O ALIMENTO QUE MATA TODA FOME

Todos nós temos a necessidade biológica de nos alimentar. Por meio do alimento  adquirimos forças para caminhar, trabalhar e cumprir com nossas obrigações. Benditas são as casas onde existe pão para saciar essa necessidade humana! Mas, se sentimos uma fome material, muito mais nossa alma tem fome de Deus, e disso tinha clareza o salmista quando disse: “Pois a alma faminta encheu de bens” (Sl 106,9). É Deus quem verdadeiramente pode matar a fome da alma sedenta, não com qualquer comida, mas com o maná que vem do céu.

Nossos primeiros pais na fé tiveram uma profunda experiência com o maná, ou seja, o alimento milagroso que Deus fazia cair do céu todas as manhãs. A tradição bíblica nos ensina que esta comida foi um alimento especial feito pelo Criador, composto de grãozinhos que eram consumidos ao longo do dia. O povo de Deus tinha sua fome material saciada e, sem entender, os mistérios divinos, apontavam para uma realidade muito maior: Assim como o maná que caía do céu saciava o povo, o Filho de Deus Jesus Cristo desceu do céu e encarnou-se no ventre de uma mulher para saciar as almas com seu corpo.

Jesus mesmo disse ser: “O pão da vida” (Jo 6,48) e, que o pão que Moisés não deu ao povo Ele seria capaz de dar (cf. Jo 6,32). Portanto, com o nascimento de Jesus, o Pai revelou-nos o verdadeiro alimento, único capaz de saciar algo que nenhuma comida poderia. Jesus sacia a nossa fome na Eucaristia. Jesus dá-se a nós por meio das espécies sagradas, do pão e do vinho. Que mistério! Para contemplá-lo devemos tirar nossas sandálias, assim como Moisés tirou as suas diante da sarça que ardia, mas não se consumia (cf. Ex 3,2). Se temos fome, no fundo, é porque Deus quer nos saciar.

Somos a religião do Pão do Céu, acreditamos que o pão e o vinho transubstanciados no altar são para nós motivo de alegria e salvação. Diferente dos outros alimentos que comemos, se transformam no nosso organismo e saem, a Eucaristia quando inserida nos transforma. “Não somos nós que transformamos Jesus Cristo em nós, como fazemos com os outros alimentos que tomamos, mas é Jesus Cristo que nos transforma nele.” (Santo Agostinho). São João Paulo II em sua encíclica sobre a Eucaristia disse que este é o “mistério de fé e, ao mesmo tempo, mistério de luz. Sempre que a Igreja a celebra, os fiéis podem de certo modo reviver a experiência dos dois discípulos de Emaús: ‘Abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-No’ (Lc 24, 31)”.

Assim como o alimento físico revigora nossas forças, a Eucaristia abre os nossos olhos espirituais para ver de um modo novo as situações diárias. Os discípulos de Emaús caminhavam tristes e sem direção depois da morte de Cristo por pensarem que tudo havia acabado. Quando foram por Jesus mesmo surpreendidos, tiveram suas forças revigoradas, seu ânimo recuperado e puderam continuar seu percurso. Do mesmo modo, a Igreja continua a levantar os tristes e curar os enfermos por meio da Eucaristia que é o Cristo vivo. Não existe outra forma de viver a não ser por Cristo.

Deus na sua infinita providência soube atender-nos do modo mais concreto possível, ou seja, sentimos fome e Ele se fez Verdadeiro Alimento, capaz de nos fortalecer; somos fracos e Ele se manifesta como rocha firme; somos limitados e Ele não deixa de lembrar de nós por um minuto. Precisamos crer neste mistério! “Não ponhas em dúvida se é ou não verdade, mas aceita com fé as palavras do Salvador; sendo Ele a Verdade, não mente” (São Cirilo). Se o próprio Jesus disse ser o único capaz de nos saciar, é porque realmente se Dele comermos não mais teremos fome.

Portanto, crer na presença viva de Cristo na Eucaristia é admirável. O grande doutor da Igreja, São Boaventura, nos diz: “Estar Cristo no Sacramento como num sinal, nenhuma dificuldade tem; estar no Sacramento verdadeiramente, como no céu, tem a maior das dificuldades: é, pois, sumamente meritório acreditá-lo”. Tal como Nosso Senhor está no céu, está também na Eucaristia enquanto houver um único pedacinho de pão consagrado. No menor pedaço da hóstia consagrada está o Cristo inteiro. No menor dos santos esconde-se o Cristo por inteiro. Nas contrariedades diárias da vida, quer nos encontrar o Cristo por inteiro. Na doença que pode nos desfigurar, está o Cristo transfigurado por inteiro. Enfim, “Ele se esconde porque quer ser procurado”. (Santo Agostinho).

Comer o pão do Céu não é um ato isolado. O católico se prepara para a Missa não se esquecendo do que nela aconteceu e, vive o seu dia revigorado pela força nela recebida. Como precisamos crescer na fé à Eucaristia e justamente por isso tomar consciência do que é ser membro do Corpo de Cristo. Unidos a Jesus, cabeça do corpo que é a Igreja, estamos também unidos com os irmãos por meio da caridade. “Ao mesmo tempo, na Eucaristia, Jesus faz de nós testemunhas da compaixão de Deus por cada irmão e irmã; nasce assim, à volta do mistério eucarístico, o serviço da caridade para com o próximo, que consiste precisamente no fato de eu amar, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada ou que nem conheço sequer” (Papa Bento XVI). Se queremos amar o próximo e sermos fraternos com Ele, precisamos antes de tudo encontrar forças, sentido e alimento na Santíssima Eucaristia, o centro de nossa fé.