06 de Abril
Beata Pierina Morosini
Pierina Morosini era a mais velha dos nove filhos do casal Roque e Sara Morosini, humildes camponeses de Fiobbio di Albino, Diocese de Bérgamo, ao norte da Itália. Nasceu no dia 7 de janeiro de 1931. À medida que foi crescendo, a sua boa mãe ensinou-lhe as principais verdades da Fé e incutiu-lhe o santo temor de Deus.
Como a mãe recitasse com os filhos as orações da manhã e da noite, e os fizesse repetir os elementos do Catecismo, aos 4 anos Pierina já sabia de memória muitas orações, os Atos de Fé, Esperança, Caridade e Contrição, além dos Mandamentos e das Obras de Misericórdia.
Assim preparada, foi Crismada em 10 de janeiro de 1937 e recebeu a 1ª. Comunhão em 5 de junho de 1938. Desde cedo mostrou aptidões para a vida religiosa, desejando ser missionária franciscana. Aos 16 anos, com licença do confessor, fez voto de castidade e depois acrescentou os votos particulares de pobreza e obediência. Participava com alegria e entusiasmo nas atividades apostólicas da paróquia. Fez parte também da pia associação das Filhas de Maria e da Ordem Terceira Franciscana.
Modesta, prudente, simples e, principalmente, muito pura, Pierina obteve sempre o primeiro prêmio, com distinção, em todas as provas do curso primário que frequentou nas Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus, de Albino. Renunciou, no entanto, prosseguir os estudos, para auxiliar o pai no sustento da numerosa família. A renúncia mais dolorosa, porém, consistiu em retardar a entrada para o convento, pois a invalidez do pai devida a um acidente obrigou-a a tornar-se o arrimo da família.
Aprendeu corte e costura aos 11 anos e aos 13 costurava com perfeição roupas para toda família. Aos 15 anos empregou-se numa fábrica de tecelagem – o Cotonifício Honegger – como ajudante de tecelão. Era muito estimada pelos superiores e respeitada pelos outros operários.
Embora fosse muito inteligente – ou justamente por isto! – Pierina se considerava a última de todos. Era sempre amável no trabalho, sem, contudo, ceder nada em matéria de moral e de costumes. De tal modo era venerada na empresa onde trabalhava, que logo ao terem conhecimento de sua morte suas companheiras dividiram entre si o avental de Pierina, a fim de guardar dela uma relíquia.
Tendo que caminhar cerca de três horas diariamente para ir ao trabalho, Pierina preenchia este tempo rezando o Rosário. Uma parte do trajeto rezava-o com as companheiras de trabalho e o restante, sozinha. Ela incentivava as companheiras a rezarem, embora algumas tivessem respeito humano. “Aqui, no meio de todos dá vergonha!”, dizia uma. Mas ela: “Eu rezo aqui e não penso mais nisso”. “Riem de você, Pierina!”. Era inútil, ela continuava firme.
Além de trabalhar oito horas no Cotonifício, Pierina tinha um outro “turno” em casa. Chegando do trabalho ela costurava ou remendava as roupas dos familiares em sua máquina de costura, cozinhava, limpava, enfim, fazia o que podia para aliviar a pesada carga de sua mãe, que além de cuidar de uma família de 11 pessoas, atendia a algumas crianças cujos pais tinham que trabalhar e ficavam aos seus cuidados. “O tempo é mais precioso do que o ouro!”, repetia frequentemente Pierina.
Seu amor à virtude da pureza levou-a a tomar como protetora Santa Maria Goretti. A única vez que a jovem saiu dos limites da região onde residia foi quando viajou a Roma a fim de assistir à canonização de sua protetora, que ocorreu no dia 27 de abril de 1947.
Uma outra frase escrita à mão por Pierina em seu livro de orações, para ela poder lê-la e meditá-la, deixa transparecer a sua espiritualidade: “A virgindade é um profundo silêncio de todas as coisas da terra”.
Segundo o testemunho de seus conterrâneos, Pierina sempre foi muito recatada. Todos diziam que ela era uma moça diferente das demais. O seu avental de trabalho tinha mangas compridas e ela o mantinha fechado até o pescoço. Quando fazia calor lhe diziam: “Mas, abre um pouco!” Ela sorria, limitando-se a enxugar o suor com um lenço muito limpo. Ela estava sempre limpa e bem penteada. Suas companheiras de trabalho afirmaram que “Pierina possuía muita graça e elegância, de tal modo que não parecia uma pessoa do povo”.
Pierina falava muito pouco, mas o que dizia vinha sempre muito a propósito, de maneira simples e sem rebuscamentos. Um sacerdote que a conheceu testemunhou: “Quando esta jovem fala, diz somente palavras de verdade”.
Pierina conheceu o Padre Luciano em abril de 1946, quando sofreu um acidente na fábrica e precisou se recuperar no Hospital Honegger, de Albino, onde ele era Capelão. Ele era do Convento dos Capuchinhos de Albino e foi o único diretor espiritual de Pierina. Sobre uma página branca de seu livro de orações ela havia escrito uma frase que resume a sua conduta em relação ao diretor espiritual: “A minha vocação: me deixarei conduzir como uma menina de um dia”.
Entre os livros de Pierina foi encontrada uma folha datilografada contendo um “Pequeno regulamento diário” que se acredita ter sido dado a ela pelo Padre Luciano. O texto contém numerosas correções e na parte da folha que restou em branco, Pierina escreveu sete propósitos, no fim dos quais o mesmo Padre Luciano escreveu de próprio punho a palavra “Bom!”.
O “Pequeno regulamento” era uma verdadeira regra de vida. Embora no mundo, Pierina levava uma vida de verdadeira religiosa. Tendo conhecimento da espiritualidade de São Luís Maria Grignion de Montfort, consagrou-se como escrava a Nossa Senhora, segundo o método daquele grande santo, fazendo todas as ações do dia em união com a Virgem Imaculada.
Os sete propósitos revelam bem sua espiritualidade simples e ardente:
“Sou toda Vossa e tudo quanto possuo Vos ofereço, amável Jesus, por meio de Maria Vossa Mãe Santíssima”.
1. Me esforçarei para manter a paz na família; 2. Quando o cansaço me enfraquecer, me mostrarei sempre alegre; 3. Terei sumo respeito por mamãe; a obedecerei e não responderei grosseiramente; 4. Não comerei nenhuma guloseima; 5. Durante o dia procurarei permanecer na presença de Deus, farei comunhões espirituais e rezarei jaculatórias; 6. Não buscarei saber coisas dos outros; 7. Não direi nunca palavra em meu louvor e procurarei estar escondida aos olhos dos homens.
Pierina comungava diariamente, mesmo nos dias mais rigorosos do inverno, levantando-se às quatro horas da madrugada para receber a Jesus Sacramentado.
No dia 4 de abril de 1957, quinta-feira, Pierina saiu da fábrica onde trabalhava, em Cedrina, dirigindo-se a sua casa, em Fiobbio di Albino, distante uma boa hora de caminhada.
Chegando a um trecho mais despovoado da estrada, foi abordada por um jovem que de há muito pretendera, em vão, manter conversa com ela. Pierina acelerou seus passos e rezou mais fervorosamente. O rapaz, no entanto, a alcançou, passando a fazer-lhe propostas indecorosas em tom de ameaça. Pierina procurou correr, mas o rapaz segurou-a. Ela, porém, lutou valentemente contra aquele jovem lúbrico. Desvairado, o rapaz apanhou uma grande pedra e por oito vezes atingiu violentamente o seu crânio. Pierina ainda caminhou vinte passos, mas depois caiu por terra desfalecida.
Em sua casa todos a aguardavam com impaciência. Seu irmão, Santo, pressentindo alguma tragédia, deixou de lado os livros e saiu à procura da irmã. Depois de muito a procurar, encontrou-a caída sob algumas árvores do caminho, a cabeça mergulhada numa poça de sangue, o rosário junto às mãos. Conduzida agonizante a um hospital de Bérgamo, veio a falecer 40 horas depois do crime, no dia 6 de abril de 1957, primeiro sábado do mês.
Em janeiro de 1976, D. Clemente Gaddi, bispo de Bérgamo, anunciou a abertura do processo de beatificação dessa nova mártir da pureza, morta aos vinte e cinco anos de idade. A fama do martírio, que correu por toda parte, foi finalmente confirmada pela Santa Sé a 16 de junho de 1987, depois de rigoroso processo. Pierina foi beatificada no domingo, 4 de outubro de 1987, e é comemorada pela Santa Igreja no dia 6 de abril.