O Amor de Jesus

TEMPO COMUM. TRIGÉSIMA SEMANA. QUINTA-FEIRA

- O nosso refugio e proteção estão no amor a Deus. Acudir ao Sacrário.
- Jesus Sacramentado prestará todas as ajudas necessárias.
- Junto do Sacrário, ganharemos todas as batalhas. Almas de Eucaristia.

I. NO CAMINHO para Jerusalém, que São Lucas descreve com tanto detalhe, Jesus deixou escapar do fundo do cora­ção esta queixa em relação à Cidade Santa: Jerusalém, Jeru­salém [...], quantas vezes quis juntar os teus filhos, como a galinha recolhe os seus pintinhos debaixo das asas... '

É assim que o Senhor continua a proteger-nos: como a galinha reúne os seus pintinhos indefesos. Do Sacrário, Je­sus vela pelo nosso caminhar e está atento aos perigos que nos rodeiam, cura as nossas feridas e nos dá constantemen­te a sua Vida. Conscientes desta verdade, quantas vezes não teremos repetido a estrofe do hino eucarístico: Bom peli­cano, Senhor Jesus! Limpai-me a mim, imundo, com o vos­so Sangue, do qual uma só gota pode salvar do pecado o mundo inteiro2. NEle está a nossa salvação e o nosso re­fúgio.

Os pintinhos que buscam refúgio debaixo das asas da mãe são uma imagem do justo que procura proteção no Se­nhor, como podemos ler com freqüência na Sagrada Escritu­ra: Guarda-me como à menina dos teus olhos, esconde-me sob a sombra das tuas asas2, porque Tu és o meu refúgio, uma torre fortificada contra o inimigo. Oxalá possa eu ha­bitar sempre no teu tabernáculo e acolher-me sob o amparo das tuas asas, lemos nos Salmos. O profeta Isaías recorre à mesma imagem para assegurar ao Povo eleito que Deus o defenderá contra o cerco do inimigo. Assim como os pássa­ros estendem as suas asas sobre os seus filhos, assim o Eterno todo-poderoso defenderá Jerusalém5.

No fim da nossa vida, Jesus será o nosso Juiz e o nosso Amigo. E enquanto durar a nossa peregrinação, dar-nos-á to­das as ajudas de que necessitamos, pois a sua missão é uma só, como era quando vivia aqui na terra: salvar-nos. Não po­demos imaginá-lo distante das dificuldades que nos rodeiam, indiferente ao que nos preocupa!

"Se sofremos penas e des­gostos, Ele nos alivia e consola. Se caímos doentes, será o nosso remédio ou então dar-nos-á forças para sofrer, a fim de merecermos ir para o Céu. Se o demônio ou as paixões nos atacam, dar-nos-á armas para lutar, para resistir e para alcançar vitória. Se somos pobres, enriquecer-nos-á com to­da a sorte de bens no tempo e na eternidade"6.

Não deixemos de acompanhar o Senhor presente nos nossos Sacrários. Esses poucos minutos de uma breve visita que lhe façamos serão os momentos mais bem aproveitados do nosso dia. "E o que faremos, perguntais algumas vezes, diante de Jesus Sacramentado? Amá-lo, louvá-lo, agradecer-lhe e pedir-lhe. O que faz um pobre na presença de um rico? O que faz o doente diante do médico? O que faz o sedento diante de uma fonte cristalina?"7

II. A CONFIANÇA de que venceremos todas as provas, peri­gos e padecimentos não se baseia nas nossas forças, sempre escassas, mas na proteção de Deus, que nos amou desde toda a eternidade e não hesitou em entregar o seu Filho à morte para nossa salvação.

O próprio Jesus quis permanecer junto de nós, no Sacrário mais próximo, para nos ajudar, para curar as nossas feridas e dar-nos novos ânimos nesse caminho que há de de­sembocar no Céu. Basta que nos aproximemos dEle, pois está sempre à nossa espera.

Nada do que nos venha a acontecer poderá separar-nos de Deus, como nos ensina São Paulo numa das Leituras da Missa8, pois se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou nem o seu próprio Filho, mas por nós todos o entregou à morte, como não nos dará também com ele todas as coisas?... Quem nos separará, pois, do amor de Cristo? A tributação?, a angústia?, a fome?, a nu­dez?, o perigo?, a perseguição?, a espada? Nada nos pode­rá separar dEle, se nós não nos afastarmos.

"Revestidos da graça, passaremos através das montanhas (cfr. SI 103, 10) e subiremos a encosta do cumprimento do dever cristão, sem nos determos. Utilizando estes recursos, com boa vontade, suplicando ao Senhor que nos outorgue uma esperança cada vez maior, possuiremos a alegria conta­giosa dos que se sabem filhos de Deus: Se Deus está conos­co, quem nos poderá derrotar? (Rom 8, 31)"9.

Ainda que o Senhor permita tentações muito fortes ou as dificuldades familiares cresçam, e sobrevenha a doença ou se tome mais íngreme a encosta..., nenhuma prova por si mesma é suficientemente forte para nos separar de Jesus. Com uma visita ao Sacrário mais próximo, com uma ora­ção bem feita, encontraremos a mão poderosa de Deus e poderemos dizer: Omnia possum in eo qui me confortai10, tudo posso nAquele que me conforta. Porque eu estou cer­to - continua São Paulo na primeira Leitura da Missa - de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem as coisas presentes, nem as futuras, nem a força, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Jesus Cristo Nosso Senhor. É um cântico de confiança e de otimismo que hoje podemos fazer nosso.

São João Crisóstomo recorda-nos que "o próprio São Paulo teve que lutar contra numerosos inimigos. Os bárbaros atacavam-no, os seus próprios guardas armavam-lhe ciladas, até os fiéis, às vezes em grande número, se levantaram con­tra ele e, no entanto, Paulo triunfou de tudo. Não esqueça­mos que o cristão fiel às leis do seu Deus vencerá tanto os homens como o próprio Satanás". Se nos mantivermos sempre perto de Jesus presente na Sagrada Eucaristia, vence­remos todas as batalhas, ainda que às vezes pareça que fo­mos derrotados... O Sacrário será a nossa fortaleza, pois Je­sus quis ficar para nos amparar, para nos ajudar em qualquer necessidade. Vinde a Mim..., diz-nos todos os dias. 

III. A SERENIDADE que devemos ter não nasce de fecharmos os olhos à realidade ou de pensarmos que não teremos tro­peços e dificuldades, mas de olharmos o presente e o futuro com otimismo, porque sabemos que o Senhor quis ficar co­nosco para nos socorrer.

Quando vivemos nessa persuasão, as próprias dificulda­des da vida se convertem num bem, e mesmo nas circuns­tâncias mais duras não nos sentimos sós. Se nessas ocasiões se agradece tanto a presença de um amigo, como não será a paz que teremos junto do Amigo, no Sacrário mais próxi­mo? Devemos acudir rapidamente à igreja mais próxima, para buscar consolo, paz e as forças necessárias. "Que mais queremos ter ao lado que um Amigo tão bom, que não nos abandonará nos trabalhos e tribulações, como fazem os do mundo?" 12, escreve Santa Teresa de Jesus.

Quando já se podia perceber que ia ser perseguido, São Tomás More foi intimado a comparecer perante o tribunal de Lambeth. No dia marcado, despediu-se dos seus, mas não quis que o acompanhassem ao embarcadouro, como de cos­tume. Iam com ele somente William Roper, marido de sua filha mais velha, Margareth, e alguns criados. Ninguém no barco se atrevia a romper o silêncio. Ao cabo de uns minu­tos, More sussurrou inopinadamente ao ouvido de Roper: Son Roper, I thank our Lord the field is won: "Meu filho Roper, dou graças a Deus, porque a batalha está ganha". Mais tarde Roper confessaria não ter entendido naquele mo­mento o significado dessas palavras, mas que veio a fazê-lo depois: compreendeu que o amor de More tinha crescido tanto que lhe dava a certeza de saber que triunfaria de qual­quer obstáculo 13. Era a convicção de que, sabendo-se pró­ximo do seu último combate, o Senhor não o abandonaria no momento supremo. Se nos mantivermos perto de Jesus, se formos almas de Eucaristia, o Senhor proteger-nos-á como as aves protegem os seus filhotes, e sempre, ante os maiores obstáculos, poderemos dizer de antemão: A batalha está ganha.

"Sê alma de Eucaristia! - Se o centro dos teus pensamentos e esperanças esti­ver no Sacrário, filho, que abundantes os frutos de santidade e de apostolado!" 14

Santa Maria, que tantas vezes falou com o Senhor aqui na terra e agora o contempla para sempre no Céu, colocará nos nossos lábios as palavras oportunas se alguma vez não soubermos muito bem o que dizer-lhe. Ela acode sempre prontamente em socorro da nossa inépcia.

(1) Lc 13, 34; (2) Hino Adoro te devote; (3) SI 17, 8; (4) SI 61, 4-5; (5) Is 31, 5; (6) Cura d'Ars, Sermão sobre a Quinta-feira Santa; (7) Santo Afonso Maria de Ligório, Visitas ao Santíssimo Sacramento, I; (8) Rom 8, 31-39; Primeira leitura da Missa da quinta-feira da trigésima semana do Tempo Comum; (9) São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 219; (10) Fil 4, 3; (11) São João Crisóstomo, Homílias sobre a Epístola aos Romanos, 15; (12) Santa Teresa, Vida, 22, 6-7; (13) cfr. São Tomás More, La agonia de Cristo, Rialp, Madrid, 1988, introd., pág. 33; (14) São Josemaria Escrivá, Forja, n. 835.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


31 de Outubro 2019

A SANTA MISSA

30ª Semana do Tempo Comum – Quinta-feira 
Cor: Verde

[slz_tabs tab_text_color="#000000" tab_active_text_color="#86653c"]

1ª Leitura: Rm 8,31b-39

“Nenhuma criatura será capaz de nos separar do amor de Deus por nós,.
manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor” 

Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos.

Irmãos, 31b se Deus é por nós, quem será contra nós? 32 Deus, que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos daria tudo junto com ele? 33 Quem acusará os escolhidos de Deus? Deus, que os declara justos? 34 Quem condenará? Jesus Cristo, que morreu, mais ainda, que ressuscitou, e está, à direita de Deus, intercedendo por nós? 35 Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada? 36 Pois é assim que está escrito: “Por tua causa somos entregues à morte, o dia todo; fomos tidos como ovelhas destinadas ao matadouro”. 37 Mas, em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou! 38 Tenho certeza de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os poderes celestiais, nem o presente nem o futuro, nem as forças cósmicas, 39 nem a altura nem a profundeza, nem outra criatura qualquer serão capazes de nos separar do amor de Deus por nós, manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 108(109), 21-22.26-27.30-31(R. 26b)

R. Salvai-me, Senhor, segundo a vossa bondade!

21 Agi a meu favor, ó Senhor Deus, +
por amor do vosso nome, libertai-me,*
pois, vossa lealdade é benfazeja!
22 Necessitado e infeliz, eis o que sou,
dentro de mim meu coração está ferido!       R.

26 Senhor, meu Deus, vinde ajudar-me e salvar-me,*
segundo vosso amor e compaixão.
27 Para que nisso reconheçam vossa mão,
e saibam que sois vós que o fizestes!         R.

30 Celebrarei o meu Senhor em alta voz,*
em meio à multidão hei de louvá-lo.
31 Pois ele defende o indigente e o salva*
daqueles que condenam sua alma.         R.

Evangelho: Lc 13, 31-35 

“Não convém que um profeta morra fora de Jerusalém”

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

31 Naquela hora, alguns fariseus aproximaram-se e disseram a Jesus: ‘Tu deves ir embora daqui, porque Herodes quer te matar.’ 32 Jesus disse: ‘Ide dizer a essa raposa: eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho. 33 Entretanto, preciso caminhar hoje, amanhã e depois de amanhã, porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém. 34 Jerusalém, Jerusalém! Tu que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne os pintainhos debaixo das asas, mas tu não quiseste! 35 Eis que vossa casa ficará abandonada. Eu vos digo: não me vereis mais, até que chegue o tempo em que vós mesmos direis: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

[/slz_tabs]

30 de Outubro 2019

A SANTA MISSA

30ª Semana do Tempo Comum – Quarta-feira 
Cor: Verde

[slz_tabs tab_text_color="#000000" tab_active_text_color="#86653c"]

1ª Leitura: Rm 8, 26-30

“Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus”

Leitura da Carta de São Paulo apóstolo aos Romanos

Irmãos: 26 Também, o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis. 27 E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos. 28 Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus. 29 Pois aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, a esses ele predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos. 30 E aqueles que Deus predestinou, também os chamou. E aos que chamou, também os tornou justos; e aos que tornou justos, também os glorificou.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 12(13), 4-5.6(R. 6a)

R. Senhor, eu confiei na vossa graça!

Olhai, Senhor, meu Deus, e respondei-me! +
Não deixeis que se me apague a luz dos olhos *
e se fechem, pela morte, adormecidos!
Que o inimigo não me diga: ‘Eu triunfei!’ *
Nem exulte o opressor por minha queda.        R.

6 Uma vez que confiei no vosso amor!
Meu coração, por vosso auxílio, rejubile, *
e que eu vos cante pelo bem que me fizestes!       R. 

Evangelho: Lc 13,22-30 

 Virão do oriente e do ocidente,
e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo: 22 Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. 23 Alguém lhe perguntou: ‘Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?’ Jesus respondeu: 24 ‘Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. 25 Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: `Senhor, abre-nos a porta!’ Ele responderá: `Não sei de onde sois.’ 26 Então começareis a dizer: `Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!’ 27 Ele, porém, responderá: `Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!’ 28 Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas no Reino de Deus, e vós, porém, sendo lançados fora. 29 Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. 30 E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

[/slz_tabs]

Santo Ângelo de Acre

30 de Outubro

Santo Ângelo de Acre

Santo Ângelo nasceu em Acre, na Calábria, em Itália, no dia 19 de Outubro de 1669, sendo batizado com o nome de Luca Antônio. Foram seus pais Francisco Falcone e Diana Enrico. Quando tinha 18 anos pensou ser capuchinho. Entrou no noviciado em Acre, na Província de Cosenza.

Invadido por dúvidas e incertezas com medo de não conseguir observar o ideal da Ordem, deixou duas vezes o noviciado. Entrou uma terceira vez e conseguiu vencer as suas dúvidas e fez a profissão religiosa em 1691. Concluídos os estudos, foi ordenado sacerdote.

Como sacerdote entregou-se à pregação, simples e fervorosa, despida de retórica, mas acompanhada de milagres, exercendo um grande e benéfico impacto, sobretudo, no meio das pessoas do campo, no sul da Itália. Como recordação das suas missões, era seu costume levantar um calvário constituído por três cruzes. A sua vida de contínua oração e a sua austeridade eram a melhor confirmação de tudo aquilo que recomendava aos fiéis. Toda a região da Calábria se sentiu invadida por uma onda de fé e de fervor.

O início deste seu apostolado foi de desilusão. Por isso mesmo, depois de um primeiro fracasso, frei Ângelo pediu ao Senhor que lhe desse o dom da palavra. O Senhor ouviu-o. Quando estava no púlpito, as ideias surgiam-lhe com tal abundância que parecia estar a ser inspirado por Deus. As primeiras dioceses a serem evangelizadas por ele foram: Cosenza, Rossano, Bisignano, São Marcos, Nicastro e Oppodo Lucano. Quando pregava nesta última, apareceu sobre a sua cabeça uma estrela luminosa que foi vista com admiração por todos os presentes. As conversões foram tantas que o demônio, invejoso de tais êxitos, muitas vezes tentou conseguir que ele interrompesse a pregação.

Em 1771, o cardeal Pignatelli convidou Frei Ângelo a pregar a Quaresma na Catedral de Nápoles. Começou na Quarta-feira de Cinzas e a Catedral estava repleta. Este irmão pregou com simplicidade; os ouvintes, primeiramente, sorriam; depois, perante a santidade da sua vida e a profundidade das suas palavras, os milagres que se sucederam durante toda a Quaresma e as numerosas conversões, a assembleia compreendeu que a pregação estava a ser orientada por um santo. Os temas das suas pregações eram os novíssimos e as demais verdades da fé.

Na sua vida, foram frequentes os êxtases. Foi visto diversas vezes elevado da terra. Quando pregava, uma ou outra vez aparecia rodeado de luz celestial. Outras vezes, foi vista uma pomba branca que pousava sobre a sua cabeça.

Foi eleito pelos seus irmãos Ministro Provincial. Pela forma como conduzia o seu ministério foi designado o anjo da paz. Dizia: É uma grande graça e uma grande glória ser capuchinho e verdadeiro filho de São Francisco. Mas é necessário conhecer e levar sempre conosco cinco pedras preciosas: a austeridade, a simplicidade, a fiel observância das Constituições e da Regra de São Francisco, a inocência de vida e uma caridade sem limites.

No ano de 1739, foi enviado para o Convento de Acre, sua terra natal. Já era de avançada idade e estava cansado pelas atividades apostólicas. Os seus conterrâneos tinham medo que ele morresse longe da sua terra. Ele, porém, queria morrer no seu campo de trabalho. Seis meses antes da sua morte, foi acometido de cegueira.

Com 70 anos de idade, no dia 30 de Outubro de 1739, com os nomes de Jesus e de Maria nos lábios, expirou serenamente. Morreu na sua terra – Acre – onde um grande santuário conserva o seu corpo venerável. Foi beatificado pelo Papa Leão XII, no dia 18 de Dezembro de 1825.

O Milagre para sua Canonização foi a cura milagrosa de um jovem. O evento ocorreu na Calábria. O jovem com idade de cerca de dezoito anos, enquanto viajava em sua própria moto sem usar o capacete, perdeu o controle do veículo e bateu violentamente contra um poste de madeira da rede telefônica, caindo no chão com um impacto terrível do crânio no asfalto. Ele foi levado à sala de emergência do hospital de Cosenza em estado muito grave. Era 23 de março de 2010. Nos dias seguintes, a situação estava piorando, ao ponto de os médicos se pronunciarem por um prognóstico muito grave, não apenas do estado de saúde do paciente, mas também do risco de sua própria vida.

Nesse contexto, a mãe do menino, devota do Beato Ângelo, voltou-se para o frei capuchinho. Além de invocar pessoalmente o Beato, ela envolveu muitas pessoas em uma oração comunitária para pedir a cura do enfermo, cuja cama também tinha uma relíquia. De repente, em 30 de março, a evolução voltou-se para o melhor, os sinais vitais começaram a cair dentro da normalidade e o menino foi transferido para a enfermaria e depois para um centro de reabilitação. Dentro de algumas semanas, sua recuperação tornou-se plena, sem sequelas, e o paciente conseguiu voltar para casa e para a escola. Os controles clínicos subsequentes encontraram condições físicas normais e sua saúde completamente restabelecida.

A coincidência cronológica e a conexão entre a invocação ao Beato e a cura do jovem, que mais tarde desfrutou de boa saúde e foi capaz de voltar a ter uma vida normal, é evidente.

Assim, o Beato Ângelo foi Canonizado em 15 de outubro de 2017 pelo Papa Francisco.

Fonte: http://coisasdesantos.blogspot.com


Entenderás mais tarde

TEMPO COMUM. TRIGÉSIMA SEMANA. QUARTA-FEIRA

– Estamos nas mãos de Deus. Todos os acontecimentos que Ele envia ou permite têm o seu significado e visam o nosso proveito.
– O sentido da nossa filiação divina. Omnia in bonum!, tudo é para o bem.
– A confiança em Deus não nos leva à passividade, mas a lutar por todos os meios ao nosso alcance.

I. NA ÚLTIMA NOITE que Jesus passou com os seus discípulos antes da sua Paixão e Morte, num determinado momento daquela Ceia íntima, levantou-se, depôs o manto e, pegando numa toalha, cingiu-se1. São João, o Evangelista que nos deixou escritas as suas inesquecíveis recordações da Quinta-Feira Santa, descreve pausadamente aqueles acontecimentos que com tanta profundidade lhe ficaram gravados para sempre: Depois lançou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, e a limpar-lhos com a toalha com que se tinha cingido.

Tudo transcorria normalmente, ante o assombro dos Apóstolos, que não se atreviam a dizer palavra, até que o Senhor chegou a Pedro, que manifestou em voz alta a sua surpresa e a sua negativa: Senhor, tu lavares-me os pés? Jesus respondeu-lhe: O que eu faço, tu não o entendes agora, mas entendê-lo-ás mais tarde. Depois de um afável braço-de-ferro com o Apóstolo, Jesus lavar-lhe-á os pés, como o fizera com os outros. Com a vinda do Espírito Santo, ao relembrar esses acontecimentos, Simão compreendeu o significado profundo do gesto do Mestre, que assim quis ensinar aos que seriam as colunas da Igreja a missão de serviço que os aguardava. 

O que eu faço, tu não o entendes agora... Passa-se conosco o mesmo que com Pedro: às vezes, não compreendemos os acontecimentos que o Senhor permite: a dor, a doença, a ruína econômica, a perda do emprego, a morte de um ser querido quando estava no começo da vida... Ele tem uns planos mais altos, que abarcam esta vida e a felicidade eterna. A nossa mente mal alcança as coisas mais imediatas, uma felicidade a curto prazo. Como não havemos de confiar no Senhor, na sua Providência amorosa? Só confiaremos nEle quando os acontecimentos nos parecerem humanamente aceitáveis? Estamos nas suas mãos, e em nenhum outro lugar poderíamos estar melhor. Um dia, no fim da nossa vida, o Senhor explicar-nos-á em pormenor o porquê de tantas coisas que agora não entendemos, e veremos a sua mão providente em tudo, até nas coisas mais insignificantes.

Se diante de cada fracasso, diante dos acontecimentos que não sabemos discernir, ante a injustiça que nos revolta, ouvirmos a voz consoladora de Jesus que nos diz: O que eu faço, tu não o entendes agora, mas entendê-lo-ás mais tarde, então não haverá lugar para o ressentimento ou para a tristeza. “Porque tudo o que acontece está previsto por Deus e ordenado para a salvação do homem e para a sua plena realização na glória; se o que acontece é bom, Deus o quer; se é mau, não o quer, permite-o, porque respeita a liberdade do homem e a ordem natural, mas tem nas suas mãos o poder de tirar bem e proveito para a alma, mesmo do mal”2.

Em face dos acontecimentos que fazem sofrer, tem de sair do fundo da nossa alma uma oração simples, humilde, confiante: Senhor, Tu sabes mais, abandono-me em Ti. Entenderei mais tarde.

II. NUMA DAS LEITURAS previstas para a Missa de hoje, São Paulo escreve aos primeiros cristãos de Roma: Diligentibus Deum, omnia cooperantur in bonum..., todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus3. “Penas? Contrariedades por causa daquele episódio ou daquele outro?... Não vês que assim o quer teu Pai-Deus..., e que Ele é bom..., e te ama – a ti só! – mais do que todas as mães do mundo juntas podem amar os seus filhos?”4

O sentido da filiação divina leva-nos a descobrir que estamos nas mãos de um Pai que conhece o passado, o presente e o futuro, e que faz concorrer todas as coisas para o nosso bem, ainda que não seja o bem imediato que talvez nós desejemos e queiramos por não vermos mais longe.

Isto leva-nos a viver com serenidade e paz, mesmo no meio das maiores tribulações. Por isso seguiremos sempre o conselho de São Pedro aos primeiros fiéis: Descarregai sobre Ele as vossas preocupações, porque Ele cuida de vós5.

Não existe ninguém que possa cuidar melhor de nós: o Senhor jamais se engana. Na vida humana, mesmo aqueles que mais nos amam, às vezes não acertam e, ao invés de arrumar, desarranjam. Não acontece assim com o Senhor, infinitamente sábio e poderoso, que, respeitando a nossa liberdade, nos conduz suaviter et fortiter6, com suavidade e com mão de pai, para as coisas que realmente importam, para uma eterna felicidade.

As próprias faltas e pecados podem acabar por ser para bem, pois “Deus dirige absolutamente todas as coisas para o proveito dos seus filhos, de sorte que ainda àqueles que se desviam e ultrapassam os limites os faz progredir na virtude, porque se tornam mais humildes e experimentados”7. A contrição, quando não é só de boca e apressada, conduz a alma a um amor mais profundo e confiante, a uma maior proximidade com Deus.

Por isso, na medida em que nos sentimos filhos de Deus, a vida converte-se numa contínua ação de graças. Mesmo por trás daquilo que parece uma verdadeira catástrofe, o Espírito Santo nos faz ver “uma carícia de Deus”, que nos move à gratidão. Obrigado, Senhor!, dir-lhe-emos no meio de uma doença dolorosa ou ao termos notícia de um acontecimento que nos causa muita pena. Assim reagiram os santos, e assim devemos aprender a comportar-nos perante as desgraças desta vida.

“É muito grato a Deus o reconhecimento pela sua bondade que denota recitar um «Te Deum» de ação de graças, sempre que ocorre algum acontecimento um pouco extraordinário, sem dar importância a que seja – como o chama o mundo – favorável ou adverso: porque, vindo das suas mãos de Pai, mesmo que o golpe de cinzel fira a carne, é também uma prova de Amor, que tira as nossas arestas para nos aproximar da perfeição”8.

III. O ABANDONO e a confiança em Deus não nos levam de maneira nenhuma à passividade, que em muitos casos seria negligência, preguiça ou cumplicidade.

Temos de combater o mal físico ou moral com todos os meios ao nosso alcance, sabendo que esse esforço, com muito resultado ou aparentemente sem nenhum, é grato a Deus e origem de muitos frutos sobrenaturais e humanos. Quando ficamos doentes, além de aceitarmos essa situação e de oferecermos a Deus as dores e as incomodidades, devemos lançar mão dos meios que o caso requeira: ir ao médico, obedecer às suas prescrições, descansar... E a injustiça, a desigualdade social, a penúria de tantas pessoas, devem levar-nos – junto com outros homens de boa vontade – a procurar os recursos ou as soluções que pareçam mais aptas. E o mesmo temos de fazer perante a ignorância e a falta de formação de tantas pessoas... Nada mais alheio ao espírito cristão do que uma confiança em Deus mal entendida, que nos levasse a permanecer inativos diante do sofrimento e da necessidade.

Deus é nosso Pai e cuida amorosamente de nós, mas conta com a nossa inteligência e bom senso para nos ajudar a percorrer o caminho pelo qual nos quer levar, como conta também com o nosso amor fraterno para encaminhar através de nós a vida de outros filhos seus. Para isso deu-nos uns talentos que devemos utilizar constantemente.

Quando, apesar de tudo, parece que fracassamos, quando os meios requeridos pelo caso não dão o resultado esperado, temos que ter a certeza de que nos estamos santificando. O Senhor santifica os “fracassos” que surgem depois de termos empregado os meios que pareciam oportunos, mas não abençoa as nossas omissões, pois trata-nos como a filhos inteligentes, de quem espera que saiam em busca dos remédios adequados.

Empreguemos em cada caso todos os meios que estiverem em nossas mãos, e depois, omnia in bonum!, tudo será para bem. Os resultados aparentemente bons ou maus levar-nos-ão a amar mais a Deus, nunca a separar-nos dEle. No sentido da filiação divina encontraremos a proteção e o calor paternal de que todos necessitamos. “Se tendes confiança nEle e ânimos animosos, que Sua Majestade é muito amigo disto, não tenhais medo de que vos falte coisa alguma”9, escreveu Santa Teresa depois de uma longa experiência. Junto do Senhor e sob o amparo da Santíssima Virgem, ganham-se todas as batalhas, ainda que, aparentemente, se percam algumas.

(1) Jo 13, 4 e segs.; (2) Federico Suárez, Después, pág. 208; (3) Rom 8, 28; Primeira leitura da Missa da trigésima semana da quarta-feira do Tempo Comum, ano I; (4) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Forja, n. 929; (5) 1 Pe 5, 8; (6) Sab 8, 1; (7) Santo Agostinho, Sobre a conversão e a graça, 30; (8) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 609; (9) Santa Teresa, Fundações, 27, 12.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


29 de Outubro 2019

A SANTA MISSA

30ª Semana do Tempo Comum – Terça-feira 
Cor: Verde

[slz_tabs tab_text_color="#000000" tab_active_text_color="#86653c"]

1ª Leitura: Rm 8,18-25

“Toda a criação está esperando ansiosamente
o momento de se revelarem os filhos de Deus”

Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos.

Irmãos, 18 eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós. 19 De fato, toda a criação está esperando ansiosamente o momento de se revelarem os filhos de Deus. 20 Pois a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua livre vontade, mas por sua dependência daquele que a sujeitou; 21 também ela espera ser libertada da escravidão da corrupção e, assim, participar da liberdade e da glória dos filhos de Deus. 22 Com efeito, sabemos que toda a criação, até o tempo presente, está gemendo como que em dores de parto. 23 E não somente ela, mas nós também, que temos os primeiros frutos do Espírito, estamos interiormente gemendo, aguardando a adoção filial e a libertação para o nosso corpo. 24 Pois já fomos salvos, mas na esperança. Ora, o objeto da esperança não é aquilo que a gente está vendo; como pode alguém esperar o que já vê? 25 Mas se esperamos o que não vemos, é porque o estamos aguardando mediante a perseverança.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 125 (126), 1-2ab.2cd-3.4-5.6(R. 3)

R. Maravilhas fez conosco o Senhor!

Quando o Senhor reconduziu nossos cativos,*
parecíamos sonhar;
2a encheu-se de sorriso nossa boca,*
2b nossos lábios, de canções.        R.

2c Entre os gentios se dizia: ‘Maravilhas*
2d fez com eles o Senhor!’
3 Sim, maravilhas fez conosco o Senhor,*
exultemos de alegria!         R.

4 Mudai a nossa sorte, ó Senhor,*
como torrentes no deserto.
5 Os que lançam as sementes entre lágrimas,*
ceifarão com alegria.        R.

6 Chorando de tristeza sairão,*
espalhando suas sementes;
cantando de alegria voltarão,*
carregando os seus feixes!        R. 

Evangelho: Lc 13,18-21 

A semente cresce, torna-se uma grande árvore. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo: 18 Jesus dizia: ‘A que é semelhante o Reino de Deus, e com que poderei compará-lo? 19 Ele é como a semente de mostarda, que um homem pega e atira no seu jardim. A semente cresce, torna-se uma grande árvore, e as aves do céu fazem ninhos nos seus ramos.’ 20 Jesus disse ainda: ‘Com que poderei ainda comparar o Reino de Deus? 21 Ele é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

[/slz_tabs]

Beata Chiara Luce

29 de Outubro

Beata Chiara Luce

Chiara Luce nasceu em uma família simples. Filha de pais católicos praticantes, chamados Maria Teresa e Ruggero Badano. Filha única, depois de 11 anos de tentativas para ter um filho. Sua chegada é considerada uma graça de Nossa Senhora das Pedras. Foi educada nos ensinamentos de seus pais para se tornar uma cristã. "Mas percebemos logo que não era filha apenas nossa. Era, antes de tudo, filha de Deus e, como tal, a devíamos educar, respeitando a sua liberdade", conta a sua mãe, Maria Teresa.

Aos 9 anos entrou como Gen (Geração Nova) no Movimento dos Focolares. Viveu a sua espiritualidade e, pouco a pouco, envolveu os pais. Desde então, a sua vida foi uma subida, tentando "colocar a Deus em primeiro lugar". Prosseguiu os estudos até o Liceu clássico e ofereceu a Jesus as suas dificuldades e sofrimentos.

Aos 13 anos, começou a fazer parte do Gen 3 da Ligúria e, pela sua coerência de vida, era por vezes muito criticada por amigas e até mesmo por sacerdotes. Foi ridicularizada, porque era uma Gen e ia à Missa também durante a semana. Participava com atenção da aula de religião, procurava amar a todos os professores, mesmo os mais difíceis e era muito disponível para ajudar a todos. Por isso, as crianças chamavam-na de "freira". Isso fê-la sofrer muito, mas, na Mariápolis encontrou a resposta n'Ele, isto é, em Jesus Abandonado.

Aos 17 anos, de repente, uma dor aguda no ombro esquerdo revelou, nos exames e nas inúteis operações, um osteossarcoma que deu início a um calvário de dois anos aproximadamente. Depois que ouviu o diagnóstico, Chiara não chorou, nem se revoltou: ficou imóvel, em silêncio, e, depois de 25 minutos, saiu de seus lábios o "sim" à vontade de Deus. Repetirá muitas vezes: "Se é o que queres, Jesus, é o que eu também quero".

O início da caminhada mais íntima de Chiara, na ida em rumo ao seu "Esposo Jesus", como gostava de chamá-lo, ocorreu em 1989, próxima de completar 18 anos. Uma forte dor nas costas e ombro esquerdo a acometeu durante uma partida de tênis. Isso causou uma suspeita dos médicos. Foram vários exames clínicos e de todos os tipos para se definir a causa das dores. Logo chegou-se a um diagnóstico: estava com um osteossarcoma (tumor ósseo maligno). Continuaram as consultas e exames, até que, no final de fevereiro de 1989, Chiara fez a primeira operação. As esperanças são poucas. As jovens que partilham de seu mesmo ideal e outras pessoas do Movimento se alternam em visitas ao hospital, para sustentar a ela e sua família com a unidade e a ajuda concreta.

As internações no hospital, em Turim, tornam-se cada vez mais frequentes e os tratamentos são muito dolorosos. Chiara os enfrenta com grande coragem. Diante de cada nova "surpresa" o seu oferecimento é decidido: "Por ti, Jesus! Se tu queres, eu também quero"!

Assim sendo, não perde o sorriso luminoso e enfrenta tratamentos dolorosos e arrastava no mesmo Amor a quem dela se aproximava. Ela não aceita receber morfina (analgésico potente) para não perder a lucidez e ofereceu tudo pela Igreja, pelos jovens, os ateus, pelo Movimento, pelas missões, etc. E permaneceu serena e forte. Repetia: "Não tenho mais nada, contudo, tenho o meu coração e, com ele, posso sempre amar".

Em seu quarto, no hospital de Turim e em casa, qualquer lugar era um lugar de encontro, de apostolado e de unidade: era a sua igreja. No coração de Chiara se encontrava um amor grande como um interminável oceano. Assim, mesmo doente, dizia: "Agora não tenho mais nada sadio. Porém, tenho ainda o coração com o qual posso sempre amar".

Também os médicos, até mesmo aqueles católicos não praticantes, ficavam desconsertados com a paz que se sentia ao seu redor e alguns deles se reaproximaram de Deus. Se sentiam "atraídos como por um ímã" e ainda hoje se recordam dela, falam sobre ela e a invocam. O médico que a acompanhava, cético e muito crítico em relação à Igreja, fica cada vez mais profundamente tocado pelo testemunho seu e de seus pais. "Desde quando conheci Chiara alguma coisa mudou dentro de mim. Aqui existe coerência. Aqui, na minha opinião, todo o cristianismo se encaixa". "Fora do comum", "extraordinário", "incrível", foram alguns dos adjetivos usados por esses médicos, que descrevem a sua serenidade e a fortaleza pela forma que Chiara encarou esse doença mortal. "É verdade. A sua atitude não era normal, porque completamente sobrenatural, fruto da graça divina, da fé infinita e do heroísmo cheio de virtude. Ela falava do vestido de noiva para o seu funeral, como faria uma jovem que se prepara para o matrimônio. Dizia: 'Eu não choro, porque estou feliz'." Ela dizia à mãe: "Quando me quiser encontrar, olhe para o céu. Me encontrará numa estrelinha".

Quando sua mãe lhe perguntou se sofria muito, ela responde: "Jesus tira de mim as manchas dos pontinhos pretos com a água sanitária e isso queima. Quando eu chegar ao Paraíso, serei branca como a neve". Estava totalmente convencida do Amor de Deus por ela. E, de fato, afirmava: "Deus me ama imensamente", e, depois de uma noite particularmente dura, acrescentou: "Sofria muito, mas, a minha alma cantava"...

Os amigos que foram visitá-la e consolá-la, acabavam por voltar para casa consolados. Pouco antes de partir para o Céu, ela revelou: "Vocês não podem imaginar como é agora o meu relacionamento com Jesus... Sinto que Deus me pede algo mais, algo maior. Talvez seja ficar neste leito por anos, não sei. Interessa-me unicamente a vontade de Deus, fazê-la bem no momento presente: aceitar os desafios de Deus. Se agora me perguntassem se quero andar (a doença chegou a paralisar suas pernas com contrações muito dolorosas), eu diria não, porque, assim, estou mais perto de Jesus". Embora vivendo essa imobilidade, Chiara ainda era muito ativa. Pelo telefone acompanhou o "Grupo de Jovens por um Mundo Unido de Savona". Mandando mensagens, cartões e cartazes, faz sentir sua presença nos Congressos e atividades. Procurou todos os meios para fazer com que seus amigos e colegas de escola conheçam os Gen e as Gen. Convida muitos deles para o Genfest 90 (encontro internacional dos Jovens por um Mundo Unido, realizado em Roma, em maio de 1990), que tem a alegria de assistir graças a uma antena parabólica montada no teto de sua casa.

Chiara, pela insistência de muitas pessoas, escreveu num bilhetinho a Nossa Senhora: Mãezinha Celeste, eu te peço o milagre da minha cura; se isso não for vontade de Deus, peço-te a força para nunca ceder" e permanecerá fiel a este propósito.

No início do verão os médicos percebem que o tratamento não surte efeito e decidem interromper as terapias. "É impossível parar a doença". Então, eles informam a Chiara Lubich sobre a situação da menina Chiara Badano. Esse é o dia 19 de julho de 1990: "A medicina depôs as suas armas. Interrompendo os tratamentos, as dores nas costas aumentaram e quase não consigo mais me mexer. Sinto-me tão pequena e o caminho a percorrer é tão árduo... muitas vezes sinto-me sufocada pela dor. Mas, é o Esposo que vem me encontrar, não é? Sim, eu também repito, com você: 'Se tu queres, eu também quero'... Tenho certeza que com Ele venceremos o mundo"!

Para viver bem o cristianismo, Chiara procurou participar da Missa todos os dias, quando recebia Jesus que tanto amava. Tinha por hábito ler e meditar a Palavra de Deus. Assim, muitas vezes refletia sobre a frase de Chiara Lubich: "Serei santa, se for santa já".

Quando viu que a mãe estava preocupada, pois ficaria sem ela, Chiara continuou a repetir: "Confie em Deus, pois, você fez tudo"; e "Quando eu tiver morrido, siga Deus e encontrará a força para ir em frente".

Ela acolheu com amabilidade a todos que foram visitá-la e escutava e oferecia o próprio sofrimento, porque dizia: "Eu tenho mesmo a matéria"! E nos últimos encontros com o seu bispo, manifestou um grande amor pela Igreja. Enquanto isso, o mal avançava sobre ela e as dores aumentavam. Não se ouviu nenhum lamento dos seus lábios, mas, somente: "Com você, Jesus! Por você, Jesus"!

Chiara se preparou para o encontro: "É o Esposo que vem me encontrar", e escolhe o vestido de noiva, as canções e as orações para a "sua" Missa; o rito deverá ser uma "festa", onde "ninguém deverá chorar".

Recebendo pela última vez Jesus na Eucaristia parece imersa nele e suplica que seja recitada a oração: "Vinde, Espírito Santo, mandai do Céu um raio da tua luz".

O nome "Luce" (luz) lhe foi dado por Chiara Lubich, com quem teve um intenso e filial relacionamento epistolar desde pequenina.

Chiara, assim como Moisés, estava chegando ao momento final da sua santa viagem. Alcançou o mais alto da montanha santa mais elevada e ficou frente a frente com o Deus Trindade. Dali irradiou luz e alegria, ao voltar a entregar ao seu próximo as tábuas da Lei, como dez divinas palavras de amor e as bem-aventuranças de Jesus, para orientar a vida terrena em direção ao sol de Deus.

Não teve medo de morrer e disse à sua mãe: "Não peço mais a Jesus para vir me pegar e me levar para o Paraíso, porque quero ainda lhe oferecer o meu sofrimento, para dividir com ele ainda por um pouco a cruz". Um pensamento especial aos jovens: "... Os jovens são o futuro. Eu não posso mais correr. Porém, gostaria de lhes passar a tocha, como nas Olimpíadas. Os jovens tem uma vida só e vale a pena empregá-la bem"!

Suas últimas palavras - que não foram o seu último ato de amor, porque esse foi a doação das suas córneas a dois jovens  - quando se despediu foram: "Tchau, mamãe! Esteja feliz, porque eu estou feliz", relata Maria Teresa.

Fonte: http://www.santosebeatoscatolicos.com


A manifestação dos Filhos de Deus

TEMPO COMUM. TRIGÉSIMA SEMANA. TERÇA-FEIRA

– O sentido da nossa filiação divina.
– Filhos no Filho.
– Conseqüências da filiação divina.

I. LEMOS NO SALMO II estas palavras que se aplicam em primeiro lugar ao Messias: O Senhor disse-me: “Tu és o meu filho, Eu hoje te gerei” 1. Desde a eternidade, o Pai gera o Filho, e todo o ser da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade consiste na filiação, em ser Filho. O hoje mencionado pelo Salmo significa um sempre contínuo, eterno, pelo qual o Pai dá o ser ao seu Unigênito 2.

Para que exista uma filiação, no sentido preciso da palavra, requere-se igualdade de natureza 3. Por isso, somente Jesus Cristo é o Unigênito do Pai. Em sentido amplo, pode-se dizer que todas as criaturas, especialmente as espirituais, são filhas de Deus, ainda que com uma filiação muito imperfeita, pois a semelhança que têm com o Criador não é, de modo nenhum, identidade de natureza.

No entanto, com o Batismo, produziu-se na nossa alma uma regeneração, um novo nascimento, uma elevação sobrenatural, que nos fez participantes da natureza divina. Esta elevação sobrenatural deu origem a uma filiação divina imensamente superior à filiação humana própria de cada criatura. São João, no prólogo do seu Evangelho, diz-nos que a todos os que o receberam (a Cristo), deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, àqueles que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus4. “O Filho de Deus fez-se homem – explica Santo Atanásio – para que os filhos do homem, os filhos de Adão, se fizessem filhos de Deus [...]. Ele é o Filho de Deus por natureza; nós, por graça” 5.

A filiação divina ocupa um lugar central na mensagem de Jesus Cristo e é um ensinamento contínuo na pregação da Boa Nova cristã, como sinal eloqüente do amor de Deus pelos homens. Considerai que amor nos mostrou o Pai – escreve São João – em querer que sejamos chamados filhos de Deus, e que o sejamos na realidade 6. Esta condição de filhos, ainda que deva ter a sua plenitude no Céu, é já nesta vida uma realidade gozosa e cheia de esperança. Como nos diz São Paulo numa das Leituras da Missa de hoje, este mundo criado espera ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus... porque sabemos que todas as criaturas gemem e estão como que com dores de parto até agora. E não só elas, mas também nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também nós gememos no nosso interior, esperando a adoção de filhos de Deus... 7 O Apóstolo refere-se à plenitude dessa adoção, pois já nesta terra fomos constituídos filhos de Deus, que é a nossa maior glória e o maior dos nossos títulos: Portanto, já nenhum de vós é servo, mas filho; e se é filho, também é herdeiro 8.

As palavras que desde a eternidade o Pai aplica ao seu Unigênito, são atribuídas agora a cada um de nós. O Senhor diz-nos: Tu és o meu filho, Eu hoje te gerei. Este hoje é a nossa vida terrena, pois todos os dias o Senhor nos dá esse novo ser. “Diz-nos: Tu és o meu filho. Não um estranho, não um servo benevolamente tratado, não um amigo, o que já seria muito. Filho! Concede-nos livre trânsito para vivermos com Ele a piedade de filhos e também – atrevo-me a afirmar – a desvergonha de filhos de um Pai que é incapaz de lhes negar seja o que for” 9.

II. TU ÉS O MEU FILHO... O Senhor falou constantemente desta realidade aos seus discípulos. Umas vezes diretamente, ensinando-os a dirigir-se diretamente a Deus como Pai10,

apresentando-lhes a santidade como imitação filial do Pai 11...; e também por meio de numerosas parábolas, nas quais Deus é representado pela figura do pai12.

A filiação divina não consiste somente em que Deus nos tenha querido tratar como um pai aos seus filhos e em que nós nos dirijamos a Ele com a confiança dos filhos. Não é um simples grau mais elevado na linha dessas filiações que, num sentido amplo, todas as criaturas têm em relação a Deus, conforme a sua maior ou menor semelhança com o Criador. Isto já seria um dom imenso, mas o amor de Deus foi muito mais longe e fez-nos realmente filhos seus. Enquanto essas outras filiações são na realidade modos de expressão, a nossa filiação divina é filiação em sentido estrito, embora nunca possa ser como a de Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus. Para o homem, não pode haver nada maior, nada mais impensável e mais inalcançável, do que esta relação filial13.

A nossa filiação é uma participação na plena filiação exclusiva e constitutiva da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. “Desta filiação natural – explica São Tomás de Aquino –, deriva para muitos a filiação por certa semelhança e participação” 14. É a partir desta filiação que entramos em intimidade com a Santíssima Trindade: é uma verdadeira participação na vida do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

No que se refere à nossa relação com as divinas Pessoas, pode-se, pois, dizer que somos filhos do Pai no Filho pelo Espírito Santo15. “Mediante a graça recebida no Batismo, o homem participa do eterno nascimento do Filho a partir do Pai, porque é constituído filho adotivo de Deus: filho no Filho”16. “Ao sair das águas da sagrada fonte, todo o cristão ouve de novo aquela voz que um dia se fez ouvir nas margens do rio Jordão: Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu enlevo (Lc 3, 22), e compreende ter sido associado ao Filho predileto, tornando-se filho adotivo (cfr. Gál 4, 4-7) e irmão de Cristo” 17.

A filiação divina deve estar presente em todos os momentos do nosso dia, mas deve manifestar-se sobretudo se alguma vez sentimos com mais força a dureza da vida.

“Parece que o mundo desaba sobre a tua cabeça. À tua volta, não se vislumbra uma saída. Impossível, desta vez, superar as dificuldades.

“Mas tornaste a esquecer que Deus é teu Pai? Onipotente, infinitamente sábio, misericordioso. Ele não te pode enviar nada de mau. Isso que te preocupa, é bom para ti, ainda que agora os teus olhos de carne estejam cegos.

Omnia in bonum! Tudo é para bem! Senhor, que outra vez e sempre se cumpra a tua sapientíssima Vontade!” 18

III. A FILIAÇÃO DIVINA não é um aspecto entre muitos da vocação do cristão: de algum modo, abarca todos os outros. Não é propriamente uma virtude que tenha os seus atos particulares, mas uma condição permanente do batizado que vive a sua vocação. A piedade que nasce dessa nova condição do homem que segue os passos de Jesus “é uma atitude profunda da alma, que acaba por informar a existência inteira: está presente em todos os pensamentos, em todos os desejos, em todos os afetos” 19. Se considerarmos atentamente os desígnios de Deus, podemos dizer que todos os dons e graças nos foram dados para nos constituírem como filhos de Deus, como imitadores do Filho até chegarmos a ser alter Christus, ipse Christus 20, outro Cristo, o próprio Cristo.

Cada vez temos de parecer-nos mais com Cristo. A nossa vida deve refletir a sua. Por isso a filiação divina deve ser objeto da nossa oração e das nossas reflexões com muita freqüência.

Assim a nossa alma virá a encher-se de paz no meio das maiores tentações ou contratempos, pois viveremos abandonados nas mãos de Deus. Um abandono que não nos dispensará do empenho por melhorar, nem de empregar todos os meios humanos ao nosso alcance para lutar contra a doença, a penúria econômica, a solidão..., mas que nos dará paz no meio dessa luta. A vida dos santos, mesmo no meio de muitas provas, sempre esteve cheia dessa serenidade, como deve estar a nossa.

A filiação divina é também o fundamento da fraternidade cristã, que está acima do vínculo de solidariedade que existe entre os homens. Nos outros, devemos ver filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo, chamados a um destino sobrenatural. Desta maneira, ser-nos-á fácil prestar-lhes essas pequenas ajudas diárias de que todos necessitamos e, sobretudo, indicar-lhes amavelmente o caminho que leva ao Pai comum.

A nossa Mãe Santa Maria ensinar-nos-á a saborear essas palavras do Salmo II que líamos no começo desta meditação, e a considerá-las como realmente dirigidas a cada um de nós: Tu és o meu filho, Eu hoje te gerei.

(1) Sl 2, 7; (2) cfr. João Paulo II, Audiência geral, 16.10.85; (3) cfr. São Tomás de Aquino, Suma teológica, III, q. 32, a. 3 c; (4) Jo 1, 12-13; (5) Santo Atanásio, De Incarnatione contra arrianos, 8; (6) 1 Jo 3, 1; (7) Rom 8, 19-23; (8) Gál 4, 7; (9) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 185; (10) cfr. Mt 6, 9; (11) cfr. Mt 5, 48; (12) cfr. J. Bauer, Diccionario de teologia biblica, Herder, Barcelona, 1967, verbete Filiación; (13) cfr. M. C. Calzona, Filiación divina y cristiana en el mundo, em La misión del laico en la Iglesia y en el mundo, EUNSA, Pamplona, 1987, pág. 301; (14) São Tomás de Aquino, Comentário ao Evangelho de São João, 1, 8; (15) cfr. Fernando Ocáriz, Hijos de Dios en Cristo, EUNSA, Pamplona, 1972, pág. 98; (16) João Paulo II, Homilia, 23.03.80; (17) João Paulo II, Exortação Apostólica Christifideles laici, 30.12.88, 11; (18) São Josemaría Escrivá, Via Sacra, IXª estação, n. 4; (19) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 146; (20) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 96.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


São Simão e São Judas Tadeu 

28 de Outubro

São Simão e São Judas Tadeu 

Celebramos na alegria da fé os apóstolos São Simão e São Judas Tadeu. Os apóstolos foram colunas e fundamento da verdade do Reino. Em geral temos poucas notícias da maioria dos apóstolos. Sabemos, no entanto, que foram animados missionários e evangelizaram com a palavra e com o testemunho, até mesmo com a vida no martírio.

São Simão

Simão tinha o cognome de Cananeu, palavra hebraica que significa “zeloso”. Nicéforo Calisto diz que Simão pregou na África e na Grã-Bretanha. São Fortunato, Bispo de Poitiers no fim do século VI, indica estarem Simão e Judas enterrados na Pérsia. Isto vem das histórias apócrifas dos apóstolos; segundo elas, foram martirizados em Suanir, na Pérsia, a mando de sacerdotes pagãos que instigaram as autoridades locais e o povo, tendo sido ambos decapitados. É o que rege o martirológio jeronimita. Outros dizem que Simão foi sepultado perto do Mar Negro; na Caucásia foi elevada em sua honra uma igreja entre o VI e o VIII séculos. Beda, pelo ano de 735, colocou os dois santos no martirológio a 28 de outubro; assim ainda hoje os celebramos. Na antiga basílica de São Pedro do Vaticano havia uma capela dos dois santos, Simão e Judas, e nela se conservava o Santíssimo Sacramento.

São Judas Tadeu

Judas, um dos doze, era chamado também Tadeu ou Lebeu, que São Jerônimo interpreta como homem de senso prudente. Judas Tadeu foi quem, na Última Ceia, perguntou ao Senhor: “Senhor, como é possível que tenhas de te manifestar a nós e não ao mundo?” (Jo 14,22). Temos uma epístola de Judas “irmão de Tiago”, que foi classificada como uma das epístolas católicas. Parece ter em vista convertidos, e combate seitas corrompidas na doutrina e nos costumes. Começa com estas palavras: Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, aos chamados e amados por Deus Pai, e conservados para Jesus Cristo: misericórdia, paz e amor vos sejam concedidos abundantemente”. Orígenes achava esta epístola “cheia de força e de graça do céu”.

Segundo São Jerônimo, Judas terá pregado em Osroene (região de Edessa), sendo rei Abgar. Terá evangelizado a Mesopotâmia, segundo Nicéforo Calisto. São Paulino de Nola tinha-o como apóstolo da Líbia. Conta-se que Nosso Senhor, em revelações particulares, teria declarado que atenderá os pedidos daqueles que, nas suas maiores aflições, recorrerem a São Judas Tadeu. Santa Brígida refere que Jesus lhe disse que recorresse a este apóstolo, pois ele lhe valeria nas suas necessidades. Tantos e tão extraordinários são os favores que São Judas Tadeu concede aos seus devotos, que se tornou conhecido em todo o mundo com o título de Patrono dos aflitos e Padroeiro das causas desesperadas. São Judas é representado segurando um machado, uma clava, uma espada ou uma alabarda, por sua morte ter ocorrido por uma dessas armas.

A citação de São Judas na Bíblia: A Bíblia trata pouco de São Judas Tadeu. Ela aponta, no entanto, um fato muito importante: ele foi escolhido a dedo, por Jesus, para ser um dos apóstolos. Quando os evangelhos nomeiam os doze discípulos escolhidos, sempre aparecem os nomes Judas ou Tadeu na relação dos apóstolos.

O nome de Judas aparece também nos Atos dos Apóstolos (At 1,13). Além dessas citações, seu sobrinho São João Evangelista (Jo 14,22) o nomeia entre os participantes do colégio apostólico que estavam no episódio da Santa Ceia, na quinta-feira santa. Foi nesta oportunidade que, quando Jesus confidenciava aos apóstolos as maravilhas do amor do Pai e lhes garantia especial manifestação de si próprio, que São Judas Tadeu não se conteve e perguntou: “Mestre, por que razão hás de manifestar-te só a nós e não ao mundo?” E foi, então, que Jesus lhe respondeu afirmando que haveria manifestações d’Ele a todos os que guardassem sua palavra e permanecessem fiéis a seu amor. Nesse fato da Última Ceia, São Judas Tadeu demonstra sua generosa compaixão para com todos os homens.

Quanto à Epistola de São Judas Tadeu: segundo a tradição eclesiástica, São Judas Tadeu é apontado, como sendo o autor da epístola canônica que traz seu nome. Tudo indica que essa carta foi dirigida aos judeus cristãos da Palestina, pouco depois da destruição da cidade de Jerusalém, quando a maioria dos Apóstolos já havia falecido. O breve escrito de São Judas Tadeu é uma severa advertência contra os falsos mestres e um convite a manter a pureza da fé.

Percebe-se que “A carta de São Judas” foi escrita por um homem apaixonado e preocupado com a pureza da fé e a boa reputação do povo cristão. O escritor afirma ter querido escrever uma carta diferente, mas ouvindo os pontos de vista errados de falsos professores da comunidade cristã urgentemente escreveu esta carta para alertar a Igreja a acautelar-se contra eles.

Peçamos aos Santos: Simão e Judas Tadeu, que nos ilumine e nos ajude nesta caminhada de busca do encontro com Jesus Cristo.

Fonte: http://arqrio.org


São Simão e São Judas, Apóstolos

– Os Apóstolos não procuraram a sua glória pessoal; propuseram-se levar a todos a mensagem de Cristo.
– A fé dos Apóstolos e a nossa fé.
– Amor a Jesus para segui-lo de perto.

Simão, também chamado Zelote, talvez por ter pertencido ao partido judeu dos zeladores da Lei, era natural de Caná da Galiléia. Judas, de cognome Tadeu (o valente), é apontado explicitamente desde os começos, pela tradição eclesiástica, como o autor da Epístola de São Judas. Pregaram a doutrina de Cristo, segundo parece, no Egito, Mesopotâmia e Pérsia, e morreram mártires em defesa da fé.

I. O SENHOR, que não necessitava de que lhe dessem testemunho 1, quis, no entanto, escolher os Apóstolos para que o acompanhassem na sua vida e continuassem a sua obra depois da sua morte. Nas primeiras manifestações da arte cristã, vemos com freqüência Jesus rodeado pelos Doze Apóstolos, formando com eles uma família inseparável.

Os discípulos não pertenciam à classe influente de Israel nem ao grupo sacerdotal de Jerusalém. Não eram filósofos, mas pessoas simples. “É uma eterna maravilha ver como esses homens estenderam pelo mundo uma mensagem radicalmente oposta nas suas linhas essenciais ao pensamento dos homens do seu tempo e, infelizmente, também do nosso!” 2

O Evangelho revela com freqüência a dor de Jesus pela falta de compreensão daqueles a quem confiava os seus pensamentos mais íntimos: Ainda não conhecestes nem entendestes? Ainda tendes o vosso coração obcecado? Tendes olhos e não vedes? Tendes ouvidos e não ouvis? 3 “Não eram cultos, nem sequer muito inteligentes, pelo menos no que se refere às realidades sobrenaturais. Até os exemplos e as comparações mais simples eram para eles incompreensíveis, e recorriam ao Mestre: Domine, e dissere nobis parabolam (Mt 13, 36), Senhor, explica-nos a parábola. Quando Jesus, servindo-se de uma imagem, alude ao fermento dos fariseus, imaginam que os está recriminando por não terem comprado pão (Mt 16, 67) [...].

“Estes eram os discípulos escolhidos pelo Senhor; assim os escolhe Cristo; assim se comportam antes de que, cheios do Espírito Santo, se convertam em colunas da Igreja (cfr. Gal 2, 9). São homens comuns, com defeitos, com fraquezas, com a palavra mais fácil do que as obras. E, não obstante, Jesus chama-os para fazer deles pescadores de homens (Mt 4, 19), corredentores, administradores da graça de Deus”4.

Os Apóstolos escolhidos pelo Senhor eram muito diferentes entre si; no entanto, todos manifestavam uma fé, uma mensagem... Não deve surpreender-nos que nos tenham chegado tão poucas notícias da maioria deles, pois o que lhes importava era dar um testemunho certo sobre Jesus e a doutrina que dEle tinham recebido: eram o “envelope”, cuja única missão se resumia em transmitir o papel onde estava escrita a mensagem, numa imagem utilizada algumas vezes por São Josemaría Escrivá para falar da humildade; apenas desejavam ser instrumentos do Senhor: o importante era a mensagem, não o envelope.

Dos dois grandes Apóstolos, Simão e Judas, cuja festa celebramos hoje, chegaram-nos poucas notícias: de Simão, só sabemos ao certo que foi escolhido expressamente pelo Senhor para fazer parte dos Doze; de Judas Tadeu, sabemos além disso que era parente do Senhor e que, na Última Ceia, formulou uma pergunta a Jesus –Senhor, qual é causa por que te hás de manifestar a nós e não ao mundo? 5 – e que, segundo a tradição eclesiástica, é o autor de uma das Epístolas católicas. Desconhecemos onde foram enterrados os seus corpos e não sabemos bem quais as terras que evangelizaram. Não se preocuparam em levar a cabo uma tarefa em que sobressaíssem os seus dotes pessoais, as suas conquistas apostólicas, os sofrimentos que padeceram pelo Mestre. Pelo contrário, procuraram passar ocultos e dar a conhecer Jesus Cristo. Nisso encontraram a plenitude e o sentido de suas vidas. E, apesar das suas condições humanas, insuficientes para a missão para a qual foram escolhidos, chegaram a ser a alegria de Deus no mundo.

Nós podemos aprender a encontrar a felicidade em cumprir silenciosamente a missão que o Senhor nos confiou nesta vida. “Aconselho-te a não procurar o louvor próprio, nem mesmo aquele que merecerias: é melhor passarmos ocultos, e que o mais belo e nobre da nossa atividade, da nossa vida, fique escondido... Como é grande este fazer-se pequeno! «Deo omnis gloria!» – toda a glória, para Deus”6.

Assim seremos verdadeiramente eficazes, pois “quando se trabalha única e exclusivamente para a glória de Deus, tudo se faz com naturalidade, com simplicidade, como quem tem pressa e não pode deter-se em «grandes manifestações», para não perder esse trato – irrepetível e incomparável – com o Senhor”7. “Como quem tem pressa”: assim temos que passar de um trabalho para outro, sem nos determos em considerações pessoais.

II. OS APÓSTOLOS foram testemunhas da vida e dos ensinamentos de Jesus, e transmitiram-nos com toda a fidelidade a doutrina que tinham ouvido e os acontecimentos que tinham presenciado. Não se dedicaram a difundir teorias pessoais, nem a oferecer soluções tiradas da sua própria experiência: Não foi seguindo fábulas engenhosas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas depois de termos sido espectadores da sua grandeza8, escreve São Pedro. E São João diz-nos, martelando: O que foi desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam acerca do Verbo da vida [...], isso é o que vos anunciamos 9. E São Lucas afirma que descreverá ordenadamente todos os acontecimentos da vida de Cristo como no-los referiram os que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra 10. A respeito daquela primeira comunidade cristã de Jerusalém, sabemos que perseveravam unânimes nos ensinamentos dos Apóstolos11. O fundamento da fé cristã é o ensinamento dos Doze, não a livre interpretação de cada um nem a autoridade dos sábios.

A voz dos Apóstolos, que ressoará até o fim dos séculos, foi o eco diáfano dos ensinamentos de Jesus: os seus corações e os seus lábios transbordavam de veneração e respeito pelas palavras do Senhor e pela sua Pessoa. Era um amor que fazia Pedro e João exclamarem diante das ameaças do Sinédrio: Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos12.

São muitos os séculos que nos separam dos Apóstolos que hoje celebramos. No entanto, a Luz e a Vida de Cristo que eles pregaram ao mundo continuam a chegar até nós. “A luz de Cristo não se extingue! Os Apóstolos transmitiram essa luz aos seus discípulos e estes aos seus, até chegar a nós através dos séculos e até o fim dos tempos. Por quantas e quão diversas mãos não passou essa luz! [...]. Devemos um grande reconhecimento a todos. Também para nós – o rebanho que atualmente se aproxima dos pastos divinos –, o Senhor previu os mestres, pastores e sacerdotes. Ele realiza por meio desses pobres braços a maravilha da nossa salvação. Ele cuida de nós com amor divino. Todas as estrelas refletem o seu esplendor. Todos os mares o cantam. Todos os céus o louvam”13. Não deixemos de fazê-lo também.

III. SIMÃO E JUDAS TADEU, como os demais Apóstolos, tiveram a imensa sorte de aprender dos lábios do Mestre a doutrina que depois ensinaram. Compartilharam com Ele alegrias e tristezas. Como os invejamos! Quantas coisas não aprenderam na intimidade das suas conversas com o Mestre, para depois as transmitirem aos outros! O que vos digo ao ouvido, pregai-o sobre os telhados14. Nenhum milagre havia de passar-lhes desapercebido, nenhuma lágrima, nenhum sorriso do Senhor deixaria de ter importância. Foram as testemunhas, os transmissores. Os Doze consideravam tão essencial esta íntima união com o Senhor que, quando tiveram de completar o número do Colégio apostólico, depois da defecção de Judas, estabeleceram uma única condição indispensável: Convém, pois, que destes homens que têm estado conosco durante todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós, desde o batismo de João até o dia em que foi arrebatado ao céu do meio de nós, um deles seja constituído testemunha conosco da sua ressurreição15.

Esses homens estiveram com Jesus nas fadigas do apostolado, nas horas de descanso, em que Ele lhes ensinava com voz pausada os mistérios do Reino, nas caminhadas esgotadoras sob o sol... Compartilharam com Ele as alegrias quando a multidão acolhia a sua pregação, e as penas quando notavam a falta de generosidade de um ou outro em seguir o Mestre. “Com que intimidade se confiavam a Ele, como um pai, como um amigo, quase como a sua própria alma! Conheciam-no pelo seu porte nobre, pelo cálido tom da sua voz, pela sua maneira de partir o pão. Sentiam-se inundados de luz e estremeciam de alegria quando os seus olhos profundos pousavam sobre eles e a sua voz lhes vibrava aos ouvidos. Coravam quando os repreendia pela sua pobreza de vistas, e, quando os corrigia, humilhavam os seus rostos curtidos pelos anos, como crianças apanhadas em falta... Sentiam-se profundamente impressionados quando lhes falava repetidamente da sua Paixão. Amavam o seu Mestre e seguiam-no não apenas porque queriam aprender a sua doutrina, mas sobretudo porque o amavam”16.

Peçamos hoje aos Apóstolos Simão e Judas que nos ajudem a conhecer e a amar cada dia mais o Mestre, o mesmo a quem um dia seguiram, e que foi o eixo em torno do qual girou toda a sua vida.

(1) Jo 2, 25; (2) O. Hophan, Los Apóstoles, pág. 16; (3) Mc 8, 17; (4) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 2; (5) Jo 14, 22; (6) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 1051; (7) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 555; (8) 2 Pe 1, 16; (9) 1 Jo 1, 1; (10) Lc 1, 3; (11) At 2, 42; (12) At 4, 20; (13) O. Hophan, op. cit., pág. 46-47; (14) Mt 10, 27; (15) At 1, 21; (16) O. Hophan, op. cit., pág. 25.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal