01 de Outubro 2019

A SANTA MISSA

26ª Semana do Tempo Comum – Terça-feira 
Memória: Santa Teresinha do Menino Jesus, virgem e dra. da Igreja
Cor: Branca

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1ª Leitura: Zac 8, 20-23

 “Virão muitos povos e nações fortes visitar o Senhor em Jerusalém” 

Leitura da Profecia de Zacarias

20 Isto diz o Senhor dos exércitos: Virão ainda povos e habitantes de cidades grandes, 21 dizendo os habitantes de uma para os de outra cidade: ‘Vamos orar na presença do Senhor, vamos visitar o Senhor dos exércitos; eu irei também. 22 Virão muitos povos e nações fortes visitar o Senhor dos exércitos e orar na presença do Senhor. 23 Isto diz o Senhor dos exércitos: Naqueles dias, dez homens de todas as línguas faladas entre as nações vão segurar pelas bordas da roupa um homem de Judá, dizendo: ‘Nós iremos convosco; porque ouvimos dizer que Deus está convosco.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 86(87), 1-3.4-5.6-7(R. Zac 8, 23)

R. Nós temos ouvido que Deus está convosco.

O Senhor ama a cidade que fundou no Monte santo;
ama as portas de Sião *
mais que as casas de Jacó.
3 Dizem coisas gloriosas da Cidade do Senhor.       R.

4 ‘Lembro o Egito e Babilônia entre os meus veneradores.
Na Filistéia ou em Tiro ou no país da Etiópia, *
este ou aquele ali nasceu.
5 De Sião, porém, se diz: ‘Nasceu nela todo homem; *
Deus é sua segurança’.       R.

6 Deus anota no seu livro, onde inscreve os povos todos: *
‘Foi ali que estes nasceram’.
7 E por isso todos juntos a cantar se alegrarão;
e, dançando, exclamarão: * ‘Estão em ti as nossas fontes!’        R. 

Evangelho: Lc 9,51-56 

 Ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém.  

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

51 Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém 52 e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram num povoado de samaritanos, para preparar hospedagem para Jesus. 53 Mas os samaritanos não o receberam, pois Jesus dava a impressão de que ia a Jerusalém. 54 Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: ‘Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?’ 55 Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os. 56 E partiram para outro povoado.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Santa Teresinha do Menino Jesus

01 de Outubro

Santa Teresinha do Menino Jesus

Teresinha nasceu no seio de uma família profundamente cristã. Os seus pais foram um casal ideal: o pai relojoeiro, a mãe bordadeira do famoso ponto de Alençon. As suas quatro irmãs abraçaram a Vida Religiosa. Três foram carmelitas no mesmo Carmelo de Lisieux, onde viveu Teresinha os seus jovens anos. Teresinha era a irmã mais nova (1873-1897). As suas quatro irmãs tiveram a sorte de a ver nos altares canonizada por Pio XI em 1925. Alguma delas terá também a sorte de ver como se inicia a causa da canonização dos seus pais.
Da vida de Teresinha conhecemos quase tudo: a sua vida em família, porque ela a contou deliciosamente na primeira parte do livro «História de uma Alma». A sua vida no Carmelo, desde os 16 aos 24 anos, porque foi meticulosamente investigada e testemunhada nos processos da beatificação e canonização, hoje publicados. Conhecemos também a sua constante “presença” entre os homens depois da morte, porque Teresinha prometeu «passar o Céu a fazer o bem sobre a terra» e tem cumprido sua palavra em proporções fabulosas.
Os fatos mais destacados da sua vida em família são: o seu despertar precoce: «desde a idade de três anos, comecei a não negar nada a Deus de tudo o que me pedia»; a morte de sua mãe, quando Teresinha tinha apenas quatro anos (recordada e contada por ela em pormenor); a mudança da família de Alençon para Lisieux (aos quatro anos); o grande acontecimento da sua primeira comunhão (aos onze anos); a doença de Teresinha (aos dez anos) curada prodigiosamente pelo sorriso da Virgem Maria e o drama da sua vocação para o Carmelo, que a fará recorrer pessoalmente ao Papa Leão XIII para vencer os últimos obstáculos e entrar no Carmelo aos quinze anos. Por esta altura já ela tinha vivido a graça de uma profunda conversão pessoal, e descoberto o poder da oração e sua profunda vocação orante, que coincide com o julgamento do criminoso Pranzini.
No Carmelo, Teresinha era feliz. Porém com a bem-aventurança dos que sofrem. Na clausura assiste de coração destroçado à doença de seu pai que tem de ser internado num hospital psiquiátrico. Ela propõe a si mesma fidelidade absoluta à vida carmelita e fá-lo desde o primeiro momento. Alimenta-se espiritualmente com os escritos de S. João da Cruz. Faz a sua Profissão Religiosa depois de longa espera e muitos atrasos, quando completou dezassete anos. Para além dos votos religiosos, e de forma muito secreta, faz a sua entrega total; é uma oração delicada e atrevida, escrita num simples bocado de papel, mas que chegou até nós. Ao fim de pouco tempo passa a ser ajudante da mestra de noviças. Sem título. Mas rapidamente se torna uma verdadeira mestra espiritual. Cuida das almas como se fossem autênticas jóias. Alterna os trabalhos mais humildes com a tarefa espontânea de escrever poemas. Pinta quadros. Redige com a maior intimidade a primeira parte da Historia de uma Alma, como um pequeno ramalhete de recordações familiares para a sua irmã Paulina.
Inesperadamente, chega-lhe a oferta de um irmão sacerdote. E logo outro. Dois jovens que depois das ordenações partem para as missões. E que durante a sua vida se apoiaram nas orações da Teresinha.
«Orar pelos sacerdotes missionários» será uma segunda missão da sua vida de carmelita. Na noite de Quinta-Feira para Sexta-Feira Santa de 1896, Teresinha tem a sua primeira hemoptise, triste porta de entrada para a sua doença. Pouco depois, entra na noite da fé, terrível prova purificadora que a acompanhará até à morte. Gravemente doente, escreve as duas últimas partes de Historia de uma Alma, cujas páginas finais têm de ser escritas a lápis por já não segurar a caneta.
Pouco antes de entrar na «noite», Teresinha escreveu para si uma oração com sentido sacrificial, como se fosse ofertório da sua vida: é o «Acto de oferta ao amor misericordioso de Deus».
Os longos meses de enfermidade foram de um enorme exemplo e riqueza espiritual. O seu quarto converteu-se pouco a pouco numa sala de aulas de teologia espiritual e de santidade. Por fim, as irmãs que a assistem mais de perto decidem apontar em vários cadernos as diferentes etapas da sua doença, palavras e reacções, tais como «a paixão e morte de Teresinha» (será sob este título que, meio século depois, um teólogo analisará aquelas vivências). Essas pérolas possuimo-las hoje num precioso livro com o título Ultimas Conversações.
Teresinha morreu a 30 de Setembro de 1897, aos 24 anos de idade. Só um ano depois se publicou timidamente História de um Alma, que rapidamente se difundiu no mundo inteiro em milhões e milhões de exemplares, e em tantas línguas como nunca acontecera com livro algum, quer de literatura, quer de espiritualidade. Comparável unicamente à difusão da Bíblia. O grande contributo e o grande acontecimento de Teresinha foi o seu caminho de infância espiritual: versão viva e límpida do Evangelho de Jesus, vivido com toda a sensibilidade e radicalidade. Nele reafirma o valor e a fecundidade do amor. O valor das pequenas acções. A confiança sem limites. A fé na acção e na graça de Deus. Para ela,«tudo é graça». As suas parábolas predilectas, semelhantes às de Jesus, são: o elevador, a bola-brinquedo, a florzinha desprendida do muro...
Teresinha acredita na força da oração. De jovem, aos 14 anos, reza com toda a sua alma pelo desgraçado Pranzini. Mais tarde, de carmelita, ora e oferece a sua vida pelos sacerdotes e missionários, inclusive pelos anónimos e desconhecidos. Descobre que a quinta essência da sua vida contemplativa é desempenhar no coração da Igreja o serviço do amor: «no coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor».

Fonte: www.carmelitas.pt


A Caminho de Jerusalém

TEMPO COMUM. VIGÉSIMA SEXTA SEMANA. TERÇA-FEIRA

– Não desanimar pelos nossos defeitos: o Senhor conta com eles e com o nosso empenho em arrancá-los.
– A ajuda incessante do Espírito Santo.
– O defeito dominante.

I. QUANDO SE APROXIMAVA a hora de partir deste mundo, Jesus mostrou-se firmemente decidido a ir a Jerusalém. E, ao entrar numa cidade de samaritanos, os seus habitantes não o receberam porque dava a impressão de ir a caminho de Jerusalém 1. O Senhor, longe de tomar qualquer represália contra aqueles samaritanos por não terem tido com Ele a menor prova de hospitalidade, não os criticou, mas foram para outra aldeia. Já a reação dos Apóstolos foi bastante diferente. Tiago e João propuseram a Jesus: Senhor, queres que mandemos que desça fogo do céu e os consuma? E o Senhor aproveitou a ocasião para ensinar-lhes que é preciso querer a todos, compreender mesmo os que não nos compreendem.

Muitas passagens do Evangelho põem a descoberto os defeitos dos Apóstolos, ainda por polir, e como vão calando nos seus corações as palavras e o exemplo do Mestre. Deus conta com o tempo e com as fraquezas e defeitos dos seus discípulos de todas as épocas. Poucos anos após o episódio dos samaritanos, São João escreverá: Quem não ama não conhece a Deus; porque Deus é caridade 2. Converte-se no Apóstolo da caridade e do amor! Sem deixar de ser ele mesmo, o Espírito Santo foi transformando pouco a pouco o seu coração. O tema central das suas Epístolas é precisamente a caridade. Santo Agostinho, ao comentar a primeira delas, sublinhará que, nessa carta, o Apóstolo “disse muitas coisas, praticamente todas, sobre a caridade” 3. Foi ele quem nos transmitiu o ensinamento do Senhor sobre o mandamento novo, o mandamento que nos distinguiria como discípulos de Jesus 4. Junto do Mestre, aprendeu bem que, se nos amamos mutuamente, Deus permanece em nós, e a sua caridade é em nós perfeita 5.

A tradição fez chegar até nós alguns pormenores dos últimos anos da vida de São João, que confirmam a solicitude com que o Apóstolo cuidou de que fosse mantida a fidelidade ao mandamento do amor fraterno. São Jerônimo conta que, quando os discípulos o levavam às reuniões dos cristãos – pois pela sua idade já não podia ir sozinho –, repetia constantemente: “Filhinhos, amai-vos uns aos outros”. E como certa vez lhe perguntassem por que sempre dizia o mesmo, respondeu: “É o mandamento do Senhor, e, se se cumpre, isso basta” 6.

Para nós, que nos vemos cheios de defeitos, é um consolo e um estímulo saber que os santos também os tiveram, mas lutaram; foram humildes e alcançaram a santidade, chegando até a sobressair, como vemos no caso de São João, naquilo em que pareciam estar mais longe do espírito de Cristo.

II. DEPOIS DO DIA de Pentecostes, Espírito Santo completou a formação daqueles que escolhera para que fossem as colunas da sua Igreja, apesar de tantas deficiências. Desde então, não deixou de atuar nas almas dos discípulos de Cristo de todas as épocas. As suas inspirações são às vezes instantâneas como o relâmpago: sugere-nos no íntimo da alma que sejamos generosos em mortificar-nos numa pequena coisa, que tenhamos paciência na adversidade, que guardemos os sentidos... Numas ocasiões, atua diretamente, sugerindo, inspirando. Noutras, fá-lo através dos conselhos que recebemos na direção espiritual, ou de um acontecimento, do exemplo de uma pessoa, da leitura de um bom livro...

Ele quer situar “no edifício da minha vida a pedra que convém colocar neste ou naquele momento preciso e que é reclamada, digamo-lo assim, pelo projeto do edifício, conforme o estado atual da construção” 7, do grande projeto que Deus tem acerca da nossa vida, e que não quer levar a cabo sem a nossa colaboração.

E tudo está ordenado – umas vezes permitido, outras enviado pelo nosso Pai-Deus – para que alcancemos a santidade, o fim para o qual fomos criados e que consiste na nossa plena felicidade aqui na terra e depois, por toda a eternidade, no Céu. Também a dor, o sofrimento ou o fracasso que Deus permite estão orientados para esse fim mais alto, que nunca devemos perder de vista: Porquanto esta é a vontade de Deus, a vossa santificação 8.

Deus ama-nos sempre: quando nos dá consolações e quando permite a doença, a aflição, o sofrimento, a pobreza, o fracasso... Mais ainda, “Deus nunca me ama tanto como quando me envia um sofrimento” 9. É uma “carícia divina”, pela qual sempre devemos dar graças.

São Lucas fala-nos, na passagem do Evangelho que meditamos, da decisão com que Cristo se dirigiu a Jerusalém, onde o esperava a Cruz.

São João não mudou num instante, nem sequer depois da repreensão de Jesus. Mas não desanimou com os seus erros; pôs empenho, permaneceu junto do Mestre, e a graça fez o resto. Isto é o que o Senhor nos pede. Quando, no anoitecer da vida, o Apóstolo recordasse esse e muitos outros episódios em que se encontrava bem longe do espírito do seu Mestre, viria também à sua memória a paciência de que Jesus usara com ele, as vezes em que tivera de recomeçar, e isso o ajudaria a amar mais Aquele que, numa tarde inesquecível, o chamara para que o seguisse.

III. DEUS CONCEDEU a São João uma particular profundidade e finura na caridade, tanto na sua vida – o Senhor quis que fosse ele a cuidar da sua Mãe! – como nos seus ensinamentos. Movido pelo Espírito Santo, escreveu estas palavras cheias de sabedoria: Nisto se distinguem os filhos de Deus dos filhos do demônio: todo aquele que não pratica a justiça não é filho de Deus, e também não o é aquele que não ama o seu irmão 10. Como estamos longe daquele espírito duro e intransigente, que queria fazer descer fogo do céu sobre as cidades que não tinham querido dar ouvidos à mensagem do Senhor.

Não devemos desanimar diante dos nossos erros e fraquezas: o Senhor conta com eles, com o tempo, com a graça, e com os nossos desejos de lutar.

Mas, para combatermos com eficácia na vida interior, devemos conhecer bem aquilo que os autores espirituais chamam o defeito dominante, esse que em cada um tende a prevalecer sobre os outros e, como conseqüência, se faz presente na maneira de opinar, de julgar, de querer e de agir 11.

Trata-se de uma deficiência que de alguma maneira está na base de todos os nossos erros: nuns será a vaidade, noutros a preguiça, ou a impaciência, ou a falta de otimismo, ou a tendência para a ira... Não subimos todos pelo mesmo caminho para chegar à santidade: uns devem fomentar sobretudo a fortaleza; outros, a esperança ou a alegria. “Na cidadela da nossa vida interior, o defeito dominante é o ponto fraco, o lugar desguarnecido. O inimigo das almas procura precisamente, em cada um, esse ponto fraco, facilmente vulnerável, e com facilidade o encontra. Por conseguinte, nós também devemos conhecê-lo” 12.

Para isso, é preciso que nos perguntemos para onde se encaminham habitualmente os nossos desejos, o que é que mais nos preocupa, o que nos faz sofrer, o que nos leva com mais freqüência a perder a paz ou a cair na tristeza... Também ajuda a identificar o defeito dominante perguntarmo-nos em que ponto somos mais assaltados pelas tentações, pois é onde o inimigo nos vê mais fracos e, por isso, onde mais nos ataca.

Para progredirmos no combate ao defeito dominante, além de conhecermos bem esse ponto fraco, devemos pedir sinceramente a Deus a sua graça para vencê-lo: “Afasta de mim, Senhor, o que me afasta de Ti”, repetiremos em incontáveis ocasiões. E depois temos de fazer um propósito firme de não pactuar nunca com essa falha do nosso caráter, e aplicar-lhe o exame particular, um exame breve e freqüente que nos dirá se estamos lutando seriamente, com metas de superação concretas e aproveitando as ocasiões para adquirir a virtude oposta ao nosso defeito. “Com o exame particular tens de procurar diretamente adquirir uma virtude determinada ou arrancar o defeito que te domina” 13.

Em Maria, nossa Mãe, encontraremos sempre a paz e a alegria para caminharmos até o Senhor, pois o “nosso caminhar deve ser alegre, como o da Virgem; mas, como o dEla, passando pela experiência da dor, pelo cansaço do trabalho e pelo claro-escuro da fé.

“Caminhemos levados pela mão por Maria, a cheia de graça. Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo encheram-na de dons, fizeram dEla uma criatura perfeita; é da nossa raça e tem por missão distribuir apenas coisas boas. Mais. Ela converteu-se para nós em vida, doçura e esperança nossa.

“Maria, Mãe de Jesus, sinal de consolo e de esperança segura (Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 68), caminha pela terra iluminando com a sua luz o Povo de Deus peregrinante.

“Ela, a nossa Mãe, é o caminho, a via, o atalho para chegarmos ao Senhor. Maria encherá de alegria os nossos trabalhos [...], o nosso peregrinar” 14.

(1) Lc 9, 52-56; (2) 1 Jo 4, 8; (3) Santo Agostinho, Comentário à primeira Epístola de São João, prólogo; (4) cfr. Jo 13, 34-35; (5) 1 Jo 4, 12; (6) São Jerônimo, Comentário à Epístola aos Gálatas, III, 6; (7) Joseph Tissot, La vida interior, 16ª ed., Herder, Barcelona, 1964, pág. 287; (8) 1 Tess 4, 3; (9) Joseph Tissot, La vida interior, pág. 293; (10) 1 Jo 3, 10; (11) cfr. Réginald Garrigou-Lagrange, Las tres edades de la vida interior, vol. I, págs. 365 e segs.; (12) ibid., pág. 367; (13) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 241; (14) Jesús Urteaga, Los defectos de los santos, 3ª ed., Rialp, Madrid, 1982, págs. 380-381.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


O sentido cristão da dor

TEMPO COMUM. VIGÉSIMA SEXTA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA

– As provas e os padecimentos de Jó.
– O sofrimento dos justos.
– A dor e a Paixão de Cristo.

I. AO LONGO DESTA SEMANA, uma das leituras da Missa1transmite-nos os ensinamentos do Livro de Jó, sempre atuais, pois a desgraça e a dor são realidades com as quais deparamos freqüentemente.

Vivia na terra de Hus – lemos na Sagrada Escritura – um homem temente a Deus, chamado Jó, que tinha recebido inúmeras bênçãos do Senhor: era rico em rebanhos e produtos da terra; e tinha-lhe sido concedida uma numerosa descendência. Segundo uma concepção generalizada naqueles tempos, havia uma relação entre a vida virtuosa e a vida próspera em bens; o bem-estar material era considerado um prêmio que Deus concedia à virtude e à fidelidade. Num diálogo figurado entre Deus, que se sente contente com o amor do seu servo, e Satanás, este insinua que a virtude de Jó é interesseira e que desapareceria com a destruição das suas riquezas. É a troco de nada que Jó teme a Deus? Não rodeaste de uma sebe protetora a sua pessoa, a sua casa e todos os seus bens? Abençoaste o trabalho das suas mãos e os seus rebanhos têm-se multiplicado por toda a região. Mas estende a tua mão e toca em tudo o que possui; e verás se não te amaldiçoa na tua cara2.

Com a autorização de Deus, Jó foi despojado de todos os seus bens, mas a sua virtude demonstrou estar profundamente arraigada: Saí nu do ventre de minha mãe, e nu voltarei; o Senhor mo deu, o Senhor mo tirou; bendito seja o nome do Senhor3, exclamava no meio da sua pobreza. A sua conformidade com a vontade divina foi total, como o fora na abundância. A sua miséria converteu-se numa enorme riqueza espiritual.

Uma segunda prova, muito mais violenta, não pôde debilitar essa fé e confiança em Deus. Desta vez, todo o seu corpo foi atingido por uma úlcera que o cobriu da cabeça aos pés. Perder a saúde é pior do que perder os bens materiais. A fé de Jó, no entanto, manteve-se firme, apesar da doença e dos ataques ferinos de sua mulher: Se recebemos os bens das mãos de Deus, por que não havemos de receber também os males?4, respondeu Jó.

Hoje pode ser uma boa oportunidade para que examinemos a nossa atitude para com Deus quando a desgraça e a dor se fazem presentes em nós ou naqueles que mais amamos. Deus é sempre Pai, mesmo quando somos atingidos pela aflição e pelos pesares. Sabemos comportar-nos como filhos agradecidos tanto na abundância como na escassez, na saúde como na doença?

II. TRÊS AMIGOS, de tribos e lugares diferentes, ao terem conhecimento da situação de Jó, combinaram ir juntos fazer-lhe companhia e consolá-lo. Quando os três, Elifaz, Bildad e Sofar, puseram os olhos em Jó e o viram num estado tão lamentável, toda a compaixão que tinham desapareceu, convencidos de que se achavam na presença de um homem amaldiçoado por Deus. Partilhavam da crença de que a prosperidade é o prêmio que Deus dá à virtude, e as tribulações o castigo reservado por Ele à iniqüidade.

A conduta dos amigos, a persistência dos sofrimentos e a solidão no meio de tanta dor pesaram muito em Jó, que rompeu o seu silêncio numa queixa amarga. Os amigos, convencidos de que havia nele algum pecado oculto, continuaram a tratá-lo duramente, pois não encontravam outra explicação para as suas desgraças. Jó, convencido da sua inocência, admitiu a existência de pequenas transgressões, comuns a todos os homens5, mas não a ponto de serem proporcionados ao castigo. Recordou igualmente todo o bem que praticara. Nesse momento nasceu uma grande luta dentro da sua alma.

Sabia que Deus é justo, e no entanto tudo parecia falar de injustiça em relação à sua pessoa. Também ele pensava que o Senhor trata o homem conforme os seus méritos e deméritos; como podia então conciliar-se a justiça divina com a sua amarga experiência? Os amigos têm uma resposta, mas ele, em consciência, considera-a falsa. As duas convicções aparentemente contraditórias – a da justiça divina e a da sua própria inocência – causam-lhe uma angústia e um dilaceramento interior mais penoso do que a sua doença física e a sua ruína material6. É o desconcerto que produz todo o sofrimento do inocente: o das crianças que morrem prematuramente ou nascem com doenças que as deixarão incapacitadas para uma vida normal, o das pessoas que foram generosas e serviram fielmente a Deus, e que agora se encontram na ruína econômica ou gravemente doentes..., enquanto parece que a vida sorri para certas pessoas que sempre viveram de costas para Deus.

Livro de Jó propõe “o problema do sofrimento do homem inocente com toda a clareza: o do sofrimento sem culpa. Jó não foi castigado; não havia razão para lhe ser infligida uma pena, e não obstante foi submetido a uma prova duríssima”7. Depois desta prova, Jó sairá fortalecido na sua virtude, que não dependia da sua situação confortável nem dos benefícios que tinha recebido de Deus. Mas “o Livro de Jó não é a última palavra da Revelação sobre este tema. De certo modo, é um anúncio da Paixão de Cristo”8, a única que pode trazer luz ao mistério do sofrimento humano, e de modo especial à dor do inocente.

Tanto amou Deus o mundo, que lhe deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna9. A dor muda radicalmente de sinal com a Paixão de Cristo. “É como se Jó a tivesse pressentido quando disse: Eu sei que o meu Redentor vive, e que no último dia [...] verei na minha própria carne o meu Deus (Jó 19, 25); e que para ela tivesse orientado o seu próprio sofrimento, o qual, sem a Redenção, não teria podido revelar-lhe a plenitude do seu significado. Na Cruz de Cristo, não só se realizou a Redenção através do sofrimento, mas também o próprio sofrimento humano foi redimido. Cristo – sem culpa nenhuma própria – tomou sobre si todo o mal do pecado”10. Os padecimentos de Jesus foram o preço da nossa salvação11. Desde então, a nossa dor pode unir-se à de Cristo e assim participar da Redenção de toda a humanidade. “Esta foi a grande revolução cristã: converter a dor em sofrimento fecundo; fazer, de um mal, um bem. Despojamos o diabo dessa arma...; e, com ela, conquistamos a eternidade”12.

III. A DOR NUNCA PASSA ao nosso lado deixando-nos como antes. Purifica a alma, eleva-a, aumenta o grau de união com a vontade divina, ajuda-nos a desprender-nos dos bens, do excessivo apego à saúde, faz-nos corredentores com Cristo..., ou, pelo contrário, afasta-nos do Senhor e deixa a alma entristecida e entorpecida para as coisas sobrenaturais. Quando Simão Cireneu foi requisitado para ajudar Jesus a carregar a Cruz, submeteu-se a contragosto. Foi forçado13, escreve o Evangelista. Nos primeiros momentos, só olhava para a Cruz, e a Cruz era um simples madeiro pesado e incômodo. Depois, desviou a vista do madeiro para o réu, aquele homem totalmente singular que ia ser condenado. E então tudo mudou: ajudou Jesus com amor e mereceu o prêmio da fé para si e para os seus dois filhos, Alexandre e Rufo14.

Cada um de nós deve também olhar menos para a cruz e mais para Cristo, no meio das suas provas e tribulações. Compreenderemos então que carregar a Cruz tem sentido quando a levamos junto com o Mestre.

“O desejo mais ardente do Senhor é acender nos nossos corações essa chama de amor e de sacrifício que abrasa o seu. E por pouco que correspondamos a esse desejo, o nosso coração converter-se-á num foco de amor que consumirá pouco a pouco essas escórias acumuladas pelas nossas culpas e nos transformará em vítimas de expiação, alegres por conseguirmos, à custa de alguns sofrimentos, uma maior pureza, uma união mais estreita com o Amado; alegres também por completarmos a Paixão do Salvador pelo bem da Igreja e das almas (Col 1, 24) [...]. Aos pés do Crucificado, compreendemos que, neste mundo, não é possível amar sem sacrifício, mas que o sacrifício é doce para quem ama”15.

Ao terminarmos a nossa oração, contemplamos Nossa Senhora no alto do Calvário, participando de modo singular dos padecimentos do seu Filho.

“Admira a firmeza de Santa Maria: ao pé da Cruz, com a maior dor humana – não há dor como a sua dor –, cheia de fortaleza. – E pede-lhe dessa firmeza, para que saibas também estar junto da Cruz”16.

Junto dEla, entendemos bem que o “sacrifício é doce para quem ama”, e aprendemos a oferecer através do seu Coração dulcíssimo os fracassos, as incompreensões, as situações difíceis na família ou no trabalho, a doença e a dor...

“E uma vez feito o oferecimento, procuremos não pensar mais, mas cumprir o que Deus quer de nós, no lugar onde estivermos: na família, na fábrica, no escritório, na escola... Sobretudo, procuremos amar os outros, o próximo que está ao nosso redor.

“Se o fizermos, poderemos experimentar um efeito insólito e insuspeitado: a nossa alma estará cheia de paz, de amor, e também de alegria pura, de luz. Poderemos encontrar em nós uma nova força. Veremos como, abraçando as cruzes de cada dia e unindo-nos por elas a Jesus crucificado e abandonado, poderemos participar já aqui na terra da vida do Ressuscitado. E, enriquecidos por esta experiência, poderemos ajudar mais eficazmente todos os nossos irmãos a encontrar a bem-aventurança entre as lágrimas, a transformar em serenidade aquilo que os preocupa. Seremos assim instrumentos de alegria para muitas pessoas, de felicidade, dessa felicidade que todo o coração humano ambiciona”17.

(1) Primeira leitura da Missa da 26ª semana da segunda-feira do Tempo Comum, ano II; (2) Jó 1, 9-11; (3) Jó 1, 21; (4) Jó 2, 10; (5) cfr. Jó 13, 26; 14, 4; (6) cfr. B. Orchard, Verbum Dei, Herder, Barcelona, 1960, vol. II, págs. 104 e segs.; (7) João Paulo II, Carta Apostólica Salvifici doloris, 11.02.84, 11; (8) ibid.; (9) Jo 3, 16; (10) São João Paulo II, Carta Apostólica Salvifici doloris, 19; (11) cfr. 1 Cor 6, 20; (12) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 887; (13) Mt 27, 32; (14) cfr. Mc 15, 21; (15) Adolphe Tanquerey, La divinización del sufrimiento, Rialp, Madrid 1955, págs. 203-204; (16) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 508; (17) Chiara Lubich, Palabra que se hace vida, Ciudad Nueva, Madrid, 1990, pág. 39.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


30 de Setembro 2019

A SANTA MISSA

26ª Semana do Tempo Comum – Segunda-feira 
Memória: São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja
Cor: Branca

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1ª Leitura: Zc 8,1-8

“Eis que eu vou salvar o meu povo
da terra do oriente e da terra do pôr-do-sol” 

Leitura da Profecia de Zacarias.

1 A palavra do Senhor dos exércitos foi manifestada nos seguintes termos: 2 “Isto diz o Senhor dos exércitos: Tomei-me de forte ciúme por Sião, consumo-me de zelo ciumento por ela. 3 Isto diz o Senhor: Voltei a Sião e habitarei no meio de Jerusalém; Jerusalém será chamada Cidade Fiel, e o monte do Senhor dos exércitos, Monte Santo. 4 Isto diz o Senhor dos exércitos: Velhos e velhas ainda se sentarão nas praças de Jerusalém, cada qual com seu bastão na mão, devido à idade avançada; 5 as praças da cidade se encherão de meninos e meninas a brincar em suas praças. 6 Isto diz o Senhor dos exércitos: Se tais cenas parecerem difíceis aos olhos do resto do povo, naqueles dias, acaso serão também difíceis aos meus olhos? — diz o Senhor dos exércitos. 7 Isto diz o Senhor dos exércitos: Eis que eu vou salvar o meu povo da terra do oriente e da terra do pôr-do-sol; 8 eu os conduzirei, e eles habitarão no meio de Jerusalém; serão meu povo
e eu serei seu Deus, em verdade e com justiça”.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 101(102), 16-18.19-21.29 e 22-23(R. 17)

R. O Senhor edificou Jerusalém, e apareceu na sua glória!

16 As nações respeitarão o vosso nome, *
e os reis de toda a terra, a vossa glória;
17 quando o Senhor reconstruir Jerusalém *
e aparecer com gloriosa majestade,
18 ele ouvirá a oração dos oprimidos *
e não desprezará a sua prece.         R.

19 Para as futuras gerações se escreva isto, *
e um povo novo a ser criado louve a Deus.
20 Ele inclinou-se de seu templo nas alturas, *
e o Senhor olhou a terra do alto céu,
21 para os gemidos dos cativos escutar *
e da morte libertar os condenados.        R.

29 Assim também a geração dos vossos servos +
terá casa e viverá em segurança, *
e ante vós se firmará sua descendência.
Para que cantem o seu nome em Sião *
e louve ao Senhor Jerusalém,
23 quando os povos e as nações se reunirem *
e todos os impérios o servirem.        R. 

Evangelho: Lc 9,46-50 

Aquele que entre todos vós for o menor, esse é o maior. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo: 46 Houve entre os discípulos uma discussão, para saber qual deles seria o maior. 47 Jesus sabia o que estavam pensando. Pegou então uma criança, colocou-a junto de si 48 e disse-lhes: ‘Quem receber esta criança em meu nome, estará recebendo a mim. E quem me receber, estará recebendo aquele que me enviou. Pois aquele que entre todos vós for o menor, esse é o maior.’ 49 João disse a Jesus: ‘Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque não anda conosco.’ 50 Jesus disse-lhe: ‘Não o proibais, pois quem não está contra vós, está a vosso favor.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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São Jerônimo

30 de Setembro

São Jerônimo

São Jerônimo foi um homem de grande cultura, era doutor nas Sagradas Escrituras, teólogo, escritor, filósofo, historiador. Foi ele quem traduziu a Bíblia pela primeira vez, do hebraico e grego para o latim, a língua falada pelo povo. Sua tradução foi chamada de Vulgata, ou seja, popular..

São Jerônimo nasceu na Dalmácia, hoje Croácia, no ano de 340. Sua família era rica, culta e de raiz cristã. Ele era filho único e herdou uma pequena fortuna de seus pais. Após a morte deles, Jerônimo foi morar em Roma. Lá, estudou retórica, que é a arte de falar bem, oratória, com os melhores mestres da época. Com isso, adquiriu mais cultura ainda.

Apesar de vir de uma família cristã, São Jerônimo ainda não tinha sido batizado. Só aos vinte e cinco anos ele tomou uma decisão madura e pediu o batismo. Então, foi batizado pelo Papa Libério. Depois disso, em oração, sentiu o chamado para a vida monástica. Mas não simplesmente vida monástica. Seu chamado era para a vida monástica dedicada à oração e ao recolhimento e ao estudo. Então, ele descobriu monges que viviam na Gália, atual França, e foi morar com eles. Lá, Jerônimo formou uma comunidade com seus amigos e discípulos. Estes dedicavam-se ao estudo da Bíblia e das obras de teologia.

São Jerônimo tinha um temperamento forte e radical. Por isso, foi procurar o deserto. No deserto, entrava num ritmo de orações e jejuns tão rigorosos que quase chegou a falecer. Tempos depois de se fortalecer no deserto, ele foi para Constantinopla, segunda capital do império romano. Lá, onde encontrou-se com São Gregório. Este lhe mostrou o caminho do amor pelo estudo das Sagradas Escrituras.

Por isso, São Jerônimo decidiu dedicar sua vida ao estudo da Palavra de Deus, para transmitir o cristianismo em sua máxima fidelidade, ao maior número de pessoas passível. Por causa desse objetivo, e usando sua grande aptidão para aprender línguas, estudou hebraico e grego. Seu objetivo era compreender as escrituras nas suas línguas originais para transmitir um ensinamento seguro aos fiéis..

A fama da cultura e sabedoria de São Jerônimo se espalhou e chegou até Roma. Por isso, o Papa Damaso o chamou e lhe deu a grandiosa missão de traduzir a Bíblia para o Latim, a língua do povo. Por isso, sua tradução foi chamada de Vulgata, ou seja, popular. O Papa queria uma tradução mais fiel possível do hebraico e do grego para o latim e que, ao mesmo tempo, o povo pudesse compreender.

São Jerônimo reunia todas as condições para fazer este trabalho. Ele se tornou, então, o secretário do Papa. Por causa disso é que temos hoje a Bíblia traduzida para o português e várias línguas. Essas traduções vieram da Tradução Popular de São Jerônimo.

Este trabalho de São Jerônimo durou muitos anos, pois ele procurava, em cada versículo, a tradução mais fiel possível, para que o povo conhecesse em profundidade as riquezas da Palavra de Deus. Por isso, a tradução de São Jerônimo se tornou a base da tradução bíblica da igreja, aprovada no Concilio de Trento. Em sua tradução, além da extrema fidelidade aos textos originais, São Jerônimo mostrou uma grande riqueza de informações sobre a história da salvação.

Terminado esse imenso trabalho, São Jerônimo foi morar em Belém, a terra onde Jesus nasceu. Lá, viveu como monge num mosteiro fundado por Santa Paula, sua grande amiga e auxiliadora nos trabalhos de estudo e tradução da Bíblia.

São Jerônimo morreu com quase 80 anos no dia 30 de setembro do ano 420. Ele é o Padroeiro dos estudos bíblicos, dos estudiosos da Bíblia. O dia da Bíblia foi colocado no dia de sua morte. Ele escreveu: Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, e quem ignora as Escrituras, ignora o poder e a sabedoria de Deus; portanto, ignorar as Escrituras Sagradas é ignorar a Cristo.

São Jerônimo é representado sempre escrevendo, com muitos livros à sua volta. Esta imagem, claro, faz referência ao inestimável trabalho de tradução da Bíblia que ele fez. Além disso, ele veste roupas de um monge, em referência a seus últimos anos no mosteiro de Belém. A devoção a ele chegou ao Brasil com os colonizadores. No Rio Grande do Sul há uma cidade com o seu nome.

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br


29 de Setembro 2019

A SANTA MISSA

26º Domingo do Tempo Comum – Ano C
Cor: Verde

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1ª Leitura: Am 6,1a.4-7

Agora o bando dos gozadores será desfeito.

Leitura da Profecia de Amós

Assim diz o Senhor todo-poderoso: 1a Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião, os que se sentem seguros nas alturas de Samaria! 4 Os que dormem em camas de marfim, deitam-se em almofadas, comendo cordeiros do rebanho e novilhos do seu gado; 5 os que cantam ao som das harpas, ou, como Davi, dedilham instrumentos musicais; 6 os que bebem vinho em taças, e se perfumam com os mais finos unguentos e não se preocupam com a ruína de José. 7 Por isso, eles irão agora para o desterro, na primeira fila, e o bando dos gozadores será desfeito.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 145,7.8-9a.9bc-10 (R. 1)

R. Bendize, minh’ alma, bendize ao Senhor!

Ou: R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.

7 O Senhor é fiel para sempre,*
faz justiça aos que são oprimidos;
ele dá alimento aos famintos,*
é o Senhor quem liberta os cativos.       R.

8 O Senhor abre os olhos aos cegos*
o Senhor faz erguer-se o caído;
o Senhor ama aquele que é justo*
9a É o Senhor quem protege o estrangeiro.        R.

9bc Ele ampara a viúva e o órfão*
mas confunde os caminhos dos maus.
10 O Senhor reinará para sempre!
Ó Sião, o teu Deus reinará*
para sempre e por todos os séculos!         R. 

2ª Leitura: 1Tm 6,11-16

Guarda o teu mandato
até à manifestação gloriosa do Senhor.

Leitura da Primeira Carta de São Paulo a Timóteo

11 Tu que és um homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão. 12 Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado e pela qual fizeste tua nobre profissão de fé diante de muitas testemunhas. 13 Diante de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Cristo Jesus, que deu o bom testemunho da verdade perante Pôncio Pilatos, eu te ordeno: 14 guarda o teu mandato íntegro e sem mancha até à manifestação gloriosa de nosso Senhor Jesus Cristo. 15 Esta manifestação será feita no tempo oportuno pelo bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, 16 o único que possui a imortalidade e que habita numa luz inacessível, que nenhum homem viu, nem pode ver. A ele, honra e poder eterno. Amém.

– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.

Evangelho: Lc 16,19-31 

Tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro os males;
agora ele encontra aqui consolo e tu és atormentado.

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, Jesus disse aos fariseus: 19 ‘Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias. 20 Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão à porta do rico. 21 Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas. 22 Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. 23 Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. 24 Então gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’. 25 Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado.26 E, além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’. 27 O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, 28 porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento’. 29 Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas, que os escutem!’ 30 O rico insistiu: ‘Não, Pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão se converter’. 31 Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos’.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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TEMPO COMUM. VIGÉSIMO SEXTO DOMINGO. ANO A

– Parábola do mau rico e do pobre Lázaro.
– Com o uso que façamos dos bens da terra, estamos ganhando ou perdendo o Céu.
– Desprendimento. Partilhar com os outros o que o Senhor coloca nas nossas mãos.

I. A PRIMEIRA LEITURA da Missa 1 apresenta-nos o profeta Amós que chega do deserto à Samaria. Aí encontra os dirigentes do povo entregues a uma vida mole, que encobre todo o gênero de vícios e o completo esquecimento dos destinos do país, que caminha para a ruína. Ai daqueles que vivem comodamente em Sião! Dormem em leitos de marfim e entregam-se à moleza nos seus leitos; comem os melhores cordeiros do rebanho e os mais escolhidos novilhos da manada; perfumam-se com óleos preciosos, sem se compadecerem da aflição de José, recrimina-lhes o Profeta. E anuncia-lhes a sorte que os espera: Por isso irão para o desterro à cabeça dos cativos. Esta profecia viria a cumprir-se uns anos mais tarde.

Ao longo da liturgia deste domingo, põe-se de manifesto que a excessiva ânsia de conforto, de bens materiais, de comodidade e luxo, leva na prática ao esquecimento de Deus e dos outros, bem como à ruína espiritual e moral. O Evangelho 2 descreve-nos um homem que não soube tirar proveito dos seus bens. Ao invés de ganhar com eles o Céu, perdeu-o para sempre. Tratava-se de um homem rico, que se vestia de púrpura e de linho, e que todos os dias se banqueteava esplendidamente. Entretanto, muito perto dele, à sua porta, estava deitado um mendigo chamado Lázaro, todo coberto de chagas, que desejava saciar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico. E até os cães lambiam as suas chagas.

A descrição que o Senhor nos faz nesta parábola tem fortes contrastes: grande abundância num, extrema necessidade no outro. Dos bens em si mesmos, nada se diz. O Senhor apenas sublinha o uso que deles se faz: roupas extraordinariamente luxuosas e banquetes diários. Ao mendigo Lázaro, nem sequer lhe chegam as sobras.

Os bens do rico não tinham sido adquiridos fraudulentamente, nem ele era culpado da pobreza de Lázaro, ao menos diretamente: não se aproveitava da sua miséria para explorá-lo. Tem, no entanto, um marcado sentido da vida e dos bens: “banqueteava-se”. Vive para si, como se Deus não existisse. Esqueceu uma coisa que o Senhor recorda com muita freqüência: não somos donos dos bens materiais, mas administradores.

Este homem rico vive como lhe apetece na abundância; não está contra Deus nem oprime o pobre. Apenas está cego para as necessidades alheias. Leva a melhor existência que pode. Seu pecado? Não ter visto Lázaro, a quem poderia ter feito feliz com um pouco menos de egoísmo e um pouco mais de despreocupação pelas suas próprias coisas. Não utilizou os bens conforme o querer de Deus. Não soube compartilhar. “Não foi a pobreza – comenta Santo Agostinho – que conduziu Lázaro ao céu, mas a sua humildade; nem foram as riquezas que impediram o rico de entrar no descanso eterno, mas o seu egoísmo e a sua infidelidade”3.

O egoísmo, que muitas vezes se concretiza na ânsia de usufruir sem medida dos bens materiais, leva a tratar as pessoas como coisas; como coisas sem valor. Pensemos hoje que todos temos ao nosso redor pessoas necessitadas, como Lázaro. E não esqueçamos que os bens que recebemos para administrar generosamente são também o afeto, a amizade, a compreensão, a cordialidade, as palavras de ânimo...

II. DO USO QUE FAÇAMOS dos bens que Deus depositou nas nossas mãos depende a vida eterna. Estamos num tempo de merecer. Por isso, não sem um profundo mistério, o Senhor dirá: É melhor dar do que receber4. Ganhamos mais dando do que recebendo: ganhamos o Céu. Sendo generosos, descobrindo nos outros filhos de Deus que necessitam de nós, somos felizes aqui na terra e mais tarde na vida eterna. A caridade é sempre realização do Reino dos Céus, e é a única bagagem que sobrenadará neste mundo que passa. E devemos estar atentos, pois Lázaro pode estar no nosso próprio lar, no escritório ou na oficina em que trabalhamos.

Na segunda Leitura5, São Paulo, depois de recordar a Timóteo que a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro e que muitos perderam a fé por causa disso6, escreve: Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas e busca a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado...

Nós, cristãos, homens e mulheres de Deus, somos eleitos para ser fermento que transforma e santifica as realidades terrenas. Devemos preservar da morte todos os que estão ao nosso redor, como fizeram os primeiros cristãos nos lugares em que lhes coube viver. E ao vermos a ânsia com que muitos se embrenham nas coisas materiais, temos de compreender que, para sermos fermento no meio do mundo, devemos viver desprendidos daquilo que possuímos. Pouco ou nada poderíamos fazer à nossa volta se não puséssemos esforço e empenho em não ter coisas supérfluas, em reduzir os gastos, em levar uma vida sóbria, em praticar com magnanimidade as obras de misericórdia. Mostraremos, em primeiro lugar com o exemplo, que a salvação do mundo e a sua felicidade não estão nos meios materiais, por mais importantes que possam parecer, mas em ordenar a vida conforme o querer de Deus.

A sobriedade, a temperança, o desprendimento hão de levar-nos ao mesmo tempo a ser generosos: ajudando os mais necessitados, levando adiante – com o nosso tempo, com os talentos que recebemos de Deus, com os bens materiais na medida das nossas possibilidades – obras boas, que elevem o nível de formação, de cultura, de atendimento aos doentes... Esta generosidade ensinar-nos-á a livrar-nos do egoísmo, do apego desordenado aos bens materiais. E assim “estaremos em condições de fazer-nos solidários com os que sofrem, com os pobres e doentes, com os marginalizados e oprimidos. A nossa sensibilidade crescerá, e não nos custará ver no próximo necessitado de ajuda o próprio Jesus Cristo. É Ele quem nos disse e agora nos recorda: Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes (Mt 25, 40). No dia do Juízo, estas serão as nossas credenciais. E então compreenderemos também que de nada nos terá servido ganhar todo o mundo, se no final não tivermos amado com obras e de verdade os nossos irmãos” 7.

III. NÃO VOS CONFORMEIS com este mundo... 8, exortava São Paulo aos primeiros cristãos de Roma. Quando se vive com o coração posto nos bens materiais, as necessidades dos outros escapam-nos; é como se não existissem. O rico da parábola “foi condenado porque [...] nem sequer percebeu a presença de Lázaro, da pessoa que se sentava à sua porta e desejava alimentar-se das migalhas que caíam da sua mesa” 9. Não adiantou que o visse tantas vezes.

Nós, cristãos, não podemos deixar-nos cegar por esse sentido da vida que só vê o aspecto rentável de cada circunstância, negócio ou lugar de trabalho. “A solidariedade é uma exigência direta da fraternidade humana e sobrenatural”10, que nos levará, em primeiro lugar, a viver pessoalmente a pobreza que Jesus declarou bem-aventurada, aquela que “está feita de desprendimento, de confiança em Deus, de sobriedade e de disposição de partilhar com os outros, de sentido de justiça, de fome do reino dos céus, de disponibilidade para escutar a palavra de Deus e guardá-la no coração (cfr. Libertatis conscientia, 66)” 11.

Ao mesmo tempo, devemos examinar se o nosso desprendimento é real, se tem conseqüências práticas, se a nossa vida é exemplar pela temperança no uso dos bens, e sobretudo – e como uma conseqüência efetiva desse desprendimento – se temos o coração posto no tesouro que não passa, que resiste ao tempo, à ferrugem e à traça12.

Teremos Cristo conosco por toda uma eternidade sem fim. Quando tivermos de deixar todas as coisas desta terra, não nos custará muito passar por esse transe se tivemos o coração posto nEle. “Senhor! Como foi doce ver-me subitamente privado da doçura daquelas coisas que são nada! – exclamava Santo Agostinho recordando a sua conversão –.

Quanto mais temia perdê-las antes, tanto mais me rejubilava agora por tê-las deixado; Deus, minha grande e verdadeira doçura, expulsara-as de mim. Arrancara-as de mim, e em seu lugar entrava Ele, mais doce do que toda a doçura, mas não para a carne; mais luminoso e mais claro do que a própria luz, e ao mesmo tempo mais oculto do que qualquer segredo; mais sublime do que todas as honrarias”13. Que pena se, alguma vez, não soubéssemos apreciá-lo!

(1) Am 6, 1; 4-7; (2) Lc 16, 19-31; (3) Santo Agostinho, Sermão 24, 3; (4) At 20, 25; (5) 1 Tim 6, 11-16; (6) 1 Tim 6, 10; (7) A. Fuentes, El sentido cristiano de la riqueza, Rialp, Madrid, 1988, pág. 176; (8) Rom 12, 2; (9) João Paulo II, Homilia no Yankee Stadium de New York, 2.10.79; (10) Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução Libertatis conscientia, 22.03.86, 89; (11) João Paulo II, Homilia, México, 7.05.90; (12) cfr. Lc 12, 33; (13) Santo Agostinho, Confissões, 9, 1, 1.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


São Miguel, São Gabriel e São Rafael Arcanjos

29 de Setembro

São Miguel, São Gabriel

e São Rafael Arcanjos

Só há três anjos cujos nomes próprios as Escrituras Sagradas nos dão a conhecer.

Miguel é o grande capitão do exército celeste. Seu nome Michael significa, quem é igual a Deus? Quando Lúcifer, cego pelo orgulho, quis igualar-se ao Altíssimo, Miguel exclamou com voz trovejante: “Quem é igual a Deus?” E acompanhado pelos anjos fiéis, precipitou do alto dos céus a tropa rebelde dos apóstatas. Assim se tornou o generalíssimo do incontável exército dos santos anjos. Vê-se, nos profetas, que era o protetor do povo de Israel; agora o é da Igreja. Rejubilemo-nos por estarmos sob o comando de tão destemido chefe; mas também imitemos a sua fidelidade.

A grande batalha iniciada no céu prossegue sobre a terra, Batalha cujo objeto somos nós. Satanás e seus demônios gostariam de arrastar-nos com ele para o inferno; Miguel e seus anjos gostariam de levar-nos com eles para o céu. Com quem permaneceremos eternamente? Com quem estamos agora? Necessariamente devemos estar com um ou com outro: não é possível nos conservarmos neutros. Ao lado de quem combateremos? De quem seguiremos as inspirações? Do anjo de Deus ou do anjo de Satã? Se morrermos no estado em que nos encontramos, seria um anjo ou um demônio, que nos apresentaria ao tribunal de Deus? Com efeito, será que, ao morrermos, nos reconhecerá São Miguel como fiéis companheiros de armas?

Se me deixar derrotar pelo demônio nessa batalha, a culpa será unicamente minha. Deu-me Deus um defensor para o corpo e para a alma, meu anjo bom. Ser-me-á bastante escutá-lo: combaterá comigo e por mim. No fundo, só há um inimigo a temer: eu mesmo.

Gabriel, cujo nome significa Força de Deus, anuncia ao profeta Daniel a época da grande obra de Deus, a época do Filho de Deus feito homem, Cristo condenado à morte, a remissão dos pecados, o Evangelho pregado a todas as nações, a ruína de Jerusalém e de seu templo, a condenação final do povo judeu. É o mesmo anjo Gabriel que prediz ao sacerdote Zacarias, no templo, no santuário, junto ao altar dos perfumes, o nascimento de um homem que será chamado João, ou cheio de graça, e que não mais anunciará a vinda do Salvador, mas que o apontará: “Eis o Cordeiro de Deus! Eis quem tira os pecados do mundo!” É o mesmo arcanjo, sempre enviado para anunciar grandes coisas, que irá à humilde casa de Nazaré anunciar à Virgem Maria a maior de todas as coisas; comunicar que, sem deixar de ser virgem, ela daria à luz ao Filho do Altíssimo, que seria chamado Jesus ou Salvador, porque seria o Salvador do mundo. É esse glorioso arcanjo que nos ensina a dizer tal como ele: “Ave-Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres!”

Rafael, cujo nome significa Médico ou cura de Deus, dá-se a conhecer a Tobias: “Quando oráveis, vós e Sara vossa nora, ou apresentava o memorial de vossas orações diante do santo; e quando sepultáveis os mortos, estava presente junto de vós. Quando não vos recusáveis a levantar-vos da mesa e deixar vosso jantar para amortalhardes um morto, o bem que praticáveis não permanecia oculto; pois eu estava convosco. E por que éreis agradáveis a Deus, foi necessário que fosseis provados. Agora, porém, Deus enviou-me para curar-vos, a vós e a Sara, esposa de vosso Filho. Sou Rafael, um dos sete anjos que apresentam as orações dos santos, e que podem defrontar a majestade do Santíssimo!

Feliz Tobias! Diremos nós. Teve um anjo como companheiro de viagem! Mas cada um de nós não tem um anjo de Deus que o acompanha por toda a parte? … Pensamos nisso com a necessária freqüência?

Fonte: Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XVII, p. 126 à 132


Medianeira de todas as graças

TEMPO COMUM. VIGÉSIMA QUINTA SEMANA. SÁBADO

– Medianeira perante o Mediador.
– Todas as graças nos chegam através de Maria.
– Um clamor contínuo sobe dia e noite até à Mãe do Céu.

I. HÁ UM SÓ DEUS ensina São Paulo – e há um só mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo, homem também, o qual se deu a si mesmo para a redenção de todos 1.

A Virgem Nossa Senhora cooperou de modo singularíssimo na obra da Redenção realizada pelo seu Filho durante toda a sua vida. Em primeiro lugar, o livre consentimento que prestou na Anunciação era necessário para que a Encarnação se realizasse. Era, afirma São Tomás de Aquino 2, como se Deus tivesse esperado a anuência da humanidade pela voz de Maria. Depois, a sua Maternidade divina fez com que estivesse intimamente unida ao mistério da Redenção até à sua consumação na Cruz, onde Ela esteve associada de um modo particular e único à dor e à morte do seu Filho: ali nos recebeu a todos, na pessoa de São João, como filhos seus. Por isso, “a missão maternal de Maria a favor dos homens de modo algum obscurece nem diminui esta mediação única de Cristo, antes demonstra o seu poder” 3. Maria é a Medianeira perante o Mediador, que é seu Filho; trata‑se de “uma mediação em Cristo” 4, que “de modo algum impede, antes favorece a união imediata dos fiéis com Cristo” 5.

Já na terra, Santa Maria exerceu esta mediação maternal ao santificar João Batista no seio de Isabel 6. E em Caná, foi a pedido da Virgem que Jesus realizou o seu primeiro milagre 7; São João aponta os frutos espirituais dessa intervenção: E os seus discípulos creram nele. E quantas outras vezes a Virgem não teria intervindo junto do seu Filho – como todas as mães – para obter graças que os Evangelhos não mencionam!

“Assunta aos céus, [Maria] não abandonou essa missão salvífica, mas pela sua múltipla intercessão continua a granjear‑nos os dons da salvação eterna. Pelo seu amor maternal, cuida dos irmãos do seu Filho, que ainda peregrinam rodeados de perigos e ansiedades, até que sejam conduzidos à pátria bem‑aventurada. Por isso a Santíssima Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora, Socorro, Medianeira” 8.

Pela sua intercessão diante do Filho, Nossa Senhora alcança‑nos e distribui‑nos todas as graças, com súplicas que nunca serão desatendidas. O que é que Jesus pode negar Àquela que o gerou e o trouxe no seu seio durante nove meses, e que esteve sempre com Ele, de Nazaré até à sua morte na Cruz?

O Magistério ensinou‑nos o caminho seguro para alcançarmos tudo aquilo de que precisamos. “Por expressa vontade de Deus – ensina o Papa Leão XIII –, nenhum bem nos é concedido a não ser por Maria; e assim como ninguém pode chegar ao Pai a não ser pelo Filho, assim ninguém pode chegar a Jesus a não ser por Maria” 9.

Não tenhamos reparo algum em dirigir pedidos constantes Àquela a quem se chamou Onipotência suplicante. Ela sempre nos escuta; também agora. Não deixemos de colocar diante do seu olhar benévolo todas as necessidades, talvez pequenas, que nos inquietam no momento presente: conflitos domésticos, apertos econômicos, uma prova, um concurso público, um posto de trabalho de que precisamos... E também aquelas que se referem à alma e que nos devem inquietar mais: a correspondência à vocação de um parente ou de um amigo, a graça para superarmos uma situação difícil, vencermos um defeito ou crescermos numa virtude, para aprendermos a rezar melhor...

Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós... No Céu, muito perto do seu Filho, a Virgem encaminha para Ele a nossa oração, corrige‑a se nalgum ponto era menos reta, e aperfeiçoa‑a.

II. TODAS AS GRAÇAS, grandes e pequenas, nos chegam por Maria. “Ninguém se salva, ó Santíssima, se não é por meio de Ti. Ninguém senão por Ti se livra do mal... Ninguém recebe os dons divinos a não ser pela tua mediação [...]. Quem, depois do teu Filho, se interessa como Tu pelo gênero humano? Quem como Tu nos protege sem cessar nas nossas tribulações? Quem nos livra com tanta presteza das tentações que nos assaltam? Quem se esforça tanto como Tu em suplicar pelos pecadores? Quem toma a sua defesa para desculpá‑los nos casos desesperados?... Por esta razão, o aflito refugia‑se em Ti, quem sofreu a injustiça acode a Ti, quem está cheio de males invoca a tua assistência [...]. A simples invocação do teu nome afugenta e rechaça o malvado inimigo dos teus servos, e guarda‑os seguros e incólumes. Livras de toda a necessidade e tentação os que te invocam, prevenindo‑os a tempo contra elas” 10.

Nós, os cristãos, dirigimo‑nos à Mãe do Céu para conseguir graças de toda a espécie, tanto temporais como espirituais. Entre estas, pedimos‑lhe a conversão de pessoas afastadas do seu Filho e, para nós, um estado de contínua conversão da alma, uma disposição que nos faz sentir‑nos sempre a caminho, lutando por ser melhores, por tirar os obstáculos que impedem a ação do Espírito Santo na alma.

A sua ajuda é continuamente necessária no apostolado. É Ela quem verdadeiramente muda os corações. Por isso, desde a antigüidade, é chamada “saúde dos enfermos, refúgio dos pecadores, consoladora dos aflitos, rainha dos Apóstolos, dos mártires...” A sua mão, generosa como a de todas as mães, é dispensadora de todo o gênero de graças, e mesmo, “em certo sentido, da graça dos sacramentos; porque Ela no‑los mereceu em união com Nosso Senhor no Calvário, e além disso nos prepara com a sua oração para que nos aproximemos desses sacramentos e os recebamos convenientemente; às vezes, até nos envia o sacerdote sem o qual essa ajuda sacramental não nos seria concedida” 11.

Nas suas mãos pomos hoje todas as nossas preocupações e fazemos o propósito de recorrer a Ela diariamente muitas vezes, nas coisas grandes e nas pequenas, certos de que, a partir deste momento, podemos despreocupar‑nos e estar em paz.

III. NA VIRGEM MARIA refugiam‑se os fiéis que estão rodeados de angústias e de perigos, invocando‑a como Mãe de misericórdia e dispensadora de todas as graças 12. NEla nos refugiamos todos os dias. Na Ave‑Maria pedimos‑lhe muitas vezes: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte...

Esse agora é repetido em todo o mundo por milhares de pessoas de todas as idades e raças, que pedem a graça do momento presente 13; é a graça mais pessoal, que varia com cada um e em cada situação. Ainda que alguma vez, sem o querer, estejamos um pouco distraídos, Nossa Senhora, que nunca o está e conhece as nossas necessidades, roga por nós e alcança‑nos os bens de que necessitamos. Um enorme clamor sobe a cada instante, de dia e de noite, à presença da nossa Mãe do Céu: Rogai por nós, pecadores, agora... Como não nos há de ouvir, como não há de atender a essas súplicas? Unida à Santíssima Trindade como ninguém, conhece perfeitamente as nossas necessidades materiais e espirituais, e como mãe cheia de ternura roga pelos seus filhos.

Podemos estar certos de que, sempre que recorremos a Maria, aproximamo‑nos mais do seu Filho. “Maria é sempre o caminho que conduz a Cristo. Cada encontro com Ela implica necessariamente um encontro com o próprio Cristo. Que outra coisa significa o recurso a Maria senão procurar Cristo, nosso Salvador, entre os seus braços, nEla e por Ela e com Ela?” 14

É esmagador o número de motivos que temos para recorrer confiadamente à Virgem, na certeza absoluta de que seremos ouvidos sempre que lhe recordarmos que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado. Animado eu, pois, de igual confiança, a Vós, Virgem das virgens, como a Mãe recorro [...]. Não desprezeis minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus... 15

Neste próximo mês de outubro, o mês da Virgem do Rosário, recorreremos a Ela rezando com mais atenção o terço, como pede a Igreja e os Papas nos lembram constantemente. É a oração preferida da Virgem 16, e aquela que nos sai de dentro pela nossa condição de pecadores sempre necessitados de perdão:

“«Virgem Imaculada, bem sei que sou um pobre miserável, que não faço mais do que aumentar todos os dias o número dos meus pecados...» Disseste‑me o outro dia que falavas assim com a Nossa Mãe.

“E aconselhei‑te, com plena segurança, que rezasses o terço: bendita monotonia de ave‑marias, que purifica a monotonia dos teus pecados!” 17

(1) 1 Tim 2, 5‑6; (2) São Tomás de Aquino, Suma teológica, III, q. 30, a. 1; (3) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 60; (4) João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater,25.03.87, 38; (5) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium; (6) cfr. Lc 1, 14; (7) cfr. Jo 2, 1 e segs.; (8) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 62; (9) Leão XIII, Carta Encíclica Octobri mense, 22‑IX‑1891; (10) São Germano de Constantinopla, Homilia em Sanctae Mariae Zonam; (11) Réginald Garrigou‑Lagrange, Las tres edades de la vida interior, Palabra, Madrid, 1982, vol. I, pág. 144; (12) Missal Romano, Missa da Virgem Maria, Mãe e Medianeira da graça, Prefácio; (13) cfr. Réginald Garrigou‑Lagrange, Las tres edades de la vida interior, vol. I, pág. 144; (14) Paulo VI, Carta Encíclica Mense maio, 29‑IV‑1965; (15) Oração Lembrai‑vos; (16) cfr. Paulo VI, Carta Encíclica Mense maio; (17) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 475.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal