TEMPO COMUM. VIGÉSIMA SEGUNDA SEMANA. QUARTA‑FEIRA

– Ajudar a todos, tratar a cada um como Cristo o teria feito no nosso lugar.
– Pacientes e constantes no apostolado.
– Difundir por toda a parte a doutrina de Cristo.

I. RELATA‑NOS O EVANGELHO da Missaque, tendo‑se posto o sol, começaram a trazer à presença de Cristo numerosos doentes para que os curasse. É bem possível que aquele dia fosse um sábado, pois ao cair do sol o descanso sabático, tão escrupulosamente observado pelos fariseus, já não obrigava. Os doentes eram muito numerosos. São Marcos2frisa que toda a cidade se tinha reunido diante da porta. São Lucas, por sua vez, acrescenta um detalhe singular ao dizer‑nos que o Senhor os curou impondo as mãos sobre cada um– singulis manus imponens –.  Repara atentamente nos doentes e dedica a cada um toda a sua atenção, porque qualquer pessoa é única para Ele.

Comentando esta passagem do Evangelho, Santo Ambrósio diz que “desde o começo da Igreja Jesus já buscava a multidão. E por quê? Porque […], para curar, não há tempo nem lugar determinados. Em todos os lugares e tempos se há de aplicar o remédio”3. Ao mostrar‑nos a infatigável atividade de Cristo, o Evangelho ensina‑nos qual o caminho que devemos seguir com os que vivem afastados da fé, com tantas e tantas almas que ainda não se aproximaram dEle para serem curadas.

“Nenhum filho da Igreja Santa pode viver tranqüilo sem experimentar inquietação perante as massas despersonalizadas: rebanho, manada, vara, escrevi certa vez. Quantas paixões nobres não existem na sua aparente indiferença! Quantas possibilidades!

“É necessário servir a todos, impor as mãos sobre cada um – «singulis manus imponens», como fazia Jesus –, para devolvê‑los à vida, para iluminar as suas inteligências e robustecer as suas vontades, para que sejam úteis!”4

Devemos servir a todos, tratá‑los como Cristo os trataria no nosso lugar, com o mesmo apreço, com o mesmo respeito, a cada um individualmente, tendo em conta as suas circunstâncias peculiares, o seu modo de ser, a situação em que se encontram, sem aplicar a todos a mesma receita. São pessoas que vêm ao nosso encontro por motivos profissionais, de vizinhança, de interesse, ou por termos gostos comuns. E outras que vamos buscar lá onde se encontram para levá‑las até Deus, “como o médico busca o doente. Com a salvação de uma só alma por mediação de outro, pode obter‑se o perdão de muitos pecados”5.

Aprendamos neste tempo de oração a ter pelo nosso próximo o mesmo interesse que tinham os que se reuniam à porta da casa onde Jesus se encontrava, levando‑lhe os doentes para que os curasse. Vejamos junto dEle se os tratamos com a mesma solicitude – singulis manus imponens – com que Jesus os atendia.

II. O SENHOR ESPERA os nossos amigos, os nossos colegas de estudo ou de trabalho, os nossos filhos ou irmãos… como fazia quando estava na terra: um a um. Devemos ter em conta as circunstâncias peculiares, a idade, a saúde, etc. de cada um deles. Devemos saber avaliar cada um pelo preço infinito do Sangue redentor com que foram resgatados.

Ao acompanhá‑los até Jesus, chocaremos com resistências, talvez durante muito tempo; são conseqüência da dificuldade dos homens em secundar o querer de Deus, dadas as seqüelas que o pecado original deixou na alma, e que se agravaram depois pelos pecados pessoais. Noutros casos, essa passividade será conseqüência da ignorância ou do erro em que estão. Seja como for, temos a grata obrigação de rezar e oferecer mortificações, horas de trabalho ou de estudo por eles, de intensificar a amizade…, tanto mais quanto maior for a resistência que opuserem.

Todo o apostolado exige uma atitude paciente, que nunca é desleixo ou indolência, mas parte da virtude da fortaleza. A paciência implica uma perseverança tenaz em conseguir os frutos desejados. Muitas vezes será necessário caminhar pouco a pouco, “como que por um plano inclinado”, sem nunca desanimar por nos parecer que os nossos amigos não avançam ou retrocedem. O Senhor já conta com essas situações e dá as graças oportunas. Ele já impôs as mãos sobre cada um desde o momento em que decidimos junto do Sacrário levá‑los até Ele.

Nos casos difíceis e lentos, é salutar recordarmos a paciência que Deus teve conosco, considerar quanto nos perdoou, quantas vezes o fizemos esperar.

Que esperas as do nosso Deus! Quantas vezes teve de bater à porta da nossa alma! Se nos tivesse abandonado quando não respondemos à sua primeira chamada, ou à segunda, ou à sétima…, que longe dEle estaríamos agora!

O nosso empenho nunca será estéril, porque o apostolado perseverante nos leva pessoalmente a amar mais a Deus, e porque é sempre eficaz, mais cedo ou mais tarde.

Alguns chegarão à presença do Senhor depois de uns dias de contacto, outros depois de não poucos anos. Uns, na primeira conversa; outros, depois de uma longa espera. Uns poderão correr desde o princípio, outros mal terão forças para dar um pequeno passo. Devemos tratar cada um de acordo com a sua situação humana e sobrenatural, sem nos cansarmos, sem fórmulas gerais. O médico não utiliza a mesma receita para todos, nem o alfaiate o mesmo corte ou o mesmo modelo. Perseverai pois com paciência, irmãos – aconselha o Apóstolo São Tiago –, até à vinda do Senhor. Vede como o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando com paciência até receber a chuva temporã e a serôdia. Aguardai também vós com paciência e fortalecei os vossos corações6.

Com prudência sobrenatural, e portanto sem falsas prudências humanas, sem adiamentos nem receios covardes, insistiremos com os nossos amigos, parentes e colegas, usando ao mesmo tempo de uma grande caridade e compreensão. Se os inimigos de Deus porfiam tanto em afastá‑los dEle, como não havemos nós de ser perseverantes, nós que só queremos fazer‑lhes bem? Senhor, tu sabes que só queremos o melhor para eles!

III. HOJE SÃO MUITOS os que nada sabem de Cristo. E o Senhor põe em nosso coração a urgência de combater tanta ignorância, difundindo por toda a parte a boa doutrina, com iniciativas e por meios bem diversos. “Esta missão – recorda‑nos o Papa João Paulo II – não é exclusiva dos ministros sagrados ou do mundo religioso, mas deve abarcar o âmbito dos leigos, da família, da escola. Todo o cristão deve participar da tarefa de formação cristã. Deve sentir a urgência de evangelizar, que não é glória para mim, mas necessidade (1 Cor 9, 16)”7. Só se olharmos para Cristo, porém, só se o amarmos, é que venceremos a preguiça e o comodismo, e sairemos da torre de marfim que cada um tende a construir à sua volta.

Naquela tarde, foram muitos os que receberam a cura e uma palavra de alento, um gesto de compreensão por parte do Mestre: Posto o sol, todos quantos tinham enfermos de várias moléstias lhos traziam, e Ele, impondo as mãos a cada um, curava‑os. Que alegria para os doentes… e para os que os tinham aproximado de Jesus!

O apostolado, com toda a carga de sacrifício que traz consigo, é ao mesmo tempo uma tarefa imensamente alegre. Que grande missão não é levar os amigos até Jesus para que Ele lhes imponha as mãos e os cure!

Ajudar‑nos‑á a fazer um apostolado incessante a consideração de que o bem que realizamos tem sempre um efeito multiplicador. Os que viram naquela tarde que Cristo se detinha junto deles e lhes impunha as mãos divinas perceberam que as suas vidas já não podiam ser como antes. Converteram‑se em novos apóstolos, que iriam difundindo por toda a parte a boa nova de que existia o Caminho, a Verdade e a Vida, e de que eles o tinham conhecido. Foram‑no apregoando por todos os lugares aonde iam. Isso é o que nós devemos fazer: “És, entre os teus, alma de apóstolo, a pedra caída no lago. – Provoca, com o teu exemplo e com a tua palavra, um primeiro círculo…; e este, outro… e outro, e outro… Cada vez mais largo. “Compreendes agora a grandeza da tua missão?”8

(1) Lc 4, 38‑44; (2) cfr. Mc 1, 33; (3) Santo Ambrósio, Tratado sobre a virgindade, 8, 10; (4) Josemaría Escrivá, Forja, n. 901; (5) São João Crisóstomo, em Catena Aurea, vol. V, pág. 238; (6) Ti 5, 7‑8; (7) João Paulo II, Discurso em Granada, 15‑XI‑1982; cfr. Exort. Apost. Christifideles laici, 30‑XII‑1988, n. 33; (8) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 831.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal