TEMPO COMUM. TRIGÉSIMA QUARTA SEMANA. QUINTA-FEIRA

– Toda a natureza louva o Senhor. O Trium puerorum.
– Preparação e ação de graças da Missa.
– Jesus veio visitar-nos na Comunhão. Empregar todos os meios para recebê-lo bem.

I. ORVALHO E GEADAS, bendizei o Senhor. / Gelos e frios, bendizei o Senhor. / Luz e trevas, bendizei o Senhor…1 Uma das Leituras destes dias narra-nos diversas passagens do Livro de Daniel, e os Salmos responsoriais trazem-nos o belíssimo cântico chamado dos três jovens (Trium puerorum), utilizado na Igreja desde a antigüidade como hino de ação de graças, introduzido na Santa Missa, e depois fora dela, para fomentar a piedade dos fiéis2.

Quando os três jovens judeus foram condenados a morrer num forno ardente por se terem negado a adorar a estátua de ouro erigida pelo rei Nabucodonosor, oraram ao Deus de seus pais, ao Deus da Aliança, que manifestara a sua santidade e magnificência em tantos prodígios, e cantaram esse hino que soa “como uma chamada dirigida às criaturas para que proclamem a glória de Deus Criador”3; esta glória está sobretudo no próprio Deus; depois, mediante a obra da Criação, brota do próprio seio da Divindade e “de certo modo transfere-se para fora: para as criaturas do mundo visível e do mundo invisível, conforme o seu grau de perfeição”4.

O hino começa com um convite a todas as criaturas para que se dirijam ao Criador: Obras do Senhor, bendizei todas o Senhor; louvai-o e exaltai-o por todos os séculos. Os anjos do céu iniciam o louvor. Depois, os céus, onde está a chuva5, e todos os corpos celestes, o sol e a lua, as estrelas, as chuvas, os ventos, o fogo e o calor, os orvalhos e as geadas, os gelos e os frios, as neves, as noites e os dias, a luz e as trevas, os relâmpagos e as nuvens são convidados a louvar o Senhor. A terra com os seus montes e outeiros, as suas fontes, os seus mares e rios, os cetáceos e peixes e tudo o que se move nas águas; as aves do céu, os rebanhos e os animais selvagens, todos são instados a bendizer o Senhor.

O homem, rei da criação, aparece em último lugar, e nesta ordem: todos os homens em geral, o povo de Israel, os sacerdotes, os ministros do Senhor, o povo judeu, os justos, os santos e humildes de coração. Por último, os próprios jovens judeus fiéis ao Senhor (Ananias, Azarias e Misael) são chamados a cantar os louvores ao Criador6.

Para a ação de graças depois da Santa Missa, acrescentou-se há muito tempo a este cântico o Salmo 150, o último do Saltério, em que também se convocam todos os seres vivos para que bendigam o Senhor. Laudate Dominum in sanctis eius… Louvai o Senhor no seu santuário, louvai-o no seu augusto firmamento. Louvai-o pelas suas obras grandiosas, louvai-o pela sua excelsa majestade. Louvai-o com timbales e com danças, com instrumentos de corda e com o órgão, com címbalos… Tudo o que respira louve o Senhor.

A nossa vida cristã deve ser toda ela um vibrante cântico de louvor, cheio de adoração, ação de graças e entrega amorosa. Por isso, na ação de graças após a Comunhão, enquanto temos o Senhor do Céu e da terra no nosso coração, unimo-nos a todo o universo no seu pregão de agradecimento ao Criador.

II. TODA A NOSSA VIDA é um tempo de alegria e de louvor a Deus. Para darmos graças ao Senhor, especialmente depois de termos comungado, podemos unir-nos interiormente a todas as criaturas que, cada uma conforme o seu ser, manifestam o seu júbilo ao Senhor. “Temos que cantar desde agora – comenta Santo Agostinho –, porque o louvor a Deus será a nossa felicidade durante a eternidade e ninguém será apto para essa ocupação futura se não se exercitar louvando nas condições da vida presente. Cantemos o Aleluia, dizendo uns aos outros: louvai o Senhor; e assim preparamos o tempo do louvor que virá depois da ressurreição”7Louvai o Senhor…! Unimo-nos alegremente a todos os seres da terra, e aos santos, e “com os anjos e os arcanjos, e com todos os coros celestiais, cantamos sem cessar um hino à vossa glória…”8

Adoro-Vos com devoção, Deus escondido9, dizemos a Jesus na intimidade do nosso coração depois de termos comungado.  Não existe nada no mundo que seja mais importante do que prestar essa honra ao nosso Hóspede. Se formos generosos com o Senhor e passarmos sossegadamente na sua companhia esses dez minutos após a Comunhão, chegará um tempo – talvez já tenha chegado – em que esperaremos com impaciência a nova oportunidade de assistir à Santa Missa e de comungar. As pessoas que em todos os tempos estiveram perto de Deus esperaram com impaciência esse momento. Assim acontecia com  São Josemaría Escrivá: durante a manhã, agradecia a Missa que tinha celebrado e, de tarde, preparava a Missa do dia seguinte. E era tal o seu amor que, mesmo durante a noite, quando o seu sono se interrompia, o seu pensamento se dirigia para a Santa Missa que ia celebrar no dia seguinte e, com o pensamento, o desejo de glorificar a Deus através daquele Sacrifício único. Assim o trabalho e os sacrifícios, as jaculatórias e as comunhões espirituais, os pormenores de caridade ao longo da jornada convertiam-se em preparação ou obséquio de ação de graças10.

Examinemos hoje com que amor assistimos à Santa Missa e que atenção e esmero pomos nesses minutos em que estamos a sós com o Senhor. É uma delicadeza que nunca devemos deixar de ter com Ele.

III. O EVANGELHO DA MISSA11 recorda-nos a vinda gloriosa de Cristo no fim dos tempos: E haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas, e na terra consternação dos povos pela confusão do bramido do mar e das ondas, mirrando-se os homens de susto na expectativa do que virá sobre todo o mundo; porque as virtudes do céu se abalarão. E então verão o Filho do homem vir sobre uma nuvem com grande poder e majestade.

Agora, na Comunhão, o próprio Filho do homem chega ao nosso coração para nos fortalecer e cumular de paz. Vem como o Amigo há tanto tempo esperado. E temos que recebê-lo como o fizeram os seus amigos: com a atenção de Maria de Betânia, com a alegria com que Zaqueu o acolheu em sua casa… “Parece que esse é o modo adequado de proceder: se recebemos a visita de um amigo, de um convidado, atendemo-lo, isto é, conversamos com ele, acompanhamo-lo. Não o deixamos na sala de visitas com um jornal na mão, para que se vá entretendo até que nos convenha atendê-lo. Sem dúvida, seria de muito má educação. E se a pessoa que nos visita fosse tão importante que o simples fato de vir a nossa casa representasse uma honra muito além da nossa condição e mérito, então a desatenção não seria apenas uma falta de educação, mas uma grosseria inqualificável”12.

Temos que tratar bem Jesus, que deseja tanto visitar-nos na nossa pobre casa. “E Sua Majestade não costuma pagar mal a hospedagem, se o atendemos bem”13. É uma boa ocasião de unir-nos a toda a Criação para louvar e dar graças ao Criador que, humilde, permanece sacramentalmente no nosso coração durante esses minutos.

A Igreja, sempre boa Mãe, aconselhou aos seus filhos umas orações que têm alimentado a piedade de tantos cristãos e que nos podem também ajudar a dirigir-nos a Jesus, especialmente quando nos sentimos pobres de palavras: o hino Adoro te devote, o Trium puerorum, a Oração a Jesus Crucificado, as Invocações ao Santíssimo Redentor… Se ao comungar, procuramos ter à mão algum devocionário ou um Missal dos fiéis, disporemos de uma boa ajuda para aproveitar esse tempo que tanto irá influir em todo o nosso dia. Muitas vezes, a jornada depende desses minutos junto de Jesus Sacramentado.

Não deixemos de empregar todos os meios ao nosso alcance para melhorarmos as nossas disposições antes e depois de comungar. Qualquer esforço que ponhamos é sempre amplamente recompensado.

“Quando receberes o Senhor na Eucaristia, agradece-lhe com todas as veras da tua alma essa bondade de estar contigo. – Não te detiveste a considerar que passaram séculos e séculos, até que viesse o Messias? Os patriarcas e os profetas pediam, com todo o povo de Israel: – A terra tem sede, Senhor, vem! – Oxalá seja assim a tua espera de amor”14.

(1) Dan 3, 68 e segs.; Salmo responsorial da Missa da quinta-feira da trigésima quarta semana do Tempo Comum, ano I; (2) cfr. A. G. Martimort, La Iglesia en oración, 3ª ed., Herder, Barcelona, 1987, pág. 168; (3) São João Paulo II, Audiência geral, 12.03.86; (4) ibid.; (5) cfr. Gên 1, 7; (6) cfr. B. Orchard e outros, Verbum Dei, vol. II, notas a Dan 3, 51-90; (7) Santo Agostinho, Comentário aos Salmos; (8) Missal Romano, Prefácio da Missa; (9) Hino Adoro te devote; (10) cfr. Federico Suárez, El sacrificio del altar, pág. 280; (11) Lc 21, 20-28; (12) Federico Suárez, El sacrificio del altar, pág. 274; (13) Santa Teresa, Caminho de perfeição; (14) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 991.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal