TEMPO COMUM. TRIGÉSIMA SEMANA. QUINTA-FEIRA
– O nosso refugio e proteção estão no amor a Deus. Acudir ao Sacrário.
– Jesus Sacramentado prestará todas as ajudas necessárias.
– Junto do Sacrário, ganharemos todas as batalhas. Almas de Eucaristia.
I. NO CAMINHO para Jerusalém, que São Lucas descreve com tanto detalhe, Jesus deixou escapar do fundo do coração esta queixa em relação à Cidade Santa: Jerusalém, Jerusalém […], quantas vezes quis juntar os teus filhos, como a galinha recolhe os seus pintinhos debaixo das asas… ‘
É assim que o Senhor continua a proteger-nos: como a galinha reúne os seus pintinhos indefesos. Do Sacrário, Jesus vela pelo nosso caminhar e está atento aos perigos que nos rodeiam, cura as nossas feridas e nos dá constantemente a sua Vida. Conscientes desta verdade, quantas vezes não teremos repetido a estrofe do hino eucarístico: Bom pelicano, Senhor Jesus! Limpai-me a mim, imundo, com o vosso Sangue, do qual uma só gota pode salvar do pecado o mundo inteiro2. NEle está a nossa salvação e o nosso refúgio.
Os pintinhos que buscam refúgio debaixo das asas da mãe são uma imagem do justo que procura proteção no Senhor, como podemos ler com freqüência na Sagrada Escritura: Guarda-me como à menina dos teus olhos, esconde-me sob a sombra das tuas asas2, porque Tu és o meu refúgio, uma torre fortificada contra o inimigo. Oxalá possa eu habitar sempre no teu tabernáculo e acolher-me sob o amparo das tuas asas, lemos nos Salmos. O profeta Isaías recorre à mesma imagem para assegurar ao Povo eleito que Deus o defenderá contra o cerco do inimigo. Assim como os pássaros estendem as suas asas sobre os seus filhos, assim o Eterno todo-poderoso defenderá Jerusalém5.
No fim da nossa vida, Jesus será o nosso Juiz e o nosso Amigo. E enquanto durar a nossa peregrinação, dar-nos-á todas as ajudas de que necessitamos, pois a sua missão é uma só, como era quando vivia aqui na terra: salvar-nos. Não podemos imaginá-lo distante das dificuldades que nos rodeiam, indiferente ao que nos preocupa!
“Se sofremos penas e desgostos, Ele nos alivia e consola. Se caímos doentes, será o nosso remédio ou então dar-nos-á forças para sofrer, a fim de merecermos ir para o Céu. Se o demônio ou as paixões nos atacam, dar-nos-á armas para lutar, para resistir e para alcançar vitória. Se somos pobres, enriquecer-nos-á com toda a sorte de bens no tempo e na eternidade”6.
Não deixemos de acompanhar o Senhor presente nos nossos Sacrários. Esses poucos minutos de uma breve visita que lhe façamos serão os momentos mais bem aproveitados do nosso dia. “E o que faremos, perguntais algumas vezes, diante de Jesus Sacramentado? Amá-lo, louvá-lo, agradecer-lhe e pedir-lhe. O que faz um pobre na presença de um rico? O que faz o doente diante do médico? O que faz o sedento diante de uma fonte cristalina?”7
II. A CONFIANÇA de que venceremos todas as provas, perigos e padecimentos não se baseia nas nossas forças, sempre escassas, mas na proteção de Deus, que nos amou desde toda a eternidade e não hesitou em entregar o seu Filho à morte para nossa salvação.
O próprio Jesus quis permanecer junto de nós, no Sacrário mais próximo, para nos ajudar, para curar as nossas feridas e dar-nos novos ânimos nesse caminho que há de desembocar no Céu. Basta que nos aproximemos dEle, pois está sempre à nossa espera.
Nada do que nos venha a acontecer poderá separar-nos de Deus, como nos ensina São Paulo numa das Leituras da Missa8, pois se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou nem o seu próprio Filho, mas por nós todos o entregou à morte, como não nos dará também com ele todas as coisas?… Quem nos separará, pois, do amor de Cristo? A tributação?, a angústia?, a fome?, a nudez?, o perigo?, a perseguição?, a espada? Nada nos poderá separar dEle, se nós não nos afastarmos.
“Revestidos da graça, passaremos através das montanhas (cfr. SI 103, 10) e subiremos a encosta do cumprimento do dever cristão, sem nos determos. Utilizando estes recursos, com boa vontade, suplicando ao Senhor que nos outorgue uma esperança cada vez maior, possuiremos a alegria contagiosa dos que se sabem filhos de Deus: Se Deus está conosco, quem nos poderá derrotar? (Rom 8, 31)”9.
Ainda que o Senhor permita tentações muito fortes ou as dificuldades familiares cresçam, e sobrevenha a doença ou se tome mais íngreme a encosta…, nenhuma prova por si mesma é suficientemente forte para nos separar de Jesus. Com uma visita ao Sacrário mais próximo, com uma oração bem feita, encontraremos a mão poderosa de Deus e poderemos dizer: Omnia possum in eo qui me confortai10, tudo posso nAquele que me conforta. Porque eu estou certo – continua São Paulo na primeira Leitura da Missa – de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem as coisas presentes, nem as futuras, nem a força, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Jesus Cristo Nosso Senhor. É um cântico de confiança e de otimismo que hoje podemos fazer nosso.
São João Crisóstomo recorda-nos que “o próprio São Paulo teve que lutar contra numerosos inimigos. Os bárbaros atacavam-no, os seus próprios guardas armavam-lhe ciladas, até os fiéis, às vezes em grande número, se levantaram contra ele e, no entanto, Paulo triunfou de tudo. Não esqueçamos que o cristão fiel às leis do seu Deus vencerá tanto os homens como o próprio Satanás”. Se nos mantivermos sempre perto de Jesus presente na Sagrada Eucaristia, venceremos todas as batalhas, ainda que às vezes pareça que fomos derrotados… O Sacrário será a nossa fortaleza, pois Jesus quis ficar para nos amparar, para nos ajudar em qualquer necessidade. Vinde a Mim…, diz-nos todos os dias.
III. A SERENIDADE que devemos ter não nasce de fecharmos os olhos à realidade ou de pensarmos que não teremos tropeços e dificuldades, mas de olharmos o presente e o futuro com otimismo, porque sabemos que o Senhor quis ficar conosco para nos socorrer.
Quando vivemos nessa persuasão, as próprias dificuldades da vida se convertem num bem, e mesmo nas circunstâncias mais duras não nos sentimos sós. Se nessas ocasiões se agradece tanto a presença de um amigo, como não será a paz que teremos junto do Amigo, no Sacrário mais próximo? Devemos acudir rapidamente à igreja mais próxima, para buscar consolo, paz e as forças necessárias. “Que mais queremos ter ao lado que um Amigo tão bom, que não nos abandonará nos trabalhos e tribulações, como fazem os do mundo?” 12, escreve Santa Teresa de Jesus.
Quando já se podia perceber que ia ser perseguido, São Tomás More foi intimado a comparecer perante o tribunal de Lambeth. No dia marcado, despediu-se dos seus, mas não quis que o acompanhassem ao embarcadouro, como de costume. Iam com ele somente William Roper, marido de sua filha mais velha, Margareth, e alguns criados. Ninguém no barco se atrevia a romper o silêncio. Ao cabo de uns minutos, More sussurrou inopinadamente ao ouvido de Roper: Son Roper, I thank our Lord the field is won: “Meu filho Roper, dou graças a Deus, porque a batalha está ganha”. Mais tarde Roper confessaria não ter entendido naquele momento o significado dessas palavras, mas que veio a fazê-lo depois: compreendeu que o amor de More tinha crescido tanto que lhe dava a certeza de saber que triunfaria de qualquer obstáculo 13. Era a convicção de que, sabendo-se próximo do seu último combate, o Senhor não o abandonaria no momento supremo. Se nos mantivermos perto de Jesus, se formos almas de Eucaristia, o Senhor proteger-nos-á como as aves protegem os seus filhotes, e sempre, ante os maiores obstáculos, poderemos dizer de antemão: A batalha está ganha.
“Sê alma de Eucaristia! – Se o centro dos teus pensamentos e esperanças estiver no Sacrário, filho, que abundantes os frutos de santidade e de apostolado!” 14
Santa Maria, que tantas vezes falou com o Senhor aqui na terra e agora o contempla para sempre no Céu, colocará nos nossos lábios as palavras oportunas se alguma vez não soubermos muito bem o que dizer-lhe. Ela acode sempre prontamente em socorro da nossa inépcia.
(1) Lc 13, 34; (2) Hino Adoro te devote; (3) SI 17, 8; (4) SI 61, 4-5; (5) Is 31, 5; (6) Cura d’Ars, Sermão sobre a Quinta-feira Santa; (7) Santo Afonso Maria de Ligório, Visitas ao Santíssimo Sacramento, I; (8) Rom 8, 31-39; Primeira leitura da Missa da quinta-feira da trigésima semana do Tempo Comum; (9) São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 219; (10) Fil 4, 3; (11) São João Crisóstomo, Homílias sobre a Epístola aos Romanos, 15; (12) Santa Teresa, Vida, 22, 6-7; (13) cfr. São Tomás More, La agonia de Cristo, Rialp, Madrid, 1988, introd., pág. 33; (14) São Josemaria Escrivá, Forja, n. 835.
Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal