Desprendimento
TEMPO DA QUARESMA. SEGUNDA SEMANA. QUINTA-FEIRA
– O desprendimento das coisas confere-nos a necessária liberdade para seguir a Cristo. Os bens são somente meios.
– Desprendimento e generosidade. Alguns exemplos.
– Desprendimento do supérfluo e do necessário, da saúde, dos dons que Deus nos deu, do que temos e usamos.
I. NESTE TEMPO DA QUARESMA, a Igreja nos faz repetidas chamadas para que nos desprendamos das coisas da terra e assim cumulemos o nosso coração de Deus. Diz-nos o profeta Jeremias na primeira leitura da Missa de hoje: Bendito o homem que deposita a sua confiança no Senhor e põe nEle a sua esperança. Assemelha-se à árvore plantada perto da água, que estende as suas raízes para o arroio. Quando chegar o estio, não o temerá, e a sua folhagem continuará verdejante. Não a inquieta o ano de seca; continua a produzir frutos 1. O Senhor cuida da alma que colocou nEle o seu coração.
Quem deposita a sua confiança nas coisas da terra, afastando o seu coração do Senhor, está condenado à esterilidade e à ineficácia naquilo que realmente interessa: assemelha-se ao cardo da charneca e nem percebe a chegada do bom tempo, habitando o solo calcinado do deserto, terra salobra e inóspita 2.
O Senhor deseja que nos ocupemos das coisas da terra e as amemos corretamente: Enchei a terra e submetei-a 3. Mas uma pessoa que ame “desordenadamente” as coisas da terra não deixa lugar na sua alma para o amor a Deus. São incompatíveis o “apego” aos bens e o amor ao Senhor: Não podeis servir a Deus e às riquezas 4. As coisas podem converter-se numa amarra que nos impeça de chegar a Cristo. E se não o alcançamos, para que serve a nossa vida?
“Para chegar a Deus, Cristo é o caminho. Mas Cristo está na Cruz; e, para subir à Cruz, é preciso ter o coração livre, desprendido das coisas da terra” 5.
Ele nos deu o exemplo: passou pelos bens desta terra com perfeito senhorio e com a mais plena liberdade. Sendo rico, fez-se pobre por nós 6. Para segui-lo, estabeleceu-nos uma condição indispensável: Qualquer um de vós que não renuncie a tudo o que possui não pode ser meu discípulo 7. Este não renunciar aos bens encheu de tristeza o jovem rico, que tinha posses 8 e estava muito apegado a elas. Quanto não perdeu nesse dia este homem jovem que tinha “meia duzia de coisas” que em breve lhe fugiriam das mãos!
Os bens materiais são bons, porque são de Deus. São meios que Deus pôs à disposição do homem desde a criação, para que se desenvolvesse em sociedade com os outros. Somos administradores desses bens por um breve espaço de tempo. Tudo nos deve servir para amar a Deus – Criador e Pai – e aos outros. Se nos apegamos às coisas que temos e não praticamos atos de desprendimento efetivo, se os bens não nos servem para fazer o bem, se nos separam do Senhor, então não são bens, convertem-se em males.
Exclui-se do Reino dos céus todo aquele que põe as riquezas como centro da sua vida; idolatria, é como chama São Paulo à avareza 9. Um ídolo ocupa o lugar que só Deus deve ocupar. Exclui-se de uma verdadeira vida interior, de um relacionamento de amor com o Senhor, todo aquele que não quebra as amarras, ainda que finas, que o atam de um modo desordenado às coisas, às pessoas e a si próprio. “Porque tanto faz – diz São João da Cruz – que uma ave esteja presa por um fio muito fino ou por uma corda, porque, mesmo que seja um fio, tão presa estará a ele como à corda, enquanto não o quebrar para poder voar. É verdade que o fio é mais fácil de quebrar; mas, por mais fácil que seja, se não o quebrar, não voará” 10.
II. O EVANGELHO DA MISSA fala-nos de um homem que fazia mau uso dos seus bens. Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho finíssimo, e que todos os dias se banqueteava e se regalava. Havia também um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta do rico e desejava avidamente matar a fome com as migalhas que caíam da sua mesa 11.
Este homem rico tem um claro estilo de vida, uma maneira de viver: “banqueteava-se”. Vive para si, como se Deus não existisse, como se não precisasse dEle. Vive como quer, na abundância. A parábola não diz que estivesse contra Deus nem contra o pobre: apenas está cego para ver a Deus e para ver alguém que precise dele. Vive para si próprio. Quer encontrar a felicidade no egoísmo, não na generosidade. E o egoísmo cega e degrada a pessoa.
Seu pecado? Não se preocupou com Lázaro, não o viu. Não utilizou os bens conforme o querer de Deus. “Porque não foi a pobreza que conduziu Lázaro ao céu, mas a humildade, nem foram as riquezas que impediram o rico de entrar no grande descanso, mas o seu egoísmo e infidelidade” 12, diz São Gregório Magno com grande profundidade.
O egoísmo e o aburguesamento impedem de ver as necessidades alheias. Então tratam-se as pessoas como coisas (é grave ver as pessoas como coisas, que se apanham ou se abandonam conforme o interesse). Todos temos muito que dar: afeto, compreensão, cordialidade e ânimo, trabalho bem feito e acabado, esmola às pessoas necessitadas ou às obras de caridade, o sorriso cotidiano, um bom conselho, a ajuda aos amigos para que se aproximem dos sacramentos...
Com o bom uso que fizermos dos bens materiais – muitos ou poucos – que Deus pôs nas nossas mãos, ganharemos a vida eterna. A vida é o tempo de ganhar méritos. Se formos generosos e tratarmos os outros como filhos de Deus, seremos felizes aqui na terra e depois na outra vida. A caridade, nas suas diversas formas, é sempre realização do Reino de Deus, bem como a única bagagem que nos sobrará deste mundo que passa.
O nosso desprendimento deve ser efetivo, com resultados bem determinados, que não se conseguem sem sacrifício; e também natural e discreto, como é próprio de cristãos correntes que devem servir-se de bens materiais no seu trabalho ou nas tarefas apostólicas. Trata-se de um desprendimento positivo, porque todas as coisas da terra são ridiculamente pequenas e insuficientes em comparação com o bem imenso e infinito que pretendemos alcançar; e ainda interno, pois diz respeito aos desejos; atual, porque exige que examinemos com freqüência onde pomos o coração e tomemos resoluções concretas que assegurem a liberdade interior; e alegre, porque temos os olhos postos em Cristo, bem incomparável, e porque não é uma mera privação, mas riqueza espiritual, domínio das coisas e plenitude.
III. O DESPRENDIMENTO nasce do amor a Cristo e, ao mesmo tempo, possibilita que esse amor cresça e viva. Deus não habita numa alma cheia de bugigangas. Por isso é necessário um firme trabalho de vigilância e de limpeza interior.
Este tempo da Quaresma é muito oportuno para examinarmos a nossa atitude em face das coisas e em face de nós mesmos: Tenho coisas desnecessárias ou supérfluas? Evito tudo o que para mim significa luxo e mero capricho, ainda que não o seja para outros? Estou apegado às coisas ou instrumentos que devo utilizar no meu trabalho? Queixo-me quando não disponho do necessário? Levo uma vida sóbria, própria de uma pessoa que quer ser santa? Faço gastos inúteis por precipitação ou por falta de previsão? Pratico habitualmente a esmola, generosamente, sem avareza? Contribuo para a manutenção de alguma obra apostólica e para o culto da Igreja com uma ajuda proporcionada aos meus ganhos e despesas?
O desprendimento necessário para seguir de perto o Senhor inclui, além dos bens materiais, o desprendimento de nós mesmos: da saúde, do que os outros pensam de nós, das ambições nobres, dos triunfos e êxitos profissionais.
“Refiro-me também [...] a esses anseios límpidos com que procuramos exclusivamente dar toda a glória a Deus e louvá-lo, ajustando a nossa vontade a esta norma clara e precisa: Senhor, só quero isto ou aquilo se for do teu agrado, porque, senão, para que me interessa? Assestamos assim um golpe mortal no egoísmo e na vaidade, que serpenteiam por todas as consciências; ao mesmo tempo, alcançamos a verdadeira paz na nossa alma, com um desprendimento que acaba na posse de Deus, cada vez mais íntima e mais intensa” 13. É assim que estamos desprendidos dos frutos do nosso trabalho?
Os cristãos devem possuir as coisas como se nada possuíssem 14. Diz São Gregório Magno que “possui como se nada possuísse aquele que ajunta todas as coisas necessárias para o seu uso, mas prevê cautamente que logo as há de deixar. Usa deste mundo como se não usasse aquele que dispõe do necessário para viver, mas não permite que nada disso domine o seu coração, para assim estar a serviço do bom andamento da alma, que tende para coisas mais altas” 15.
Desprendimento da saúde corporal. “Punha-me a considerar quanto importa não nos amedrontarmos com a nossa fraca disposição quando se trata claramente de servir o Senhor [...]. Para quê a vida e a saúde, senão para as perder por tão grande Rei e Senhor? Crede-me, irmãs, nunca vos fará mal seguir por este caminho” 16.
Os nossos corações são para Deus, porque foram feitos para Ele e somente nEle saciarão as suas ânsias de felicidade e de infinito. “Jesus não se satisfaz «compartilhando»; quer tudo” 17. Todos os outros amores nobres e limpos que compõem a nossa vida aqui na terra, cada um segundo a específica vocação recebida de Deus, ordenam-se para esse grande Amor: Jesus Cristo Nosso Senhor, e dele se alimentam.
Senhor, Vós que amais a inocência e a devolvei aos que a perderam, atraí para Vós os nossos corações e queimai-os no fogo do vosso Espírito 18.
Santa Maria, nossa Mãe, ajudar-nos-á a limpar e ordenar os afetos do nosso coração para que só o seu Filho reine nele. Agora e por toda a eternidade. Coração dulcíssimo de Maria, guardai o nosso coração e preparai-lhe um caminho seguro.
(1) Jer 17, 7-8; (2) Jer 17, 6; (3) cfr. Gen 1, 28; (4) Mt 6, 24; (5) São Josemaría Escrivá, Via Sacra, Xª est.; (6) cfr. 2 Cor 8, 9; (7) Lc 14, 33; (8) Mc 10, 22; (9) Col 3, 5; (10) São João da Cruz, Chama de amor viva, 11, 4; (11) Lc 16, 19-21; (12) São Gregório Magno, Homilias sobre o Evangelho de São Lucas, 40, 2; (13) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 114; (14) 1 Cor 7, 30; (15) São Gregório Magno, Homilias sobre o Evangelho, 36; (16) Santa Teresa, Fundações, 28, 18; (17) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 155; (18) Oração coleta da Missa da quinta-feira da segunda semana da Quaresma.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
12 de Março 2020
A SANTA MISSA

2ª Semana da Quaresma – Quinta-feira
Cor: Roxa
1ª Leitura: Jr 17,5-10
Maldito o homem que confia no homem.
Bendito o homem que põe sua confiança no Senhor
Leitura do Livro do Profeta Jeremias
5 Isto diz o Senhor: ‘Maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne humana, enquanto o seu coração se afasta do Senhor; 6 como os cardos no deserto, ele não vê chegar a floração, prefere vegetar na secura do ermo, em região salobra e desabitada. 7 Bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é o Senhor; 8 é como a árvore plantada junto às águas, que estende as raízes em busca de umidade, por isso não teme a chegada do calor: sua folhagem mantém-se verde, não sofre míngua em tempo de seca e nunca deixa de dar frutos. 9 Em tudo é enganador o coração, e isto é incurável; quem poderá conhecê-lo? 10 Eu sou o Senhor, que perscruto o coração e provo os sentimentos, que dou a cada qual conforme o seu proceder e conforme o fruto de suas obras.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 1,1-2.3.4.6 (R. Sl 39,5a)
R. É feliz quem a Deus se confia!
1 Feliz é todo aquele que não anda*
conforme os conselhos dos perversos;
que não entra no caminho dos malvados,*
nem junto aos zombadores vai sentar-se;
2 mas encontra seu prazer na lei de Deus*
e a medita, dia e noite, sem cessar. R.
3 Eis que ele é semelhante a uma árvore,*
que à beira da torrente está plantada;
ela sempre dá seus frutos a seu tempo,
e jamais as suas folhas vão murchar.*
Eis que tudo o que ele faz vai prosperar. R.
4 Mas bem outra é a sorte dos perversos.
Ao contrário, são iguais à palha seca*
espalhada e dispersada pelo vento.
6 Pois Deus vigia o caminho dos eleitos,*
mas a estrada dos malvados leva à morte. R.
Evangelho: Lc 16,19-31
Tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro os males;
agora ele encontra aqui consolo e tu és atormentado.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas
Naquele tempo, Jesus disse aos fariseus: 19 ‘Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias. 20 Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão à porta do rico. 21 Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas. 22 Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. 23 Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. 24 Então gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’. 25 Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado.26 E, além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’. 27 O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, 28 porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento’. 29 Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas, que os escutem!’ 30 O rico insistiu: ‘Não, Pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão se converter’. 31 Mas Abraão lhe disse: `Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos’.’
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
São Luís Orione
12 de Março
São Luís Orione
Dom Orione, como é popularmente conhecido, nasceu na Itália em 1872. Em sua adolescência, foi aluno de São João Bosco no Oratório de Valdocco de Turim. “Nós seremos sempre amigos”, disse Dom Bosco ao jovem.
Mais tarde, ingressou no seminário de Tortona e abriu o primeiro oratório para cuidar da educação cristã dos jovens. Depois, com 21 anos, abriu um colégio para crianças pobres do bairro de São Bernardino.
Em 1895, foi ordenado sacerdote e celebrou sua primeira Missa rodeado por crianças. Com o tempo, abriu novas casas em diferentes partes da Itália. Aos poucos, uniram-se a ele clérigos e sacerdotes. Dedicou-se ao ensino dos jovens, à pregação, à visita aos pobres e aos doentes.
Em 1903, o bispo de Tortona reconheceu canonicamente os Filhos da Divina Providência (sacerdotes, irmãos coadjutores e eremitas), a congregação masculina da Pequena Obra da Divina Providência, dedicada a colaborar para levar os pequenos, os pobres e o povo à Igreja e ao Papa, através de obras de caridade.
Trabalhou ativamente na liberdade, unidade da Igreja e a cristianização dos trabalhadores. Socorreu heroicamente as vítimas do terremoto em 1908, em que 90 mil pessoas morreram.
Fundou a Congregação das Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade, as Irmãs Sacramentinas Adoradoras cegas e depois as Contemplativas de Jesus Crucificado.
Organizou grupos Leigos: as Damas da Divina Providência, os Ex-Alunos e os Amigos. Posteriormente, tomou corpo o Instituto Secular Orionita e o Movimento Laical Orionita.
Depois da Primeira Guerra Mundial, multiplicaram-se o número de escolas, colégios, colônias agrícolas, obras caritativas e sociais. Dom Orione criou os “Pequenos Cotolengos”, que atendiam os mais sofredores e abandonados nas periferias das grandes cidades.
Enviou várias expedições missionárias para diversas partes do mundo, viajando inclusive ele mesmo a países da América Latina como Argentina, Brasil, Uruguai e Chile. Tinha a estima dos Papas São Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII, que lhe confiaram resolver problemas dentro e fora da Igreja.
Construiu os santuários de Nossa Senhora da Guarda, em Tortona, e Nossa Senhora de Caravaggio, em Funo. Rodeado pelo amor de seus religiosos, partiu para a Casa do Pai no dia 12 de março de 1940, suspirando: “Jesus! Jesus! Estou indo”.
Fonte: https://www.acidigital.com
11 de Março 2020
A SANTA MISSA

2ª Semana da Quaresma – Quarta- feira
Cor: Roxa
1ª Leitura: Jr 18,18-20
Vinde, ataquemo-lo.
Leitura do Livro do Profeta Jeremias
Naqueles dias: 18 Disseram eles: ‘Vinde para conspirarmos juntos contra Jeremias; um sacerdote não deixará morrer a lei; nem um sábio, o conselho; nem um profeta, a palavra. Vinde para o atacarmos com a língua, e não vamos prestar atenção a todas as suas palavras.’ 19 Atende-me, Senhor, ouve o que dizem meus adversários. 20 Acaso pode-se retribuir o bem com o mal? Pois eles cavaram uma cova para mim. Lembra-te de que fui à tua presença, para interceder por eles e tentar afastar deles a tua ira.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 30,5-6.14.15-16 (R. 17b)
R. Salvai-me pela vossa compaixão, ó Senhor Deus!
5 Retirai-me desta rede traiçoeira, *
porque sois o meu refúgio protetor!
6 Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito, *
porque vós me salvareis, ó Deus fiel! R.
14 Ao redor, todas as coisas me apavoram; *
ouço muitos cochichando contra mim;
todos juntos se reúnem, conspirando *
e pensando como vão tirar-me a vida. R.
15 A vós, porém, ó meu Senhor, eu me confio, *
e afirmo que só vós sois o meu Deus!
16 Eu entrego em vossas mãos o meu destino; *
libertai-me do inimigo e do opressor! R.
Evangelho: Mt 20,17-28
Eles o condenarão à morte.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo: 17 Enquanto Jesus subia para Jerusalém, ele tomou os doze discípulos à parte e, durante a caminhada, disse-lhes: 18 ‘Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos sumos sacerdotes e aos mestres da Lei. Eles o condenarão à morte, 19 e o entregarão aos pagãos para zombarem dele, para flagelá-lo e crucificá-lo. Mas no terceiro dia ressuscitará.’ 20 A mãe dos filhos de Zebedeu aproximou-se de Jesus com seus filhos e ajoelhou-se com a intenção de fazer um pedido. 21 Jesus perguntou: ‘O que tu queres?’ Ela respondeu: ‘Manda que estes meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda.’ 22 Jesus, então, respondeu-lhes: ‘Não sabeis o que estais pedindo. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?’ Eles responderam: ‘Podemos.’ 23 Então Jesus lhes disse: ‘De fato, vós bebereis do meu cálice, mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. Meu Pai é quem dará esses lugares àqueles para os quais ele os preparou.’ 24 Quando os outros dez discípulos ouviram isso, ficaram irritados contra os dois irmãos. 25 Jesus, porém, chamou-os, e disse: ‘Vós sabeis que os chefes das nações têm poder sobre elas e os grandes as oprimem. 26 Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser tornar-se grande, torne-se vosso servidor; 27 quem quiser ser o primeiro, seja vosso servo. 28 Pois, o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos.’
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Beber o cálice do Senhor
TEMPO DA QUARESMA. SEGUNDA SEMANA. QUARTA-FEIRA
– Identificar em tudo a nossa vontade com a do Senhor. Corredimir com Ele.
– Oferecimento da dor e da mortificação voluntária. Penitência na vida corrente. Alguns exemplos de mortificação.
– Mortificações que nascem do serviço aos outros.
I. JESUS FALA pela terceira vez aos seus discípulos da sua Paixão e Morte, bem como da sua Ressurreição gloriosa, enquanto se dirige a Jerusalém. A certa altura do caminho, perto já de Jericó, uma mulher, a mãe de Tiago, aproxima-se dEle para lhe fazer um pedido em favor dos seus filhos. Prostrou-se diante de Jesus, conta São Mateus, para lhe fazer uma súplica. Com toda a simplicidade, diz a Jesus: Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu reino, um à tua direita e outro à tua esquerda 1. O Senhor responde-lhe imediatamente: Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que eu hei de beber? Eles disseram: Podemos 2.
Os dois irmãos não deviam ter uma noção muito exata do alcance das palavras do Senhor, pois São Lucas nos diz que, pouco antes, quando Jesus falava da sua Paixão, eles nada disso compreendiam, e essas palavras eram para eles um enigma cujo sentido não podiam entender 3. No entanto, ainda que movidos por uma intenção apenas geral, mostraram-se dispostos a querer tudo o que Jesus quisesse; não puseram limite algum ao seu Senhor.
Nós também não os pusemos e por isso, quando pedimos alguma coisa na nossa oração, devemos estar dispostos a aceitar, acima de tudo, a vontade de Deus, mesmo que não coincida com os nossos desejos. “Sua Majestade – diz Santa Teresa – sabe melhor o que nos convém. Para que havemos de aconselhá-lo sobre o modo de nos distribuir os seus dons? Poderia com razão dizer-nos que não sabemos o que pedimos” 4.
O Senhor quer que lhe peçamos o que precisamos e desejamos mas, sobretudo, que conformemos a nossa vontade com a sua. Ele nos dará sempre o melhor.
João e Tiago pedem um lugar de honra no novo Reino, e Jesus fala-lhes da Redenção. Pergunta-lhes se estão dispostos a padecer com Ele. Utiliza a imagem hebraica do cálice, que simboliza a vontade de Deus sobre um homem 5. O do Senhor é um cálice amarguíssimo, que se converterá em cálice de benção 6 para todos os homens.
Beber o cálice de outro era sinal de uma profunda amizade e da disposição de partilhar de um destino comum. É a esta íntima participação que o Senhor convida os que o queiram seguir. Para participar na sua Ressurreição gloriosa, é necessário compartilhar a Cruz com Ele. Estais dispostos a padecer comigo? Podeis beber o cálice comigo? Podemos, responderam aqueles dois Apóstolos. Tiago morreu poucos anos depois, decapitado por ordem de Herodes Agripa 7. São João passou por inúmeros sofrimentos e perseguições por amor ao seu Senhor.
O Senhor “também nos chama a nós e nos pergunta, como a Tiago e a João: Potestis bibere calicem quem ego bibiturus sum? (Mt XX, 22); estais dispostos a beber o cálice – este cálice da completa entrega ao cumprimento da vontade do Pai – que eu vou beber? Possumus (Mt XX, 22). Sim, estamos dispostos, é a resposta de João e de Tiago... Vós e eu estamos dispostos seriamente a cumprir, em tudo, a vontade do nosso Pai-Deus? Demos ao Senhor o nosso coração inteiro, ou continuamos apegados a nós mesmos, aos nossos interesses, à nossa comodidade, ao nosso amor próprio? Há em nós alguma coisa que não corresponda à nossa condição de cristãos e que nos impeça de nos purificarmos? Hoje apresenta-se-nos a ocasião de retificar” 8.
II. “O SENHOR SABIA que os dois Apóstolos poderiam imitá-lo na sua paixão, mas mesmo assim faz-lhes a pergunta, para que todos ouçamos que ninguém pode reinar com Cristo se não o imitar antes na sua paixão; porque as coisas de grande valor só se conseguem a um preço muito alto” 9.
Não existe vida cristã sem mortificação; é o seu preço. “O Senhor salvou-nos pela Cruz; com a sua morte, voltou a dar-nos a esperança, o direito à vida. Não o podemos honrar se não o reconhecermos como nosso Salvador, se não o honrarmos no mistério da Cruz... O Senhor fez da dor um meio de redenção; com a sua dor redimiu-nos, sempre que não nos recusemos a unir a nossa dor à sua e a fazer dela, com a sua, um meio de redenção” 10.
O espírito de penitência e de mortificação manifesta-se na nossa vida corrente, nas tarefas de cada dia, sem termos de esperar por ocasiões extraordinárias.
“Penitência é o cumprimento exato do horário que marcaste, ainda que o corpo resista ou a mente pretenda evadir-se em sonhos quiméricos. Penitência é levantar-se na hora. É também não deixar para mais tarde, sem um motivo justificado, essa tarefa que te é mais difícil ou trabalhosa.
“A penitência está em saberes compaginar todas as tuas obrigações – com Deus, com os outros e contigo próprio –, sendo exigente contigo de modo que consigas encontrar o tempo de que cada coisa necessita. És penitente quando te submetes amorosamente ao teu plano de oração, apesar de estares esgotado, sem vontade ou frio.
“Penitência é tratar sempre com a máxima caridade os outros, começando pela tua própria casa. É atender com a máxima delicadeza os que sofrem, os doentes, os que padecem. É responder com paciência aos maçantes e inoportunos. É interromper ou modificar os programas pessoais, quando as circunstâncias – sobretudo os interesses bons e justos dos outros – assim o requerem.
“A penitência consiste em suportar com bom humor as mil pequenas contrariedades da jornada; em não abandonares a tua ocupação, ainda que de momento te tenha passado o gosto com que a começaste; em comermos com agradecimento o que nos servem, sem importunar ninguém com caprichos.
“Penitência, para os pais e, em geral, para os que têm uma missão de governo ou educativa, é corrigir quando é preciso fazê-lo, de acordo com a natureza do erro e com as condições de quem necessita dessa ajuda, sem fazer caso de subjetivismos néscios e sentimentais.
“O espírito de penitência leva a não nos apegarmos desordenadamente a esse bosquejo monumental de projetos futuros, em que já previmos quais serão os nossos traços e pinceladas mestras. Que alegria damos a Deus quando sabemos renunciar às nossas garatujas e broxadas de mestrinhos, e permitimos que seja Ele a acrescentar os traços e as cores que mais lhe agradem!” 11
III. OS OUTROS DISCÍPULOS, que tinham ouvido o diálogo de Jesus com os dois irmãos, começaram a indignar-se. Então o Senhor disse-lhes: Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós faça-se vosso servo. E aquele que quiser tornar-se entre vós o primeiro faça-se vosso escravo. Pois o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por uma multidão 12.
O serviço de Cristo à humanidade tem em vista a salvação. A nossa atitude deve ser a de servir a Deus e aos outros com sentido sobrenatural, especialmente no que se refere à salvação, mas também em todas as ocasiões que se apresentem em cada dia. Devemos servir mesmo àqueles que não no-lo agradecem, sem esperar nada em troca. É a melhor maneira de darmos a vida pelos outros, de um modo eficaz e discreto, e de combatermos o nosso egoísmo, que tende a roubar-nos a alegria.
A maior parte das profissões é um serviço direto aos outros: as donas de casa, os comerciantes, os professores, as empregadas domésticas, todos eles, de um modo mais ou menos direto, realizam um serviço. Oxalá não percamos de vista este aspecto, que contribuirá para nos santificar no trabalho.
O espírito de serviço exige mortificação e esquecimento próprio, e por isso haverá ocasiões em que colidirá com a mentalidade de muitos que só pensam em si mesmos. Para nós, cristãos, servir é o “nosso orgulho” e a nossa dignidade, porque assim imitamos Cristo, e porque, para servirmos voluntariamente, por amor, temos de pôr em prática muitas virtudes humanas e sobrenaturais. “Esta dignidade manifesta-se pela disposição de servir segundo o exemplo de Cristo, o qual não veio para ser servido, mas para servir. Se, portanto, à luz da atitude de Cristo, é só servindo que se pode verdadeiramente reinar, por outro lado o servir reclama tal maturidade espiritual que se torna necessário defini-lo precisamente como reinar. Para se poder servir digna e eficazmente os outros, é necessário saber dominar-se, é necessário possuir as virtudes que tornam possível tal domínio” 13.
Não nos importemos de servir e ajudar muito os que estão ao nosso lado, mesmo que não recebamos em troca nenhum pagamento ou recompensa. Servir, com Cristo e por Cristo, é reinar com Ele. A nossa Mãe Santa Maria, que serviu a seu Filho e a São José, nos ajudará a dar-nos sem medida nem cálculo.
(1) Mt 20, 21-22; (2) Mt 20, 22; (3) Lc 18, 34; (4) Santa Teresa, Moradas, II, 8; (5) cfr. Sl 16, 5; (6) Is 51, 17-22; (7) cfr. At 12, 2; (8) São Josemaría Escrivá,É Cristo que passa, n. 15; (9) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 35; (10) Paulo VI, Alocução, 24-II-67; (11) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 138; (12) Mt 20, 24-28; (13) João Paulo II, Enc. Redemptor hominis, 21.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Constantino
11 de Março
São Constantino
Constantino faz parte da heroica história do cristianismo na Escócia. Ele era rei da Cornualha, pequena região da Inglaterra, e se casou com a filha do rei da Bretanha. Depois, tornou-se o maior evangelizador de sua pátria e o responsável pela conversão do país.
O rei Constantino não foi um governante justo até sua conversão. No início da vida, cometeu sacrilégios e até assassinatos em sua terra natal. Para ficar livre de cobranças na vida particular, divorciou-se da esposa. Foram muitos anos de vida mundana, envolvido em crimes e pecados. Mas, quando soube da morte de sua ex-esposa, foi tocado pela graça tão profundamente que decidiu transformar sua vida. Primeiro abriu mão do trono em favor de seu filho, depois se converteu, recebendo o batismo. Em seguida, isolou-se no mosteiro de São Mócuda, na Irlanda, onde trabalhou por sete anos, executando as tarefas mais difíceis, no mais absoluto silêncio.
Os ensinamentos de Columbano, que também é celebrado pela Igreja e nesse período estava na região em missão apostólica, o levaram a se ordenar sacerdote. Assim, partiu para evangelizar junto com Columbano e empregou a coragem que possuía, desde a época em que era rei, para a conversão do seu povo. As atitudes de Constantino passaram a significar um pouco de luz no período obscuro da Idade Média.
A Inglaterra e a Irlanda, naquela época, viviam já seus dias de conversão, graças ao trabalho missionário de Patrício, que se tornou mártir e santo pela Igreja, e outros religiosos. Constantino, que recebera orientação espiritual de Columbano, não usava os mantos ricos dos reis, e sim o hábito simples e humilde dos padres. Lutou bravamente pelo cristianismo, pregou, converteu, fundou vários conventos, construiu igrejas, e seu trabalho deu muitos frutos. Sua terra, antes conhecida como “o país dos Pitti”, assumiu o nome de Escócia, que até então pertencia à Irlanda.
Porém, antes de se tornar um estado católico, a Escócia viu Constantino ser martirizado. Foi justamente lá, quando pregava em uma praça pública, que um pagão o atacou brutalmente, amputando-lhe o braço direito, o que causou uma hemorragia tão intensa que o sacerdote esvaiu-se em sangue até morrer, não sem antes abraçar e abençoar cada um de seus seguidores. Morreu no dia 11 de março de 598 e se tornou o primeiro mártir escocês.
O seu culto espalhou-se rapidamente entre os cristãos de língua anglo-saxônica, atingiu a Europa e se propagou por todo o mundo cristão, ocidental e oriental. Sua veneração litúrgica foi marcada para o dia de seu martírio.
Texto: Paulinas Internet
Humildade e Espírito de Serviço
TEMPO DA QUARESMA. SEGUNDA SEMANA. TERÇA-FEIRA
– Sem humildade, é impossível servir os outros, e podemos tornar infelizes os que nos rodeiam.
– Imitar o serviço de Jesus, exemplo supremo de humildade e de entrega aos outros.
– De modo particular, devemos servir àqueles que o Senhor colocou ao nosso lado. Aprender da Virgem Maria.
I. NO EVANGELHO DA MISSA de hoje, o Senhor descreve na sua crua realidade como os escribas e fariseus se sentaram na cátedra de Moisés e, preocupados somente consigo próprios, abandonaram os que lhes haviam sido confiados, as pessoas simples que andavam maltratadas e abatidas como ovelhas sem pastor1. Só lhes interessavam os primeiros lugares nos banquetes, os seus filactérios e as suas franjas, os cumprimentos nas praças e que os chamassem mestres2. Haviam sido constituídos como sal e luz do povo de Israel, e tinham deixado o povo sem sal e sem luz. Eles próprios estavam às escuras. Tinham trocado a glória de Deus pela sua própria glória: Fazem todas as suas obras para serem vistos pelos homens. A soberba pessoal e a busca da vanglória tinham feito com que perdessem a humildade e o espírito de serviço que caracteriza os que desejam seguir o Senhor.
Cristo previne os seus discípulos: Vós, porém, não vos façais chamar mestres... O maior dentre vós seja o vosso servo3. E Ele mesmo mostrou constantemente o caminho: Pois quem é o maior: aquele que está sentado à mesa ou aquele que serve? Não é aquele que está sentado à mesa? No entanto, eu estou no meio de vós como quem serve4.
Sem humildade e espírito de serviço, não é possível viver a caridade. Sem humildade, não há santidade, pois Jesus não quer ao seu serviço amigos de peito inchado: “Os instrumentos de Deus são sempre humildes”5.
Na ação apostólica e nos pequenos serviços que prestamos aos outros, não há lugar nem motivo algum para a autocomplacência ou para a altanaria, pois quem verdadeiramente faz as coisas é o Senhor. Sem a graça, de nada serviriam os maiores esforços: Ninguém pode dizer “Jesus é o Senhor” senão sob a ação do Espírito Santo6. Somente a graça pode potenciar os nossos talentos humanos e levar-nos a realizar obras que estão claramente acima das nossas possibilidades. E Deus resiste aos soberbos e dá a sua graça aos humildes7.
Devemos estar vigilantes, porque a pior ambição é a de procurarmos a nossa própria excelência, como fizeram os escribas e os fariseus; a de nos procurarmos a nós mesmos nas coisas que fazemos ou projetamos.”Arremete (a soberba) por todos os flancos, e o seu vencedor encontra-a em tudo o que o circunda”8.
Se não formos humildes, podemos desgraçar a vida dos que nos rodeiam, porque a soberba infecciona tudo. Onde há um soberbo, tudo acaba por ser vítima da sua auto-suficiência: a família, os amigos, o lugar de trabalho... O soberbo exigirá que o tratem com atenções especiais, porque se julga diferente, e será necessário tomar muito cuidado para evitar ferir a sua suscetibilidade... A sua atitude dogmática nas conversas, as suas intervenções irônicas – não interessa que os outros fiquem mal, desde que ele fique bem –, a sua tendência para cortar conversas que surgiram naturalmente, etc, são manifestações de algo mais profundo: um grande egoísmo que se apodera das pessoas quando situam o horizonte da vida em si mesmas.
Estes momentos de oração podem servir-nos para examinar na presença do Senhor como é o nosso relacionamento com os outros e se está repleto de um humilde espírito de serviço.
II. JESUS É O EXEMPLO supremo de humildade e de dedicação aos outros. Ninguém teve jamais dignidade comparável à sua, ninguém serviu os homens com tanta solicitude: Eu estou no meio de vós como quem serve. E essa continua a ser a sua atitude para com cada um de nós: Ele está sempre disposto a servir-nos, a ajudar-nos, a levantar-nos das nossas quedas. Como é que nós servimos os outros, na família, no trabalho, nesses favores anônimos que talvez nunca despertem o menor agradecimento? O Senhor nos diz hoje na primeira leitura da Missa9, por meio do profeta Isaías:
Discite benefacere: Aprendei a fazer o bem... E só o aprenderemos se pusermos os olhos em Cristo, nosso Modelo, se meditarmos freqüentemente o seu exemplo constante e os seus ensinamentos.
Dei-vos o exemplo – diz o Senhor depois de lavar os pés aos discípulos – para que, como eu vos fiz, assim façais vós também10. Deixa-nos uma lição suprema para que entendamos que, se não formos humildes, se não estivermos dispostos a servir, não poderemos segui-lo. E deixa-nos também uma regra simples, mas exata, para vivermos a caridade com humildade e espírito de serviço: Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o vós a eles11.
A experiência das coisas que nos agradam ou nos aborrecem, que nos ajudam ou prejudicam, é uma boa norma para avaliarmos o que devemos fazer ou evitar no trato com os outros. Todos desejamos ouvir uma palavra de ânimo quando as coisas não nos correm bem, uma palavra compreensiva quando, apesar da nossa boa vontade, tornamos a errar; que tenham em conta as coisas positivas que fazemos, mais do que as negativas; que exista um ambiente de cordialidade no lugar onde trabalhamos ou ao chegarmos a casa; que nos exijam no trabalho, sem dúvida, mas com bons modos; que ninguém fale mal de nós pelas costas; que haja alguém que nos defenda quando nos criticam e não estamos presentes; que se preocupem verdadeiramente de nós quando estamos doentes; que nos advirtam quando fazemos mal alguma coisa, ao invés de a comentarem com outros; e que rezem por nós e... Estas são as coisas que, com humildade e espírito de serviço, devemos fazer pelos outros. Aprendei a fazer o bem.
Se nos comportarmos assim, continua a dizer o profeta Isaías, então: Ainda que os vossos pecados sejam escarlates, tornar-se-ão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como a púrpura, ficarão brancos como a lã12.
III. O MAIOR ENTRE VÓS seja o vosso servo, diz-nos o Senhor13. Para isso, devemos deixar de lado o nosso egoísmo e descobrir essas manifestações da caridade que tornam felizes os outros. Se não lutarmos por esquecer-nos de nós mesmos, estaremos dia e noite ao lado dos que nos rodeiam e não perceberemos que precisam que lhes digamos umas palavras de alento, que apreciemos o que fazem, que os animemos a ser melhores e que os sirvamos.
O egoísmo cega e não permite que vejamos os outros; a humildade abre caminho à caridade em detalhes práticos e concretos de serviço. Este espírito alegre, de abertura aos outros e de disponibilidade, é capaz de transformar qualquer ambiente. A caridade penetra como a água pelas fendas das pedras e acaba por quebrar as resistências mais duras: “Amor traz amor”, dizia Santa Teresa14, e São João da Cruz aconselhava: “Onde não há amor, põe amor e tirarás amor”15.
Como a mãe que acaricia os seus filhinhos, assim, levados pela nossa ternura para convosco, desejávamos não só comunicar-vos o Evangelho de Deus, mas ainda a nossa própria vida16, manifestava São Paulo aos cristãos de Tessalônica. Se o imitarmos, teremos frutos parecidos aos seus.
De modo especial, devemos viver este espírito do Senhor com os que estão mais perto de nós, no seio da própria família: “O marido não procure unicamente os seus interesses, mas também os da esposa, e esta os do marido; os pais procurem os interesses dos filhos, e estes por sua vez procurem os interesses dos seus pais. A família é a única comunidade em que todo o homem «é amado por si mesmo», pelo que é e não pelo que possui [...]. Como ensina o Apóstolo, a observância desta norma fundamental explica que não se faça nada por espírito de rivalidade ou por vanglória, mas com humildade, por amor. E este amor, que se abre aos outros, possibilita que os membros da família sejam autênticos servidores da “igreja doméstica”, onde todos desejam o bem e a felicidade de cada um; onde todos e cada um dão vida a esse amor com a urgente busca de tal bem e tal felicidade”17.
Se atuarmos assim, não veremos, como sucede em tantas ocasiões, a palha no olho alheio sem ver a viga no próprio18. As menores faltas dos outros deixarão de ser observadas com uma lente de aumento, e as nossas maiores faltas deixarão de tender a reduzir-se e a justificar-se. A humildade far-nos-á reconhecer em primeiro lugar os nossos próprios erros e as nossas misérias. Estaremos então em condições de ver com compreensão os defeitos dos outros e de lhes prestar ajuda. E estaremos também em condições de estimá-los e aceitá-los com essas deficiências.
A Virgem, Nossa Senhora, Escrava do Senhor, ensinar-nos-á a entender que servir os outros é uma das formas de encontrarmos a alegria nesta vida e um dos caminhos mais curtos para encontrarmos Jesus. Para isso vamos pedir-lhe que nos faça verdadeiramente humildes.
(1) Mt 9, 36; (2) cfr. Mt 23, 1-12; (3) cfr. Mt 23, 8-11; (4) Lc 22, 27; (5) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 15; (6) 1 Cor 12, 3; (7) Ti 4, 6; (8) Cassiano, Instituições, 11, 3; (9) Is 1, 17; (10) Jo 13, 15; (11) Mt 7, 12; (12) Is 1, 18; (13) Mt 23, 11; (14) Santa Teresa, Vida, 22, 14; (15) São João da Cruz, Carta à M. Mª. da Encarnação, em Vida; (16) 1 Tess 2, 7-8; (17) João Paulo II, Homilia na Missa para as famílias, Madrid, 2-XI-1982; (18) Mt 7, 3-5.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
10 de Março 2020
A SANTA MISSA

2ª Semana da Quaresma – Terça-feira
Cor: Roxa
1ª Leitura: Is 1,10.16-20
Aprendei a fazer o bem. Procurai o direito.
Leitura do Livro do Profeta Isaías
10 Ouvi a palavra do Senhor, magistrados de Sodoma, prestai ouvidos ao ensinamento do nosso Deus, povo de Gomorra. 16 Lavai-vos, purificai-vos. Tirai a maldade de vossas ações de minha frente. Deixai de fazer o mal! 17 Aprendei a fazer o bem! Procurai o direito, corrigi o opressor. Julgai a causa do órfão, defendei a viúva. 18 Vinde, debatamos – diz o Senhor. Ainda que vossos pecados sejam como púrpura, tornar-se-ão brancos como a neve. Se forem vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como lã. 19 Se consentires em obedecer, comereis as coisas boas da terra. 20 Mas se recusardes e vos rebelardes, pela espada sereis devorados, porque a boca do Senhor falou!
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: l 49, 8-9. 16bc-17. 21.23 (R. 23b)
R. A todos que procedem retamente,
eu mostrarei a salvação que vem de Deus.
8 Eu não venho censurar teus sacrifícios, *
pois sempre estão perante mim teus holocaustos;
9 não preciso dos novilhos de tua casa *
nem dos carneiros que estão nos teus rebanhos. R.
16b ‘Como ousas repetir os meus preceitos *
16c e trazer minha Aliança em tua boca?
17 Tu que odiaste minhas leis e meus conselhos *
e deste as costas às palavras dos meus lábios! R.
21 Diante disso que fizeste, eu calarei? *
Acaso pensas que eu sou igual a ti?
É disso que te acuso e repreendo *
e manifesto essas coisas aos teus olhos. R.
23 Quem me oferece um sacrifício de louvor, *
este sim é que me honra de verdade.
A todo homem que procede retamente, *
eu mostrarei a salvação que vem de Deus’. R.
Evangelho: Mt 23,1-12
Eles falam mas não praticam.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo: 1 Jesus falou às multidões e a seus discípulos: 2 ‘Os mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. 3 Por isso, deveis fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam. 4 Amarram pesados fardos e os colocam nos ombros dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo. 5 Fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros. Eles usam faixas largas, com trechos da Escritura, na testa e nos braços, e põem na roupa longas franjas. 6 Gostam de lugar de honra nos banquetes e dos primeiros lugares nas sinagogas; 7 Gostam de ser cumprimentados nas praças públicas e de serem chamados de Mestre. 8 Quanto a vós, nunca vos deixeis chamar de Mestre, pois um só é vosso Mestre e todos vós sois irmãos. 9 Na terra, não chameis a ninguém de pai, pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus.10 Não deixeis que vos chamem de guias, pois um só é o vosso Guia, Cristo. 11 Pelo contrário, o maior dentre vós deve ser aquele que vos serve. 12 Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado.’
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
São Domingos Sávio
10 de Março
São Domingos Sávio
Domingos nasce no dia 2 de abril de 1842 em San Giovanni di Riva, perto de Chieri, província de Turim (Itália). Crescido numa família rica de valores, impressionou desde pequeno pela sua maturidade humana e cristã. Para servir à santa Missa, esperava o padre fora da igreja, mesmo debaixo de neve. Estava sempre alegre. Tinha assumido a vida com seriedade, tanto que – admitido com apenas sete anos à primeira Comunhão – traçou num caderninho o seu projeto de vida: “Vou me confessar muito freqüentemente e farei a comunhão sempre que o confessor me permitir. Quero santificar os dias festivos. Meus amigos serão Jesus e Maria. A morte, mas não o pecado”.
Encontra-se com Dom Bosco, quando tinha 12 anos, e pede-lhe para ser admitido no Oratório de Turim, porque desejava ardentemente estudar para ser padre.
Dom Bosco, admirado, lhe disse: “Parece-me que temos aqui um bom tecido”. Domingos respondeu: “Eu serei o tecido; o senhor então, seja o alfaiate”. Acolhido no Oratório, pediu-lhe que o ajudasse a “ser santo”.
Afável, sempre sereno e alegre, coloca grande empenho nos deveres de estudante e no serviço aos colegas, de todos as formas, ensinando-lhes o Catecismo, assistindo aos doentes, pacificando as brigas…
Aos colegas que chegavam ao Oratório ele dizia: “Saiba que aqui, nós fazemos consistir a santidade em estar muito alegres”. Procuramos “somente evitar o pecado, como um grande inimigo que nos rouba a graça de Deus e a paz do coração e impede de realizar os nossos deveres com exatidão”.
Fidelíssimo ao seu programa, apoiado por intensa participação nos sacramentos e por filial devoção a Maria, alegre no sacrifício, foi agraciado por Deus por dons e carismas. Em 8 de dezembro de 1854, proclamado o dogma da Imaculada por Pio IX, Domingos consagrou-se a Maria e começou a avançar rapidamente na santidade.
Em 1856 fundou entre os amigos do Oratório a “Companhia da Imaculada” para uma ação apostólica do grupo. Mamãe Margarida disse a Dom Bosco: “Tens muitos jovens bons, mas nenhum supera o belo coração e a bela alma de Domingos Sávio”. E explicou-lhe: “Vejo-o sempre rezando, fica na igreja mesmo depois dos outros; sai todos os dias do recreio para fazer uma visita ao SSmo. Sacramento… Na igreja, está como um anjo que mora no Paraíso”.
Morreu em Mondonio no dia 9 de março de 1857. Dom Bosco escreveu a sua biografia, e chorava sempre que a relia. Seus restos mortais são venerados na Basílica de Maria Auxiliadora. Pio XI definiu-o como “pequeno, ou melhor, grande gigante do espírito”.
Fonte: http://www.salesianos.com.br/saodomingossavio
A Consciência, luz da alma
TEMPO DA QUARESMA. SEGUNDA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA
– A consciência ilumina toda a vida. Pode -se e endurecer.
– A consciência bem formada. Doutrina e vida.
– Ser luz para os outros. Responsabilidade.
I. HOJE, SE OUVIRDES a voz do Senhor, não endureçais os vossos corações repete-nos a liturgia durante todos os dias deste tempo litúrgico. E todos os dias, de formas muito diversas, Deus fala ao coração de cada um de nós.
"A nossa oração durante a Quaresma tem em vista despertar a consciência e torná-la sensível à voz de Deus. Não endureçais o coração, diz o salmista. Com efeito, a morte da consciência, a sua indiferença em relação ao bem e ao mal, os seus desvios, são grandes ameaças para o homem. E indiretamente são também uma ameaça para a sociedade porque, em última instância, é da consciência humana que depende o nível de moralidade da sociedade" 2.
A consciência é a luz da alma, do que há de mais profundo no ser humano, e, se se apaga, o homem fica às escuras e pode cometer todos os desvios imagináveis contra si próprio e contra os outros.
A lâmpada do teu corpo são os teus olhos 3, diz o Senhor. A consciência é a lâmpada da alma e, se estiver bem formada, ilumina o caminho, o caminho que termina em Deus, e o homem pode avançar por ele. Ainda que tropece e caia, pode levantar-se e prosseguir. Quem deixa que a sua sensibilidade interior "adormeça" ou "morra" para as coisas de Deus, fica sem qualquer ponto de referência pelo qual orientar-se. É a maior desgraça que pode acontecer a uma alma nesta vida. Ai daqueles que ao mal chamam bem, e ao bem, mal - anuncia o profeta Isaías -, ai daqueles que mudam as trevas em luz e a luz em trevas, que tornam doce o que é amargo, e amargo o que é doce 4.
Jesus compara a função da consciência à do olho na nossa vida. Se o teu olho for são, todo o teu corpo estará bem iluminado; se, porém, estiver em mau estado, o teu corpo estará em trevas. Cuida, pois, de que a luz que há em ti não sejam trevas 5. Quando o olho está bom, vêem-se as coisas tal como são, sem deformações. Um olho doente engana a pessoa e pode levá-la a pensar que os acontecimentos são como ela os vê com a sua visão distorcida.
A consciência pode ficar deformada por não se ter procurado alcançar a ciência devida a respeito da fé, ou então por uma má vontade dominada pela soberba, pela sensualidade, pela preguiça... Quando o Senhor se queixava de que os judeus não se abriam à sua mensagem, não atribuía a causa a nenhuma dificuldade involuntária: a dificuldade era antes uma conseqüência da sua livre negativa: Por que não compreendeis a minha linguagem? Porque não podeis suportar a minha doutrina 6.
As paixões e a falta de sinceridade consigo próprio podem chegar a forçar o entendimento e levá-lo a pensar de outra forma, mais de acordo com um teor de vida ou com uns defeitos e maus hábitos que não se querem abandonar. Não existe então boa vontade, o coração se endurece e a consciência adormece e já não indica a direção certa que conduz a Deus: é como uma bússola avariada que desorienta aquele que a consulta. "O homem que tem o coração endurecido e a consciência deformada, ainda que possa estar na plenitude das suas forças e das suas capacidades físicas, é um doente espiritual e é preciso fazer alguma coisa para que recupere a saúde da alma" 7.
A Quaresma é um tempo muito propício para pedirmos ao Senhor que nos ajude a formar muito bem a nossa consciência e para examinar se somos radicalmente sinceros conosco, com Deus e com as pessoas que em seu nome têm por missão aconselhar-nos.
II. A LUZ QUE EXISTE em nós não brota do nosso interior, da nossa subjetividade, mas de Jesus Cristo. Eu sou a luz do mundo, disse Jesus; aquele que me segue não anda nas trevas 8. A sua luz esclarece as nossas consciências e, mais ainda, pode converter-nos em luz que ilumine a vida dos outros: Vós sois a luz do mundo 9. O Senhor coloca-nos no mundo para que com a luz de Cristo mostremos aos outros o caminho.
Levaremos a cabo essa tarefa com a nossa palavra e sobretudo com a nossa conduta no cumprimento dos deveres profissionais, familiares e sociais. É por isso que devemos conhecer muito bem quais as normas que hão de reger a nossa atuação, segundo os ditames da honestidade humana e da moral de Cristo. Devemos ser conscientes do bem que podemos fazer, e depois fazê-lo efetivamente; ter clara consciência daquilo que, no exercício da profissão, é vedado a um homem de bem e a um bom cristão, e depois evitá-lo; se cometemos um erro, devemos pedir perdão, corrigi-lo e reparar o mal causado, sempre que isso seja possível. E assim por diante.
A mãe de família que tem como tarefa santificadora o seu lar, deve averiguar na sua oração se é exemplar nos seus deveres para com Deus, se tem hábitos de sobriedade, se domina o mau-humor, se dedica o tempo necessário aos filhos e à casa... O empresário deve considerar com freqüência se se esforça por conhecer a doutrina social da Igreja e por praticá-la nos seus negócios, no mundo da sua empresa, se paga salários justos...
A vida cristã se enriquece quando se põem em prática nos assuntos diários os ensinamentos que o Senhor nos transmite através da Igreja. A doutrina adquire assim toda a sua força. Quando por ignorância mais ou menos culposa se desconhece a doutrina ou quando, conhecendo-a, não se põe em prática, torna-se impossível ter uma vida cristã e avançar pelo caminho que conduz à santidade.
Todos nós precisamos ter e formar uma consciência reta e delicada, que compreenda com facilidade a voz de Deus nos assuntos da vida cotidiana.
Em face de situações menos claras que possam apresentar-se na nossa profissão, devemos considerá-las na presença de Deus e, quando for necessário, procurar o conselho oportuno de pessoas que possam esclarecer-nos; a seguir, poremos em prática as decisões que tivermos tomado, com responsabilidade pessoal; ninguém nos pode substituir no exercício dessa responsabilidade nem a podemos delegar.
No nosso exame de consciência, aprendemos a ser sinceros conosco e chamamos os nossos erros, fraquezas e faltas de generosidade pelos seus nomes, sem mascará-los com falsas justificações ou com idéias em voga no ambiente. A consciência que não quer reconhecer as suas faltas deixa o homem à mercê do seu próprio capricho.
III. PARA O CAMINHANTE que deseja verdadeiramente chegar ao seu destino, o importante é saber claramente por onde avançar. Essa pessoa agradece as sinalizações claras, ainda que vez por outra indiquem sendas um pouco mais estreitas e difíceis, e fugirá das vias que, embora amplas e cômodas, não conduzem a lugar nenhum... ou levam a um precipício. Devemos ter o máximo interesse em formar bem a nossa consciência, pois é a luz que nos faz distinguir o bem do mal, e que nos leva a pedir perdão e a recuperar o caminho do bem, se o tivermos perdido. A Igreja oferece-nos os meios para isso, mas não nos exime do esforço por aproveitá-los com responsabilidade.
Na nossa oração de hoje, podemos perguntar-nos: Tenho um plano de leituras, combinado com o meu orientador espiritual, que me ajude a progredir na minha formação doutrinai de acordo com a minha idade e cultura? Sou fiel às indicações do Magistério da Igreja, sabendo que nelas encontro a luz da verdade que me há de guiar no meio das opiniões contraditórias com que deparo em matéria de fé, de doutrina social, etc? Retifico com freqüência a intenção com que trabalho, oferecendo as minhas obras a Deus e tendo em conta que tendemos a procurar o aplauso, a vaidade, o louvor naquilo que fazemos, e que por essa festa entra muitas vezes a deformação da consciência?
Necessitamos de luz e critério para nós e para os que estão ao nosso lado. É muito grande a nossa responsabilidade. O cristão é colocado por Deus como tocha que ilumina os passos dos outros em direção a Deus.
Devemos formar-nos "com vistas a essa avalanche de gente que se jogará sobre nós, com a pergunta precisa e exigente: «Bom, o que há que fazer?»"10 Os filhos, os parentes, os colegas, os amigos reparam no nosso comportamento, e nós temos obrigação de levá-los a Deus. E para que o guia de cegos não seja também cego, não basta que saiba das coisas "meio por cima", por palpites; para conduzirmos os nossos amigos e parentes a Deus, não nos basta um conhecimento vago e superficial do caminho; é necessário que o percorramos, isto é, que nos relacionemos com o Senhor, que conheçamos cada vez mais profundamente a sua doutrina, que travemos uma luta concreta contra os nossos defeitos; numa palavra: que caminhemos na frente na nossa luta interior e no exemplo; que sejamos exemplares na profissão, na família... "Quem tem a missão de dizer coisas grandes - diz São Gregório Magno -, está igualmente obrigado a praticá-las"12. E só se as praticar é que as suas palavras serão eficazes.
Cristo, quando quis ensinar aos seus discípulos como deveriam praticar o espírito de serviço, cingiu-se com uma toalha e lavou-lhes os pés 13. É o que nós devemos fazer: dar a conhecer o Senhor sendo exemplares nas tarefas diárias, convertendo em vida a sua doutrina.
(1) SI 94, 8; Invitatório para a Quaresma, Liturgia das horas da segunda-feira da segunda semana da Quaresma; (2) João Paulo II, Angelus, 15-111-1981; (3) Lc 11, 34; (4) Is 5, 20-21; (5) Lc 11, 34-35; (6) Jo 8, 43; (7) João Paulo II, ib.\ (8) Jo 8, 12; (9) Mt 5, 14; (10) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 221; (11) cfr. Mt 15, 14; (12) São Gregório Magno, Regra pastoral, 2, 3; (13) cfr. Jo 13, 15.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal