TEMPO COMUM. VIGÉSIMA QUINTA SEMANA. SÁBADO

– Medianeira perante o Mediador.
– Todas as graças nos chegam através de Maria.
– Um clamor contínuo sobe dia e noite até à Mãe do Céu.

I. HÁ UM SÓ DEUS ensina São Paulo – e há um só mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo, homem também, o qual se deu a si mesmo para a redenção de todos 1.

A Virgem Nossa Senhora cooperou de modo singularíssimo na obra da Redenção realizada pelo seu Filho durante toda a sua vida. Em primeiro lugar, o livre consentimento que prestou na Anunciação era necessário para que a Encarnação se realizasse. Era, afirma São Tomás de Aquino 2, como se Deus tivesse esperado a anuência da humanidade pela voz de Maria. Depois, a sua Maternidade divina fez com que estivesse intimamente unida ao mistério da Redenção até à sua consumação na Cruz, onde Ela esteve associada de um modo particular e único à dor e à morte do seu Filho: ali nos recebeu a todos, na pessoa de São João, como filhos seus. Por isso, “a missão maternal de Maria a favor dos homens de modo algum obscurece nem diminui esta mediação única de Cristo, antes demonstra o seu poder” 3. Maria é a Medianeira perante o Mediador, que é seu Filho; trata‑se de “uma mediação em Cristo” 4, que “de modo algum impede, antes favorece a união imediata dos fiéis com Cristo” 5.

Já na terra, Santa Maria exerceu esta mediação maternal ao santificar João Batista no seio de Isabel 6. E em Caná, foi a pedido da Virgem que Jesus realizou o seu primeiro milagre 7; São João aponta os frutos espirituais dessa intervenção: E os seus discípulos creram nele. E quantas outras vezes a Virgem não teria intervindo junto do seu Filho – como todas as mães – para obter graças que os Evangelhos não mencionam!

“Assunta aos céus, [Maria] não abandonou essa missão salvífica, mas pela sua múltipla intercessão continua a granjear‑nos os dons da salvação eterna. Pelo seu amor maternal, cuida dos irmãos do seu Filho, que ainda peregrinam rodeados de perigos e ansiedades, até que sejam conduzidos à pátria bem‑aventurada. Por isso a Santíssima Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora, Socorro, Medianeira” 8.

Pela sua intercessão diante do Filho, Nossa Senhora alcança‑nos e distribui‑nos todas as graças, com súplicas que nunca serão desatendidas. O que é que Jesus pode negar Àquela que o gerou e o trouxe no seu seio durante nove meses, e que esteve sempre com Ele, de Nazaré até à sua morte na Cruz?

O Magistério ensinou‑nos o caminho seguro para alcançarmos tudo aquilo de que precisamos. “Por expressa vontade de Deus – ensina o Papa Leão XIII –, nenhum bem nos é concedido a não ser por Maria; e assim como ninguém pode chegar ao Pai a não ser pelo Filho, assim ninguém pode chegar a Jesus a não ser por Maria” 9.

Não tenhamos reparo algum em dirigir pedidos constantes Àquela a quem se chamou Onipotência suplicante. Ela sempre nos escuta; também agora. Não deixemos de colocar diante do seu olhar benévolo todas as necessidades, talvez pequenas, que nos inquietam no momento presente: conflitos domésticos, apertos econômicos, uma prova, um concurso público, um posto de trabalho de que precisamos… E também aquelas que se referem à alma e que nos devem inquietar mais: a correspondência à vocação de um parente ou de um amigo, a graça para superarmos uma situação difícil, vencermos um defeito ou crescermos numa virtude, para aprendermos a rezar melhor…

Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós… No Céu, muito perto do seu Filho, a Virgem encaminha para Ele a nossa oração, corrige‑a se nalgum ponto era menos reta, e aperfeiçoa‑a.

II. TODAS AS GRAÇAS, grandes e pequenas, nos chegam por Maria. “Ninguém se salva, ó Santíssima, se não é por meio de Ti. Ninguém senão por Ti se livra do mal… Ninguém recebe os dons divinos a não ser pela tua mediação […]. Quem, depois do teu Filho, se interessa como Tu pelo gênero humano? Quem como Tu nos protege sem cessar nas nossas tribulações? Quem nos livra com tanta presteza das tentações que nos assaltam? Quem se esforça tanto como Tu em suplicar pelos pecadores? Quem toma a sua defesa para desculpá‑los nos casos desesperados?… Por esta razão, o aflito refugia‑se em Ti, quem sofreu a injustiça acode a Ti, quem está cheio de males invoca a tua assistência […]. A simples invocação do teu nome afugenta e rechaça o malvado inimigo dos teus servos, e guarda‑os seguros e incólumes. Livras de toda a necessidade e tentação os que te invocam, prevenindo‑os a tempo contra elas” 10.

Nós, os cristãos, dirigimo‑nos à Mãe do Céu para conseguir graças de toda a espécie, tanto temporais como espirituais. Entre estas, pedimos‑lhe a conversão de pessoas afastadas do seu Filho e, para nós, um estado de contínua conversão da alma, uma disposição que nos faz sentir‑nos sempre a caminho, lutando por ser melhores, por tirar os obstáculos que impedem a ação do Espírito Santo na alma.

A sua ajuda é continuamente necessária no apostolado. É Ela quem verdadeiramente muda os corações. Por isso, desde a antigüidade, é chamada “saúde dos enfermos, refúgio dos pecadores, consoladora dos aflitos, rainha dos Apóstolos, dos mártires…” A sua mão, generosa como a de todas as mães, é dispensadora de todo o gênero de graças, e mesmo, “em certo sentido, da graça dos sacramentos; porque Ela no‑los mereceu em união com Nosso Senhor no Calvário, e além disso nos prepara com a sua oração para que nos aproximemos desses sacramentos e os recebamos convenientemente; às vezes, até nos envia o sacerdote sem o qual essa ajuda sacramental não nos seria concedida” 11.

Nas suas mãos pomos hoje todas as nossas preocupações e fazemos o propósito de recorrer a Ela diariamente muitas vezes, nas coisas grandes e nas pequenas, certos de que, a partir deste momento, podemos despreocupar‑nos e estar em paz.

III. NA VIRGEM MARIA refugiam‑se os fiéis que estão rodeados de angústias e de perigos, invocando‑a como Mãe de misericórdia e dispensadora de todas as graças 12. NEla nos refugiamos todos os dias. Na Ave‑Maria pedimos‑lhe muitas vezes: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte…

Esse agora é repetido em todo o mundo por milhares de pessoas de todas as idades e raças, que pedem a graça do momento presente 13; é a graça mais pessoal, que varia com cada um e em cada situação. Ainda que alguma vez, sem o querer, estejamos um pouco distraídos, Nossa Senhora, que nunca o está e conhece as nossas necessidades, roga por nós e alcança‑nos os bens de que necessitamos. Um enorme clamor sobe a cada instante, de dia e de noite, à presença da nossa Mãe do Céu: Rogai por nós, pecadores, agora… Como não nos há de ouvir, como não há de atender a essas súplicas? Unida à Santíssima Trindade como ninguém, conhece perfeitamente as nossas necessidades materiais e espirituais, e como mãe cheia de ternura roga pelos seus filhos.

Podemos estar certos de que, sempre que recorremos a Maria, aproximamo‑nos mais do seu Filho. “Maria é sempre o caminho que conduz a Cristo. Cada encontro com Ela implica necessariamente um encontro com o próprio Cristo. Que outra coisa significa o recurso a Maria senão procurar Cristo, nosso Salvador, entre os seus braços, nEla e por Ela e com Ela?” 14

É esmagador o número de motivos que temos para recorrer confiadamente à Virgem, na certeza absoluta de que seremos ouvidos sempre que lhe recordarmos que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado. Animado eu, pois, de igual confiança, a Vós, Virgem das virgens, como a Mãe recorro […]. Não desprezeis minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus… 15

Neste próximo mês de outubro, o mês da Virgem do Rosário, recorreremos a Ela rezando com mais atenção o terço, como pede a Igreja e os Papas nos lembram constantemente. É a oração preferida da Virgem 16, e aquela que nos sai de dentro pela nossa condição de pecadores sempre necessitados de perdão:

“«Virgem Imaculada, bem sei que sou um pobre miserável, que não faço mais do que aumentar todos os dias o número dos meus pecados…» Disseste‑me o outro dia que falavas assim com a Nossa Mãe.

“E aconselhei‑te, com plena segurança, que rezasses o terço: bendita monotonia de ave‑marias, que purifica a monotonia dos teus pecados!” 17

(1) 1 Tim 2, 5‑6; (2) São Tomás de Aquino, Suma teológica, III, q. 30, a. 1; (3) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 60; (4) João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater,25.03.87, 38; (5) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium; (6) cfr. Lc 1, 14; (7) cfr. Jo 2, 1 e segs.; (8) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 62; (9) Leão XIII, Carta Encíclica Octobri mense, 22‑IX‑1891; (10) São Germano de Constantinopla, Homilia em Sanctae Mariae Zonam; (11) Réginald Garrigou‑Lagrange, Las tres edades de la vida interior, Palabra, Madrid, 1982, vol. I, pág. 144; (12) Missal Romano, Missa da Virgem Maria, Mãe e Medianeira da graça, Prefácio; (13) cfr. Réginald Garrigou‑Lagrange, Las tres edades de la vida interior, vol. I, pág. 144; (14) Paulo VI, Carta Encíclica Mense maio, 29‑IV‑1965; (15) Oração Lembrai‑vos; (16) cfr. Paulo VI, Carta Encíclica Mense maio; (17) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 475.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal