Santo Afonso Maria de Ligório
01 de Agosto
Santo Afonso Maria de Ligório
Afonso de Ligório nasceu no dia 27 de setembro de 1696, no povoado de Marianela, em Nápoles, na Itália. Seus pais, cristãos, ricos e nobres, ao se depararem com sua inteligência privilegiada, deram-lhe todas as condições e todo o suporte para tornar-se uma pessoa brilhante. Enquanto seu pai o preparava nos estudos acadêmicos e científicos, sua mãe preocupava-se em educá-lo nos caminhos da fé e do cristianismo. Ele cresceu um cristão fervoroso, músico, poeta, escritor e, com apenas 16 anos de idade, doutorou-se em Direito Civil e Eclesiástico.
Passou a advogar e atender no fórum de Nápoles, porém jamais abandonou sua vida espiritual, que era muito intensa. Sempre foi muito prudente, nunca advogou para a Corte, atendia a todos, ricos ou pobres, com igual empenho. Porém atendia, em primeiro lugar, os pobres, que não tinham como pagar um advogado, não por uma questão moral, mas porque era cristão.
Depois de dez anos, tornara-se um memorável e bem sucedido advogado, cuja fama chegara aos fóruns jurídicos de toda a Itália. Entretanto, por exclusiva interferência política, perdeu uma causa de grande repercussão social, ocasionando-lhe uma violenta desilusão moral. A experiência do mundo e a forte corrupção moral já eram objeto de suas reflexões, após esse acontecimento decidiu abandonar tudo e seguir a vida religiosa.
O pai, a princípio, não concordou, mas, vendo o filho renunciar à herança e aos títulos de nobreza com alegria no coração, aceitou sua decisão. Afonso concluiu os estudos de Teologia, sendo ordenado sacerdote aos 30 anos, em 1726. Escolheu o nome de Maria para homenagear o Nosso Redentor por meio da Santíssima Mãe, aos quais dedicava toda a sua devoção, e agora também a vida.
Desde então, colocou seus muitos talentos a serviço do Povo de Deus, evidenciando ainda mais os da bondade, da caridade, da fé em Cristo e do conforto espiritual que passava a seus semelhantes. Em suas pregações, Afonso Maria usava as qualidades da oratória e colocava sua ciência a serviço do Redentor. As suas palavras eram um bálsamo aos que procuravam reconciliação e orientação, por meio do confessionário, ministério ao qual se dedicou durante todo o seu apostolado. Aos que lhe perguntavam qual era o seu lema, dizia: 'Deus me enviou para evangelizar os pobres'.
Para viver plenamente o seu lema, em 1732, fundou a Congregação do Santíssimo Redentor, ou dos Padres Redentoristas, destinada, exclusivamente, à pregação aos pobres e nas regiões de população abandonada, sob a forma de missões e retiros. Ele mesmo viajou por quase todo o sul da Itália pregando a Palavra de Deus e a devoção a Maria, entremeando sua atividade pastoral com a de escritor de livros ascéticos e teológicos. Com tudo isso, conseguiu a conversão de muitas pessoas.
Em 1762, obedecendo à indicação do papa, aceitou ser o bispo da diocese de Santa Águeda dos Godos, onde permaneceu por 13 anos. Portador de artrite degenerativa deformante, já paralítico e quase cego, retirou-se ao seu convento, onde completou sua extensa e importantíssima obra literária, composta de 120 livros e tratados. Entre os mais célebres estão: 'Teologia moral', 'Glórias de Maria', 'Visitas ao SS. Sacramento' e 'Tratado sobre a oração'.
Após 12 anos de muito sofrimento físico, Afonso Maria de Ligório morreu, aos 91 anos, no dia 1o de agosto de 1787, em Nocera dei Pagani, Salerno, Itália. Canonizado em 1839, foi declarado doutor da Igreja em 1871. O papa Pio XII proclamou santo Afonso Maria de Ligório Padroeiro dos Confessores e dos Teólogos de Teologia Moral em 1950.
Texto: Paulinas Internet
Beato Tito Brandsma
27 de Julho
Beato Tito Brandsma
Em Bolsward, povoado holandês de 10.000 habitantes, do matrimônio de Tito e Postma, em 23/02/ 1881, vinha ao mundo “o quinto” de seis filhos com que o Senhor abençoou aqueles pais cristãos. Desde menino deu provas de uma preclara inteligência e de um coração de ouro, ainda encerradas em um corpo franzino e debilitado.
Aos 17 anos vestiu o hábito do Carmelo exclamando: “a espiritualidade do Carmelo que é vida de oração e de terna devoção a Maria, me levaram à feliz decisão de abraçar esta vida. O espírito do Carmelo me fascinou!”. Emitiu seus votos religiosos em 03/10/1899 e se ordenou sacerdote em 17/ 06/1905.
Cursou brilhantemente seus estudos, primeiro em sua Pátria e depois passou a Roma, onde se doutorou em filosofia. Retornando à Holanda, se entregou de cheio a toda classe de apostolado: escreveu livros e artigos em várias revistas; dá aulas dentro e fora do convento; prega e dirige cursilhos; organiza congressos; confessa e administra outros sacramentos. Todos se admiram de como pode chegar a todos os lugares (a todas as partes). E do que mais se admiram é que, antes de tudo, é religioso observante, alma de profunda oração, fervoroso sacerdote e profundamente sensível e humilde.
Foi cofundador da Universidade Católica de Nimega, catedrático e reitor magnífico da mesma. Assessor religioso de todos os editores de periódicos (revistas, jornais) da Holanda, em cujo campo trabalhou com grande zelo e acerto. Era a pessoa pública mais conhecida da Holanda.
No jardim de sua alma floresceram todas as virtudes. É um enamorado de Jesus Cristo, da Virgem Maria e de sua Ordem do Carmo.
Na tarde de segunda-feira, 19 de janeiro de 1942, foi capturado pelos “SS” nazistas e encarcerado em vários campos de concentração. Seis longos meses de calvário, sobretudo no “inferno” de Dachau (campo de concentração tão terrível como o de Auchwitz). Por fim, por seu grande amor à Igreja e a seus irmãos, no domingo, dia 26 de julho de 1942, seu corpo caía por terra, como o “grão de trigo” do Evangelho, por obra de uma injeção mortal de ácido fênico. Todos no campo repetiam: "morreu um santo!"
Padre Tito Brandsma, em seus meses de prisão, sempre se conservou sereno, levando a todos a bondade e o amor que ardiam em seu coração. Foi um “anjo” para os demais prisioneiros, já acabrunhados e desesperados por tanto sofrimento. A própria enfermeira alemã que lhe aplicou a injeção mortal, mais tarde, no processo de beatificação, testemunhou emocionada a mansidão e a paz conservadas por nosso querido Beato.
Foi beatificado por Sua Santidade São João Paulo II, em 03 de novembro de 1985. Sua festa é celebrada no dia 27 de julho.
Fonte: http://www.santosebeatoscatolicos.com
O Fermento na Massa
TEMPO COMUM. DÉCIMA SÉTIMA SEMANA. SEGUNDA‑FEIRA
– Os cristãos, como o fermento na massa, estão chamados a transformar o mundo por dentro.
– Ser exemplares.
– União com Cristo para sermos apóstolos.
I. O SENHOR ENSINA‑NOS no Evangelho da Missa1 que o Reino de Deus é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha até que toda a massa fica fermentada. As pessoas que escutavam essas palavras do Senhor conheciam bem e estavam familiarizadas com esse fenômeno, pois tinham‑no presenciado muitas vezes nos fornos familiares. Um pouco daquele fermento guardado do dia anterior podia transformar uma boa massa de farinha e convertê‑la numa grande fornada de pão.
A imagem que o Senhor nos propõe deve levar‑nos a considerar em primeiro lugar como é insignificante a quantidade de fermento em comparação com a massa que deve transformar. Sendo tão pouco, o seu poder é muito grande. Isto significa que devemos ser audazes na nossa ação apostólica, porque a força do fermento cristão não é puramente humana: é a força do Espírito Santo que atua na Igreja. O Senhor conta também com as nossas poucas forças e com as nossas fraquezas.
“Porventura o fermento é naturalmente melhor que a massa? Não. Mas é o meio necessário para que a massa se elabore, convertendo‑se em alimento comestível e são.
“Ainda que a traços largos, pensai na eficácia do fermento, que serve para fazer o pão, alimento básico, simples, ao alcance de todos. Em muitos lugares, a preparação da fornada é uma verdadeira cerimônia, de que resulta um produto esplêndido, saboroso, que se come com os olhos. Talvez já o tenhais presenciado.
“Escolhem farinha boa; se possível, da melhor. Trabalham a massa na masseira, para misturá‑la bem com o fermento, em longo e paciente labor. Depois, um tempo de repouso, imprescindível para que a levedura complete a sua missão, inchando a massa.
“Entretanto, arde o lume no forno, animado pela lenha que se consome. E daquela massa, metida no calor do fogo, sai o pão fresco, esponjoso, de grande qualidade. Resultado impossível de alcançar, se não fosse pela levedura – em pequena quantidade – que se diluiu, que desapareceu no meio dos outros elementos, num trabalho eficiente, mas que não se vê”2.
Sem essa pequena quantidade de fermento, a massa não passaria de algo inútil, não comestível, imprestável. Nós, na vida diária, podemos ser causa de luz ou de escuridão, de alegria ou de tristeza, fonte de paz ou de inquietação, peso morto que refreia o caminhar dos outros ou fermento que transforma a massa. A nossa passagem pela terra não deixa de ter conseqüências: ou aproximamos os outros de Cristo ou acabamos por separá‑los dEle.
O Senhor escolheu‑nos para proclamarmos a sua mensagem por todos os lugares, a fim de lhe levarmos, um a um, os que não o conhecem, como fizeram os primeiros cristãos com os seus amigos, com as suas famílias, com os colegas e vizinhos, enquanto trabalhavam ou descansavam. Para isso, não é necessário que façamos coisas insólitas e surpreendentes, pois “ao perceberem que somos iguais a eles em todas as coisas, os outros sentir‑se‑ão impelidos a perguntar‑nos: Como se explica a vossa alegria? Donde vos vêm as forças para vencer o egoísmo e o comodismo? Quem vos ensina a viver a compreensão, a reta convivência e a entrega, o serviço aos outros?
“É então o momento de lhes manifestar o segredo divino da existência cristã, de lhes falar de Deus, de Cristo, do Espírito Santo, de Maria; o momento de procurar transmitir, através das nossas pobres palavras, a loucura do amor a Deus que a graça derramou em nossos corações”3.
Somos fermento na família, no ambiente de trabalho ou de estudo? Manifestamos com a nossa alegria que Cristo vive?
II. TEMOS DE CONSIDERAR também que o fermento só atua quando está em contacto com a massa. E assim, sem distinguir‑se dela, trabalhando por dentro, transforma‑a: “A mulher não se limitou a pôr o fermento, mas além disso escondeu‑o na massa. Do mesmo modo tendes de fazer vós quando estais misturados, identificados com as pessoas..., como o fermento que está escondido, mas não desaparece, antes vai transformando pouco a pouco toda a massa até fazê‑la adquirir a sua própria qualidade”4. Só se nos encontrarmos metidos na entranha do mundo, numa profissão ou ofício, é que poderemos levar novamente a Criação para Deus. E nós fomos chamados para isso por vocação divina.
Os primeiros cristãos, que foram verdadeiro fermento num mundo que se decompunha, conseguiram em pouco tempo que a fé penetrasse nas famílias, no Senado, na milícia e até no palácio imperial: “Somos de ontem e enchemos o mundo e tudo o que é vosso: casas, cidades, ilhas, municípios, assembléias e até os vossos acampamentos, as tribos e as decúrias, os palácios, o senado, o foro”5.
Sem excentricidades, como fiéis comuns, podemos fazer o mesmo, mostrando aos que nos rodeiam o que significa seguir o Senhor de perto: cumprindo com retidão os nossos deveres e comportando‑nos serenamente, como filhos de Deus. A nossa vida, apesar das suas fraquezas, deve ser um ponto de referência claro que arraste os outros para Cristo. “Por esse caminho chega‑se a Deus”, é o que os outros devem poder pensar ao verem a nossa vida coerente com a fé que professamos.
As normas usuais da convivência, por exemplo, podem ser para muitos o começo de um regresso para Deus. Com freqüência, essas normas não passam de atitudes e gestos externos, e só se praticam por costume ou porque tornam mais fácil o trato social... Para os cristãos, devem ser também fruto de uma verdadeira caridade, manifestações de uma atitude interior de sincero interesse pelos outros. Devem ser reflexo exterior de uma íntima união com Deus.
A temperança do cristão é outra das manifestações mais convincentes e mais atrativas da vida cristã. Onde quer que estejamos, temos que esforçar‑nos por dar sempre esse bom exemplo, que fluirá com simplicidade do nosso comportamento; não raras vezes essa atitude discreta, mas delicadamente firme, foi para muitos que a presenciavam o começo de um verdadeiro encontro com Deus.
“Cristo deixou‑nos na terra para que sejamos faróis que iluminam, doutores que ensinam; para que cumpramos o nosso dever como o fermento [...]. Nem sequer seria necessário expor a doutrina se a nossa vida fosse tão radiante, não seria necessário recorrer às palavras se as nossas obras dessem tal testemunho. Já não haveria nenhum pagão se nos comportássemos como verdadeiros cristãos”6.
Neste clima de exemplo, de alegria serena, de ajudas talvez pequenas mas freqüentes, de trabalho bem feito, ser‑nos‑á fácil levar ao Senhor os que convivem ou trabalham conosco. E essa ação apostólica paciente e constante, apoiada na integridade da conduta, é também peça fundamental na busca do nosso destino eterno: “Aquele que devolve ao redil uma ovelha errante garante para si próprio um advogado poderoso diante de Deus”7.
III. PARA VIBRARMOS, para sermos fermento, é necessário que cresçamos na união com Cristo. Não podemos perder essa força interior que nos dá impulso para levarmos a cabo um apostolado que só pode ter por origem o amor a Deus. Sem essa união, todo o trabalho e todo o esforço convertem‑se em agitação estéril e transitória. Sempre houve quem imaginasse presunçosamente que ia transformar o mundo mediante as suas próprias forças; mas não demorou muito a ver a inconsistência dos seus propósitos. Nunca se deixam de cumprir aquelas palavras do Senhor: Sem Mim, nada podeis fazer8.
“Se a levedura não fermenta, apodrece. Pode desaparecer, reavivando a massa; mas pode também desaparecer por se perder, num monumento à ineficácia e ao egoísmo”9. O cristão “apodrece” quando se deixa invadir pela tibieza no seu relacionamento com Deus, quando esmorece no cumprimento dos seus deveres religiosos, quando deixa de lutar contra os seus defeitos, um de cada vez, quando se desleixa em robustecer a sua formação religiosa mediante a leitura de livros de doutrina espiritual...; numa palavra, quando só tem tempo para pensar nas “suas coisas”, não nas de Deus.
Pelo contrário, cumpre a sua missão de fermento quem procura que a sua fé amorosa se manifeste em atos, quem experimenta a necessidade de alimentar continuamente o seu amor a Deus mediante a oração mental, a recepção freqüente dos sacramentos da Confissão e da Eucaristia e o cultivo do espírito de mortificação e penitência nas pequenas situações de cada dia... “É preciso que sejas «homem de Deus», homem de vida interior, homem de oração e de sacrifício. – O teu apostolado deve ser uma superabundância da tua vida «para dentro»”10.
Para sermos fermento eficaz na nossa vida de todos os dias, temos de olhar para Nossa Senhora, porque “a bem‑aventurada Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos, é modelo perfeito desta vida espiritual e apostólica. Enquanto levou na terra uma vida igual à de todos, cheia de cuidados familiares e de trabalhos, estava intimamente associada ao Filho, cooperando de modo absolutamente singular na obra do Salvador”11.
(1) Mt 13, 31‑35; (2) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 257; (3) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 148; (4) São João Crisóstomo, Homilia sobre São Mateus, 46, 2; (5) Tertuliano, Apologético, 37; (6) São João Crisóstomo, Homilia 10 sobre a 1ª Epístola a Timóteo; (7) São Tomás de Villanueva, Sermão do domingo “in albis”, 1, c, págs. 900‑901; (8) Jo 15, 5; (9) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 258; (10) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 961; (11) Conc. Vat. II, Decr. Apostolicam actuositatem, 4.
Santa Maria Madalena
22 de Julho
Santa Maria Madalena
Maria Madalena é a fiel discípula que segue o mestre da Galileia à Judeia junto com muitas outras mulheres, que entregavam seus haveres a Jesus e aos apóstolos. É ainda ela quem está ao lado de Maria, a Mãe de Jesus, junto à cruz, compartilhando as dores da crucificação e a morte do Filho. É também quem permanece em vigília amorosa na madrugada do primeiro dia e é a primeira a correr ao sepulcro.
22 É a ela que o Salvador confia o grande anúncio da ressurreição: 'Vai a meus irmãos e dize-lhes que Subo a meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus'.
Esta é a Madalena que a Igreja hoje comemora, com presença obrigatória no calendário geral. Anteriormente, a liturgia ocidental — influenciada pelos escritos de são Gregório Magno e pela identidade de nome — confundira numa só pessoa Maria de Betânia e Maria de Magdala. Tal identificação fora sempre recusada pela tradição da igreja oriental e pelos escritos dos padres gregos. Com ambos está concorde agora o novo Calendário romano.
Constitui pura lenda a viagem e a estada de Madalena na Gália. Segundo uma antiga tradição grega, Maria Madalena teria ido viver em Éfeso junto à mãe de Jesus e ao apóstolo João.
Retirado do livro 'Os Santos e os Beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente', Paulinas Editora.
Santa Maria Madalena
– Maria Madalena ensina-nos a procurar Jesus em todas as circunstâncias.
– Reconhece Jesus quando Ele a chama pelo seu nome. A sua alegria ao ver Cristo ressuscitado.
– É enviada pelo Senhor aos Apóstolos. A alegria de todo apostolado.
Era originária de Magdala, pequena cidade da Galiléia a noroeste do lago de Tiberíades. Fez parte do grupo de mulheres que seguiam Jesus e o serviam com os seus bens. Esteve presente no Calvário, e na madrugada do dia da Páscoa teve o privilégio de ser a primeira, depois da Virgem, a ver o Redentor ressuscitado, a quem reconheceu quando a chamou pelo seu nome. O seu culto estendeu-se consideravelmente na Igreja do Ocidente durante a Idade Média. Não parece provável que fosse a mesma que derramou sobre os pés de Jesus um frasco de alabastro na casa de Simão o fariseu.
I. Ó DEUS, Vós sois o meu Deus! Busco-Vos com solicitude; de Vós está sedenta a minha alma, deseja-Vos a minha carne, como a terra árida e sedenta, sem água 1, lemos no Salmo responsorial da Missa.
Ao cabo de vinte séculos, continuam a comover-nos a delicadeza, a fidelidade e o amor de Maria Madalena por Jesus. São João narra-nos no Evangelho da Missa 2 como esta mulher se dirigiu ao sepulcro logo que lho permitiu o descanso sabático, quando ainda estava escuro, em busca do Corpo morto do seu Senhor. Ele tinha-a libertado do Maligno 3, a graça frutificara no seu coração, e ela seguira fielmente o Mestre em algumas das suas viagens apostólicas e servira-o generosamente com os seus bens. Nos momentos terríveis da crucifixão, permaneceu no Calvário 4, bem perto dAquele que a tinha curado dos seus males. E quando depositaram Jesus no sepulcro, continuou por ali, fazendo-lhe companhia, como talvez já tenhamos feito com o corpo de uma pessoa amada. Testemunha-o São Mateus: E Maria Madalena e a outra Maria estavam ali sentadas, defronte do sepulcro 5.
Passado o sábado, ao amanhecer do primeiro dia da semana 6, dirigiu-se com outras santas mulheres ao lugar onde se encontrava o Corpo de Jesus, a fim de embalsamá-lo. Mas o Senhor já não está ali: tinha ressuscitado! Viu a pedra retirada e o sepulcro vazio. Correu, pois, e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o puseram 7. Pedro e João foram correndo ao sepulcro. São João conta-nos que aquele momento foi definitivo na sua vida: viu e creu 8. Os dois voltaram novamente para casa 9, mas Maria ficou ali, chorando a ausência do Corpo do Mestre. Com uma tristeza indescritível, sem ainda acreditar na ressurreição, persevera, não quer afastar-se do lugar onde viu pela última vez o Corpo adorável do Senhor.
Consideramos hoje “a intensidade do amor que ardia no coração daquela mulher, que não se afastou do sepulcro do Senhor mesmo quando os discípulos se retiraram. Procurava Aquele a quem não tinha encontrado, procurava-o chorando e, inflamada no fogo do seu amor, ardia em desejos de encontrar Aquele que julgava terem tirado. E assim aconteceu que foi a única que o viu naquele momento; porque, na verdade, o que dá força às boas obras é a perseverança nelas” 10.
Não deixemos nós de procurar sempre Jesus, mesmo nos momentos em que – se o Senhor o permite – o desalento e a escuridão penetrem na alma. Não esqueçamos nunca que Ele sempre está muito perto da nossa vida, ainda que não o vejamos. Está sempre perto, porque, como diz o Apóstolo, “Dominus prope est! – o Senhor me acompanha de perto. Caminharei com Ele, portanto, bem seguro, já que o Senhor é meu Pai..., e com a sua ajuda cumprirei a sua amável Vontade, ainda que me custe” 11.
II. PELA SUA PERSEVERANÇA em procurá-lo, pelo seu grande amor, Maria Madalena recebeu o dom de ser a primeira pessoa a quem Jesus apareceu 12. A princípio, não reconheceu Jesus, apesar de estar ao seu lado. São João diz que voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus13. Apesar de tê-lo visto, não percebeu que era Cristo – vivo! – que estava ao seu lado. Mulher – disse-lhe Jesus –, por que choras? A quem procuras? 14 As lágrimas impediram-na de ver o Mestre, a quem adivinhamos sorrindo, feliz com o encontro, como quando se dirige a nós, que o procuramos sem cessar, porque Ele é o mesmo então e agora. Ela, julgando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei 15.
Então Jesus chamou-a pelo nome, com a entoação própria que empregava quando se dirigia a ela. Disse-lhe Jesus: Maria! 16 Todas as nuvens, acumuladas no seu coração durante os três dias, dissiparam-se instantaneamente. “Quantas penas interiores, quantos tormentos do espírito causados por um grande amor e para os quais não parecia haver consolo, se desfizeram como a espuma ante uma só palavra de Jesus!” 17 E como um rio incontrolável, como se tudo tivesse sido um pesadelo, Maria olhou-o e disse-lhe: Rabboni! Mestre! 18 Como se fosse uma realidade impossível de traduzir, São João quis conservar-nos o termo hebreu, familiar, com que Maria chamara tantas vezes o Senhor.
“Procurava-o entre os mortos – comenta Santo Agostinho –, e Ele apresentou-se vivo. Como vivo? Chama-a pelo nome: Maria, e ela responde imediatamente, mal ouve o seu nome: Rabboni. O hortelão podia ter dito: «A quem procuras? Por que choras?» Mas só Cristo podia ter dito: Maria. Chamou-a pelo nome Aquele que a chamou ao reino dos céus. Pronunciou o nome que tinha escrito no seu livro: Maria. E ela: Rabboni, que significa Mestre. Reconheceu Aquele que a iluminava para que o reconhecesse; viu Cristo em quem antes tinha visto um hortelão. E o Senhor disse-lhe: Não me toques, porque ainda não subi para meu Pai (Jo 20, 17)”19.
Como desaparecem os nossos pesares quando descobrimos Jesus vivo e glorioso, que está ao nosso lado e nos chama pelo nosso nome! Que alegria encontrá-lo tão perto, vê-lo tão familiar, poder chamá-lo com o nosso acento peculiar, que Ele conhece tão bem! A nossa oração é a nossa felicidade mais profunda, e também o sustentáculo em que se apóia toda a nossa vida. Não deixemos de procurar o Senhor se alguma vez não o vemos; se perseverarmos, Ele virá ao nosso encontro e nos chamará pelo nosso nome familiar, e recuperaremos a paz e a alegria, se as tivermos perdido. Uma só palavra de Jesus devolve-nos a esperança e a vontade de recomeçar.
Não esqueçamos em situação nenhuma que “o dia do triunfo do Senhor, da sua Ressurreição, é definitivo. Onde estão os soldados que a autoridade tinha destacado? Onde estão os selos que tinham colocado sobre a pedra do sepulcro? Onde estão os que condenaram o Mestre? Onde estão os que crucificaram Jesus?... Perante a sua vitória, produz-se a grande fuga dos pobres miseráveis. Enche-te de esperança: Jesus Cristo vence sempre” 20. Também vence na nossa vida e triunfa sobre os nossos defeitos e fraquezas, por mais inamovíveis que nos pareçam ser, se sabemos procurá-lo a todo o custo.
III. DEPOIS DE CONSOLAR MARIA, o Senhor encarrega-a de transmitir uma mensagem aos Apóstolos, a quem chama carinhosamente irmãos. E foi Maria Madalena e anunciou aos discípulos: Vi o Senhor!; a seguir, contou-lhes tudo o que tinha acontecido 21. Podemos imaginar a alegria com que Maria teria pronunciado essas palavras: Vi o Senhor! É o gozo e a alegria de todo o apostolado em que se anuncia aos outros, de mil formas diversas, que Jesus vive. São Tomás de Aquino comenta a este propósito: “Por esta mulher, que foi a mais solícita em reconhecer o sepulcro de Cristo, designa-se toda a pessoa que anseia por conhecer a verdade divina e que, portanto, é digna de anunciar aos outros o conhecimento de tal graça – como Maria o anunciou aos discípulos –, para que não deva ser repreendida por ter escondido o talento”. E o santo Doutor conclui: “Esse gozo não nos foi concedido para que o ocultemos no segredo do nosso coração, mas para que o mostremos aos que amam” 22, para que o publiquemos aos quatro ventos.
Quem encontra Cristo na sua vida, encontra-o para todos. A notícia da Ressurreição propagou-se como um incêndio nos primeiros séculos; os cristãos eram conscientes de serem portadores da Boa Nova, discípulos gozosos dAquele que, tendo morrido por todos, ressuscitara ao terceiro dia, como tinha anunciado. Eram um povo feliz no meio de um mundo triste; e a sua alegria, como a nossa, procedia de estarem perto de Cristo vivo. O apostolado é sempre a comunicação de uma mensagem alegre, a mais gozosa de todas.
Pedimos hoje a Santa Maria Madalena que nos consiga do Senhor o seu amor e a sua perseverança em procurá-lo. E uma vez que foi a ela, antes que a ninguém, que Jesus confiou a missão de anunciar aos seus a alegria pascal, alcancemos a alegria de anunciar sempre que Cristo ressuscitou e de vê-lo um dia glorioso no reino dos céus 23. Ali o contemplaremos, como também veremos Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa, que nunca se separou do nosso lado. E veremos com particular alegria todos aqueles a quem tivermos anunciado, em clima de amizade, que Cristo ressuscitado continua entre nós.
(1) Sl 62, 2; Salmo responsorial da Missa do dia 22 de julho; (2) Jo 20, 1-2, 11-18; (3) Lc 8, 2; (4) cfr. Mt 27, 56; (5) Mt 27, 61; (6) cfr. Mt 28, 1; (7) Jo 20, 2; (8) cfr. Jo 20, 8; (9) Jo 20, 10; (10) Liturgia das Horas, Segunda leitura, São Gregório Magno, Homilias sobre o Evangelho, 25, 1-2; (11) cfr. Josemaría Escrivá, Sulco, n. 53; (12) Mc 16, 9; (13) Jo 20, 14; (14) Jo 20, 15; (15) Jo 20, 15; (16) Jo 20, 16; (17) M. J. Indart, Jesus en su mundo, Herder, Barcelona, 1963, pág. 124; (18) Jo 20, 16; (19) Santo Agostinho, Sermão 246, 3-4; (20) Josemaría Escrivá, Forja, Quadrante, São Paulo, 1987, n. 660; (21) cfr. Jo 20, 18; (22) São Tomás, em Catena Aurea, vol. VIII, pág. 400; (23) cfr. Oração coleta da Missa.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Lourenço de Brindisi
21 de Julho
São Lourenço de Brindisi
Geralmente, as chamadas 'crianças superdotadas', aquelas que demonstram um dom excepcional para alguma especialidade, quando crescem, parecem 'perder os poderes' e nivelam-se com as demais pessoas. São poucas as exceções que merecem ser recordadas. Mas, com certeza, uma delas foi Júlio César Russo, que nasceu no dia 22 de julho de 1559, em Brindisi, na Itália.
Seu nome de batismo mostrava, claramente, a ambição dos pais, que esperavam para ele um futuro brilhante, como o do grande general romano. Realmente, anos depois, lá estava ele à frente das forças cristãs lutando contra a invasão dos turcos muçulmanos, que ameaçava chegar ao coração da Europa depois de terem dominado a Hungria. Só que não empunhava uma espada, mas sim uma cruz de madeira. Nessa ocasião, já vestia o hábito franciscano, respondia pelo nome de Lourenço e era o capelão da tropa, além de conselheiro do chefe do exército romano, Filipe Emanuel de Lorena.
Vejamos como tudo aconteceu. Aos seis anos de idade, o então menino Júlio César encantava a todos com o extraordinário dom de memorizar as páginas de livros, em poucos minutos, para depois declamá-las em público. E cresceu assim, brilhante nos estudos. Quando ficou órfão, aos 14 anos, foi acolhido por um tio que residia em Veneza. Nesta megalópole, pôde desenvolver muito mais seus talentos para os estudos.
Mas a religião o atraia de forma irresistível. Dois anos após chegar a Veneza, ele atendeu ao chamado e ingressou na Ordem dos Frades Menores de São Francisco de Assis. Em seguida, juntou-se aos capuchinhos de Verona, onde recebeu a ordenação e assumiu o novo nome, em 1582. Após completar sua formação na Universidade de Pádua, voltou para Veneza em 1586 como professor dos noviços da Ordem, sempre evidenciando os mesmos dotes da infância.
Tornou-se especialista em línguas, e sua erudição levou-o a ocupar altos postos em sua Ordem e também a serviço do sumo pontífice. Foi provincial em Toscana, Veneza, Gênova e Suíça e comissário no Tirol e na Baviera, pregando firmemente a ortodoxia católica contra a Reforma Protestante, além de animar as autoridades e o povo na luta contra a dominação dos turcos muçulmanos. Lourenço foi, mesmo, o superior-geral da sua própria Ordem e embaixador do papa Paulo V, com a missão de intermediar príncipes e reis em conflito.
Lourenço de Brindisi morreu no dia do seu aniversário, em 1619, durante sua segunda viagem à Península Ibérica, na cidade de Lisboa, em Portugal. Foi canonizado em 1881 e recebeu o título de 'Doutor da Igreja' em 1959, outorgado pelo papa João XXIII. A sua festa é celebrada um dia antes do aniversário de sua morte, dia 21 de julho.
Texto: Paulinas Internet
Santo Elias
20 de Julho
Santo Elias
O profeta Elias aparece nas Sagradas Escrituras como um homem de fogo, completamente abrasado pelo amor de Deus. Homem de silêncio e da contemplação. Quando aparece em público é para falar de Deus. A Bíblia conta dele as maiores maravilhas e faz os mais belos elogios: pela sua oração Deus negou a chuva à terra durante mais de três anos, e quando de novo rezou no Monte Carmelo pelo do povo, Deus enviou abundantemente a chuva. Fugindo do terrível rei Acab e escondido numa gruta, o Senhor ordenou a um corvo que durante muitos dias levasse pão a Elias. Na sua fuga ia o profeta esfomeado. Era o tempo da seca em que Deus não abençoava nem os homens nem a terra com a chuva. Foi pois neste período que Elias abençoou uma viúva pedindo ao Senhor que, enquanto durasse a seca, não lhe faltasse nem a farinha nem o azeite para o seu sustento e do seu filho, em reconhecimento pela hospitalidade desta família pobre que socorreu o faminto profeta de Deus. E, mais tarde, tendo morrido o único filho desta viúva, Elias ressuscitou o menino.
No monte Carmelo fez Elias descer fogo sobre o sacrifício, mostrando assim que o deus Baal e os seus profeta eram falsos. Novamente se viu forçado a fugir a Acab e à sua mulher Jezabel. Faminto e desalentado no deserto para fortalecer e alimentar Elias com o pão e a água para o acompanhar durante quarenta dias e quarenta noites até ao monte de Deus. Uma vez aqui, manifestou-se-lhe Deus fazendo fustigar a terra por um vento impetuoso e por um tremendo terramoto. Deus apenas esteve presente numa brisa suave que refrescou o rosto de Elias.
Após a manifestação no monte de Deus, Elias predisse a morte do rei Acab e do seu filho Ocozias, ambos desagradáveis ao senhor, e da rainha Jezabel, pagã e má.
Sagrou reis e profetas e elegeu como seu sucessor, Eliseu, a quem deixou o seu manto e o seu espírito como herança, quando foi elevado ao céu num carro de fogo puxado por cavalos de fogo.
Pelo seu amor ao silêncio e à contemplação, pela fortaleza do seu espírito de profeta e pela ligação à montanha do Carmelo, desde muito cedo os carmelitas escolheram Elias como o seu inspirador espiritual, tal como haviam escolhido Maria, prefigurado na nuvenzinha que Elias vira no Carmelo, como Mãe e Irmã da Ordem por eles fundada.
Fonte: http://www.carmelitas.pt
Santa Macrina
19 de Julho
Santa Macrina
Uma família de santos, a de Macrina – filha primogênita de Basílio e Amélia, que tiveram dez filhos. Denominava-se “a jovem”, porque Macrina era o nome da avó paterna (também santa, como os pais). E santos igualmente foram os irmãos Basílio e Gregório de Nissa, bispos e padres da Igreja.
Dotada de extraordinária beleza, Macrina teve desde cedo vários pretendentes. O pai escolheu aquele que lhe pareceu mais adequado; todavia ele morreu durante o noivado. Assim, por fidelidade a sua memória, Macrina quis permanecer virgem. Ajudou a mãe, que ficara viúva, a educar os irmãozinhos, instruindo-os nas Sagradas Escrituras; depois, quando se tornaram independentes, convenceu a mãe a retirar-se com ela às margens do rio Íris, no Ponto, onde fundaram um mosteiro.
Retornando do Concílio de Antioquia, o irmão Gregório passou com ela os últimos momentos da vida. Esse colóquio, de alto conteúdo espiritual, foi registrado pelo bispo de Nissa, no diálogo que chegou até nós, intitulado De anima ET resurrectione.
Retirado do livro: 'Os Santos e os Beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente', Paulinas Editora.
Não Quebrará a cana Rachada
TEMPO COMUM. DÉCIMA QUINTA SEMANA. SÁBADO
– A mansidão e a misericórdia de Cristo.
– Jesus nunca dá ninguém por perdido. Ajuda‑nos ainda que tenhamos pecado.
– O nosso comportamento para com os outros deve estar cheio de compaixão, de compreensão e de misericórdia.
I. O EVANGELHO DA MISSA mostra‑nos Jesus que se afasta da roda dos fariseus, pois estes reuniram‑se em conselho para ver como levá‑lo à morte. Ainda que se tivesse retirado para um lugar mais seguro – talvez a Galiléia1 –, muitos o seguiram e ele curou‑os a todos, e ordenou‑lhes que não o descobrissem2. É esta a ocasião em que São Mateus, movido pelo Espírito Santo, se refere ao cumprimento da profecia de Isaías3 sobre o Servo de Javé, na qual se prefigura o Messias, Jesus, com traços bem definidos: Eis o meu servo, o meu escolhido, em quem a minha alma pôs as suas complacências. Farei repousar sobre ele o meu Espírito e ele anunciará a justiça entre as nações. Não disputará nem vociferará; ninguém o ouvirá gritar nas praças. Não quebrará a cana rachada nem apagará a mecha que fumega.
O Messias fora profetizado por Isaías, não como um rei conquistador, mas como Aquele que serve e cura. A sua missão caracterizar‑se‑ia pela mansidão, pela fidelidade e pela misericórdia, conforme descreve o Profeta servindo‑se de imagens belíssimas. A cana rachada e a mecha fumegante representam todo o tipo de misérias e sofrimentos a que a humanidade está sujeita. O Messias não acabará de quebrar a cana já rachada; pelo contrário, inclinar‑se‑á sobre ela, endireitá‑la‑á com sumo cuidado e devolver‑lhe‑á a fortaleza e a vida que se esvaem. Do mesmo modo, não apagará a mecha de uma lâmpada que parece extinguir‑se, mas empregará todos os meios para que volte a alumiar com uma luz clara e radiante. Esta é a atitude de Jesus em relação aos homens.
Na vida em geral, dizemos às vezes de um doente que a sua doença “não tem remédio”, e dá‑se por impossível a sua cura. Na vida espiritual, não acontece o mesmo: Jesus é o Médico que nunca dá por irrecuperáveis os que adoeceram da alma. Nem o homem mais endurecido no pecado é jamais abandonado pelo Mestre; também para esse, Jesus Cristo tem um remédio que cura. Em cada homem, Ele sabe ver a capacidade de conversão que existe sempre na alma. A sua paciência e o seu amor nunca dão ninguém por perdido. Podemos nós dar alguém por perdido? E se, por desgraça, nós mesmos nos encontramos alguma vez nessa triste situação, podemos desconfiar de quem disse de Si próprio que veio buscar e salvar o que estava perdido?
Como cana rachada foram Maria Madalena, e o bom ladrão, e a mulher adúltera... O Senhor recuperou Pedro, que estava despedaçado pelas negações da sua mais triste noite, e nem sequer lhe fez prometer que não voltaria a negá‑Lo. Limitou‑se a perguntar‑lhe: Simão, filho de João, amas‑me? É a pergunta que nos faz a todos, quando não sabemos ser inteiramente fiéis. Amas‑me? Pensemos hoje como é o nosso amor, como respondemos a essa única pergunta que o Senhor nos faz quando sucumbimos sob o peso das nossas misérias.
II. NÃO QUEBRARÁ a cana rachada nem apagará a mecha que fumega...
A misericórdia de Jesus pelos homens não decaiu nem por um instante, apesar das ingratidões, contradições e ódios que encontrou. O amor de Cristo pelos homens é profundo, porque se preocupa acima de tudo pela alma, para conduzi‑la com ajudas eficazes à vida eterna; e, ao mesmo tempo, é universal, estende‑se a todos. Ele é o Bom Pastor de todas as almas, conhece‑as todas e chama‑as pelo seu nome4. Não deixa nenhuma perdida no monte. Deu a sua vida por cada homem, por cada mulher.
A sua atitude, quando alguém se afasta, é a de lhe dar as ajudas suficientes para que volte, e todos os dias sai ao terraço para ver se o distingue no horizonte. E se alguém o ofendeu mais, empenha‑se em atraí‑lo ao seu Coração misericordioso. Não quebra a cana rachada, não acaba de parti‑la para depois abandoná‑la, mas recompõe‑na com tanto mais cuidado quanto maior for a sua debilidade.
O que é que diz aos que estão quebrados pelo pecado, aos que já não dão luz porque a chama divina nas suas almas se apagou? Vinde a mim todos os que estais fatigados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei5. “Ele tem piedade da grande miséria a que o pecado os conduziu; leva‑os ao arrependimento sem julgá‑los com severidade. É o pai do filho pródigo que abraça o filho infelicitado pela sua falta. Perdoa a mulher adúltera prestes a ser lapidada; recebe Madalena arrependida e descobre o mistério de amor que trazia escondido debaixo da sua vida de pecado; fala da vida eterna à Samaritana apesar da sua má conduta; promete o céu ao bom ladrão. Verdadeiramente, nEle se realizam as palavras de Isaías: Não quebrará a cana rachada nem apagará a mecha que ainda fumega”6.
Nunca ninguém nos amou nem nos amará como Cristo. Ninguém nos compreenderá melhor. Quando os fiéis de Corinto andavam divididos dizendo uns: “Eu sou de Paulo”, e outros: “Eu sou de Apolo, eu de Cefas, eu de Cristo”, São Paulo escreveu‑lhes: Porventura foi Paulo crucificado por vós?7 É o argumento supremo.
Não podemos desesperar nunca. Deus quer que sejamos santos, e põe o seu poder e a sua providência a serviço da sua misericórdia. Por isso, não devemos deixar passar o tempo olhando para a nossa miséria, perdendo Deus de vista, deixando que os nossos defeitos nos descoroçoem e sentindo constantemente a tentação de exclamar: “Para que continuar lutando, se pequei tantas vezes, se fui tão desleal com o Senhor?” Não, nós devemos confiar no amor e no poder do nosso Pai‑Deus, e no do seu Filho, enviado ao mundo para nos redimir e fortalecer8.
Que grande bem para a nossa alma se nos sentirmos hoje, diante do Senhor, como uma cana rachada que necessita de muitos cuidados, ou como o pavio de uma débil chama que precisa do azeite do amor divino para brilhar como o Senhor quer! Não percamos nunca a esperança se nos vemos fracos, com defeitos, com misérias. O Senhor não nos abandona; basta que ponhamos em prática os meios convenientes e que não rejeitemos a mão que Ele nos estende.
III. ESTA MANSIDÃO e misericórdia de Jesus pelos fracos apontam‑nos o caminho a seguir para levarmos os nossos amigos até Ele, pois as nações porão a sua esperança no seu nome9. Cristo é a esperança salvadora do mundo.
Não podemos estranhar a ignorância, os erros, a dureza e resistência que tantos homens opõem a Deus. O apreço sincero por todos, a compreensão e a paciência devem ser a nossa atitude para com eles. Pois “quebra a cana rachada aquele que não dá a mão ao pecador nem leva a carga do seu irmão; e apaga a mecha que fumega aquele que despreza, nos que ainda crêem um pouco, a pequena centelha da fé”10.
Os nossos amigos devem encontrar na nossa amizade e nas nossas atitudes um firme apoio para a sua fé. Por isso, devemos aproximar‑nos da fraqueza que manifestam: para que se torne fortaleza; devemos vê‑los com olhos de misericórdia, como Cristo os vê; com compreensão, com um afeto sincero, aceitando o claro‑escuro formado pelas suas misérias e grandezas.
Por um lado, devemos ter presente que “servir os outros, por Cristo, exige que sejamos muito humanos [...]. Temos que compreender a todos, temos que conviver com todos, temos que desculpar a todos, temos que perdoar a todos”11. Por outro, “não diremos que o injusto é justo, que a ofensa a Deus não é ofensa a Deus, que o mau é bom. No entanto, perante o mal, não responderemos com outro mal, mas com a doutrina clara e com a ação boa: afogando o mal em abundância de bem (cfr. Rom XII, 21). Assim Cristo reinará na nossa alma e nas almas dos que nos rodeiam”12.
Os frutos desta dupla atitude de compreensão e fortaleza são tão grandes – para a própria pessoa e para os outros – que bem vale a pena o esforço por ver, naqueles com quem convivemos diariamente, as suas almas; por vê‑los tão necessitados como os via o Senhor.
Diz um autor dos nossos dias13 que não é suficiente apreciar os homens brilhantes por serem brilhantes, os bons por serem bons. Devemos apreciar todos os homens por serem homens, todos os homens, o fraco, o ignorante, o que não tem educação, o mais obscuro. E só poderemos chegar a esse ponto se a nossa concepção do que é o homem o fizer objeto de estima. O cristão sabe que todos os homens são imagem de Deus, que têm um espírito imortal e que Cristo morreu por eles.
A consideração freqüente desta verdade ajudar‑nos‑á a não nos afastarmos dos outros, sobretudo quando os seus defeitos, faltas de educação ou mau comportamento se tornarem mais evidentes. Imitando o Senhor, nunca quebraremos uma cana rachada. Como o bom samaritano da parábola, aproximar‑nos‑emos do ferido e lhes vendaremos as feridas, e lhes aliviaremos a dor com o bálsamo da nossa caridade. E um dia ouviremos dos lábios do Senhor estas doces palavras: o que fizeste a um destes, a Mim o fizeste14.
Ninguém como Maria conhece o mistério da misericórdia divina. Ela sabe qual foi o seu preço e como foi alto. Neste sentido, chamamo‑la também Mãe de misericórdia... Mãe da divina misericórdia15. A Ela recorremos ao terminarmos a nossa meditação, na certeza de que Maria nos leva sempre a Jesus e nos anima a ser, como o seu Filho, compreensivos e misericordiosos.
(1) Cfr. Mc 3, 7; (2) Mt 12, 15‑16; (3) Is 42, 1‑4; (4) Mt 11, 5; (5) Mt 11, 28; (6) R. Garrigou‑Lagrange, El Salvador, Rialp, Madrid, 1965, pág. 322; (7) 1 Cor 1, 13; (8) cfr. B. Perquin, Abba, Padre, Herder, Barcelona, 1968, pág. 89; (9) Mt 12, 21; (10) São Jerônimo, em Catena Aurea, vol. II, pág. 166; (11) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 182; (12) ib.; (13) cfr. J. Sheed, Sociedad y sensatez, Herder, Barcelona, 1963, págs. 37‑38; (14) cfr. Mt 25, 40; (15) cfr. João Paulo II, Enc. Dives in misericordia, 30‑XI‑1980, 9.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Francisco Solano
18 de Julho
São Francisco Solano
Francisco era descendente de nobres, nasceu no dia 10 de março de 1549, em Montilla, na Andaluzia. Os pais, Mateus Sanches Solano e Ana Gimenez, cristãos fervorosos, muito cedo o enviaram para o colégio dos jesuítas, que formariam seu caráter. Aos vinte anos, por inspiração e dons, ordenou-se franciscano. A sua conduta exemplar logo o levou a cargos importantes dentro da Ordem, os quais logo abandonava. O que mais ansiava era ser um missionário. Mesmo não tendo uma retórica eloqüente, arrebatava seus ouvintes pela convicção na fé que professava.
Contudo teve de adiar por uns tempos a execução de seus planos de viajar, porque precisou socorrer sua própria pátria. Uma devastadora peste atacou a Espanha e ele logo pediu para ser aceito como enfermeiro. Tratando dos doentes, principalmente dos mais pobres, acabou contraindo a doença. Mas isso não o abateu. Assim que se recuperou, voltou a cuidar deles.
Enfim, Francisco foi escalado para uma missão evangelizadora no novo continente latino-americano, embarcando em 1589. No caminho, já começaram a despontar os dons que marcariam toda a sua existência. Os relatos informam que uma violenta tempestade atingiu o seu navio, que encalhou num banco de areia. A situação era muito crítica e poderia ser fatal para todos. Porém, com sua presença e palavra de fé, acalmou as pessoas. Em vez de pânico, o que se viu foi brotar a confiança em Deus. Com isso, acabou batizando muitos passageiros e também os escravos negros que viajavam com eles. Logo depois, o que Francisco dissera aconteceu. Um outro navio os avistou e a salvo chegaram ao destino: Lima, no Peru.
Foram quinze anos de apostolado incansável, marcados pela caridade cristã e pela pregação da palavra de Cristo. Francisco protagonizou vários acontecimentos que marcariam não só sua história, como a da própria Igreja. Tinha uma capacidade milagrosa para aprender as novas línguas e a cada tribo catequizava em seu próprio dialeto, conquistando os índios de maneira simples e tranqüila. Além disso, curou muitos doentes, apenas com o toque de seu cordão de franciscano. Livrou totalmente uma vasta região da praga dos gafanhotos. E fez brotar água num lugar seco e deserto, onde muitos doentes se curaram apenas por bebê-la, hoje conhecida como "Fonte de São Francisco Solano".
Enfim, percorreu os três mil quilômetros entre Lima e Tucumán, às margens do rio da Prata, na Argentina, deixando um rastro de pagãos convertidos e feitos fantásticos. Mesmo viajando sem cessar, de Missão em Missão, como catequista, jamais abandonou a caridade e o cuidado com os doentes, características típicas de um frade.
Passou os últimos cinco anos de sua vida em Lima, reformando os conventos de sua Ordem e restaurando a disciplina franciscana que fora perdida. Aos sessenta e quatro anos, pela graça de seus dons, conheceu com antecedência a hora de sua morte. Preparou-se, assim, para sua chegada em 14 de julho de 1631.
Ele foi canonizado, em 1726, pelo papa Bento XIII. São Francisco Solano, também chamado de Apóstolo do Peru e da Argentina, venerado como Padroeiro dos Missionários da América Latina, é festejado no dia de sua morte.
Fonte: http://arquisp.org.br