TEMPO COMUM. VIGÉSIMA SEMANA. QUINTA‑FEIRA

– É o próprio Cristo quem nos convida.
– Preparar bem a Comunhão; fugir da rotina.
 – Amor a Jesus Sacramentado.

I. MUITAS PARÁBOLAS DO EVANGELHO encerram uma chamada insistente de Jesus a todos os homens, a cada um conforme umas circunstâncias determinadas. Hoje, o Senhor fala‑nos de um rei que preparou um banquete para celebrar as núpcias do seu filho, e mandou os seus criados chamar os convidados 1.

A imagem do banquete era familiar ao povo judeu, pois os Profetas tinham anunciado que O Senhor prepararia um banquete extraordinário para todos os povos quando chegasse o Messias: preparará para todos um banquete de manjares deliciosos, um festim de vindima, de carnes gordas e medulosas, de vinhos velhos sem depósito 2. Este banquete significa a plenitude de bens sobrenaturais que a Encarnação e a Redenção nos trariam, bem como o dom inestimável da Sagrada Eucaristia.

Jesus põe de relevo nesta parábola como muitas vezes correspondemos com frieza e indiferença à generosidade de Deus: Ele mandou os seus criados chamar os convidados, mas estes não quiseram comparecer. O Senhor relatou a parábola com pena, pois tinha diante dos olhos as inúmeras desculpas que os homens lhe dariam ao longo dos séculos. Os alimentos preparados com tanto esmero ficam abandonados na mesa do festim e o salão permanece vazio, porque Jesus não coage ninguém.

O rei enviou novamente os seus criados: Dizei aos convidados: Eis que o meu banquete já está preparado, os meus bois e animais cevados já estão mortos, e tudo está pronto; vinde às núpcias. Mas os convidados não fizeram caso nenhum: foram um para os seus campos, outros para os seus negócios. E houve quem não só se recusasse a comparecer, mas se se insurgisse contra o convite, pois alguns lançaram mão dos servos que o rei enviara e, depois de os terem ultrajado, mataram‑nos. Reagiram com violência aos convites do Amor.

Jesus convida‑nos a uma maior intimidade com Ele, a uma maior entrega e confiança. E chama‑nos todos os dias para que compareçamos à mesa que nos preparou.

É Ele quem convida, e quem, além disso, se dá a si próprio como manjar, pois este grande banquete é também figura da Comunhão.

Jesus é o alimento sem o qual não podemos subsistir, é “o remédio para a nossa necessidade cotidiana” 3, fora do qual a nossa alma se debilita e morre. Oculto sob as aparências do pão, espera todos os dias que nos aproximemos dEle para recebê‑lo com amor e agradecimentoO banquete está preparado, diz‑nos a cada um… Mas são muitos os que se ausentam, os que não avaliam suficientemente o supremo bem da Sagrada Eucaristia; deixam de atender ao convite do Senhor por motivos banais.

“Considera – exorta‑nos São João Crisóstomo – que grande honra te foi feita, de que mesa participas. Aquele que os anjos olham com tremor e que não se atrevem a olhar de frente pelo resplendor que irradia, é o mesmo de quem nos alimentamos, com quem nos fundimos e nos tornamos um mesmo corpo e carne” 4.

Os ausentes são numerosos, e por isso o Senhor espera que ao menos nenhum dos seus íntimos falte ao festim. Com uma intensidade que nem sequer podemos imaginar, deseja que estejamos presentes para recebê‑lo com muito amor e alegria. E envia‑nos em busca de outros: Ide às encruzilhadas das ruas e, a quantos encontrardes, convidai‑os para as núpcias. Espera muitos, e envia‑nos para que, mediante um apostolado amável, paciente, eficaz, mostremos a tantos amigos e conhecidos a enorme alegria que é ter encontrado o Senhor. Foi o que provavelmente fizeram conosco: “Ouvi de onde fostes chamados: de um cruzamento de caminhos. E o que éreis então? Coxos e mutilados da alma, que é muito pior do que sê‑lo do corpo” 5. Mas o Senhor teve misericórdia de nós e quis chamar‑nos à sua intimidade.

II. NÃO PODEMOS apresentar-nos diante do Senhor de qualquer maneira. O rei entrou para ver os que estavam à mesa, e reparou num homem que não trazia a veste nupcial. E disse‑lhe: Amigo, como foi que entraste aqui sem a veste nupcial? 6

Trazemos dentro de nós hábitos, atitudes, erros e facetas do nosso caráter que talvez não estejam à altura da subida honra que Jesus nos faz. Temos de examinar‑nos; não nos apresentemos diante do Senhor vestidos de farrapos. “Quando na terra se recebem pessoas investidas em autoridade, preparam‑se luzes, música, trajes de gala. Para hospedarmos Cristo na nossa alma, de que maneira não deveremos preparar‑nos? Já nos ocorreu pensar como nos comportaríamos, se só pudéssemos comungar uma vez na vida?” 7 Passaríamos a noite acordados, saberíamos bem o que diríamos ao Senhor, que pedidos lhe faríamos…; todos os preparativos nos pareceriam poucos… Assim devemos recebê‑lo todos os dias.

O convidado que não tinha o traje nupcial certamente foi à festa cheio de alegria, mas não teve em conta tudo o que o convite exigia. Não podemos receber o Senhor de qualquer maneira: sem saber bem o que fazemos, e sobretudo sem estar em graça. A nossa Mãe a Igreja adverte‑nos que “ninguém que tenha consciência de pecado mortal, por muito contrito que pareça estar, deve aproximar‑se da Sagrada Eucaristia sem prévia Confissão sacramental” 8.

Tão alto dom requer ainda que nos preparemos remota e proximamente do melhor modo possível: pela Confissão freqüente, que é um grande meio de preparar a Comunhão freqüente, ainda que não tenhamos faltas graves; pelas obras de penitência, que nos purificam; pelos atos sempre multiplicados de humildade, que amortecem e deslocam o nosso “eu”, e criam espaço para Deus.

Comungar com freqüência nunca deve significar comungar com tibieza. E cai na tibieza quem não se prepara, quem não emprega todos os meios ao seu alcance para evitar que o Senhor o encontre distraído quando vier ao seu coração. Seria uma grande falta de delicadeza aproximar‑se da Comunhão com a imaginação posta em outras coisas. Sabemos que nunca estaremos suficientemente preparados para receber como convém Aquele que desce à nossa alma, pois a nossa pobre morada é limitada; mas precisamente por isso devemos exceder‑nos nesses preparativos de pureza interior que estão ao nosso alcance: “Se qualquer pessoa de alta dignidade ou que ocupa um alto posto, ou algum amigo rico e poderoso anunciasse que vinha visitar‑nos em casa, com que cuidado limparíamos e esconderíamos tudo o que pudesse chocar essa pessoa ou amigo! Comece por lavar as manchas e sujeiras quem realizou más ações, se quer preparar para Deus uma morada na sua alma” 9.

III. PREPARASTE A MESA para mim10 Que alegria pensar que o Senhor nos dá tantas facilidades para o recebermos!

Que alegria saber que Ele deseja que o recebamos! “O encontro eucarístico é um encontro de amor” 11.

E para podermos comungar com amor, sempre com mais amor, é de grande utilidade esforçarmo‑nos por viver na presença de Deus durante o dia, procurando a união com o Senhor no meio dos nossos deveres cotidianos, desagravando‑o sempre que erramos, pondo o coração nEle em cada um dos nossos atos, de tal maneira que o nosso dia seja uma permanente comunhão espiritual.

Ao terminarmos estes minutos de oração, podemos fazer nossa esta oração que uma noite o Papa João Paulo II dirigiu a Jesus presente na Hóstia Santa: “Senhor Jesus! Apresentamo‑nos diante de Ti sabendo que nos chamas e que nos amas tal como somos. Tu tens palavras de vida eterna; e nós acreditamos e conhecemos que Tu és o Cristo, Filho de Deus (Jo 6, 69). A tua presença na Eucaristia começou com o sacrifício da Última Ceia e continua como comunhão e doação de tudo o que és. Aumenta a nossa fé […]. Tu és a nossa esperança, a nossa paz, o nosso Mediador, irmão e amigo. O nosso coração enche‑se de gozo e de esperança ao saber que vives sempre intercedendo por nós (Hebr 7, 25). A nossa esperança traduz‑se em confiança, gozo de Páscoa e caminho contigo para o Pai em marcha acelerada.

“Queremos sentir como Tu sentes, e avaliar as coisas como Tu as avalias. Porque Tu és o centro, o princípio e o fim de tudo. Apoiados nesta esperança, queremos infundir no mundo esta escala de valores evangélicos, pela qual Deus e os seus dons salvíficos ocupam o primeiro lugar no coração e nas atitudes da vida concreta.

Queremos amar como Tu, que dás a vida e te comunicas com tudo o que és. Quereríamos dizer com São Paulo: O meu viver é Cristo (Fil 1, 21). A nossa vida não tem sentido sem Ti. Queremos aprender a «estar com quem sabemos que nos ama», porque «com tão bom amigo presente, tudo se pode sofrer» […].

“Deste‑nos a tua Mãe como Mãe nossa, para que nos ensine a meditar e adorar no coração. Ela, recebendo a Palavra e pondo‑a em prática, tornou‑se a mais perfeita Mãe” 12.

(1) Mt 22, 1‑14; (2) Is 25, 6; (3) Santo Ambrósio, Sobre os sagrados mistérios do altar, 4, 44; (4) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 82, 4; (5) ib.; (6) Mt 22, 11‑12; (7) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 91; (8) Dz 880, 693; (9) São Gregório Magno, Homilia 30 sobre os Evangelhos; (10) Sl 22; Salmo responsorial da Missa da quinta‑feira da vigésima semana do TC; (11) João Paulo II, Alocução, Madrid, 31‑X‑1982; (12) João Paulo II, op. cit.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal