SANTA MARIA, MÃE DE DEUS. 1º DE JANEIRO

– Santa Maria, Mãe de Deus.
– Mãe nossa. Ajudas que nos presta.
– A devoção à Virgem Maria leva-nos a Cristo. Começar o novo ano junto dEla.

I. NÃO SÃO POUCAS as vezes em que contemplamos Maria com o Menino nos braços, pois a piedade cristã plasmou de mil formas diferentes a festa que celebramos hoje: a Maternidade de Maria, o fato central que ilumina toda a vida da Virgem e é o fundamento dos outros privilégios com que Deus quis adorná-la. Louvamos hoje e damos graças a Deus Pai porque Maria concebeu o seu Filho Único à sombra do Espírito Santo e, permanecendo virgem, deu ao mundo a luz eterna, Jesus Cristo, Senhor nosso1. E cantamos em nosso coração:Salve, ó Santa Mãe de Deus2, pois realmente a Mãe deu à luz o Rei cujo nome é eterno; aquela que o gerou tem ao mesmo tempo a alegria da maternidade e a glória da virgindade3.

Santa Maria é a Senhora, cheia de graça e de virtudes, concebida sem pecado, que é Mãe de Deus e Mãe nossa, e está nos céus em corpo e alma. A Sagrada Escritura fala-nos dEla como a mais excelsa de todas as criaturas, a bendita, a mais louvada entre as mulheres, acheia de graça4, Aquela que todas as gerações chamarão bem aventurada5.

A Igreja ensina-nos que Maria ocupa, depois de Cristo, o lugar mais alto e o mais próximo de nós, em função da sua maternidade divina. Ela, “pela graça de Deus, depois do seu Filho, foi exaltada sobre todos os anjos e todos os homens”6Por ti, ó Virgem Maria, chegaram ao seu cumprimento os oráculos dos profetas que anunciavam Cristo: sendo Virgem, concebeste o Filho de Deus, e permanecendo virgem, geraste-o7.

Diz-nos a primeira leitura da Missa de hoje que, ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei…8 Jesus não apareceu de repente na terra vindo do céu, mas fez-se realmente homem, como nós, tomando a nossa natureza humana nas entranhas puríssimas da Virgem Maria. Enquanto Deus, é eternamente gerado, não feito, por Deus Pai. Enquanto homem, nasceu, “foi feito”, de Santa Maria. “Muito me admira – diz por isso São Cirilo – que haja alguém que tenha alguma dúvida de que a Santíssima Virgem deva ser chamada Mãe de Deus. Se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que a Santíssima Virgem, que o deu à luz, não há de ser chamada Mãe de Deus? Esta é a fé que os discípulos do Senhor nos transmitiram, ainda que não tenham empregado essa expressão. Assim nos ensinaram também os Santos Padres”9. Assim o definiu o Concílio de Éfeso10.

“Todas as festas de Nossa Senhora são grandes, porque constituem ocasiões que a Igreja nos oferece para demonstrarmos com fatos o nosso amor a Santa Maria. Mas, se dentre essas festividades tivesse que escolher uma, escolheria a de hoje: a da Maternidade divina da Santíssima Virgem.

“Quando a Virgem respondeu livremente sim àqueles desígnios que o Criador lhe revelava, o Verbo divino assumiu a natureza humana: a alma racional e o corpo formado no seio puríssimo de Maria. A natureza divina e a natureza humana uniam-se numa única Pessoa: Jesus Cristo, verdadeiro Deus e, desde então, verdadeiro Homem; Unigênito eterno do Pai e, a partir daquele momento, como Homem, filho verdadeiro de Maria. Por isso Nossa Senhora é Mãe do Verbo encarnado, da segunda Pessoa da Santíssima Trindade que uniu a si para sempre – sem confusão – a natureza humana. Podemos dizer bem alto à Virgem Santa, como o melhor dos louvores, estas palavras que expressam a sua mais alta dignidade: Mãe de Deus”11.

Será muito grato a Nossa Senhora que no dia de hoje lhe repitamos, como jaculatória, as palavras da Ave-Maria: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós.

II. “MINHA MÃE SANTÍSSIMA” é um título que damos freqüentemente à Virgem e que nos é particularmente querido e consolador. Ela é verdadeiramente nossa Mãe, porque nos gera continuamente para a vida sobrenatural.

“Concebendo Cristo, gerando-o, alimentando-o, apresentando-o ao Pai no templo, padecendo com seu Filho quando morria na Cruz, cooperou de forma inteiramente ímpar com a obra do Salvador mediante a obediência, a fé, a esperança e a ardente caridade, a fim de restaurar a vida sobrenatural das almas. Por isso Ela é nossa Mãe na ordem da graça”12.

Esta maternidade de Maria “perdura sem cessar… até a consumação perpétua de todos os eleitos. Pois, assunta aos céus, não deixou essa missão salvadora; antes, com a sua múltipla intercessão, continua obtendo-nos os dons da salvação eterna. Com o seu amor materno, cuida dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam e se acham em perigo e ansiedade até que sejam conduzidos à pátria bem-aventurada”13.

Jesus deu-nos Maria como Mãe nossa no momento em que, pregado na Cruz, dirigiu a sua Mãe estas palavras: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua mãe14. “Assim, de um modo novo, legou a sua própria Mãe ao homem […]. Legou-a a todos os homens […]. Desde aquele dia, toda a Igreja a tem por Mãe; e todos os homens a têm por Mãe. Todos entendemos como dirigidas a cada um de nós as palavras pronunciadas na Cruz”15.

Jesus olha-nos a cada um: Eis aí a tua mãe, diz-nos. João acolheu-a com carinho e cuidou dEla com extrema delicadeza, introduziu-a em sua casa, na sua vida. “Os autores espirituais viram nessas palavras do Santo Evangelho um convite dirigido a todos os cristãos para que todos soubessem também introduzir Maria em suas vidas. Em certo sentido, é um esclarecimento quase supérfluo, porque Maria quer sem dúvida que a invoquemos, que nos aproximemos dEla com confiança, que recorramos à sua maternidade, pedindo-lhe que se manifeste como nossa Mãe (Monstra te esse Matrem. Hino litúrgico Ave maris stella)”16. Quando Cristo dá a sua Mãe por Mãe nossa, manifesta o amor aos seus até o fim17. Quando a Virgem Maria aceita o Apóstolo João como seu filho, mostra o seu amor de Mãe para com todos os homens.

Ela influiu de uma maneira decisiva na nossa vida. Cada um tem a sua própria experiência. Olhando para trás, percebemos como interveio em nossa ajuda nos momentos de dificuldade, como se empenhou em levar-nos para a frente; descobrimos o empurrão com que nos fez recomeçar definitivamente.

“Quando me ponho a considerar todas as graças que recebi de Maria Santíssima, parece-me que sou um desses santuários marianos cujas paredes estão recobertas de ex-votos em que se lê somente esta inscrição: «Por graça recebida de Maria». Assim parece que estou eu escrito por todos os lados: «Por graça recebida de Maria». Todos os bons pensamentos, todas as boas vontades, todos os bons sentimentos do meu coração: «Por graça de Maria»”18.

Poderíamos perguntar-nos nesta festa de Nossa Senhora se temos sabido acolhê-la como São João19, se lhe dizemos muitas vezes: Monstra te esse matrem! Mostra que és Mãe!, manifestando com as nossas boas obras que também desejamos ser bons filhos seus.

III. A VIRGEM CUMPRE a sua missão de Mãe dos homens intercedendo continuamente por eles junto de seu Filho. A Igreja dá-lhe os títulos de “Advogada, Auxiliadora, Socorro e Medianeira”20, e Ela, com amor maternal, encarrega-se de alcançar-nos graças ordinárias e extraordinárias, e aumenta a nossa união com Cristo. Mais ainda, “dado que Maria deve ser justamente considerada como o caminho pelo qual somos conduzidos a Cristo, a pessoa que encontra Maria não pode deixar igualmente de encontrar Cristo”21.

A devoção filial por Maria é, portanto, parte integrante da vocação cristã. Não deve haver momento algum em que não recorramos como que instintivamente Àquela que “consola o nosso temor, aviva a nossa fé, fortalece a nossa esperança, dissipa os nossos temores e anima a nossa pusilanimidade”22.

É fácil chegar a Deus através de sua Mãe. Todo o povo cristão, sem dúvida por inspiração do Espírito Santo, teve sempre essa certeza divina. Os cristãos sempre viram em Maria um atalho – uma vereda por onde se encurta o caminho – para chegar ao Senhor.

Com esta solenidade de Nossa Senhora começamos um novo ano. Na realidade, não pode haver melhor maneira de começar o ano – e de viver todos os dias da nossa vida – do que estando muito perto da Virgem. A Ela nos dirigimos com confiança filial, para que nos ajude a viver santamente cada um dos dias deste novo período que o Senhor nos concede; para que nos anime a recomeçar se caímos e perdemos o caminho; para que interceda diante do seu divino Filho, a fim de que nos renovemos interiormente. Em suas mãos colocamos os desejos de identificar-nos com Cristo, de santificar a profissão, de ser fiéis evangelizadores. Repetiremos com mais força o seu nome quando as dificuldades aumentarem. E Ela, que sempre está atenta aos seus filhos, quando ouvir o seu nome nos nossos lábios, virá prontamente em nosso auxílio. Não nos deixará cair no erro ou no desvario.

No dia de hoje, quando contemplarmos alguma imagem da Virgem, poderemos dizer, ao menos mentalmente, sem palavras: Minha Mãe! E sentiremos que Ela nos acolhe e nos anima a começar este novo ano com a confiança de quem se sabe bem protegido e ajudado do Céu.

(1) Missal Romano, Prefácio da Maternidade de Nossa Senhora; (2) Antífona de entrada da Missa do dia 1º de janeiro; (3) Antífona 3 de Laudes; (4) Lc 1, 28; (5) Lc 1, 48; (6) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 63; (7) Antífona Magnificatde 27 de dezembro; (8) Gál 4, 4; (9) São Cirilo de Alexandria, Carta 1, 27-30; (10) Denziger-Schoenberg, 252; (11) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 274; (12) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 61; (13) ibid., 62; (14) Jo 19, 26-27; (15) João Paulo II, Audiência geral, 10-I-1979; (16) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 140; (17) cfr. Jo 13, 1; (18) Masserano,Vita di San Leonardo da Porto Maurizzio, II, 4; (19) cfr. Jo 19, 27; (20) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 62; (21) Paulo VI, Encíclica Mense Maio, 29-IV-1965; (22) São Bernardo, Homilia na Natividade da Bem-aventurada Virgem Maria, 7.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal