TEMPO COMUM. VIGÉSIMA TERCEIRA SEMANA. TERÇA‑FEIRA

– O Senhor, do Céu, continua a interceder por nós. A sua oração é sempre eficaz.
– Frutos da oração.
– As orações vocais.

I. LÊ‑SE NO SANTO EVANGELHO1 que Cristo retirou‑se a um monte para orar e passou toda a noite em oração. No dia seguinte, escolheu os Doze Apóstolos. É a oração de Cristo pela Igreja nascente.

Em muitas passagens evangélicas, Cristo mostra‑se unido ao seu Pai Celestial numa oração íntima e confiante. Convinha que Jesus, perfeito Deus e perfeito Homem, também orasse para nos dar exemplo de oração humilde, confiante, perseverante, já que Ele nos mandou orar sempre, sem desfalecer2, sem nos deixarmos vencer pelo cansaço, da mesma forma que respiramos incessantemente.

Jesus dirigiu súplicas ao Pai e a sua oração sempre foi escutada3. Os seus discípulos conheciam bem este poder da oração do Senhor. Depois da morte de Lázaro, a sua irmã, Marta, disse a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido; mas eu sei que tudo quanto pedires a Deus, Ele te concederá4. No momento em que ia ressuscitar Lázaro, Jesus, elevando os olhos ao céu, disse: Pai, dou‑te graças porque me tens escutado. Eu sei que me escutas sempre5. Pedirá por Pedro antes da Paixão: Simão, Simão, eis que Satanás vos procurou para vos joeirar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça, e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos. E Pedro converteu‑se depois da sua queda. Jesus rogou igualmente ao Pai pelos Apóstolos: Não peço que os tires do mundo, mas que os preserves do mal… Santifica‑os na verdade…7 Jesus sabe do abatimento em que os seus discípulos mergulharão poucas horas mais tarde, mas a sua oração os sustentará; obter‑lhes‑á forças para serem fiéis até darem a vida por Ele.

Nessa oração sacerdotal da Última Ceia, o Senhor pediu ao Pai por todos os que haviam de crer nEle ao longo dos séculos. Pediu por nós, e a sua graça não nos falta. “Cristo vivo continua a amar‑nos ainda hoje, agora, e apresenta‑nos o seu coração como a fonte da nossa redenção: Semper vivens ad interpellandum pro nobis – Ele vive sempre para interceder por nós (Hebr 7, 25). Esse coração que tanto amou os homens e que é tão pouco correspondido por eles, envolve‑nos a nós e envolve o mundo inteiro a cada momento”8.

Do Céu, Jesus Cristo, “sentado à direita do Pai”9, intercede por todos os que somos membros da sua Igreja, e “permanece sempre como nosso advogado e nosso mediador”10. Santo Ambrósio recorda‑nos que Jesus defende sempre a nossa causa diante do Pai e que a sua oração não pode deixar de ser atendida11; pede ao Pai que os méritos que adquiriu durante a sua vida terrena nos sejam aplicados continuamente.

Que alegria dá pensar que Cristo vive sempre para interceder por nós!12, que podemos unir as nossas orações e o nosso trabalho à sua oração. Por vezes, faltam à nossa oração a humildade, a confiança, a perseverança que lhe seriam necessárias; apoiemo‑la na oração de Cristo; peçamos‑lhe que nos inspire o modo conveniente de orar, de acordo com as intenções divinas; que apresente as nossas preces ao seu Pai, para que sejamos um com Ele por toda a eternidade13. Mais ainda, façamos de toda a nossa vida uma oferenda intimamente unida à de Jesus, por intermédio de Santa Maria: “Pai Santo! Pelo Coração Imaculado de Maria, eu Vos ofereço Jesus, vosso Filho muito amado, e me ofereço a mim mesmo nEle, com Ele e por Ele, por todas as suas intenções e em nome de todas as criaturas” 14. Assim, a nossa oração e todos os nossos atos, intimamente unidos aos de Jesus, adquirem um valor infinito.

II. O MESTRE ENSINOU‑NOS com o seu exemplo a entrar por caminhos de oração. Repetiu‑nos muitas vezes que devemos orar e não desfalecer.

Quando nos recolhemos para orar, aproximamo‑nos sedentos da fonte de águas vivas15. Ali encontramos a paz e as forças de que necessitamos para perseverar com alegria e otimismo no esforço por fazer da nossa vida uma imitação de Jesus Cristo.

Quanto bem fazemos à Igreja e ao mundo com a nossa oração! Já se disse que os que fazem verdadeira oração são como “as colunas do mundo”, sem as quais tudo desabaria. São João da Cruz ensinava com palavras muito bonitas que “é mais precioso diante de Deus e da alma, e traz mais proveito à Igreja, um pouquinho desse amor puro, ainda que pareça que não faz nada, do que todas essas outras obras juntas”16, que pouco ou nada valeriam à margem de Cristo. E é assim porque a oração nos torna fortes perante as dificuldades, nos ajuda a santificar o trabalho, a ser exemplares nos nossos afazeres, a tratar com cordialidade e apreço os que convivem ou trabalham conosco. Na oração descobrimos a urgência de levar Cristo aos ambientes em que estamos, urgência tanto mais premente quanto mais longe de Deus se encontram os que nos rodeiam.

Santa Teresa faz‑se eco das palavras de um “grande letrado”, para quem “as almas que não têm oração são como um corpo paralítico ou tolhido, que, embora tenha pés e mãos, não os pode mexer”17.

A oração é necessária para amarmos mais e mais o Senhor, para nunca nos separarmos dEle; sem ela, a alma cai na tibieza, perde a alegria e as energias necessárias para fazer o bem.

O diálogo íntimo de Jesus com Deus Pai foi contínuo: para pedir, para louvar, para agradecer; em todas as circunstâncias, Jesus dirige‑se ao Pai. Nós devemos aspirar ao mesmo: a procurar sempre o colóquio com Deus, especialmente nos momentos que dedicamos exclusivamente a falar com Ele, como na Missa e agora, nestes minutos de oração. Mas devemos procurá‑lo também ao longo do dia, nas situações que entretecem o nosso dia: ao começarmos e terminarmos o nosso trabalho ou estudo, enquanto esperamos o elevador, ao encontrarmos na rua uma pessoa conhecida. Aquela invocação cheia de ternura do Senhor – Abba, Pai! – estava constantemente nos seus lábios, com ela começava muitas vezes as suas ações de graças, os seus pedidos ou o seu louvor. Quanto bem fará à nossa alma chamar Deus assim: Pai!, com ternura e confiança, com amor!

Todos os momentos solenes da vida do Senhor foram precedidos pela oração. “O Evangelista sublinha que foi precisamente durante a oração de Jesus que se manifestou o mistério do amor do Pai e se revelou a comunhão das Três Pessoas Divinas. É na oração que aprendemos o mistério de Cristo e a sabedoria da Cruz. É na oração que nos apercebemos, em todas as suas dimensões, das necessidades reais dos nossos irmãos e das nossas irmãs de todo o mundo […]; é na oração que ganhamos forças para a missão que Cristo compartilha conosco”18.

O Cura d’Ars costumava dizer que todos os males que muitas vezes nos preocupam na terra vêm precisamente de não orarmos ou de o fazermos mal19. Formulemos o propósito de dirigir‑nos com amor e confiança a Deus através da oração mental, das orações vocais e dessas breves fórmulas que são as jaculatórias, e teremos a alegria de viver junto do nosso Pai‑Deus, que é o único lugar onde vale a pena viver.

III. O ESPÍRITO SANTO ensina‑nos a procurar o trato íntimo com Jesus não só na oração mental como também na oração vocal, e até por meio dessas orações que aprendemos, quando pequenos, das nossas mães. Mesmo sendo onisciente enquanto Deus, Jesus, enquanto homem, deve ter aprendido dos lábios de sua Mãe a fórmula de muitas orações transmitidas de geração em geração no seio do povo hebreu, e deu‑nos exemplo de apreço pela oração vocal. Na sua última oração ao Pai, utilizou as palavras de um Salmo. E ensinou‑nos a oração por excelência, o Pai‑Nosso, em que se contém tudo o que devemos pedir.

oração vocal é uma manifestação da piedade do coração e ajuda‑nos a manter viva a presença de Deus durante o dia, e mesmo nesses momentos da oração mental em que estamos secos e não conseguimos pensar em nada: “[…] Quando não souberes ir mais longe, quando sentires que te apagas, se não puderes lançar ao fogo troncos olorosos, lança os ramos e a folhagem de pequenas orações vocais, de jaculatórias, que continuem alimentando a fogueira. – E terás aproveitado o tempo”20.

O texto das orações vocais – muitas de origem bíblica, outras litúrgicas ou compostas pelos santos – tem servido a inúmeros cristãos para louvar, para agradecer, para pedir ajuda e desagravar o Senhor. Quando recorremos a elas, vivemos de modo íntimo a Comunhão dos Santos e apoiamos a nossa fé na fé da Igreja21.

Para as rezarmos melhor e evitarmos a rotina, pode ajudar‑nos este conselho: “Procura recitá‑las com o mesmo amor com que o apaixonado fala pela primeira vez…, e como se fosse a última ocasião em que pudesses dirigir‑te ao Senhor”22.

(1) Lc 6, 12‑19; (2) cfr. Lc 16, 1; (3) cfr. São Tomás, Suma Teológica, III, q. 21, a. 4; (4) Jo 11, 21; (5) Jo 11, 42; (6) Lc 22, 32; (7) cfr. Jo 17, 15 e segs.; (8) João Paulo II, Homilia na Basílica do Sagrado Coração de Montmartre, Paris, 1‑VI‑1980; (9) Missal Romano, Símbolo niceno‑constantinopolitano; (10) São Gregório Magno, Comentário ao Salmo 5; (11) cfr. Santo Ambrósio, Comentário à Epístola aos Romanos, 8, 34; (12) Hebr 7, 25; (13) cfr. R. Garrigou‑Lagrange, O Salvador, pág. 351; (14) P. M. Sulamitis, Oferenda ao Amor misericordioso; (15) cfr. Sl 41, 2; (16) São João da Cruz, Cântico espiritual, Canção 29, 2 b; (17) Santa Teresa de Jesus, Castelo interior, Morada primeira, I, 6; (18) João Paulo II, Homilia, 13‑I‑1981; (19) Cura d’Ars, Sermão sobre a oração; (20) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 92; (21) cfr. G. Chevrot, En lo secreto, Rialp, Madrid, 1960, págs. 100‑101; (22) Josemaría Escrivá, Forja, n. 432.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal