TEMPO COMUM. VIGÉSIMA PRIMEIRA SEMANA. SEXTA‑FEIRA

– O azeite que mantém acesa a luz da caridade é a intimidade com Jesus.
– O brilho das boas obras.
– Ser luz para os outros.

I. O EVANGELHO DA MISSA1 relata‑nos um costume judeu; o Senhor alude a ele para nos dar um ensinamento sobre o espírito de vigilância que devemos cultivar sempre. Jesus diz‑nos: O Reino dos céus é semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo e da esposa… Estas virgens são as jovens não casadas, damas de honra da noiva, que esperam o esposo na casa dela. O ensinamento centra‑se na atitude que se deve ter à chegada do Senhor. Ele vem até nós, e devemos aguardá‑lo com espírito vigilante, com o amor desperto, pois – diz São Gregório Magno comentando esta parábola – “dormir é morrer”2.

Cinco dessas virgens – lemos na parábola – eram néscias, pois não levaram consigo o azeite necessário para o caso de que o esposo tardasse em chegar. As outras cinco foram previdentes, prudentes, e junto com as lâmpadas levaram azeite nas suas vasilhas. Umas e outras adormeceram, pois a espera foi longa. E quando à meia‑noite se ouviu a voz: Eis o esposo que chega, ide ao seu encontro, somente as que tinham levado azeite de reserva puderam preparar as suas lâmpadas e entrar na sala de bodas. As outras, apesar dos seus esforços, ficaram de fora.

O Espírito Santo ensina que não nos basta ter começado a percorrer o caminho que leva a Cristo: é preciso que nos mantenhamos nele numa atitude permanente de alerta, porque a tendência de todos os homens e mulheres é a de mitigar a entrega que a vocação cristã traz consigo. Quase sem o percebermos, introduz‑se na alma o desejo de tornar compatível o seguimento de Cristo com a frouxidão de um ambiente aburguesado. É necessário estarmos atentos, porque a pressão do ambiente que tem como norma de vida a procura insaciável do conforto pode ser muito forte. Seríamos então semelhantes a essas virgens, inicialmente cheias de bom espírito, mas que se cansam cedo e já não podem ir ao encontro do Esposo, apesar de se terem preparado para esse momento durante todo o dia.

Se não estivéssemos alerta, o Senhor encontrar‑nos‑ia sem o brilho das boas obras, adormecidos, com a lâmpada apagada. Que pena se um cristão, depois de anos e anos de luta, viesse a descobrir no final da sua vida que os seus atos estavam desprovidos de valor sobrenatural por lhes ter faltado o azeite do amor e da caridade!

A virtude teologal da caridade deve iluminar todos os nossos atos, em todas as circunstâncias, em cada momento: quando nos sentimos bem dispostos e na doença, no cansaço e no fracasso; entre pessoas de trato amável e com as que têm um gênio difícil; no trabalho e na família…, sempre. “Na alma bem disposta há sempre um propósito vivo, firme e decidido de perdoar, sofrer e ajudar, uma atitude que incita sempre a realizar atos de caridade. Se a alma se firmou neste desejo de amar e neste ideal de amar desinteressadamente, terá com isso a prova mais convincente de que as suas comunhões, confissões, meditações e toda a sua vida de oração estão em ordem, são sinceras e fecundas”3.

Ora bem, o azeite que mantém acesa a caridade é o espírito de oração: a intimidade com Jesus.

Não é difícil observar que a caridade é pouco vivida, mesmo entre muitos que têm o nome de cristãos. “No entanto, considerando as coisas com sentido sobrenatural, descobriremos também a raiz dessa esterilidade: a ausência de uma vida de relação intensa e contínua, de tu a Tu, com Nosso Senhor Jesus Cristo; e o desconhecimento da obra do Espírito Santo na alma, cujo primeiro fruto é precisamente a caridade”4.

II. O SEGUIMENTO DE CRISTO nasce do Amor e nele encontra o seu alimento. O aburguesamento constitui um fracasso desses grandes desejos de seguir o Mestre. Quem se apega a uma vida cômoda, quem foge da abnegação e do sacrifício, ou se deixa levar obsessivamente pela ânsia de satisfações pessoais, não encontrará as forças necessárias para dar‑se a Deus e aos outros com todo o coração e com toda a alma.

“Há também outros que afligem o seu corpo com a abstinência, mas dessa mesma abstinência querem obter retribuições humanas; dedicam‑se a ensinar os outros, dão muitas coisas aos indigentes, mas na realidade são virgens néscias, porque somente buscam como paga um louvor passageiro5. São aqueles a quem falta retidão de intenção; as suas obras acabam vazias.

O Senhor pede‑nos perseverança no amor, uma perseverança que deve ir crescendo continuamente, ao ritmo da alegria que se experimenta em servir a Deus em cada época e em cada situação. Esforçai‑vos e fortalecei o vosso coração, vós todos que esperais no Senhor6, aconselha‑nos o Espírito Santo. Sem desânimos, perseverantes no esforço diário, para que o Amor nos encontre preparados quando vier. “Acaso não são estas virgens prudentes – comenta Santo Agostinho – as que perseveram até o fim? Por nenhuma outra causa, por nenhuma outra razão se permitiu a sua entrada a não ser por terem perseverado até o fim… E porque as suas lâmpadas ardem até o último momento, são‑lhes abertas as portas e lhes é dito que entrem”7: alcançaram o fim das suas vidas.

Quando o cristão perde essa atitude atenta, quando cede ao pecado venial e deixa que o seu trato de amizade com Cristo se esfrie, fica às escuras, sem luz para si mesmo e para os outros, que tinham direito ao influxo do seu bom exemplo. Quando vai deixando de lado o espírito de mortificação e descura a oração…, a sua luz esmorece e acaba por apagar‑se, “e depois de tanto trabalho, depois de tantos suores, depois daquela valente luta e das vitórias conseguidas contra as más inclinações da natureza, as virgens néscias tiveram que retirar‑se envergonhadas, com as suas lâmpadas apagadas e a cabeça baixa”8.

O Amor de Deus não consiste em ter começado – ainda que com muito ímpeto –, mas em perseverar, em recomeçar uma vez e outra, continuamente.

III. AS NÉSCIAS “não é que tivessem permanecido inativas, porque tentaram fazer alguma coisa… Mas ouvem a voz que lhes responde com dureza: Não vos conheço (Mt XXV, 12). Não souberam ou não quiseram preparar‑se com a devida solicitude e esqueceram‑se de tomar a razoável precaução de adquirir o azeite a tempo. Faltou‑lhes generosidade para cumprir acabadamente o pouco que lhes fora pedido. Tinham tido muitas horas à sua disposição, mas desaproveitaram‑nas.

“Pensemos na nossa vida com valentia. Por que não conseguimos, às vezes, os minutos de que precisamos para terminar amorosamente o nosso trabalho, que é o meio da nossa santificação? Por que descuramos as obrigações familiares? Por que nos entra a precipitação à hora de rezar ou de assistir ao Santo Sacrifício da Missa? Por que nos faltam a serenidade e a calma para cumprirmos os deveres do nosso estado, e nos entretemos sem pressa nenhuma em ir atrás dos caprichos pessoais? Podemos responder: são ninharias. Sim, é verdade; mas essas ninharias são o azeite, o nosso azeite, que mantém viva a chama e acesa a luz”9.

O desejo de amar sempre mais a Cristo, a luta contra os defeitos e fraquezas, recomeçando sempre, é o que mantém acesa a chama, é o azeite da vasilha, que não permite que o brilho da caridade se extinga.

Dessa atitude vigilante, que o Senhor deseja que mantenhamos no coração, devem beneficiar‑se os que estão mais perto de nós. Pesa muito, em certas ocasiões, um ambiente movido por uma concepção grosseiramente materialista da vida, como pesam os maus exemplos daqueles que deveriam ser sinais indicadores; é grande, às vezes, a inclinação das paixões “que puxam para baixo”…, mas a força da caridade bem vivida pode muito mais. Frater qui adjuvatur a fratre, quasi civitas firma10, o irmão ajudado pelo seu irmão é tão forte como uma cidade amuralhada, que o inimigo não pode assaltar. É maior o poder do bem que o do mal. Daqui a importância da nossa vida: é necessário que sejamos como lâmpadas acesas, que iluminam o caminho de muitos.

Que forças podemos tirar da consideração de que, se amolecemos, não só nós, mas os outros, talvez mais fracos do que nós, perderão a Luz ou nunca a encontrarão! Existe uma maneira heróica e uma maneira estúpida, aburguesada, imprevidente, como a das virgens néscias, de percorrer os caminhos de Deus. Vale a pena que nos detenhamos num exame de consciência profundo: “Na tua vida, há duas peças que não se encaixam: a cabeça e o sentimento.

“A inteligência – iluminada pela fé – mostra‑te claramente não só o caminho, mas a diferença entre a maneira heróica e a maneira estúpida de percorrê‑lo. Sobretudo, põe diante de ti a grandeza e a formosura divina das tarefas que a Trindade deixa em nossas mãos.

“O sentimento, pelo contrário, apega‑se a tudo o que desprezas, mesmo que continues a considerá‑lo desprezível. É como se mil e uma insignificâncias estivessem esperando qualquer oportunidade, e logo que a tua pobre vontade se debilita – por cansaço físico ou por perda de sentido sobrenatural –, essas ninharias se amontoam e se agitam na tua imaginação, até formarem uma montanha que te oprime e te desanima: as asperezas do trabalho; a resistência em obedecer; a falta de meios; os fogos de artifício de uma vida regalada; pequenas e grandes tentações repugnantes; rajadas de sentimentalismo; a fadiga; o sabor amargo da mediocridade espiritual… E, às vezes, também o medo: medo porque sabes que Deus te quer santo e não o és.

“Permite‑me que te fale com crueza. Sobram‑te «motivos» para voltar atrás, e falta‑te arrojo para corresponder à graça que Ele te concede, porque te chamou para seres outro Cristo, ipse Christus! – o próprio Cristo. Esqueceste a admoestação do Senhor ao Apóstolo: «Basta‑te a minha graça!», que é uma confirmação de que, se quiseres, podes”11.

Se, confiantes na graça de Deus, nos dermos heroicamente ao Senhor e a todos os que temos ao nosso lado, poderemos esperar Cristo que chega e que nos introduzirá no banquete de bodas, no Amor sem medida e sem fim.

(1) Mt 25, 1‑13; (2) São Gregório Magno, Homilias sobre o Evangelho, 12, 2; (3) B. Baur, Na intimidade com Deus, pág. 247; (4) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 236; (5) São Gregório Magno, op. cit., 12, 1; (6) Sl 30, 25; (7) Santo Agostinho, Sermão 93, 6; (8) São João Crisóstomo, Homilias sobre os Evangelhos, 78, 2; (9) Josemaria Escrivá, op. cit, n. 41; (10) cfr. Liturgia das Horas, II, Preces Visperae: Prov 18, 19; (11) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 166.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal