'.

O bispo Vilibaldo construiu sua catedral, fundou um mosteiro e, sobretudo, controlou rigorosamente todos os outros que ali existiam, por determinação de Bonifácio. A partir de então, iniciou uma experiência nova: a de evangelizador itinerante, colocando-se frente a frente com os fiéis que aos poucos iam se convertendo ao cristianismo.

À obra dedicou-se até morrer, no dia 7 de julho de 787, no seu mosteiro de Eichestat, na Alemanha. Com fama de santidade ainda em vida, logo passou a ser venerado num culto espontâneo e vigoroso, muito antes do seu reconhecimento canônico, em 1256.

Texto: Paulinas Internet