São José
19 de Março
São José
São raros os dados sobre as origens, a infância e a juventude de José, o humilde carpinteiro de Nazaré, pai terrestre e adotivo de Jesus Cristo, e esposo da Virgem de todas as virgens, Maria. Sabemos apenas que era descendente da casa de David. Mas, a parte de sua vida da qual temos todo o conhecimento basta para que sua canonização seja justificada. José é, praticamente, o último elo de ligação entre o Velho e o Novo Testamento, o derradeiro patriarca que recebeu a comunicação de Deus vivo, através do caminho simples dos sonhos. Sobretudo escutou a palavra de Deus vivo. Escutando no silêncio.
Nas Sagradas Escrituras não há uma palavra sequer pronunciada por José. Mas, sua missão na História da Salvação Humana é das mais importantes: dar um nome a Jesus e fazê-lo descendente de David, necessário para que as profecias se cumprissem. Por isso, na Igreja, José recebeu o título de “homem justo”. A palavra “justo” recorda a sua retidão moral, a sua sincera adesão ao exercício da lei e a sua atitude de abertura total à vontade do Pai celestial. Também nos momentos difíceis e às vezes dramáticos, o humilde carpinteiro de Nazaré nunca arrogou para si mesmo o direito de pôr em discussão o projeto de Deus. Esperou a chamada do Senhor e em silêncio respeitou o mistério, deixando-se orientar pelo Altíssimo.
Quando recebeu a tarefa, cumpriu-a com dócil responsabilidade: escutou solícito o anjo, quando se tratou de tomar como esposa a Virgem de Nazaré, na fuga para o Egito e no regresso para Israel (Mt 1 e 2, 18-25 e13-23). Com poucos mas significativos traços, os evangelistas o descreveram como cuidadoso guardião de Jesus, esposo atento e fiel, que exerceu a autoridade familiar numa constante atitude de serviço. As Sagradas Escrituras nada mais nos dizem sobre ele, mas neste silêncio está encerrado o próprio estilo da sua missão: uma existência vivida no anonimato de todos os dias, mas com uma fé segura na Providência.
Somente uma fé profunda poderia fazer com que alguém se mostrasse tão disponível à vontade de Deus. José amou, acreditou, confiou em Deus e no Messias, com toda sua esperança. Apesar da grande importância de José na vida de Jesus Cristo não há referências da data de sua morte. Os teólogos acreditam que José tenha morrido três anos antes da crucificação de Jesus, ou seja quanto Ele tinha trinta anos.
Por isso, hoje é dia de festa para a Fé. O culto a São José começou no Egito, passando mais tarde para o Ocidente, onde hoje alcança grande popularidade. Em 1870, o Papa Pio IX o proclamou São José, padroeiro universal da Igreja e, a partir de então, passou a ser venerado no dia 19 de março. Porém, em 1955, o Papa Pio XII fixou também, o dia primeiro de maio para celebrar São José, o trabalhador. Enquanto, o Papa João XXIII, inseriu o nome de São José no Cânone romano, durante o seu pontificado.
Fonte: https://franciscanos.org.br
São José, Esposo da Beatíssima Virgem Maria
– As promessas do Antigo Testamento realizam-se em Jesus por meio de José.
– Fidelidade do Santo Patriarca à missão recebida de Deus.
– A nossa fidelidade.
A quaresma interrompe-se, de certo modo, para celebrar a solenidade de São José, esposo de Maria. Esta festa, que já existia em numerosos lugares, fixou-se nesta data durante o século XV, e em 1621 estendeu-se a toda a Igreja universal como dia de preceito. Em 1847, o Papa Pio IX nomeou São José Padroeiro da Igreja universal. A paternidade de São José não diz respeito somente a Jesus – junto de quem fez as vezes de pai –, mas à própria Igreja, que continua na terra a missão salvadora de Cristo. Assim o reconheceu o Papa João XXIII ao incluir o seu nome no Cânon Romano, para que todos os cristãos, no momento em que Cristo se faz presente no altar, venerem a memória daquele que gozou da presença física do Senhor na terra.
I. EIS O SERVO FIEL E PRUDENTE a quem o Senhor confiou a sua casa 1. Esta casa mencionada na Antífona de entrada da Missa é a Sagrada Família de Nazaré – o tesouro de Deus na terra –, que foi confiada a São José, o servo fiel e prudente, para que a levasse para diante ao longo de uma vida que foi de entrega alegre e sem medida. A “casa” do Senhor é também, por ampliação, a Igreja, que reconhece em São José o seu protetor e padroeiro.
A primeira Leitura evoca as antigas promessas em que se anunciava, de geração em geração, a chegada de um Rei forte e justo, de um bom Pastor que conduziria o rebanho para verdes pastos 2, de um Redentor que nos salvaria 3. Nesta leitura de hoje comunica-se a Davi, por meio do profeta Natã, que da sua descendência virá o Messias, cujo reinado não terá fim. Por José, Jesus é filho de Davi. Nele se cumpriram as promessas feitas a Abraão 4.
“Com a Encarnação, as «promessas» e as «figuras» do Antigo Testamento tornam-se «realidade»: lugares, pessoas, acontecimentos e ritos entrelaçam-se de acordo com ordens divinas bem precisas, transmitidas mediante o ministério dos anjos e recebidas por criaturas particularmente sensíveis à voz de Deus. Maria é a humilde serva do Senhor, preparada desde toda a eternidade para a missão de ser Mãe de Deus; e José é aquele [...] que tem por missão prover à inserção «ordenada» do Filho de Deus no mundo, pelo respeito às disposições divinas e às leis humanas. Toda a chamada vida «privada» ou «oculta» de Jesus foi confiada à guarda de José” 5.
O Evangelho da Missa tem um especial interesse em sublinhar que José pertencia à casa de Davi, depositária das promessas feitas aos patriarcas: Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo 6. É o Patriarca do Novo Testamento.
José foi um homem simples que Deus cobriu de graças e dons para que cumprisse uma missão singular e entranhável de acordo com os planos salvíficos. Viveu entre alegrias inefáveis, pois tinha junto dele Jesus e Maria, mas também entre incertezas e sofrimentos: perplexidade ante o mistério realizado em Maria, que ele ainda não conhecia; pobreza extrema em Belém; a profecia de Simeão sobre os sofrimentos do Salvador; a angustiosa fuga para o Egito; a vida quase sem recursos num país estranho; o regresso do Egito e os temores em face da subida ao trono de Arquelau... Sempre foi fidelíssimo à vontade de Deus, deixando de lado os planos e raciocínios meramente humanos.
O centro da sua vida foram Jesus e Maria, foi o cumprimento da missão que Deus lhe confiara. “A entrega de São José aparece-nos urdida por um entrelaçado de amor fiel, de fé amorosa, de esperança confiante. A sua festa é, por isso, uma boa oportunidade para que todos renovemos a nossa entrega à vocação de cristãos que o Senhor concedeu a cada um”.
“Quando se deseja sinceramente viver de fé, de amor e de esperança, a renovação da entrega não significa retomar uma coisa que estava em desuso. Quando há fé, amor e esperança, renovar-se significa conservar-se nas mãos de Deus, apesar dos erros pessoais, das quedas, das fraquezas. Renovar a entrega [...] é renovar a fidelidade àquilo que o Senhor quer de nós: é amar com obras”7.
Pedimos especialmente hoje ao Santo Patriarca que nos alcance o desejo eficaz de cumprir a vontade de Deus em tudo, numa entrega alegre, sem condições, que além disso sirva de luz para que muitos encontrem o caminho que conduz ao Céu.
II. SERVO BOM E FIEL, entra no gozo do teu Senhor 8. Estas palavras da Antífona da Comunhão da Missa seriam ouvidas um dia por São José depois de ter cumprido amorosa e alegremente a sua missão na terra. São palavras cheias de alegria que o Senhor também nos dirá se formos fiéis à nossa vocação, ainda que nos tenha sido necessário recomeçar muitas vezes, com humildade e simplicidade de coração. Em outro momento da Missa do dia, repete-se a palavra fidelidade aplicada a São José: Deus todo-poderoso, que confiastes os primeiros mistérios da salvação dos homens à fiel custódia de São José...9, rezamos na Oração coleta. É como se o Senhor quisesse recordar-nos hoje a fidelidade aos nossos compromissos para com Ele e para com os outros, a fidelidade à vocação recebida de Deus, à chamada que cada cristão recebeu, aos seus afazeres no mundo conforme o querer de Deus.
A nossa vida não tem outro sentido senão sermos fiéis ao Senhor, em qualquer idade ou circunstância em que nos encontremos.
Disso dependem, sabemo-lo bem, a nossa felicidade nesta vida e, em boa parte, a felicidade dos que estão ao nosso lado. São José passou por situações bastante díspares e nem todas foram humanamente gratas, mas o Santo Patriarca foi firme como a rocha e sempre contou com a ajuda de Deus.
Nada desviou José do caminho que lhe tinha sido traçado: foi o homem que Deus, num gesto de absoluta confiança, colocou à frente da sua família aqui na terra. “Que outra coisa foi a sua vida senão uma total dedicação ao serviço para que tinha sido chamado? Esposo da Virgem Maria, pai de Jesus segundo a lei [...], consumiu a sua vida com a atenção posta neles, entregando-se por inteiro ao cumprimento da sua missão. E como um homem que se entregou é um homem que já não se pertence, José deixou de se preocupar consigo próprio a partir do momento em que, ilustrado pelo anjo naquele primeiro sonho, aceitou plenamente o desígnio de Deus sobre ele [...]. O Senhor confiou-lhe a sua família e José não o decepcionou; Deus apoiou-se nele, e ele manteve-se firme em toda a espécie de circunstâncias” 10. Deus, para muitas coisas grandes, apóia-se em nós... Iremos decepcioná-lo?
Dizemos hoje ao Senhor que queremos ser fiéis, devotados aos nossos afazeres divinos e humanos na terra, como o foi São José, sabendo que disso depende o sentido de toda a nossa vida. Examinemos devagar em que coisas poderíamos ser mais fiéis à nossa missão na terra: compromissos com Deus, com os que estão sob os nossos cuidados, na ação apostólica, na tarefa profissional...
III. CONCEDEI-NOS, SENHOR, que possamos servir-vos... com um coração puro como São José, que se entregou para servir o vosso Filho...11
Ao longo dos sete domingos em que preparávamos a solenidade de hoje, meditávamos no princípio enunciado por São Tomás que se aplica à vocação de São José e à de todos os que são chamados por Deus: “Àqueles que Deus escolhe para um fim, prepara-os e dispõe-nos de tal modo que sejam idôneos para esse fim” 12. A fidelidade de Deus mostra-se nas ajudas que nos concede continuamente em qualquer situação de idade, trabalho, saúde, etc., em que nos encontremos, para que cumpramos fielmente a nossa missão na terra. São José correspondeu delicada e prontamente às inumeráveis graças que recebeu da parte de Deus.
Devemos considerar com freqüência que o Senhor jamais nos haverá de falhar; em contrapartida, espera sempre que saibamos corresponder com toda a firmeza: na juventude, na maturidade, na velhice; quando parece que tudo nos ajuda a ser leais e quando ficamos com a impressão de que tudo nos convida a romper com os compromissos contraídos.
O fato de não sentirmos a assistência de Deus – numa ou noutra ocasião ou por longos períodos –, de não nos sentirmos inclinados a dedicar a Deus o melhor tempo do nosso dia, pode dever-se, talvez, a que a alma está voltada para si mesma e para tudo o que acontece à sua volta. Nesses momentos, a fidelidade a Deus é fidelidade ao recolhimento interior, ao esforço por sair desse estado, à vida de oração, a essa oração em que a alma fica só, despida diante de Deus, e pede-lhe ou simplesmente o fita...
Deus espera de todos nós uma atitude desperta, amorosa, cheia de iniciativas. O coração do Santo Patriarca esteve sempre inundado de alegria, mesmo nos momentos mais difíceis! Temos de conseguir que o nosso que fazer divino na terra, o nosso caminhar para Deus seja sempre novo, como novo e original é sempre o amor, porque, como diz o poeta: Ninguém foi ontem / nem vai hoje / nem irá amanhã / para Deus / por este mesmo caminho / pelo qual eu vou /. Para cada homem o sol guarda / um novo raio de luz / e Deus um caminho virgem. Sempre eternamente novo.
Pedimos hoje a São José essa juventude interior que nunca falta quando há uma entrega verdadeira aos firmes compromissos que um dia se assumiram, e uma renovação ardente desses compromissos contra vento e maré, numa fidelidade que é felicidade. Pedimos também ao Santo Patriarca por todos aqueles que esperam de nós essa permanente alegria interior, conseqüência necessária da entrega a Deus, e que os há de arrastar até Jesus, a quem sempre encontrarão muito perto de Maria.
(1) Lc 12, 42; Antífona de entrada da Missa do dia 19 de março; (2) Ez 34, 23; (3) Gen 3, 15; (4) Rom 4, 18; Segunda leitura, ib.; (5) João Paulo II, Exort. Apost. Redemptoris custos, 15-VIII-1989, 8; (6) Mt 1, 16; (7) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 43; (8) Mt 25, 21; Antífona da comunhão, ib.; (9) Oração coleta, ib.; (10) F. Suárez, José, esposo de Maria, págs. 276-277; (11) Oração sobre as oferendas, ib.; (12) São Tomás, S.Th., III, q. 27, a. 4 c.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Cirilo de Jerusalém
18 de Março
São Cirilo de Jerusalém
Desde o início dos tempos cristãos, a heresia se infiltrara na Igreja, mas foi no século IV que surgiram o arianismo e o nestorianismo, que causaram profundas divisões. Cirilo viveu nesse período em Jerusalém, perto de onde nascera, em 315, de pais cristãos com boa condição financeira. Muito preparado, desde a infância, nas Sagradas Escrituras e nas matérias humanísticas, em 345 foi ordenado sacerdote.
Em 348, foi consagrado bispo de Jerusalém. Ocupou o cargo durante, aproximadamente, 35 anos, 16 dos quais passou no exílio, em três ocasiões diferentes. A primeira porque o bispo Acácio, de grande influência na Igreja, cuja obra foi citada por São Jerônimo, acusou Cirilo de heresia. A segunda por ordem do imperador Constâncio, que entendeu ser Cirilo realmente um simpatizante dos hereges, mas em sua defesa atuaram os bispos Atanásio e Hilário, ambos Padres da Igreja, assim como o próprio bispo Cirilo. A terceira foi a mais longa, porque o imperador Valente, este sim herege, decidiu mandar de volta ao exílio todos os bispos anistiados, fato que fez Cirilo peregrinar durante 11 anos por várias cidades da Ásia, até a morte do soberano, em 378.
O seu trabalho, entretanto, resistiu a tudo e chegou até nossos dias, especialmente porque ele sabia ensinar o Evangelho como poucos. Em sua cidade, logo que se tornou sacerdote e no início do episcopado, era o responsável por preparar os catecúmenos, isto é, os adultos que se convertiam e iriam ser batizados. Foi nesse período que escreveu 18 discursos catequéticos, um sermão, a carta ao imperador Constantino e outros pequenos fragmentos de textos. Treze escritos eram dedicados à exposição geral da doutrina, e cinco dedicaram-se ao comentário dos ritos sacramentais da iniciação cristã. Assim, seus escritos explicam detalhadamente cada oração do batismo, da crisma, da penitência, dos sacramentos e dos mistérios do cristianismo, ditos dogmas da Igreja.
Cirilo também soube viver a religião na prática. Em uma época de grande carestia, por exemplo, não hesitou em vender valiosos vasos litúrgicos e outras preciosidades eclesiásticas para matar a fome dos pobres da cidade. Ele morreu no ano 386.
Desde o início de sua vida religiosa, Cirilo, cujo caráter era afável e suave, sempre preferiu a catequese aos assuntos polêmicos, chegando quase a se comprometer com os arianos e semiarianos. Porém, de maneira contundente, aderiu à doutrina ortodoxa da Igreja no III Concílio Ecumênico de Constantinopla, em 382, no qual ficou clara sua sempre fiel postura à Santa Sé e à Verdade de Cristo. Nessa oportunidade, teve em seu favor a eloquência das vozes dos sinceros bispos e amigos, Atanásio e Hilário, que o chamaram de “valente lutador para defender a Igreja dos hereges que negam as verdades de nossa religião”.
Sua canonização demorou porque, durante muito tempo, seu pensamento teológico foi considerado vacilante, como dizem os registros. Em 1882, o papa Leão XIII, na solenidade em que instituiu sua veneração, honrou São Cirilo de Jerusalém com os títulos de doutor da Igreja e príncipe dos catequistas católicos.
Texto: Paulinas Internet
As Virtudes e o Crescimento Espiritual
TEMPO DA QUARESMA. TERCEIRA SEMANA. QUARTA-FEIRA
– As virtudes e a santidade.
– Virtudes humanas e virtudes sobrenaturais. O seu exercício na vida diária.
– O Senhor dá sempre a sua graça para vivermos a fé cristã na sua plenitude.
I. SENHOR, VÓS ME ENSINAREIS o caminho da vida; há abundância de alegria junto de Vós 1. Por meio de diversas imagens, Jesus nos ensina que o caminho que conduz à Vida, à santidade, consiste no pleno desenvolvimento da vida espiritual: fala-nos do grão de mostarda, que cresce até se transformar num grande arbusto, onde vêm pousar as aves do céu; do trigo, que chega à maturidade e produz espigas graúdas... Esse crescimento, não isento de dificuldades e que às vezes pode parecer lento, corre paralelamente ao desabrochar das virtudes. A santificação de cada dia comporta o exercício de muitas virtudes humanas e sobrenaturais: a fé, a esperança, a caridade, a justiça, a fortaleza, a laboriosidade, a lealdade, o otimismo...
Para que possam crescer, as virtudes exigem muitos atos repetidos, pois cada um deles semeia na alma uma disposição que facilita o seguinte. A pessoa que, por exemplo, já ao levantar-se vive o “minuto heróico”, vencendo a preguiça desde o primeiro momento do dia 2, conseguirá com maior facilidade ser diligente nos outros deveres que a aguardam, sejam pequenos ou grandes, do mesmo modo que o esportista melhora a sua forma física e a capacidade de repetir os seus exercícios quando se treina com constância.
As virtudes aperfeiçoam cada vez mais o homem, ao mesmo tempo que lhe permitem realizar mais facilmente boas obras e corresponder rápida e adequadamente à vontade de Deus em cada momento.
Sem as virtudes, cada ato bom se torna custoso e difícil, não passa de um ato isolado e não impede que venhamos a cair em faltas e pecados que nos afastam de Deus. A repetição de atos numa mesma direção deixa na alma um rasto que, conforme esses atos tenham sido bons ou maus, nos predispõe para o bem ou para o mal nas ações futuras. Daquele que se comporta bem habitualmente, pode-se esperar que, em face de uma dificuldade, continuará a comportar-se bem: esse hábito, essa virtude sustenta-o.
O exercício das virtudes indica-nos em cada instante o caminho que conduz ao Senhor. Quando um cristão, com a ajuda da graça, se esforça não só por afastar-se das ocasiões de pecado e resistir com firmeza às tentações, mas também por alcançar a santidade que Deus lhe pede, torna-se cada vez mais consciente de que a vida cristã lhe exige o desenvolvimento das virtudes. E é a isso que a Igreja nos convida, especialmente neste tempo da Quaresma: a crescer em hábitos operativos bons.
II. A SANTIDADE É EXERCÍCIO constante das virtudes humanas e sobrenaturais, um dia após outro, no ambiente e nas circunstâncias em que vivemos.
As “virtudes humanas [...] são o fundamento das sobrenaturais; e estas proporcionam sempre um novo impulso para nos desenvolvermos como homens de bem” 3. Ainda que a santificação se deva inteiramente a Deus, Ele quis, na sua bondade infinita, que fosse necessária a correspondência humana, e pôs na nossa natureza a capacidade de acolher a ação sobrenatural da graça. Mediante o exercício das virtudes humanas – a rijeza, a lealdade, a serenidade, a veracidade, a pontualidade, a afabilidade... –, preparamos a nossa alma, da melhor maneira possível, para a ação do Espírito Santo. Percebe-se assim que “não é possível acreditar na santidade dos que falham nas virtudes humanas mais elementares” 4.
Por outro lado, as virtudes do cristão devem ser praticadas na vida ordinária, em todas as circunstâncias: fáceis, difíceis ou muito difíceis.
“Hoje, como ontem, do cristão espera-se heroísmo. Heroísmo em grandes contendas, se for preciso. Heroísmo – e será o normal – nas pequenas pendências de cada dia” 5.
Da mesma maneira que a planta se alimenta da terra em que está enraizada, assim as virtudes do cristão se enraizam no mundo concreto em que está imerso: no trabalho, na família, em face das alegrias e desgraças, das boas e más notícias... Tudo lhe deve servir para crescer nas virtudes. Uns acontecimentos fomentarão nele as ações de graças, outros a humildade de coração; determinadas circunstâncias fá-lo-ão crescer em fortaleza e outras em confiança em Deus; certos incidentes levá-lo-ão a trabalhar sem esperar o agradecimento dos homens, outros a empenhar-se com mais brio no cumprimento do dever... E terá em conta que as virtudes se entrelaçam: quando se cresce numa, adianta-se em todas as demais. E “a caridade é a que dá unidade a todas as virtudes que tornam perfeito o homem” 6.
Não podemos ficar à espera de situações ideais, de circunstâncias mais propícias para progredir nas virtudes: isso equivaleria a ir deixando passar a vida de modo vazio e estéril. “Portanto, deixem-se de sonhos, de falsos idealismos, de fantasias, disso que costumo chamar mística do oxalá: oxalá não me tivesse casado, oxalá não tivesse esta profissão, oxalá tivesse mais saúde, oxalá fosse jovem, oxalá fosse velho...; e atenham-se, pelo contrário, sobriamente, à realidade mais material e imediata, que é onde o Senhor está” 7.
Este tempo de oração no dia de hoje pode servir-nos para nos perguntarmos na presença do Senhor: É real o meu desejo de identificar-me cada vez mais com Cristo? Aproveito verdadeiramente as incidências de cada dia para exercitar-me nas virtudes humanas e, com a graça de Deus, nas sobrenaturais? Procuro amar mais a Deus, fazendo cada vez melhor as mesmas coisas, com uma intenção mais reta?
III. O SENHOR NÃO PEDE impossíveis. E espera que todos os cristãos vivam as virtudes cristãs em toda a sua integridade, ainda que se encontrem em ambientes que parecem afastá-los cada vez mais de Deus. Ele lhes dará as graças necessárias para serem fiéis nessas situações difíceis. E, além disso, essa exemplaridade será em muitas ocasiões o meio de tornar atraente a doutrina de Jesus Cristo e de reevangelizar o mundo.
Não são poucos os cristãos que, ao perderem o sentido sobrenatural e, portanto, a influência real da graça nas suas vidas, pensam que o ideal proposto por Cristo necessita de adaptações para poder ser vivido por homens correntes do nosso tempo. Acabam cedendo no campo da moral profissional, ou em temas de moral matrimonial, ou ante a pressão do ambiente de permissivismo e de sensualidade, do aburguesamento mais ou menos generalizado, etc. Com a nossa vida – que pode ter falhas, mas que não se conforma com elas –, devemos mostrar que as virtudes cristãs podem ser vividas no meio de todas as tarefas nobres; e que ser compassivo com os defeitos e erros alheios não significa que se devam rebaixar as exigências do Evangelho.
Para crescermos nas virtudes sobrenaturais e humanas, necessitamos, juntamente com a graça, de um grande esforço pessoal por praticar essas virtudes, até conseguirmos realmente autênticos hábitos e não simples aparência de virtude: “A fachada é de energia e rijeza. Mas, quanta moleza e falta de vontade por dentro! – Fomenta a decisão de que as tuas virtudes não se transformem num disfarce, mas em hábitos que definam o teu caráter” 8.
São João Crisóstomo anima-nos a lutar na vida interior como fazem “as crianças na escola. Primeiro – diz o Santo – aprendem a forma das letras; depois começam a distinguir as curvas e assim, passo a passo, acabam aprendendo a ler. Dividindo a virtude em partes, aprendamos primeiro, por exemplo, a não falar mal; depois, passando para outra letra, a não invejar ninguém, a não ser escravos do corpo em nenhuma situação, a não nos deixarmos arrastar pela gula... Depois, passando daí para as letras espirituais, estudemos a continência, a mortificação dos sentidos, a castidade, a justiça, o desprezo da glória vã; procuremos ser modestos, contritos de coração. Entrelaçando umas virtudes nas outras, escrevamo-las na nossa alma. E temos que exercitar-nos nisto na nossa própria casa: com os amigos, com a mulher, com os filhos” 9.
O importante é que nos decidamos com firmeza e com amor a procurar as virtudes nas nossas tarefas cotidianas. Quanto mais nos exercitarmos nesses atos bons, maior facilidade teremos para realizar os seguintes, identificando-nos assim cada vez mais com Cristo.
Nossa Senhora, “modelo e escola de todas as virtudes”10 para os seus filhos, ensinar-nos-á a levar até o fim o nosso esforço, se recorrermos a Ela pedindo-lhe ajuda e conselho, e ajudar-nos-á a alcançar os resultados que desejamos no nosso exame particular de consciência, que freqüentemente terá por objeto a aquisição de uma virtude bem concreta e determinada.
(1) Sl 15, 11; Antífona da comunhão da Missa da quarta-feira da terceira semana da Quaresma; (2) cfr. São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 206; (3) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 91; (4) A. del Portillo, Escritos sobre el sacerdócio, 4ª ed., palabra, Madrid, pág. 28; (5) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 82; (6) Santo Afonso Maria de Ligório, Prática de amor a Jesus Cristo; (7) São Josemaría Escrivá, Questões atuais do cristianismo, n. 116; (8) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 777; (9) São João Crisóstomo, Homilias sobre os Salmos, 11, 8; (10) Santo Ambrósio, Tratado sobre as virgens, 2.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
18 de Março 2020
A SANTA MISSA

3ª Semana da Quaresma – Quarta-feira
Cor: Roxa
1ª Leitura: Dt 4,1.5-9
Cumpri e praticai as leis e decretos.
Leitura do Livro do Deuteronômio
Moisés falou ao povo, dizendo: 1 ‘Agora, Israel, ouve as leis e os decretos que eu vos ensino a cumprir, para que, fazendo-o, vivais e entreis na posse da terra prometida que o Senhor Deus de vossos pais vos vai dar. 5 Eis que vos ensinei leis e decretos conforme o Senhor meu Deus me ordenou, para que os pratiqueis na terra em que ides entrar e da qual tomareis posse. 6 Vós os guardareis, pois, e os poreis em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência perante os povos, para que, ouvindo todas estas leis, digam: ‘Na verdade, é sábia e inteligente esta grande nação! 7 Pois, qual é a grande nação cujos deuses lhe são tão próximos como o Senhor nosso Deus, sempre que o invocamos? 8 E que nação haverá tão grande que tenha leis e decretos tão justos, como esta lei que hoje vos ponho diante dos olhos? 9 Mas toma cuidado! Procura com grande zelo não te esqueceres de tudo o que viste com os próprios olhos, e nada deixes escapar do teu coração por todos os dias de tua vida; antes, ensina-o a teus filhos e netos.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 147, 12-13. 15-16. 19-20 (R. 12a)
R. Glorifica o Senhor, Jerusalém!
Ou: Aleluia, Aleluia, Aleluia.
12 Glorifica o Senhor, Jerusalém!*
O Sião, canta louvores ao teu Deus!
13 Pois reforçou com segurança as tuas portas,*
e os teus filhos em teu seio abençoou. R.
14a paz em teus limites garantiu*
e te dá como alimento a flor do trigo.
15 Ele envia suas ordens para a terra,*
e a palavra que ele diz corre veloz. R.
19 Anuncia a Jacó sua palavra,*
seus preceitos suas leis a Israel.
20 Nenhum povo recebeu tanto carinho,*
a nenhum outro revelou os seus preceitos. R.
Evangelho: Mt 5,17-19
Aquele que praticar e ensinar os mandamentos,
este será considerado grande.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 17 Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. 18 Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra. 19 Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
São Patrício
17 de Março
São Patrício
Há poucos dados sobre a origem de Patrício, mas os que temos foram tirados do seu livro autobiográfico, “Confissão”. Nele, Patrício diz ter nascido em uma vila situada na Inglaterra ou na Escócia, em 377. Era filho de Calpurnius e, apesar de ter nascido cristão, só na adolescência passou a professar a fé.
Aos 16 anos, foi raptado por piratas irlandeses e vendido como escravo. Levado para a Irlanda, foi obrigado a executar duros trabalhos em meio a um povo rude e pagão. Duas vezes Patrício tentou fugir, até que, na terceira vez, conseguiu se libertar. Embarcou para a Grã-Bretanha e depois para a Gália, atual França, onde frequentou vários mosteiros e se habilitou para a vida monástica e missionária.
A princípio, acompanhou São Germano, do mosteiro de Auxerre, em uma missão apostólica na Grã- Bretanha. Mas seu destino parecia mesmo ligado à Irlanda, e sua alma piedosa desejava evangelizar aquela nação pagã que o escravizara. Quando faleceu o bispo Paládio, responsável pela missão no país, o papa Celestino I o convocou para dar seguimento à missão. Foi consagrado bispo e viajou para a “Ilha Verde”, em 432.
Sua obra naquelas terras ficará eternamente gravada na história da Igreja Católica e da própria humanidade, pois mudou o destino de todo um povo. Em quase três décadas, o bispo Patrício converteu praticamente todo o país. Não contava com apoio político, tampouco usou de violência contra os pagãos. Por isso, não houve repressão também contra os cristãos, e o próprio rei Leogário deu o exemplo maior, possibilitando a conversão de toda a sua corte. O trabalho desse fantástico e singelo bispo foi tão eficiente que o catolicismo se enraizou na Irlanda, e ali, nos anos seguintes, floresceu um grande número de santos e evangelizadores missionários.
O método de Patrício para conseguir tanta conversão foi a fundação de incontáveis mosteiros. Esse método foi imitado pela Igreja também na Inglaterra e na evangelização dos alemães do norte da Europa. Promovendo por toda parte a construção e a povoação de mosteiros, o bispo Patrício fez da ilha um centro de irradiação de fé e cultura. Dali partiram centenas de monges missionários que peregrinaram por terras estrangeiras levando o Evangelho. Temos, como exemplo, a atuação dos célebres apóstolos Columbano, Galo, Wilibrordo, Tarásio, Donato e tantos outros.
A obra do bispo Patrício interferiu tanto na cultura dos irlandeses que as lendas heroicas desse povo falam sempre de monges simples com suas aventuras, prodígios e graças, enquanto outras nações têm como protagonistas seus reis e suas façanhas bélicas.
Patrício morreu no dia 17 de março de 461, na cidade de Down, atualmente Downpatrick. Até hoje, no dia de sua festa, os irlandeses fixam à roupa um trevo, cuja folha se divide em três, em uma homenagem ao venerado São Patrício, que o usava para exemplificar melhor o sentido do mistério da Santíssima Trindade: “Um só Deus em três pessoas”.
A data de 17 de março há séculos marca a festa de São Patrício, a glória da Irlanda. Os irlandeses sempre sentiram um enorme orgulho de sua pátria, tanto por ela ter nascido na chamada Ilha dos Santos, quanto por ter sido convertida pelo venerado bispo. Só na Irlanda existem 200 santuários erguidos em honra a São Patrício, seu padroeiro.
Texto: Paulinas Internet
Perdoar e Desculpar
TEMPO DA QUARESMA. TERCEIRA SEMANA. TERÇA-FEIRA
– Perdoar e esquecer as pequenas ofensas que às vezes se produzem na convivência diária.
– O nosso perdão em comparação com o do Senhor.
– Desculpar e compreender. Aprender a ver as coisas boas dos outros.
I. NO TRATO com os outros, no meio do trabalho, nas relações sociais, na convivência de todos os dias, é praticamente inevitável que se produzam atritos. É também possível que alguém nos ofenda ou se porte conosco de uma maneira pouco leal, que nos prejudica. E isto, talvez de forma habitual. Devo perdoar até sete vezes? Quer dizer, devo perdoar sempre? Esta é a questão que Pedro propõe ao Senhor no Evangelho da Missa de hoje 1. É também o tema da nossa oração.
Conhecemos a resposta do Senhor a Pedro e a nós: Não digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Quer dizer, sempre. O Senhor pede aos que o seguem, a ti e a mim, uma disposição ilimitada de perdoar e desculpar. Quer que o imitemos. “A onipotência de Deus – diz São Tomás – manifesta-se sobretudo em perdoar e usar de misericórdia, porque a maneira que Deus tem de demonstrar o seu poder supremo é perdoar livremente” 2; é por isso que “nada nos assemelha tanto a Deus como estarmos sempre dispostos a perdoar” 3. E é aqui que mostramos também a nossa maior grandeza de alma.
“Longe da nossa conduta, portanto, a lembrança das ofensas que nos tenham feito, das humilhações que tenhamos padecido – por muito injustas, descorteses e rudes que tenham sido –, porque é impróprio de um filho de Deus ter preparado um registro para apresentar uma lista de agravos” 4. Ainda que o próximo não se corrija, ainda que recaia constantemente na mesma ofensa ou em coisas que me magoam, devo renunciar a todo o rancor. O meu interior deve conservar-se são e limpo do menor assomo de inimizade.
O nosso perdão deve ser sincero, de coração, à semelhança do perdão de Deus, conforme dizemos todos os dias no Pai-Nosso: Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. Perdão rápido, sem deixar que o rancor ou a separação corroam o coração nem por um momento; sem humilhar a outra parte, sem assumir ares teatrais nem dramatizar. A maior parte das vezes, na convivência habitual, nem sequer será necessário dizer: “Eu te perdôo”; bastará sorrir, voltar naturalmente à conversa, ter um detalhe amável; em suma, desculpar.
Não é necessário que soframos grandes injúrias para nos exercitarmos nestas manifestações de caridade. São suficientes esses pequenos incidentes que acontecem todos os dias: discussões no lar por questões de pouca importância, respostas grosseiras ou gestos desabridos ocasionados muitas vezes pelo cansaço das pessoas e que acontecem no trabalho, no trânsito das grandes cidades, nos meios de transporte coletivo...
Viveríamos mal a nossa vida de cristãos se, ao menor atrito, a nossa caridade esfriasse e nos distanciássemos dos outros ou ficássemos de mau-humor. Ou se uma injúria grave nos fizesse esquecer a presença de Deus e a nossa alma perdesse a paz e a alegria. Ou se fôssemos suscetíveis. Devemos examinar-nos para ver como são as nossas reações ante os pequenos aborrecimentos que, às vezes, se produzem na convivência diária. Seguir o Senhor de perto é encontrar também neste ponto, tanto nas pequenas contrariedades como nas ofensas graves, um caminho de santidade.
II. SE PECAR SETE VEZES no dia contra ti..., sete vezes lhe perdoarás 5. Sete vezes, isto é, muitas vezes. Até no mesmo dia e na mesma coisa. A caridade é paciente, não se irrita 6.
Vez por outra, o perdão pode custar-nos. Em coisas grandes ou em coisas pequenas. O Senhor sabe disso e anima-nos a recorrer a Ele. E, quando o fazemos, explica-nos como este perdão sem limite, compatível com a defesa justa sempre que necessário, tem a sua origem na humildade; e lembra-nos a parábola narrada pelo Evangelho da Missa de hoje: Um rei quis ajustar contas com os seus servos. E trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos 7. Uma quantia enorme! Uns sessenta milhões de denários (um denário era o salário de um dia de um trabalhador do campo).
Quando uma pessoa é sincera consigo própria e com Deus, não é difícil que se reconheça na posição desse servo que não tinha com que pagar. Não somente porque deve a Deus tudo o que é e tem, mas porque são muitas as ofensas que lhe foram perdoadas. Só lhe resta uma saída: recorrer à misericórdia de Deus, para que faça com ele o que fez com aquele servo: Cheio de compaixão, o senhor deixou-o ir-se embora e perdoou-lhe a dívida.
Mas quando este servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários, não lhe soube perdoar nem esperar que estivesse em condições de pagar-lhe, apesar de o companheiro lhe ter pedido que se apiedasse dele. Então o senhor chamou-o e disse-lhe: Servo mau, eu te perdoei toda a dívida porque me suplicaste. Não devias também tu compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?
A humildade de reconhecermos as nossas inúmeras dívidas para com Deus ajuda-nos a perdoar e a desculpar os outros.
Se tivermos em conta tudo o que o Senhor nos perdoou, perceberemos que aquilo que devemos perdoar aos outros – mesmo nos casos mais graves – é pouco: não chega a cem denários. Comparados com sessenta milhões, são nada.
A nossa atitude ante os pequenos agravos deve ser a de não lhes dar muita importância (na realidade, na maioria das vezes, não a têm) e desculpá-los com elegância humana. Quando perdoamos e esquecemos, somos nós que mais lucramos. A nossa vida torna-se mais alegre e serena, e não sofremos por ninharias. “Verdadeiramente a vida – que já de per si é estreita e insegura – às vezes se torna difícil. – Mas isso contribuirá para fazer-te mais sobrenatural, para te fazer ver a mão de Deus: e assim serás mais humano e compreensivo com os que te rodeiam” 8.
“Temos que compreender a todos, temos que conviver com todos, temos que desculpar a todos, temos que perdoar a todos. Não diremos que o injusto é justo, que a ofensa a Deus não é ofensa a Deus, que o mau é bom. No entanto, perante o mal, não responderemos com outro mal, mas com a doutrina clara e com a ação boa: afogando o mal em abundância de bem (cfr. Rom 8, 21)” 9. Não cometeremos o erro daquele servo mesquinho que, tendo-lhe sido perdoado tanto, não foi capaz de perdoar tão pouco.
III. A CARIDADE dilata o coração para que caibam nele todos os homens, mesmo aqueles que não nos compreendem ou não correspondem ao nosso amor. Ao lado do Senhor, não nos sentiremos inimigos de ninguém. A seu lado, aprenderemos a não julgar as intenções íntimas das pessoas.
Das intenções dos outros, não captamos senão umas poucas manifestações externas, que muitas vezes ocultam os verdadeiros motivos da sua conduta. “Ainda que vejais algo de errado, não julgueis imediatamente o vosso próximo – aconselha São Bernardo –, mas desculpai-o no vosso interior. Desculpai a intenção, se não puderdes desculpar a ação. Pensai que terá sido levado a ela por ignorância, por surpresa ou por fragilidade. Se a coisa for tão clara que não vos seja possível dissimulá-la, ainda assim procurai crer desse modo e dizei no vosso interior: a tentação deve ter sido muito forte” 10.
Quantos erros cometemos nos pequenos atritos da convivência diária! Muitos deles se devem a que nos deixamos levar por juízos e suspeitas temerárias. Quantas tensões familiares se converteriam em atenções, se compreendêssemos que esse pormenor indelicado ou esse gesto inoportuno se deveu ao cansaço daquela pessoa depois de um dia longo e difícil! Além disso, “enquanto interpretares com má-fé as intenções alheias, não terás o direito de exigir compreensão para ti mesmo” 11.
A compreensão inclina-nos a viver amavelmente abertos aos outros, a olhá-los com simpatia; alcança as profundezas do coração e sabe encontrar a parte de bondade que há sempre em todas as pessoas.
Só é capaz de compreender quem é humilde. Caso contrário, até as menores faltas dos outros se vêem aumentadas, ao mesmo tempo que se tende a diminuir e justificar as maiores faltas e erros pessoais. A soberba assemelha-se a esses espelhos curvos que deformam a verdadeira realidade das coisas. Quem é humilde é objetivo; e então desculpa com facilidade os defeitos alheios.
O humilde não se escandaliza. “Não há pecado nem crime cometido por outro homem – escreve Santo Agostinho – que eu não seja capaz de cometer pela minha fragilidade; e, se ainda não o cometi, é porque Deus, na sua misericórdia, não o permitiu e me preservou no bem” 12. Além disso, sendo humildes, “aprenderemos também a descobrir muitas virtudes naqueles que nos rodeiam – dão-nos lições de trabalho, de abnegação, de alegria... –, e não nos deteremos demasiado nos seus defeitos, a não ser quando for imprescindível para os ajudarmos com a correção fraterna” 13.
Se assim o pedirmos à Virgem, Ela nos ensinará a saber desculpar – em Caná, Nossa Senhora não critica a falta de vinho, mas ajuda a resolvê-la –, como nos ensinará também a lutar por adquirir essas mesmas virtudes que, por vezes, nos pode parecer que faltam aos outros. Então estaremos em excelentes condições de poder prestar a todos a nossa ajuda.
(1) Mt 18, 21-35; (2) São Tomás, Suma Teológica, 1, q. 25, a. 3, ad. 3; (3) São João Crisóstomo, Homilia sobre São Mateus, 30, 5; (4) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 309; (5) cfr. Lc 17, 4; (6) 1 Cor 13, 7; (7) cfr. Mt 18, 24 e segs.; (8) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 762; (9) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 182; (10) São Bernardo, Sermão 40 sobre o Cântico dos Cânticos; (11) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 635; (12) Santo Agostinho, Confissões, 2, 7; (13) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 20.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
17 de Março 2020
A SANTA MISSA

3ª Semana da Quaresma – Terça-feira
Cor: Roxa
1ª Leitura: Dn 3,25.34-43
De alma contrita e em espírito de humildade, sejamos acolhidos.
Leitura da Profecia de Daniel
Naqueles dias: 25 Azarias, parou e, de pé, começou a rezar; abrindo a boca no meio do fogo, disse: 34 ‘Oh! não nos desampares nunca, nós te pedimos, por teu nome, não desfaças tua aliança 35 nem retires de nós tua benevolência, por Abraão, teu amigo, por Isaac, teu servo, e por Israel, teu Santo, 36 aos quais prometeste multiplicar a descendência como estrelas do céu e como areia que está na beira do mar; 37 Senhor, estamos hoje reduzidos ao menor de todos os povos, somos hoje o mais humilde em toda a terra, por causa de nossos pecados; 38 neste tempo estamos sem chefes, sem profetas, sem guia, não há holocausto nem sacrifício, não há oblação nem incenso, não há um lugar para oferecermos em tua presença as primícias, e encontrarmos benevolência; 39 mas, de alma contrita e em espírito de humildade, sejamos acolhidos, e como nos holocaustos de carneiros e touros 40 e como nos sacrifícios de milhares de cordeiros gordos, assim se efetue hoje nosso sacrifício em tua presença, e tu faças que nós te sigamos até ao fim; não se sentirá frustrado quem põe em ti sua confiança. 41 De agora em diante, queremos, de todo o coração, seguir-te, temer-te, buscar tua face; 42 não nos deixes confundidos, mas trata-nos segundo a tua clemência e segundo a tua imensa misericórdia; 43 liberta-nos com o poder de tuas maravilhas e torna teu nome glorificado, Senhor’.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 24, 4bc-5ab. 6-7. 8-9 (R. 6a)
R. Recordai, Senhor, a vossa compaixão!
4b Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,*
4c e fazei-me conhecer a vossa estrada!
5a Vossa verdade me oriente e me conduza,*
5b porque sois o Deus da minha salvação. R.
6 Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura *
e a vossa compaixão que são eternas!
7b De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia*
7c e sois bondade sem limites, ó Senhor! R.
8 O Senhor é piedade e retidão,*
e reconduz ao bom caminho os pecadores.
9 Ele dirige os humildes na justiça,*
e aos pobres ele ensina o seu caminho. R.
Evangelho: Mt 18,21-35
Não te digo perdoar até sete vezes,
mas até setenta vezes sete.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo: 21 Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: ‘Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?’ 22 Jesus respondeu: ‘Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23 Porque o Reino dos Céus é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados. 24 Quando começou o acerto, trouxeram-lhe um que lhe devia uma enorme fortuna. 25 Como o empregado não tivesse com que pagar, o patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía, para que pagasse a dívida. 26 O empregado, porém, caiu aos pés do patrão, e, prostrado, suplicava: `Dá-me um prazo! e eu te pagarei tudo’. 27 Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o empregado e perdoou-lhe a dívida. 28 Ao sair dali, aquele empregado encontrou um dos seus companheiros que lhe devia apenas cem moedas. Ele o agarrou e começou a sufocá-lo, dizendo: `Paga o que me deves’. 29 O companheiro, caindo aos seus pés, suplicava: `Dá-me um prazo! e eu te pagarei’. 30 Mas o empregado não quis saber disso. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que devia. 31 Vendo o que havia acontecido, os outros empregados ficaram muito tristes, procuraram o patrão e lhe contaram tudo. 32 Então o patrão mandou chamá-lo e lhe disse: `Empregado perverso, eu te perdoei toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. 33 Não devias tu também, ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’ 34 O patrão indignou-se e mandou entregar aquele empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida. 35 É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão.’
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Disposições para encontrar Jesus
TEMPO DA QUARESMA. TERCEIRA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA
– Fé e correspondência à graça. Purificar a alma para ver Jesus.
– A cura de Naamã. Docilidade e humildade.
– Docilidade na direção espiritual.
I. A MINHA ALMA desfalecida consome-se suspirando pelos átrios do Senhor. O meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo, lemos no Intróito da Missa 1. E para penetrar na morada de Deus, é necessário ter uma alma limpa e humilde; para ver Jesus, são necessárias boas disposições. O Evangelho da Missa no-lo mostra uma vez mais.
O Senhor, depois de um tempo dedicado à pregação pelas aldeias e cidades da Galiléia, volta a Nazaré, onde se tinha criado. Ali todos o conhecem: é filho de José e Maria. No sábado, foi à sinagoga, conforme era seu costume 2, levantou-se para a leitura do texto sagrado e escolheu um trecho messiânico do profeta Isaías. São Lucas capta a densa expectativa que havia no ambiente: Enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Tinham ouvido maravilhas sobre o filho de Maria e esperavam ver coisas ainda mais extraordinárias em Nazaré.
Não obstante, ainda que a princípio todos lhe davam testemunho e se admiravam das palavras de graça que procediam da sua boca 3, não têm fé. Jesus explica-lhes que os planos de Deus não se baseiam na pátria ou no parentesco: não basta ter convivido com Ele, é necessária uma fé grande. E serve-se de alguns exemplos do Antigo Testamento: Havia muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi curado a não ser Naamã, o sírio. As graças do Céu são concedidas sem qualquer limitação por parte de Deus, sem levar em conta a raça – Naamã não pertencia ao povo judeu –, a idade ou a posição social. Mas Jesus não encontrou boas disposições nos ouvintes, na terra onde se havia criado, e por isso não fez ali nenhum milagre. Aquelas pessoas só viram nEle o filho de José, aquele que fabricava mesas e consertava portas. Não é este o filho de José?, perguntavam 4. Não souberam ir além disso. Não descobriram o Messias que os visitava.
Nós, para podermos contemplar o Senhor, também devemos purificar a nossa alma. “Esse Cristo que tu vês não é Jesus. – Será, quando muito, a triste imagem que podem formar teus olhos turvos... – Purifica-te. Clarifica o teu olhar com a humildade e a penitência. Depois... não te hão de faltar as luzes límpidas do Amor. E terás uma visão perfeita. A tua imagem será realmente a sua: Ele!” 5
A Quaresma é uma boa ocasião para intensificarmos o nosso amor com obras de penitência que preparem a alma para receber as luzes de Deus.
II. NA PRIMEIRA LEITURA da Missa, narra-se a cura de Naamã, general do exército sírio6, a quem o Senhor se refere no Evangelho. Este leproso ouvira dizer, a uma escrava hebréia, que vivia em Israel um profeta com poder para curá-lo. Depois de uma longa viagem, Naamã veio com o seu carro e os seus cavalos e parou à porta de Eliseu. Este mandou-lhe dizer por um mensageiro: Vai, lava-te sete vezes no Jordão e a tua carne ficará limpa.
Mas Naamã não entendeu esse caminho de Deus, tão diferente do que havia imaginado. Eu pensava que ele viria em pessoa e, diante de mim, invocaria o Senhor, seu Deus, poria a mão no lugar infetado e me curaria da lepra. Porventura os rios de Damasco, o Abana e o Farfar, não são melhores que todas as águas de Israel? Não poderia eu lavar-me neles e ficar limpo?
O general sírio queria curar-se, e tinha feito um longo trajeto para isso; mas levava consigo a sua própria solução sobre o modo de ser curado. E quando já regressava, dando por inútil a viagem, os seus servidores disseram-lhe: Mesmo que o profeta te tivesse mandado uma coisa difícil, não a deverias tu fazer? Quanto mais agora que ele te disse: Lava-te e ficarás curado.
Naamã refletiu sobre as palavras dos seus acompanhantes e, retornando, prontificou-se com humildade a cumprir o que o profeta Eliseu lhe havia dito. Desceu ao Jordão e banhou-se ali sete vezes, como lhe ordenara o homem de Deus, e a sua carne tornou-se tenra como a de uma criança. Acabou por aceitar com docilidade um conselho que podia parecer inútil. E ficou curado. As suas novas disposições interiores tornaram eficaz a oração de Eliseu.
Não poucas vezes nós também andamos doentes da alma, cheios de erros e defeitos que não acabamos de arrancar. O Senhor espera que sejamos humildes e dóceis às indicações e conselhos das pessoas por Ele estabelecidas para nos ajudarem a procurar a santidade. Não tenhamos soluções próprias quando o Senhor nos indica outras, talvez contrárias aos nossos gostos e desejos.
No que diz respeito à alma, ninguém é bom conselheiro nem bom médico de si próprio. Ordinariamente, o Senhor serve-se de outras pessoas. “Cristo chamou e falou diretamente com São Paulo. Mas, embora pudesse revelar-lhe naquele momento o caminho da santidade, preferiu encaminhá-lo a Ananias e ordenou-lhe que aprendesse a verdade dos lábios deste: Levanta-te, entra na cidade e lá te será dito o que deves fazer” 7. São Paulo deixar-se-á guiar. A sua forte personalidade, manifestada de tantos modos e em tantas ocasiões, serve-lhe agora para ser dócil. Primeiro os seus companheiros de viagem o levam a Damasco; depois Ananias devolve-lhe a vista, e só a partir desse momento é que será já um homem útil para as batalhas do Senhor.
Mediante a direção espiritual, a alma prepara-se para encontrar o Senhor e para reconhecê-lo nas situações correntes do seu dia.
III. A FÉ NOS MEIOS que o Senhor nos oferece opera milagres. Certa vez, Jesus pediu a um homem que fizesse uma coisa que esse homem sabia por experiência que não podia fazer: estender a sua mão seca, sem movimento. E a docilidade, sinal de uma fé operativa, tornou possível o milagre: Estendeu-a e ela tornou-se tão sã como a outra 8. Haverá ocasiões em que nos pedirão coisas que nos sentiremos incapazes de fazer, mas que serão possíveis se deixarmos que a graça atue em nós. E essa graça chegar-nos-á freqüentemente como conseqüência da docilidade que manifestemos na direção espiritual.
Houve dez homens, segundo narra o Evangelho, que ficaram curados por terem sido dóceis. Jesus Cristo dissera-lhes somente: Ide, mostrai-vos ao sacerdote. E enquanto eles iam andando, ficaram curados 9. Em outra ocasião, o Senhor compadeceu-se de um mendigo que era cego de nascença, e diz-nos São João que Jesus cuspiu no chão, fez um pouco de lodo com a saliva e com o lodo ungiu os olhos do cego. Depois disse-lhe: Vai, lava-te na piscina de Siloé. O mendigo não duvidou um instante. O cego foi, lavou-se e voltou com vista10.
“Que exemplo de firmeza na fé nos dá este cego! Uma fé viva, operativa [...]. Que poder continha a água, para que os olhos ficassem curados ao serem umedecidos? Teria sido mais adequado um colírio misterioso, um medicamento precioso preparado no laboratório de um sábio alquimista. Mas aquele homem crê; põe em prática o que Deus lhe ordena, e volta com os olhos cheios de claridade” 11.
A cegueira, os defeitos, as fraquezas são males que têm remédio. Nós não podemos nada, mas Jesus Cristo é onipotente. A água daquela piscina continuou a ser água; e o barro, barro. Mas o cego recuperou a vista, e depois, além disso, alcançou uma fé mais viva no Senhor. É assim que a fé dos que encontram Jesus se mostra tantas vezes ao longo do Evangelho.
Sem docilidade, a direção espiritual é estéril. E não poderá ser dócil quem se empenhe em ser teimoso, obstinado, incapaz de assimilar uma idéia diferente da que já tem ou da que lhe dita uma experiência que foi negativa por não ter contado com a ajuda da graça. O soberbo é incapaz de ser dócil, porque, para aprender, é necessário estarmos convencidos de que há coisas que ainda não conhecemos e de que precisamos de alguém que nos ensine. E para melhorarmos espiritualmente, devemos estar convencidos de que não somos ainda tão bons quanto Deus espera que sejamos.
Nos assuntos da nossa vida interior, devemos estar prevenidos e manter uma prudente desconfiança em relação aos nossos próprios juízos, para podermos aceitar outro critério diferente ou oposto ao nosso. E devemos deixar que Deus nos faça e refaça através dos acontecimentos e das inspirações e luzes que venhamos a receber na direção espiritual: com a docilidade do barro nas mãos do oleiro, sem oferecer resistência, com espírito de fé, vendo e ouvindo o próprio Cristo na pessoa que orienta a nossa alma. Assim nos diz a Sagrada Escritura: Desci então à casa do oleiro e encontrei-o ocupado a trabalhar no torno. Quando o vaso que estava a modelar não lhe saiu bem, como costuma acontecer nos trabalhos de cerâmica, pôs-se a trabalhar em outro do modo que lhe aprouve [...]. Sabei que o que é a argila nas mãos do oleiro, isso sois vós nas minhas 12.
Disponibilidade, docilidade, deixar-se modelar e remodelar por Deus quantas vezes for necessário. Este pode ser o propósito da nossa oração de hoje, que poremos em prática com a ajuda da Virgem.
(1) Sl 83, 3; Intróito da Missa da segunda-feira da terceira semana da Quaresma; (2) Lc 2, 16; (3) Lc 4, 22; (4) ib.; (5) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 212; (6) cfr. 2 Rs 5, 1-15; (7) Cassiano, Colações, 2; (8) cfr. Mt 12, 9 e segs.; (9) Lc 17, 11-19; (10) Jo 9, 1 e segs.; (11) São Josemaría Escrivá, Amigo de Deus, n. 193; (12) Jer 18, 1-7.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
16 de Março 2020
A SANTA MISSA

3ª Semana da Quaresma – Segunda-feira
Cor: Roxa
1ª Leitura: 2Rs 5,1-15a
Havia muitos leprosos em Israel. Contudo,
nenhum deles foi curado, mas sim Naamã, o sírio.
Leitura do Segundo Livro dos Reis
Naqueles dias: 1 Naamã, general do exército do rei da Síria, era um homem muito estimado e considerado pelo seu senhor, pois foi por meio dele que o Senhor concedeu a vitória aos arameus. Mas esse homem, valente guerreiro, era leproso. 2 Ora, um bando de arameus que tinha saído da Síria, tinha levado cativa uma moça do país de Israel. Ela ficou ao serviço da mulher de Naamã. 3 Disse ela à sua senhora: ‘Ah, se meu senhor se apresentasse ao profeta que reside em Samaria, sem dúvida, ele o livraria da lepra de que padece!’ 4 Naamã foi então informar o seu senhor: ‘Uma moça do país de Israel disse isto e isto’. 5 Disse-lhe o rei de Aram: ‘Vai, que eu enviarei uma carta ao rei de Israel’. Naamã partiu, levando consigo dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez mudas de roupa. 6 E entregou ao rei de Israel a carta, que dizia: ‘Quando receberes esta carta, saberás que eu te enviei Naamã, meu servo, para que o cures de sua lepra’. 7 O rei de Israel, tendo lido a carta, rasgou suas vestes e disse: ‘Sou Deus, porventura, que possa dar a morte e a vida, para que este me mande um homem para curá-lo de lepra? Vê-se bem que ele busca pretexto contra mim’. 8 Quando Eliseu, o homem de Deus, soube que o rei de Israel havia rasgado as vestes, mandou dizer-lhe: ‘Por que rasgaste tuas vestes? Que ele venha a mim, para que saibas que há um profeta em Israel’. 9 Então Naamã chegou com seus cavalos e carros, e parou à porta da casa de Eliseu. 10 Eliseu mandou um mensageiro para lhe dizer: ‘Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e tua carne será curada e ficarás limpo’.
11 Naamã, irritado, foi-se embora, dizendo: ‘Eu pensava que ele sairia para me receber e que, de pé, invocaria o nome do Senhor, seu Deus, e que tocaria com sua mão o lugar da lepra e me curaria. 12 Será que os rios de Damasco, o Abana e o Farfar, não são melhores do que todas as águas de Israel, para eu me banhar nelas e ficar limpo?’ Deu meia-volta e partiu indignado. 13 Mas seus servos aproximaram-se dele e disseram-lhe: ‘Senhor, se o profeta te mandasse fazer uma coisa difícil, não a terias feito? Quanto mais agora que ele te disse: ‘Lava-te e ficarás limpo’ ‘. 14 Então ele desceu e mergulhou sete vezes no Jordão, conforme o homem de Deus tinha mandado, e sua carne tornou-se semelhante à de uma criancinha, e ele ficou purificado. 15a Em seguida, voltou com toda a sua comitiva para junto do homem de Deus. Ao chegar, apresentou-se diante dele e disse: ‘Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel!
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 41, 2. 3; Sl 42, 3. 4 (R. 41,3)
Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo:
e quando verei a face de Deus?
41,2 Assim como a corça suspira*
pelas águas correntes,
suspira igualmente minh’alma
por vós, ó meu Deus! R.
3 A minh’alma tem sede de Deus,*
e deseja o Deus vivo.
Quando terei a alegria de ver*
a face de Deus? R
42,3 Enviai vossa luz, vossa verdade:*
elas serão o meu guia;
que me levem ao vosso Monte santo,*
até a vossa morada! R.
4 Então irei aos altares do Senhor,*
Deus da minha alegria.
Vosso louvor cantarei, ao som da harpa,*
meu Senhor e meu Deus! R.
Evangelho: Lc 4,24-30
Jesus, como Elias e Eliseu, não é enviado só aos judeus.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas
Jesus, vindo a Nazaré, disse ao povo na sinagoga: 24 ‘Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. 25 De fato, eu vos digo: no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e houve grande fome em toda a região, havia muitas viúvas em Israel. 26 No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma viúva que vivia em Sarepta, na Sidônia. 27 E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel. Contudo, nenhum deles foi curado, mas sim Naamã, o sírio.’ 28 Quando ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. 29 Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no até ao alto do monte sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. 30 Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!