TEMPO PASCAL. SÉTIMA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA

– O dom de conselho e a virtude da prudência.
– O dom de conselho é uma grande ajuda para manter uma consciência reta.
– Os conselhos da direção espiritual. Meios que facilitam a atividade deste dom.

I. SÃO MUITAS AS OCASIÕES de nos desviarmos do caminho que conduz a Deus, como também são muitos os caminhos errados que se nos apresentam com freqüência. Mas o Senhor assegurou-nos: Eu te farei saber e te mostrarei o caminho que deves seguir; serei teu conselheiro e os meus olhos estarão fixos em ti 1.

O Espírito Santo é o nosso melhor Conselheiro, o Mestre mais sábio, o melhor Guia. Quando vos entregarem – prometia o Senhor aos Apóstolos, referindo-se às situações extremas que os aguardavam –, não vos preocupeis nem com a maneira com que haveis de falar nem com o que haveis de dizer, porque naquele momento vos será dado o que devereis dizer. Porque não sereis vós que falareis, mas será o Espírito do vosso Pai que falará em vós 2. Teriam uma especial assistência do Paráclito, como a tiveram os fiéis cristãos ao longo dos séculos em circunstâncias semelhantes. Comove-nos verificar a serenidade e a sabedoria com que tantos mártires cristãos, às vezes homens e mulheres de pouca cultura, ou mesmo crianças, confessaram a sua fé.

Mediante o dom de conselho, o Espírito Santo aperfeiçoa os atos da virtude da prudência, que diz respeito aos meios que se devem empregar para resolver cada situação.

Na nossa vida, é muito freqüente termos que tomar decisões, umas mais importantes, outras menos. Em todas elas, de alguma maneira, está comprometida a nossa santidade. Pois bem, às almas dóceis à ação do Espírito Santo, Deus concede o dom de conselho para que possam decidir com retidão e rapidez. É como que um instinto divino para que possam acertar com o caminho que mais convém à glória de Deus. Da mesma maneira que a virtude da prudência abarca todo o campo da nossa atuação, o Espírito Santo, pelo dom de conselho, é Luz e Princípio permanente das nossas ações: inspira a escolha dos meios para realizarmos a vontade de Deus em todas as nossas tarefas, e conduz-nos pelos caminhos da caridade, da paz, da alegria, do sacrifício, do cumprimento do dever. Inspira-nos o caminho que devemos seguir em cada circunstância.

O primeiro campo em que este dom exerce a sua ação é o da vida interior de cada um. Na alma em graça, o Paráclito atua de uma maneira silenciosa, suave e ao mesmo tempo forte. “Este sapientíssimo Mestre é tão hábil em ensinar que vê-lo agir é o que há de mais admirável. Tudo é doçura, tudo é carinho, tudo bondade, tudo prudência, tudo discernimento” 3. Desses “ensinamentos” e dessa luz na alma procedem os impulsos que se traduzem em apelos para sermos melhores, para correspondermos mais e melhor; daí surgem as resoluções firmes, como que instintivas, que mudam uma vida ou são a origem de uma melhora eficaz nas relações com Deus, no trabalho, na atuação concreta de cada dia.

Para nos deixarmos aconselhar e dirigir pelo Paráclito, devemos desejar ser inteiramente de Deus, sem pôr conscientemente limites à ação da graça; devemos procurar a Deus por ser Quem é, infinitamente digno de ser amado, sem esperar outras compensações, tanto nos momentos em que tudo é fácil como nas situações de aridez. “Temos que procurar, servir e amar a Deus de maneira desinteressada, não para sermos virtuosos, nem para adquirir a santidade, nem por causa da graça, ou do Céu, ou da alegria de possuí-lo, mas somente para amá-lo. E quando Ele nos oferece dons e graças, devemos dizer-lhe que não, que não queremos outra coisa além do amor para amá-lo; e se nos chega a dizer: pede-me tudo o que queiras… nada, nada lhe devemos pedir; só amor e mais amor, para amá-lo e mais amá-lo” 4. E com o amor a Deus vem tudo o que pode saciar o coração do homem.

II. O DOM DE CONSELHO exige que nos tenhamos esforçado previamente por agir com prudência: que tenhamos colhido os dados necessários, previsto as possíveis conseqüências das nossas ações, recordado as experiências de casos análogos, pedido o conselho oportuno quando o caso o tenha requerido… É a prudência natural, que depois vem a ser esclarecida pela graça. É sobre ela que atua este dom, tornando mais rápida e segura a escolha dos meios, mais adequada a resposta, mais claro o caminho que devemos seguir. E isso, mesmo nos casos em que não é possível adiar a decisão, porque as circunstâncias exigem uma resposta firme e imediata, como a que o Senhor deu aos fariseus que lhe perguntavam com má-fé se era lícito ou não pagar o tributo a César 5.

O dom de conselho é de grande ajuda para manter uma consciência reta, sem deformações, porque, quando somos dóceis a essas luzes e conselhos com que o Espírito Santo ilumina a nossa consciência, a alma não se evade nem se justifica diante das faltas e dos pecados, mas reage com a contrição, com uma maior dor por ter ofendido a Deus.

Este dom ilumina a alma fiel a Deus para que não aplique erradamente as normas morais nem se deixe levar pelos respeitos humanos, pelos critérios do ambiente ou da moda, mas pelo querer de Deus. Diretamente ou por meio de outros, o Paráclito dá luzes para discernir o rumo certo e mostra os caminhos a seguir, talvez diferentes daqueles que o “espírito do mundo” sugere. Quem deixa de aplicar as normas morais à sua conduta concreta, sejam elas mais importantes ou menos importantes, é porque antepõe os seus caprichos ao cumprimento da vontade de Deus.

Ser dócil às luzes e moções interiores que o Espírito Santo inspira não exclui de modo algum “a necessidade de consultar os outros e de ouvir humildemente as diretrizes da Igreja. Pelo contrário, os santos sempre se mostraram pressurosos em submeter-se aos seus superiores, convencidos de que a obediência é o caminho real, o mais rápido e seguro, para a santidade mais alta. O próprio Espírito Santo inspira esta filial submissão aos legítimos representantes da Igreja de Cristo: Quem vos ouve, a mim me ouve; e quem vos rejeita, a mim me rejeita (Lc 10, 16)” 6.

III. ENSINA SÃO TOMÁS que “todo o bom conselho sobre a salvação dos homens vem do Espírito Santo” 7. Os conselhos da direção espiritual – através dos quais o Espírito Santo nos fala tantas vezes e de modo tão claro – devem, pois, ser recebidos com a alegria de quem descobre uma vez mais o caminho, com agradecimento a Deus e a quem faz as suas vezes, e com o propósito eficaz de os pôr em prática. Há ocasiões em que estes conselhos ganham na alma dos que os recebem uma ressonância particular, promovida diretamente pelo Espírito Santo.

O dom de conselho é necessário para a vida diária, tanto para os nossos assuntos pessoais como para podermos aconselhar os nossos amigos na sua vida espiritual e humana. É um dom que corresponde à bem-aventurança dos misericordiosos 8, “pois é necessário sermos misericordiosos para sabermos dar prudentemente um conselho salutar aos que dele carecem; um conselho proveitoso que, longe de desanimá-los, os estimule com força e suavidade ao mesmo tempo” 9.

Hoje pedimos ao Espírito Santo que nos conceda docilidade às suas inspirações, pois o maior obstáculo para que o dom de conselho arraigue na nossa alma é o apego ao juízo próprio, o não saber ceder, a falta de humildade e a precipitação no agir. Facilitaremos a ação desse dom se nos acostumarmos a considerar na oração as decisões importantes da nossa vida: “Não tomes uma decisão sem te deteres a considerar o assunto diante de Deus” 10; se procurarmos desapegar-nos do critério próprio: “Não desaproveites a ocasião de abater o teu próprio juízo”, aconselha Mons. Escrivá 11; se formos completamente sinceros à hora de fazer uma consulta moral em algum assunto que nos afete muito diretamente: por exemplo, em matéria de ética profissional ou em relação ao número de filhos, para avaliar se Deus não nos pede mais generosidade para formarmos uma família numerosa…

Se formos humildes, se reconhecermos as nossas limitações, sentiremos a necessidade, em determinadas circunstâncias, de recorrer a um conselheiro. E então não recorreremos a qualquer um, “mas a quem for idôneo e estiver animado dos nossos mesmos desejos sinceros de amar a Deus e de o seguir fielmente. Não basta pedir um parecer; temos que dirigir-nos a quem no-lo possa dar desinteressada e retamente […]. Na nossa vida encontramos colegas ponderados, que são objetivos, que não se deixam apaixonar, inclinando a balança para o lado que mais lhes convém. Dessas pessoas, quase instintivamente, nós nos fiamos, porque procedem sempre bem, com retidão, sem presunção e sem espalhafato” 12.

Aquele que me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida 13. Se procurarmos seguir o Senhor todos os dias da nossa vida, não nos faltará a luz do Espírito Santo em qualquer circunstância. Se tivermos retidão de intenção, Ele não permitirá que caiamos no erro. A nossa Mãe do Bom Conselho conseguir-nos-á as graças de que precisamos, se recorrermos a Ela com a humildade de quem sabe que, por si só, tropeçará e entrará freqüentemente por caminhos errados.

(1) Sl 32, 8; (2) Mt 10, 19-20; (3) Francisca Javiera del Valle, Decenario al Espíritu Santo, pág. 96; (4) idem, op. cit.; (5) Mt 22, 21-22; (6) M. M. Philipon, Los dones del Espíritu Santo, Palabra, Madrid, 1983, págs. 273-274; (7) São Tomás, Sobre o Pai-Nosso, in Escritos de catequese; (8) idem, Suma Teológica, 2-2, q. 52, a. 4; (9) R. Garrigou-Lagrange, Las tres edades de la vida interior, pág. 637; (10) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 266; (11) ib., n. 177; (12) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, ns. 86 e 88; (13) Jo 8, 12.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal