TEMPO COMUM. VIGÉSIMA QUINTA SEMANA. SEXTA‑FEIRA

– Viver o momento presente.
– Realizar com plena atenção as tarefas que temos entre mãos.
– Evitar as preocupações inúteis.

I. PARA NOS APRESENTARMOS diante de Deus Pai com as mãos cheias de fruto, são muitas as tarefas que temos de realizar. A Sagrada Escritura ensina‑nos, numa das Leituras para a Missa de hoje, que tudo tem o seu tempo e o seu momento. As circunstâncias e acontecimentos da vida fazem parte de um plano divino. Mas há ocasiões em que o homem não consegue compreender esse querer de Deus sobre as criaturas e não encontra o tempo oportuno para cada coisa.

Com freqüência, os homens põem o seu interesse em coisas que estão longe do trabalho que têm entre mãos: o pai pode viver alheio aos filhos quando deixa de prestar‑lhes mais atenção, de ajudá‑los nos seus problemas, de ouvi‑los nos seus motivos de alegria ou de preocupação, embora esteja fisicamente presente. O estudante tem por vezes a imaginação fora da matéria que deve estudar e não aproveita um tempo de que depois sentirá falta, talvez com preocupação e angústia.

“O tempo é precioso – dizia Paulo VI –, o tempo passa, o tempo é uma fase experimental do nosso destino decisivo e definitivo. Das provas que dermos de fidelidade aos nossos deveres dependerá o nosso destino futuro e eterno. O tempo é um dom de Deus: é uma interpelação do amor de Deus à nossa livre e – pode dizer‑se – decisiva resposta. Devemos ser avaros do tempo, para empregá‑lo bem, com intensidade no agir, amar e sofrer. Que não exista jamais para o cristão o ócio, o tédio. O descanso sim, quando for necessário (cfr. Mc 6, 31), mas sempre com vistas a uma vigilância que só no último dia se abrirá a uma luz sem ocaso”1.

Uma das Leituras da Missa convida‑nos a aproveitar a vida aos olhos de Deus, estando atentos ao momento presente, o único de que podemos verdadeiramente dispor. Cada tarefa tem o seu tempo: Há um tempo para nascer e um tempo para morrer. Há um tempo para plantar e um tempo para arrancar o que se plantou… Há um tempo para destruir e um tempo para edificar. Há um tempo para chorar e um tempo para rir. Há um tempo para calar‑se e um tempo para falar…2

Perder o tempo é dedicá‑lo a outras tarefas, talvez humanamente interessantes e produtivas, mas diferentes das que Deus esperava que nos ocupassem naquele momento preciso: dedicar ao trabalho ou aos amigos uma horas que se deveriam empregar no lar; ler o jornal quando a ocupação profissional pedia que estivéssemos mergulhados no trabalho… E assim por diante.

E aproveitar o tempo é fazer o que Deus quer que façamos; é viver o momento presente sabendo que a vida do homem se compõe de contínuos presentes, os únicos que podemos santificar.

Do passado só devemos tirar motivos de contrição por tudo aquilo que fizemos mal, de ações de graças pelas ajudas que recebemos do Senhor, e experiência para realizarmos com nova perfeição as nossas tarefas. Por sua vez, os acontecimentos futuros não nos devem preocupar muito, pois ainda não temos a graça de Deus para enfrentá‑los.

“Viver plenamente o momento presente é o pequeno segredo com o qual se constrói, tijolo a tijolo, a cidade de Deus em nós”3. Não possuímos outro tempo que o de agora. Este é o único tempo que – sejam quais forem as circunstâncias que nos acompanhem – podemos e devemos santificar. Hoje e agora, este momento, vivido com intensidade, com amor, com toda a perfeição possível, é o que podemos oferecer ao Senhor. Não o deixemos passar à espera de melhores oportunidades.

II. NÃO CUMPRIR O DEVER que o instante requeria, deixá‑lo para depois, equivale em muitas ocasiões a omiti‑lo. Aproveitai o tempo presente…4, exortava São Paulo aos primeiros cristãos.

Para isso, devemos começar por elaborar uma ordem de prioridades nos nossos afazeres diários, e depois respeitá-la rigorosamente. Preguiçoso é não só aquele que deixa passar o tempo sem fazer nada, mas também quem faz muitas coisas, mas recusa‑se a cumprir a sua obrigação concreta em cada instante: escolhe as suas ocupações conforme o capricho do momento, ou então dedica‑se ao que deve, mas sem energia e disposto a mudar de tarefa à primeira dificuldade. O preguiçoso pode até ser amigo dos “começos”, mas a sua incapacidade para um trabalho contínuo e profundo impede‑o de colocar as “últimas pedras”, de acabar bem o que tinha começado.

“Quem é laborioso aproveita o tempo, que não é apenas ouro; é glória de Deus! Faz o que deve e está no que faz, não por rotina nem para ocupar as horas, mas como fruto de uma reflexão atenta e ponderada” 5.

Viver o hodie et nunc, o “hoje e agora”, leva‑nos a estar atentos à tarefa que temos entre mãos, convencidos de que se trata de uma oferenda ao Senhor e, portanto, requer plena dedicação, como se fosse a última obra que fazemos por Deus. Esta atenção ajudar‑nos‑á a terminar bem os nossos afazeres, por pequenos que possam parecer, porque, oferecidos ao Senhor, passam a ser grandes.

Quem se concentra no momento presente não se sobrecarrega com preocupações inúteis a respeito de doenças, desgraças ou trabalhos que ainda não se apresentaram e que talvez nunca cheguem a apresentar‑se. “Um simples raciocínio sobrenatural seria suficiente para os varrer: se esses perigos não são atuais e esses temores ainda não se verificaram, é obvio que não dispões da graça de Deus necessária para os vencer e aceitar. Se esses receios vierem a cumprir‑se, então não te faltará a graça divina e, com ela, e com a tua correspondência, a vitória, a paz. É natural que não tenhas agora a graça de Deus para venceres os obstáculos e aceitares as cruzes que existem apenas na tua imaginação. É preciso construir a vida espiritual com base num realismo sereno e objetivo”6.

Viver o dia presente, conduzidos pela mão do nosso Pai‑Deus, como bons filhos, livra‑nos de muitas ansiedades e permite‑nos aproveitar bem o tempo. Quantas coisas funestas, que temíamos, simplesmente nunca chegaram a acontecer! O nosso Pai‑Deus cuida dos seus filhos mais do que nós pensamos em algumas ocasiões.

III. É NAS TAREFAS de hoje e agora que podemos enriquecer a nossa vida sobrenatural, pois o cumprimento do dever presente é um apelo contínuo ao espírito de fé, de esperança, à fortaleza e à caridade. E é nelas que podemos praticar as virtudes humanas: a laboriosidade, a ordem, o otimismo, a cordialidade, o espírito de serviço… Não o esqueçamos. O homem que cumpre o seu dever, que “faz o que deve e está no que faz”7, enrijece o caráter, torna‑se mais varonil, enérgico, empreendedor. E todas estas virtudes compõem a base sem a qual não se podem erguer as virtudes cristãs. “Agora é o tempo de misericórdia, então será somente tempo de justiça; por isso, agora é o nosso momento, então será só o momento de Deus”8.

O próprio Senhor nos convidou a viver com serenidade e intensidade cada jornada, eliminando preocupações inúteis pelo que aconteceu ontem e pelo que pode acontecer amanhã. Não queirais, pois, andar inquietos pelo dia de amanhã. Porque o dia de amanhã cuidará de si; basta a cada dia o seu cuidado9. É um conselho, e ao mesmo tempo um consolo, que nos leva a não evadir‑nos do momento atual. Viver o momento presente significa abraçá‑lo decididamente para santificá‑lo e afastar muitos pesos desnecessários e – tantas vezes! – muito mais difíceis de carregar aos ombros. Esta sabedoria é própria dos filhos de Deus, que se sabem nas suas mãos, e do sentido comum da experiência cotidiana: Quem observa o vento não semeia, e quem considera as nuvens nunca ceifará10.

“Porta‑te bem «agora», sem te lembrares do «ontem», que já passou, e sem te preocupares com o «amanhã», que não sabes se chegará para ti”11.

Nem o desejo do Céu, nem a meditação sobre os últimos fins do homem – a morte, o Juízo, o Céu e o inferno – podem fazer‑nos esquecer os afazeres desta terra. Já se disse de modos muito diversos que devemos trabalhar para esta terra como se sempre fôssemos viver nela, e ao mesmo tempo trabalhar para a eternidade como se fôssemos morrer ainda hoje. Mais do que isso: devemos ter sempre em conta que é precisamente esta tarefa do momento que vivemos a que nos leva ao Céu. Agora é tempo de edificar: não nos enganemos pensando que o faremos num futuro próximo.

A Virgem, nossa Mãe, ajudar‑nos‑á a dizer faça‑se diante das tarefas de cada instante, com a docilidade com que Ela o disse ao Anjo no momento da Anunciação.

(1) Paulo VI, Homilia, 1.01.1976; (2) Ecl 3, 1‑11; Primeira leitura da Missa da sexta‑feira da 25ª semana do Tempo Comum; (3) Chiara Lubich, Meditações, pág. 61; (4) cfr. Gál 6, 10; (5) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 81; (6) Salvador Canals, Reflexões espirituais, Quadrante, São Paulo, pág. 104; (7) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 815; (8) São Tomás de Aquino, Sobre o Credo, 7; (9) Mt 6, 34; (10) Ecl 11, 4; (11) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 253.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal