O ESCAPULÁRIO DE NOSSA SENHORA DO CARMO E SEUS PRIVILÉGIOS

Com o florescimento e consolidação da Ordem do Carmo e sua aprovação pontifícia em 1226 pelo Papa Honório III após a aparição da Santíssima Virgem ordenando-lhe que aprovasse a regra e protegesse a Ordem Carmelitana, sobreveio um novo período de perseguições e tormentas. Assim, Simão Stock, o “Amado de Maria”, como era conhecido pelos monges de sua congregação, na época já Superior Geral da Ordem de Nossa Senhora do Carmo, recorria sempre à Virgem Mãe a fim de que Ela viesse em socorro dos carmelitas e lhes dessem um sinal de continuidade da sua aliança com a Ordem consagrada a Ela.

A tão boa Mãe, atendendo às súplicas de seu servo fiel e dileto, apareceu-lhe, então, na manhã do dia 16 de julho de 1251, após a linda prece composta por Simão: “Flor do Carmelo, vinha florida, esplendor do Céu; Virgem fecunda e singular! Ó Doce Mãe, de varão não conhecida, aos carmelitas dá privilégio, Estrela do Mar!”. Envolta em uma imensa luz, rodeada de anjos, a Virgem Santíssima, com o escapulário em suas mãos imaculadas, o entregou a Simão e lhe disse:

“Filho diletíssimo, recebe o escapulário da tua Ordem, sinal especial de minha amizade e do privilégio que obtive para ti e todos os carmelitas. Aqueles que morrerem com este escapulário não padecerão o fogo do inferno. É sinal e salvação, amparo e proteção nos perigos, e aliança de paz para sempre”.

Com isso, o escapulário passou a fazer parte do hábito carmelita, sendo usado por todos os membros da Ordem, de modo que as perseguições e as hostilidades cessaram, sendo um sinal das grandes graças alcançadas pelas mãos de Nossa Senhora e o uso do sacramental. Os milagres que acompanharam o uso piedoso do escapulário fizeram aumentar sua aceitação e despertou um santo desejo do povo fiel de participar também dos benefícios espirituais que o santo objeto trazia consigo, assim, a Igreja simplificou seu tamanho e autorizou o uso por todos os que quisessem, propagando cada vez mais a devoção à Nossa Senhora do Carmo.

Diversos são os privilégios para aqueles que com reta intenção e piedade utilizarem o escapulário, porém, o mais notável é o chamado “privilégio sabatino”. Sua origem teria ocorrido com a publicação em 1322 da “bula sabatina” pelo Papa João XXII, após ter sido favorecido por uma visão da Santíssima Rainha do Carmelo. A Virgem do Carmo teria dito ao Papa:

“Eu, Mãe de misericórdia, livrarei do purgatório e levarei ao céu, no sábado depois da morte, aos que estiverem vestindo meu Escapulário”.

Tal privilégio foi descrito em um fato relatado por Santa Teresa d’Ávila no Livro da Vida: “Outro frade da nossa Ordem, muito bom religioso, estava muito mal. Estando eu à missa, veio-me um recolhimento e vi que tinha morrido e subia ao Céu sem passar pelo Purgatório. Morreu naquela mesma hora em que o vi, segundo soube depois. Eu me espantei de não ter entrado no Purgatório. Entendi que, por ter sido frade e ter guardado bem a sua profissão, lhe tinham aproveitado as Bulas da Ordem para não entrar no Purgatório”[1].

Entretanto, é importante deixar claro que não basta fazer o uso do escapulário para se ver livre da condenação eterna, mas é necessário que o fiel tenha uma conduta reta e a boa intenção de bem viver as obrigações da vida cristã, pois de nada adiantaria viver imerso ao pecado e portar o escapulário sem a busca pela santidade, pois o escapulário não levará para o céu nenhuma alma em pecado mortal. Aqueles que usam o escapulário carmelitano, recebem a promessa de serem fortalecidos de modo especial pela proteção de Nossa Senhora do Carmo para alcançarem a salvação.

Para receber o privilégio sabatino, o fiel precisa observar três condições:

  1. Usar o escapulário do Carmo habitualmente, que se imposto pela primeira vez deverá ser realizado por um sacerdote ou um diácono. Uma vez feita a imposição pelo sacerdote, não há a necessidade de repeti-la outras vezes caso venha a trocar de escapulário;
  2. Guardar a castidade de acordo com seu estado de vida;
  3. Recitar diariamente o Pequeno Ofício da Virgem Maria ou o Santo Rosário.

Essas condições são requeridas porque o privilégio sabatino não é um dogma de fé, mas uma forma de levar os fiéis à confiança na intercessão da Santíssima Virgem Maria e na misericórdia divina. Portanto, o escapulário não deve ser visto como um amuleto, mas sim como um sacramental que nos ajuda em nossa santificação e nos leva a um melhor cumprimento de nossas obrigações como cristãos para que possamos alcançar a salvação.

O Escapulário manifesta, por aquele que o utiliza, a consagração e a pertença voluntária à Virgem Santíssima, recebendo da tão Boa Mãe o socorro em todas as ocasiões, especialmente na hora da morte. O sacramental é, portanto, uma veste de salvação, é como canta o profeta Isaías em sua ação de graças: “Estou cheio de alegria no Senhor; minha alma exulta em meu Deus, pois que ele me revestiu de vestes de salvação, ele me cobriu de um manto de justiça, como o esposo que se cinge de um diadema, como a noiva que se adorna de suas joias” (Is 61,10).

Como nos lembra São Luís Maria Grignion de Montfort[2]: “as práticas exteriores bem feitas ajudam as interiores porque lembram ao homem – que sempre se guia pelos sentidos – o que está fazendo ou o que deve fazer”. E ainda: “uma das razões porque tão poucos cristãos pensam em seus votos do santo batismo e vivem com tanta libertinagem como se eles nada tivessem prometido a Deus, como os pagãos, é que eles não portam nenhuma marca exterior que lhes faça relembrar”. Assim, portar o escapulário nos ajuda a buscar uma vida de santidade, e fugir das ocasiões de perigo para a nossa alma, tendo a boa disposição para sempre ser agradável à Virgem Maria.

Por fim, quem utiliza o escapulário ainda tem a possibilidade de lucrar indulgências, sejam elas parciais ou plenárias. A indulgência parcial é dada àqueles que piedosamente portarem o escapulário e, cada vez que beijá-lo renovar a sua união com a Virgem Santíssima dirigindo-lhe uma prece ou invocação. Já a indulgência plenária, será concedida no dia em que se recebe pela primeira vez o escapulário, bem como nas seguintes festas: São Simão Stock no dia 16 de maio; Nossa Senhora do Carmo, no dia 16 de julho; Santo profeta Elias, no dia 20 de julho; Santa Teresa do Menino Jesus, no dia 1º de outubro; Todos os Santos da Ordem do Monte Carmelo, no dia 14 de novembro; Santa Teresa de Jesus, no dia 15 de outubro; São João da Cruz, no dia 14 de dezembro. Para lucrar a indulgência plenária é necessário ainda, confessar-se, comungar e rezar pelas intenções do Santo Padre.

 

CONSAGRAÇÃO À NOSSA SENHORA DO CARMO

Ó Maria, Mãe e decoro do Carmelo, consagro-te hoje e sempre a minha vida, como uma pequena homenagem de gratidão por todas as graças que através da tua intercessão recebi de Deus. Tu cuidas com especial carinho os que trazem devotamente o teu escapulário: suplico-te que ampares a minha fragilidade com as tuas virtudes, que ilumines com a tua sabedoria as trevas da minha mente, e que avives em mim a fé, a esperança e a caridade, para que possa em cada dia crescer no amor a Deus e na devoção para contigo. Que o escapulário atraia sobre mim o teu olhar maternal e a tua proteção nas lutas diárias, e que eu seja sempre fiel ao teu Filho Jesus e a ti, evitando todo o pecado e imitando as tuas virtudes. Quero oferecer a Deus, através das tuas mãos, todo o bem que fizer com a ajuda da tua graça; a tua bondade me alcance o perdão dos meus pecados e uma constante fidelidade ao Senhor. Ó Mãe amabilíssima, que o teu amor me alcance um dia trocar o teu escapulário pela eterna veste nupcial, e viver contigo e com os santos do Carmelo na felicidade do Reino de teu Filho, Ele que vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém.

 

[1] Santa Teresa D’Ávila. Obras Completas: Livro da Vida. São Paulo: Loyola, 2015.

[2] São Luis Maria Grignion de Montfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria. 1 Ed. Fortaleza: Instituto Hesed, 2021.