São Lucas Evangelista

– O Evangelho de São Lucas. A perfeição do nosso trabalho.
– O que o Evangelista nos transmite. O pintor da Virgem.
– Ler o Santo Evangelho com piedade.

O Evangelista São Lucas nasceu em Antioquia, no seio de uma família pagã. Era médico, como se depreende de muitos indícios, e converteu-se à fé por volta do ano 40. Acompanhou São Paulo na sua segunda viagem e esteve ao seu lado na última etapa da vida do Apóstolo. Autor do terceiro Evangelho e dos Atos dos Apóstolos, é o Evangelista que melhor nos deu a conhecer a infância de Jesus e foi ele quem registrou algumas das parábolas mais comovedoras da misericórdia divina.

I. COMO SÃO BELOS sobre os montes os passos daquele que anuncia a paz, trazendo a boa-nova e proclamando a salvação!Temos que agradecer hoje a São Lucas que seja para nós um bom mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa-nova, pois foi um fiel instrumento nas mãos do Espírito Santo. Transmitiu-nos um maravilhoso Evangelho e a história da primitiva cristandade nos Atos dos Apóstolos, movido pela graça da inspiração divina, mas também mediante o esforço humano de um trabalho bem feito, pois a ajuda de Deus não suplanta o empenho humano. Ele mesmo nos diz que redigiu a sua obra depois de ter investigado diligentemente tudo desde o princípio e que o fez de forma ordenada2, não de qualquer maneira. Isto significa que procurou cuidadosamente fontes de primeira mão, muito provavelmente a Virgem, os Apóstolos e até as pessoas que ainda viviam e que foram protagonistas dos milagres, acontecimentos e relatos... Sublinha expressamente que registra essas notícias como no-las referiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares3. O seu próprio estilo literário – assim o faz notar São Jerônimo – indica como eram seguras as fontes de que se nutriu4. Graças a esse esforço e à sua correspondência às graças que recebeu do Espírito Santo, hoje podemos ler, maravilhados, as narrativas da infância de Jesus, algumas belíssimas parábolas que apenas ele registra, como a do filho pródigo, a do bom samaritano, a do administrador infiel, a do pobre Lázaro... Também é de São Lucas o relato da aparição do Senhor ressuscitado aos dois discípulos de Emaús, um relato cheio de finura e acabado nos seus menores detalhes.

Nenhum dos Evangelistas nos mostra a misericórdia divina para com os mais necessitados como o faz São Lucas. Ressalta o amor de Jesus pelos pecadores, pois Ele veio buscar e salvar o que tinha perecido5, relata o perdão à mulher pecadora6, a refeição na casa de um pecador como Zaqueu7, o olhar de Jesus que transforma o coração de Pedro depois das negações8, a promessa do Reino ao ladrão arrependido9, a oração pelos que insultam e crucificam o Senhor no Calvário10...

As mulheres e o empenho de Jesus por devolver-lhes a sua dignidade, pouco considerada naquele tempo, ocupam um lugar muito importante no seu Evangelho: a viúva de Naim11, a pecadora arrependida12, as mulheres galiléias que põem os seus bens à disposição de Jesus e o seguem13, as visitas do Senhor a casa das duas irmãs de Betânia14, a cura de uma mulher encurvada15, as mulheres de Jerusalém que se mostram compassivas com Jesus no caminho do Calvário16..., são todas figuras mencionadas e realçadas apenas por este Evangelista.

É muito o que temos de agradecer hoje a São Lucas. Numa carta figurada ao Evangelista, escreve aquele que mais tarde seria João Paulo I: “És o único que nos oferece um relato do nascimento e infância de Cristo, cuja leitura escutamos sempre com renovada emoção no Natal. Há, sobretudo, uma frase tua que me chama a atenção: ...e o enfaixou e reclinou numa manjedoura. Esta frase deu origem a todos os presépios do mundo e a milhares de quadros preciosos”17. Permitiu que acompanhássemos tantas vezes a Sagrada Família em Belém e na sua vida cotidiana entre os seus conterrâneos de Nazaré.

Podemos deter-nos hoje a considerar a perfeição humana com que o nosso trabalho deve ser realizado, ainda que aparentemente não tenha importância. As obras bem feitas permanecem e é mais fácil oferecê-las a Deus, que as acolhe como um dom. O trabalho realizado com pouco esforço, sem interesse, sem nenhum cuidado com os pormenores, não merece ser humano, e não permanecerá nem diante de Deus nem diante dos homens. Vejamos hoje como levamos a cabo as tarefas que temos entre mãos, que são o que devemos oferecer todos os dias ao Senhor.

II. O GRANDE AMOR que temos a Nossa Senhora move-nos hoje a dar graças ao santo Evangelista por ter sabido apresentar a grandeza e a formosura da alma de Maria com uma fina delicadeza. Foi por isso que lhe deram desde tempos muito remotos o título de pintor da Virgem18, e é por isso que muitos lhe atribuem a autoria de algumas imagens e pinturas de Nossa Senhora. Em qualquer caso, o seu Evangelho é fundamental para o conhecimento e a devoção à Virgem, e tem servido de inspiração a uma boa parte da arte cristã. Nenhum personagem da história evangélica – excluído Jesus, naturalmente – é descrito com tanto amor e admiração como Santa Maria.

Inspirado pelo Espírito Santo, São Lucas revela-nos os dons e a fiel correspondência da Santíssima Virgem: Ela é a cheia de graça, o Senhor está com Ela; concebeu por obra do Espírito Santo e foi Mãe de Jesus sem deixar de ser Virgem; intimamente unida ao mistério redentor da Cruz, será abençoada por todas as gerações, pois o Todo-Poderoso fez nEla grandes coisas. Com razão, uma mulher do povo louvou-a entusiasmada e de forma muito expressiva19. A sua fidelíssima correspondência é também retratada pelo Evangelista: recebe com humildade o anúncio do Arcanjo sobre a sua dignidade de Mãe de Deus; aceita rendidamente os planos divinos; apressa-se a ajudar os outros... Por duas vezes20 vemo-la a ponderar as coisas no seu coração... São conhecimentos que apenas Nossa Senhora pôde ter transmitido ao Evangelista, em momentos em que lhe abriu a sua intimidade.

Neste caminho das coisas bem feitas, acabadas com perfeição, peçamos a São Lucas que saibamos dar a conhecer à nossa volta a devoção à Virgem, a riqueza quase infinita da sua alma, como ele o fez.

III. HONREMOS A MEMÓRIA de São Lucas contemplando a atraente e alentadora figura do Salvador que ele nos apresenta. E peçamos-lhe, ao lermos e meditarmos os Atos dos Apóstolos – o Evangelho do Espírito Santo, como foi chamado –, a alegria e o espírito apostólico dos nossos primeiros irmãos na fé.

Segundo um antigo costume cristão, quando alguém se encontrava num aperto ou a braços com uma dúvida, abria o Evangelho e lia o primeiro versículo que lhe caísse debaixo dos olhos. Muitas vezes, não encontrava a resposta adequada, mas sempre encontrava paz e serenidade; tinha entrado em contacto com Jesus: Saía dEle uma virtude que curava a todos21, comenta em certa ocasião o Evangelista. E essa virtude continua a sair de Jesus sempre que entramos em contacto com Ele.

A obra de São Lucas, inspirada por Deus, ensina-nos a cultivar uma relação direta com o Senhor, anima-nos a recorrer frequentemente à sua misericórdia, a tratá-lo como Amigo fiel que deu a sua vida por nós. Ao mesmo tempo, permite-nos entrar em cheio no mistério de Jesus, especialmente hoje que circulam tantas e tão confusas idéias sobre o tema mais transcendente para toda a humanidade desde há vinte séculos: Jesus Cristo, Filho de Deus, pedra angular, fundamento de todos os homens.

Nenhum livro tem a virtude de aproximar-nos tanto de Deus como os que foram escritos sob a própria inspiração divina. Por isso, devemos aprender no Santo Evangelho o eminente conhecimento de Jesus Cristo22, como dizia São Paulo aos Filipenses, “pois desconhecer a Escritura é desconhecer Cristo”23.

O Evangelho deve ser o primeiro livro do cristão, porque nos é imprescindível conhecer Jesus Cristo; temos de lê-lo e contemplá-lo até sabermos de cor todos os traços da figura do Senhor. “Quando abrires o Santo Evangelho, pensa que não só deves saber, mas viver o que ali se narra: obras e ditos de Cristo. Tudo, cada ponto que se relata, foi registrado, detalhe por detalhe, para que o encarnes nas circunstâncias concretas da tua existência. – O Senhor chamou-nos, a nós católicos, para que O seguíssemos de perto; e, nesse Texto Santo, encontras a Vida de Jesus; mas, além disso, deves encontrar a tua própria vida.Aprenderás a perguntar tu também, como o Apóstolo, cheio de amor: «Senhor, que queres que eu faça?...» A Vontade de Deus!, ouvirás na tua alma de modo terminante. “Pois bem, pega no Evangelho diariamente, e lê-o e vive-o como norma concreta. – Assim procederam os santos”24.

São Lucas, que tantas vezes deve ter meditado nos episódios que relata, ensinar-nos-á a amar o Santo Evangelho, como faziam os primeiros cristãos. Nele encontraremos “o alimento da alma, a fonte límpida e perene da vida espiritual”25.

(1) Is 52, 7; Antífona de entrada da Missa do dia 18 de outubro; (2) cfr. Lc 1, 3; (3) Lc 1, 2; (4) cfr. São Jerônimo, Epístola 20, 4; (5) Lc 19, 10; (6) Lc 7, 36-50; (7) Lc 19, 1-10; (8) Lc 22, 61; (9) Lc 23, 42; (10) Lc 23, 34; (11) Lc 7, 11-17; (12) Lc 7, 36-50; (13) Lc 8, 1-3; (14) Lc 10, 38-42; (15) Lc 13, 10-17; (16) Lc 23, 27-32; (17) A. Luciani, Ilustríssimos senhores; (18) Eusébio, História eclesiástica, II, 43; (19) cfr. Sagrada Bíblia, Santos Evangelhos, Eds. Theologica, Braga, Introdução a São Lucas; (20) Lc 2, 19; 51; (21) cfr. Mc 6, 56; (22) Fil 3, 8; (23) São Jerônimo,Comentários sobre o Profeta Isaías; prol. 17; (24) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 754; (25) Conc. Vat. II, Const. Dei Verbum, 21.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


Santo Inácio de Antioquia

16 de Outubro

Santo Inácio de Antioquia

Bispo e mártir, foi discípulo de São João e sagrado bispo por São Pedro e morto no Coliseu de Roma, devorado por leões.

Nascido provavelmente na Síria, algumas fontes dizem que ele teria sido a criança que Jesus colocou no meio dos discípulos e disse: “Se não vos tornardes como uma criança não entrareis no Reino dos Céus...” (Mt 18, 1-6). Inácio representa a segunda geração dos Apóstolos, tendo conhecido São Pedro, São Paulo e São João, tendo sido discípulo deste último. Sagrado bispo de Antioquia, a terceira maior cidade do império romano, mencionada várias vezes no livro dos Atos dos Apóstolos. Foi lá que os seguidores de Cristo foram chamados de “Cristãos” pela primeira vez (At 11, 26). Inácio governou a comunidade cristã de Antioquia por 40 anos. Ali, destacou-se pela santidade, pela mística profunda e pela grande liderança que exercia sobre os fiéis.

Pelo fato de Inácio ser uma liderança de grande destaque, o imperador Trajano, grande perseguidos dos cristãos, resolveu prendê-lo, no intuito de fazê-lo negar a fé e, assim, desencorajar o cristianismo crescente. Assim, no ano 106, Inácio foi preso por um destacamento de dez soldados romanos e forçado a negar sua fé em Cristo. Como preferiu a morte a negar Jesus, foi enviado a Roma para ser jogado aos leões no Coliseu. Algemado e guardado por 10 soldados romanos, Inácio de Antioquia foi levado de navio. Os cristãos, sabendo a rota dos navios, anteciparam-se e esperaram por ele nos portos onde o navio deveria parar. Por isso, em todos os portos, multidões de fiéis esperavam para ver o bispo santo, receber sua bênção e rezar por ele. Os soldados permitiam esse contato pensando que, com a morte do líder em Roma, o cristianismo fosse perder toda essa força.

Durante a viagem, mesmo sendo duramente maltratado pelos soldados, Santo Inácio de Antioquia escreveu sete cartas, ou epístolas que são tidas como verdadeiras preciosidades do cristianismo primitivo. São elas: Epístola a Policarpo de Esmirna (jovem bispo de Esmirna com quem Inácio se encontrou nesta viagem), aos Efésios, aos Magnésios, aos Esmirniotas, aos Filadélfos, aos Trálios e aos Romanos. Essas cartas revelam a espiritualidade profunda de Inácio, baseada na Eucaristia e na união mística com Jesus Cristo. As cartas revelam também um coração apaixonado por Jesus, a ponto de entregar sua vida por Ele. Aos cristãos de Roma, ele pediu que não interviessem por sua libertação, pois queria ser jogado aos leões como testemunha de Jesus Cristo. Inácio chamava a Eucaristia de "o remédio da imortalidade". Também a designou como o "antídoto da morte". Sobre a libertação do mal, ele disse: "Jesus na cruz fisgou o demônio como um peixe, com a isca do seu próprio Corpo".

Santo Inácio de Antioquia chegou a Roma no último dia dos jogos que aconteciam no Coliseu. Lá, foi jogado às feras, como pedira. Antes de morrer, testemunhou sua fé dizendo a todos não ter medo da morte porque Jesus Cristo tinha alcançado para ele a vida eterna. Aos romanos, ele escreveu: “Deixai-me ser alimento das feras, pelas quais me será dado desfrutar a Deus. Eu sou o trigo de Deus: é preciso que ele seja triturado pelos dentes das feras a fim de ser considerado puro pão de Cristo”. Assim, diante de um Coliseu lotado de cruéis espectadores, Santo Inácio de Antioquia foi dilacerado e devorado pelos leões. Uma tradição diz que em seu coração encontraram escrito o nome de Jesus. Seus restos mortais foram levados para Antioquia e colocados num sepulcro às portas da cidade. Ali, são venerados até hoje, na atual Antakya, Turquia.

Fonte: cruzterrasanta.com.br


17 de Outubro 2019

A SANTA MISSA

28ª Semana do Tempo Comum – Quinta-feira 
Memória: Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir
Cor: Vermelha

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1ª Leitura: Rm 3,21-30 

“O homem é justificado pela fé, sem a prática da Lei judaica”

Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos

Irmãos: 21 Agora, sem depender do regime da Lei, a justiça de Deus se manifestou, atestada pela Lei e pelos Profetas; 22 justiça de Deus essa, que se realiza mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os que têm a fé. Pois diante desta justiça não há distinção: 23 todos pecaram e estão privados da glória de Deus, 24 e a justificação se dá gratuitamente, por sua graça, em virtude da redenção realizada em Jesus Cristo. 25 Deus destinou Jesus Cristo a ser, por seu próprio sangue, instrumento de expiação mediante a realidade da fé. Assim Deus mostrou sua justiça em ter deixado sem castigo os pecados cometidos outrora, 26 no tempo de sua tolerância. Assim ainda ele demonstra sua justiça no tempo presente, para ser ele mesmo justo, e tornar justo aquele que vive a partir da fé em Jesus. 27 Onde estaria, então, o direito de alguém se gloriar? – Foi excluído. Por qual lei? Pela lei das obras? – Absolutamente não, mas, sim, pela lei da fé. 28 Com efeito, julgamos que o homem é justificado pela fé, sem a prática da Lei judaica. 29 Acaso Deus é só dos judeus? Não é também Deus dos pagãos? Sim, é também Deus dos pagãos. 30 Pois Deus é um só.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 129(130),1-2.3-4ab.4c-6(R. 7)

R. No Senhor se encontra toda graça e copiosa redenção!

Das profundezas eu clamo a vós, Senhor,*
escutai a minha voz!
Vossos ouvidos estejam bem atentos*
ao clamor da minha prece!       R.

3 Se levardes em conta nossas faltas, *
quem haverá de subsistir?
4 Mas em vós se encontra o perdão, *
eu vos temo e em vós espero.         R.

5 No Senhor ponho a minha esperança, *
espero em sua palavra.
6 A minh’alma espera no Senhor *
mais que o vigia pela aurora.         R. 

Evangelho: Lc 11,47-54 

Peçam contas do sangue de todos os profetas,
desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, disse Jesus: 47 Ai de vós, porque construís os túmulos dos profetas; no entanto, foram vossos pais que os mataram. 48 Com isso, vós sois testemunhas e aprovais as obras de vossos pais, pois eles mataram os profetas e vós construís os túmulos. 49 É por isso que a sabedoria de Deus afirmou: ‘Eu lhes enviarei profetas e apóstolos, e eles matarão e perseguirão alguns deles, 50 a fim de que se peçam contas a esta geração do sangue de todos os profetas, derramado desde a criação do mundo, 51 desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o santuário. Sim, eu vos digo: serão pedidas contas disso a esta geração. 52 Ai de vós, mestres da Lei, porque tomastes a chave da ciência. Vós mesmos não entrastes, e ainda impedistes os que queriam entrar.’ 53 Quando Jesus saiu daí, os mestres da Lei e os fariseus começaram a tratá-lo mal, e a provocá-lo sobre muitos pontos. 54 Armavam ciladas, para pegá-lo de surpresa, por qualquer palavra que saísse de sua boca.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Escolhidos desde a Eternidade

TEMPO COMUM. VIGÉSIMA OITAVA SEMANA. QUINTA-FEIRA

– Uma vocação que não se repete.
– Essa vocação dá-nos luz para caminharmos, e as graças necessárias para sairmos fortalecidos de todas as provas da nossa vida.
– Perseverança na vocação.

I. DA PRISÃO, onde se encontra abandonado e só, São Paulo dirige uma carta aos primeiros cristãos de Éfeso.

Começa com um cântico alvoroçado de ação de graças por todos os dons recebidos do Senhor, de modo particular pela vocação com que Deus nos escolheu pessoalmente desde toda a eternidade para sermos seus discípulos e dilatarmos o seu Reino na terra.

Sublinha a seguir a radical igualdade da vocação com que todos fomos chamados em Cristo por iniciativa de Deus Pai, pois Ele nos escolheu antes da criação do mundo, por amor, para sermos santos e imaculados na sua presença. Predestinou-nos para sermos adotados como filhos seus em Jesus Cristo, para a sua glória, por sua livre vontade, em louvor da glória da sua graça, pela qual nos tornou agradáveis aos seus olhos no seu Filho bem-amado 1.

Todo o fiel, cada um de nós, foi chamado desde a eternidade à mais alta vocação divina. Deus Pai quis chamar-nos expressamente à vida (nenhum homem nasceu por acaso), criou diretamente a nossa alma, única e irrepetível, e fez-nos participar da sua vida íntima mediante o Batismo. Com este sacramento, Deus ungiu-nos... e também marcou-nos com o seu selo, e pôs nos nossos corações o Espírito Santo como penhor 2. Deu-nos uma missão a cumprir nesta vida e preparou-nos um lugar no Céu, onde nos espera como um pai que aguarda o regresso do seu filho depois de uma longa viagem.

Dentro desta vocação radical para a santidade e para o apostolado, Deus dirige a cada um de nós uma chamada particular.

Chama a maioria dos batizados a viver com uma vocação plena no meio do mundo, para que – atuando por dentro – o transformem e o conduzam a Ele, e se santifiquem por meio das atividades terrenas. A outros, sempre poucos em relação aos demais cristãos, pede-lhes que se afastem dessas realidades e dêem assim um testemunho público – como almas consagradas – de que pertencem a Deus. O Senhor, de um modo misterioso e delicado, vai-nos dando a conhecer o que quer de nós. Mesmo dentro da vocação de cada um – casados, solteiros, sacerdotes... –, mostra-nos um caminho próprio por onde chegarmos até Ele. “Com efeito, Deus pensou em nós desde a eternidade e amou-nos como pessoas únicas e irrepetíveis, chamando-nos a cada um pelo nosso nome, como o bom pastor chama pelo nome as suas ovelhas (Jo 10, 3). Mas o plano eterno de Deus revela-se a cada um de nós na evolução histórica da nossa vida e das suas situações, e, portanto, apenas gradualmente: num certo sentido, dia a dia.

“Ora, para podermos descobrir a vontade concreta do Senhor sobre a nossa vida, são sempre indispensáveis a escuta pronta e dócil da palavra de Deus e da Igreja, a oração filial e constante, a referência a uma sábia e amorosa direção espiritual, a compreensão na fé dos dons e dos talentos recebidos, bem como das diversas situações sociais e históricas em que nos encontramos” 3.

Assim, no decurso do tempo, o Senhor leva-nos pela mão a metas de santidade cada vez mais altas. Se somos fiéis, se estamos atentos, o Espírito Santo conduz-nos através dos acontecimentos correntes da vida: ajuda-nos a interpretá-los retamente e a tirar deles – sejam de que sinal forem – mais amor a Deus.

II. A VOCAÇÃO é um dom imenso que devemos agradecer continuamente a Deus. É a luz que ilumina o nosso caminho: o trabalho, as pessoas, os acontecimentos... Sem ela, sem o conhecimento dessa vontade específica de Deus que nos encaminha diretamente para o Céu, ficaríamos entregues à fraca luz da nossa inteligência, com o perigo de tropeçar a cada passo. A vocação proporciona-nos luz e graças necessárias para sairmos fortalecidos de todos os acontecimentos da vida. “Na vocação, o homem, de uma maneira definitiva, conhece-se a si próprio, conhece o mundo e conhece a Deus. Ela é o ponto de referência a partir do qual cada ser humano pode julgar com plenitude todas as situações pelas quais a sua vida tenha passado e venha a passar” 4. Conhecer cada vez mais profundamente esse querer divino particular a nosso respeito é sempre um motivo de esperança e de alegria.

Com a vocação, recebemos um convite para entrar na intimidade divina, para iniciar um trato pessoal com Deus, uma vida de oração.

Cristo convida-nos a tomá-lo como centro da nossa existência, a segui-lo no meio das nossas realidades diárias: no lar, no escritório, na fábrica...; e a conhecer os outros homens como pessoas e filhos de Deus, quer dizer, como seres com valor em si – objeto do amor de Deus –, a quem temos de ajudar nas suas necessidades materiais e espirituais.

O querer divino pode apresentar-se repentinamente, como uma luz deslumbrante que invade toda a existência, como foi o caso de São Paulo no caminho de Damasco, ou pode revelar-se pouco a pouco, numa variedade de pequenos acontecimentos, como aconteceu com São José. “De qualquer modo, não se trata somente de saber o que Deus quer de nós, de cada um, nas diversas situações da vida. É necessário fazer o que Deus quer, como nos recordam as palavras de Maria, a Mãe de Jesus, ao dirigir-se aos servos de Caná: Fazei o que Ele vos disser (Jo 2, 5). E para atuar com fidelidade à vontade de Deus, é preciso ser capaz e fazer-se cada vez mais capaz [...]. Esta é a maravilhosa e exigente tarefa que se espera de todos os fiéis leigos, de todos os cristãos, sem nenhuma pausa: que conheçam cada vez mais as riquezas da fé e do Batismo e as vivam com crescente plenitude” 5.

Esta plenitude realizar-se-á dia a dia mediante a fidelidade nas coisas pequenas, em correspondência às graças que o Senhor derrama sobre cada um de nós para que cumpramos com perfeição, com amor, os deveres de cada momento. Procuraremos comportar-nos assim tanto nos dias em que nos sentimos bem dispostos como naqueles em que tudo parece custar-nos mais.

III. ELEGIT NOS IN IPSO ante mundi constitutionem... O Senhor escolheu-nos antes da criação do mundo. E Ele não se arrepende das suas decisões. É daqui que procedem a esperança e a certeza de que perseveraremos ao longo do caminho, no meio das tentações e dificuldades que tenhamos de enfrentar. O Senhor é sempre fiel, e podemos contar diariamente com a graça necessária para mantermos incólume a nossa própria fidelidade. “Nosso Senhor – ensina São Francisco de Sales – vela continuamente pelos passos dos seus filhos, isto é, pelos que possuem a caridade, fazendo-os andar diante dEle, estendendo-lhes a mão nas dificuldades, carregando-os sobre si próprio nas penas que vê poderem ser-lhes insuportáveis de outra forma. Assim o declarou por Isaías: Eu sou o teu Deus, que te toma pela mão e te diz: Não temas, eu te ajudarei (Is 41, 13). De tal sorte que, além de muito ânimo, devemos ter uma firmíssima confiança em Deus e no seu socorro. Porquanto, se não faltarmos à sua graça, Ele concluirá em nós a boa obra da nossa salvação (Fil 1, 6)” 6.

A par da confiança na ajuda divina, temos de esforçar-nos pessoalmente por corresponder às sucessivas chamadas que o Senhor nos dirige ao longo da vida. Porque a entrega a Deus exigida pela vocação não se esgota numa só decisão nem numa determinada época da vida. Deus continua a chamar, continua a pedir até o fim...

Por vezes, a fidelidade ao Senhor pode custar; mas se recorrermos a Ele, compreenderemos que o seu jugo é suave e a sua carga leve 7, e esse peso converte-se em alegria. Deus nunca nos pedirá mais do que aquilo que podemos dar. Ele conhece-nos bem e conta com a fraqueza humana, com os nossos defeitos e erros. Ao mesmo tempo, conta com a nossa sinceridade e com a nossa humilde vontade de recomeçar.

Na Virgem, nossa Mãe, está posta a nossa esperança de perseverarmos nos momentos difíceis e sempre. NEla encontramos a fortaleza que não temos. “Ama a Senhora. E Ela te obterá graça abundante para venceres nesta luta quotidiana. – E de nada servirão ao maldito essas coisas perversas, que sobem e sobem, fervendo dentro de ti, até quererem sufocar, com a sua podridão bem cheirosa, os grandes ideais, os mandamentos sublimes que o próprio Cristo pôs no teu coração. – «Serviam!»” 8 Servirei!

(1) Ef 1, 4-6; Primeira leitura da missa da quinta-feira da vigésima oitava semana do Tempo Comum, ano II; (2) 2 Cor 1, 21-22; (3) João Paulo II, Exortação Apostólica Christifideles laici, 30.12.88, 58; (4) José Luis Illanes, Mundo y santidad, Rialp, Madrid, 1984, pág. 109; (5) João Paulo II, Exortação Apostólica Christifideles laici; (6) São Francisco de Sales, Tratado do amor de Deus, III, 4; (7) cfr. Mt 11, 30; (8) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 493.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


16 de Outubro 2019

A SANTA MISSA

28ª Semana do Tempo Comum – Quarta-feira 
Cor: Verde

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1ª Leitura: Rm 2,1-11

“Retribuirá a cada um segundo as suas obras; primeiro ao judeu, mas também ao grego.” 

Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos

1 Ó homem, qualquer que sejas, tu que julgas, não tens desculpa; pois, julgando os outros, te condenas a ti mesmo, já que fazes as mesmas coisas, tu que julgas. 2 Ora, sabemos que o julgamento de Deus se exerce segundo a verdade contra os que praticam tais coisas. 3 Ó homem, tu que julgas os que praticam tais coisas e, no entanto, as fazes também tu, pensas que escaparás ao julgamento de Deus? 4 Ou será que desprezas as riquezas de sua bondade, de sua tolerância, de sua longanimidade, não entendendo que a benignidade de Deus é um insistente convite para te converteres? 5 Por causa de teu endurecimento no mal e por teu coração impenitente, estás acumulando ira para ti mesmo, no dia da ira, quando se revelará o justo juízo de Deus. 6 Deus retribuirá a cada um segundo as suas obras. 7 Para aqueles que, perseverando na prática do bem, buscam a glória, a honra e a incorruptibilidade, Deus dará a vida eterna; 8 porém, para os que, por espírito de rebeldia, desobedecem à verdade e se submetem à iniquidade, estão reservadas ira e indignação. 9 Tribulação e angústia para toda pessoa que faz o mal, primeiro para o judeu, mas também para o grego; 10 glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem, primeiro para o judeu, mas também para o grego; 11 pois Deus não faz distinção de pessoas.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 61(62), 2-3.6-7.9(R. 13b)

R. Senhor, pagais a cada um, conforme suas obras.

Só em Deus a minha alma tem repouso, *
porque dele é que me vem a salvação!
Só ele é meu rochedo e salvação, *
a fortaleza, onde encontro segurança!        R.

6 Só em Deus a minha alma tem repouso, *
porque dele é que me vem a salvação!
7 Só ele é meu rochedo e salvação, *
a fortaleza, onde encontro segurança!        R.

9 Povo todo, esperai sempre no Senhor,
e abri diante dele o coração: *
nosso Deus é um refúgio para nós!         R. 

Evangelho: Lc 11,42-46 

 Aí de vós, fariseus; ai de vós também, mestres da Lei. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, disse o Senhor: 42 Ai de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus. Vós deveríeis praticar isso, sem deixar de lado aquilo. 43 Ai de vós, fariseus, porque gostais do lugar de honra nas sinagogas, e de serdes cumprimentados nas praças públicas. 44 Ai de vós, porque sois como túmulos que não se veem, sobre os quais os homens andam sem saber.’ 45 Um mestre da Lei tomou a palavra e disse: ‘Mestre, falando assim, insultas-nos também a nós!’ 46 Jesus respondeu: ‘Ai de vós também, mestres da Lei, porque colocais sobre os homens cargas insuportáveis, e vós mesmos não tocais nessas cargas, nem com um só dedo.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Santa Margarida Maria Alacoque

16 de Outubro

Santa Margarida Maria Alacoque

Margarida nasce em 22 de julho de 1647 no pequeno povoado de Lautecour na França. Seu pai Claudio Alacoque, juiz e notário. A mãe Filiberta Lamyn. Os filhos são cinco. A menor é Margarida. O pároco, Antonio Alacoque, tio dele, batiza-a aos três dias de nascida. Ela diz em sua autobiografia que desde pequena lhe concedeu Deus que Jesus Cristo fora o único dono de seu coração. E lhe concedeu outro grande favor: um grande horror ao pecado, de maneira que até a mais pequena falta lhe resultava insuportável. Diz que sendo ainda uma menina, um dia na elevação da Santa Hóstia na Missa fez a Deus a promessa de manter-se sempre pura e casta. Voto de castidade.  Aprendeu a rezar o rosário e o recitava com especial ardor cada dia e a Virgem Santíssima lhe correspondeu livrando-a de muitos perigos.

Levam-na ao colégio das Clarissas e aos nove anos faz a Primeira Comunhão. Diz "Desde esse dia o bom Deus me concedeu tanta amargura nos prazeres mundanos, que embora como jovem inexperiente que era às vezes os buscava, resultavam-me muito amargos e desagradáveis. Em troca encontrava um gosto especial na oração".  Veio uma enfermidade que a teve paralisada por vários anos. Mas ao fim lhe ocorreu consagrar-se à Virgem Santíssima e  lhe oferecer propagar sua devoção, e pouco depois Nossa Senhora lhe concedeu a saúde.

Era muito jovem quando ficou órfã de pai, e então a mãe de Dom Claudio Alacoque e duas irmãs dele, vieram à casa e se apoderaram de tudo e a mãe de Margarida e seus cinco filhos ficaram como escravizados. Tudo estava sob chave e sem a permissão das três mandonas mulheres não saía ninguém da casa. Assim não permitiram a Margarida nem sequer sair entre semana à igreja. Ela se retirava a um rincão e ali rezava e chorava. Arreganhavam-na continuamente.

Em meio de tantas penas lhe pareceu que Nosso Senhor lhe dizia que desejava que ela imitasse o melhor possível na vida de dor ao Divino Mestre que tão grandes pena e dores sofreu em sua Paixão e morte. Em diante a ela não só não desgosta que lhe cheguem penas e dores mas sim aceita tudo isto com o maior gosto por assemelhá-lo melhor possível a Cristo sofredor.

O que mais a fazia sofrer era ver quão mal e duramente tratavam a sua própria mãe. Mas lhe insistia em que oferecessem tudo isto por amor de Deus. Uma vez a mamãe  adoeceu tão gravemente de erisipela que o médico diagnosticou que aquela enfermidade já não tinha cura. Margarida se foi então a assistir a uma Santa Missa pela saúde da doente e ao voltar encontrou que a mãe tinha começado a curar de maneira admirável e inexplicável.

O que mais lhe atraía era o Sacrário onde está Jesus Sacramentado na Sagrada Hóstia. Quando ia a igreja sempre se colocava o mais próxima possível ao altar, porque sentia um amor imenso para o Jesus Eucaristia e queria lhe falar e escutá-lo. 

Aos 18 anos por desejo de seus familiares começou a arrumar-se esmeradamente e a freqüentar amizades e festas sociais com jovens. Mas estes passatempos mundanos lhe deixavam na alma uma profunda tristeza. Seu coração desejava dedicar-se à oração e à solidão. Mas a família lhe proibia tudo isto.

O demônio lhe trazia a tentação de que se fosse ser religiosa não seria capaz de perseverar e teria que devolver-se a sua casa com vergonha e desprestígio. Rezou à Virgem Maria e afastou este engano e tentação e a convenceu de que sempre a ajudaria e defenderia.

Um dia depois de comungar sentiu que Jesus lhe dizia: "Sou o melhor que nesta vida pode escolher. Se te decidir a  dedicar-se a meu serviço terá paz e alegria. Se ficar no mundo terá tristeza e amargura". Depois disso decidiu tornar-se religiosa, custasse o que custasse. 

No ano 1671 foi admitida na comunidade da Visitação, fundada por São Francisco de Sales. Entrou em convento do Paray-le=Monial. Uma de suas companheiras de noviciado deixou escrito: "Margarida deu muito bom exemplo às irmãs por sua caridade; jamais disse uma só palavra que pudesse incomodar a alguma, e demonstrava uma grande paciência ao suportar as duras reprimendas e humilhações que recebia freqüentemente". 

Puseram-na de ajudante de uma irmã que era muito forte de caráter e esta se desesperava ao ver que Margarida era tão tranqüila e calada. A superiora empregava métodos duros e violentos que faziam sofrer fortemente a jovem religiosa, mas esta nunca dava a menor amostra de estar desgostada. Com isto a estava preparando Nosso Senhor para que se fizesse digna das revelações que ia receber.

Em 27 de dezembro de 1673 lhe apareceu pela primeira vez o Sagrado Coração de Jesus. Ela tinha pedido permissão para ir às quintas-feiras de 9 a 12 da noite a rezar diante do Santíssimo Sacramento do altar, em lembrança das três horas que Jesus passou orando e sofrendo no Horta do Getsemani.

De repente se abriu o sacrário onde estão as hóstias consagradas e apareceu Jesus Cristo como o vemos em alguns quadros que agora temos nas casas. Sobre o manto seu Sagrado Coração, rodeado de chamas e com uma coroa de espinhos em cima, e uma ferida. Jesus assinalando seu coração com a mão lhe disse: "Eis aqui o coração que tanto amou às pessoas e em troca recebe ingratidão e esquecimento. Você deve procurar me desagravar". Nosso Senhor lhe recomendou que se dedicasse a propagar a devoção ao Coração do Jesus porque o mundo é muito frio em amor para Deus e é necessário entusiasmar às pessoas por este amor.

Durante 18 meses o Coração do Jesus foi aparecendo. Pediu-lhe que se celebrasse a Festa do Sagrado Coração cada ano na sexta-feira da semana seguinte à festa do Corpo e o Sangue de Cristo (Corpus Christi). O Coração do Jesus fez à Santa Margarida umas promessas maravilhosas para os que praticarem esta formosa devoção. Por exemplo "Benzerei as casas onde seja exposta e honrada a imagem de meu Sagrado Coração. Darei paz às famílias. Aos pecadores os tornarei bons e aos que já são bons os tornarei santos. Assistirei na hora da morte aos que me ofereçam a comunhão das primeiras Sextas-feiras para me pedir perdão por tantos pecados que se cometem", etc.

Margarida  dizia ao Sagrado Coração: "Por que não escolhe outra que seja Santa, para que propague estas mensagens tão importantes? Eu sou muito pecadora e muito fria para amar a meu Deus". Jesus lhe disse: "Escolhi a ti que é um abismo de misérias, para que apareça mais meu poder. E quanto a sua frieza para amar a Deus, te dou de presente uma faísca do amor de meu Coração". E lhe enviou uma faísca da chama que ardia sobre seu Coração, e desde esse dia a Santa começou a sentir um amor maior por  Deus e era tal o calor que lhe produzia seu coração que em pleno inverno, a vários graus abaixo de zero, tinha que abrir a janela de sua habitação porque sentia que ia se queimar com tão grande chama de amor a Deus que sentia em seu coração.  Nosso Senhor lhe dizia: "Não faça nada sem permissão das superioras. O demônio não tem poder contra as que são obedientes". 

Margarida adoeceu gravemente. A superiora lhe disse: "Acreditarei que sim são certas as aparições de que fala, se o Coração do Jesus lhe conceder a cura". Pediu ao Sagrado Coração que a curasse e ficou boa  imediatamente. Desde esse dia sua superiora acreditou que sim na verdade lhe aparecia Nosso Senhor. Deus permitiu que enviassem de capelão ao convento de Margarida a São Claudio de Colombiere e este homem de Deus que era jesuíta, obteve que na Companhia do Jesus fora aceita a devoção ao Coração do Jesus. Depois disso os jesuítas a propagaram por todo mundo.

Margarida foi nomeada Mestra de noviças. Ensinou às noviças a devoção ao Sagrado Coração (que consiste em imitar a Jesus em sua bondade e humildade e em confiar imensamente nele, em oferecer orações e sofrimentos e missas e comunhões para desagravá-lo, e em honrar sua Santa imagem) e aquelas jovens progrediram rapidíssimo em santidade. Logo ensinou a seu irmão (comerciante) esta devoção e o homem fez admiráveis progressos em santidade. Os jesuítas começaram a comprovar que nas casas onde se praticava a devoção ao Coração do Jesus as pessoas se tornavam muito mais fervorosas.

Em 17 de outubro de 1690 morreu cheia de alegria porque podia ir estar para sempre no céu ao lado de seu amadíssimo Senhor Jesus, cujo Coração tinha ensinado ela a amar tanto neste mundo. Digamos de vez em quando as duas orações tão queridas para os devotos do Sagrado Coração: "Jesus manso e humilde de coração, faz nosso coração semelhante ao vosso"."Sagrado Coração do Jesus. Em vós confio". 

Fonte: www.acidigital.com


A tentação e o mal

TEMPO COMUM. VIGÉSIMA OITAVA SEMANA. QUARTA-FEIRA

– Jesus Cristo quis ser tentado; nós também sofreremos tentações e provas. Através da tentação mostramos o nosso amor a Deus e a fidelidade aos compromissos que temos com Ele.
– O que é a tentação. Os bens que ela pode produzir.
– Meios para vencer.

I. NÃO NOS DEIXEIS cair em tentação, mas livrai-nos do mal, rogamos aos Senhor na última petição do Pai-NossoDepois de termos pedido a Deus o perdão dos nossos pecados, suplicamos-lhe que nos dê as graças necessárias para não voltarmos a ofendê-lo e que não permita que sejamos vencidos nas provas que nos venham a atingir, pois “no mundo, a própria vida é uma prova [...]. Peçamos, pois, que não nos abandone ao nosso arbítrio, mas nos guie em todo o momento com piedade paterna e nos confirme no caminho da vida com moderação celestial. Mas livrai-nos do mal. De que mal? Do demônio, de quem procede todo o mal”1. O demônio não cessa de rondar as criaturas para semear a inquietação, a ineficácia, a separação de Deus.

“Há épocas em que a existência do mal entre os homens se torna singularmente evidente no mundo. Percebe-se então com mais clareza como os poderes das trevas, que atuam no homem e por meio dele, são maiores do que o próprio homem. Cercam-no, assaltam-no de fora.

“Tem-se a impressão de que o homem atual não quer ver esse problema. Faz tudo o que pode para eliminar da consciência geral a existência desses dominadores deste mundo tenebroso, desses astutos ataques do diabo de que fala a Epístola aos Efésios. Contudo, há épocas históricas em que essa verdade da Revelação e da fé cristã, que tanto custa aceitar, se expressa com grande força e se deixa ver de forma quase palpável”2.

Jesus, nosso Modelo, quis ser tentado para nos ensinar a vencer todas as provas e a crescer em confiança no meio delas.

Não temos nele um pontífice que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi tentado em tudo à nossa semelhança, fora o pecado3. Seremos tentados de uma forma ou de outra ao longo da vida, talvez tanto mais quanto maiores forem os nossos desejos de seguir o Senhor de perto. A graça que recebemos no Batismo e aumentou pela nossa correspondência ver-se-á ameaçada até o último momento desta vida. Devemos permanecer vigilantes, com a vigilância do soldado que está de guarda.

Por outro lado, sempre devemos ter presente que nunca seremos tentados além das nossas forças4. Poderemos vencer em todas as circunstâncias se soubermos fugir das ocasiões e pedir os auxílios oportunos. E, “se alguém argumenta que a debilidade da natureza o impede de amar a Deus, é necessário ensinar-lhe que o Senhor, que requer o nosso afeto, derramou nos nossos corações a virtude da caridade por meio do Espírito Santo (Rom 5, 5), e que o nosso Pai celestial dá esse bom espírito aos que lho pedem (cfr. Lc 9, 13). Por isso, Santo Agostinho suplicava com razão: Dá o que mandas e manda o que queiras. O auxílio divino está à nossa disposição [...], não há motivo para assustar-se com a dificuldade da obra; porque nada é difícil a quem ama”5.

A tentação em si mesma não é má; é até uma ocasião de mostrarmos ao Senhor que o amamos, que o preferimos a qualquer outra coisa, e é meio para crescermos nas virtudes e na graça santificante.

Bem-aventurado o homem que sofre tentação, porque, depois que tiver sido provado, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam6. Mas, ainda que a prova não seja um mal, seria uma presunção desejá-la ou provocá-la de algum modo. E em sentido contrário, seria um grande erro temê-la excessivamente, como se não confiássemos nas graças que o Senhor nos preparou para vencê-la, se recorremos a Ele na nossa fraqueza. “Não te perturbes se, ao considerar as maravilhas do mundo sobrenatural, sentes a outra voz – íntima, insinuante – do «homem velho». – É «o corpo de morte» que clama por seus foros perdidos... Basta-te a graça; sê fiel e vencerás”7.

II. TENTAR NÃO É senão tatear, pôr à prova. Tentar o homem é pôr à prova a sua virtude8. Tentação é tudo aquilo – bom ou mau em si mesmo – que num momento determinado tende a afastar-nos do cumprimento amoroso da vontade de Deus. Podemos sofrer tentações que procedem da própria natureza, ferida pelo pecado original e inclinada ao pecado: nascemos com a desordem da concupiscência e dos sentidos. Ora, o demônio incita ao mal aproveitando-se dessa fraqueza, prometendo uma felicidade que não tem nem pode dar. Sede sóbrios e vigiai, adverte-nos São Pedro, pois o vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como um leão que ruge, buscando a quem devorar9. Só “quem confia em Deus não teme o demônio”10.

O demônio, por sua vez, alia-se ao mundo e às nossas paixões, que nunca deixarão de acompanhar-nos. Quando dizemos mundo, temos em vista tudo o que afasta de Deus: as pessoas que parecem viver exclusivamente para o seu amor próprio, para a sua vaidade e sensualidade; as que têm os olhos postos apenas nas coisas da terra: o dinheiro e um desejo desordenado de bem-estar material. Para essas pessoas, o necessário desprendimento das coisas da terra, a amável austeridade cristã, a castidade... são loucura e coisa própria de outros séculos. A mortificação voluntária, sem a qual não é possível dar um passo na vida cristã, é encarada como um disparate. Estão incapacitadas para entender as coisas de Deus e gostariam de inculcar nos outros os critérios pelos quais se regem: um sentido da vida em que Deus não tem lugar ou ocupa um posto muito afastado e secundário. Por meio de palavras, e sobretudo pelo seu exemplo, empenham-se em levar os outros pelo largo caminho que elas percorrem. Não raras vezes tentam desanimar os que querem ser conseqüentes com os princípios cristãos, e zombam deles, da vida e das idéias que professam.

A tentação é, freqüentemente, como um fogo-de-bengala que ilumina as profundezas da alma. É na tentação e na dificuldade que podemos verificar a nossa real capacidade de espírito de sacrifício, de generosidade, de retidão de intenção..., como também a inveja oculta, a avareza mascarada sob a fachada de falsas necessidades, a sensualidade, a soberba..., a capacidade de praticar o mal que há em cada um de nós. Nesses momentos, podemos crescer no conhecimento próprio e, conseqüentemente, na humildade: vemos como somos fracos e quão perto estaríamos do pecado se o Senhor não nos ajudasse.

As provas ensinam-nos a desculpar com mais facilidade os defeitos dos outros e a perceber que, ao fim e ao cabo, tudo isso que nos incomoda neles não passa de um cisco nos seus olhos, em comparação com a viga que podemos ver nos nossos.

Por isso as tentações ajudam-nos a viver melhor a caridade com todos, a compreendê-los mais e a estar dispostos a rezar por eles e a prestar-lhes a cooperação e o auxílio que estiverem ao nosso alcance.

Se sabemos lutar contra elas, as tentações são ainda um estímulo para crescermos nas virtudes. Rejeitar uma dúvida contra a fé desperta um ato de fé; cortar uma murmuração incipiente é crescer no respeito aos outros; afastar com prontidão um mau pensamento contra a castidade é crescer em finura no trato com o Senhor. Uma época que seja especialmente difícil pelas tentações, e que pode apresentar-se em qualquer idade e em qualquer momento da vida interior, será uma ocasião excelente para aumentarmos a devoção a Nossa Senhora – Virgem fiel –, para crescermos em humildade, para sermos mais sinceros e dóceis nas nossas conversas com quem orienta a nossa alma... Não devemos assustar-nos nem desanimar com o assédio das tentações. Nada nos pode separar de Deus se a vontade não o permite. Ninguém peca se não quer. Esses tempos difíceis, se o Senhor os vem a permitir, são tempos para purificar o coração e para adiantar muito na vida interior.

A tentação pode ser uma fonte inesgotável de graças e de méritos para a vida eterna. Porque eras agradável a Deus, foi preciso que a tentação te provasse11. Foi com essas palavras que o Anjo consolou Tobias no meio da sua prova. Também têm sido úteis a muitos cristãos à hora das suas tribulações.

III. PARA VENCER, temos de pedir ajuda a Nosso Senhor, que está sempre do nosso lado na hora da luta. Ele é onipotente: Tende confiança, eu venci o mundo12. E, junto de Cristo, podemos dizer: Tudo posso naquele que me conforta13. O Senhor é a minha luz e a minha salvação: a quem temerei?14

Nas tentações, contamos com o auxílio poderoso dos Anjos da Guarda, postos junto de cada um de nós pelo nosso Pai-Deus para que nos protejam: Ele mandou aos seus anjos que te guardem em todos os teus caminhos. Sustentar-te-ão nas suas mãos para que não tropeces em pedra alguma15. Pedir-lhes-emos ajuda com muita freqüência, especialmente nas tentações. O Anjo da Guarda é um formidável amigo, pronto a ajudar-nos nos momentos de maior perigo e necessidade.

Estamos vigilantes contra as tentações quando perseveramos na oração pessoal, que evita a tibieza, quando não abandonamos a mortificação, que nos mantém disponíveis para as coisas de Deus. Somos fortes na tentação quando fugimos das ocasiões de pecado, por pequenas que possam parecer, pois sabemos que quem ama o perigo perecerá nele16, quando temos o dia cheio de trabalho intenso, evitando o ócio e a preguiça.

Além disso, devemos ter em conta que é mais fácil resistir no princípio, quando a tentação começa a insinuar-se, do que se permitimos que vá ganhando corpo, “porque nos será mais fácil vencer o inimigo quando não o deixamos entrar na alma, enfrentando-o logo que bater à porta. Por isso costuma-se dizer: «Resiste no princípio; o remédio chega tarde quando a chaga é velha»”17. Se bem que, mesmo quando “a chaga é velha”, se pode, com humildade, encontrar o remédio oportuno.

Se recorrermos à Virgem, Nossa Senhora, sempre sairemos vencedores, mesmo das provas em que possamos sentir-nos absolutamente perdidos.

(1) São Pedro Crisólogo, Sermão 67; (2) João Paulo II, Homilia, 3.05.87; (3) Hebr 4, 15; (4) cfr. 1 Cor 10, 13; (5) Catecismo Romano, III, 1, n. 7; (6) Ti 1, 12; (7) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Caminho, n. 707; (8) cfr. São Tomás de Aquino, Sobre o Pai-Nosso; (9) 1 Pe 5, 8; (10) Tertuliano, Tratado sobre a oração, 8; (11) Tob 12, 13; (12) Jo 16, 23; (13) Fil 4, 13; (14) Sl 26, 1; (15) Sl 90, 11; (16) Eclo 3, 27; (17) Tomás de Kempis, Imitação de Cristo, I, 13, 5.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


15 de Outubro 2019

A SANTA MISSA

28ª Semana do Tempo Comum – Terça-feira 
Memória: Santa Teresa de d’Ávila, Virgem e Doutora da Igreja
Cor: Branca

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1ª Leitura: Rm 1,16-25

 “Tendo os homens conhecido a Deus,
não o glorificaram como Deus” 
 

Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos

Irmãos, 16 eu não me envergonho do Evangelho, pois ele é uma força salvadora de Deus para todo aquele que crê, primeiro para o judeu, mas também para o grego. 17 Nele, com efeito, a justiça de Deus se revela da fé para a fé, como está escrito: O justo viverá pela fé. 18 Por outro lado, a ira de Deus se revela, do alto do céu, contra toda a impiedade e iniquidade dos homens que em sua iniquidade oprimem a verdade. 19 Pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto aos homens: Deus mesmo lhos manifestou. 20 Suas perfeições invisíveis, como o seu poder eterno e sua natureza divina, são claramente conhecidas através de suas obras, desde a criação do mundo. Assim, eles não têm desculpa 21 por não ter dado glória e ação de graças a Deus como se deve, embora o tenham conhecido. Pelo contrário, enfatuaram-se em suas especulações, e seu coração insensato se obscureceu: 22 alardeando sabedoria, tornaram-se ignorantes 23 e trocaram a glória do Deus incorruptível por uma figura ou imagem de seres corruptíveis: homens, pássaros, quadrúpedes, répteis. 24 Por isso, Deus os entregou com as paixões de seus corações a tal impureza, que eles mesmos desonram seus próprios corpos. 25 Trocaram a verdade de Deus pela mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 18A(19A), 2-3.4-5(R. 2a)

R. Os céus proclamam a glória do Senhor!

Os céus proclamam a glória do Senhor, *
e o firmamento, a obra de suas mãos;
o dia ao dia transmite esta mensagem, *
a noite à noite publica esta notícia.        R.

4 Não são discursos nem frases ou palavras, *
nem são vozes que possam ser ouvidas;
5 seu som ressoa e se espalha em toda a terra, *
chega aos confins do universo a sua voz.       R.

Evangelho: Lc 11, 37-41 

 “Dai esmola do que vós possuís e tudo ficará puro para vós” 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo: 37 Enquanto Jesus falava, um fariseu convidou-o para jantar com ele. Jesus entrou e pôs-se à mesa. 38 O fariseu ficou admirado ao ver que Jesus não tivesse lavado as mãos antes da refeição. 39 O Senhor disse ao fariseu: ‘Vós fariseus, limpais o copo e o prato por fora, mas o vosso interior está cheio de roubos e maldades. 40 Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? 41 Antes, dai esmola do que vós possuís e tudo ficará puro para vós.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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O perdão das nossas ofensas

TEMPO COMUM. VIGÉSIMA OITAVA SEMANA. TERÇA-FEIRA

– Somos pecadores. O pecado é sempre e sobretudo uma ofensa a Deus.
– Sempre encontraremos o Senhor disposto a perdoar. Todo o pecado pode ser perdoado se o pecador se arrepende.
– Uma condição para sermos perdoados: perdoar os outros de coração. Como deve ser o nosso perdão.

I. PAI, PERDOAI-NOS as nossas ofensas, pedimos todos os dias no Pai-NossoSomos pecadores, e se dissermos que não temos pecado, nós mesmos nos enganamos e a verdade não está em nós1, escreve São João na sua primeira Epístola. A universalidade do pecado aparece com freqüência no Antigo Testamento2 e é sublinhada também no Novo 3. Todos os dias temos necessidade de pedir perdão ao Senhor pelas nossas faltas e pecados. Ofendemo-lo ao menos em coisas pequenas, talvez sem uma expressa voluntariedade atual, mas não há dúvida de que o ofendemos com as nossas ações e com as nossas omissões; por pensamentos, palavras e obras. “O que a Revelação divina nos diz concorda com a experiência. O homem, olhando o seu coração, descobre-se também inclinado para o mal e mergulhado em múltiplos males que não podem provir do seu Criador que é bom [...]. Por isso o homem está dividido em si mesmo” 4.

Hoje, enquanto fazemos a nossa oração com o Senhor, como também ao longo do dia, podemos fazer nossa aquela jaculatória do publicano que não se atrevia a levantar os olhos no Templo e que reconhecia, como nós, ter ofendido o Senhor: Meu Deus dizia, cheio de humildade e de arrependimento –, tem piedade de mim, pecador 5. Quanto bem nos pode fazer esta breve oração, se for repetida com um coração humilde! O Senhor colocou-a na boca do publicano da parábola para que nós a repetíssemos.

Muitas vezes, os homens costumam confundir o pecado com as suas conseqüências. Ficam tristes com o fracasso que introduz na sua vida pessoal ou com a humilhação de terem faltado a um dever ou pelos danos causados a outra pessoa. Vêem o pecado em função das sombras que projeta na imagem que fazem de si próprios ou do dano que causa aos outros. Mas o pecado é sobretudo uma ofensa a Deus, e só secundariamente é que se relaciona com a própria pessoa, com os outros e com a sociedade. Pequei contra o Senhor 6, afirma o rei Davi quando repara no delito que cometeu fazendo que Urias – um amigo e um dos seus melhores generais e com cuja esposa praticara adultério – fosse ao encontro da morte. No entanto, o adultério, o crime perpetrado, o abuso de poder, o escândalo dado ao povo, por mais graves que tivessem sido, julgou-os inferiores em malícia à ofensa que fizera a Deus.

O descumprimento da lei pode acarretar desastres e sofrimentos, mas só existe pecado propriamente dito perante Deus. Pequei contra o céu e contra ti 7, confessa o filho pródigo quando volta arrependido à casa paterna. “Sem esta palavra: Pequei, o homem não pode verdadeiramente penetrar no mistério da morte e da ressurreição de Cristo, para tirar deles os frutos da redenção e da graça. É uma palavra-chave. Evidencia sobretudo a grande abertura do interior do homem para Deus: Pai, pequei contra ti [...].

“O Salmista fala ainda mais claramente: Tibi soli peccavi, foi só contra Ti que pequei (Sl 50, 6). “Esse Tibi soli não anula as outras dimensões do mal moral, como é o pecado em relação à condição humana. O pecado, no entanto, é um mal moral de modo principal e definitivo em relação ao próprio Deus, ao Pai no Filho. Assim, pois, o mundo (contemporâneo) e o príncipe deste mundo trabalham muitíssimo para anular e aniquilar este aspecto do pecado.

“Pelo contrário, a Igreja [...] trabalha sobretudo para que cada um dos homens se examine a si próprio, com o seu pecado, diante de Deus somente, e para que acolha a penitência salvífica do perdão contida na paixão e na ressurreição de Cristo”8.

Que grande dom do Céu é podermos reconhecer os nossos pecados, sem desculpas nem mentiras, aproximarmo-nos da fonte inesgotável da misericórdia divina e dizer: Pai, perdoai-nos as nossas ofensas! Que paz tão grande nos dá o Senhor!

II. NÃO BASTA reconhecermos os nossos pecados; “é necessário que a sua recordação seja dolorosa e amarga, que fira o coração, que mova a alma ao arrependimento. E ao sentir-nos angustiados, recorramos a Deus nosso Pai pedindo-lhe com humildade que tire os espinhos do pecado cravados na nossa alma”9.

O Senhor está disposto a perdoar tudo de todos. Aquele que vem a mim, não o lançarei fora10. Não é vontade do vosso Pai que está nos céus que pereça um só destes pequeninos11. Mais ainda: como ensina São Tomás, a Onipotência de Deus manifesta-se, sobretudo, em perdoar e usar de misericórdia, porque a maneira que Deus tem de mostrar que possui o supremo poder é perdoar livremente12. No Evangelho, a misericórdia de Jesus para com os pecadores aparece como uma constante: recebe-os, atende-os, deixa-se convidar por eles, compreende-os, perdoa-lhes. Às vezes, os fariseus criticam-no por isso, mas Ele recrimina-os dizendo-lhes que os sãos não necessitam de médico, mas os pecadores, e que o Filho do homem veio buscar e salvar o que tinha perecido13.

A ofensa deve ser perdoada pelo ofendido. O pecado só pode ser perdoado pelo próprio Deus. Assim o fizeram notar a Jesus uns fariseus: Quem pode perdoar os pecados senão unicamente Deus? 14 Cristo não rejeitou essas palavras, mas serviu-se delas para lhes mostrar que Ele tem esse poder precisamente por ser Deus. Depois da Ressurreição, transmitiu-o à sua Igreja, para que Ela pudesse exercê-lo até o fim dos tempos por meio dos seus ministros. Recebei o Espírito Santo – disse aos Apóstolos –; àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos 15.

No sacramento da Confissão, sempre encontraremos o Senhor disposto ao perdão e à misericórdia. “Podemos estar absolutamente certos – ensina o Catecismo Romano – de que Deus se inclina para nós de tal modo que com muitíssimo gosto perdoa a quem se arrepende verdadeiramente. Não há dúvida de que pecamos contra Deus [...], mas também é verdade que pedimos perdão a um pai carinhosíssimo, que tem poder para perdoar tudo, e não somente disse que queria perdoar, mas além disso anima os homens a pedir perdão, e até nos ensina com que palavras devemos pedi-lo. Por conseguinte, ninguém pode duvidar de que – porque Ele assim o dispôs – está em nossas mãos, por assim dizer, recuperar a graça divina” 16.

III. PERDOAI AS NOSSAS OFENSAS assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, rezamos todos os dias. O Senhor espera de nós essa generosidade que nos assemelha a Ele próprio. Porque, se perdoardes aos outros as suas faltas, também o vosso Pai celestial vos perdoará a vós 17. Esta disposição faz parte de uma norma freqüentemente afirmada pelo Senhor ao longo do Evangelho: Absolvei e sereis absolvidos. Dai e ser-vos-á dado... Com a medida com que medirdes, também vós sereis medidos 18.

Deus tem-nos perdoado muito, e por isso não devemos guardar rancor de ninguém. Temos que aprender a desculpar com mais generosidade, a perdoar com mais rapidez. Perdão sincero, profundo, de coração.

Às vezes, sentimo-nos magoados sem uma razão objetiva: apenas por suscetibilidade ou por amor próprio. E ainda que alguma vez se trate de uma ofensa real e de importância, por acaso não ofendemos nós muito mais a Deus? O Senhor “não aceita o sacrifício dos que vivem em discórdia; manda-lhes que comecem por retirar-se do altar e vão reconciliar-se com o seu irmão, para depois poderem apaziguar a Deus com as preces de um coração pacífico. O melhor sacrifício é, para Deus, a nossa paz e a nossa concórdia fraternas, a unidade de todo o povo fiel no Pai, no Filho e no Espírito Santo” 19.

Devemos fazer com freqüência um exame para ver como são as nossas reações em face das contrariedades que a convivência pode ocasionar de vez em quando. Seguir o Senhor na vida corrente é encontrar, também neste ponto, o caminho da paz e da serenidade. Devemos estar vigilantes para evitar a menor falta de caridade externa ou interna. As ninharias diárias – normais em toda a convivência – não podem ser motivo para que diminua a alegria no trato com as pessoas que nos rodeiam.

Se alguma vez temos que perdoar uma ou outra ofensa real, compreendamos que estamos diante de uma ocasião muito especial de imitar Jesus, que pede o perdão para os que o crucificam. Assim saboreamos o amor de Deus, que não busca o proveito próprio; e o nosso coração dilata-se e adquire maior capacidade de amar. Não devemos esquecer então que “nada nos assemelha tanto a Deus como estarmos sempre dispostos a perdoar” 20. A generosidade com os outros conseguirá que a misericórdia divina nos perdoe tantas fraquezas nossas.

(1) 1 Jo 1, 8; (2) cfr. Jó 9, 2; 14, 4; Prov 20, 9; Sl 13, 1-4; 50, 1 e segs.; (3) cfr. Rom 3, 10-18; (4) Concílio Vaticano II, Constituição Gaudium et spes, 13; (5) Lc 18, 13; (6) 2 Sam 12, 13; (7) Lc 15, 18; (8) João Paulo II, Ângelus, 16.03.80; (9) Catecismo Romano, IV, 14, n. 6; (10) Jo 6, 37; (11) Mt 18, 14; (12) São Tomás de Aquino, Suma teológica, I, q. 25 a. 3 ad 3; (13) Lc 19, 10; (14) cfr. Lc 5, 18-25; (15) cfr. Jo 20, 19-23; (16) Catecismo Romano, IV, 24, n. 11; (17) Mt 6, 14-15; (18) cfr. Lc 6, 37-38; (19) São Cipriano, Tratado sobre a oração do Senhor, 23; (20) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 19, 7.


Santa Teresa de Jesus

15 de Outubro

Santa Teresa de Jesus

Teresa de Ahumada nasceu no dia 28 de Março de 1515. De entre os seus 11 irmãos, Teresa evidenciou ser a mais inteligente e agradável no trato, daí a mais querida de seus pais.

Desde criança se imprimiu no seu espírito um forte desejo do Céu e da eternidade. Com apenas 13 anos perdeu a mãe. A partir daí foi junto de uma imagem de Nossa Senhora, na sua igreja paroquial, pedindo-lhe que fosse a sua mãe. Ao entrar na adolescência e juventude, órfã de mãe, Teresa sente-se um pouco desorientada e, com os seus primos, perde-se em futilidades e vaidades próprias da idade, inspiradas pelos romances que adorava ler.

O seu pai viu-se obrigado a interná-la no Colégio de Irmãs de Nossa Senhora da Graça. Uma jovem freira da comunidade, de quem Teresa se tornou amiga, foi a sua então educadora e ajudou-a a redescobrir os grandes valores humanos e cristãos. Começou a pensar na possibilidade de vir a ser também ela religiosa, e decidiu entrar no convento de Nossa Senhora da Encarnação, das carmelitas, onde já se encontrava uma das sumas amigas, Joana Soares. O seu pai não esteve de acordo, mas Teresa insistiu e ingressou neste convento de clausura, embora lhe custasse muito separar-se da casa paterna.

Depois da Profissão Religiosa, foi atingida por uma estranha e grave doença que a levou às portas da morte, ao ponto de se ter preparado a sepultura no cemitério do convento. O seu pai não desiste e acredita na recuperação de Teresa, encomenda-a a S. José e, passados quatro dias, sai dum coma profundo. Desde então, tornou-se grande devota de S. José, devoção que depois legou a todo o carmelo reformado.

Teresa conheceu os segredos de Deus que lhe eram transmitidos pela oração. Recorreu aos melhores teólogos do seu tempo para que a ajudassem no seu itinerário orante e contemplativo. Entre os quais encontra-se S. João da Cruz, S. Francisco de Borja, S. Pedro de Alcântara, S. João de Ávila e outros de grande fama no seu tempo. Um dia ouviu a voz do Senhor que lhe dizia: «Já não quero que tenhas conversas com homens, mas com anjos». Deus revelou-lhe verdades e incutiu-lhe grandes desejos de santidade e de serviço à Igreja.

Quando a Igreja, por causa dos protestantes, proibiu as edições da Bíblia em língua que não fosse o latim, Teresa sentiu muita pena e ouviu Cristo que lhe disse: «Não te preocupes. Eu serei o teu livro vivo». Por esta altura, sentiu o impulso que a inspirava a renovar a Ordem do Carmo. Assim, passando por muitos sofrimentos e sempre com a ajuda de Deus, fundou o primeiro convento, o de S. José de Ávila, da nova família das carmelitas descalças. Nas obras do seu primeiro convento, muito a ajudaram amigos e familiares. Foi inaugurado a 24 de Agosto de 1562, dia em que Teresa se descalçou, mudou de hábito e começou a chamar-se Teresa de Jesus.

A cidade de Ávila quis destruir o convento por não concordar com a reforma por ela iniciada e por já existirem muitos nesta cidade abulense. Mas quando Deus quer e o homem colabora, nenhuma oposição faz parar uma boa obra. A sua segunda fundação foi em Medina del Campo, onde conheceu S. João da Cruz, ficando encantada com ele e pedindo-lhe que fosse o primeiro carmelita descalço.

Em 1571, foi nomeada pelos superiores, prioresa da comunidade onde havia estado, a do Convento da Encarnação. Começou o seu mandato colocando as chaves do convento nas mãos duma imagem de Nossa Senhora do Carmo, a quem colocou na cadeira priorial, e Teresa a seus pés. Assim conquistou a simpatia da comunidade de quase 200 freiras, até então enfurecida com as suas aventuras. É aqui, neste mesmo lugar, que um dia ouviu o Senhor dizer-lhe: «Teresa, se não tivesse criado o Céu, para ti e por tua causa o criaria agora».

Durante o seu priorato na Encarnação, chamou para Ávila S. João da Cruz, reconhecendo-o como o único capaz de a ajudar naquela difícil empresa, fazendo dele o confessor do convento. Quando o apresentou à comunidade disse: «Irmãs, trago-vos por confessor um Santo!».

Ao todo, fundou dezassete conventos. O último foi o de Burgos. O Inverno estava áspero e a saúde de Teresa muito débil. Mas no meio das maiores dificuldades, erigiu o último convento. Regressada a Ávila, mandaram-na para Alba de Tormes onde caiu de cama dizendo: «Não me lembro de me ter deitado tão cedo desde há muitos, muitos anos». Não se levantou mais. Nas suas últimas palavras de despedida disse: «Perdoem-me os maus exemplos que viram em mim, que sou má freira. Guardem a Regra e as Constituições, e não é preciso mais para as canonizar».

Perguntaram-lhe se, morrendo queria ser enterrada em Ávila, ao que respondeu perguntando: «Mas aqui não terão um pouco de terra que me emprestem até ao dia do Juízo?». E morreu, exclamando: «Por fim, Senhor, morro filha da Igreja!». Eram nove horas da noite do dia 4 de Outubro de 1582. Nesse ano, o calendário foi atualizado pelo que o dia seguinte seria o 15 de Outubro.

Teresa de Jesus foi uma mulher extremamente alegre, humilde e agradecida. A frei João da Miséria que a pintou num quadro, respondeu: «Deus te perdoe, Frei João, que me pintaste feia e enrugada!». Era de grande simpatia e afabilidade no trato com todos. Relacionava-se com Deus como com Amigo. Pela sua experiência, vida e escritos tornou-se Mestra e Doutora da Igreja sobretudo pelos ensinamentos em matéria de oração.

Um dia disseram-lhe: «Madre, dizem que sois bonita, inteligente e santa. Que dizeis de vós mesma?». Teresa respondeu: «Bonita, vê-se bem. Inteligente, penso que nunca fui tonta. E santa, a veremos, assim Deus o queira!».

Deixou-nos preciosos livros espirituais, tais como: Livro da Vida, Caminho de Perfeição, Moradas ou Castelo Interior, Livro das Fundações, Poesias, Exclamações, e mais de 500 cartas. O seu conteúdo espiritual e intuições teológicas são de tal maneira profundos que a Igreja a declarou Doutora da Igreja.

Fonte: http://www.carmelitas.pt