4º DOMINGO DA QUARESMA: A ALEGRIA DE VIVER LONGE DAS TREVAS

Neste IV Domingo da Quaresma, a liturgia nos convida à alegria, pois, quanto mais próximos estamos da Páscoa do Senhor, mais próximos estamos da nossa Redenção. Neste sentido, o evangelho da cura do cego de nascença (Jo 9,1-41) nos é oportuno para meditarmos sobre a verdadeira alegria que nasce do encontro com o Senhor e sua Vida. “Com este milagre Jesus manifesta-se a nós como luz do mundo; e o cego de nascença representa cada um de nós, que fomos criados para conhecer Deus, mas por causa do pecado somos como cegos, temos necessidade de uma luz nova” (Papa Francisco).

Todos nós, depois do pecado original, nos tornamos cegos diante dos mistérios de Deus. Nosso Senhor disse: “Eu vim a este mundo para exercer um julgamento, a fim de que os que não veem, vejam, e os que veem se tornem cegos” (Jo 9,39). Portanto, nós que não víamos, fomos surpreendidos pela visita de Deus, afinal de contas, não fomos nós que vimos a Deus, mas, foi Ele quem se revelou a nós. Se, quem vê Jesus, vê o Pai (cf. Jo 14,9), após a Encarnação do Verbo, nossos olhos foram como que surpreendidos pela visita de uma luz maravilhosa. Inicialmente, os magos do oriente foram conduzidos por uma luz (cf. Mt 2,1), para adorar Aquele que é origem de toda luz. Anos depois, os discípulos viram a manifestação luminosa da sua Ressurreição.

O núcleo da alegria cristã é este: “Amou-me e entregou-se por mim” (Gl 2,20). A fé em Jesus Cristo nos faz contemplar de modo sempre novo a presença de um Deus que habitou em nosso meio, que não passou simplesmente por nós, mas, estabeleceu sua morada em cada alma. Jesus é a luz sempre nova que ilumina nossas trevas, diante da qual nada permanece oculto. Ou seja, seguimos um Senhor que continuamente vence em nós, preenche todos os nossos vazios, perdoa todos os nossos pecados e nos faz ir com entusiasmo num caminho seguro e alegre. Somente Aquele que nos amou até o fim, poderia ser a razão da nossa vida.

A experiência que fez o cego, nós também fizemos no dia do nosso batismo, como continuamos a fazê-la sempre em cada vez que confessamos nossos pecados. Jesus quer incessantemente vencer em nós aquilo que um dia quis derrotá-lo: o pecado e a morte. Mas, como não existe ressurreição sem morte, o difícil passo do abandono em Deus é algo que acompanha a vida de todo cristão.

“A dor, quando lhe damos o seu verdadeiro sentido, quando serve para amar mais, produz uma paz íntima e uma profunda alegria. Por isso, em muitas ocasiões, o Senhor abençoa-nos com a Cruz” (Francisco Carvajal).

Sabiamente, a Santa Igreja quer, neste Domingo da alegria, nos recordar que a mortificação que vivemos nesses dias quaresmais não deve escurecer a nossa alegria interior, mas, antes, deve aumentá-la, fazê-la crescer, porque está prestes a realizar-se essa superabundância de amor pelos homens que é a Paixão, e é iminente o júbilo da Páscoa. Assim como o cego do evangelho acolheu o dom de Deus e foi curado de toda escuridão, ainda temos tempo para escolher a luz (cf. Ef 5,8-14), para sermos testemunhas da luz. Hoje, somos convidados a abrir-nos à luz de Cristo para dar fruto na nossa vida. Somos chamados para caminhar decididamente pela vereda da santidade” (Dom Henrique Soares da Costa).

“Ao cego curado Jesus revela que veio ao mundo para fazer um juízo, para separar os cegos curáveis dos que não se deixam curar, porque presumem ser sadios. De fato, é forte no homem a tentação de construir para si um sistema de segurança ideológica: também a própria religião pode tornar-se elemento deste sistema, assim como o ateísmo, ou o laicismo, mas fazendo assim permanece-se cego pelo próprio egoísmo. (…) Confessemos as nossas cegueiras, as nossas miopias, e sobretudo as que a Bíblia chama a “grande falta” (cf. Sl 18, 14): o orgulho. Ajude-nos nisto Maria Santíssima, que gerando Cristo na carne deu ao mundo a verdadeira luz” (Bento XVI).

Alegra-te, Jerusalém! Alegra-te, Exército de São Miguel, porque a vossa libertação se aproxima!