O Sacrifício de Abel
TEMPO COMUM. SEXTA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA
– Deve ser para Deus o melhor da nossa vida: amor, tempo, bens...
– Dignidade e generosidade nos objetos de culto.
– Amor a Jesus no Sacrário.
I. O LIVRO DO GÊNESIS 1 relata que Abel apresentava ao Senhor as primícias e o melhor do seu gado. E foi grata a Deus a oferenda de Abel e não o foi a de Caim, que não oferecia o melhor do que colhia.
Abel foi “justo”, isto é, santo e piedoso. O que tornou mais grata a oferenda de Abel não foi a qualidade objetiva do que oferecia, mas a sua entrega e generosidade. Por isso Deus olhou com agrado para as vítimas por ele sacrificadas e possivelmente – de acordo com uma antiga tradição judaica – enviou fogo do céu para queimá-las em sinal de aceitação 2.
Na nossa vida, o melhor deve ser para Deus. Devemos apresentar-lhe a oferenda de Abel, não a de Caim. Deve ser para Deus o melhor do nosso tempo, dos nossos bens, da nossa vida.
Não podemos dar-lhe o pior, o que sobra, o que não custa sacrifício ou não nos é necessário. Para Deus toda a vida, incluídos os melhores anos. Para o Senhor todos os nossos bens; e, portanto, quando quisermos fazer-lhe uma oferenda concreta, escolheremos o que temos de mais precioso, tal como faríamos com uma criatura da terra que estimamos muito.
O homem não é só corpo nem só alma; está composto de ambos, e por isso necessita também de manifestar através de atos externos, sensíveis, a sua fé e o seu amor a Deus. Dão pena essas pessoas que parecem ter tempo para tudo, mas que dificilmente o têm para Deus: para fazer um pouco de meditação ou uma visita ao Santíssimo que dura uns breves minutos... Ou que dispõem de meios econômicos para tantas coisas e são mesquinhos com Deus e com os homens. O ato de dar sempre dilata o coração e o enobrece. Da mesquinhez acaba por sair uma alma invejosa, como a de Caim: não suportava a generosidade de Abel.
“É preciso oferecer ao Senhor o sacrifício de Abel. Um sacrifício de carne jovem e formosa, o melhor do rebanho: de carne sadia e santa; de corações que só tenham um amor: Tu, meu Deus!; de inteligências trabalhadas pelo estudo profundo, que se renderão perante a tua Sabedoria; de almas infantis, que só pensarão em agradar-Te. – Recebe desde agora, Senhor, este sacrifício em odor de suavidade” 3.
Para Vós, Senhor, o melhor da minha vida, do meu trabalho, dos meus talentos, dos meus bens..., incluídos os que poderia ter tido e aos quais renunciei. Para Vós, meu Deus, sem limites, sem condições, tudo o que me destes na vida... Ensinai-me a não vos negar nada, a oferecer-vos sempre o melhor.
Peçamos ao Senhor que haja muitas oferendas e sacrifícios como o de Abel: homens e mulheres que se entreguem a Deus desde a sua juventude, corações que – em qualquer idade – saibam dar tudo o que lhes é pedido, sem regateios, sem tacanhices... Recebei, Senhor, este sacrifício feito com gosto e alegria!
II. “É BONITO CONSIDERAR que o primeiro testemunho de fé em favor de Deus foi dado já por um filho de Adão e Eva, e por meio de um sacrifício. Explica-se, portanto, que os Padres da Igreja vissem em Abel uma figura de Cristo: porque era pastor, porque ofereceu um sacrifício agradável a Deus, porque derramou o seu sangue, porque foi «mártir da fé»” 4.
Devemos ser generosos e amar tudo o que se refere ao culto de Deus, porque sempre será pouco e insuficiente para o que a infinita excelência e bondade divina merece. Por sermos cristãos, devemos ter neste campo uma delicadeza extrema e evitar a desconsideração e a mesquinhez: Não oferecereis nada defeituoso, pois não seria aceitável 5, alerta-nos o Espírito Santo.
Para Deus o melhor: um culto cheio de generosidade nos elementos sagrados que se utilizam, e cheio de generosidade também no tempo que exige – não mais –, sem pressas, sem abreviar as cerimônias ou a ação de graças privada depois da Santa Missa, por exemplo. O decoro, a qualidade e a beleza dos paramentos litúrgicos e dos vasos sagrados expressam que o melhor que temos é para Deus, são sinal do esplendor da liturgia que a Igreja triunfante tributa à Trindade no Céu, bem como uma poderosa ajuda para reconhecermos a presença divina em nós. A tibieza, a fé mortiça e sem amor tendem a não tratar santamente as coisas santas, a perder de vista a glória, a honra e a majestade que se devem à Santíssima Trindade.
“Estais lembrados daquela cena do Antigo Testamento em que Davi deseja levantar uma casa para a Arca da Aliança, que até então era guardada numa tenda? Naquele tabernáculo, o Senhor fazia notar a sua presença de um modo misterioso, por uma nuvem e por outros fenômenos extraordinários. E tudo isso não era senão uma sombra, uma figura. No entanto, o Senhor encontra-se realmente presente nos tabernáculos em que está reservada a Santíssima Eucaristia. Aqui temos Jesus Cristo – como me enamora fazer um ato explícito de fé! –, com o seu Corpo, o seu Sangue, a sua Alma e a sua Divindade. No tabernáculo, Jesus preside-nos, ama-nos, espera-nos” 6.
Em casa de Simão, o fariseu, onde Jesus sentiu a falta das atenções que era costume ter com os convidados, ficou patente o critério quanto ao dinheiro que se destina às coisas de Deus. Enquanto Jesus se mostra feliz pelas provas de arrependimento daquela mulher, Judas murmura e calcula o gasto – aos seus olhos inútil – que ela fez. Naquela mesma tarde, decidiu traí-lo. Vendeu-o aproximadamente pelo mesmo que custava o perfume derramado: trinta siclos de prata, uns trezentos denários.
“Aquela mulher que, em casa de Simão o leproso, em Betânia, unge com rico perfume a cabeça do Mestre, recorda-nos o dever de sermos magnânimos no culto de Deus.
“– Todo o luxo, majestade e beleza me parecem pouco.
“– E contra os que atacam a riqueza dos vasos sagrados, paramentos e retábulos, ouve-se o louvor de Jesus: «Opus enim bonum operata est in me» – uma boa obra foi a que ela fez comigo” 7.
O Senhor também pode dizer-nos, diante da nossa entrega, diante da generosidade que tenhamos para com Ele de mil modos (tempo, bens...): uma boa obra foi a que fez comigo, manifestou-me o seu amor com obras.
III. QUANDO JESUS NASCE, não dispõe sequer do berço de uma criança pobre. Depois, nos anos de vida pública, não tem por vezes um lugar onde reclinar a cabeça. Por fim, morre despojado até das vestes, na pobreza mais absoluta. Mas quando o seu corpo exânime for descido da Cruz e entregue aos que o amam e o seguem de perto, estes hão de tratá-lo com veneração, respeito e amor.
José de Arimatéia encarrega-se de comprar um lençol novo com que o envolverá, e Nicodemos os aromas necessários: São João, talvez admirado, precisou que foram em grande quantidade – umas cem libras, mais de trinta quilos. Não o enterraram no cemitério comum, mas num horto, numa sepultura nova, provavelmente a que José tinha preparado para si próprio. E as mulheres viram o monumento e como foi depositado o seu corpo. De regresso à cidade, prepararam novos aromas... Quando o Corpo de Jesus ficou nas mãos dos que o amavam, todos porfiaram em ver quem o amava mais.
Nos nossos Sacrários, Jesus está vivo! Como em Belém ou no Calvário! Entrega-se a nós para que o nosso amor cuide dEle e o atenda o melhor que possamos, e isso à custa do nosso tempo, do nosso dinheiro, do nosso esforço: do nosso amor.
Nem sequer sob o pretexto da caridade para com o próximo se pode faltar à caridade com Deus; como não se pode louvar uma generosidade com os pobres, imagens de Deus, se se faz a expensas do decoro no culto ao próprio Deus, e muito menos se está ausente o sacrifício pessoal. Se amamos a Deus, o nosso amor ao próximo crescerá com obras e de verdade.
Não é meramente uma questão de preço, nem são possíveis nesta matéria simples cálculos aritméticos: não se trata de defender a suntuosidade, mas a dignidade e o amor a Deus, que também se expressam materialmente 8. Faria sentido que houvesse meios para construir lugares de diversão e lazer com bons materiais, até luxuosos, e que para o culto divino só se encontrassem lugares, não já pobres, mas miseráveis, frios, vazios? Nesse caso, teria razão o poeta quando diz que a nudez de algumas igrejas é “a manifestação externa dos nossos pecados e defeitos: debilidade, indigência, timidez na fé e nos sentimentos, coração seco, falta de gosto pelo sobrenatural...” 9
A Igreja, velando pela honra de Deus, não rejeita soluções diferentes das de outras épocas, abençoa a pobreza limpa e acolhedora – que maravilhosas igrejas, simples mas muito dignas, há em algumas aldeias de poucos recursos econômicos e de muita fé! –; o que não se concebe é o descuido, o mau gosto, o pouco amor a Deus que representa dedicar ao culto ambientes ou objetos que não se admitiriam no lar da própria família.
Nada mais lógico do que os fiéis contribuírem, de mil maneiras diferentes, para o cuidado e a esmerada conservação de tudo o que se refere ao culto divino. Os sinais litúrgicos e quanto se refere à liturgia entram pelos olhos. Os fiéis devem sair fortalecidos na sua fé, mais alegres, depois de uma cerimônia litúrgica.
Peçamos à Santíssima Virgem que, como Ela, aprendamos a ser generosos com Deus, no grande e no pequeno, na juventude e na maturidade... Que saibamos oferecer, como Abel, o melhor que tenhamos em cada momento e em todas as circunstâncias da nossa vida.
(1) Cfr. Gên 4, 1-5, 25; Primeira leitura da Missa da segunda-feira da sexta semana do TC, ciclo A; (2) Sagrada Bíblia, Epístola aos Hebreus, EUNSA, Pamplona, 1987, nota 11, 4; (3) Josemaría Escrivá, Forja, n. 43; (4) Sagrada Bíblia, Epístola aos Hebreus; (5) Lev 22, 20; (6) A. del Portillo, Homilia, 20-VII-1986; (7) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 527; (8) cfr. Conc. Vat. II, Const. Sacrossanctum Concilium, 124; (9) Paul Claudel, Ausência e presença.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Os sete Fundadores dos Servitas
17 de Fevereiro
Os sete Fundadores dos Servitas
Durante os séculos XII e XIII aconteceu na Europa uma enorme perda dos valores cristãos entre a sociedade civil e entre os religiosos. Em reação contrária surgiram um grande número de confrarias voltadas para a penitência. Através delas os leigos buscavam viver o evangelho, opondo-se à ganância, ao luxo, aos prazeres passageiros e à busca pelo poder. Algumas dessas ordens se tornaram bem conhecidas. Uma delas, porém, espalhou-se por muitos países: a "Ordem dos Servos de Maria", ou Servitas.
Sete jovens faziam parte desse grande grupo inconformado com o mundo de então. Seus nomes: Aleixo Falconieri, Bonfiglio Monardi, Amadio de Amadei, Bonaiuto Manetti, Ugoccio de Ugoccioni, Maneto d'Antela e Sostenio de Sosteni. No dia 15 de agosto do ano 1233 eles estavam reunidos em oração. Costumavam cantar cânticos dedicados à Virgem Maria. Foi então, que, de repente, viram que a imagem de Nossa Senhora se mexeu. Todos ficaram intrigados. Depois disso, eles atravessavam uma ponte voltando para casa, quando a própria Virgem Maria lhes apareceu vestida toda de luto e chorava. Em seguida, contou-lhes a razão de suas lágrimas: a guerra civil que não cessava em Florença, já fazia dezoito anos.
Depois desse encontro com Maria, os setes jovens abandonaram tudo o que tinham, bem como suas famílias. Passaram a se dedicar totalmente à vida de oração e à caridade para com os pobres. O grande objetivo deles era viver a pobreza, a humildade e a caridade. Logo aquele grupo de jovens e nobres ficou famoso pela fraternidade que havia entre eles, pelo espírito de oração e pela caridade eficiente que praticavam. Logo nasceu no coração deles o sonho de formarem uma comunidade religiosa.
O bispo de Florença vinha da vida monástica. Ele via o grupo dos sete jovens com enorme estima. Quando ele ouviu dizer sobre o projeto dos jovens de fundar uma comunidade religiosa, resolveu ajuda-los doando um terreno em monte Senário, que ficava a dezoito quilômetros da cidade.
No monte Senário os sete jovens fundaram a comunidade. No começo, ela se chamava “Companhia de Nossa Senhora das Dores”. Eles passaram a se vestir com um hábito preto, em homenagem a Nossa Senhora de luto que viram na ponte. Passaram a viver reclusos em orações e penitências. Uma vez por semana saíam da reclusão e iam rezar numa pequena capela dedicada a Nossa Senhora, que ficava na estrada de Cafagio, perto da cidade.
O grupo dos sete era visto muitas vezes mendigando pelas ruas da cidade e estradas. Eles pediam ajuda para os pobres, doentes e necessitados. Certo dia, quando distribuíam mantimentos e alimentos aos pobres de uma região, um menino passou e lhes fez uma pergunta: "Vocês são os servos de Maria?". Os sete perceberam naquele momento que este era mais um sinal da Virgem Maria. Então, fundaram a ordem dos Servos de Maria, seguindo as Regras de Santo Agostinho.
A Ordem passou a receber apoio das autoridades religiosas e também das civis. Tempos depois, a capelinha usada pelos sete jovens foi transformada num grandioso santuário. Ele foi dedicado a Nossa Senhora das Dores e se tornou um dos santuários marianos mais visitados do mundo. Seis dos fundadores foram ordenados sacerdotes. Somente Santo Aleixo não o foi, por não se achar digno.
A Ordem dos Servitas cresceu e se espalhou por vários países, inclusive o Brasil, onde eles fundaram casas em São Paulo, Santa Catarina e Acre. Ainda hoje existe uma missão servita em Rio Branco, Acre. Os "Sete Fundadores", como passaram a ser conhecidos, foram canonizados em 1888, através do papa Leão XIII. Eles passaram a ser celebrados no mesmo dia, em 17 de fevereiro. Este é o dia do falecimento do último dos fundadores: Santo Aleixo Falconieri, aquele que se recusara a receber a ordenação sacerdotal, por não se considerar digno desta honra.
Fonte: https://cruzterrasanta.com.br
Firmes na Fé
TEMPO COMUM. SEXTO DOMINGO. ANO A
– O depósito da fé. Um tesouro que é recebido por cada geração das mãos da Igreja.
– Evitar tudo o que atenta contra a virtude da fé.
– Prudência nas leituras.
I. O SENHOR diz no Evangelho da Missa 1 que Ele não veio destruir a antiga Lei, mas dar-lhe a sua plenitude; restaura, aperfeiçoa e eleva a uma ordem superior os preceitos do Antigo Testamento.
A doutrina de Jesus Cristo tem um valor perene para os homens de todos os tempos e é “fonte de toda a verdade salvífica e de toda a norma de conduta” 2. É um tesouro que cada geração recebe das mãos da Igreja, que o guarda fielmente com a assistência do Espírito Santo e o expõe com autoridade. “Ao aderirmos à fé que a Igreja nos propõe, pomo-nos em comunicação direta com os Apóstolos [...]; e através deles com Jesus Cristo, nosso primeiro e único Mestre; vamos à sua escola, anulamos a distância de séculos que nos separa deles” 3. Graças a este Magistério vivo podemos dizer, de certo modo, que o mundo inteiro recebeu a doutrina dos lábios de Cristo e se converteu na Galiléia: toda a terra é Jericó e Cafarnaum, a humanidade está às margens do lago de Genesaré 4.
A conservação fiel das verdades da fé é necessária à salvação dos homens. Que outra verdade pode salvar senão a verdade de Cristo? Que “nova verdade” pode ter interesse – nem que seja a do mais sábio dos homens –, se se afasta do ensinamento do Mestre? Quem se atreverá a interpretar ao seu gosto, mudar ou acomodar a Palavra divina? Por isso o Senhor nos adverte hoje: Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor do reino dos céus.
São Paulo exortava Timóteo com estas palavras: Guarda o depósito que te foi confiado, evitando as vaidades ímpias e as contradições da falsa ciência que alguns professam, extraviando-se da fé5. Com essa expressão – depósito –, a Igreja continua a designar o conjunto de verdades que recebeu do próprio Cristo e que há de conservar até o fim dos tempos.
A verdade da fé “não muda com o tempo, não se desgasta através da história; poderá admitir e mesmo exigir uma vitalidade pedagógica e pastoral própria da linguagem, e assim descrever uma linha de desenvolvimento, mas sempre segundo a conhecidíssima sentença tradicional de São Vicente de Lérins [...]: Quod ubique, quod semper, quod ab omnibus: «Aquilo que em toda a parte, aquilo que sempre, aquilo que por todos» foi crido, isso deve ser preservado como elemento integrante do depósito da fé [...]. Esta fixação dogmática defende o patrimônio autêntico da religião católica. O Credo não muda, não envelhece, não se desfaz” 6. É a coluna firme que não admite concessões, nem sequer em pormenores, ainda que por temperamento se esteja inclinado a transigir: “Aborrece-te ferir, criar divisões, demonstrar intolerâncias..., e vais transigindo em atitudes e pontos – não são graves, garantes! – que trazem conseqüências nefastas para tantos. – Perdoa a minha sinceridade: com esse modo de proceder, cais na intolerância – que tanto te aborrece – mais néscia e prejudicial: a de impedir que a verdade seja proclamada” 7.
II. O CRISTÃO, LIBERTADO de toda a tirania do pecado, sente-se impelido pela nova Lei de Cristo a comportar-se como um filho diante de seu Pai-Deus. As normas morais deixam então de ser meros sinais indicadores dos limites entre o permitido e o proibido, para passarem a ser manifestações do caminho que conduz a Deus, manifestações de amor.
Devemos conhecer bem e proteger cuidadosamente esse conjunto de verdades e preceitos que constituem o depósito da fé, pois é o tesouro que o Senhor nos entrega através da Igreja para que possamos alcançar a nossa salvação. E protegemo-lo especialmente quando fomentamos a piedade pessoal (a oração e os sacramentos), quando nos propomos alcançar uma séria formação doutrinal, adequada a cada um, e também quando somos prudentes nas leituras.
Todos acham razoável que, por exemplo, numa matéria de física ou de biologia, se recomendem determinados textos, se desaconselhe o estudo de outros e se declare inútil ou mesmo prejudicial a leitura desta ou daquela publicação a quem esteja realmente interessado em adquirir uma séria formação científica. Não falta, no entanto, quem se espante de que a Igreja reafirme a sua doutrina sobre a necessidade de se evitarem certas leituras que seriam danosas para a fé ou para a moral, e exerça o seu direito e o seu dever de examinar, julgar e, em casos extremos, reprovar os livros contrários à verdade religiosa8. A raiz desse assombro infundado poderia estar numa certa deformação do sentido da verdade, que admitiria um magistério no campo científico, mas consideraria impossível emitir mais do que meras opiniões no âmbito das verdades religiosas.
Ao avivarmos agora nestes minutos de oração a nossa disposição de ser fiéis ao depósito da revelação, lembremo-nos ao mesmo tempo de que a própria lei natural, inscrita por Deus em nossos corações, nos impele interiormente a dar todo o valor aos dons do Céu e conseqüentemente “obriga a evitar na medida do possível tudo o que atente contra a virtude da fé”9, tal como nos pede, por exemplo, que conservemos a vida física. Por isso, “seria um pecado pôr voluntariamente em perigo a fé com leituras perniciosas sem um motivo justificado, ainda que atualmente não se incorra em nenhuma pena eclesiástica” 10.
Após uma longa experiência de estudo e de convívio com autores pagãos, São Basílio recomendava: “Deveis, pois, seguir à risca o exemplo das abelhas. Porque estas não param em qualquer flor nem se esforçam por levar tudo o que lhes oferecem as flores em que pousam no seu vôo, mas, depois de tomarem o conveniente para o seu fim, deixam o resto em paz. Também nós, se formos prudentes, extrairemos dos autores o que nos convenha e mais se pareça à verdade, e deixaremos de lado o restante. E assim como, ao colhermos a flor da roseira, fugimos dos espinhos, assim, ao pretendermos tirar o maior fruto possível de tais escritos, tomaremos cuidado com o que possa prejudicar os interesses da alma” 11.
III. FELIZES AQUELES cuja vida é pura e que seguem a lei do Senhor. Felizes os que guardam com esmero os seus preceitos e o procuram de todo o coração 12, diz o Salmo responsorial, avivando a nossa disposição de seguir fielmente o Senhor.
A fé é o nosso maior tesouro e não podemos expor-nos a perdê-la ou a deixar que se deteriore. Não há nada que valha a pena em comparação com a fé. Um dos nossos maiores desejos deve ser instruirmo-nos mais nela e vê-la respeitada – e não atacada ou minada – em tudo o que lemos, sem pensar que já temos suficiente formação para não nos deixarmos influenciar pelas idéias errôneas ou preconceituosas. A história testemunha de forma evidente que, mesmo que se possuam todas as condições de piedade e de doutrina, não é raro que o cristão se deixe seduzir pela parte de verdade ou pela aparência de verdade que sempre há em todos os erros 13.
Mostrai-me, Senhor, o caminho das vossas leis [...]. Ensinai-me a cumprir a vossa vontade, continuamos a dizer a Jesus com palavras do Salmo responsorial 14. E Ele, através de uma consciência bem formada, animar-nos-á a ser humildes e a procurar nas nossas leituras um assessoramento com garantias, se devemos estudar questões científicas, humanísticas, literárias, etc. que possam infeccionar o nosso pensamento.
Se permanecermos bem junto de Cristo, se soubermos dar todo o seu valor ao dom da fé, andaremos sem falsos complexos, com naturalidade, sem o prurido superficial de “estar atualizados”, tal como se têm comportado sempre muitos intelectuais cristãos: professores, pesquisadores, etc. Se formos humildes e prudentes, se tivermos “senso comum”, não seremos “como os que tomam o veneno misturado com mel” 15.
Fiéis ao ensinamento do Evangelho e do Magistério da Igreja, necessitamos de uma formação que nos permita apreciar o que se pode encontrar de válido na diversas manifestações da cultura – pois o cristão deve estar sempre aberto a tudo o que é verdadeiramente positivo –, ao mesmo tempo que detectamos o que é contrário a uma visão cristã da vida.
Peçamos à Santíssima Virgem, Sede da Sabedoria, esse discernimento no estudo, nas leituras e em todo o âmbito das idéias e da cultura. Peçamos-lhe também que nos ensine a valorizar e amar cada vez mais o tesouro da nossa fé.
(1) Mt 5, 17-37; (2) Conc. Vat. II, Const. Dei Verbum, 7; (3) Paulo VI, Alocução, 1-III-1967; (4) cfr. P. Rodríguez, Fe y vida de fe, pág. 113; (5) 1 Tim 6, 20-21; (6) Paulo VI, Audiência geral, 29-IX-1976; (7) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 600; (8) cfr. Código de direito canônico, can. 822-823; (9) J. Mausbach e G. Ermecke, Teologia Moral Católica, EUNSA, Pamplona, 1974, vol. II, pág. 108; (10) cfr. ib.; (11) São Basílio, Como ler a literatura pagã, pág. 43; (12) Sl 118, 1-2; (13) cfr. Pio XI, Const. Apost. Deus scientiarum Dominus, 24-V-1931; AAS 23 (1931), págs. 245-246; (14) Sl 118, 34; (15) São Basílio, op. cit.
16 de Fevereiro 2020
A SANTA MISSA

6º Domingo do Tempo Comum – Ano A
Cor: Verde
1ª Leitura: Eclo 15, 16-21 (15-20)
“A ninguém mandou agir como ímpio.”
Leitura do Livro do Eclesiástico
16 Se quiseres observar os mandamentos, eles te guardarão; se confias em Deus, tu também viverás. 17 Diante de ti, Ele colocou o fogo e a água; para o que quiseres, tu podes estender a mão. 18 Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele receberá aquilo que preferir.19 A sabedoria do Senhor é imensa, ele é forte e poderoso e tudo vê continuamente. 20 Os olhos do Senhor estão voltados para os que o temem. Ele conhece todas as obras do homem. 21 Não mandou a ninguém agir como ímpio e a ninguém deu licença de pecar.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 118 (119), 1-2.4-5.17-18.33-34(R. 1b)
R. Feliz o homem sem pecado em seu caminho,
que na lei do Senhor Deus vai progredindo!
1 Feliz o homem sem pecado em seu caminho,*
que na lei do Senhor Deus vai progredindo!
2 Feliz o homem que observa seus preceitos,*
e de todo o coração procura a Deus! R.
4 Os vossos mandamentos vós nos destes,*
para serem fielmente observados.
5 Oxalá seja bem firme a minha vida*
em cumprir vossa vontade e vossa lei! R.
17 Sede bom com vosso servo, e viverei,*
e guardarei vossa palavra, ó Senhor.
18 Abri meus olhos, e então contemplarei*
as maravilhas que encerra a vossa lei! R.
33 Ensinai-me a viver vossos preceitos;*
quero guardá-los fielmente até o fim!
34 Dai-me o saber, e cumprirei a vossa lei,*
e de todo o coração a guardarei. R.
2ª Leitura: 1Cor 2, 6-10
“Deus destinou, desde a eternidade uma sabedoria para nossa glória.”
Leitura da Primeira Carta de São Paulo apóstolo aos Coríntios
Irmãos: 6 Entre os perfeitos nós falamos de sabedoria, não da sabedoria deste mundo nem da sabedoria dos poderosos deste mundo, que, afinal, estão votados à destruição. 7 Falamos, sim, da misteriosa sabedoria de Deus, sabedoria escondida, que, desde a eternidade, Deus destinou para nossa glória. 8 Nenhum dos poderosos deste mundo conheceu essa sabedoria. Pois, se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória. 9 Mas, como está escrito, ‘o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram nem coração algum jamais pressentiu’. 10 A nós Deus revelou esse mistério através do Espírito.
Pois o Espírito esquadrinha tudo, mesmo as profundezas de Deus.
– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.
Evangelho: Mt 5, 17-37
“Assim foi dito aos antigos; eu, porém, vos digo.”
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 17 Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. 18 Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra. 19 Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus. 20 Porque eu vos digo: Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus. 21 Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não matarás! Quem matar será condenado pelo tribunal’. 22 Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo; quem disser ao seu irmão: ‘patife!’ será condenado pelo tribunal; quem chamar o irmão de ‘tolo’ será condenado ao fogo do inferno. 23 Portanto, quando tu estiveres levando a tua oferta para o altar, e ali te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24 deixa a tua oferta ali diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. Só então vai apresentar a tua oferta. 25 Procura reconciliar-te com teu adversário, enquanto caminha contigo para o tribunal. Senão o adversário te entregará ao juiz, o juiz te entregará ao oficial de justiça, e tu serás jogado na prisão. 26 Em verdade eu te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo. 27 Ouvistes o que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. 28 Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. 29 Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o para longe de ti! De fato, é melhor perder um de teus membros, do que todo o teu corpo ser jogado no inferno. 30 Se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e joga-a para longe de ti! De fato, é melhor perder um dos teus membros, do que todo o teu corpo ir para o inferno. 3l Foi dito também: ‘Quem se divorciar de sua mulher, dê-lhe uma certidão de divórcio’. 32 Eu, porém, vos digo: Todo aquele que se divorcia de sua mulher, a não ser por motivo de união irregular, faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher divorciada comete adultério. 33 Vós ouvistes também o que foi dito aos antigos: ‘Não jurarás falso’, mas ‘cumprirás os teus juramentos feitos ao Senhor’. 34 Eu, porém, vos digo: Não jureis de modo algum: nem pelo céu, porque é o trono de Deus;35 nem pela terra, porque é o suporte onde apoia os seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do Grande Rei. 36 Não jures tão pouco pela tua cabeça, porque tu não podes tornar branco ou preto um só fio de cabelo. 37 Seja o vosso ‘sim’: ‘Sim’, e o vosso ‘não’: ‘Não’.
Tudo o que for além disso vem do Maligno.
– Palavra da Salvação.
– Glória a vós, Senhor.
Beato José Allamano
16 de Fevereiro
Beato José Allamano
Ele nasceu em Castelnuovo d'Asti, Itália, em 21 de janeiro de 1851. Também a cidade natal de São João Bosco, 'o apóstolo da juventude'; e de seu tio São José Cafasso, irmão de sua mãe. Ambos foram seus orientadores e educadores desde a infância. Assim, José Allamano viveu no seio de uma família extremamente cristã.
Com vontade própria e decidido, ingressou no Oratório do Seminário Diocesano de Turim, onde recebeu a ordenação sacerdotal aos 22 anos e se formou em teologia um ano depois. Com 25 anos, foi convocado para continuar no mesmo seminário, como Diretor espiritual, demonstrando ter, apesar de jovem, excelentes qualidades de formador. Repetiu e inculcou, biblicamente aos noviços, a seguinte frase: 'Fazer bem o Bem'.
Quando padre Allamano foi nomeado Reitor do conceituado Santuário Mariano da 'Consolata', tinha apenas 29 anos e permaneceu na função durante quarenta e seis anos, quando faleceu. A 'Consolata' se tornou o campo de ação para todas as suas atividades sacerdotais.
Também foi o Cônego da catedral, Superior de comunidades religiosas, membro de comissões e comitês diocesanos. Fundou em 1901 o Instituto Missões Consolata, composto de sacerdotes e de irmãos leigos. Em 1910 iniciou o Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata.
Padre José Allamano tinha uma saúde frágil, mas este servo de Deus era de uma fortaleza heroica. Sem abandonar as atividades da diocese, priorizou e se ocupou da formação do clero, dos missionários e missionárias. O ideal que propunha era de servir as missões com dedicação total de mente, palavra e coração.
Este mestre e benfeitor do clero morreu serenamente na sua residência, junto ao Santuário da Consolata, a 16 de fevereiro de 1926. Seu corpo repousa em paz na Capela da Casa-Mãe dos Missionários da Consolata, em Turim, Itália.
Em Roma, no dia 7 de outubro de 1990, o papa João Paulo II beatificou José Allamano. Nesta ocasião os dois Institutos missionários da 'Consolata', fundados por ele, contavam com mais de dois mil membros espalhados em vinte e cinco países.
Beato José Allamano foi um visionário de pensamento avançado para seu tempo, sua beatificação teve um significado de especial reconhecimento, não apenas pelo exemplo de sua vida santificada, mas por ter antecipado que era obrigação de cada Igreja local se abrir à missão universal.
Texto: Paulinas Internet
15 de Fevereiro 2020
A SANTA MISSA

5ª Semana do Tempo Comum – Sábado
Cor: Verde
1ª Leitura: 1Rs 12,26-32; 13,33-34
Jeroboão fez dois bezerros de ouro.
Leitura do Primeiro Livro dos Reis
Naqueles dias: 26 Jeroboão refletiu consigo mesmo: ‘Como estão as coisas, o reino vai voltar à casa de Davi.27 Se este povo continuar a subir ao templo do Senhor em Jerusalém, para oferecer sacrifícios, seu coração se voltará para o seu soberano Roboão, rei de Judá; eles me matarão e se voltarão para Roboão, rei de Judá’. 28 Depois de ter refletido bem, o rei fez dois bezerros de ouro e disse ao povo: ‘Não subais mais a Jerusalém! Eis aqui, Israel, os deuses que te tiraram da terra do Egito’. 29 Colocou um bezerro em Betel e outro em Dã. 30 Isto foi ocasião de pecado, pois o povo ia em procissão até Dã para adorar um dos bezerros. 31 Jeroboão construiu também templos sobre lugares altos, e designou como sacerdotes homens tirados do povo, que não eram filhos de Levi. 32 E instituiu uma festa no dia quinze do oitavo mês, à semelhança da que era celebrada em Judá. E subiu ao altar. Fez a mesma coisa em Betel, para sacrificar aos bezerros que havia feito. E estabeleceu em Betel sacerdotes nos santuários que tinha construído nos lugares altos. 13,33 Depois disso, Jeroboão não abandonou o seu mau caminho, mas continuou a tomar homens do meio do povo e a constituí-los sacerdotes dos santuários dos lugares altos. Todo aquele que queria era consagrado e se tornava sacerdote dos lugares altos. 34 Esse modo de proceder fez cair em pecado a casa de Jeroboão e provocou a sua ruína e o seu extermínio da face da terra.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 105, 6-7a. 19-20. 21-22 (R. 4a)
R. Lembrai-vos, ó Senhor, de mim lembrai-vos,
segundo o amor que demonstrais ao vosso povo.
6 Pecamos como outrora nossos pais, *
praticamos a maldade e fomos ímpios;
7a no Egito nossos pais não se importaram *
com os vossos admiráveis grandes feitos. R.
19 Construíram um bezerro no Horeb *
e adoraram uma estátua de metal;
20 eles trocaram o seu Deus, que é sua glória, *
pela imagem de um boi que come feno. R.
21 Esqueceram-se do Deus que os salvara, *
que fizera maravilhas no Egito;
22 no país de Cam fez tantas obras admiráveis, *
no Mar Vermelho, tantas coisas assombrosas. R.
Evangelho: Mc 8,1-10
Comeram e ficaram satisfeitos.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos
1 Naqueles dias, havia de novo uma grande multidão e não tinha o que comer. Jesus chamou os discípulos e disse: 2 ‘Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não têm nada para comer. 3 Se eu os mandar para casa sem comer, vão desmaiar pelo caminho, porque muitos deles vieram de longe.’ 4 Os discípulos disseram: ‘Como poderia alguém saciá-los de pão aqui no deserto?’ 5 Jesus perguntou-lhes: ‘Quantos pães tendes?’ Eles responderam: ‘Sete.’ 6 Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão. Depois, pegou os sete pães, e deu graças, partiu-os e ia dando aos seus discípulos, para que os distribuíssem. E eles os distribuíam ao povo. 7 Tinham também alguns peixinhos. Depois de pronunciar a bênção sobre eles, mandou que os distribuíssem também. 8 Comeram e ficaram satisfeitos, e recolheram sete cestos com os pedaços que sobraram. 9 Eram quatro mil, mais ou menos. E Jesus os despediu. 10 Subindo logo na barca com seus discípulos, Jesus foi para a região de Dalmanuta.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Mãe de Misericórdia
TEMPO COMUM. QUINTA SEMANA. SÁBADO
— Maria participa em grau eminente da misericórdia divina.
— Saúde dos enfermos. Refugio dos pecadores.
— Consoladora dos aflitos. Auxílio dos cristãos.
I. UMA GRANDE MULTIDÃO seguia Jesus, e todos estavam tão atentos à sua doutrina que se foram afastando das cidades e aldeias sem terem levado nada que comer. O Senhor chamou então os seus discípulos e disse-lhes: Tenho compaixão da multidão, porque já há três dias que me seguem e não têm o que comer; se eu os despedir em jejum para suas casas, desfalecerão pelo caminho, pois alguns deles vieram de longe 1. A compaixão misericordiosa que domina o coração de Jesus levá-lo-á a repetir o extraordinário milagre da multiplicação dos pães e dos peixes.
Nós devemos recorrer freqüentemente à misericórdia divina, porque da sua compaixão por nós dependem a nossa salvação e a nossa segurança. Esse é o caminho para atrairmos mais prontamente a ajuda de Deus.
Santo Agostinho ensina que a misericórdia é um sentimento que nasce do coração e tem por objeto as misérias alheias, corporais ou espirituais, de tal modo que elas nos doem e entristecem como se fossem próprias, levando-nos a empregar na medida do possível os meios oportunos para tentar aliviá-las 2.
Esta disposição do coração está em Deus na sua perfeição infinita, e por isso a Sagrada Escritura diz que Deus é rico em misericórdia 3 e que "glorifica-o muito mais tirar o bem do mal do que criar do nada algo novo; converter um pecador, dando-lhe a vida da graça, é muito mais do que criar do nada todo o universo físico, o céu e a terra" 4.
Jesus Cristo, Deus feito homem, é a plena expressão da misericórdia divina, manifestada de muitas maneiras ao longo da história da salvação. O Senhor entregou-se na Cruz, num ato supremo de Amor misericordioso, e agora exerce esse amor compassivo do Céu e no Sacrário, onde nos espera para que lhe exponhamos todas as nossas necessidades. O nosso Pontífice não é tal que não possa compadecer-se das nossas fraquezas [...]. Aproximemo-nos, pois, com toda a confiança do trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para sermos socorridos no tempo oportuno 5. Que frutos de santidade não produz na alma a meditação freqüente deste convite divino!
A nossa Mãe Santa Maria alcança-nos continuamente a compaixão do seu Filho e ensina-nos o modo de nos comportarmos em face das necessidades próprias e alheias. Quantas vezes não lhe teremos suplicado, particularmente aos sábados, cantando-lhe ou rezando-lhe como se vem fazendo há séculos: Salve Rainha, Mãe de Misericórdia...
Maria "é aquela que conhece mais a fundo o mistério da misericórdia divina. Conhece o seu preço e sabe como é elevado. Neste sentido, chamamo-la Mãe de misericórdia, Nossa Senhora da Misericórdia ou Mãe da divina misericórdia. Em cada um desses títulos encerra-se um profundo significado teológico, porque todos eles exprimem a particular preparação da sua alma, de toda a sua pessoa, que lhe permitiu ver - primeiro, através dos complexos acontecimentos de Israel, e, depois, daqueles que dizem respeito a cada um dos homens e à humanidade inteira - aquela misericórdia da qual todos participamos, segundo o eterno desígnio da Santíssima Trindade, de geração em geração (Lc 1, 50)" 6.
Em Maria, a misericórdia une-se à piedade de mãe; Ela nos conduz sempre ao trono da graça. O título de Mãe de Misericórdia, alcançado com o seu fiat - faça-se - em Nazaré e no Calvário, é um dos seus maiores e mais belos nomes. Maria é o nosso consolo e a nossa segurança: "Com o seu amor maternal, cuida dos irmãos do seu Filho que ainda peregrinam e se acham em perigos e ansiedades até que sejam conduzidos à pátria celestial. Por este motivo, a Santíssima Virgem é invocada na Igreja com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Socorro, Medianeira" 7. Nem um só dia a Virgem deixou de ajudar-nos, de proteger-nos, de interceder pelas nossas necessidades.
II. O TÍTULO DE Mãe de Misericórdia expressou-se tradicionalmente através das diversas invocações da ladainha do Rosário: Saúde dos enfermos, Refúgio dos pecadores, Consoladora dos aflitos, Auxílio dos cristãos... "Esta gradação é belíssima. Mostra como Maria exerce a sua misericórdia sobre aqueles que sofrem no corpo para lhes curar a alma, e como depois os consola nas suas aflições e como os torna fortes no meio de todas as dificuldades que têm que enfrentar" 8.
Santa Maria espera-nos como Saúde dos enfermos porque obtém a cura do corpo, sobretudo quando esta se ordena para a salvação da alma. Há casos em que nos concede algo mais importante que a saúde corporal: a graça de entendermos que a dor, o mal físico, é instrumento de Deus. Através dessa doença que nos aflige, acolhida com paciência e sentido sobrenatural, conseguimos uma boa parte do tesouro que encontraremos no Céu, assim como abundantes frutos apostólicos: decisões de entrega a Deus e salvação de pessoas que, sem essas graças, não teriam encontrado a porta do Céu. Neste sentido, a Virgem Maria remedeia também as feridas que o pecado original deixou em nossa alma e que os pecados pessoais agravaram: a concupiscência desordenada, a debilidade na prática do bem. Fortalece os que vacilam, levanta os que caíram, ajuda a dissipar as trevas da ignorância e do erro.
A Virgem misericordiosa é igualmente Refúgio dos pecadores. Encontramos nEla um amparo seguro. Depois do seu Filho, ninguém detestou mais o pecado do que Santa Maria, mas, longe de afugentar os pecadores, Ela os acolhe, move-os ao arrependimento: em quantas confissões não interveio com um auxílio especialíssimo! Envia graças de luz e de arrependimento mesmo àqueles que estão mais afastados e que, se não resistirem, serão conduzidos de graça em graça até à conversão. "Quem poderá investigar, pois, ó Virgem bendita, a extensão e a largura, a altura e a profundidade da tua misericórdia? Porque a sua extensão alcança até à última hora os que a invocam. A sua largura abarca o orbe para que toda a terra esteja repleta da sua misericórdia" 9.
Recorremos hoje à nossa Mãe, pedindo-lhe que tenha piedade de nós. Dizemos-lhe que somos pecadores, mas que queremos amar cada vez mais o seu Filho Jesus Cristo; que tenha compaixão das nossas fraquezas e nos ajude a superá-las. Ela é Refúgio dos pecadores e, portanto, a nossa garantia, o porto seguro onde atracamos depois das ondas e dos ventos contrários, onde reparamos os possíveis danos causados pela tentação e pela nossa fraqueza. A sua misericórdia é o nosso amparo e a nossa paz: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores...
III. A VIRGEM MARIA, nossa Mãe, Consoladora dos aflitos, foi durante toda a sua vida consolo daqueles que andavam sobrecarregados por um peso grande demais para o levarem sozinhos.
Animou São José naquela noite em que o Patriarca, depois de bater de porta em porta pedindo alojamento, não encontrou em Belém nenhuma casa que os acolhesse; bastou-lhe um sorriso de Maria para recuperar as forças e acomodar-se ao que encontrou: um estábulo nos arredores da cidade. E ajudou-o a prosseguir na fuga para o Egito e a estabelecer-se naquele país... E apesar de José ser um homem cheio de fortaleza, o consolo de Maria tornou-lhe mais fácil o cumprimento da vontade de Deus.
Os Apóstolos ampararam-se em Maria quando tudo se tornou negro e sem sentido para eles depois de Cristo ter expirado na Cruz. Quando se deu sepultura ao corpo de Jesus e os habitantes de Jerusalém se preparavam para celebrar em família a festa da Páscoa, os Apóstolos, que vagueavam perdidos pela cidade, encontraram-se em casa de Maria, quase sem o perceberem.
Desde então, a Virgem jamais deixou por um momento sequer de consolar os que se sentem oprimidos pelo peso da tristeza, da solidão ou de uma grande dor. "Maria acolheu muitos cristãos nas perseguições, libertou muitos possessos e almas tentadas, salvou da angústia muitos náufragos; assistiu e fortaleceu muitos agonizantes, recordando-lhes os méritos infinitos do seu Filho" 10.
Se alguma vez nos pesam as coisas da vida, a doença, o esforço na tarefa apostólica, a preocupação com a família, os obstáculos que se juntam e se amontoam, recorramos à Virgem e sempre encontraremos consolo, alento e força para cumprir em tudo a vontade amável do seu Filho. Repetir-lhe-emos devagar: Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa...
Nossa Senhora é Auxílio dos cristãos, porque sempre se favorece principalmente aqueles a quem se ama, e ninguém como Maria amou aqueles que fazem parte da família do seu Filho. Encontramos nEla todas as graças necessárias para sairmos vitoriosos nas tentações, no apostolado, no trabalho...
No Rosário temos uma "arma poderosa" 11 para superar todos os obstáculos que nos aguardam.
São muitos os cristãos no mundo que, seguindo o ensinamento ininterrupto dos Sumos Pontífices, introduziram na sua vida de piedade o costume de rezá-lo diariamente: em família, numa igreja, pela rua ou nos meios de transporte.
"Em mim encontra-se toda a graça de doutrina e de verdade, toda a esperança de vida e de virtude (Eclo 24, 25). Com quanta sabedoria a Igreja colocou estas palavras na boca da nossa Mãe, para que não as esquecêssemos! Ela é a segurança, o Amor que nunca abandona, o refúgio constantemente aberto, a mão que acaricia e consola sempre" 12.
(1) Mc 8, 1-10; (2) cfr. Santo Agostinho, Sobre a cidade de Deus, 9; (3) Ef 2, 4; (4) São Tomás, Suma Teológica, 1-2, q. 113, a. 9; (5) Hebr 4, 15-16; (6) João Paulo II, Ene. Dives in misericórdia, 30-XI-1980; (7) Cone. Vat. II, Const. Lumen gentium, 62; (8) R. Garrigou-Lagrange, A Mãe do Salvador, pág. 305; (9) São Bernardo, Homilia na Assunção da B. Virgem Maria, 4, 8-9; (10) R. Garrigou-Lagrange, op. cit., pág. 311; (11) São Josemaría Escrivá, Santo Rosário, Introdução; (12) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 279.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Cláudio de La Colombiere
15 de Fevereiro
São Cláudio de La Colombiere 
Nasceu na França, em 1641. Sua mãe, muito cedo, havia profetizado que seu filho seria um santo religioso. Não que isso o forçou, mas ajudou no seu discernimento. Passado um tempo, ele, pertencente a uma família religiosa, pôde fazer este caminho de seguimento a Cristo e entrou para a Companhia de Jesus. Dado aos estudos, aprofundou-se, lecionou e chegou a superior de um colégio jesuíta.
Mas Deus tinha muitos planos para ele. Ele dizia: “Os planos de Deus nunca se realizam senão à custa de grandes sacrifícios” e pôde experimentar essa realidade.
Ao ser o confessor do convento de Nossa Senhora da Visitação, conheceu a humilde e serva do Senhor, Margarida Maria Alacoque, que ia recebendo as promessas do Sagrado Coração de Jesus. Ele a orientou muito e pôde se aprofundar também nesta devoção; amor ao coração de Jesus. Amando o Senhor, pôde estar em comunhão também com o sacrifício e com a dor. Ele mergulhou o seu coração nessa devoção e pôde ajudar a santa, mas, por obediência, teve de ir para Londres onde sofreu incompreensões por parte de cristãos não católicos, ao ponto de calúnias o levarem ao julgamento e à prisão. Só não foi morto por causa da intervenção do rei da França, Luís XIV.
São Cláudio de La Colombiere voltou para o berço da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Com 41 anos, partiu para a glória, como havia profetizado Margarida Maria Alacoque. O seu testemunho nos mostra que é do Coração de Jesus que vem a santidade para o nosso coração.
Fonte: https://www.icatolica.com/2017/02/sao-claudio-de-la-colombiere.html
Fez tudo Bem
TEMPO COMUM. QUINTA SEMANA. SEXTA-FEIRA
— Jesus, nosso Modelo, realizou o seu trabalho em Nazaré com perfeição humana.
— Laboriosidade, competência profissional.
— Terminar o trabalho com perfeição. As coisas pequenas na tarefa profissional.
I. OS EVANGELHOS RECOLHEM freqüentemente os sentimentos e as palavras de admiração que o Senhor provocou nos seus anos aqui na terra: A multidão estava maravilhada, todos estavam admirados com os prodígios que fazia... E “entre as muitas palavras de louvor que disseram de Jesus os que contemplaram a sua vida, há uma que de certo modo compreende todas as outras. Refiro-me à exclamação, prenhe de acentos de assombro e de entusiasmo, que a multidão repetia espontaneamente ao presenciar atônita os seus milagres: Bene omnia fecit (Mc 7, 37), fez tudo admiravelmente bem: os grandes prodígios e as coisas triviais, cotidianas, que a ninguém deslumbraram, mas que Cristo realizou com a plenitude de quem é perfectus Deus, perfectus homo (Símbolo Quicumque), perfeito Deus e homem perfeito”1.
O Evangelho da Missa 2 convida-nos a considerar essa passagem em que aqueles que seguiam o Senhor não puderam deixar de exclamar: Fez tudo bem. Cristo apresenta-se assim como Modelo para a nossa vida de todos os dias, modelo divino que há de incitar-nos a ver se se pode dizer de nós que cuidamos de fazer bem todas as coisas, tanto as grandes como as pequenas, essas que parecem sem importância, porque queremos imitar o Senhor.
A maior parte da vida humana de Jesus foi uma vida corrente de trabalho num povoado desconhecido até então. E nesse povoado, em Nazaré, também fez tudo bem, isto é, acabadamente, com perfeição humana. Ora, uma boa parte da vida de cada homem e de cada mulher se apresenta configurada pela realidade do trabalho, e dificilmente encontraremos uma pessoa responsável que, por vontade própria, esteja sem ocupação ou emprego. Por que trabalhamos? Como é que trabalhamos?
Muitas pessoas sentem-se movidas a trabalhar por fins humanos nobres: manter a família, conseguir um futuro melhor... Há também os que se dedicam a uma tarefa pelo desejo de praticarem e desenvolverem uma habilidade particular ou uma inclinação pessoal, ou de contribuírem para o bem da sociedade, porque sentem a responsabilidade de fazer alguma coisa pelos outros. Muitos outros trabalham por fins menos nobres: riqueza, satisfação das paixões, poder, auto-afirmação; são pessoas competentes que trabalham muitas horas e bem, por fins exclusivamente humanos.
O Senhor quer que os que se propõem segui-lo no meio do mundo sejam pessoas que trabalhem bem, competentes na sua profissão ou ofício, com prestígio; mas pessoas que ao mesmo tempo se distingam pelos fins humanos nobres que os movem e porque compreendem que o trabalho – seja qual for – é o meio por excelência em que devem cultivar as virtudes do caráter e as virtudes sobrenaturais..., pois “sabemos que, com o oferecimento do seu trabalho a Deus, os homens se associam à própria obra redentora de Jesus Cristo, que deu ao trabalho uma dignidade eminente ao trabalhar com as suas próprias mãos em Nazaré” 3.
Dizemos hoje ao Senhor que queremos realizar as nossas obrigações de forma exemplar porque desejamos vivamente que sejam uma oferenda diária que chegue até Ele, e porque estamos decididos a imitá-lo naqueles anos de vida oculta em Nazaré.
II. QUANDO JESUS PROCUROU aqueles que o haviam de seguir, fê-lo entre homens acostumados ao trabalho. Mestre, estivemos trabalhando toda a noite...4, dizem-lhe aqueles que haveriam de ser os seus primeiros discípulos. Toda a noite, num trabalho duro, porque lhes era necessário para viver, porque eram pescadores.
São Paulo deixou-nos o seu próprio exemplo e o daqueles que o acompanhavam: Afadigamo-nos trabalhando com as nossas próprias mãos 5. E aos primeiros cristãos de Tessalônica escreve: Não comemos de graça o pão de ninguém, mas sim com esforço e fadiga, trabalhando dia e noite para não vos sermos pesados a nenhum de vós 6. São Paulo não se dedicava ao trabalho por divertimento e distração – comenta São João Crisóstomo –, mas para prover às suas necessidades e às dos demais. Um homem que imperava aos demônios, que era mestre de todo o universo, a quem foram confiados os habitantes de povos, nações e cidades, e que cuidava deles com toda a solicitude – esse homem trabalhava dia e noite. Nós – continua o Santo –, que não trazemos sobre as nossas costas nem uma sombra das suas preocupações, que desculpa teremos? 7 Não temos desculpas para não trabalhar intensamente.
É necessário trabalhar com laboriosidade, aproveitando bem as horas, pois é difícil, para não dizer impossível, que quem não aproveita bem o tempo possa manter o seu espírito desperto e viver as virtudes humanas mais elementares.
Uma vida sem trabalho – ou preenchida com um trabalho indolente – corrompe-se e com freqüência corrompe o que tem à sua volta. “O ferro que fica encostado a um canto, consumido pela ferrugem, torna-se fraco e inútil; mas se é utilizado no trabalho, torna-se muito mais útil e bonito, e pouco lhe falta para ser comparado à prata. Um terreno baldio não produz nada de útil, mas apenas mato, cardos, espinhos e plantas infrutuosas; mas se for cultivado, enche-se de frutos suaves. Para dizê-lo numa palavra, todos os seres se corrompem pela ociosidade e melhoram pela atividade que lhes é própria” 8.
O Senhor pede-nos um trabalho sério, que não apenas pareça bom, mas que o seja de fato. Não importa que seja manual ou intelectual, de execução ou de organização, que seja presenciado por outras pessoas de mais responsabilidade ou por ninguém. O cristão acrescenta-lhe, sem dúvida, algo novo: fá-lo por Deus, a quem o apresenta cada dia como uma oferenda que permanecerá para toda a eternidade; mas o modo de exercê-lo – responsável, competente, intenso... – deve ser o de todo o trabalho honrado. Mais ainda: deve ter uma perfeição maior, pois Cristofez tudo bem. E uma tarefa realizada dessa forma dignifica quem a realiza e dá glória ao seu Criador; faz com que os dons naturais rendam e converte-se num louvor contínuo a Deus.
III. O CRISTÃO DESCOBRE no trabalho novas riquezas, “pois todos os caminhos da terra podem ser ocasião de um encontro com Cristo” 9, como dizia de muitos modos diferentes Mons. Escrivá, ao pregar em toda a sua vida que “a santidade não é coisa para privilegiados”10. Recordava ele um fato da sua experiência que lhe havia servido para ensinar de modo prático, aos que se aproximavam do seu apostolado, como deve ser o trabalho feito na presença de Deus:
“Lembro-me também da temporada da minha permanência em Burgos [...]. Às vezes, as nossas caminhadas chegavam ao mosteiro de Las Huelgas e, em outras ocasiões, dávamos uma escapada até à Catedral.
“Gostava de subir a uma torre, para que (os que o acompanhavam) contemplassem de perto os lavores cimeiros, um autêntico rendilhado de pedra, fruto de um trabalho paciente, custoso. Nessas conversas, fazia-os notar que aquela maravilha não se via lá de baixo. E, para materializar o que com repetida freqüência lhes havia explicado, comentava-lhes: assim é o trabalho de Deus, a obra de Deus!: acabar as tarefas pessoais com perfeição, com beleza, com o primor destas delicadas rendas de pedra. Diante dessa realidade que entrava pelos olhos dentro, compreendiam que tudo isso era oração, um diálogo belíssimo com o Senhor. Os que haviam consumido as suas energias nessa tarefa sabiam perfeitamente que, das ruas da cidade, ninguém apreciaria o seu esforço: era só para Deus. Entendes agora como é que a vocação profissional pode aproximar de Deus? Faze tu o mesmo que aqueles canteiros, e o teu trabalho será também operatio Dei, um trabalho humano com raízes e perfis divinos” 11, ainda que ninguém o veja, ainda que ninguém o valorize. Deus o vê e o aprecia; e isso é suficiente para pormos empenho em acabar as tarefas com perfeição, com amor.
Acabar bem o que realizamos significa em muitos casos estarmos atentos ao que é pequeno. É coisa que exige esforço e sacrifício, e que, ao oferecê-lo, se converte em algo grato a Deus.
Estar atento aos detalhes por amor a Deus não torna a alma pequena, antes a engrandece e dilata porque desse modo se aperfeiçoa a obra que realizamos e, oferecendo-a por intenções determinadas, nos abrimos às necessidades de toda a Igreja; a nossa tarefa adquire então uma dimensão sobrenatural que antes não tinha. Na tarefa profissional – assim como em outros aspectos da vida corrente: na vida familiar, social, no descanso... – temos sempre diante de nós uma disjuntiva: ou o descuido e o mau acabamento, que empobrecem a alma, ou a pequena obra de arte oferecida a Deus, expressão de uma alma com vida interior.
Talvez Deus nos queira fazer ver, neste tempo de oração, detalhes que pedem uma mudança de orientação ou de ritmo no nosso modo de trabalhar. Com a ajuda da Virgem Maria, façamos agora um propósito concreto que nos leve a realizar a nossa tarefa com mais perfeição e a lembrar-nos com mais freqüência de Deus: “Aí, nesse lugar de trabalho, deves conseguir que o teu coração escape para o Senhor, junto ao Sacrário, para lhe dizer, sem fazer coisas estranhas: – Meu Jesus, eu te amo”12.
(1) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 56; (2) Mc 7, 31-37; (3) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 67; (4) Lc 5, 5; (5) 1 Cor 4, 12; (6) 2 Tess 3, 8; (7) cfr. São João Crisóstomo, Homilia sobre Priscila e Áquila; (8) ib.; (9) Josemaría Escrivá, Carta, 24-III-1930; (10) Josemaría Escrivá, Carta, 19-III-1954; (11) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 65; (12) cfr. Josemaría Escrivá, Forja, n. 746.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Martiniano
13 de Fevereiro
São Martiniano
Martiniano era um monge eremita, mas acabou se tornando um andarilho para que o pecado nunca o achasse 'em endereço fixo'.
Martiniano era natural da Cesareia, na Palestina, nasceu no século quatro. Desde a tenra idade decidiu ligar sua vida à Deus e aos dezoito anos ingressou numa comunidade de eremitas, não muito distante da sua cidade, onde se entregou à vida reclusa e viveu durante sete anos. A fama de sua sabedoria percorreu a Palestina e Martiniano passou a ser procurado por gente de todo o país que lhe pedia conselhos, orientação espiritual, a cura de doenças e até a expulsão de maus espíritos. Ganhou fama de santidade e essa fama atraiu Cloé, uma jovem cortesã.
Cloé era milionária, bela e conhecida como uma mulher de costumes arrojados e pouco recomendáveis. Fez uma espécie de aposta em seu círculo de amizades e afirmou que faria o casto monge se perder. Trocou suas roupas luxuosas por farrapos e procurou Martiniano, pedindo abrigo. Ele deixou que entrasse, acomodou-a e foi para os aposentos do fundo da casa, onde rezou entoando cânticos de louvor ao Senhor, antes de se recolher para dormir.
Mesmo assim, Cloé não desistiu. Pela manhã trocara os farrapos por uma roupa muito sensual, aguardando o ingresso do monge nos aposentos internos da casa. Ela, então, utilizou argumentos espertos tentando seduzir Martiniano, mas, ao invés disso, acabou sendo convertida por ele. Cloé, a partir de então, se recolheu ao convento de Santa Paula, em Belém, passando ali o resto de seus dias. E se santificou na vida religiosa consagrada a Deus.
Por sua vez, Martiniano, que chegou a sentir-se tentado, mudou-se dali para uma ilha. Porém, certa vez, naquelas águas que rodeavam a ilha ocorreu um naufrágio de um navio e uma jovem passageira chamada Fotinia que se salvou lhe pediu abrigo. Ele consentiu que ela ficasse, mas para não sentir a tentação novamente, abandonou o lugar a nado, apesar do continente ficar muito distante.
O fato é que, depois disso, tomou uma decisão radical, tornou-se andarilho para nunca mais ter de abrigar ninguém e ser tentado pelo pecado. Vivia da caridade alheia e morreu em Atenas, no ano 400, depois de parar a caminhada numa igreja da cidade. Sabia que o momento chegara, recebeu os sacramentos e partiu para a Casa do Pai serenamente e na santa paz.
Texto: Paulinas Internet