Santa Ângela da Cruz

02 de Março

Santa Ângela da Cruz

Maria dos Anjos Guerrero e González nasceu em Sevilha em 30 de janeiro de 1846, filha de Francisco Guerrero e Josefina González, casal de modesta condição social, mas cheio de virtudes cristãs. Cresceu em um ambiente muito religioso, ajudando seus pais nos trabalhos manuais, principalmente na costura. De caráter muito dócil e discreta, suscitava profunda admiração em todos que a conheciam.

Ainda pequena teve que deixar a escola para trabalhar em uma fábrica de calçados. Embora tivesse que trabalhar, amava isolar-se para dedicar-se à oração e à mortificação. Em 1871, aos 25 anos, fez um ato particular em que promete ao Senhor viver segundo os conselhos evangélicos.

Na sua longa experiência de oração, vê uma cruz vazia diante da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, o que lhe inspirou imolar-se em união com Jesus para a salvação das almas. Tocada por uma forte vocação, desejou entrar nas Carmelitas, mas seu diretor espiritual a aconselhou entrar nas Irmãs de Caridade. Devido às precárias condições de saúde foi obrigada a desistir em pouco tempo do Instituto.

Retornando à família, se dedicou às obras de caridade junto aos pobres. Obedecendo aos conselhos do diretor espiritual, começou a escrever um diário espiritual no qual expunha detalhadamente a regra de vida de uma Comunidade de religiosas, que com a sua destacada vocação e com a experiência espiritual que vivia, sentia poder constituir.

Assim, em 1875, deu início em Sevilha à Congregação das Irmãs da Companhia da Cruz para o cuidado dos enfermos. O seu ideal e o do Instituto era “ser pobre com os pobres para levá-los a Cristo” que constituiu o fundamento da espiritualidade e da missão da Companhia da Cruz.

A Santa Sé aprovou o Instituto em 1904, o qual teve uma rápida difusão, imprimido um impacto enorme na Igreja e na sociedade sevilhana do seu tempo.

Humilde e enérgica, Madre Ângela da Cruz, nome que tomou quando se tornou religiosa, soube infundir no ânimo de suas filhas um crescente espírito de dedicação e de caridade em favor dos necessitados, sendo por isto admirada por todos e chamada pelo povo de “mãe dos pobres”.

Natural e simples, recusou toda glória humana, buscou a santidade com um espírito de mortificação no serviço de Deus e dos irmãos, e com estes sentimentos deixou esta terra no dia 2 de março de 1932, na sua cidade de Sevilha, aos 86 anos de idade.

A causa para sua beatificação foi introduzida junto à Congregação dos Ritos em 10 de fevereiro de 1960. O Papa João Paulo II a beatificou durante sua primeira viagem à Espanha, no dia 5 de novembro de 1982, em Sevilha, o mesmo pontífice, num intervalo de 20 anos, a elevou à honra dos altares, canonizando-a em Madri a 4 de maio de 2003, durante sua quinta viagem em terras espanholas.

Fonte: http://heroinasdacristandade.blogspot.com


A existência e ação do demônio

TEMPO DA QUARESMA. PRIMEIRA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA

– O demônio existe e atua nas pessoas e na sociedade. A sua ação é misteriosa, mas real e eficaz.
– Quem é o demônio. O seu poder é limitado. Necessidade da ajuda divina para vencer.
– Jesus Cristo é o vencedor do demônio. Confiança nEle. Meios que devemos utilizar. A água benta.

I. O DEMÔNIO TRANSPORTOU-O de novo a um monte alto... Então Jesus respondeu-lhe: Afasta-te, Satanás..., líamos no Evangelho da Missa de ontem 1.

O demônio existe. A Sagrada Escritura fala dele desde o primeiro até o último dos livros revelados: do Gênesis ao Apocalipse. Na parábola do trigo e do joio, o Senhor afirma que a má semente, cuja finalidade é sufocar o trigo, foi lançada pelo inimigo 2. Na parábola do semeador, vem o Maligno e arranca o que se tinha semeado 3.

Alguns, inclinados a um otimismo superficial, pensam que o mal é meramente uma imperfeição incidental num mundo em contínua evolução a caminho de dias melhores. Não obstante, a história do homem sofre a influência do demônio. Podemos ver nos nossos dias manifestações de uma intensa malícia que não se explica unicamente pela ação do homem. O demônio, de formas muito diversas, causa estragos na humanidade. Não há dúvida de que “através de toda a história humana, existe uma dura batalha contra o poder das trevas, e essa batalha, iniciada nas origens do mundo, durará, como diz o Senhor, até o último dia” 4. Pode-se, pois, dizer que o demônio “provoca numerosos danos de natureza espiritual e até, indiretamente, de natureza física, tanto nos indivíduos como na sociedade” 5.

A ação do demônio é misteriosa, real e eficaz. Desde os primeiros séculos, os cristãos tiveram consciência dessa atividade diabólica. São Pedro prevenia os primeiros cristãos: Sede sóbrios e vigiai. O vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé 6.

Com Jesus Cristo, o poder do demônio reduziu-se consideravelmente, pois Ele “nos libertou do poder de Satanás” 7. Graças à obra redentora de Cristo, o demônio só pode causar verdadeiros danos a quem livremente lho permitir, consentindo no mal e afastando-se de Deus.

O Senhor manifesta-se em numerosas passagens do Evangelho como vencedor do demônio, livrando muitos infelizes da possessão diabólica. NEle está posta toda a nossa confiança, pois Ele não permite que sejamos tentados acima das nossas forças 8. Portanto, ninguém peca por necessidade. Consideremos com profundidade, nesta Quaresma, o que isso significa.

II. O DEMÔNIO é um ser pessoal, real e concreto, de natureza espiritual e invisível, que, pelo seu pecado, se afastou de Deus para sempre, “porque o diabo e os outros demônios foram criados por Deus naturalmente bons; mas eles, por si mesmos, se tornaram maus” 9. Ele é o pai da mentira 10, do pecado, da discórdia, da desgraça, do ódio, do absurdo e do mal que há em toda a terra 11. É a serpente astuta e invejosa que traz a morte ao mundo 12, que semeia o mal no coração do homem 13, o único inimigo que devemos temer se não estamos perto de Deus.

Seu único fim no mundo, ao qual não renunciou, é a nossa perdição. E tentará diariamente alcançar esse fim por todos os meios ao seu alcance. “Tudo começou com a rejeição de Deus e do seu reino, com a usurpação dos seus direitos soberanos, na tentativa de alterar a economia da salvação e a própria ordem de toda a criação. Encontramos um reflexo dessa atitude nas palavras do tentador aos nossos primeiros pais: Sereis como deuses. Assim, o espírito maligno trata de transplantar para o homem a atitude de rivalidade, de insubordinação e de oposição a Deus que se converteu no motivo de toda a sua existência” 14.

O demônio é o primeiro causador do mal e dos desconcertos e rupturas que se produzem nas famílias e na sociedade. “Suponhamos – diz o Cardeal Newman – que sobre as ruas de uma cidade populosa se abatia de repente uma total escuridão; podem imaginar, sem que eu lhes descreva, o ruído e o clamor que se produziriam. Transeuntes, carruagens, carros, cavalos, todos mergulhariam no caos. Assim é o estado do mundo. O espírito maligno que atua sobre os filhos da incredulidade, o deus deste mundo, como diz São Paulo, cegou os olhos dos que não crêem, e eis que se vêem forçados a brigar e a discutir porque perderam o caminho; e disputam uns com os outros, uns dizendo isto, outros aquilo, porque não enxergam” 15.

Nas suas tentações, o demônio utiliza a fraude, já que só pode apresentar bens falsos e uma felicidade fictícia, que se converte sempre em solidão e amargura. Fora de Deus não existem, não podem existir, nem o bem nem a felicidade verdadeira. Fora de Deus só existe escuridão, vazio e a maior das tristezas. Mas o poder do demônio é limitado, e também ele está sob o domínio e a soberania de Deus, que é o único Senhor do universo.

O demônio – como também o anjo – não chega a penetrar na nossa intimidade, se nós não o queremos. “Os espíritos imundos não podem conhecer a natureza dos nossos pensamentos. Só lhes é dado pressenti-los por indícios sensíveis, ou então examinando as nossas disposições, as nossas palavras ou as coisas para as quais percebem que nos inclinamos. É-lhes totalmente inacessível o que não exteriorizamos e permanece oculto nas nossas almas. Mesmo os pensamentos que eles próprios nos sugerem, a acolhida que lhes damos, a reação que provocam em nós, nada disso o conhecem pela própria essência da alma [...], mas, quando muito, pelos movimentos e manifestações externas” 16.

O demônio não pode violentar a nossa liberdade a fim de incliná-la para o mal. “É um fato certo que o demônio não pode seduzir ninguém, a não ser os que lhe prestam o consentimento da sua vontade” 17. O santo Cura d’Ars diz que “o demônio é um grande cão acorrentado que arremete, que faz muito barulho, mas que só morde os que se aproximam dele em demasia” 18. No entanto, “nenhum poder humano pode ser comparado ao seu, e somente o poder divino o pode vencer e somente a luz divina pode desmascarar as suas artimanhas. A alma que queira vencer a potência do demônio não o poderá conseguir sem oração, nem poderá entender os seus enganos sem mortificação e sem humildade” 19.

III. OS ATOS DOS APÓSTOLOS resumem a vida de Cristo com estas palavras: Ele passou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio 20. E São João, referindo-se ao motivo da Encarnação, explica: Para isso veio o Filho de Deus, para desfazer as obras do demônio 21.

Cristo é o verdadeiro vencedor do demônio: Agora será lançado fora o príncipe deste mundo 22, dirá Jesus na Última Ceia, poucas horas antes da Paixão. Deus “decide entrar na história humana de um modo novo e definitivo, enviando o seu Filho, na nossa carne, a fim de por Ele arrancar os homens do poder das trevas e de Satanás” 23.

Não obstante, o demônio continua a deter certo poder sobre o mundo, na medida em que os homens rejeitam os frutos da Redenção. Exerce o seu domínio sobre aqueles que, de uma forma ou de outra, se entregam voluntariamente a ele, preferindo o reino das trevas ao reino da graça 24. Por isso não nos devemos surpreender se tantas vezes vemos triunfar o mal e ser lesada a justiça.

Deve dar-nos uma grande confiança saber que o Senhor nos deixou muitos meios para vencer e para viver no mundo com a paz e a alegria de um bom cristão. Entre esses meios contam-se a oração, a mortificação, a freqüente recepção da Sagrada Eucaristia e a Confissão, bem como o amor à Virgem Maria. Com Nossa Senhora caminhamos sempre seguros.

O uso da água benta é também uma proteção eficaz contra a ação do demônio. “Perguntas-me por que te recomendo sempre, com tanto empenho, o uso diário da água benta. – Podia dar-te muitas razões. Bastará, com certeza, esta da Santa de Ávila: «De nenhuma coisa fogem tanto os demônios, para não voltar, como da água benta»” 25.

João Paulo II exorta-nos a rezar com plena consciência as palavras que dizemos no último pedido do Pai Nosso: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, do Maligno. Fazei, ó Senhor, que não cedamos ante a infidelidade a que nos induz aquele que foi infiel desde o começo” 26. O nosso esforço por viver melhor nestes dias da Quaresma a fidelidade àquilo que sabemos que Deus nos pede é a melhor manifestação de que, ao non serviam não servirei – do demônio, queremos opor o nosso serviam pessoal: Eu te servirei, Senhor.

(1) Cfr. Mt 4, 8-11; (2) Mt 13, 25; (3) Mt 13, 19; (4) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 37; (5) João Paulo II, Audiência geral, 20-VIII-1986; (6) 1 Pe 5, 8; (7) Conc. Vat. II, Const. Sacrossanctum Concilium, 6; (8) cfr. 1 Cor 10, 13; (9) Conc. Lat. IV, 1215; Dz 800 (428); (10) Jo 8, 44; (11) cfr. Hebr 2, 14; (12) cfr. Sab 2, 24; (13) cfr. Mt 13, 28-39; (14) João Paulo II, Audiência geral, 13-VIII-1986; (15) Card. J. H. Newman, Sermão para o Domingo II da Quaresma. Mundo e pecado; (16) Cassiano, Colationes, 7; (17) ib.; (18) Cura d’Ars, Sermão sobre as tentações; (19) São João da Cruz, Cântico espiritual, 3, 9; (20) At 10, 39; (21) 1 Jo 3, 8; (22) Jo 12, 31; (23) Conc. Vat. II, Decr. Ad gentes, 3; (24) cfr. João Paulo II, op. cit.; (25) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 572; (26) João Paulo II, op. cit.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


02 de Março 2020

A SANTA MISSA

1ª Semana da Quaresma – Segunda-feira 
Cor: Roxa

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1ª Leitura: Lv 19, 1-2.11-18

“Julga teu próximo conforme a justiça.”

Leitura do Livro do Levítico

1 O Senhor falou a Moisés, dizendo: 2 ‘Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel, e dize-lhes: Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo. 11 Não furteis, não digais mentiras, nem vos enganeis uns aos outros. 12 Não jureis falso por meu nome, profanando o nome do Senhor teu Deus. Eu sou o Senhor. 13 Não explores o teu próximo nem pratiques extorsão contra ele. Não retenhas contigo a diária do assalariado até o dia seguinte. 14 Não amaldiçoeis o surdo, nem ponhas tropeço diante do cego, mas temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor. 15 Não cometas injustiças no exercício da justiça; não favoreças o pobre nem prestigieis o poderoso. Julga teu próximo conforme a justiça. 16 Não sejas um maldizente entre o teu povo. Não conspires, caluniando-o, contra a vida do teu próximo. Eu sou o Senhor. 17 Não tenhas no coração ódio contra teu irmão. Repreende o teu próximo, para não te tornares culpado de pecado por causa dele. 18 Não procures vingança, nem guardes rancor aos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 18 B (19), 8.9.10.15 (R. Jo 6, 63c)

 R. Ó Senhor, vossas palavras são espírito e vida!

8A lei do Senhor Deus é perfeita,
conforto para a alma!
O testemunho do Senhor é fiel,*
sabedoria dos humildes.      R.

Os preceitos do Senhor são precisos,
alegria ao coração.
O mandamento do Senhor é brilhante,*
para os olhos é uma luz.      R.

10 É puro o temor do Senhor,
imutável para sempre.
Os julgamentos do Senhor são corretos
e justos igualmente.      R.

15 Que vos agrade o cantar dos meus lábios
e a voz da minha alma;
que ela chegue até vós, ó Senhor,
meu Rochedo e Redentor!      R.

Evangelho: Mt 25, 31-46 

 “Assentar-se-á em seu trono glorioso
e separará uns dos outros.” 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 31 Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. 32 Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33 E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. 34 Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! 35 Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; 36 eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’. 37 Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? com sede e te demos de beber? 38 Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? 39 Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’ 40 Então o Rei lhes responderá: Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’ 41 Depois o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: `Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. 42 Pois eu estava com fome e não me destes de comer; eu estava com sede e não me destes de beber; 43 eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar’. 44 E responderão também eles: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, ou nu, doente ou preso, e não te servimos?’ 45 Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!’ 46 Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna’.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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01 de Março 2020

A SANTA MISSA

1º Domingo da Quaresma – Ano A
Cor: Roxa

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1ª Leitura: Gn 2, 7-9; 3, 1-7

Criação e pecado dos primeiros pais. 

Leitura do Livro do Gênesis

O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem tornou-se um ser vivente. 8 Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, ao oriente, e ali pôs o homem que havia formado. 9 E o Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores de aspecto atraente e de fruto saboroso ao paladar, a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. 3.1 A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: ‘É verdade que Deus vos disse: ‘Não comereis de nenhuma das árvores do jardim?’ ‘ 2 E a mulher respondeu à serpente: ‘Do fruto das árvores do jardim, nós podemos comer. 3 Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus nos disse: ‘Não comais dele nem sequer o toqueis, do contrário, morrereis.” 4 A serpente disse à mulher: ‘Não, vós não morrereis. Mas Deus sabe que no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como Deus conhecendo o bem e o mal’. 6 A mulher viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente para os olhos e desejável para se alcançar conhecimento. E colheu um fruto, comeu e deu também ao marido, que estava com ela, e ele comeu. Então, os olhos dos dois se abriram; e, vendo que estavam nus, teceram tangas para si com folhas de figueira.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 50 (51), 3-4.5-6a.12-13.14.17 (R. cf. 3a)

R. Piedade, ó Senhor, tende piedade,
pois pecamos contra vós.

Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! *
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
Lavai-me todo inteiro do pecado, *
e apagai completamente a minha culpa!      R.

5Eu reconheço toda a minha iniqüidade,*
o meu pecado está sempre à minha frente.
Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei,*
e pratiquei o que é mau aos vossos olhos!       R.

12 Criai em mim um coração que seja puro,*
dai-me de novo um espírito decidido.
13Ó Senhor, não me afasteis de vossa face,*
nem retireis de mim o vosso Santo Espírito!      R.

14 Dai-me de novo a alegria de ser salvo*
e confirmai-me com espírito generoso!
17 Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar,*
e minha boca anunciará vosso louvor!       R. 

2ª Leitura: Rm 5, 12-19

 “Onde o pecado abundou superabundou a graça.” 

Leitura da Carta de São Paulo apóstolo aos Romanos

Irmãos: 12 Consideremos o seguinte: O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram… 13 Na realidade, antes de ser dada a Lei, já havia pecado no mundo. Mas o pecado não pode ser imputado, quando não há lei. 14 No entanto, a morte reinou, desde Adão até Moisés, mesmo sobre os que não pecaram como Adão, – o qual era a figura provisória daquele que devia vir -. 15 Mas isso não quer dizer que o dom da graça de Deus seja comparável à falta de Adão! A transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem mais superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos. 16 Também, o dom é muito mais eficaz do que o pecado de um só. Pois a partir de um só pecado o julgamento resultou em condenação, mas o dom da graça frutifica em justificação, a partir de inúmeras faltas. 17 Por um só homem, pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça. 18 Como a falta de um só acarretou condenação para todos os homens, assim o ato de justiça de um só trouxe, para todos os homens, a justificação que dá a vida. 19 Com efeito, como pela desobediência de um só homem a humanidade toda foi estabelecida numa situação de pecado, assim também, pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça.

– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.

Evangelho: Mt 4, 1-11 

 Jesus jejuou durante quarenta dias e foi tentado. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo: o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. 2 Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, teve fome. Então, o tentador aproximou-se e disse a Jesus: ‘Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!’ 4 Mas Jesus respondeu: ‘Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’. Então o diabo levou Jesus à Cidade Santa, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo, e lhe disse: ‘Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’. 7 Jesus lhe respondeu: ‘Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus!’ 8 Novamente, o diabo levou Jesus para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória, 9 e lhe disse: ‘Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar.’ 10 Jesus lhe disse: ‘Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a ele prestarás culto.’ 11 Então o diabo o deixou. E os anjos se aproximaram e serviram a Jesus.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Santo Albino

01 de Março

Santo Albino

Albino nasceu no ano 469, em Vannes, na Bretanha. Era filho de família nobre e cristã. Desde criança, foi notadamente inteligente, piedoso e generoso. Ainda jovem manifestou vocação religiosa. Aos vinte anos foi ordenado monge no Mosteiro de Tintilante e aos vinte e cinco anos foi eleito abade deste mosteiro, que também era conhecido como Mosteiro de Nossa Senhora de Nantili.

Dom Albino, como era chamado, exerceu seu ministério de abade durante vinte e cinco anos. Nesse tempo, manteve-se fiel à sua vocação, à humildade, à caridade fraterna, à doutrina sobre os sacramentos e às tradições cristãs. Destacou-se fazendo-se pai e irmão dos mais pobres, dos humildes, dos perseguidos e prisioneiros. Por causa de seu testemunho de santidade, foi eleito bispo de Angers pelos padres e pelo povo.

Como bispo, trabalhou arduamente pela transformação dos costumes da região. Com efeito, o povo, a começar pelos mais ricos, habituou-se a contrair casamentos incestuosos, tomando por esposas as próprias irmãs e até filhas. Dom Albino convocou dois concílios regionais em Órleans com o objetivo de mudar esta situação. Um no ano 538 e outro em 541. Participou ativamente dos dois, colocando sua vida em risco, pois muitos poderosos não queriam abrir mão do costume dos incestos. Mas sua luta teve sucesso e os incestos diminuíram drasticamente depois dessas intervenções. Foi um grande salto para aquela sociedade.

Certa vez, Dom Albino visitou uma mulher chamada Etheria, que estava na prisão a mando do Rei Childebert, por causa de dividas para com o Estado. Ao vê-lo, Etheria atirou-se aos pés de Dom Albino e implorando ajuda. Um guarda ameaçou bater nela. Dom Albino apenas soprou nele e este caiu como morto. Depois deste episódio, Etheria foi solta.

Em outra ocasião, ao passar perto da torre da prisão de Angers, Dom Albino ouviu gritos e gemidos que denunciavam o terrível sofrimento dos prisioneiros, que eram duramente maltratados. O santo foi ao juiz local interceder pela libertação dos presos que podiam ser soltos e por um mínimo de respeito para os que não podiam ser soltos. O magistrado, porém, recusou. Dom Albino voltou à torre e orou ali durante algumas horas. Depois disso, um grande deslocamento de terra derrubou a torre libertando os prisioneiros. E o mais interessante é que eles seguiram Dom Albino até à igreja de São Mauricio. Ali se estabeleceram, transformaram suas vidas sob as orientações do santo e se tornaram cristãos exemplares.

Certa vez aproximou-se dele um homem sofrendo terrivelmente com dores nos rins. O homem prostrou-se aos pés do santo e implorou sua benção. Santo Albino, cheio de misericórdia, impôs as mãos sobre o homem e o abençoou. No mesmo instante o homem expeliu um cálculo renal e ficou curado. Por causa deste fato, Santo Albino passou a ser invocado como protetor por aqueles que sofrem de doenças renais.

Morte Santo Albino faleceu no dia 1 de março de 550. Após grandioso funeral, foi sepultado na igreja de São Pedro em Angers. Devido à sua fama de santidade e culto intenso que o povo lhe prestava, em 556 dedicou-se a ele uma igreja, sob a qual construíram uma cripta. Para lá seu corpo foi transladado. Ao lado dessa igreja, seguidores de Dom Albino construíram um mosteiro beneditino e elegeram, seu discípulo Sapaudo como primeiro abade. Logo a devoção a Santo Albino espalhou-se por toda a Europa.

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br


As Tentações de Jesus

TEMPO DA QUARESMA. PRIMEIRO DOMINGO

– O Senhor permite que sejamos tentados para que cresçamos nas virtudes.
– As tentações de Jesus. O demônio prova-nos de maneira semelhante.
– O Senhor está sempre ao nosso lado. Armas para vencer.

I. “A QUARESMA COMEMORA os quarenta dias que Jesus passou no deserto, como preparação para esses anos de pregação que culminam na Cruz e na glória da Páscoa. Quarenta dias de oração e de penitência que, ao findarem, desembocam na cena que a liturgia de hoje oferece à nossa consideração no Evangelho da Missa: as tentações de Cristo (cfr. Mt 4, 1-11). É uma cena cheia de mistério, que o homem em vão pretende entender – Deus que se submete à tentação, que deixa agir o Maligno –, mas que pode ser meditada se pedirmos ao Senhor que nos faça compreender a lição que encerra” 1.

É a primeira vez que o demônio intervém na vida de Jesus, e fá-lo abertamente. Põe à prova Nosso Senhor; talvez queira averiguar se chegou a hora do Messias. Jesus deixa-o agir para nos dar exemplo de humildade e para nos ensinar a vencer as tentações que sofreremos ao longo da nossa vida: “Como o Senhor fazia todas as coisas para nos ensinar – diz São João Crisóstomo –, quis também ser conduzido ao deserto e ali travar combate com o demônio a fim de que os batizados, se depois do batismo sofrem maiores tentações, não se assustem com isso, como se fosse algo de inesperado” 2. Se não contássemos com as tentações que temos de sofrer, abriríamos a porta a um grande inimigo: o desalento e a tristeza.

Jesus quis ensinar-nos com o seu exemplo que ninguém deve considerar-se dispensado de passar por provas. “As tentações de Nosso Senhor – diz Knox – são também as tentações dos seus servidores individualmente. Mas, como é natural, o grau é diferente: o demônio não nos oferecerá a vós e a mim todos os reinos do mundo. Conhece o mercado e, como bom vendedor, oferece exatamente o que calcula que o comprador quererá. Suponho que pensará, com bastante razão, que quase todos nós podemos ser comprados por cinco mil libras por ano, e muitos de nós por muito menos. Também não nos oferece as suas vantagens de modo tão aberto, antes envolve as suas ofertas em toda a espécie de formas plausíveis. Mas se vê a menor oportunidade, não demora muito em mostrar-nos como podemos conseguir aquilo que queremos, se concordamos em ser infiéis a nós mesmos e, muitas vezes, à nossa fé católica” 3.

Como nos lembra o Prefácio da Missa de hoje, o Senhor ensina-nos com a sua conduta como devemos vencer as tentações e como tirar proveito das provas por que iremos passar. Ele “permite as tentações e serve-se delas, providencialmente, para te purificar, para te fazer santo, para te desprender melhor das coisas da terra, para te conduzir aonde Ele quer e por onde quer, para te fazer feliz numa vida que não seja cômoda e para te dar maturidade, compreensão e eficácia no teu trabalho apostólico com as almas, e..., sobretudo, para te fazer humilde, muito humilde!” 4 Feliz o homem que suporta a tentação – diz o Apóstolo Tiago – porque, depois de provado, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam 5.

II. O DEMÔNIO TENTA-NOS aproveitando as necessidades e fraquezas da natureza humana. O Senhor, depois de ter jejuado durante quarenta dias e quarenta noites, teve fome, como qualquer homem nas mesmas circunstâncias. Foi este o momento em que o tentador se aproximou dEle propondo-lhe que convertesse as pedras que havia por ali no pão de que tanto necessitava e que desejava.

E Jesus “não só rejeita o alimento que o corpo lhe pedia, como afasta de si uma incitação maior: a de usar do poder divino para remediar, digamos assim, um problema pessoal [...]. Generosidade do Senhor que se humilhou, que aceitou plenamente a condição humana, que não se serve do seu poder de Deus para fugir das dificuldades ou do esforço; que nos ensina a ser fortes, a amar o trabalho, a apreciar a nobreza humana e divina de saborear as conseqüências da entrega” 6.

Esta passagem do Evangelho ensina-nos também a estar especialmente vigilantes nesses momentos de fraqueza ou cansaço que nos podem atingir, a nós e àqueles a quem temos obrigação de ajudar. São momentos ruins, em que o demônio talvez intensifique a tentação para que as nossas vidas tomem outros rumos, alheios à vontade de Deus.

Na segunda tentação, o demônio transportou-o à Cidade Santa, situou-o no pináculo do templo e disse-lhe: Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito: Ele ordenou aos seus anjos que te tomassem nas suas mãos, com cuidado, para não machucares o teu pé nalguma pedra. Respondeu Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus.

Era uma tentação aparentemente capciosa: se te recusas, demonstrarás que não confias em Deus plenamente; se aceitas, obrigas Deus a enviar em proveito pessoal os seus anjos para que te salvem. O demônio não sabe que Jesus não teria necessidade de anjo algum. No fim da sua vida terrena, Jesus ouvirá uma proposta parecida e com palavras quase idênticas: Se é o rei de Israel, desça agora da cruz e creremos nele 7.

Cristo nega-se a fazer milagres inúteis, por vaidade ou por vanglória. Nós devemos estar atentos para saber rejeitar tentações semelhantes: o desejo de ficar bem, que pode surgir até nas coisas mais santas; o prurido de montar em benefício próprio falsas argumentações que pretendem fundar-se na Sagrada Escritura; a atitude cética de quem pede (e até exige) provas ou sinais extraordinários para crer, esquecido de que o Senhor nos dá no meio da nossa vida cotidiana graças e testemunhos suficientes para iluminarem o caminho da fé.

Na última das tentações, o demônio oferece a Jesus toda a glória e poder terreno que um homem pode ambicionar. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-lhe: Dar-te-ei tudo isto se, prostrando-te diante de mim, me adorares. O Senhor rechaça definitivamente o tentador.

O demônio promete sempre mais do que pode dar. A felicidade está muito longe das suas mãos. Toda a tentação é sempre um logro miserável. Mas, para nos experimentar, o demônio conta com as nossas ambições.

E a pior delas é desejar a todo o custo a glória pessoal: a ânsia de nos procurarmos sistematicamente a nós mesmos nas coisas que fazemos e projetamos. Muitas vezes, o pior dos ídolos é o nosso próprio eu. Temos que vigiar, em luta constante, porque dentro de nós permanece a tendência de desejar a glória humana, apesar de termos dito ao Senhor repetidamente que não queremos outra glória que não a dEle. Jesus também se dirige a nós quando diz: Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás. E é isto o que nós desejamos e pedimos: servir a Deus alicerçados na vocação a que Ele nos chamou.

III. O SENHOR está sempre ao nosso lado, em cada tentação, e nos diz afetuosamente: Confiai: Eu venci o mundo 8. E nós nos apoiamos nEle porque, se não o fizéssemos, pouco conseguiríamos sozinhos. Tudo posso nAquele que me conforta 9. O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? 10

Podemos prevenir as tentações mediante a mortificação constante, mediante a prática da caridade e a guarda dos sentidos internos e externos. Devemos também fugir das ocasiões de pecar, por pequenas que sejam, pois aquele que ama o perigo nele perecerá 11.

E juntamente com a mortificação, a oração: Vigiai e orai para que não entreis em tentação 12. “É necessário repetir muitas vezes e com confiança a oração do Pai Nosso: Não nos deixeis cair em tentação. Já que o próprio Senhor põe nos lábios humanos esse pedido, é bom repeti-lo incessantemente. E também combatemos a tentação manifestando-a abertamente ao diretor espiritual, pois expô-la é vencê-la. Quem revela as suas tentações ao diretor espiritual pode estar certo de que Deus lhe concede a graça necessária para ser bem orientado” 13.

Contamos sempre com a graça de Deus para vencer qualquer tentação. “Não te esqueças, meu amigo, de que precisas de armas para vencer nesta batalha espiritual. As tuas armas serão: a oração contínua, a sinceridade e franqueza com o teu diretor espiritual, a Santíssima Eucaristia e o Sacramento da Penitência, um generoso espírito de mortificação cristã – que te levará a fugir das ocasiões e a evitar a ociosidade –, a humildade de coração e uma devoção terna e filial à Santíssima Virgem – Consoladora dos aflitos e Refúgio dos pecadores. Dirige-te sempre a Ela com confiança e diz-lhe: «Mater mea, fiducia mea»; Minha Mãe, confiança minha!” 14

(1) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 61; (2) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 13, 1; (3) R. A. Knox, Sermões pastorais, pág. 79; (4) S. Canals, Reflexões espirituais, 3º ed., Quadrante, São Paulo, 1988, pág. 98; (5) Ti 1, 12; (6) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 61; (7) Mt 27, 42; (8) Jo 16, 33; (9) Fil 4, 13; (10) Sl 26, 1; (11) Ecle 3, 27; (12) Mt 26, 41; (13) B. Baur, A vida espiritual, Prumo, Lisboa, 1960, pág. 104; (14) S. Canals, op. cit., págs. 98-99.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


Salvar o que estava perdido

TEMPO DA QUARESMA. SÁBADO DEPOIS DAS CINZAS

– Jesus vem como médico para curar toda a humanidade, pois todos estávamos doentes. Humildade para sermos curados.
– Cristo soluciona os nossos males. Eficácia do sacramento da Penitência.
– Esperança no Senhor quando sentimos as nossas fraquezas. Não têm necessidade de médico os sãos, mas os enfermos. Esperança no apostolado.

I. O EVANGELHO DA MISSA1 conta-nos a vocação de Mateus: a chamada que o Senhor lhe dirigiu e a rápida resposta que o cobrador de tributos lhe deu. Ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu.

O novo Apóstolo quis mostrar o seu agradecimento a Jesus com um banquete que São Lucas qualifica de grande. Estavam sentados à mesa um grande número de cobradores e outros. Ali estavam todos os seus amigos.

Os fariseus escandalizaram-se. Perguntavam aos discípulos: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores? Os publicanos eram considerados pecadores por causa dos benefícios exorbitantes que podiam obter na sua profissão e das relações que mantinham com os gentios.

Jesus respondeu aos fariseus com estas palavras consoladoras: Não são os que gozam de boa saúde que necessitam de médico, mas os enfermos. Não vim chamar à conversão os justos, mas os pecadores 2.

Jesus vem oferecer o seu reino a todos os homens; a sua missão é universal. “O diálogo de salvação não ficou condicionado aos méritos daqueles a quem se dirigia; abriu-se a todo os homens, sem discriminação alguma...” 3 Jesus vem para todos, pois todos estamos doentes e somos pecadores: Ninguém é bom a não ser Deus 4. Todos nós devemos recorrer à misericórdia e ao perdão de Deus para ter a vida 5 e alcançar a salvação. A humanidade não está dividida em dois blocos: os que já estão justificados pelas suas forças e os pecadores. Todos necessitamos diariamente do Senhor. Os que pensam não ter necessidade de Deus não conseguem a saúde, continuam mergulhados na sua morte ou na sua doença.

As palavras do Senhor, que se apresenta como Médico, animam-nos a pedir humilde e confiadamente perdão dos nossos pecados e também dos das pessoas que parecem querer continuar vivendo afastadas de Deus. Hoje exclamamos com Santa Teresa: “Oh que coisa difícil vos peço, meu Deus verdadeiro: que queirais a quem não vos quer, que abrais a porta a quem não vos chama, que deis saúde a quem gosta de estar doente e anda procurando a doença! Vós dizeis, meu Senhor, que vindes chamar os pecadores: são estes, Senhor, os pecadores verdadeiros. Não olheis a nossa cegueira, meu Deus, mas o muito sangue que o vosso Filho derramou por nós. Resplandeça a vossa misericórdia no meio de tão grande maldade; considerai, Senhor, que somos obra das vossas mãos” 6. Se recorrermos assim a Jesus, com humildade, Ele sempre terá misericórdia de nós e daqueles que procuramos aproximar dEle.

II. NO ANTIGO TESTAMENTO, o Messias é descrito como o pastor que virá cuidar com solicitude das suas ovelhas e curar as que estão feridas ou doentes 7. O Senhor veio buscar o que estava perdido, chamar os pecadores, dar a sua vida em resgate por muitos 8. Como tinha sido profetizado, foi Ele quem suportou os nossos sofrimentos e carregou as nossas dores, e graças às suas chagas fomos curados 9.

Cristo é o remédio para os nossos males: todos andamos doentes e por isso temos necessidade de Cristo. Ele “é Médico, e cura o nosso egoísmo se deixarmos que a sua graça penetre até o fundo da alma” 10. Devemos procurá-lo como o doente procura o médico, dizendo-lhe a verdade sobre o que sentimos, com o desejo de nos curarmos. “Jesus advertiu-nos de que a pior doença é a hipocrisia, o orgulho que leva a dissimular os pecados próprios. Com o Médico, é imprescindível que tenhamos uma sinceridade absoluta, que lhe expliquemos toda a verdade e digamos: Domine, si vis, potes me mundare (Mt 8, 2), Senhor, se quiseres – e Tu queres sempre –, podes curar-me. Tu conheces a minha debilidade; sinto estes sintomas e experimento estas outras fraquezas. E descobrimos com simplicidade as chagas; e o pus, se houver pus. Senhor, Tu que curaste tantas almas, faz com que, ao ter-te no meu peito ou ao contemplar-te no Sacrário, te reconheça como Médico divino” 11.

Umas vezes, o Senhor atua diretamente na nossa alma: Quero, fica limpo 12, segue adiante, sê mais humilde, não te preocupes. Noutras ocasiões, e sempre que haja um pecado grave, o Senhor diz: Ide e mostrai-vos ao sacerdote 13, ide ao sacramento da Penitência, onde a alma encontra sempre o remédio oportuno.

“Refletindo sobre a função deste Sacramento – diz o São João Paulo II –, a consciência da Igreja descobre nele, além do caráter judicial [...], um caráter terapêutico ou medicinal. E isto relaciona-se com a comprovação de que, no Evangelho, Cristo se apresenta freqüentemente como médico, enquanto a sua obra redentora é muitas vezes chamada, desde a antigüidade cristã, «remédio da salvação» (medicina salutis). «Eu quero curar, não acusar» – dizia Santo Agostinho, referindo-se ao exercício da pastoral penitencial –, e é graças ao remédio da Confissão que a experiência do pecado não degenera em desespero” 14. Desemboca numa grande paz, numa imensa alegria.

Contamos sempre com o alento e a ajuda do Senhor para voltar e recomeçar. É Ele quem dirige a luta, e “um chefe no campo de batalha estima mais o soldado que, depois de ter fugido, volta e ataca o inimigo com mais ardor do que aquele que nunca desertou, mas que também nunca empreendeu uma ação valorosa” 15. Santifica-se não somente aquele que nunca cai, mas também aquele que sempre se levanta. O mal não está em ter defeitos – porque não há quem não os tenha –, mas em pactuar com eles, em não lutar. E Cristo nos cura como Médico e depois nos ajuda a lutar.

III. SE ALGUMA VEZ nos sentirmos especialmente desanimados por força de alguma doença espiritual que nos pareça incurável, não nos esqueçamos destas consoladoras palavras de Cristo: Não são os que gozam de boa saúde que necessitam de médico, mas os enfermos. Tudo tem remédio. O Senhor está sempre muito perto de nós, mas especialmente nesses momentos, por maior que tenha sido a falta, por muitas que sejam as misérias. Basta sermos sinceros de verdade.

“Todas as tuas doenças serão curadas – diz Santo Agostinho –. «Mas são muitas», dirás. Mais poderoso é o Médico. Para o Todo-Poderoso, não há doença incurável; limita-te a deixar-te curar, coloca-te nas suas mãos” 16. Devemos aproximar-nos do Senhor como aquelas pessoas simples que o rodeavam, como os cegos, os coxos e os paralíticos que o procuravam porque desejavam ardentemente a sua cura. Só aquele que sabe e se sente manchado experimenta a necessidade profunda de ficar limpo; só quem é consciente das suas feridas e das suas chagas experimenta a urgência de ser curado. Devemos sentir a profunda preocupação de curar todos os pontos que o nosso exame de consciência nos mostre que devem ser curados.

No dia em que foi chamado, Mateus deixou a sua antiga vida para recomeçar outra nova ao lado de Cristo. Hoje, podemos fazer nossa esta oração de Santo Ambrósio: “Como ele, eu também quero deixar a minha antiga vida e não seguir outro que não sejas Tu, Senhor, Tu que curas as minhas feridas. Quem poderá separar-me do amor de Deus que se manifesta em Ti?... Estou atado à fé, pregado nela; estou atado pelos santos vínculos do amor. Todos os teus mandamentos serão como um cautério que terei sempre aplicado ao meu corpo...; o remédio arde, mas afasta a infecção da chaga. Corta, pois, Senhor Jesus, a podridão dos meus pecados. Enquanto me tens unido a ti com os vínculos do amor, corta tudo o que está infectado. Apressa-te a lancetar as minhas paixões escondidas, secretas e múltiplas; abre a ferida, para que a doença não se propague por todo o corpo... Achei um médico que mora no Céu, mas que distribui os seus remédios na terra. Só Ele pode curar as minhas feridas, porque não as padece; só ele pode tirar do coração a pena, e da alma o temor, porque conhece as coisas mais íntimas” 17.

Não nos esqueçamos disto quando nos sentirmos esmagados pelo peso das nossas fraquezas. Mas também não o esqueçamos se alguma vez, no nosso apostolado pessoal, nos parecer que alguém tem uma doença da alma sem aparente solução. Existe solução; sempre existe.

(1) Lc 5, 27-32; (2) Lc 5, 31-32; (3) Paulo VI, Enc. Ecclesiam suam, 6-VIII-1964; (4) Mc 10, 18; (5) cfr. Jo 10, 28; (6) Santa Teresa, Exclamações, 8; (7) cfr. Is 61, 1 e segs.; Ez 34, 16 e segs.; (8) cfr. Lc 19, 10; (9) Is 53, 4 e segs.; (10) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 93; (11) ib.; (12) Mt 8, 3; (13) Lc 17, 14; (14) João Paulo II, Exort. Apost. Reconciliatio et paenitentia, 2-XII-1984, 31, II; (15) São Gregório Magno, Homilia sobre os Evangelhos, 4, 4; (16) Santo Agostinho, Comentário ao Salmo 102; (17) Santo Ambrósio, Comentário ao Evangelho segundo Lucas, 5, 27.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


Santa Gianna Beretta Molla

28 de Fevereiro

Santa Gianna Beretta Molla

Gianna Beretta nasce em Magenta (Milão, Itália) aos 04 de outubro de 1922. Desde sua primeira juventude, acolhe plenamente o dom da fé e a educação cristã, recebidas de seus ótimos pais. Esta formação religiosa ensina-lhe a considerar a vida como um dom maravilhoso de Deus, a ter confiança na Providência e a estimar a necessidade e a eficácia da oração.
Durante os anos de estudos e na Universidade, enquanto se dedicava diligentemente aos seus deveres, vincula sua fé com um compromisso generoso de apostolado entre os jovens da Ação Católica e de caridade para com os idosos e os necessitados nas Conferências de São Vicente. Laureada em medicina e cirurgia em 1949 pela Universidade de Pavia (Itália), em 1950 abre seu consultório médico em Mêsero (nos arredores de Milão). Especializa-se em pediatria na Universidade de Milão em 1952 e, entre seus clientes, demonstra especial cuidado para as mães, crianças, idosos e pobres.
Enquanto exercia sua profissão médica, que a considerava como uma «missão», aumenta seu generoso compromisso para com a Ação Católica, e consagra-se intensivamente em ajudar as adolescentes. Através do alpinismo e do esqui, manifesta sua grande alegria de viver e de gozar os encantos da natureza. Através da oração pessoal e da dos outros, questiona-se sobre sua vocação, considerando-a como dom de Deus. Opta pela vocação matrimonial, que a abraça com entusiasmo, assumindo total doação «para formar uma família realmente cristã».
Inicia seu noivado com o engenheiro Pedro Molla. Prepara-se ao matrimônio com expansiva alegria e sorriso. Ao Senhor tudo agradece, e ora. Na basílica de São Martinho, em Magenta, casa aos 24 de setembro de 1955. Transforma-se em mulher totalmente feliz. Em novembro de 1956, já é a radiosa mãe de Pedro Luís; em dezembro de 1957 de Mariolina e, em julho de 1959, de Laura. Com simplicidade e equilíbrio, harmoniza os deveres de mãe, de esposa, de médica e da grande alegria de viver.
Em setembro de 1961, no final do segundo mês de gravidez, vê-se atingida pelo sofrimento e pela dor. Aparece um fibroma no útero. Antes de ser operada, embora sabendo o grave perigo de prosseguir com a gravidez, suplica ao cirurgião que salve a vida que traz em seu seio e, então, entrega-se à Divina Providência e à oração. Com o feliz sucesso da cirurgia, agradece intensamente a Deus a salvação da vida do filho. Passa os sete meses que a distanciam do parto com admirável força de espírito e com a mesma dedicação de mãe e de médica. Receia e teme que seu filho possa nascer doente e suplica a Deus que isto não aconteça.
Alguns dias antes do parto, sempre com grande confiança na Providência, demonstra-se pronta a sacrificar sua vida para salvar a do filho: "Se deveis decidir entre mim e o filho, nenhuma hesitação: escolhei - e isto o exijo - a criança. Salvai-a"! Na manhã de 21 de abril de 1962 nasce Joana Manuela. Apesar dos esforços para salvar a vida de ambos, na manhã de 28 de abril, em meio a atrozes dores e após ter repetido a jaculatória: "Jesus eu te amo, eu te amo" morre santamente. Tinha 39 anos. Seus funerais transformaram-se em grande manifestação popular de profunda comoção, de fé e de oração. A santa repousa no cemitério de Mêsero, distante quatro quilômetros de Magenta, nos arredores de Milão (Itália).
"Meditata immolazione»"(imolação meditada), assim Paulo VI definiu o gesto da Beata Gianna recordando, no Ângelus dominical de 23 de setembro de 1973, "uma jovem mãe da Diocese de Milão que, para dar a vida à sua filha sacrificava, com imolação meditada, a própria". É evidente, nas palavras do Santo Padre, a referência cristológica ao Calvário e à Eucaristia.
Foi beatificada por São João Paulo II no dia 24 de abril de 1994, no Ano Internacional da Família, e canonizada, também por São João Paulo II no dia 16 de maio de 2004.

Milagres da Beatificação e Canonização:

Foi graças a dois milagres feitos no Brasil, atribuídos à pediatra italiana Gianna Beretta Molla, símbolo da luta contra o aborto, que ela foi proclamada santa pelo papa São João Paulo II.

Segundo a biografia oficial da nova santa, uma das poucas mulheres não-religiosas a alcançar a glória dos altares, conhecida como "a mártir do amor maternal" por ter preferido sacrificar a própria vida para dar à luz sua filha, o Brasil representava para ela um país ao qual queria ajudar, para onde pensou em se mudar na juventude como missionária leiga.

Mãe de família, médica pediatra, católica praticante, símbolo do "não" ao aborto, Gianna Beretta Molla (1922-1962), que em 1962 deu à luz sua quarta filha, Gianna Emanuela, não quis abortar apesar do fibroma uterino que acabou causando sua morte após dar à luz.

A nova santa escolheu levar sua gravidez até o fim, apesar de saber que tinha um tumor no útero e se negou a abortar, apesar das recomendações de vários médicos.

Beatificada em 1994 pelo Papa em plena luta entre a Santa Sé e a ONU sobre as políticas para o controle da natalidade e o aborto, em 1977 Beretta Molla intercedeu, segundo a Igreja, na cura milagrosa de uma gestante no quarto mês de gravidez, em Grajaú (Maranhão, centro).

Após o milagre ter sido aprovado pelo Pontífice em 1992, ela foi beatificada em 24 de abril de 1994, ano internacional da família, para que fosse venerada nos altares como modelo de "mãe de família".

Foi o primeiro passo para se tornar santa, mas para isto seria preciso demonstrar um segundo milagre.

A pediatra italiana, que morreu aos 40 anos, costuma ser usada como exemplo pelas autoridades católicas quando surge a discussão sobre o aborto, ao qual a Igreja se opõe firmemente, apesar de a prática ser legal em vários países da Europa, inclusive na Itália, e ilegal em quase toda a América Latina.

E é justamente por servir de exemplo que foi invocada por um jovem casal de Franca (São Paulo), que durante o jubileu do ano 2000 lhe pediu em suas orações que favorecesse o nascimento de sua filha, apesar da perda de todo o líquido amniótico.

O nascimento de Gianna Maria Arcolino Comparini, quarta filha do casal, depois de nos primeiros meses de gravidez se romper a membrana que contém o líquido para a sobrevivência do feto, foi declarado como milagre autêntico pelas autoridades eclesiásticas.

Mesmo que os médicos recomendem a interrupção da gravidez nestes casos, pois tanto o bebê quanto a mãe podem se infectar e o feto normalmente não resiste, a mãe brasileira não quis fazer o aborto e levou a gravidez até o fim, dando à luz uma menina saudável.

A canonização da médica, nascida em Magenta (norte da Itália), defendida pela organização conservadora Ação Católica, na qual militou desde jovem, foi elogiada por vários cardeais e prelados.

À cerimônia solene, presidida pelo Papa, estiveram presentes vários ativistas da organização, assim como representantes da Igreja brasileira.

O caso de nossa querida santa foi qualificado pelo papa Paulo VI como o de "uma mãe que para dar a vida ao seu filho, sacrifica a sua própria com meditada imolação".

Fonte: http://www.santosebeatoscatolicos.com

Tempo de Penitência

TEMPO DA QUARESMA. SEXTA-FEIRA DEPOIS DAS CINZAS

– O jejum e outras manifestações de penitência na pregação de Jesus e na vida da Igreja.
– Contemplar a Humanidade Santíssima do Senhor na Via-Sacra. Ânsia redentora.
– A fonte das mortificações pequenas que o Senhor nos pede está na tarefa cotidiana. Exemplos. As mortificações passivas. Importância do espírito de penitência na mortificação da imaginação, da inteligência e da memória.

I. NARRA O EVANGELHO da Missa 1 que os discípulos de João Batista perguntaram a Jesus: Por que é que nós e os fariseus jejuamos com freqüência e os teus discípulos não jejuam?

O jejum era naquela época, como o é também hoje, uma manifestação do espírito de penitência. “No Antigo Testamento, descobre-se com uma riqueza cada vez maior o sentido religioso da penitência, como um ato religioso, pessoal, que tem por termo o amor e o abandono em Deus” 2. Acompanhado pela oração, serve para manifestar a humildade diante de Deus 3: aquele que jejua volta-se para o Senhor numa atitude de dependência e abandono total. Na Sagrada Escritura, vemos as pessoas jejuarem e realizarem outras obras de penitência antes de empreenderem uma tarefa difícil 4, para implorarem o perdão de uma culpa 5, obterem o fim de uma calamidade 6, conseguirem a graça necessária para o cumprimento de uma missão 7, prepararem-se para o encontro com Deus 8, etc.

João Batista, conhecedor dos frutos do jejum, ensinou aos seus discípulos a importância e a necessidade desta prática de penitência. Coincidia neste ponto com os fariseus piedosos e amantes da Lei, que, como vimos, se surpreendem de ver que Jesus não incute nos Apóstolos esse mesmo espírito. Mas o Senhor explica: Podem os amigos do esposo afligir-se enquanto o esposo está com eles? 9esposo, segundo os Profetas, é o próprio Deus, que manifesta o seu amor aos homens 10.

Cristo declara aqui uma vez mais a sua divindade, e chama aos seus discípulos amigos do esposo, seus amigos. Estão com Ele e não necessitam de jejuar. Mas quando o esposo for arrebatado, então jejuarão. Quando Jesus não estiver visivelmente presente, será necessária a mortificação para se poder vê-lo com os olhos da alma.

Todo o sentido penitencial do Antigo Testamento “não era senão a sombra do que viria a acontecer. A penitência – exigência da vida interior confirmada pela experiência religiosa da humanidade e objeto de um preceito especial da revelação divina – adquire em Cristo e na Igreja dimensões novas, infinitamente mais vastas e profundas” 11.

A Igreja dos primeiros tempos conservou as práticas penitenciais segundo o espírito definido por Cristo. Os Atos dos Apóstolos mencionam celebrações do culto acompanhadas de jejum 12. São Paulo, durante o seu ingente trabalho apostólico, não se contenta com padecer fome e sede quando as circunstâncias o exigem; acrescenta-lhes freqüentes jejuns por iniciativa própria 13. E a Igreja sempre permaneceu fiel a essa prática penitencial, não só fixando os dias em que os fiéis deviam guardar jejum em cada época, mas também recomendando-o como ato de piedade, sob a orientação do sacerdote na direção espiritual.

Mas o jejum é apenas uma das formas de penitência. Existem outras maneiras de mortificar o corpo, que devemos praticar e que nos facilitam a conversão e a união com Deus. Podemos examinar hoje como é que vivemos o sentido penitencial que a nossa Mãe a Igreja deseja que tenhamos em toda a nossa vida e de modo especial neste tempo litúrgico.

II. FAZEI PENITÊNCIA, diz Jesus no começo da sua vida pública. Temos necessidade dela para a nossa vida de cristãos e para desagravar o Senhor por tantos pecados pessoais e alheios. Sem um verdadeiro espírito de penitência e de conversão, seria impossível chegarmos à intimidade com Cristo e acabaríamos por ser dominados pelo pecado. Não devemos fugir da penitência por medo, por achá-la inútil ou por falta de espírito de fé. “Tens medo de penitência?... Da penitência, que te ajudará a obter a Vida eterna? No entanto, não vês como os homens, para conservarem esta pobre vida de agora, se submetem às mil torturas de uma cruenta operação cirúrgica?” 14 Fugir da penitência seria também fugir da santidade e talvez, pelas suas conseqüências, da própria salvação.

A nossa ânsia de identificação com Cristo há de levar-nos a aceitar o convite do Senhor para que padeçamos com Ele. A Quaresma prepara-nos para contemplar os acontecimentos da Paixão e Morte de Jesus; e as sextas-feiras da Quaresma, que lembram especialmente a Sexta-feira Santa em que Cristo consumou a Redenção, podem ser uma boa ocasião para meditarmos nos acontecimentos daquele dia, que se refletem tão bem na devoção tradicional da Via-Sacra. Por isso o conselho:

“A Via-Sacra. – Esta é que é devoção vigorosa e substancial! Quem dera que te habituasses a repassar esses catorze pontos da Paixão e Morte do Senhor, às sextas-feiras. – Eu te garanto que obterias fortaleza para toda a semana” 15.

Por meio desta devoção, contemplamos a Humanidade Santíssima de Cristo, a quem vemos sofrer como homem na sua carne, sem perder a majestade de Deus. Podemos assim reviver os momentos centrais da Redenção do mundo e contemplar Jesus condenado à morte, que carrega a Cruz e empreende um caminho que também nós devemos seguir. Cada vez que Jesus cai sob o peso da cruz, devemos encher-nos de assombro, porque são os nossos pecados – os pecados de todos os homens – que esmagam a Deus. E aflorarão no nosso íntimo profundos desejos de conversão: “A Cruz fende, desfaz com o seu peso os ombros do Senhor [...]. O corpo extenuado de Jesus cambaleia já sob a Cruz enorme. De seu Coração amorosíssimo mal chega um alento de vida aos membros chagados [...]. Tu e eu não podemos dizer nada: agora já sabemos por que pesa tanto a Cruz de Jesus. E choramos as nossas misérias e também a tremenda ingratidão do coração humano. Nasce do fundo da alma um ato de contrição verdadeira, que nos tira da prostração do pecado. Jesus caiu para que nós nos levantássemos: uma vez e sempre” 16.

III. A FONTE DAS MORTIFICAÇÕES que o Senhor nos pede está quase sempre nas tarefas cotidianas. Muitas vezes, essas oportunidades nascem com o próprio dia – levantar-nos à hora prevista, vencendo a preguiça nesse primeiro momento – e estendem-se ao longo das horas de trabalho e relacionamento. Mas, para aproveitá-las, é necessário antes de mais nada seguir este conselho: “Se de verdade desejas ser alma penitente – penitente e alegre –, deves defender, acima de tudo, os teus tempos diários de oração – de oração íntima, generosa, prolongada –, e hás de procurar que esses tempos não sejam quando calhar, mas a hora certa, sempre que te seja possível. Não cedas nestes detalhes. – Sê escravo deste culto cotidiano a Deus, e eu te asseguro que te sentirás constantemente alegre” 17.

Além das mortificações chamadas passivas, que se apresentam sem as procurarmos, existem as mortificações que nos propomos e procuramos, e que se chamam ativas. Dentre estas, têm especial importância para o progresso interior e para conseguirmos a pureza de coração as mortificações que se referem aos sentidos internos.

Em primeiro lugar, a mortificação da imaginação, evitando o monólogo interior – em que a fantasia corre à solta – e procurando transformá-lo em diálogo com Deus, presente na nossa alma em graça; ou lutando por dominar essa tendência a remoer um acontecimento que parece ter-nos deixado mal-parados, uma pequena injúria (feita provavelmente sem má intenção) que, se não reagimos a tempo, o amor-próprio e a soberba irão agigantando até nos tirarem a paz e enfraquecerem o esforço por viver continuamente na presença de Deus. Depois, a mortificação da memória, evitando lembranças inúteis, que nos fazem perder o tempo 18 e talvez nos possam trazer outras tentações de maior vulto. E por fim a mortificação da inteligência, para tê-la colocada no dever do momento presente 19, e para renunciarmos ao juízo próprio sempre que seja necessário a fim de vivermos melhor a humildade e a caridade. Em resumo, trata-se de afastarmos de nós hábitos internos que não estariam bem num homem de Deus 20, numa mulher de Deus.

Decidamo-nos a acompanhar de perto o Senhor nestes dias, contemplando a sua Humanidade Santíssima nas cenas da Via-Sacra, vendo como Ele percorre voluntariamente o caminho da dor por nós.

(1) Mt 9, 14-15; Evangelho da Missa da sexta-feira depois das Cinzas; (2) Paulo VI, Const. Paenitemini, 17-II-1966; (3) cfr. Lev 16, 29-31; (4) cfr. Jui 20, 26; Est 4, 16; (5) 1 Rs 21, 27; (6) Jdt 4, 9-13; (7) At 13, 2; (8) Ex 34, 28; Dan 9, 3; (9) Mt 9, 15; (10) cfr. Is 54, 5; (11) Paulo VI, ib.; (12) cfr. At 13, 2 e segs.; (13) cfr. 2 Cor 6, 5; 11, 27; (14) São Josemaria Escrivá, Caminho, 7ª ed., Quadrante, São Paulo, 1989, n. 224; (15) ib., n. 556; (16) São Josemaria Escrivá, Via-Sacra, 2ª ed., Quadrante, 1986, IIIª est.; (17) São Josemaria Escrivá, Sulco, Quadrante, São Paulo, 1987, n. 944; (18) cfr. São Josemaria Escrivá, Caminho, n. 13; (19) cfr. ib., n. 815; (20) cfr. ib., n. 938

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


28 de Fevereiro 2020

A SANTA MISSA

Sexta feira depois das Cinzas
Cor: Roxa

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1ª Leitura: Is 58,1-9a 

Acaso é este o jejum que aprecio? 

Leitura do Livro do Profeta Isaías

Assim fala o Senhor Deus: 1 Grita forte, sem cessar, levanta a voz como trombeta e denuncia os crimes do meu povo e os pecados da casa de Jacó. 2 Buscam-me cada dia e desejam conhecer meus propósitos, como gente que pratica a justiça e não abandonou a lei de Deus. Exigem de mim julgamentos justos e querem estar na proximidade de Deus: 3 ‘Por que não te regozijaste, quando jejuávamos, e o ignoraste, quando nos humilhávamos?’ – É porque no dia do vosso jejum tratais de negócios e oprimis os vossos empregados. 4 É porque ao mesmo tempo que jejuais, fazeis litígios e brigas e agressões impiedosas. Não façais jejum com esse espírito, se quereis que vosso pedido seja ouvido no céu. 5 Acaso é esse jejum que aprecio, o dia em que uma pessoa se mortifica? Trata-se talvez de curvar a cabeça como junco, e de deitar-se em saco e sobre cinza? Acaso chamas a isso jejum, dia grato ao Senhor? 6 Acaso o jejum que prefiro não é outro: – quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, enfim, romper todo tipo de sujeição? 7 Não é repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobres e peregrinos? Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. 8 Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá. 9a Então invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro, e ele dirá: ‘Eis-me aqui’.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 50, 3-4. 5-6a. 18-19 (R. 19b)

R. Ó Senhor, não desprezeis um coração arrependido!

3 Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! *
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
4 Lavai-me todo inteiro do pecado, *
e apagai completamente a minha culpa!      R.

5 Eu reconheço toda a minha iniquidade,*
o meu pecado está sempre à minha frente.
6a Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei,*
e pratiquei o que é mau aos vossos olhos!      R.

18 Pois não são de vosso agrado os sacrifícios, *
e, se oferto um holocausto, o rejeitais.
19 Meu sacrifício é minha alma penitente, *
não desprezeis um coração arrependido!      R. 

Evangelho: Mt 9,14-15 

 Dias virão em que o esposo lhes será tirado, e então jejuarão. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo: 14 Os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: ‘Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?’ 15 Disse-lhes Jesus: ‘Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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