03 de Junho

São Carlos Lwanga e Companheiros

São Carlos Lwanga e seus 21 companheiros são ugandenses. Sofreram o martírio durante o reinado de Muanga, de cuja corte faziam parte. Isto aconteceu por volta do ano 1885.

Carlos Lwanga, chefe dos pajens, foi o primeiro a ser assassinado. Foi queimado lentamente a começar pelos pés. Kalemba Murumba foi abandonado numa colina com as mãos e os pés amputados, morrendo de hemorragia. André Kagua foi decapitado e o último, João Maria, foi lançado em um pântano. 

Foram canonizados no dia 18 de Outubro de 1964, pelo papa Paulo VI.

Os primeiros missionários cristãos a pisarem no atual território de Uganda eram protestantes. Em 1877, eles foram acolhidos por Mutesa, o monarca de “Buganda” – como então era chamado o reino –, ficando livres para expandir a fé cristã em meio à população. A tolerância do Rei era tanta, que os missionários podiam pregar Jesus Cristo entre os próprios membros da sua corte. Mutesa mesmo, no entanto, não estava disposto a abandonar a poligamia – nem a circuncidar-se, como pedia o Islã. Apesar de aberto à pregação de todas as religiões, ele ficaria sem escolher nenhuma.

Dois anos mais tarde, em 1879, era a vez dos católicos serem acolhidos em seu reino: os Missionários da África – ou “Padres Brancos”, como eram denominados – também passaram a evangelizar Uganda.

Mwanga I demonstrou-se um verdadeiro inimigo da religião cristã. Os seus motivos eram manifestos. Influenciado por más amizades, passou a perseguir sistematicamente os cristãos de Buganda – tanto anglicanos, quanto católicos. Também não lhe agradava a rejeição dos cristãos ao tráfico de escravos, o qual constituía uma importante fonte de recursos para o reino. Para que pudesse agir como bem entendesse, Mwanga tinha tomado uma firme decisão: teria que riscar o cristianismo do mapa de seu reino.

Numa manhã, em que o rei Mwanga reuniu a corte, pairava no ar uma grande expectativa. Na sala percebia-se a insólita presença de alguns energúmenos, enquanto o grupo dos pajens reais, esplêndidos exemplares de beleza negra, se comprimia em volta do trono. A estes Mwanga deu uma ordem esquisita“Todos aqueles entre vocês que não têm intenção de rezar podem ficar aqui ao lado do trono; aqueles, porém, que querem rezar reúnam-se contra aquele muro”.

O chefe dos pajens, Carlos Lwanga, foi o primeiro a se mover do lugar e depois dele outros quinze.  “Mas vocês rezam de verdade?” perguntou o rei.  “Sim, meu senhor, nós rezamos realmente”, respondeu em nome de todos Carlos, que com seus companheiros passara em oração a noite apenas finda.  “E querem continuar rezando?”  “Sim, meu senhor, até a morte”.  Então, matem-nos”, decidiu bruscamente o rei, dirigindo-se aos algozes. 

Rezar, de fato, tinha-se tornado sinônimo de ser cristão, no reino de Mwanga, rei de Buganda, região que faz parte atualmente da Uganda. No reino de Mwanga rezar, ou seja, ser cristão era absolutamente proibido.

Na verdade os inícios tinham sido bons. O rei Mutesa acolhera bem os padres brancos de Lavigérie, mas tiveram de se retirar por manobras de alguns chefes. Novamente chamados por Mwanga em 1885, aí encontraram cristãos comprometidos que ocupavam cargos de responsabilidade. Mas a aliança do “katikiro” — uma espécie de chanceler, cuja conjuração contra o rei foi revelada pelos cristãos — com os cortesãos e feiticeiros teria sido fatal aos cristãos.

O Rei perguntou em alta voz: “Todos os pajens estão aqui reunidos?“. Lwanga confirmou. O rei então disse: “Todos os que seguem a religião dos brancos devem se postar atrás do grupo. Os que professam a minha religião podem permanecer próximos a mim. E se algum cristão tentar se esconder, saiba que perderá a cabeça imediatamente.”.

Carlos Lwanga levantou-se e falou: “Todos os homens de boa consciência não podem renegar seu Deus. Sempre nos dizes para seguir suas ordens e nunca nos omitimos, mesmo quando enfrentando os inimigos. Hoje, novamente, iremos seguir o seu comando.” 

Então, pegando pela mão um dos pajens chamado Kizito, posicionou-se calmamente ao fundo, no que foi seguido pelos demais. Todos se alegram pois assim confessavam sua fé. Nisto o rei ordenou que os amarrassem e matassem.

Muitos foram logo levados e enforcados em árvores, outros, à prisão. No dia marcado, foram levados para fora da prisão, amarrados uns aos outros. Seguiu-se como uma procissão, com os soldados e carrascos brandindo suas armas, tocando tambores e cantando.

Apareceu então Senkoole, o Guardador da Chama Sagrada, que havia prometido vingança, e apontando para Carlos Lwanga disse: “Você eu quero para meu proveito pessoal, vou sacrificá-lo aos deuses, serás uma oferenda de primeira.”

Sabendo que Senkoole, por motivos religiosos, não podia permanecer no mesmo local onde outros seriam mortos,  ao ser separado dos demais, os exortou: “Meus amigos, nos encontraremos logo no Paraíso, eu ficarei um pouco mais, vocês chegarão primeiro. Mantenham a coragem e perseverem até o final.”

Um a um dos cristãos era queimado com uma tocha, acessa diretamente na Chama Sagrada, enquanto ouviam a sentença: “A tua desobediência é responsável por tua morte e não o deus Kabaka”.

Senkoole levou Carlos Lwanga para um lugar mais próximo de onde estavam os demais cristãos, para que estes pudessem assistir melhor. A pira foi construída embaixo de uma árvore, como se fosse uma cerca. Lwanga, amarrado, seria descido para próximo do fogo. Pediu, então, que o desamarrassem para que pudesse arranjar melhor a pira. Assim, o mártir pode preparar a sua cama de morte.

Novamente amarrado, desceram-no até perto do fogo. Senkoole controlava as chamas para que não fossem muito altas e, assim, queimassem Lwanga mais lentamente. Os pés eram queimados, mas o restante do corpo permanecia bem.

Senkoole lhe falou: “Estou queimando o mais lentamente possível, para que teu Deus tenha tempo de vir salvá-lo“.

Lwanga respondeu: “Pobre homem bobo! Não entendes o que estás a dizer. Estás me queimando, mas é como se estivésseis colocando água sobre minha cabeça. Eu estou  morrendo por amor a Deus, mas fique atento pois se não te arrependeres, é tu que queimarás pela eternidade.

Após, Lwanga ficou orando em silêncio. Quando finalmente percebeu que se último suspiro estava próximo, gritou:“Meu Deus!”. 

Morreu na manhã do Dia da Ascensão do Senhor, festa na qual esperava ansiosamente comparecer e já estava a preparar adequadamente.

No total, doze católicos e nove anglicanos foram queimados. Um deles, Mgaba Tuzinde, estava na multidão assistindo ao martírio. Reconhecido, foi jogado ao fogo na mesma hora. O martírio se deu em 3 de Junho de 1886, em Uganda. Um ano após sua morte, o número de catecúmenos já havia se multiplicado por quatro.

José Mukasa Balikuddembe, conselheiro do rei, foi decapitado a 15 de novembro de 1885; Amigo pessoal tanto de Mutesa quanto de seu filho Mwanga, Mukasa tinha levado a fé a muitos dos jovens pajens que trabalhavam na corte real. A sua posição de influência junto do Rei confirmava ainda mais a sua liderança e eram muitos os que se faziam católicos graças à sua pregação.

Em maio de 1886 foram mortos Dionísio Sbuggwawo, Ponciano Ngondwe, André Kaggwa, Atanásio Bazzukuketta, Gonzaga Gonga, Matias Kalemba, Noé Mwaggali.

Depois foi a vez dos pajens de que falávamos, três dos quais foram poupados, segundo o costume, após ter sido feito um sorteio. Ficou fazendo parte dos treze mártires Mbaga Tuzinda, filho do chefe dos carrascos, que tentou em vão repetidamente salvá-lo, mas ele não queria saber de separar-se dos seus amigos, entre os quais estava também um menino de 18 anos, Kizito.

Os vinte e dois mártires ugandenses foram beatificados por Bento XV e canonizados por Paulo VI a 18 de outubro de 1964, na presença dos padres do Concílio Vaticano II, e o próprio Paulo VI consagrou em 1969 o altar do grandioso santuário que surgiu em Namugongo, onde os três pajens guiados por Carlos Lwanga quiseram rezar até a morte.

Fonte: http://santossanctorum.blogspot.com