– Os templos, símbolo da presença de Deus entre os homens.
– Jesus Cristo está realmente presente nas nossas igrejas.
– A graça divina faz-nos templos vivos de Deus.
Esta Basílica é um dos primeiros templos que os cristãos puderam erguer depois da época das perseguições. Foi consagrada pelo Papa Silvestre no dia 9 de novembro de 324. A festa, que a princípio era celebrada apenas em Roma, passou a ser festa universal no rito romano, em honra dessa igreja chamada “Mãe e Cabeça de todas as igrejas de Roma e de todo o mundo” (Urbis et orbis), como sinal de amor e de unidade para com a Cátedra de São Pedro. A história desta Basílica evoca a chegada à fé de milhares de pessoas que ali receberam o Batismo.
I. OS JUDEUS CELEBRAVAM todos os anos a festa da Dedicação1 em memória da purificação e do restabelecimento do culto no Templo de Jerusalém, depois da vitória de Judas Macabeu sobre o rei Antíoco2. O aniversário era celebrado na Judéia durante uma semana. Chamava-se também Festa das luzes, porque era costume acender lâmpadas, símbolo da Lei, e colocá-las nas janelas das casas, em número crescente à medida que passavam os dias da festa3.
Esta celebração foi perfilhada pela Igreja para celebrar o aniversário em que os templos foram convertidos em lugares destinados ao culto. De modo particular, “todos os anos celebra-se no conjunto do rito romano a dedicação da Basílica de Latrão, a mais antiga e a primeira em dignidade das igrejas do Ocidente”. Além disso, “em cada diocese celebra-se a dedicação da catedral, e cada igreja comemora a data da sua dedicação”4.
A festa de hoje tem uma especial importância, pois a Basílica de Latrão foi a primeira igreja sob a invocação do Salvador, levantada em Roma pelo imperador Constantino. A festa é celebrada em toda a Igreja como sinal de unidade com o Papa.
O templo sempre foi considerado entre os judeus como lugar de uma particular presença de Deus. No deserto, Deus manifestava-se na Tenda do encontro, onde Moisés falava com o Senhor como se fala com um amigo; nesses instantes, a coluna de nuvem – sinal da presença divina – descia e detinha-se à entrada da Tenda5. Era o lugar onde estará presente o meu Nome, o Ser infinito e inefável, para escutar e atender os seus fiéis. Quando Salomão construiu o Templo de Jerusalém, pronunciou estas palavras na festa da sua dedicação: É possível que Deus habite verdadeiramente sobre a terra? Porque se o céu e os céus dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei! Mas atende, Senhor meu Deus, à oração do teu servo e às suas súplicas; ouve o hino e a oração que o teu servo faz hoje na tua presença, para que os teus olhos estejam abertos noite e dia sobre esta casa, da qual disseste: “O meu nome estará nela”, para que ouças a oração do teu servo e a do teu povo, Israel, em tudo o que te pedirem neste lugar; sim, tu a ouvirás do lugar da tua morada no céu…6
O templo, ensina o Papa João Paulo II, “é casa de Deus e vossa casa. Apreciai-o, pois, como lugar de encontro com o Pai comum”7. A igreja-edifício representa e significa a Igreja-assembléia, formada pelas pedras vivas que são os cristãos, consagrados a Deus pelo Batismo8. “O lugar onde a comunidade cristã se reúne para escutar a palavra de Deus, elevar preces de intercessão e de louvor a Deus e, principalmente, para celebrar os sagrados mistérios, e onde se reserva o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, é imagem peculiar da Igreja, templo de Deus, edificado com pedras vivas; e o altar, que o povo santo rodeia para participar do sacrifício do Senhor e alimentar-se do banquete celeste, também é sinal de Cristo, sacerdote, hóstia e altar do seu próprio sacrifício”9.
Temos, pois, de ir à igreja com toda a reverência, já que não há nada mais respeitável do que a casa do Senhor: “Que respeito devem inspirar-nos as nossas igrejas, onde se oferece o sacrifício do Céu e da terra, o Sangue de um Deus feito Homem?”10
II. AS IGREJAS são o lugar de reunião dos membros do novo Povo de Deus, que se congregam para rezar juntos. Mas são sobretudo o lugar em que encontramos Jesus, real e substancialmente presente na Sagrada Eucaristia; está presente com a sua Divindade e com a sua Santíssima Humanidade, com o seu Corpo e a sua Alma. Ali nos vê e nos ouve, e nos socorre como socorria aqueles que chegavam, necessitados, de todas as cidades e aldeias11.
Podemos manifestar a Jesus presente no Sacrário todos os nossos anelos e preocupações, as nossas dificuldades e fraquezas, os nossos desejos de amá-lo cada dia mais. O mundo seria muito diferente se Jesus não tivesse ficado entre nós. Como não havemos de amar os nossos templos e oratórios, onde Jesus nos espera? Quantas alegrias não teremos recebido junto do Sacrário! Quantas penas que nos atormentavam não teremos deixado ali! Em quantas ocasiões não teremos voltado à azáfama da vida diária fortalecidos e cheios de esperança, depois de passarmos por uma igreja! Todos os dias, nesses lugares dedicados ao culto e à oração, descem sobre nós incontáveis graças da misericórdia divina.
Quando uma pessoa ilustre se hospeda numa casa, seria uma falta de cortesia não atendê-la bem ou fazer caso omisso dela. Somos sempre conscientes de que Jesus é nosso Hóspede aqui na terra, de que necessita das nossas atenções? Examinemos hoje se, ao entrarmos numa igreja, nos dirigimos imediatamente a Jesus no Sacrário, se nos comportamos com a consciência de estarmos num lugar onde Deus habita de modo particular, se as nossas genuflexões diante de Jesus Sacramentado são um verdadeiro ato de fé, se nos alegramos sempre que passamos por uma igreja, onde Cristo se encontra realmente presente. “Não te alegras quando descobres no teu caminho habitual, pelas ruas da cidade, outro Sacrário?”12 E continuamos os nossos afazeres com mais alegria e paz.
III. NA NOVA ALIANÇA, o verdadeiro templo já não é produto de mãos humanas: o Templo de Deus por excelência é a santa Humanidade de Jesus. Ele mesmo tinha dito: Destruí este templo, e eu o reedificarei em três dias. E o Evangelista explica: Ele falava do templo do seu corpo13.
E se o Corpo físico de Jesus é o novo Templo de Deus, também o é a Igreja, Corpo Místico de Cristo, em que Cristo é a pedra angular sobre a qual se apóia a nova construção. “Desprezado, rejeitado, abandonado, dado por morto – então como agora –, o Pai o constituiu e sempre o constitui como base sólida e inamovível da nova construção. E fá-lo pela sua ressurreição gloriosa […].
“O novo templo, Corpo de Cristo, espiritual, invisível, está construído por todos e cada um dos batizados sobre a viva pedra angular, Cristo, na medida em que aderem a Ele e nEle crescem até a plenitude de Cristo. Neste templo e por ele, morada de Deus no Espírito, Ele é glorificado, em virtude do sacerdócio santo que oferece sacrifícios espirituais (1 Pe 2, 5), e o seu Reino estabelece-se neste mundo”14. São Paulo recordava-o freqüentemente aos primeiros cristãos: Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?15
Temos de considerar freqüentemente que a Santíssima Trindade “por meio da graça de Deus, habita na alma justa como num templo, de um modo íntimo e singular”16. A meditação desta realidade maravilhosa ajuda-nos a ser mais conscientes da transcendência de vivermos na graça de Deus, e a sentir profundo horror pelo pecado, “que destrói o templo de Deus”, privando a alma da graça e da amizade divinas. Por essa morada de Deus na nossa alma, podemos fruir de uma antecipação do que será a visão beatífica no céu, já que “esta admirável união só na condição e no estado é que se diferencia daquela de que Deus cumula os bem-aventurados, beatificando-os”17.
A presença de Deus na nossa alma convida-nos a procurar um trato mais pessoal e direto com o Senhor, que presencia por dentro, na raiz, todos os nossos pensamentos, palavras e ações.
(1) Jo 10, 22; (2) cfr. 1 Mac 4, 36-59; 2 Mac 1, 1 e segs.; 10, 1-8; (3) cfr. 2 Mac 1, 18; (4) A. G. Martimort, La Iglesia en oración, Herder, 3ª ed., Madrid, 1987, págs. 991-992; (5) Êx 33, 7-11; (6) 1 Rs 8, 27-30; (7) João Paulo II, Homilia em Orcasitas, Madrid, 3-XI-1982; (8) cfr. Ritual da dedicação de igrejas e altares, Apresentação, 26-X-1978; (9) Decreto de aprovação do Ritual citado; (10) Anônimo, La Santa Misa, Rialp, Madrid, 1975, pág. 133; (11) cfr. Mc 6, 32; (12) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 270; (13) Jo 2, 20-21; (14) João Paulo II, op. cit.; (15) 1 Cor 3, 16; (16) Leão XIII, Enc. Divinum illud munus, 9-V-1897, 10; (17) ib., 11.
Fonte: livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal