A Quaresma. Tempo de Penitência
TEMPO DA QUARESMA. PRIMEIRA SEMANA. SEXTA-FERIA
– O pecado é pessoal. Sinceridade para reconhecermos os nossos erros e fraquezas. Necessidade da penitência.
– O pecado pessoal produz efeitos nos outros. Reparar pelos pecados do mundo. Penitência e Comunhão dos Santos.
– Penitência na vida quotidiana, no serviço às pessoas que estão ao nosso lado.
I. A EFICÁCIA da autêntica penitência, que é a conversão do coração a Deus, pode perder-se se se cai na tentação, que não é só de épocas remotas, de tentar esquecer que o pecado é pessoal.
Na primeira leitura da Missa de hoje, o profeta Ezequiel adverte os judeus do seu tempo de que não esqueçam a grande lição do desterro, pois encaravam-no como algo inevitável, gerado pelos pecados cometidos antigamente por outros. O profeta declara que esse castigo é conseqüência dos pecados atuais de cada indivíduo. Através das suas palavras, o Espírito Santo fala-nos de uma responsabilidade individual e, portanto, de uma penitência e de uma salvação pessoais. Assim diz o Senhor: O pecador deve perecer. O filho não responderá pelas faltas do pai nem o pai pelas faltas do filho. É ao justo que se imputará a sua justiça e ao mau a sua malícia 1.
Deus quer que o pecador se converta e viva 2, mas este deve cooperar com o arrependimento e com as obras de penitência. “No seu sentido próprio e verdadeiro, o pecado – diz João Paulo II – é sempre um ato da pessoa, porque é um ato de um homem, individualmente considerado, e não propriamente de um grupo ou de uma comunidade” 3.
Descarregar o homem dessa responsabilidade “seria obliterar a dignidade e a liberdade da pessoa, que também se revelam – se bem que negativa e desastrosamente – nessa responsabilidade pelo pecado cometido. Por isso, em todos e em cada um dos homens, não há nada tão pessoal e intransferível como o mérito da virtude ou a responsabilidade da culpa” 4.
Por isso, é uma graça do Senhor não deixarmos de arrepender-nos dos nossos pecados passados nem mascararmos os presentes, mesmo que não passem de imperfeições. Que também nós possamos dizer: Eu reconheço a minha iniqüidade e o meu pecado está sempre diante de mim 5.
É verdade que um dia confessamos as nossas culpas e o Senhor nos disse: Vai e não tornes a pecar 6. Mas os pecados deixam um vestígio na alma. “Perdoada a culpa, permanecem as relíquias do pecado, disposições causadas pelos atos anteriores, embora fiquem debilitadas e diminuídas, de maneira que não dominam o homem e permanecem mais em forma de disposição que de hábito” 7. Além disso, existem pecados e faltas que não chegamos a perceber por falta de espírito de exame, por falta de delicadeza de consciência... São como más raízes que ficaram na alma e que é necessário arrancar mediante a penitência para impedir que produzam frutos amargos.
São, pois, muitos os motivos que temos para fazer penitência neste tempo da Quaresma, e devemos concretizá-la em pequenas coisas: em mortificar os nossos gostos nas refeições – em viver a abstinência que a Igreja manda –, em ser pontuais, em vigiar a imaginação... E também em procurar, com o conselho do diretor espiritual, do confessor, outros sacrifícios de maior importância, que nos ajudem a purificar a alma e a reparar os pecados próprios e alheios.
II. AINDA QUE O PECADO seja sempre uma ofensa pessoal a Deus, não deixa de produzir efeitos nos demais homens. Para bem ou para mal, estamos sempre influindo naqueles que estão ao nosso lado, na Igreja e no mundo, e não apenas pelo bom ou mau exemplo que lhes damos ou pelos resultados diretos das nossas ações. “Esta é a outra face daquela solidariedade que, em nível religioso, se desenvolve no profundo e magnífico mistério da Comunhão dos Santos, graças à qual se pode dizer que «cada alma que se eleva, eleva o mundo».
“A esta lei da elevação corresponde, infelizmente, a lei da descida, de tal modo que se pode falar de uma comunhão do pecado, em virtude da qual uma alma que se rebaixa pelo pecado rebaixa a Igreja e, de certa maneira, o mundo inteiro. Por outras palavras, não há pecado algum, mesmo o mais íntimo e secreto, o mais estritamente individual, que afete exclusivamente aquele que o comete. Todo o pecado repercute com maior ou menor intensidade, com maior ou menor dano, em toda a estrutura eclesial e em toda a família humana” 8.
O Senhor pede-nos que sejamos motivo de alegria e luz para toda a Igreja. No meio do nosso trabalho e das nossas tarefas, ser-nos-á de grande ajuda pensar nos outros, saber que somos apoio – também mediante a penitência – para todo o Corpo Místico de Cristo, e em especial para aqueles que, ao longo da vida, o Senhor foi colocando ao nosso lado: “Se sentires a Comunhão dos Santos – se a viveres –, serás de bom grado um homem penitente. – E compreenderás que a penitência é gaudium etsi laboriosum – alegria, embora trabalhosa. E te sentirás «aliado» de todas as almas penitentes que foram, são e serão” 9. “Terás mais facilidade em cumprir o teu dever, se pensares na ajuda que te prestam os teus irmãos e na que deixas de prestar-lhes se não és fiel” 10.
A penitência que o Senhor nos pede, como cristãos que vivem no meio do mundo, deve ser discreta, alegre..., uma penitência que quer permanecer inadvertida, mas que não deixa de traduzir-se em atos concretos. Além disso, não faz mal que vez por outra se percebam as nossas penitências. “Se foram testemunhas das tuas fraquezas e misérias, que importa que o sejam da tua penitência?” 11
III. UMA PENITÊNCIA muito agradável a Deus é aquela que se manifesta em atos de caridade e que tende a facilitar aos outros o caminho que conduz a Deus, tornando-o mais amável. No Evangelho da Missa de hoje, o Senhor nos diz: Se estás para fazer a tua oferenda diante do altar e te lembras de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferenda diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão: só então vem fazer a tua oferenda 12.
As nossas oferendas ao Senhor devem caracterizar-se pela caridade: saber pedir perdão àqueles a quem ofendemos; assumir plenamente o sacrifício que supõe cuidar da formação de alguém que está sob a nossa responsabilidade; ser pacientes; saber perdoar com prontidão e generosidade...
A este respeito, diz São Leão Magno: “Ainda que sempre seja necessário aplicar-se à santificação do corpo, agora sobretudo, durante os jejuns da Quaresma, deveis aperfeiçoar-vos pela prática de uma piedade mais ativa. Dai esmola, que é muito eficaz para nos corrigirmos das nossas faltas; mas perdoai também as ofensas e abandonai as queixas contra aqueles que vos fizeram algum mal” 13.
“Perdoemos sempre, com o sorriso nos lábios. Falemos com clareza, sem rancor, quando nos parecer em consciência que devemos falar. E deixemos tudo nas mãos do nosso Pai-Deus, com um divino silêncio – Iesus autem tacebat (Mt 26, 63), Jesus calava-se –, se se trata de ataques pessoais, por mais brutais e indecorosos que sejam” 14.
Aproximemo-nos do altar de Deus sem carregar conosco o menor sentimento de inimizade ou de rancor. Pelo contrário, procuremos apresentar ao Senhor muitos atos de compreensão, de cortesia, de generosidade, de misericórdia. Assim o seguiremos pela Via-Sacra que Ele nos traçou e que o levou a deixar-se pregar na Cruz.
“Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem (Lc 23, 34). Foi o Amor que levou Jesus ao Calvário. E já na Cruz, todos os seus gestos e todas as suas palavras são de amor, de amor sereno e forte. E nós, despedaçada de dor a alma, dizemos sinceramente a Jesus: Sou teu, e entrego-me a Ti, e prego-me na Cruz de bom grado, sendo nas encruzilhadas do mundo uma alma que se entregou a Ti, à tua glória, à Redenção, à corredenção da humanidade inteira” 15.
Santa Maria, nossa Mãe, ensinar-nos-á a descobrir muitas ocasiões de sermos generosos na dedicação aos que estão ao nosso lado nas tarefas de cada dia.
(1) Ez 18, 21; (2) cfr. Ez 18, 23; (3) João Paulo II, Exort. Apost. Reconciliatio et paetitentia, 2-XII-1984, 16; (4) ib.; (5) Sl 50, 5; (6) cfr. Jo 8, 11; (7) São Tomás, Suma Teológica, 3, q. 86, a. 5 c.; (8) João Paulo II,op. cit.; (9) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 548; (10) ib., n. 549; (11) ib., n. 197; (12) Mt 5, 23-24; (13) São Leão Magno, Sermão 45 sobre a Quaresma; (14) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 72; (15) Josemaría Escrivá, Via Sacra, XIª est.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
05 de Março 2020
A SANTA MISSA

1ª Semana da Quaresma – Quinta-feira
Cor: Roxa
1ª Leitura: Est 4,17n.p-r.aa-bb.gg-hh
Não tenho outro defensor fora de ti, Senhor.
Leitura do Livro de Ester
Naqueles dias: 17n A rainha Ester, temendo o perigo de morte que se aproximava, buscou refúgio no Senhor.17p Prostrou-se por terra desde a manhã até ao anoitecer, juntamente com suas servas, e disse: 17q ‘Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó, tu és bendito. Vem em meu socorro, pois estou só e não tenho outro defensor fora de ti, Senhor, 17r pois eu mesma me expus ao perigo. 17aa Senhor, eu ouvi, dos livros de meus antepassados, que tu libertas, Senhor, até ao fim, todos os que te são caros. 17bb Agora, pois, ajuda-me, a mim que estou sozinha e não tenho mais ninguém senão a ti, Senhor meu Deus. 17gg Vem, pois, em auxílio de minha orfandade. Põe em meus lábios um discurso atraente, quando eu estiver diante do leão, e muda o seu coração para que odeie aquele que nos ataca, para que este pereça com todos os seus cúmplices. 17hh E livra-nos da mão de nossos inimigos. Transforma nosso luto em alegria e nossas dores em bem-estar’. Palavra do Senhor.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 137, 1-2a. 2bc-3. 7c-8 (R. 3a)
R. Naquele dia em que gritei,
vós me escutastes, ó Senhor!
1 Ó Senhor, de coração eu vos dou graças,*
porque ouvistes as palavras dos meus lábios!
Perante os vossos anjos vou cantar-vos*
2a e ante o vosso templo vou prostrar-me. R.
2b Eu agradeço vosso amor, vossa verdade,*
2c porque fizestes muito mais que prometestes;
3 naquele dia em que gritei, vós me escutastes *
e aumentastes o vigor da minha alma. R.
7c estendereis o vosso braço em meu auxílio*
e havereis de me salvar com vossa destra.
8 Completai em mim a obra começada; *
ó Senhor, vossa bondade é para sempre!
Eu vos peço: não deixeis inacabada *
esta obra que fizeram vossas mãos! R.
Evangelho: Mt 7,7-12
Todo aquele que pede, recebe.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7 Pedi e vos será dado! Procurai e achareis! Batei e a porta vos será aberta! 8 Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra; e a quem bate, a porta será aberta. 9 Quem de vós dá ao filho uma pedra, quando ele pede um pão? 10 Ou lhe dá uma cobra, quando ele pede um peixe? 11 Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedirem! 12 Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a Lei e os Profetas.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
São João José da Cruz
05 de Março
São João José da Cruz
Nasceu no dia 15 de agosto de 1654, na cidade de Ponte, que ficava na ilha de Ischia, Itália. Seu nome de batismo era Carlos Caetano Calosirto. Seus pais eram nobres e ricos e se chamavam José e Laura. O ensino básico e os alicerces da fé cristã ele recebeu no Colégio dos Agostinianos, que ficava na ilha Ischia.
Aos quinze anos Carlos fez a opção pela vida religiosa, dando curso à grande vocação que em seu coração sentia. Ingressou na Ordem dos Franciscanos Descalços, conhecidos como “Alcantarinos”, porque eram oriundos da Reforma de São Pedro de Alcântara. Esta Congregação lhe causou interesse por causa da austeridade das Regras, especialmente dessa comunidade, que era ligada ao convento de Santa Lucia, em Nápolis. Ao ingressar na Ordem, Carlos assumiu o nome de João José da Cruz. Seu noviciado aconteceu sob a direção do P. José Robles.
Em 1671 o irmão José João da Cruz foi enviando para Piedimonte d'Alife. Sua missão era construir um convento. Ele foi acompanhado de onze sacerdotes, sendo ele o mais novo. O grupo encontrou muitas dificuldades no local. Ele, porém, não hesitou: juntou pedras com as próprias mãos e trabalhou com cal, madeira, enxadão. Assim, fez os alicerces. Sua ação motivou os outros padres e também o povo. No começo, todos, de fato, pensaram que ele era louco. Porém, percebendo a força de seu caráter e a perseverança, mudaram de opinião e começaram a ajuda-lo. Dessa maneira, um grande convento foi construído em tempo recorde.
O irmão João José da Cruz foi ordenado padre em 1677. Quando completou vinte e quatro anos, recebeu a missão de mestre dos noviços. Em seguida, foi nomeado também guardião da ordem do convento de Piedimonte. Durante sua estadia neste convento, construiu um outro pequeno convento, num local afastado, na borda do bosque. O local era chamado "ermo". Ainda hoje este lugar é procurado como alvo de peregrinações, para pessoas que buscam retiro espiritual. Seguindo seu tino de construtor, São José João da Cruz construiu ainda o convento do Granelo em Portici, na cidade de Nápolis.
O Padre João José da Cruz era homem austero. Fazia jejuns, comia apenas uma vez por dia e dormia pouco. Levantava-se sempre à meia noite para agradecer e louvar a Deus pelo novo dia que chegava como presente. Entre o povo, ele ficou famoso por causa de sua humildade. A população passou a venera-lo quando ele ainda era vivo por causa de sua dedicação desprendida aos pobres e aos doentes. Buscava a pobreza na própria vida e até mesmo em sua personalidade, procurando sempre seguir os passos de São Francisco, seu pais espiritual e modelo de conduta.
No ano 1702 o padre José João da Cruz recebeu a nomeação de vigário provincial dos Alcantarinos da Reforma de São Pedro. Desse momento em diante a Ordem se expandiu de Norte a Sul da Itália e cresceu em vida de santidade. Esta fama chegou à Santa Sé. Por isso, os dois ramos dos Alcantarinos voltaram a se unir. Assim, o convento de Santa Lúcia retornou aos padres da Itália e o Padre João José da Cruz voltou para lá. Neste convento, ele viveu por mais doze anos. Nesse tempo, como sempre, buscou a austeridade e a santidade de vida. Vários prodígios e curas foram realizados por sua intercessão em favor dos pobres e doentes, coroando seus últimos anos de vida.
São José João da Cruz faleceu em 05 de março 1734. Foi sepultado no mesmo convento de Santa Lúcia. Sua beatificação foi celebrada pelo papa Gregório XVI, no ano 1839. Seus restos mortais foram trasladados para o convento da ordem franciscana que fica na ilha de Ischia, local onde ele nasceu. O dia de sua festa, como sempre é feito na Igreja, foi instituído para o dia 5 de março, dia de sua partida para o céu.
Fonte: https://cruzterrasanta.com.br
A Oração de Petição
TEMPO DA QUARESMA. PRIMEIRA SEMANA. QUINTA-FEIRA
– Pedir e agradecer, duas formas de nos relacionarmos com Deus. Dois modos de oração muito gratos a Deus. Retidão de intenção ao pedir.
– Humildade e perseverança na oração.
– O Senhor sempre nos atende. Procurar também a intercessão da Virgem, nossa Mãe, e do Anjo da Guarda.
I. PEDI E DAR-SE-VOS-Á. Buscai e achareis. Batei e abrir-se-vos-á 1.
Passamos uma boa parte da nossa vida pedindo coisas a outras pessoas que possuem mais ou que têm conhecimentos superiores aos nossos. Pedimos, porque somos pessoas necessitadas. E é, em muitas ocasiões, a única possibilidade de nos relacionarmos com os outros. Se nunca pedíssemos nada a ninguém, terminaríamos numa especie de vazio e de falsa e empobrecida auto-suficiência.
Pedir e dar: nisso consiste a maior parte da nossa vida e do nosso ser. Ao pedir, reconhecemo-nos pessoas necessitadas. Ao dar, podemos tomar consciência da riqueza sem fim que Deus colocou no nosso coração.
O mesmo acontece com respeito a Deus. Grande parte das nossas relações com Ele situam-se no âmbito da petição: as restantes, no do agradecimento. Ao pedir, manifestam os a nossa radical insuficiência. Pedir torna-nos humildes; além disso, é uma oportunidade que damos a Deus de mostrar-se Pai e de conhecermos assim o amor que Ele tem por nós. Quem dentre vós, se um filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? [...] Quanto mais vosso Pai celestial dará coisas boas aos que lhe pedirem 2.
Não pedimos por egoísmo, nem levados pela soberba, pela avareza ou pela inveja. Se pedimos, por exemplo, um favor material, devemos examinar na presença de Deus qual o verdadeiro motivo que nos leva a fazê-lo. Será necessário que perguntemos a Deus, na intimidade da nossa alma, se isso que lhe solicitamos nos ajudará a amá-lo mais e a realizar melhor a sua vontade. E em muitas ocasiões perceberemos imediatamente que esse assunto que nos parecia questão de vida ou morte não tinha qualquer valor, ou ao menos não era tão importante. Saberemos alinhar a nossa vontade pela de Deus e, então, a nossa petição estará muito mais bem encaminhada.
Podemos pedir ao Senhor que nos cure rapidamente de uma doença; mas devemos pedir ao mesmo tempo que, se isso não acontecer porque os seus planos são outros – planos misteriosos e desconhecidos de nós, mas que vêm de um Pai –, nos conceda então a graça necessária para enfrentar com paciência essas dores, e a sabedoria para tirar dessa doença frutos que beneficiem a nossa alma e toda a Igreja.
A primeira condição de toda a petição eficaz é, pois, conformar a nossa vontade com a de Deus, que por vezes quer ou permite coisas e acontecimentos que nós não queremos nem entendemos, mas que acabarão por ser de grande proveito para nós e para os outros. Sempre que fizermos este ato de identificação do nosso querer com o de Deus, estaremos identificando-nos com a oração de Cristo: Não se faça a minha vontade, mas a tua 3.
II. PROCUREMOS ORAR sempre com a confiança de filhos. O Evangelho apresenta-nos muitos casos desta oração filial, humilde e perseverante. São Mateus narra o pedido de uma mulher que pode servir de exemplo para todos nós 4. Jesus chegou à região de Tiro e Sidon, terra de gentios. Devia estar procurando algum lugar onde os seus Apóstolos pudessem descansar, já que não o conseguira encontrar na região desértica de Betsaida; queria passar uns dias a sós com eles.
Enquanto caminhavam, aproximou-se uma mulher, com um pedido insistente. E, apesar da sua perseverança na súplica, Jesus permaneceu calado: Jesus não lhe respondeu palavra alguma, diz o evangelista.
Os discípulos pedem-lhe que a despeça, pois a sua insistência já começava a incomodar. Mas Jesus pensa de outro modo. Passados uns momentos, quebra o seu silêncio e, enternecido pela humildade da pobre mulher, conversa com ela. Explica-lhe o plano divino da salvação: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Era o plano divino desde a eternidade. Jesus Cristo redimiria com a sua vida e a sua morte todos os homens; mas a evangelização começaria por Israel; depois, os apóstolos de todos os tempos levá-la-iam até os confins da terra.
Mas esta mulher cananéia, que certamente não compreendeu o que o Senhor lhe dizia, não desanimou diante da sua resposta: Mas ela veio prostrar-se diante dele e disse-lhe: Senhor, ajuda-me! Sabe o que quer e sabe que pode consegui-lo de Jesus.
O Senhor explica-lhe novamente, com uma parábola, a mesma coisa que lhe acabava de dizer: Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos. Mas a mulher não cede no seu empenho. A sua fé e a sua confiança crescem e transbordam. E ela introduz-se na parábola, com grande humildade, como um personagem mais: É verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos.
Tanta fé, tanta humildade, tanta persistência fazem o Senhor exclamar: Ó mulher, grande é a tua fé! E num tom solene e ao mesmo tempo cheio de compaixão, acrescenta: Faça-se conforme desejas. O evangelista terá o cuidado de anotar: E desde aquela hora a sua filha ficou curada. Para este milagre excepcional, foram necessárias também uma fé, uma humildade e uma perseverança excepcionais.
Jesus ouve-nos sempre: mesmo quando parece calar-se. Talvez seja então que mais atentamente nos escuta. Com esse silêncio aparente, talvez queira provocar em nós as condições necessárias para que o milagre se realize: que peçamos com confiança, sem desanimar, com fé.
Quantas vezes a nossa oração perante necessidades urgentes não será a mesma: Senhor, ajuda-me! Que bonita jaculatória para tantas necessidades – sobretudo da alma – que nos são tão urgentes!
Mas não basta pedir; temos que fazê-lo com perseverança, como essa mulher, sem nos cansarmos, para que a constância alcance aquilo que os nossos méritos não conseguem. Muito vale a oração perseverante do justo 5. Deus previu todas as graças e ajudas de que necessitamos, mas previu também a nossa oração.
Pedi e dar-se-vos-á... Batei e abrir-se-vos-á. E lembramo-nos agora das nossas muitas necessidades pessoais e das daqueles que vivem junto de nós. O Senhor não nos abandona.
III. EXISTEM INÚMEROS BENS que o Senhor espera que lhe peçamos para que nos sejam concedidos: bens espirituais e materiais, todos eles orientados para a nossa salvação e para a do próximo. “Não concordais comigo em que, se não alcançamos o que pedimos a Deus, é porque não oramos com fé, com o coração suficientemente puro, com uma confiança suficientemente grande, ou porque não perseveramos na oração como deveríamos? Deus jamais negou nem negará nada aos que lhe pedem as suas graças da maneira devida” 6.
Se numa ou noutra ocasião não nos foi concedida alguma coisa que pedíamos confiadamente, era porque não nos convinha: “Vela pelo teu bem Aquele que não te concede o que lhe pedes, quando lhe pedes o que não te convém” 7. Jesus sabe perfeitamente o que nos convém. Essa oração, que talvez tivéssemos feito com tanta insistência, foi com certeza eficaz para outros bens ou para outra ocasião mais necessária. O nosso Pai-Deus encaminhou-a bem! “Ele sempre dá mais do que lhe pedimos” 8. Sempre.
Para que a nossa petição seja atendida com mais rapidez, podemos solicitar as orações de outras pessoas que estejam próximas de Deus, como fez o centurião de Cafarnaum: enviou a Jesus alguns anciãos dos judeus, para suplicar-lhe que viesse curar o seu criado. Estes amigos cumpriram bem a sua tarefa: foram até o Senhor e rogaram-lhe com grande insistência que condescendesse: É uma pessoa– diziam-lhe – que merece que lhe faças este favor... 9 O Senhor atendeu o pedido.
Em momentos como esse, pode ser útil lembrarmo-nos de que “depois da oração do Sacerdote e das virgens consagradas, a oração mais grata a Deus é a das crianças e a dos doentes” 10. E pediremos também ao nosso Anjo da Guarda que interceda por nós e apresente as nossas súplicas ao Senhor, pois “o anjo particular de cada um de nós – mesmo que sejamos dos mais insignificantes dentro da Igreja –, por estar contemplando sempre o rosto de Deus que está nos Céus e vendo a divindade do nosso Criador, une a sua oração à nossa e colabora na medida do que lhe é possível em favor do que pedimos” 11.
Temos, por último, um caminho que a Igreja sempre nos ensinou, para que as nossas orações cheguem à presença de Deus. Este caminho é a intercessão de Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa. A Ela recorremos agora e sempre: “Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, de que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado. Animado eu, pois, de igual confiança, a Vós, Virgem entre todas singular, como a Mãe recorro...” 12
(1) Mt 7, 7-12; Evangelho da Missa da quinta-feira da primeira semana da Quaresma; (2) Mt 7, 9 e 11; (3) Lc 22, 42; (4) Mt 15, 21-28; (5) Ti 5, 17; (6) Cura d’Ars, Sermão sobre a oração; (7) Santo Agostinho, Sermão 126; (8) Santa Teresa, Caminho de perfeição, 37; (9) Lc 7, 3-4; (10) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 98; (11) Orígenes, Trat. sobre a oração, 10; (12) São Bernardo, oração Lembrai-vos.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Casimiro
04 de Março
São Casimiro
Casimiro nasceu no dia 03 de outubro de 1458, na Croácia. Foi o décimo terceiro filho do rei Casimiro IV, da Polônia. Sua mãe era a rainha Elisabete d'Asburgo. Ele tinha o direito de assumir um território na Polônia e reinar sobre ele, mas preferiu seguir o caminho do amor e da caridade.
Desde pequeno Casimiro procurou a simplicidade e abriu mão do luxo da realeza. As ricas festas e as facilidades da nobreza não o seduziam. Ainda adolescente, optou por fazer um voto de castidade e por viver uma vida simples recolhido no seu quarto. Seu quarto, aliás, foi transformado numa cela, como seria a de um eremita. Ali, Casimiro dedicou-se à oração, à penitência, a disciplina e à solidão. Esta sua vocação foi notada desde a infância.
Quando Casimiro tinha apenas treze anos, os húngaros depuseram o rei Mateus Corvino e ofereceram a coroa a Casimiro. Ele, porém, recusou por não buscar o poder e também porque seu pai não era a favor daquela deposição. A única “ambição” de Casimiro era, de fato, o ideal monástico, a vida de oração e a santidade.
O jovem Casimiro, no entanto, não se eximia de deveres políticos que estivessem ao seu alcance e que não o desviassem de sua vocação. Assim, ajudado seu pai nos assuntos do reino a partir dos dezessete anos. Ajudou a resolver problemas da Lituânia e se tornou muito querido por todos de lá. Mas ele não queria nenhuma coroa. Quando o rei da Hungria se converteu ao cristianismo e deixou tudo para ingressar num mosteiro, o pai de Casimiro, o rei Casimiro IV, passou a ser o dono daquelas terras, que incluíam a então Prússia e a Hungria. Nem assim o jovem Casimiro quis reinar sobre esses territórios.
O pai de Casimiro teve que se ausentar da sede do reino para negociar a ampliação do reino até aos mares Negro e Báltico, tornando seu império gigantesco. Por isso, confiou a regência da sede ao filho Casimiro. O filho, cumpriu suas obrigações com grande competência e passou a ser mais amado pelo povo. Porém, o poder não o seduziu. Assim, quando seu pai voltou, entregou o poder com alívio, preferindo a caridade para com os pobres e a vida simples.
O pai de São Casimiro negociou um casamento para o filho. Seria com uma bela princesa de um reino vizinho e amigo. São Casimiro, porém, recusou, alegando que sua vocação era para a vida celibatária e uma dedicação total a Deus e aos pobres. A contragosto, seu pai desfez o contrato de casamento e Casimiro seguiu sua vocação.
São Casimiro faleceu com apenas vinte e cinco anos, vítima de tuberculose. Seu corpo foi sepultado na cidade de Vilnius, capital da Lituânia. Era o dia 04 de março de 1484. Em pouco tempo ele começou a ser venerado pelos povos da Polônia, Lituânia, Hungria e Rússia. O culto a São Casimiro foi introduzido na Europa ocidental por peregrinos que iam visitar sua sepultura e se encantavam com sua história. Sua canonização foi celebrada pelo Papa Leão X. Depois disso, passou a ser o padroeiro da Lituânia e da Polônia.
Fonte: https://cruzterrasanta.com.br
Confessar os Pecados
TEMPO DA QUARESMA. PRIMEIRA SEMANA. QUARTA-FEIRA
– A Confissão, um encontro com Cristo.
– No sacramento da Penitência pedimos o perdão dos nossos pecados. Qualidades de uma boa confissão: “concisa, concreta, clara e completa”.
– Luzes e graças que recebemos neste sacramento. Importância das disposições interiores.
I. LEMBRAI-VOS, SENHOR, de que a vossa misericórdia e a vossa bondade são eternas 1, lemos na antífona de entrada da Missa.
A Quaresma é um tempo oportuno para nos esmerarmos no modo de receber o sacramento da Penitência, esse encontro com Cristo presente no sacerdote, encontro sempre único e diferente. Cristo acolhe-nos como Bom Pastor, cura-nos, limpa-nos, fortalece-nos. Cumpre-se neste sacramento o que o Senhor prometera pela voz dos Profetas: Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas, eu mesmo as farei repousar. Procurarei a ovelha perdida; reconduzirei a desgarrada; tratarei da que estiver ferida; curarei a que estiver doente e guardarei a que estiver gorda e robusta 2.
Quando nos aproximamos deste sacramento, devemos pensar sobretudo em Cristo. Ele deve ser o centro do ato sacramental. E a glória e o amor a Deus devem contar mais do que os pecados que tenhamos cometido. Trata-se de olhar muito mais para Jesus do que para nós mesmos; para a sua bondade mais do que para a nossa miséria, pois a vida interior é um diálogo de amor em que Deus é sempre o ponto de referência.
O filho pródigo – que é o que nós somos quando resolvemos confessar-nos – empreende o caminho de volta abalado pela triste situação de pecado em que se encontra: Não sou digno de ser chamado teu filho; mas, à medida que se aproxima da casa paterna, vai reconhecendo comovidamente todas as coisas do seu lar, do lar de sempre, e, por último, vê ao longe a figura inconfundível de seu pai, que se dirige ao seu encontro. Isso é o importante: o encontro. Cada confissão contrita é “um aproximar-se da santidade de Deus, um reencontro com a verdade interior, obscurecida e transtornada pelo pecado, um libertar-se no mais profundo de si próprio e, por isso, um reconquistar a alegria perdida, a alegria de ser salvo, que a maioria dos homens do nosso tempo deixou de saborear” 3.
Devemos sentir desejos de encontrar-nos pessoalmente com o Senhor quanto antes – como o desejariam os seus discípulos quando se ausentavam por uns dias –, para descarregarmos nEle toda a dor experimentada ao verificarmos as nossas fraquezas, os erros, as imperfeições e os pecados cometidos tanto ao realizarmos os nossos deveres profissionais como no nosso relacionamento familiar e social, na atividade apostólica e na própria vida de piedade.
Este esforço por colocar Cristo no centro das nossas confissões é muito importante para não cairmos na rotina, para tirarmos do fundo da alma tudo aquilo que mais nos pesa e que somente virá à tona à luz do amor de Deus. Lembrai-vos, Senhor, de que a vossa misericórdia e a vossa bondade são eternas.
II. TENDE PIEDADE DE MIM, Senhor, segundo a vossa bondade, e, conforme a vossa imensa misericórdia, apagai a minha iniqüidade. Lavai-me por inteiro da minha falta e purificai-me do meu pecado 4.
Ao longo da nossa vida, tivemos que pedir perdão muitas vezes, e o Senhor nos perdoou outras tantas. Ao fim de cada dia, quando fazemos o balanço das nossas obras, poderíamos dizer: Tende piedade de mim, Senhor.... Cada um de nós sabe quanto precisa da misericórdia divina.
Vamos, pois, à confissão para pedir a absolvição das nossas culpas como quem pede uma esmola que está longe de merecer. Mas aproximamo-nos com confiança, fiados não nos nossos méritos, mas na misericórdia divina, que é eterna e infinita, sempre inclinada ao perdão: Senhor, Tu não desprezarás um coração contrito e humilhado 5.
O Senhor só nos pede que reconheçamos humildemente as nossas culpas. Não nos confessamos para pedir àquele que está no lugar de Deus que nos compreenda e nos reanime. Vamos antes para pedir perdão. Por isso, a acusação dos pecados não consiste simplesmente em declará-los, em fazer um relato histórico das nossas faltas, mas em acusar-nos delas: Eu me acuso de...
É igualmente uma acusação dolorida de coisas que desejaríamos que nunca tivessem acontecido, e em que não têm cabimento as desculpas com o fim de dissimularmos as nossas faltas ou de diminuirmos a responsabilidade pessoal. Senhor..., pela vossa imensa misericórdia, apagai a minha iniqüidade. Lavai-me por inteiro do meu delito e purificai-me do meu pecado.
Mons. Josemaría Escrivá, o Fundador do Opus Dei, aconselhava com critério simples e prático que as nossas confissões fossem concisas, concretas, claras e completas.
Confissão concisa, sem muitas palavras: apenas as necessárias para dizermos com humildade o que fizemos ou omitimos, sem nos estendermos desnecessariamente, sem adornos. A abundância de palavras denota às vezes o desejo, inconsciente ou não, de fugir da sinceridade direta e plena; para evitá-lo, temos que fazer bem o exame de consciência.
Confissão concreta, sem divagações, sem generalidades. O penitente “indicará oportunamente a sua situação e o tempo que decorreu desde a sua última confissão, bem como as dificuldades que teve para levar uma vida cristã” 6, declarando os seus pecados e o conjunto de circunstâncias que tenham caracterizado as suas faltas a fim de que o confessor possa julgar, absolver e curar 7.
Confissão clara, para sermos bem entendidos, declarando a natureza precisa das faltas e manifestando a nossa própria miséria com a necessária modéstia e delicadeza.
Confissão completa, íntegra. Sem deixar de dizer nada por falsa vergonha, para “não ficar mal” diante do confessor.
Vejamos se, ao preparar-nos para receber este sacramento, procuramos que aquilo que vamos dizer ao confessor satisfaça esses requisitos.
III. “A QUARESMA é um tempo particularmente adequado para despertar e educar a consciência. A Igreja recorda-nos precisamente neste período a necessidade inderrogável da Confissão sacramental, para que todos possamos viver a ressurreição de Cristo não só na liturgia, mas também na nossa própria alma” 8.
A Confissão faz-nos participar da Paixão de Cristo e, pelos seus méritos, da sua Ressurreição. Sempre que recebemos este sacramento com as devidas disposições, opera-se na nossa alma um renascimento para a vida da graça. O Sangue de Cristo, amorosamente derramado, purifica e santifica a alma, e a sua virtude faz com que este sacramento nos confira a graça – se porventura a tivermos perdido – ou a aumente, ainda que em graus diversos, segundo as disposições do penitente. “Umas vezes, a intensidade do arrependimento é proporcional a uma graça maior do que aquela que o pecador tinha quando decaiu pelo seu pecado; outras, pode ser proporcional a uma graça igual; enfim, outras, a uma menor. Por isso, o penitente umas vezes ressurge com maior graça do que a que tinha antes; outras, com graça igual; e outras, enfim, com uma graça menor. E o mesmo se passa com as virtudes que dependem e resultam da graça” 9.
Na Confissão, a alma recebe maiores luzes de Deus e um aumento de forças para a sua luta diária: graças particulares para combater as inclinações confessadas, para evitar as ocasiões de pecar, para não reincidir nas faltas cometidas... “Vede como Deus é bom e como perdoa facilmente os pecados: não somente devolve o perdoado, mas concede coisas inesperadas” 10. Quantas vezes as maiores graças que recebemos são as que nos chegam depois de uma confissão, depois de termos dito ao Senhor que nos comportamos mal! Jesus concede sempre o bem em troca do mal, para nos animar a ser fiéis. O castigo que merecemos pelos nossos pecados – como o que mereciam os habitantes de Nínive, segundo nos relata hoje a primeira leitura da Missa 11 – é apagado por Deus quando vê o nosso arrependimento e as nossas obras de penitência e desagravo.
A confissão sincera das nossas culpas deixa sempre na alma uma grande paz e uma grande alegria. A tristeza do pecado ou da falta de correspondência à graça converte-se em júbilo. “Talvez os momentos de uma confissão sincera – diz o Papa Paulo VI – estejam entre os mais doces, os mais reconfortantes e os mais decisivos da vida” 12.
(1) Sl 24, 6; Antífona de entrada da Missa da quarta-feira da primeira semana da Quaresma; (2) Ez 34, 15-16; (3) João Paulo II, Exort. Apost. Reconciliatio et paenitentia, 2-XII-1984, 31, III; (4) Sl 50, 4; Salmo responsorial da Missa da quarta-feira da primeira semana da Quaresma; (5) ib.; (6) Paulo VI, Ordo Paenitentiae, 16; (7) cfr. ib.; (8) João Paulo II, Carta aos fiéis de Roma, 28-II-1979; (9) São Tomás, Suma Teológica, 3, q. 89, a. 2 c.; (10) Santo Ambrósio, Trat. sobre o Evangelho de S. Lucas, 2, 73; (11) Jon 3, 1-10; Primeira leitura da Missa da quarta-feira da primeira semana da Quaresma; (12) Paulo VI, Alocução, 27-II-1975.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
04 de Março 2020
A SANTA MISSA

1ª Semana da Quaresma – Quarta-feira
Cor: Roxo
1ª Leitura: Jn 3,1-10
Os ninivitas se afastavam do mau caminho.
Leitura da Profecia de Jonas
1 A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas, pela segunda vez: 2 ‘Levanta-te e põe-te a caminho da grande cidade de Nínive e anuncia-lhe a mensagem que eu te vou confiar’. 3 Jonas pôs-se a caminho de Nínive, conforme a ordem do Senhor. Ora, Nínive era uma cidade muito grande; eram necessários três dias para ser atravessada. 4 Jonas entrou na cidade, percorrendo o caminho de um dia; pregava ao povo, dizendo: ‘Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída.’ 5 Os ninivitas acreditaram em Deus; aceitaram fazer jejum, e vestiram sacos, desde o superior ao inferior. 6 A pregação chegara aos ouvidos do rei de Nínive; ele levantou-se do trono e pôs de lado o manto real, vestiu-se de saco e sentou-se em cima de cinza. 7 Em seguida, fez proclamar, em Nínive, como decreto do rei e dos príncipes: ‘Homens e animais bovinos e ovinos não provarão nada! Não comerão e não beberão água. 8 Homens e animais se cobrirão de sacos, e os homens rezarão a Deus com força; cada um deve afastar-se do mau caminho e de suas práticas perversas. 9 Deus talvez volte atrás, para perdoar-nos e aplacar sua ira, e assim não venhamos a perecer.’ 10 Vendo Deus as suas obras de conversão e que os ninivitas se afastavam do mau caminho, compadeceu-se e suspendeu o mal, que tinha ameaçado fazer-lhes, e não o fez.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 50, 3-4, 12-13. 18-19 (R. 19b)
R. Ó Senhor, não desprezeis um coração arrependido!
3 Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! *
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
4 Lavai-me todo inteiro do pecado, *
e apagai completamente a minha culpa! R.
12 Criai em mim um coração que seja puro,*
dai-me de novo um espírito decidido.
13 Ó Senhor, não me afasteis de vossa face,*
nem retireis de mim o vosso Santo Espírito! R.
18 Pois não são de vosso agrado os sacrifícios,*
e, se oferto um holocausto, o rejeitais.
19 Meu sacrifício é minha alma penitente,*
não desprezeis um coração arrependido! R.
Evangelho: Lc 11,29-32
Nenhum sinal será dado a esta geração
a não ser o sinal de Jonas.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo: 29 Quando as multidões se reuniram em grande quantidade, Jesus começou a dizer: ‘Esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas. 30 Com efeito, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será o Filho do Homem para esta geração. 31 No dia do julgamento, a rainha do Sul se levantará juntamente com os homens desta geração, e os condenará. Porque ela veio de uma terra distante para ouvir a sabedoria de Salomão. E aqui está quem é maior do que Salomão. 32 No dia do julgamento, os ninivitas se levantarão juntamente com esta geração e a condenarão. Porque eles se converteram quando ouviram a pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do que Jonas.’
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Santa Teresa Eustochio Verzeri
03 de Março
Santa Teresa Eustochio Verzeri
Teresa nasceu em Bérgamo, Itália, no dia 31 de julho de 1801. Era a filha mais velha de uma família nobre. Sua mãe era uma condessa chamada Helena Pedrocca-Grumelli e seu pai, Antônio Verzeri. Por causa da nobreza, seu nome completo era Ana Maria Teresa Eustochio Josefa Catarina Inácia Verzeri. Porém, ela ficou conhecida como Teresa Eustochio Verzeri. Sua mãe era uma cristã fervorosa, que a ensinou a amar a Deus em primeiro lugar.
Tereza fez seus estudos iniciais em casa. Inteligente, aprendeu logo a ler e escrever. Motivada pelo ensino e testemunho cristão da mãe, Teresa, quando menina, quis muito ser missionária e realizar feitos heroicos, como Santo Inácio de Loyola e outros santos missionários e audaciosos. Da infância à maturidade, percorreu um caminho de iluminação e libertação interior, recorrendo sempre ao Espírito Santo. Este, guiou-a numa vida de pureza, de simplicidade e de retidão, que a conduziu a buscar "Deus só".
Santa Teresa Eustochio Verzeri viveu Interiormente a particular e difícil experiência mística da "ausência de Deus". Aquela sensação forte de que “Deus se esqueceu de mim, desapareceu, ou, até mesmo, não existe”. Muitos santos passaram por esses “desertos espirituais” e Santa Teresa Verzeri foi uma delas. Além disso, enfrentou também a dor da solidão humana, quando nada nem ninguém, a não ser o próprio Deus, pode preencher o vazio do coração. Pois Santa Teresa Verzeri viveu tudo isso sem desanimar na fé. Pelo contrário, nos momentos mais difíceis, dedicava-se à oração e à caridade.
Teresa abandonava-se ao coração do Pai, mesmo sem sentir nada, sem sentir “emoções consoladoras”. Assim, viveu a pura experiência de fé: “eu creio, mesmo sem sentir, mesmo sem tocar.” Mesmo passando por esses desertos espirituais, Teresa jamais deixou de confiar no Pai, Deus vivo, misericordioso e providente. A Ele, ela entregou a própria vida, fazendo como Jesus, que transformou a dor da solidão numa oferta profunda, de si mesma, por puro amor.
Santa Teresa Verzeri fez uma experiência de vida contemplativa e religiosa no mosteiro das monjas beneditinas de Santa Grata, na cidade de Bérgamo. Essa experiência a fez perceber que sua vocação não era para a vida contemplativa, mas sim para o apostolado ativo. Assim, aos vinte e cinco anos Teresa iniciou um trabalho missionário de assistência a crianças desvalidas e abandonadas. Nessa missão, ela foi orientada pelo Monsenhor Benaglio, que era seu diretor espiritual.
A obra de amor e caridade de Santa Tereza Verzeri atraiu várias outras jovens generosas, santas e disponíveis. Junto com elas, fundou a obra que se chamou: Congregação das Filhas do Sagrado Coração de Jesus. Nos anos por volta de 1800 foram de enormes transformações e crises na Itália. Em meio a tudo isso, Santa Teresa Verzeri percebeu claramente a urgência e as grandes necessidades de sua época. Assim, abraçou a missão de pedagoga, de evangelizadora e de orientadora espiritual.
A obra de Santa Teresa Verzeri se espalhou para várias cidades da Itália e ajudou enormemente a sociedade naqueles tempos de crise. Assim, feliz, vendo sua obra florescer, Teresa entregou sua alma a Deus no dia 03 de março de 1852. Sua beatificação aconteceu através do pelo Papa Pio XII, em 1946. Sua canonização foi celebrada pelo Papa João Paulo II, no ano 2001. As relíquias de Santa Tereza Verzeri estão expostas e veneradas na capela do colégio das Filhas do Sagrado Coração de Jesus, na cidade de Bérgamo.
Fonte: https://cruzterrasanta.com.br
03 de Março 2020
A SANTA MISSA

1ª Semana da Quaresma – Terça-feira
Cor: roxa
1ª Leitura: Is 55,10-11
A chuva faz a terra germinar.
Leitura do Livro do Profeta Isaías
Isto diz o Senhor: 10 assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, 11 assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 33, 4-5. 6-7. 16-17. 18-19 (R. 18b)
R. O Senhor liberta os justos de todas as angústias.
4 Comigo engrandecei ao Senhor Deus, *
exaltemos todos juntos o seu nome!
5 Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu, *
e de todos os temores me livrou. R.
6 Contemplai a sua face e alegrai-vos, *
e vosso rosto não se cubra de vergonha!
7 Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido, *
e o Senhor o libertou de toda angústia. R.
16 O Senhor pousa seus olhos sobre os justos, *
e seu ouvido está atento ao seu chamado;
17 mas ele volta a sua face contra os maus, *
para da terra apagar sua lembrança. R.
18 Clamam os justos, e o Senhor bondoso escuta *
e de todas as angústias os liberta.
19 Do coração atribulado ele está perto *
e conforta os de espírito abatido. R.
Evangelho: Mt 6,7-15
Vós deveis rezar assim.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7 Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. 8 Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais. 9 Vós deveis rezar assim: Pai Nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 10 venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. 11 O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. 12 Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. 13 E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14 De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometeram, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. 15 Mas, se vós não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
A ajuda dos anjos da guarda
TEMPO DA QUARESMA. PRIMEIRA SEMANA. TERÇA-FEIRA
– Existência dos Anjos da Guarda. Devoção dos primeiros cristãos.
– Ajudas que podem prestar-nos.
– Amizade e devoção aos Anjos da Guarda.
I. SÃO MATEUS termina a narração das tentações do Senhor com este versículo: Então o demônio o deixou e os anjos aproximaram-se dele e o serviam1.
“Contemplemos brevemente esta intervenção dos anjos na vida de Jesus, pois assim entenderemos melhor o seu papel – a missão angélica – em toda a vida humana. A tradição cristã descreve os Anjos da Guarda como grandes amigos, colocados por Deus ao lado de cada homem para o acompanharem em seus caminhos. Por isso nos convida a procurar a sua intimidade, a recorrer a eles.
“Ao fazer-nos meditar nestas passagens da vida de Cristo, a Igreja recorda-nos que, neste tempo da Quaresma, em que nos reconhecemos pecadores, cheios de misérias, necessitados de purificação, também há lugar para a alegria. Porque a Quaresma é simultaneamente tempo de fortaleza e de júbilo: temos que encher-nos de esperança, já que a graça do Senhor não nos há de faltar; Deus estará ao nosso lado e enviará os seus Anjos, para que sejam nossos companheiros de viagem, nossos prudentes conselheiros ao longo do caminho, nossos colaboradores em todas as nossas tarefas” 2.
“A Sagrada Escritura e a Tradição chamam propriamente anjos àqueles espíritos puros que, na prova fundamental da liberdade, escolheram Deus, a sua glória e o seu reino” 3. A eles está encomendada a tutela dos homens. Porventura – lê-se na Epístola aos Hebreus – não são todos os anjos espíritos ao serviço de Deus, que lhes confia missões para o bem daqueles que devem herdar a salvação? 4
É doutrina comum que todos e cada um dos homens, batizados ou não, têm o seu Anjo da Guarda. A sua missão começa no instante da concepção de cada homem e prolonga-se até o momento da morte. Os Atos dos Apóstolos registram numerosos episódios em que se manifesta a intervenção destes santos anjos, como também a confiança com que os primeiros cristãos os tratavam5. Vemo-lo especialmente no episódio da libertação de São Pedro da prisão: De repente, apresentou-se um anjo do Senhor e uma luz brilhou no recinto. Tocando no ombro de Pedro, o anjo despertou-o: “Levanta-te depressa”, disse-lhe. Caíram-lhe as cadeias das mãos e o anjo ordenou: “Cinge-te e calça as tuas sandálias”. Ele assim o fez. O anjo acrescentou: “Cobre-te com a tua capa e segue-me”6.
E Pedro, uma vez livre, dirigiu-se a casa de Maria, mãe de Marcos, onde muitos se tinham reunido em oração. Quando bateu à porta do vestíbulo, uma criada chamada Rode adiantou-se para ver quem era. Mal reconheceu a voz de Pedro, ficou fora de si de tanta alegria e, sem abrir a porta, correu para dentro e anunciou que era Pedro quem estava à porta. Disseram-lhe: “Estás louca!” Mas ela insistia em afirmar que era verdade. Diziam eles: “Então é o seu anjo”7. Este episódio mostra-nos a grande afeição que os primeiros fiéis sentiam por Pedro e a naturalidade da fé que tinham nos Anjos da Guarda. “Olha a confiança com que os primeiros cristãos tratavam os seus Anjos. – E tu?”8
Nós devemos também tratar os anjos com naturalidade e confiança, e serão muitas as vezes em que nos surpreenderemos com o auxílio que nos prestam nas lutas contra o maligno. “Estamos bem ajudados pelos anjos bons, mensageiros do amor de Deus, e a eles dirigimos a nossa oração, ensinados pela tradição da Igreja:
«Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, pois que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda e ilumina. Amem»”9.
II. E OS ANJOS aproximaram-se dele e o serviam. Os Anjos da Guarda têm a missão de ajudar cada homem a alcançar o seu fim sobrenatural. Enviarei um anjo adiante de ti – diz o Senhor a Moisés – para que te proteja no caminho e te conduza ao lugar que te preparei10. E o Catecismo Romano comenta: “Porque assim como os pais, quando os filhos necessitam de viajar por caminhos maus e perigosos, procuram alguém que os possa acompanhar para defendê-los dos perigos e cuidar deles, de igual modo o nosso Pai dos Céus, nesta viagem que empreendemos para a pátria celestial, nos dá anjos a cada um de nós para que, fortificados pelo seu poder e auxílio, nos livremos das ciladas furtivamente preparadas pelos nossos inimigos e afastemos os terríveis ataques que eles nos dirigem; e para que, com tais guias, sigamos pelo caminho reto, sem que erro algum interposto pelo inimigo seja capaz de separar-nos da senda que conduz ao Céu”11.
Portanto, é missão dos Anjos da Guarda auxiliar o homem contra todas as tentações e perigos e suscitar no seu coração boas inspirações. Eles são nossos intercessores, nossos protetores, e prestam-nos a sua ajuda quando os invocamos. “Os Santos intercedem pelos homens, ao passo que os Anjos da Guarda não só pedem pelos homens mas também atuam à sua volta. Se os bem-aventurados intercedem, os anjos intercedem e intervêm diretamente: são ao mesmo tempo advogados dos homens junto de Deus e ministros de Deus junto dos homens”12.
O Anjo da Guarda pode prestar-nos também ajudas materiais, se forem convenientes para o nosso fim sobrenatural ou para o dos outros. Não tenhamos receio de pedir-lhes o seu favor nas pequenas coisas materiais de que necessitamos diariamente: encontrar uma vaga para estacionar o carro, não perder o ônibus, sair bem de uma prova para a qual estudamos, etc. Podem ainda colaborar conosco no apostolado, e especialmente na oração e na luta contra as tentações e contra o demônio.
“Os anjos, além de levarem a Deus notícias nossas, trazem o auxílio de Deus às nossas almas e as apascentam como bons pastores, com doces comunicações e inspirações divinas. Os anjos defendem-nos dos lobos, que são os demônios, e nos amparam”13.
O nosso relacionamento com o Anjo da Guarda deve ser igual ao que temos com um amigo íntimo. Ele está sempre atento, constantemente disposto a prestar-nos o seu auxílio, se lhe pedimos que intervenha. Seria uma pena que, por esquecimento, por tibieza ou por ignorância, não nos sentíssemos acompanhados por tão fiel companheiro ou não lhe pedíssemos ajuda em tantas ocasiões em que precisamos dela. Nunca estamos sós na tentação ou na dificuldade; assiste-nos o nosso Anjo. E estará ao nosso lado até o momento em que abandonarmos este mundo. No fim da vida, acompanhar-nos-á até o tribunal de Deus, como manifesta a liturgia da Igreja nas orações para a recomendação da alma no momento da morte.
III. “TEM CONFIANÇA com o teu Anjo da Guarda. Trata-o como amigo íntimo – porque de fato o é –, e ele saberá prestar-te mil e um serviços nos assuntos correntes de cada dia”14.
Para que o Anjo da Guarda nos preste a sua ajuda, é necessário que lhe manifestemos de algum modo as nossas intenções e os nossos desejos. Apesar da grande perfeição da sua natureza, os anjos não têm o poder de Deus nem a sua sabedoria infinita, de maneira que não podem conhecer o interior das consciências. Basta, porém, que lhes falemos mentalmente para que nos entendam e até para que cheguem a deduzir do que lhes dizemos mais do que aquilo que nós mesmos somos capazes de expressar. Por isso é tão importante manter um trato de amizade com o Anjo da Guarda. E além de lhe manifestarmos amizade, devemos venerá-lo, pois é alguém que está sempre na presença de Deus, contemplando-o diretamente.
A devoção ao nosso Anjo da Guarda será uma ajuda eficaz nas nossas relações com Deus, no trabalho, no convívio com as pessoas que temos sempre ao nosso lado, nos pequenos e nos grandes conflitos que se podem apresentar ao longo dos nossos dias.
Neste tempo da Quaresma, podemos ter especialmente presente – e deve comover-nos – a cena no Horto das Oliveiras, em que a Humanidade Santíssima do Senhor é confortada por um anjo do céu. “Temos que saber tratar os Anjos com intimidade: recorrer a eles agora, dizer ao nosso Anjo da Guarda que estas águas sobrenaturais da Quaresma não resvalaram sobre a nossa alma, mas penetraram nela até o fundo, porque temos o coração contrito. Peçamos-lhe que leve até o Senhor a boa vontade que a graça faz germinar sobre a nossa miséria, como um lírio nascido no meio do esterco. Sancti Angeli Custodes nostri, defendite nos in proelio, ut non pereamus in tremendo iudicio. Santos Anjos da Guarda, defendei-nos no combate, para que não pereçamos no tremendo Juízo”15. Peçamos à Virgem, Regina Angelorum, que nos ensine a relacionar-nos com os Anjos, particularmente nesta Quaresma.
(1) Mt 4, 11; (2) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 63; (3) João Paulo II, Audiência geral, 6-VIII-1986; (4) Hebr 1, 14; (5) cfr. At 5, 19-20; 8, 26; 10, 3-6; (6) At 12, 7-11; (7) At 12, 13-17; (8) cfr. São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 570; (9) João Paulo II, Audiência geral, 20-VIII-1986; (10) Ex 23, 20; (11) Catecismo Romano, IX, n. 4; (12) G. Huber, Mi ángel marchará delante de ti, 6ª ed., Palabra, Madrid, 1980, pág. 43; (13) São João da Cruz, Cântico espiritual, 2, 3; (14) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 562; (15) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 63.