São Saturnino de Toulouse

29 de Novembro

São Saturnino de Toulouse

De origem grega, são Saturnino é uma das devoções mais populares na França e na Espanha. A confirmação de sua vida emergiu junto com a descoberta de importantes escritos do cristianismo produzidos entre os anos 430 e 450. Conhecidos como a 'Paixão de Saturnino', trouxeram dados enriquecedores sobre a primitiva Igreja de Cristo na Gália, futura França.

Esses documentos apontam Saturnino como primeiro bispo de Toulouse nos anos 250, sob o consulado de Décio. Era uma época em que a Igreja, naquela região, contava com poucas comunidades cristãs. Estava desorganizada desde 177, com o grande massacre dos mártires de Lyon. O número de fiéis diminuía sempre mais, enquanto nos dos templos pagãos as filas para prestar sacrifícios aos deuses parecia aumentar.

O relato continua dizendo que Saturnino, após uma peregrinação pela Terra Santa, iniciara a sua missão de evangelização no Egito, onde converteu um bom número de pagãos. Foi, então, para Roma e, fazendo uma longa viagem por vales e montanhas, atingiu a Gália.

Por onde andou, pregava com fervor, convertendo quase todos os habitantes que encontrava ao cristianismo. Consta que ele ordenou o futuro são Honesto e juntos foram para a Espanha, onde teria, também, batizado o agora são Firmino. Depois, regressou para Toulouse, mas antes consagrou o primeiro como bispo de Pamplona e o segundo para assumir a diocese de Amiens.

Saturnino fixou-se em Toulouse e logo foi consagrado como seu primeiro bispo. Embora houvesse um decreto do imperador proibindo e punindo com a morte quem participasse de missas ou mesmo de simples reuniões cristãs, Saturnino liderou os que o ignoravam. Continuou com o santo sacrifício da missa, a comunhão e a leitura do Evangelho.

Assim, ele e outros quarenta e oito cristãos acabaram descobertos reunidos e celebrando a missa num domingo. Foram presos e julgados no Capitólio de Toulouse. O juiz ordenou que o bispo Saturnino, uma autoridade da religião cristã, sacrificasse um touro em honra a Júpiter, deus pagão, para convencer os demais. Como se recusou, foi amarrado pelos pés ao pescoço do animal, que o arrastou pela escadaria do templo. Morreu com os membros esfacelados.

O seu corpo foi recolhido e sepultado por duas cristãs. No local, um século mais tarde, são Hilário construiu uma capela de madeira, que logo foi destruída. Mas as suas relíquias foram encontradas, no século VI, por um duque francês, que mandou, então, erguer a belíssima igreja dedicada a ele, chamada, em francês, de Saint Sernin du Taur, que existe até hoje com o nome de Nossa Senhora de Taur. O culto ao mártir são Saturnino, bispo de Toulouse, foi confirmado e mantido pela Igreja em 29 de novembro.

Texto: Paulinas Internet


Uma Palavra Eterna

TEMPO COMUM. TRIGÉSIMA QUARTA SEMANA. SEXTA-FEIRA

– Leitura do Evangelho.
– Deus fala-nos na Sagrada Escritura.
– Para tirar fruto.

I. A PONTO DE TERMINAR o ano litúrgico, lemos no Evangelho da Missa esta expressão do Senhor: O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão 1.

As palavras de Jesus são palavras eternas, pois deram-nos a conhecer a intimidade do Pai e o caminho que devíamos seguir para chegar até Ele. Permanecerão porque foram pronunciadas por Deus para cada homem, para cada mulher que vem a este mundo. Deus, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos aos nossos pais pelos profetas, ultimamente, nestes dias, falou-nos por meio do seu Filho 2. “Estes dias” são também os nossos. Jesus Cristo continua a falar, e as suas palavras, por serem divinas, são sempre atuais.

Toda a Escritura anterior a Cristo adquire o seu sentido exato à luz da figura e da pregação do Senhor. Santo Agostinho, com uma expressão vigorosa, escreve que “a Lei estava prenhe de Cristo” 3. E afirma em outro lugar: “Lede os livros proféticos sem ver Cristo neles: não há nada mais insípido, mais insosso. Mas descobri Cristo neles, e isso que ledes torna-se não só saboroso, mas embriagador” 4. É Cristo quem descobre o profundo sentido que se contém em toda a revelação anterior: Então abriu-lhes o entendimento para que compreendessem as Escrituras 5.

Os judeus que se negaram a aceitar o Evangelho ficaram na situação de quem possui um cofre com um grande tesouro, mas não tem a chave para abri-lo. Os seus espíritos – escreve São Paulo aos cristãos de Corinto – velaram-se, e ainda hoje o mesmo véu continua estendido sobre a leitura do Antigo Testamento, porque só em Cristo é que ele desaparece6, pois “a economia do Antigo Testamento estava ordenada principalmente para preparar a vinda de Cristo, redentor universal, e o seu reino messiânico [...]. Deus, que é o inspirador e autor dos livros de ambos os Testamentos, dispôs as coisas sabiamente, de tal modo que o Novo estivesse latente no Antigo e o Antigo se tornasse claro no Novo” 7. É comovente neste sentido o diálogo entre o Apóstolo Filipe e o etíope, ministro de Candace, que lia o profeta Isaías. Compreendes o que lês?, perguntou-lhe Filipe. Como poderei compreender se não houver alguém que mo explique? Então, principiando por essa passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus 8. Jesus era a peça-chave para que compreendesse.

São João Crisóstomo comenta assim esse episódio narrado pelos Atos dos Apóstolos: “Considerai como é importante não desleixar-se em ler a Escritura até mesmo numa viagem [...]. Pensem nisto aqueles que nem sequer em casa a lêem; porque estão com a mulher, ou porque militam no exército ou estão preocupados com os familiares e ocupados em outros assuntos, julgam que não lhes convém fazer esse esforço por ler as divinas Escrituras [...]. Este bárbaro etíope é um exemplo para nós: para os que têm uma vida privada, para os membros do exército, para as autoridades e também para as mulheres – com maior razão se estão sempre em casa – e para os que escolheram a vida monástica. Aprendam todos que nenhuma circunstância é impedimento para a leitura divina, que é possível realizá-la não só em casa, mas na praça, em viagem, em companhia de outras pessoas ou no meio de uma ocupação. Não descuremos, rogo-vos, a leitura das Escrituras” 9.

A Igreja sempre recomendou a leitura e a meditação dos textos sagrados, principalmente do Novo Testamento, em cujas passagens encontramos sempre Cristo que vem ao nosso encontro. Uns poucos minutos diários ajudam-nos a conhecer melhor Jesus, a amá-lo mais, pois só amamos aquilo que conhecemos bem.

II. TODAS AS ESCRITURAS traçaram o caminho que Cristo devia percorrer 10, todas de certo modo anunciaram o Messias. Os Profetas descreveram esse dia e desejaram vê-lo 11. Os discípulos viriam a reconhecer em Cristo Aquele que tantas vezes e de tantas formas fora anunciado 12. Quando São Paulo tiver que defender-se das ameaças do rei Agripa, dirá simplesmente que se limita a anunciar o cumprimento do que os Profetas anunciaram 13. Contudo, não foi Cristo que olhou para os Profetas e Moisés e lhes obedeceu. Foram eles que nas suas descrições, por inspiração divina, se subordinaram ao que seria a existência do Filho de Deus na terra. Porque Moisés escreveu de mim 14. E Abraão, vosso pai, suspirou por ver o meu dia; viu-o e alegrou-se 15.

Jesus Cristo aplica a si as antigas figuras: o templo 16, o maná 17, a pedra 18, a serpente de bronze 19. Por isso dirá em certa ocasião: Examinais as Escrituras porque credes ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim 20. Quando lemos no Evangelho que o céu e a terra passarão, mas não as palavras de Cristo, isso significa de algum modo que nelas se contém toda a revelação de Deus aos homens: a anterior à sua vinda, que tem valor em tudo o que se refere a Ele, pois é nEle que se cumpre e clarifica; e a novidade que o Senhor traz aos homens, indicando-lhes claramente o caminho que devem seguir. Jesus Cristo é a plenitude da revelação de Deus aos homens. “Ao dar-nos, como nos deu, o seu Filho, que é uma Palavra sua, e não tem outra, falou-nos tudo junto e de uma vez nessa única Palavra, e não tem mais nada que falar” 21.

A Epístola aos Hebreus 22 ensina que a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante que espada de dois gumes; e chega até à separação da alma e do espírito, das articulações e da medula, e discerne os pensamentos e intenções do coração. É palavra nova e expressamente dirigida a nós, se sabemos lê-la com fé. “Nos Livros sagrados, com efeito, o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro dos seus filhos para conversar com eles. E é tão grande o poder e a eficácia que se encerra na palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo e vigor para a Igreja, e, para os seus filhos, firmeza da fé, alimento da alma, pura e perene fonte de vida espiritual” 23.

De alguma maneira, são atuais a partida e o regresso do filho pródigo, a necessidade do fermento para transformar a massa do mundo, os leprosos que ficam curados no seu encontro com Cristo. Quantas vezes não teremos pedido a Jesus luz para as nossas vidas, servindo-nos das palavras de Bartimeu: Ut videam!, que eu veja, Senhor! Quantas vezes não teremos recorrido à misericórdia divina com as palavras do publicano: Tem piedade de mim, Senhor, que sou um pecador! Como saímos reconfortados do encontro diário com Jesus na leitura do Evangelho!

III. QUÃO DOCES SÃO as tuas palavras para o meu paladar! São-no mais que o mel para a minha boca 24.

Às vezes – observa Ronald Knox 25 –, quando várias pessoas cantam sem acompanhamento de um instrumento musical, tende-se a baixar o tom; a voz vai caindo aos poucos. Por isso, se o coro não está acostumado a cantar sem acompanhamento musical, o diretor costuma ter escondido um diapasão que sopra brevemente de vez em quando, para lembrar a todos a nota com que devem sintonizar.

Quando a vida espiritual começa a baixar de tom, a enlanguescer, é necessário também um diapasão que reponha o tom. Quantas vezes a meditação de uma passagem do Evangelho, sobretudo da Paixão de Nosso Senhor, não foi como que uma enérgica chamada de atenção para fugirmos dessa vida menos heróica que queríamos levar...!

Não podemos passar as páginas do Evangelho como se fossem as de um livro qualquer. Com que amor foi guardado durante séculos, quando somente algumas comunidades cristãs tinham o privilégio de possuir uma cópia ou apenas algumas páginas! Com que piedade e reverência era lido! A sua leitura – ensina São Cipriano a respeito da oração – é alicerce sólido para edificarmos a esperança, meio para consolidarmos a fé, alimento para a caridade, guia que indica o caminho... 26 Santo Agostinho diz que os ensinamentos nele contidos “são lâmpadas colocadas num lugar escuro” 27, que sempre iluminam a nossa vida.

Para tirarmos fruto da leitura e meditação do Evangelho, “pensa que não só deves saber, mas viver o que ali se narra: obras e ditos de Cristo. Tudo, cada ponto que se relata, foi registrado, detalhe por detalhe, para que o encarnes nas circunstâncias concretas da tua existência.

“– O Senhor chamou-nos, a nós católicos, para que o seguíssemos de perto; e, nesse Texto Santo, encontras a Vida de Jesus; mas, além disso, deves encontrar a tua própria vida.

“Aprenderás a perguntar tu também, como o Apóstolo, cheio de amor: «Senhor, que queres que eu faça?...» A Vontade de Deus!, ouvirás na tua alma de modo terminante.

“Pois bem, pega no Evangelho diariamente, e lê-o e vive-o como norma concreta. – Assim procederam os santos” 28.

Então poderemos dizer com o Salmista: Lâmpada para os meus passos é a tua palavra, e luz para os meus caminhos 29.

(1) Lc 21, 33; (2) Hebr 1, 1; (3) Santo Agostinho, Sermão 196, 1; (4) Santo Agostinho, Comentário ao Evangelho de São João, 9, 3; (5) Lc 24, 45; (6) 2 Cor 3, 14; (7) Concílio Vaticano II, Constituição Verbum Dei, 15 e segs.; (8) cfr. At 8, 27-35; (9) São João Crisóstomo, Homilias sobre o Gênesis, 35; (10) cfr. Lc 22, 37; (11) cfr. Lc 10, 24; (12) cfr. Jo 1, 41-45; (13) cfr. At 26, 2; (14) Jo 5, 46; (15) Jo 8, 56; (16) Jo 2, 19; (17) cfr. Jo 6, 32; (18) cfr. Jo 7, 8; (19) cfr. Jo 3, 14; (20) Jo 5, 39; (21) São João da Cruz, Subida do Monte Carmelo, II, 22; (22) Hebr 4, 12; (23) Concílio Vaticano II, Constituição Dei Verbum, 2; (24) Sl 118, 103; (25) Ronald A. Knox, Ejercicios para seglares, 2ª ed., Rialp, Madrid, 1962, pág. 177; (26) cfr. São Cipriano, Tratado sobre a oração; (27) Santo Agostinho, Comentários sobre os Salmos, 128; (28) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Forja, n. 754; (29) Sl 118, 105.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


29 de Novembro 2019

A SANTA MISSA

34ª Semana do Tempo Comum – Sexta-feira 
Cor: Verde

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1ª Leitura: Dn 7,2-14

“Eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho de homem” 

Leitura da Profecia de Daniel

“Eu, Daniel, 2 tive uma visão durante a noite: eis que os quatro ventos do céu revolviam o vasto mar, 3 e quatro grandes animais, diferentes uns dos outros, emergiam do mar. 4 O primeiro era semelhante a um leão, e tinha asas de águia; ainda estava olhando, quando lhe foram arrancadas as asas; ele foi erguido da terra e posto de pé como um homem, e foi-lhe dado um coração de homem. 5 Eis que surgiu outro animal, o segundo, semelhante a um urso, que estava erguido pela metade e tinha três costelas nas fauces entre os dentes; ouvia-se dizer: ‘Vamos, come mais carne’. 6 Continuei a olhar, e eis que assomou outro animal, semelhante a um leopardo; tinha no dorso quatro asas de ave e havia no animal quatro cabeças. E foi-lhe dado poder. 7 Depois, eu insistia em minha visão noturna, e eis que apareceu o quarto animal, terrível, estranho e extremamente forte; com suas dentuças de ferro, tudo devorava e triturava, calcando aos pés o que sobrava; era bem diferente dos outros animais que eu vi antes, e tinha dez chifres. 8 Eu observava estes chifres, e eis que apontou entre eles outro chifre pequeno, e, em compensação, foram arrancados três dos primeiros chifres; e eis que neste chifre pequeno havia uns olhos como olhos de homem e uma boca que fazia ouvir uma fala muito forte. 9 Eu continuava olhando até que foram postos uns tronos, e um Ancião de muitos dias aí tomou lugar. Sua veste era branca como neve e os cabelos da cabeça, como lã pura; seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa. 10 Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele; serviam-no milhares de milhares, e milhões de milhões assistiam-no ao trono; foi instalado o tribunal, e os livros foram abertos. 11 Eu estava olhando para o lado das palavras fortes que o mencionado chifre fazia ouvir, quando percebi que o animal tinha sido morto, e vi que seu corpo fora feito em pedaços e tinha sido entregue ao fogo para queimar; 12 percebi também que aos restantes animais foi-lhes tirado o poder, sendo-lhes prolongada a vida por certo tempo. 13 Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho de homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença. 14 Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá”.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Dn 3, 75.76.77.78.79.80.81(R. 59b)

R. Louvai-o e exaltai-o, pelos séculos sem fim!

75 Montes e colinas, bendizei o Senhor!      R.

76 Plantas da terra, bendizei o Senhor!       R.

77 Mares e rios, bendizei o Senhor!      R.

78 Fontes e nascentes, bendizei o Senhor!      R.

79 Baleias e peixes, bendizei o Senhor!      R.

80 Pássaros do céu, bendizei o Senhor!      R.

81 Feras e rebanhos, bendizei o Senhor!      R. 

Evangelho: Lc 21,29-33  

Quando virdes acontecer essas coisas,
ficai sabendo que o Reino de Deus está perto. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo: 29 Jesus contou-lhes uma parábola: ‘Olhai a figueira e todas as árvores. 30 Quando vedes que elas estão dando brotos, logo sabeis que o verão está perto. 31 Vós também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Reino de Deus está perto. 32 Em verdade, eu vos digo: tudo isso vai acontecer antes que passe esta geração. 33 O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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28 de Novembro 2019

A SANTA MISSA

34ª Semana do Tempo Comum – Quinta-feira 
Cor: Verde

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1ª Leitura: Dn 6,12-28

“O meu Deus enviou seu anjo e fechou a boca dos leões”

Leitura da Profecia de Daniel

Naqueles dias, 12 aproximaram-se os chefes do reino e encontraram Daniel orando e fazendo preces a seu Deus. 13 Foram ter com o rei e falaram a propósito do decreto: “Ó rei, acaso não assinaste um decreto segundo o qual toda pessoa que, nos próximos trinta dias, dissesse oração a qualquer divindade ou homem que não sejas tu, ó rei, seria atirada na cova dos leões?” O rei respondeu: “O que dizeis é verdade, como manda a lei dos medos e persas, e que não se pode violar”. 14 Então eles disseram perante o rei: “Daniel, um dos cativos de Judá, não fez caso de ti, ó rei, nem do decreto que assinaste, mas três vezes por dia ele faz suas preces e orações”. 15 Ao ouvir isto, o rei ficou muito desapontado e tomou a resolução de salvar Daniel, empenhando-se em libertá-lo antes do pôr-do-sol. 16 Mas aqueles homens instaram com o rei e disseram: “Não te esqueças, ó rei, de que é lei dos medos e persas que não se pode mudar nenhum decreto que o rei tenha promulgado”. 17 Então o rei deu ordem para buscar Daniel e lançá-lo na cova dos leões. E disse a ele: “O teu Deus, a quem prestas culto com perseverança, haverá de salvar-te”. 18 Trouxeram uma pedra e puseram-na sobre a boca da cova, que o rei marcou com seu anel e os dos grandes da corte, para que nada se tentasse contra Daniel. 19 O rei retirou-se para o palácio e foi dormir sem cear, e não quis que lhe trouxessem comida; além disso, não conseguiu conciliar o sono. 20 Ao raiar do dia, levantou-se o rei e foi apressadamente à cova dos leões; 21 aproximando-se da cova, chamou por Daniel com voz aflita, e disse: “Daniel, servo do Deus vivo, teu Deus, a quem prestas culto com perseverança, pôde salvar-te dos leões?” 22 E Daniel respondeu ao rei: “Ó rei, vive para sempre! 23 O meu Deus enviou seu anjo e fechou a boca dos leões; os leões não me fizeram mal, porque, na presença dele foi provada a minha inocência; tampouco pratiquei qualquer crime contra ti, ó rei”. 24 Com isso, alegrou-se grandemente o rei; e mandou tirar Daniel da cova; quando o retiraram, nenhuma lesão mostrava ele, porque acreditara em seu Deus. 25 O rei mandou vir os homens que acusaram Daniel e os fez lançar na cova dos leões, juntamente com seus filhos e suas mulheres; estes não tinham chegado ao fundo da cova, e já os leões caíam sobre eles, esmagando-lhes os ossos. 27 Então o rei Dario escreveu a todos os povos, nações e línguas que habitavam a terra: “Que vossa paz se multiplique. 27 Está decretado por mim que, em todo o território do meu império, todos respeitem e temam o Deus de Daniel: ele é o Deus vivo que permanece para sempre, seu reino não será destruído e seu poder durará eternamente; 28 ele é o libertador e salvador, que opera sinais e maravilhas no céu e na terra. Foi ele quem salvou Daniel das garras dos leões!”

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Dn 3, 68.69.70.71.72.73.74(R. 59b)

R. Louvai-o e exaltai-o, pelos séculos sem fim!

68 Orvalhos e garoas, bendizei o Senhor! R.

69 Geada e frio, bendizei o Senhor!       R.

70 Gelos e neves, bendizei o Senhor!       R.

71 Noites e dias, bendizei o Senhor!        R.

72 Luzes e trevas, bendizei o Senhor!      R.

73 Raios e nuvens, bendizei o Senhor!      R.

74 Ilhas e terra, bendizei o Senhor!       R. 

Evangelho: Lc 21,20-28  

Jerusalém será pisada pelos infiéis,
até que o tempo dos pagãos se complete. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 20 Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, ficai sabendo que a sua destruição está próxima. 21 Então, os que estiverem na Judeia, devem fugir para as montanhas; os que estiverem no meio da cidade, devem afastar-se; os que estiverem no campo, não entrem na cidade. 22 Pois esses dias são de vingança, para que se cumpra tudo o que dizem as Escrituras. 23 Infelizes das mulheres grávidas e daquelas que estiverem amamentando naqueles dias, pois haverá uma grande calamidade na terra e ira contra este povo. 24 Serão mortos pela espada e levados presos para todas as nações. e Jerusalém será pisada pelos infiéis, até que o tempo dos pagãos se complete. 25 Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do barulho do mar e das ondas. 26 Os homens vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas. 27 Então eles verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória. 28 Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Santa Catarina de Labouré

28 de Novembro

Santa Catarina de Labouré

Em 28 de novembro, a Igreja celebra Santa Catarina Labouré, vidente da Medalha Milagrosa, a quem a Virgem disse: “Deus quer te confiar uma missão; te custará trabalho, mas vencerás se pensar que o fará para a glória de Deus”.

Santa Catarina Labouré nasceu na França em 1806, em uma família camponesa. Ficou órfã de mãe aos nove anos e pediu à Virgem que fosse sua mãe. Sua irmã foi admitida como religiosa vicentina e Catarina teve que se ocupar das tarefas do lar e, por isso, não pôde aprender a ler nem escrever.

Mais tarde, pediu ao seu pai que permitisse que ela se tornasse religiosa em um convento, mas ele negou. Então, pedia ao Senhor que lhe concedesse este desejo. Tempos depois, viu em sonhos um sacerdote idoso que lhe disse: “um dia irá me ajudar a cuidar dos enfermos”.

Aos 24 anos, visitou sua irmã religiosa e, no convento, viu a imagem de São Vicente de Paulo e percebeu que ele era o sacerdote que viu em seus sonhos. Desde então, propôs-se a ser religiosa vicentina e não se deteve até ser aceita na comunidade.

Foi enviada a Paris, onde realizou os ofícios mais humildes e esteve cuidou dos idosos da enfermaria. Em 27 de novembro de 1830, a Virgem Maria apareceu a ela na capela do convento e lhe pediu que cunhasse a Medalha de acordo com o que estava vendo na aparição.

Com o tempo e diante da intercessão do confessor da Santa, o Arcebispo de Paris permitiu que se fabricasse a medalha e começaram os milagres, tal como a Virgem havia prometido.

Com a morte de seu confessor, que sabia tudo sobre as aparições, substituiu-o outro que, ao escutar os fatos extraordinários, não a compreendeu. Enquanto isso, Santa Catarina guardava em segredo sua história com a Virgem até que lhe renovaram o confessor.

A Santa sabia que se aproximava o tempo de partir e, depois de pedir o conselho à Virgem, confiou seu segredo à superiora, que conseguiu que fosse erguida no altar uma estátua que perpetuasse a recordação das aparições.

Partiu para a Casa do Pai aos 70 anos, em 31 de dezembro de 1876. Quando abriram a sua sepultura, 56 anos depois, para o reconhecimento oficial de suas relíquias, encontraram seu corpo incorrupto. Foi beatificada por Pio XI, em 1933, e canonizada por Pio XII, em 1947.

Fonte: https://www.acidigital.com


Bendizei todos o Senhor

TEMPO COMUM. TRIGÉSIMA QUARTA SEMANA. QUINTA-FEIRA

– Toda a natureza louva o Senhor. O Trium puerorum.
– Preparação e ação de graças da Missa.
– Jesus veio visitar-nos na Comunhão. Empregar todos os meios para recebê-lo bem.

I. ORVALHO E GEADAS, bendizei o Senhor. / Gelos e frios, bendizei o Senhor. / Luz e trevas, bendizei o Senhor...1 Uma das Leituras destes dias narra-nos diversas passagens do Livro de Daniel, e os Salmos responsoriais trazem-nos o belíssimo cântico chamado dos três jovens (Trium puerorum), utilizado na Igreja desde a antigüidade como hino de ação de graças, introduzido na Santa Missa, e depois fora dela, para fomentar a piedade dos fiéis2.

Quando os três jovens judeus foram condenados a morrer num forno ardente por se terem negado a adorar a estátua de ouro erigida pelo rei Nabucodonosor, oraram ao Deus de seus pais, ao Deus da Aliança, que manifestara a sua santidade e magnificência em tantos prodígios, e cantaram esse hino que soa “como uma chamada dirigida às criaturas para que proclamem a glória de Deus Criador”3; esta glória está sobretudo no próprio Deus; depois, mediante a obra da Criação, brota do próprio seio da Divindade e “de certo modo transfere-se para fora: para as criaturas do mundo visível e do mundo invisível, conforme o seu grau de perfeição”4.

O hino começa com um convite a todas as criaturas para que se dirijam ao Criador: Obras do Senhor, bendizei todas o Senhor; louvai-o e exaltai-o por todos os séculos. Os anjos do céu iniciam o louvor. Depois, os céus, onde está a chuva5, e todos os corpos celestes, o sol e a lua, as estrelas, as chuvas, os ventos, o fogo e o calor, os orvalhos e as geadas, os gelos e os frios, as neves, as noites e os dias, a luz e as trevas, os relâmpagos e as nuvens são convidados a louvar o Senhor. A terra com os seus montes e outeiros, as suas fontes, os seus mares e rios, os cetáceos e peixes e tudo o que se move nas águas; as aves do céu, os rebanhos e os animais selvagens, todos são instados a bendizer o Senhor.

O homem, rei da criação, aparece em último lugar, e nesta ordem: todos os homens em geral, o povo de Israel, os sacerdotes, os ministros do Senhor, o povo judeu, os justos, os santos e humildes de coração. Por último, os próprios jovens judeus fiéis ao Senhor (Ananias, Azarias e Misael) são chamados a cantar os louvores ao Criador6.

Para a ação de graças depois da Santa Missa, acrescentou-se há muito tempo a este cântico o Salmo 150, o último do Saltério, em que também se convocam todos os seres vivos para que bendigam o Senhor. Laudate Dominum in sanctis eius... Louvai o Senhor no seu santuário, louvai-o no seu augusto firmamento. Louvai-o pelas suas obras grandiosas, louvai-o pela sua excelsa majestade. Louvai-o com timbales e com danças, com instrumentos de corda e com o órgão, com címbalos... Tudo o que respira louve o Senhor.

A nossa vida cristã deve ser toda ela um vibrante cântico de louvor, cheio de adoração, ação de graças e entrega amorosa. Por isso, na ação de graças após a Comunhão, enquanto temos o Senhor do Céu e da terra no nosso coração, unimo-nos a todo o universo no seu pregão de agradecimento ao Criador.

II. TODA A NOSSA VIDA é um tempo de alegria e de louvor a Deus. Para darmos graças ao Senhor, especialmente depois de termos comungado, podemos unir-nos interiormente a todas as criaturas que, cada uma conforme o seu ser, manifestam o seu júbilo ao Senhor. “Temos que cantar desde agora – comenta Santo Agostinho –, porque o louvor a Deus será a nossa felicidade durante a eternidade e ninguém será apto para essa ocupação futura se não se exercitar louvando nas condições da vida presente. Cantemos o Aleluia, dizendo uns aos outros: louvai o Senhor; e assim preparamos o tempo do louvor que virá depois da ressurreição”7Louvai o Senhor...! Unimo-nos alegremente a todos os seres da terra, e aos santos, e “com os anjos e os arcanjos, e com todos os coros celestiais, cantamos sem cessar um hino à vossa glória...”8

Adoro-Vos com devoção, Deus escondido9, dizemos a Jesus na intimidade do nosso coração depois de termos comungado.  Não existe nada no mundo que seja mais importante do que prestar essa honra ao nosso Hóspede. Se formos generosos com o Senhor e passarmos sossegadamente na sua companhia esses dez minutos após a Comunhão, chegará um tempo – talvez já tenha chegado – em que esperaremos com impaciência a nova oportunidade de assistir à Santa Missa e de comungar. As pessoas que em todos os tempos estiveram perto de Deus esperaram com impaciência esse momento. Assim acontecia com  São Josemaría Escrivá: durante a manhã, agradecia a Missa que tinha celebrado e, de tarde, preparava a Missa do dia seguinte. E era tal o seu amor que, mesmo durante a noite, quando o seu sono se interrompia, o seu pensamento se dirigia para a Santa Missa que ia celebrar no dia seguinte e, com o pensamento, o desejo de glorificar a Deus através daquele Sacrifício único. Assim o trabalho e os sacrifícios, as jaculatórias e as comunhões espirituais, os pormenores de caridade ao longo da jornada convertiam-se em preparação ou obséquio de ação de graças10.

Examinemos hoje com que amor assistimos à Santa Missa e que atenção e esmero pomos nesses minutos em que estamos a sós com o Senhor. É uma delicadeza que nunca devemos deixar de ter com Ele.

III. O EVANGELHO DA MISSA11 recorda-nos a vinda gloriosa de Cristo no fim dos tempos: E haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas, e na terra consternação dos povos pela confusão do bramido do mar e das ondas, mirrando-se os homens de susto na expectativa do que virá sobre todo o mundo; porque as virtudes do céu se abalarão. E então verão o Filho do homem vir sobre uma nuvem com grande poder e majestade.

Agora, na Comunhão, o próprio Filho do homem chega ao nosso coração para nos fortalecer e cumular de paz. Vem como o Amigo há tanto tempo esperado. E temos que recebê-lo como o fizeram os seus amigos: com a atenção de Maria de Betânia, com a alegria com que Zaqueu o acolheu em sua casa... “Parece que esse é o modo adequado de proceder: se recebemos a visita de um amigo, de um convidado, atendemo-lo, isto é, conversamos com ele, acompanhamo-lo. Não o deixamos na sala de visitas com um jornal na mão, para que se vá entretendo até que nos convenha atendê-lo. Sem dúvida, seria de muito má educação. E se a pessoa que nos visita fosse tão importante que o simples fato de vir a nossa casa representasse uma honra muito além da nossa condição e mérito, então a desatenção não seria apenas uma falta de educação, mas uma grosseria inqualificável”12.

Temos que tratar bem Jesus, que deseja tanto visitar-nos na nossa pobre casa. “E Sua Majestade não costuma pagar mal a hospedagem, se o atendemos bem”13. É uma boa ocasião de unir-nos a toda a Criação para louvar e dar graças ao Criador que, humilde, permanece sacramentalmente no nosso coração durante esses minutos.

A Igreja, sempre boa Mãe, aconselhou aos seus filhos umas orações que têm alimentado a piedade de tantos cristãos e que nos podem também ajudar a dirigir-nos a Jesus, especialmente quando nos sentimos pobres de palavras: o hino Adoro te devote, o Trium puerorum, a Oração a Jesus Crucificado, as Invocações ao Santíssimo Redentor... Se ao comungar, procuramos ter à mão algum devocionário ou um Missal dos fiéis, disporemos de uma boa ajuda para aproveitar esse tempo que tanto irá influir em todo o nosso dia. Muitas vezes, a jornada depende desses minutos junto de Jesus Sacramentado.

Não deixemos de empregar todos os meios ao nosso alcance para melhorarmos as nossas disposições antes e depois de comungar. Qualquer esforço que ponhamos é sempre amplamente recompensado.

“Quando receberes o Senhor na Eucaristia, agradece-lhe com todas as veras da tua alma essa bondade de estar contigo. – Não te detiveste a considerar que passaram séculos e séculos, até que viesse o Messias? Os patriarcas e os profetas pediam, com todo o povo de Israel: – A terra tem sede, Senhor, vem! – Oxalá seja assim a tua espera de amor”14.

(1) Dan 3, 68 e segs.; Salmo responsorial da Missa da quinta-feira da trigésima quarta semana do Tempo Comum, ano I; (2) cfr. A. G. Martimort, La Iglesia en oración, 3ª ed., Herder, Barcelona, 1987, pág. 168; (3) São João Paulo II, Audiência geral, 12.03.86; (4) ibid.; (5) cfr. Gên 1, 7; (6) cfr. B. Orchard e outros, Verbum Dei, vol. II, notas a Dan 3, 51-90; (7) Santo Agostinho, Comentário aos Salmos; (8) Missal Romano, Prefácio da Missa; (9) Hino Adoro te devote; (10) cfr. Federico Suárez, El sacrificio del altar, pág. 280; (11) Lc 21, 20-28; (12) Federico Suárez, El sacrificio del altar, pág. 274; (13) Santa Teresa, Caminho de perfeição; (14) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 991.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


27 de Novembro 2019

A SANTA MISSA

34ª Semana do Tempo Comum – Quarta-feira 
Cor: Verde

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1ª Leitura: Dn 5,1-6.13-14.16-17.23-28

“Apareceram dedos de mão humana que iam escrevendo”

Leitura da Profecia de Daniel

Naqueles dias, 1 o rei Baltazar ofereceu um grande banquete aos mil dignitários de sua corte, tomando vinho em companhia deles. 2 Já embriagado, Baltazar mandou trazer os vasos de ouro e prata, que seu pai Nabucodonosor tinha tirado do templo de Jerusalém, para beberem deles o rei e os grandes do reino, suas mulheres e concubinas. 3 Foram, pois, trazidos os vasos de ouro e prata, retirados do templo de Jerusalém, e deles se serviram o rei e os grandes do reino, suas mulheres e concubinas; 4 bebiam vinho e engrandeciam seus deuses de ouro e prata, de bronze e ferro, de madeira e pedra. 5 Naquele mesmo instante, apareceram dedos de mão humana que iam escrevendo, diante do candelabro, sobre a superfície da parede do palácio, e o rei via os dedos da mão que escrevia. 6 Alterou-se o semblante do rei, confundiram-se suas idéias e ele sentiu vacilarem os ossos dos quadris e tremerem os joelhos. 13 Então Daniel foi introduzido à presença do rei, e este lhe disse: “És tu Daniel, um dos cativos de Judá, trazidos de Judá pelo rei, meu pai? 14 Ouvi dizer que possuis o espírito dos deuses, e que em ti se acham ciência, entendimento e sabedoria em grau superior. 16 Ora, ouvi dizer também que sabes decifrar coisas obscuras e deslindar assuntos complicados; se, portanto, conseguires ler o escrito e dar-me sua interpretação, tu te vestirás de púrpura, e levarás ao pescoço um colar de ouro, e serás o terceiro homem do reino”. 17 Em resposta, disse Daniel perante o rei: “Fiquem contigo teus presentes e presenteia um outro com tuas honrarias; contudo, vou ler, ó rei, o escrito e fazer-te a interpretação. 23 Tu te levantaste contra o Senhor do céu; os vasos de sua casa foram trazidos à tua presença e deles bebestes vinho, tu e os grandes do reino, suas mulheres e concubinas; ao mesmo tempo, celebravas os deuses de prata e ouro, de bronze e ferro, de madeira e pedra, deuses que não veem nem ouvem, e nada entendem — e ao Deus, que tem em suas mãos tua vida e teu destino, não soubeste glorificar. 24 Por isso, foram mandados por ele os dedos da mão, que fez este escrito. 25 Assim se lê o escrito que foi traçado: mâne, técel, pársin. 26 E esta é a explicação das palavras: mâne: Deus contou os dias de teu reinado e deu-o por concluído; 27 técel: foste pesado na balança, e achado com menos peso; 28 pársin: teu reino foi dividido e entregue aos medos e persas”.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Dn 3, 62.63.64.65.66.67(R. 59b)

R. Louvai-o e exaltai-o pelos séculos sem fim!

62 Lua e sol, bendizei o Senhor!        R.

63 Astros e estrelas, bendizei o Senhor!       R.

64 Chuvas e orvalhos bendizei o Senhor!      R.

65 Brisas e ventos, bendizei o Senhor!      R.

66 Fogo e calor, bendizei o Senhor!      R.

67 Frio e ardor, bendizei o Senhor!      R. 

Evangelho: Lc 21,12-19 

 Todos vos odiarão por causa do meu nome.
Mas vós não perdereis.um só fio de cabelo da vossa cabeça. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 12 Antes que estas coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome. 13 Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé. 14 Fazei o firme propósito de não planejar com antecedência a própria defesa; 15 porque eu vos darei palavras tão acertadas, que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater. 16 Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de vós. 17 Todos vos odiarão por causa do meu nome. 18 Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. 19 É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Pacientes nas dificuldades

TEMPO COMUM. TRIGÉSIMA QUARTA SEMANA. QUARTA-FEIRA

– A paciência, parte da virtude da fortaleza.
– Paciência conosco, com os outros e nas contrariedades da vida corrente.
– Pacientes e constantes no apostolado.

I. OS TEXTOS DA MISSA de hoje, agora que faltam poucos dias para encerrar-se o ano litúrgico, relatam-nos uma parte do discurso do Senhor em que Ele se refere aos acontecimentos finais da história. Nesse longo discurso misturam-se diversas questões relacionadas entre si: a destruição de Jerusalém – ocorrida quarenta anos depois –, o fim do mundo e a vinda de Cristo em glória e majestade. Jesus anuncia também as perseguições que a Igreja padecerá e as tribulações dos seus discípulos. Esta é a passagem que o Evangelho da Missa nos propõe1, e que termina com uma exortação do Senhor à paciência, à perseverança, apesar dos obstáculos que possam apresentar-se: In patientia vestra possidebitis animas vestras, pela vossa paciência salvareis as vossas almas.

Os Apóstolos lembrar-se-iam mais tarde da advertência do Senhor: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se eles me perseguiram a mim, também vos hão de perseguir a vós2. Mas as tribulações não escapam à Providência divina. Deus permite-as porque são ocasião de bens maiores. A Igreja enriqueceu-se no amor a Deus e sempre saiu vencedora e fortalecida de todas as adversidades, conforme as palavras do Senhor: Haveis de ter aflições no mundo; mas tende confiança, eu venci o mundo3.

Neste caminhar em que consiste a vida, teremos de sofrer diversas provas: umas que hão de parecer-nos grandes, outras de pouco relevo, mas de todas elas a alma deve sair fortalecida, com a ajuda da graça.

Umas virão de fora, com ataques diretos ou velados por parte dos que não compreendem a vocação cristã, de um ambiente paganizado adverso ou dos que se opõem a tudo o que se refere a Deus; outras surgirão das próprias limitações da natureza humana, que não permitem – tantas vezes! – alcançar um objetivo a não ser à custa de um empenho contínuo, de sacrifício, de tempo... Podem sobrevir dificuldades econômicas, familiares, doenças, cansaço, desalento... A paciência é necessária para que perseveremos, para que estejamos alegres por cima de qualquer circunstância. E isto só será possível se tivermos o olhar posto em Cristo, que nos anima a seguir adiante, sem obcecar-nos com o que pode tirar-nos a paz. Sabemos que, em todas as situações, a vitória é garantida.

A paciência, diz Santo Agostinho, é “a virtude pela qual suportamos os males com ânimo sereno”. E acrescenta: “Não venha a acontecer que, por perdermos a serenidade da alma, abandonemos os bens que nos devem levar a conseguir outros maiores”4. É uma virtude que nos permite enfrentar com bom ânimo, por amor a Deus, sem queixas, os sofrimentos físicos e morais da nossa vida.

O normal será que tenhamos de exercê-la sobretudo nas coisas ordinárias, talvez em coisas que parecem triviais: um defeito que não acabamos de vencer, isto ou aquilo que não sai como quereríamos, um imprevisto, o caráter de uma pessoa com quem temos de conviver no trabalho, aglomerações no trânsito, atrasos dos meios de transporte públicos, esquecimentos... São ocasiões para crescermos na virtude da serenidade, pondo-a a serviço da caridade e fortalecendo a humildade.

II. A PACIÊNCIA é uma virtude bem diferente da mera passividade perante o sofrimento; não é um não reagir nem um simples agüentar: é parte da virtude da fortaleza, e leva a aceitar serenamente a dor e as provas da vida, grandes ou pequenas, como vindas do amor de Deus. Identificamos então a nossa vontade com a do Senhor, e isso permite-nos manter a fidelidade em qualquer circunstância e é o fundamento da grandeza de ânimo e da alegria de quem está certo de vir a receber uns bens futuros maiores5.

Os campos em que devemos praticar esta virtude são inúmeros. Em primeiro lugar, conosco próprios, já que é fácil desanimarmos com os nossos próprios defeitos, sempre repetidos, sem conseguir superá-los totalmente. É necessário sabermos esperar e lutar com perseverança, convencidos de que, enquanto mantivermos o combate, estaremos amando a Deus. Normalmente, a superação de um defeito ou a aquisição de uma virtude não se consegue à custa de esforços violentos, mas de humildade, de confiança em Deus, de petição de mais graças, de uma maior docilidade. São Francisco de Sales afirmava que é necessário termos paciência com todos, mas, em primeiro lugar, conosco próprios6.

Paciência também com as pessoas com quem nos relacionamos freqüentemente, sobretudo se, por qualquer motivo, temos obrigação de ajudá-las na sua formação ou em determinadas circunstâncias...

Devemos contar com os defeitos das pessoas com quem convivemos – sem esquecer que muitas vezes estão sinceramente empenhadas em superá-los –, talvez com o seu mau gênio, com as suas faltas de educação, com os seus melindres... que, sobretudo se se repetem com freqüência, poderiam fazer-nos faltar à caridade, envenenar a convivência ou tornar ineficaz o nosso interesse em socorrê-las. A caridade ajudar-nos-á a saber esperar, sem deixar de corrigir quando for o momento mais indicado e oportuno. Esperar um tempo, sorrir, dar uma resposta amável a uma impertinência, são pormenores que podem fazer com que as nossas palavras cheguem ao coração das pessoas, e, de qualquer modo, sempre chegam ao Coração do Senhor, que olhará para nós com especial afeto.

Paciência com os acontecimentos que nos contrariam: a doença, a pobreza, o excessivo calor ou frio..., os diversos contratempos que se apresentam num dia normal: o telefone que não funciona ou a ligação que não se completa, a morosidade no trânsito que nos faz chegar atrasados a um encontro importante, esquecer em casa o material de trabalho, uma visita que se apresenta no momento menos oportuno... São as adversidades, talvez não muito grandes, mas que possivelmente nos levariam a reagir com falta de paz. O Senhor espera-nos nessas ocasiões: devemos enfrentá-las de ânimo tranqüilo, sem “explodir”, sem um gesto sequer de contrariedade ou um trejeito de desagrado. E tudo isto é manifestação do ânimo forte de um cristão que aprendeu a santificar os pequenos incidentes de um dia qualquer.

III. CARITAS PATIENS EST7, a caridade está cheia de paciência. E por sua vez a paciência é o grande suporte da caridade: sem ela, a caridade não subsistiria8. E no apostolado, que é manifestação da caridade por excelência, a paciência torna-se uma virtude absolutamente imprescindível. O Senhor quer que tenhamos a calma do semeador que lança a sua semente no terreno por ele previamente preparado e segue o ritmo das estações, esperando o momento oportuno: sem desânimos nem impaciências, com a confiança posta naquele minúsculo rebento que acaba de brotar e que um dia será espiga madura.

Jesus dá-nos exemplo de uma paciência indizível. Das multidões que o procuram, comenta por vezes que vendo não vêem, e ouvindo não ouvem nem entendem9; apesar de tudo, vemo-lo incansável na sua pregação e dedicação às pessoas, calcorreando sem parar os caminhos da Palestina. Nem sequer os Doze que o acompanham demonstram um grande aproveitamento: Tenho ainda muitas coisas a ensinar-vos – diz na véspera da sua partida –, mas por agora não as podeis compreender10. O Senhor conhecia bem os defeitos dos Apóstolos, a sua maneira de ser, e não desanimou. Mais tarde, cada um à sua maneira, será uma testemunha fiel de Cristo e do seu Evangelho.

A paciência e a constância são imprescindíveis nesse trabalho que, em colaboração com o Espírito Santo, temos que realizar na nossa alma e na dos nossos amigos e familiares que queremos aproximar do Senhor. A paciência anda de mãos dadas com a humildade, acomoda-se ao ser das coisas e respeita o tempo e o momento de cada uma delas, sem precipitá-los; conta com as suas próprias limitações e com as dos outros. “Um cristão que viva a rija virtude da paciência, não se surpreenderá ao perceber que os que o rodeiam dão mostras de indiferença pelas coisas de Deus. Sabemos que há pessoas que guardam nas camadas subterrâneas – como acontece com os bons vinhos nas adegas – umas ânsias irreprimíveis de Deus que temos o dever de desenterrar. Acontece, no entanto, que as almas – a nossa também – têm os seus ritmos de tempo, a sua hora, aos quais devemos acomodar-nos como o lavrador se acomoda às estações e ao terreno. Não nos disse o Mestre que o Reino de Deus é semelhante a um amo que saiu a diferentes horas do dia para contratar operários para a sua vinha? (Mt 20, 1-7)”11. E como não havemos de ser pacientes com os outros, se o Senhor teve tanta paciência conosco e continua a tê-la?

Caritas omnia suffert, omnia credit, omnia sperat, omnia sustinet12, a caridade tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre, ensina São Paulo. Se tivermos paciência, seremos fiéis, salvaremos a nossa alma e também a de muitos outros que Nossa Senhora coloca constantemente ao nosso lado.

(1) Lc 21, 12-19; (2) Jo 15, 20; (3) Jo 16, 33; (4) Santo Agostinho, Sobre a paciência, 2; (5) cfr. São Tomás de Aquino, Comentário à Epístola aos Hebreus, 10, 35; (6) cfr. São Francisco de Sales, Epistolário, frag. 139; (7) 1 Cor 13, 4; (8) cfr. São Cipriano, Sobre o bem da paciência, 15; (9) Mt 13, 13; (10) Jo 16, 12; (11) J. L. R. Sánchez de Alva, El Evangelio de San Juan, 3ª ed., Palabra, Madrid, 1987, nota a 4, 1-44; (12) 1 Cor 13, 7.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


Nossa Senhora das Graças

27 de Novembro

Nossa Senhora das Graças 

“Fazei cunhar uma medalha conforme este modelo. Todos os que a usarem, trazendo-a ao pescoço, receberão grandes graças. Estas serão abundantes para aqueles que a usarem com confiança”, disse Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, no dia 27 de novembro de 1830.

Foi nesse ano de 1830 que a Virgem Maria apareceu para a Irmã Catarina Labouré, da Congregação das Filhas da Caridade, primeiramente na noite de 18 de junho. Um anjo despertou a religiosa e a conduziu até a capela, onde encontrou a Mãe de Deus e conversou com ela por mais de duas horas, ao final da qual Maria lhe disse: “Voltarei, minha filha, porque tenho uma missão para te confiar”.

No dia 27 de novembro do mesmo ano, a Santíssima Virgem voltou a aparecer para Catarina. A Mãe de Deus estava com uma veste branca e manto azul. Conforme relatou a religiosa, era de uma “beleza indizível”. Os pés estavam sobre um globo branco e esmagavam uma serpente.

Suas mãos, à altura do coração, seguravam um pequeno globo de ouro, coroado com uma pequena cruz. Levava nos dedos anéis com pedras preciosas que brilhavam e iluminavam em toda direção.

A Virgem olhou para Santa Catarina e lhe disse: “O globo que vês representa o mundo inteiro, especialmente a França e cada alma em particular. Estes raios são o símbolo das graças que Eu derramo sobre as pessoas que me pedem. As pérolas que não emitem raios são as graças das almas que não pedem”.

O globo de ouro que a Virgem Maria estava segurando se desvaneceu e seus braços se estenderam abertos, enquanto os raios de luz continuavam caindo sobre o globo branco dos pés.

Nesse momento, formou-se um quadro oval em torno de Nossa Senhora, com as seguintes palavras em letras douradas: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”.

Então, Maria pediu que Catarina mandasse cunhar a medalha, segundo o que estava vendo.

A aparição girou e no reverso estava a letra “M” encimada por uma cruz que tinha uma barra em sua base, a qual atravessava a letra. Embaixo figurava o coração de Jesus, circuncidado com uma coroa de espinhos, e o coração de Nossa Senhora, transpassado por uma espada. Ao redor havia doze estrelas.

A manifestação voltou a acontecer por volta do final de dezembro de 1830 e princípio de janeiro de 1831.

Em 1832, o Bispo de Paris autorizou a cunhagem da medalha e assim se espalhou pelo mundo inteiro. Inicialmente a medalha era chamada “da Imaculada Conceição”, mas quando a devoção se expandiu e se produziram muitos milagres, foi chamada “Medalha Milagrosa”, como é conhecida até nossos dias.

Fonte: https://www.acidigital.com


Com os pés de barro

TEMPO COMUM. TRIGÉSIMA QUARTA SEMANA. TERÇA-FEIRA

– A estátua com os pés de barro.
– A experiência da nossa debilidade.
– A nossa fraqueza, ocasião para que Deus mostre o seu poder e a sua misericórdia.

I. UMA DAS LEITURAS da liturgia propõe para a Missa de hoje uma passagem do Livro de Daniel. O rei teve um sonho que lhe causou uma estranha inquietação, sem que depois se lembrasse do que tinha sonhado. Daniel, com a ajuda divina, conhece o sonho, relata-o ao rei e interpreta-o: Tu, ó rei – diz Daniel a Nabucodonosor –, estavas olhando e parecia-te ver uma grande estátua. Era muito grande e de um brilho extraordinário... A cabeça da estátua era de ouro finíssimo; o peito e os braços, de prata; o ventre e as coxas, de bronze; as pernas, de ferro; e os pés, parte de ferro e parte de barro. Então uma pedra, sem intervirem as mãos de nenhum homem, desprendeu-se e acertou nos pés da estátua, que ficou destruída. Tudo desmoronou: o ouro, a prata, o bronze, o ferro e o barro ficaram reduzidos a palha que o vento leva para fora da eira no tempo do estio... Não restou nada da estátua1.

A interpretação do sonho refere-se à sucessiva destruição dos reinos, a começar pelo do próprio Nabucodonosor, e à chegada de um reino suscitado pelo Deus do céu... que subsistirá para sempre2 e que derrubará os outros. É uma profecia acerca da chegada do Messias e do seu reinado universal. Mas a estátua pode ser entendida também como uma imagem de cada cristão: dotado de uma inteligência de ouro, que lhe permite conhecer a Deus; de um coração de prata, imensamente capaz de amar; e da fortaleza que lhe vem das virtudes... Mas terá sempre os pés de barro3, e correrá o risco de cair ao chão se se esquecer dessa fragilidade de base, da qual, por outro lado, tem farta experiência.

Este conhecimento do frágil material que nos sustenta deve tornar-nos prudentes e humildes. Sabemos bem como são verdadeiras as palavras de Santo Agostinho: “Não há pecado ou crime cometido por outro homem que eu não seja capaz de cometer por causa da minha fragilidade; e, se ainda não os cometi, é porque Deus, na sua misericórdia, não o permitiu e preservou-me do mal”4.

A experiência dos nossos erros torna-nos conscientes da instabilidade das nossas disposições pessoais e da realidade da fragilidade humana: “São muitas as tentações, muitos os tropeços que vêm ao encontro dos que querem conduzir-se de acordo com Deus”5. A graça e os bons desejos não extirpam completamente as relíquias do pecado, que nos inclinam para o mal.

Este conhecimento próprio terá muitas conseqüências para a nossa vida. Em primeiro lugar, levar-nos-á a procurar a fortaleza fora de nós mesmos, a procurá-la no Senhor. “Quando desejavas poder unicamente pelas tuas forças, Deus te fez débil, para dar-te o seu próprio poder, pois não és mais do que debilidade”6. Essa é a realidade. Por isso, “é necessário invocar o Senhor sem descanso, com uma fé rija e humilde: Senhor, não te fies de mim! Eu, sim, é que me fio de Ti. E ao vislumbrarmos na nossa alma o amor, a compaixão, a ternura com que Cristo Jesus nos olha – porque Ele não nos abandona –, compreenderemos em toda a sua profundidade as palavras do Apóstolo: Virtus in infirmitate perficitur, a virtude se fortalece na fraqueza (2 Cor 12, 9); com fé no Senhor, apesar das nossas misérias – ou melhor, com as nossas misérias –, seremos fiéis ao nosso Pai-Deus, e o poder divino brilhará, sustentando-nos no meio da nossa fraqueza”7.

II. ENSINA A IGREJA que, apesar de termos recebido o Batismo, permanece na nossa alma a concupiscência, o fomes peccati, “que procede do pecado e inclina para o pecado”8. “Isto, que nos é conhecido pela Revelação divina – afirma o Concílio Vaticano II –, concorda com a experiência. Pois o homem, quando examina o seu coração, descobre-se também inclinado para o mal e mergulhado em múltiplos males que não podem provir do seu Criador, que é bom [...]. Por isso, toda a vida humana, individual e coletiva, apresenta-se como uma luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas. Muito mais ainda. O homem vê-se incapaz, por si mesmo, de debelar eficazmente os ataques do mal; e assim cada um se sente como que carregado de cadeias”9.

Temos os pés de barro, como essa estátua de que fala o profeta Daniel, e, além disso, a experiência do pecado, das fraquezas próprias, está patente na história do mundo e na vida pessoal de todos os homens. “Ninguém se desprende de uma vez para sempre da sua fraqueza, solidão ou servidão, antes todos necessitam de Cristo exemplar, mestre, libertador, salvador, vivificador”10. Cada cristão é como um vaso de barro11: contém tesouros de valor incalculável, mas pela sua própria natureza pode quebrar-se com facilidade. A experiência ensina-nos que devemos afastar-nos de todas as ocasiões de pecado; é uma demonstração de sabedoria, “pois, se nelas se meterem, não há que fiar-se numa guerra onde tantos inimigos nos combatem e onde somos tão fracos para nos defendermos”12.

Na sua infinita misericórdia, o Senhor quis que esta fragilidade fosse para nosso bem. “Deus quer que a tua miséria seja o trono da sua misericórdia, e a tua impotência a sede de todo o seu poder”13.

Na nossa debilidade resplandece o poder divino, e é um meio, talvez insubstituível, de nos unirmos mais ao Senhor, que nunca nos deixa sozinhos. Além disso, as nossas fraquezas ensinam-nos a olhar com compreensão para os nossos irmãos que talvez estejam passando por maus momentos, pois – como vimos que diz Santo Agostinho – não há falta nem pecado de homem algum que nós não possamos cometer. E, se ainda não o cometemos, é porque a misericórdia divina nos preservou desse mal14.

Recorramos ao Senhor, cheios de confiança: “Senhor, que não nos inquietem as nossas misérias passadas, já perdoadas, nem tampouco a possibilidade de misérias futuras; que nos abandonemos nas tuas mãos misericordiosas; que levemos à tua presença os nossos desejos de santidade e apostolado, que latejam como brasas sob as cinzas de uma aparente frieza... – Senhor, sei que nos escutas. Diz-lhe isso tu também”15.

III. JOÃO PAULO I conta que certa vez perguntou a uma senhora, cheia de pessimismo pelos erros da sua vida passada, que idade tinha. Ela respondeu-lhe que tinha trinta e cinco. “Trinta e cinco! – exclamou o Pontífice –. Mas se a senhora pode viver ainda outros quarenta ou cinqüenta anos e fazer muitíssimas coisas boas!” Aconselhou-a a pensar no futuro e a renovar a sua confiança em Deus. E acrescentou: “Citei-lhe então São Francisco de Sales, que falava das nossas «queridas imperfeições». E expliquei-lhe: Deus detesta as faltas, porque são faltas. Mas, por outro lado, ama-as, em certo sentido, enquanto lhe dão, a Ele, ocasião de mostrar a sua misericórdia e, a nós, de permanecermos humildes e também de compreendermos e de nos compadecermos das faltas do próximo”16.

Se alguma vez o conhecimento das nossas fraquezas se torna mais vivo, se as tentações se encrespam, devemos ouvir como o Senhor também nos diz: Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que o meu poder se manifesta por completo.

E com São Paulo poderemos dizer: Portanto, de boa vontade me gloriarei nas minhas fraquezas, para que habite em mim o poder de Cristo. Por isso, alegro-me nas minhas enfermidades, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo; porque quando sou fraco, então sou forte17, com a fortaleza de Deus.

Ainda que sintamos que temos os pés de barro, alcançaremos uma grande confiança se considerarmos os abundantes meios sobrenaturais que o Senhor nos deixou para que vençamos. Ficou no Sacrário; deu-nos a Confissão para recuperarmos a graça perdida e para aumentarmos a resistência ao mal e a capacidade para o bem; dispôs que um Anjo nos guardasse em todos os nossos caminhos; contamos com a ajuda extraordinária da Comunhão dos Santos, do exemplo de tantas pessoas que procuram comportar-se como filhos de Deus... Temos, sobretudo, a proteção de Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa, Refúgio dos pecadores, nosso refúgio, a quem agora recorremos pedindo que não nos abandone.

(1) Dan 2, 31-35; (2) Dan 2, 44; (3) cfr. São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa n. 5; n. 181; (4) Santo Agostinho, Confissões, 2, 7; (5) Orígenes, Homilias sobre o Êxodo, 5, 3; (6) Santo Agostinho, Confissões, 19, 5; (7) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus n. 194; (8) Concílio de Trento, Sec. 5, cap. V; (9) Concílio Vaticano II, Constituição Gaudium et spes, 13; (10) Concílio Vaticano II, Decreto Ad gentes, 8; (11) 2 Cor 4, 7; (12) Santa Teresa, Vida, 8, 4; (13) São Francisco de Sales, Epistolário, frag. 10; (14) cfr. Santo Agostinho, Confissões, 2, 7; (15) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 426; (16) João Paulo I, Audiência geral, 20.09.78; (17) 2 Cor 12, 9-10.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal