São Vicente Ferrer
05 de Abril
São Vicente Ferrer
Este grande Santo, que por causa da pregação e das numerosíssimas conversões que conseguiu, com razão é chamado o Apóstolo da Europa, nasceu em 1357, em Valença, na Espanha, tendo tido por pais um casal muito piedoso e temente a Deus. De uma inteligência rara, já em menino se distinguia vantajosamente dos companheiros. Tendo apenas 7 anos, reunia os amiguinhos, e reproduzia-lhes verbalmente práticas, que tinha ouvido na Igreja. Vendo esta boa disposição intelectual no filho, os pais proporcionaram-lhe os meios para dedicar-se ao estudo das ciências. Apenas com a idade de doze anos, Vicente começou o estudo da filosofia e com dezessete anos tinha já terminado o curso de teologia.
Não menos admirável que sua inteligência, era sua piedade. Frequentes vezes procurava a igreja, passando longas horas em oração; às quartas e sextas-feiras observava rigoroso jejum. As devoções mais queridas eram à Sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e à Santíssima Virgem.
Na idade de 18 anos entrou para a Ordem Dominicana. Seis anos depois, fazia preleções sobre filosofia aos jovens religiosos. Mandado pelos superiores às universidades de Barcelona e Lerida, com o fim de completar os estudos teológicos, tão brilhante curso fez que, tendo 28 anos, lhe foi conferido o título de doutor, e nesta qualidade começou a lecionar as matérias teologais em Valença. Neste ramo de atividade, não abandonou as práticas de piedade; na observação da regra foi sempre o mais exemplar.
Para que lhe fosse provada a virtude, Deus permitiu que tentações horríveis contra a castidade o atormentassem. As armas que São Vicente usou e que lhe deram a vitória, no combate contra as tentações, foram a oração, a fuga da ocasião, a mortificação, uma grande vigilância sobre os sentidos e um especial cuidado de suprimir as primeiras manifestações da concupiscência. Contra outras ciladas do demônio, defendeu-se pelo sinal da cruz.
Trazia o coração constantemente na presença de Deus, de modo que assim todas as ocupações se lhe transformavam em oração. Esta prática recomendava aos outros, mui particularmente. “Se quiseres tirar muito fruto do estudo, cuida que seja a piedade companheira inseparável dos teus trabalhos intelectuais e formula a intenção de santificar tua alma, por meio da ciência. Mais que o livro, deve Deus ser teu conselheiro e deves pedir-lhe a graça da compreensão daquilo que lês. O estudo fadiga o espírito e seca o coração. Aviva ambos aos pés de Jesus crucificado. Uns momentos de repouso nas santas chagas renovam as forças e dão luz. Interrompe de quando em vez teu trabalho pelas jaculatórias. Teu trabalho principie e termine pela oração”.
Grandioso foi, por toda a parte, o resultado desse trabalho apostólico. Contaram-se aos milhares as conversões de Judeus, Mouros, Sarracenos, hereges e maus católicos, em consequência de sua atividade missionária. A preparação para as práticas era feita ao pé do crucifixo. Terminada a pregação ia ao confessionário, onde grande número de pecadores encontraram a paz e o perdão.
A morte colheu-o no meio do trabalho. Vicente morreu aos 5 de abril de 1419, em Vanes, tendo alcançado a idade de 62 anos.
Fonte: "Na Luz Perpétua", Pe. João Batista, 1956.
A Entrada triunfal em Jerusalém
SEMANA SANTA. DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR
– Entrada solene e ao mesmo tempo simples em Jerusalém. Jesus cumpre as antigas profecias.
– O Senhor chora sobre a cidade. Correspondência à graça.
– Alegria e dor neste dia: coerência para seguir o Senhor até a Cruz.
I. “VINDE e, ao mesmo tempo que subimos ao monte das Oliveiras, saiamos ao encontro de Cristo, que volta hoje de Betânia e, por vontade própria, apressa o passo rumo à sua venerável e feliz paixão, para levar à plenitude o mistério da salvação dos homens” 1.
Jesus parte muito cedo de Betânia. Desde a tarde anterior, tinham-se congregado nessa aldeia muitos dos seus discípulos; uns eram seus conterrâneos da Galiléia, chegados em peregrinação para celebrar a Páscoa; outros eram habitantes de Jerusalém, convencidos pelo recente milagre da ressurreição de Lázaro. Acompanhado por essa numerosa comitiva e por outros que se foram juntando pelo caminho, Jesus toma uma vez mais a velha estrada de Jericó a Jerusalém, em direção ao monte das Oliveiras.
As circunstâncias eram propícias para uma grande recepção, pois era costume que as pessoas saíssem ao encontro dos grupos de peregrinos mais importantes, para fazê-los entrar na cidade entre cantos e manifestações de alegria. O Senhor não manifesta nenhuma oposição aos preparativos dessa entrada jubilosa. Ele mesmo escolhe a cavalgadura: um simples asno que manda trazer de Betfagé, aldeia muito próxima de Jerusalém. Na Palestina, o asno tinha sido a cavalgadura de personagens notáveis já desde o tempo de Balaão 2.
O cortejo organizou-se rapidamente. Alguns cobriram com os seus mantos a garupa do animal e ajudaram Jesus a montar; outros, pondo-se à frente, estendiam as suas vestes no chão para que o jumentinho as pisasse como se fossem um tapete; e muitos outros corriam pelo caminho, à medida que o cortejo avançava, espalhando ramos verdes ao longo do trajeto e agitando ramos de oliveira e de palma arrancados das árvores das cercanias. E quando se aproximava da cidade, já na descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos, tomada de alegria, começou a louvar a Deus em altas vozes, por todas as maravilhas que tinha visto. E diziam: Bendito o rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas 3.
Jesus faz a sua entrada em Jerusalém, como Messias, montado num burrinho, segundo fora profetizado muitos séculos antes 4. E os cânticos do povo eram claramente messiânicos. Estas pessoas simples conheciam bem essas profecias, e manifestam-se cheias de júbilo. Jesus aceita a homenagem, e quando os fariseus, que também conheciam as profecias, tentaram sufocar aquelas manifestações de fé e alegria, o Senhor disse-lhes: Digo-vos que, se estes se calarem, clamarão as pedras 5.
Mas o triunfo de Jesus é um triunfo simples: “Contenta-se com um pobre animal por trono. Não sei o que se passa convosco; quanto a mim, não me humilha reconhecer-me aos olhos do Senhor como um jumento: Sou como um burrinho diante de Ti; mas estarei sempre a teu lado, porque me tomaste pela tua mão direita (Ps LXXII, 23), Tu me conduzes pelo cabresto” 6.
Hoje Jesus quer também entrar triunfante na vida dos homens, sobre uma montaria humilde: quer que demos testemunho dEle com a simplicidade do nosso trabalho bem feito, com a nossa alegria, com a nossa serenidade, com a nossa sincera preocupação pelos outros. Quer fazer-se presente em nós através das circunstâncias do viver humano. Também nós podemos dizer-lhe agora: Ut iumentum factus sum apud te... “Como um burriquinho estou diante de Ti. Mas Tu estás sempre comigo, tomaste-me pelo cabresto, fizeste-me cumprir a tua vontade; et cum gloria suscepisti me, e depois me darás um abraço muito forte” 7.Ut iumentum... Estou como um burrinho diante de Ti, Senhor..., como um burrinho de carga, e estarei sempre contigo. Podemos servir-nos destas palavras como uma jaculatória para o dia de hoje.
II. O CORTEJO TRIUNFAL de Jesus transpôs o cume do monte das Oliveiras e desceu pela vertente ocidental a caminho do Templo, que se podia avistar dali. Toda a cidade surgiu diante dos olhos de Jesus. E, ao contemplar aquele panorama, Jesus chorou 8.
Esse pranto, no meio de tantos gritos alegres e em tão solene entrada, deve ter sido completamente inesperado. Os discípulos devem ter ficado desconcertados. Tanta alegria que se quebrava subitamente, num instante!
Jesus vê como Jerusalém se afunda no pecado, na ignorância e na cegueira: Oh se ao menos neste dia, que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz! Mas agora tudo está oculto aos teus olhos 9. O Senhor vê como virão outros dias que já não serão como este, um dia de alegria e de salvação, mas de desgraça e ruína. Poucos anos mais tarde, a cidade será arrasada. Jesus chora a impenitência de Jerusalém. Como são eloqüentes estas lágrimas de Cristo! Cheio de misericórdia, compadece-se da cidade que o rejeita.
Não ficou nada por tentar: nem milagres, nem obras, nem palavras, em tom severo umas vezes, indulgentes outras... Jesus tentou tudo com todos: na cidade e no campo, com pessoas simples e com sábios, na Galiléia e na Judéia... Como também na nossa vida nada ficou por tentar, remédio algum por oferecer. Tantas vezes Jesus saiu ao nosso encontro, tantas graças ordinárias e extraordinárias derramou sobre a nossa vida! “De certo modo, o próprio Filho de Deus se uniu a cada homem pela sua Encarnação. Trabalhou com mãos humanas, pensou com mente humana, amou com coração de homem. Nascido de Maria Virgem, fez-se verdadeiramente um de nós, igual a nós em tudo menos no pecado. Cordeiro inocente, mereceu-nos a vida derramando livremente o seu sangue, e nEle o próprio Deus nos reconciliou consigo e entre nós mesmos e nos arrancou da escravidão do demônio e do pecado, e assim cada um de nós pode dizer com o Apóstolo: O Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim (Gal 2, 20)” 10.
A história de cada homem é a história da contínua solicitude de Deus para com ele. Cada homem é objeto da predileção do Senhor. Jesus tentou tudo com Jerusalém, e a cidade não quis abrir as portas à misericórdia. É o profundo mistério da liberdade humana, que tem a triste possibilidade de rejeitar a graça divina. “Homem livre, sujeita-te a uma voluntária servidão, para que Jesus não tenha que dizer por tua causa aquilo que contam ter dito, por causa de outros, à Madre Teresa: «Teresa, Eu quis..., mas os homens não quiseram»” 11.
Como é que estamos correspondendo às inúmeras instâncias do Espírito Santo para que sejamos santos no meio das nossas tarefas, no nosso ambiente? Quantas vezes em cada dia dizemos sim a Deus e não ao egoísmo, à preguiça, a tudo o que significa falta de amor, mesmo em pormenores insignificantes?
III. “QUANDO O SENHOR entrou na Cidade Santa, os meninos hebreus profetizaram a ressurreição de Cristo ao proclamarem com ramos de palmas: Hosana nas alturas” 12.
Nós sabemos agora que aquela entrada triunfal foi bastante efêmera para muitos. Os ramos verdes murcharam rapidamente. O hosana entusiástico transformou-se, cinco dias mais tarde, num grito furioso: Crucifica-o! Por que foi tão brusca a mudança, por que tanta inconsistência? Para podermos entender um pouco do que se passou, talvez tenhamos que consultar o nosso coração.
“Como eram diferentes umas vozes e outras! – comenta São Bernardo –: Fora, fora, crucifica-o e bendito o que vem em nome do Senhor, hosana nas alturas! Como são diferentes as vozes que agora o aclamam Rei de Israel e dentro de poucos dias dirão: Não temos outro rei além de César! Como são diferentes os ramos verdes e a Cruz, as flores e os espinhos! Àquele a quem antes estendiam as próprias vestes, dali a pouco o despojam das suas e lançam a sorte sobre elas” 13.
A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém pede-nos coerência e perseverança, aprofundamento na nossa fidelidade, para que os nossos propósitos não sejam luz que brilha momentaneamente e logo se apaga. Muito dentro do nosso coração, há profundos contrastes: somos capazes do melhor e do pior. Se queremos ter em nós a vida divina, triunfar com Cristo, temos de ser constantes e matar pela penitência o que nos afasta de Deus e nos impede de acompanhar o Senhor até a Cruz.
“A liturgia do Domingo de Ramos põe na boca dos cristãos este cântico: Levantai, portas, os vossos dintéis; levantai-vos, portas antigas, para que entre o Rei da glória (antífona da distribuição dos ramos). Quem permanece recluído na cidadela do seu egoísmo não descerá ao campo de batalha. Mas, se levantar as portas da fortaleza e permitir que entre o Rei da paz, sairá com Ele a combater contra toda essa miséria que embaça os olhos e insensibiliza a consciência” 14.
Maria também está em Jerusalém, perto do seu Filho, para celebrar a Páscoa: a última Páscoa judaica e a primeira Páscoa em que o seu Filho é o Sacerdote e a Vítima. Não nos separemos dEla. Nossa Senhora ensinar-nos-á a ser constantes, a lutar até o pormenor, a crescer continuamente no amor por Jesus. Permaneçamos a seu lado para contemplar com Ela a Paixão, a Morte e a Ressurreição do seu Filho. Não encontraremos lugar mais privilegiado.
(1) Santo André de Creta, Sermão 9 sobre o Domingo de Ramos; (2) cfr. Num 22, 21 e segs.; (3) Lc 19, 37-38; (4) Zac 9, 9; (5) Lc 19, 39; (6) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 181; (7) Andrés Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, Quadrante, São Paulo, 1989, pág. 141; (8) Lc 19, 41; (9) Lc 19, 42; (10) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 22; (11) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 761; (12) Hino à Cristo Rei, Missa do Domingo de Ramos; (13) São Bernardo, Sermão no Domingo de Ramos, 2, 4; (14) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 82.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
05 de Abril 2020
A SANTA MISSA

Domingo de Ramos da Paixão do Senhor – Ano A
Cor: Vermelha
1ª Leitura: Mt 21, 1-11 (Procissão de Ramos)
“Bendito O que vem em nome do Senhor”
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo: 1 Jesus e seus discípulos aproximaram-se de Jerusalém e chegaram a Betfagé, no monte das Oliveiras. Então Jesus enviou dois discípulos, 2 dizendo-lhes: ‘Ide até o povoado que está ali na frente, e logo encontrareis uma jumenta amarrada, e com ela um jumentinho. Desamarrai-a e trazei-os a mim! 3 Se alguém vos disser alguma coisa, direis: O Senhor precisa deles, mas logo os devolverá’. 4 Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo profeta: 5 ‘Dizei à filha de Sião: Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta.’ 6 Então os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes havia mandado. 7 Trouxeram a jumenta e o jumentinho e puseram sobre eles suas vestes, e Jesus montou. 8 A numerosa multidão estendeu suas vestes pelo caminho, enquanto outros cortavam ramos das árvores, e os espalhavam pelo caminho. 9 As multidões que iam na frente de Jesus e os que o seguiam, gritavam: ‘Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!’ 10 Quando Jesus entrou em Jerusalém a cidade inteira se agitou, e diziam: ‘Quem é este homem?’ 11 E as multidões respondiam: ‘Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia.’
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 21(22), 8-9.17-18a.19-20.23-24 (R. 2a)
R. Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
8 Riem de mim todos aqueles que me veem,*
torcem os lábios e sacodem a cabeça:
9 ‘Ao Senhor se confiou, ele o liberte*
e agora o salve, se é verdade que ele o ama!’ R.
17 Cães numerosos me rodeiam furiosos,*
e por um bando de malvados fui cercado.
Transpassaram minhas mãos e os meus pés
18 e eu posso contar todos os meus ossos.*
Eis que me olham e, ao ver-me, se deleitam! R.
19 Eles repartem entre si as minhas vestes*
e sorteiam entre si a minha túnica.
20 Vós, porém, ó meu Senhor, não fiqueis longe,*
ó minha força, vinde logo em meu socorro! R.
23 Anunciarei o vosso nome a meus irmãos*
e no meio da assembleia hei de louvar-vos!
24 Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores,
glorificai-o, descendentes de Jacó,*
e respeitai-o toda a raça de Israel! R.
Salmo Responsorial: Sl 21(22), 8-9.17-18a.19-20.23-24 (R. 2a)
R. Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
8 Riem de mim todos aqueles que me veem,*
torcem os lábios e sacodem a cabeça:
9 ‘Ao Senhor se confiou, ele o liberte*
e agora o salve, se é verdade que ele o ama!’ R.
17 Cães numerosos me rodeiam furiosos,*
e por um bando de malvados fui cercado.
Transpassaram minhas mãos e os meus pés
18 e eu posso contar todos os meus ossos.*
Eis que me olham e, ao ver-me, se deleitam! R.
19 Eles repartem entre si as minhas vestes*
e sorteiam entre si a minha túnica.
20 Vós, porém, ó meu Senhor, não fiqueis longe,*
ó minha força, vinde logo em meu socorro! R.
23 Anunciarei o vosso nome a meus irmãos*
e no meio da assembleia hei de louvar-vos!
24 Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores,
glorificai-o, descendentes de Jacó,*
e respeitai-o toda a raça de Israel! R.
2ª Leitura: Fl 2, 6-11
“Humilhou-se a si mesmo; por isso, Deus o exaltou acima de tudo.”
Leitura da Carta de São Paulo apóstolo aos Filipenses
6 Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, 7 mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, 8 humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. 9 Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome. 10 Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, 11 e toda língua proclame: ‘Jesus Cristo é o Senhor’, para a glória de Deus Pai.
– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.
Evangelho: Mt 26, 14 – 27, 66
O que me dareis se vos entregar Jesus?
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo: 14 Um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes 15 e disse: ‘O que me dareis se vos entregar Jesus?’ Combinaram, então, trinta moedas de prata. 16 E daí em diante, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus. 17 No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: ‘Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?’ 18 Jesus respondeu: ‘Ide à cidade, procurai certo homem e dizei-lhe: ‘O Mestre manda dizer: o meu tempo está próximo, vou celebrar a Páscoa em tua casa, junto com meus discípulos’.’ 19 Os discípulos fizeram como Jesus mandou e prepararam a Páscoa. 20 Ao cair da tarde, Jesus pôs-se à mesa com os doze discípulos. 21 Enquanto comiam, Jesus disse: ‘Em verdade eu vos digo, um de vós vai me trair.’ 22 Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a lhe perguntar: ‘Senhor, será que sou eu?’ 23 Jesus respondeu: ‘Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato. 24 O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele. Contudo, ai daquele que trair o Filho do Homem! Seria melhor que nunca tivesse nascido!’ 25 Então Judas, o traidor, perguntou: ‘Mestre, serei eu?’ Jesus lhe respondeu: ‘Tu o dizes.’ 26 Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o, distribuiu-o aos discípulos, e disse: ‘Tomai e comei, isto é o meu corpo.’ 27 Em seguida, tomou um cálice, deu graças e entregou-lhes, dizendo: ‘Bebei dele todos. 28 Pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados. 29 Eu vos digo: de hoje em diante não beberei deste fruto da videira, até ao dia em que, convosco, beberei o vinho novo no Reino do meu Pai.’ 30 Depois de terem cantado salmos, foram para o monte das Oliveiras. 31 Então Jesus disse aos discípulos: ‘Esta noite, vós ficareis decepcionados por minha causa. Pois assim diz a Escritura: ‘Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho se dispersarão.’ 32 Mas, depois de ressuscitar, eu irei à vossa frente para a Galileia.’ 33 Disse Pedro a Jesus: ‘Ainda que todos fiquem decepcionados por tua causa, eu jamais ficarei.’ 34 Jesus lhe declarou: ‘Em verdade eu te digo, que, esta noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes.’ 35 Pedro respondeu: ‘Ainda que eu tenha de morrer contigo, mesmo assim não te negarei.’ E todos os discípulos disseram a mesma coisa. 36 Então Jesus foi com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse: ‘Sentai-vos aqui, enquanto eu vou até ali para rezar!’ 37 Jesus levou consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, e começou a ficar triste e angustiado. 38 Então Jesus lhes disse: ‘Minha alma está triste até á morte. Ficai aqui e vigiai comigo!’ 39 Jesus foi um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto por terra e rezou: ‘Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. Contudo, não seja feito como eu quero, mas sim como tu queres.’ 40 Voltando para junto dos discípulos, Jesus encontrou-os dormindo, e disse a Pedro: ‘Vós não fostes capazes de fazer uma hora de vigília comigo? 41 Vigiai e rezai, para não cairdes em tentação; pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca.’ 42 Jesus se afastou pela segunda vez e rezou: ‘Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que eu o beba, seja feita a tua vontade!’ 43 Ele voltou de novo e encontrou os discípulos dormindo, porque seus olhos estavam pesados de sono. 44 Deixando-os, Jesus afastou-se e rezou pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. 45 Então voltou para junto dos discípulos e disse: ‘Agora podeis dormir e descansar. Eis que chegou a hora e o Filho do Homem é entregue nas mãos dos pecadores. 46 Levantai-vos! Vamos! Aquele que me vai trair, já está chegando.’ 47 Jesus ainda falava, quando veio Judas, um dos Doze, com uma grande multidão armada de espadas e paus. Vinham a mandado dos sumos sacerdotes e dos anciãos do povo. 48 O traidor tinha combinado com eles um sinal, dizendo: ‘Jesus é aquele que eu beijar; prendei-o!’ 49 Judas, logo se aproximou de Jesus, dizendo: ‘Salve, Mestre!’ E beijou-o. 50 Jesus lhe disse: ‘Amigo, a que vieste?’ Então os outros avançaram lançaram as mãos sobre Jesus e o prenderam. 51 Nesse momento, um dos que estavam com Jesus estendeu a mão, puxou a espada, e feriu o servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha. 52 Jesus, porém, lhe disse: ‘Guarda a espada na bainha! pois todos os que usam a espada pela espada morrerão. 53 Ou pensas que eu não poderia recorrer ao meu Pai e ele me mandaria logo mais de doze legiões de anjos? 54 Então, como se cumpririam as Escrituras, que dizem que isso deve acontecer? 55 E, naquela hora, Jesus disse à multidão: ‘Vós viestes com espadas e paus para me prender, como se eu fosse um assaltante. Todos os dias, no Templo, eu me sentava para ensinar, e vós não me prendestes.’ 56 Porém, tudo isto aconteceu para se cumprir o que os profetas escreveram. Então todos os discípulos, abandonando Jesus, fugiram. 57 Aqueles que prenderam Jesus levaram-no à casa do Sumo Sacerdote Caifás, onde estavam reunidos os mestres da Lei e os anciãos. 58 Pedro seguiu Jesus de longe até o pátio interno da casa do Sumo Sacerdote. Entrou e sentou-se com os guardas para ver como terminaria tudo aquilo. 59 Ora, os sumos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de condená-lo à morte. 60 E nada encontraram, embora se apresentassem muitas falsas testemunhas. Por fim, vieram duas testemunhas, 61 que afirmaram: ‘Este homem declarou: ‘posso destruir o Templo de Deus e construí-lo de novo em três dias’.’ 62 Então o Sumo Sacerdote levantou-se e perguntou a Jesus: ‘Nada tens a responder ao que estes testemunham contra ti?’ 63 Jesus, porém, continuava calado. E o Sumo Sacerdote lhe disse: ‘Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Messias, o Filho de Deus.’ 64 Jesus respondeu: ‘Tu o dizes. Além disso, eu vos digo que de agora em diante vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso, vindo sobre as nuvens do céu.’ 65 Então o sumo sacerdote rasgou suas vestes e disse: ‘Blasfemou! Que necessidade temos ainda de testemunhas? Pois agora mesmo vós ouvistes a blasfêmia. 66 Que vos parece?’ Responderam: ‘É réu de morte!’ 67 Então cuspiram no rosto de Jesus e o esbofetearam. Outros lhe deram bordoadas, 68 dizendo: ‘Faze-nos uma profecia, Cristo, quem foi que te bateu?’ 69 Pedro estava sentado fora, no pátio. Uma criada chegou perto dele e disse: ‘Tu também estavas com Jesus, o Galileu!’ 70 Mas ele negou diante de todos: ‘Não sei o que tu estás dizendo’. 71 E saiu para a entrada do pátio. Então uma outra criada viu Pedro e disse aos que estavam ali: ‘Este também estava com Jesus, o Nazareno.’ 72 Pedro negou outra vez, jurando: ‘Nem conheço esse homem!’ 73 Pouco depois, os que estavam ali aproximaram-se de Pedro e disseram: ‘É claro que tu também és um deles, pois o teu modo de falar te denuncia.’ 74 Pedro começou a maldizer e a jurar, dizendo que não conhecia esse homem!’ E nesse instante o galo cantou. 75 Pedro se lembrou do que Jesus tinha dito: ‘Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes.’ E saindo dali, chorou amargamente. 27,1 De manhã cedo, todos os sumos sacerdotes e os anciãos do povo convocaram um conselho contra Jesus, para condená-lo à morte. 2 Eles o amarraram, levaram-no e o entregaram a Pilatos, o governador. 3 Então Judas, o traidor, ao ver que Jesus fora condenado, ficou arrependido e foi devolver as trinta moedas de prata aos sumos sacerdotes e aos anciãos, 4 dizendo: ‘Pequei, entregando à morte um homem inocente.’ Eles responderam: ‘O que temos nós com isso? O problema é teu.’ 5 Judas jogou as moedas no santuário, saiu e foi se enforcar. 6 Recolhendo as moedas, os sumos sacerdotes disseram: ‘É contra a Lei colocá-las no tesouro do Templo, porque é preço de sangue.’
7 Então discutiram em conselho e compraram com elas o Campo do Oleiro, para aí fazer o cemitério dos estrangeiros. 8 É por isso que aquele campo até hoje é chamado de ‘Campo de Sangue’. 9 Assim se cumpriu o que tinha dito o profeta Jeremias: ‘Eles pegaram as trinta moedas de prata – preço do Precioso, preço com que os filhos de Israel o avaliaram – 10 e as deram em troca do Campo do Oleiro, conforme o Senhor me ordenou!’ 11 Jesus foi posto diante do governador, e este o interrogou: ‘Tu és o rei dos judeus?’ Jesus declarou: ‘É como dizes’, 12 e nada respondeu, quando foi acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos. 13 Então Pilatos perguntou: ‘Não estás ouvindo de quanta coisa eles te acusam?’ 14 Mas Jesus não respondeu uma só palavra, e o governador ficou muito impressionado. 15 Na festa da Páscoa, o governador costumava soltar o prisioneiro que a multidão quisesse. 16 Naquela ocasião, tinham um prisioneiro famoso, chamado Barrabás. 17 Então Pilatos perguntou à multidão reunida: ‘Quem vós quereis que eu solte: Barrabás, ou Jesus, a quem chamam de Cristo?’ 18 Pilatos bem sabia que eles haviam entregado Jesus por inveja. 19 Enquanto Pilatos estava sentado no tribunal, sua mulher mandou dizer a ele: ‘Não te envolvas com esse justo! porque esta noite, em sonho, sofri muito por causa dele.’ 20 Porém, os sumos sacerdotes e os anciãos convenceram as multidões para que pedissem Barrabás e que fizessem Jesus morrer. 21 O governador tornou a perguntar: ‘Qual dos dois quereis que eu solte?’ Eles gritaram: ‘Barrabás.’ 22 Pilatos perguntou: ‘Que farei com Jesus, que chamam de Cristo?’ Todos gritaram: ‘Seja crucificado!’ 23 Pilatos falou: ‘Mas, que mal ele fez?’ Eles, porém, gritaram com mais força: ‘Seja crucificado!’ 24 Pilatos viu que nada conseguia e que poderia haver uma revolta. Então mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão, e disse: ‘Eu não sou responsável pelo sangue deste homem. Este é um problema vosso!’ 25 O povo todo respondeu: ‘Que o sangue dele caia sobre nós e sobre os nossos filhos’. 26 Então Pilatos soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus, e entregou-o para ser crucificado. 27 Em seguida, os soldados de Pilatos levaram Jesus ao palácio do governador, e reuniram toda a tropa em volta dele. 28 Tiraram sua roupa e o vestiram com um manto vermelho; 29 depois teceram uma coroa de espinhos, puseram a coroa em sua cabeça, e uma vara em sua mão direita. Então se ajoelharam diante de Jesus e zombaram, dizendo: ‘Salve, rei dos judeus!’ 30 Cuspiram nele e, pegando uma vara, bateram na sua cabeça. 31 Depois de zombar dele, tiraram-lhe o manto vermelho e, de novo, o vestiram com suas próprias roupas. Daí o levaram para crucificar. 32 Quando saíam, encontraram um homem chamado Simão, da cidade de Cirene, e o obrigaram a carregar a cruz de Jesus. 33 E chegaram a um lugar chamado Gólgota, que quer dizer ‘lugar da caveira’. 34 Ali deram vinho misturado com fel para Jesus beber. Ele provou, mas não quis beber. 35 Depois de o crucificarem, fizeram um sorteio, repartindo entre si as suas vestes. 36 E ficaram ali sentados, montando guarda. 37 Acima da cabeça de Jesus puseram o motivo da sua condenação: ‘Este é Jesus, o Rei dos Judeus.’ 38 Com ele também crucificaram dois ladrões, um à direita e outro à esquerda de Jesus. 39 As pessoas que passavam por ali o insultavam, balançando a cabeça e dizendo: 40 ‘Tu que ias destruir o Templo e construí-lo de novo em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz!’ 41 Do mesmo modo, os sumos sacerdotes, junto com os mestres da Lei e os anciãos, também zombaram de Jesus: 42 ‘A outros salvou… a si mesmo não pode salvar! É Rei de Israel… Desça agora da cruz! e acreditaremos nele. 43 Confiou em Deus; que o livre agora, se é que Deus o ama! Já que ele disse: Eu sou o Filho de Deus.’ 44 Do mesmo modo, também os dois ladrões que foram crucificados com Jesus, o insultavam. 45 Desde o meio-dia até às três horas da tarde, houve escuridão sobre toda a terra. 46 Pelas três horas da tarde, Jesus deu um forte grito: ‘Eli, Eli, lamá sabactâni?’, que quer dizer: ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?’ 47 Alguns dos que ali estavam, ouvindo-o, disseram: ‘Ele está chamando Elias!’ 48 E logo um deles, correndo, pegou uma esponja, ensopou-a em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara, e lhe deu para beber. 49 Outros, porém, disseram: ‘Deixa, vamos ver se Elias vem salvá-lo!’ 50 Então Jesus deu outra vez um forte grito e entregou o espírito. 51 E eis que a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes, a terra tremeu e as pedras se partiram. 52 Os túmulos se abriram e muito corpos dos santos falecidos ressuscitaram! 53 Saindo dos túmulos, depois da ressurreição de Jesus, apareceram na Cidade Santa e foram vistos por muitas pessoas. 54 O oficial e os soldados que estavam com ele guardando Jesus, ao notarem o terremoto e tudo que havia acontecido, ficaram com muito medo e disseram: ‘Ele era mesmo Filho de Deus!’ 55 Grande número de mulheres estava alí, olhando de longe. Elas haviam acompanhado Jesus desde a Galileia, prestando-lhe serviços. 56 Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. 57 Ao entardecer, veio um homem rico de Arimatéia, chamado José, que também se tornara discípulo de Jesus. 58 Ele foi procurar Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que lhe entregassem o corpo. 59 José, tomando o corpo, envolveu-o num lençol limpo, 60 e o colocou em um túmulo novo, que havia mandado escavar na rocha. Em seguida, rolou uma grande pedra para fechar a entrada do túmulo, e retirou-se. 61 Maria Madalena e a outra Maria estavam ali sentadas, diante do sepulcro. 62 No dia seguinte, como era o dia depois da preparação para o sábado, os sumos sacerdotes e os fariseus foram ter com Pilatos, 63 e disseram: ‘Senhor, nós nos lembramos de que quando este impostor ainda estava vivo, disse: ‘Depois de três dias eu ressuscitarei!’ 64 Portanto, manda guardar o sepulcro até ao terceiro dia, para não acontecer que os discípulos venham roubar o corpo e digam ao povo: ‘Ele ressuscitou dos mortos!’ pois essa última impostura seria pior do que a primeira.’ 65 Pilatos respondeu: ‘Tendes uma guarda. Ide e guardai o sepulcro como melhor vos parecer.’ 66 Então eles foram reforçar a segurança do sepulcro: lacraram a pedra e montaram guarda.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Santo Isidoro de Sevilha
04 de Abril
Santo Isidoro de Sevilha
Isidoro, o mais novo de quatro irmãos, nasceu em 560, em Sevilha, capital da Andaluzia, numa família hispano-romana muito cristã. Seu pai, Severiano, era prefeito de Cartagena e comandava sua cidade dentro dos mais disciplinados preceitos católicos. A mãe, Teodora, educou todos os filhos igualmente nas regras do cristianismo. Como fruto, colheu a alegria de ter quatro deles: Isidoro, Fulgêncio, Leandro e Florentina, elevados à veneração dos altares da Igreja.
Isidoro começou a estudar a religião desde muito pequeno, tendo na figura do irmão mais velho, Leandro, o pai que falecera cedo. Diz a tradição que logo que ingressou na escola o menino tinha muitas dificuldades de aprendizagem, chegando a preocupar a família e os professores, mas rapidamente superou tudo com a ajuda da Providência Divina. Formou-se em Sevilha, onde, além do latim, ainda aprendeu grego e hebraico, e ordenou-se sacerdote.
Tudo isso contribuiu muito para que trabalhasse na conversão dos visigodos arianos, a começar pelo próprio rei. Isidoro também foi o responsável pela conversão dos judeus espanhóis. Tornou-se arcebispo e sucedeu a seu irmão Leandro, em Sevilha, durante quase quatro décadas. Logo no início do seu bispado, Isidoro organizou núcleos escolares nas casas religiosas, que são considerados os embriões dos atuais seminários. Sua influência cultural foi muito grande, era possuidor de uma das maiores e mais bem abastecidas bibliotecas e seu exemplo levou muitas pessoas a dedicarem seus tempos livres ao estudo e às boas leituras.
Depois, retirou-se para um convento, onde poderia praticar suas obrigações religiosas e também se dedicar intensamente aos estudos. Por seus profundos conhecimentos, presidiu o II Concílio de Sevilha, em 619, e o IV Concílio de Toledo, em 633, do qual saíram leis muito importantes para a Igreja, de modo que a religiosidade se enraizou no país. Por isso foi chamado de 'Pai dos Concílios' e 'mestre da Igreja' da Idade Média.
Isidoro era tão dedicado à caridade que sua casa vivia cheia de mendigos e necessitados, isso todos os dias. No dia 4 de abril de 636, sentindo que a morte estava se aproximando, dividiu seus bens com os pobres, publicamente pediu perdão para os seus pecados, recebeu pela última vez a Eucaristia e, orando aos pés do altar, ali morreu.
Ele nos deixou uma obra escrita sobre cultura, filosofia e teologia considerada a mais valorosa do século VII. Nada menos que uma enciclopédia, com vinte e um volumes, chamada Etimologias, considerada o primeiro dicionário escrito, um livro com a biografia dos principais homens e mulheres da Bíblia, regras para mosteiros e conventos, além de muitos comentários acerca de cada um dos livros da Bíblia, estudo que mais lhe agradava.
Texto: Paulinas Internet
A Prisão de Jesus
TEMPO DA QUARESMA. QUINTA SEMANA. SÁBADO
– A traição de Judas. Perseverança no caminho que Deus estabeleceu para cada um. A fidelidade diária nas coisas pequenas.
– O pecado na vida do cristão. Retornar ao Senhor mediante a contrição e com esperança.
– A fuga dos discípulos. Necessidade da oração.
I. TERMINADA A SUA ORAÇÃO no Horto de Getsêmani, o Senhor levantou-se e despertou uma vez mais os discípulos, que dormiam de cansaço e de tristeza. Levantai-vos, vamos, diz-lhes, eis que chega aquele que vai entregar-me. Jesus ainda falava quando chegou Judas, um dos doze, e com ele uma multidão de gente armada de espadas e varapaus 1.
Consuma-se a traição com um sinal de amizade: Aproximou-se de Jesus e disse-lhe: Salve, Mestre. E beijou-o 2. Custa a crer que um homem que privara tanto com Cristo pudesse ser capaz de entregá-lo. Que foi que aconteceu na alma de Judas? Presenciara muitos milagres, conhecera de perto a bondade do coração do Senhor para com todos, sentira-se atraído pela sua palavra e, sobretudo, experimentara a predileção de Jesus, chegando a ser um dos doze mais íntimos. Fora escolhido e chamado pelo próprio Cristo para ser Apóstolo. Quando, depois da Ascensão, for preciso preencher a sua vaga, Pedro recordará que ele era um dos nossos e teve parte no nosso ministério 3. Também fora enviado a pregar e vira o fruto copioso do seu apostolado; talvez tivesse feito milagres como os outros Apóstolos. E teria mantido diálogos íntimos e pessoais com o Mestre, como os outros. Que aconteceu na sua alma para que entregasse o Senhor por trinta moedas de prata?
A traição desta noite deve ter tido por trás uma longa história. Judas devia encontrar-se longe de Cristo já desde muito tempo antes, embora continuasse na sua companhia. Nada se passaria exteriormente, mas os seus pensamentos deviam andar longe. A fenda aberta na sua fé e na sua vocação, a ruptura com o Mestre, produziu-se provavelmente pouco a pouco, por uma cadeia de transigências em coisas cada vez mais importantes. Em certo momento, reclama porque lhe parecem excessivas as provas de afeto que os outros têm para com o Senhor, e ainda por cima disfarça o seu protesto invocando o amor aos pobres. Mas São João diz qual foi a verdadeira razão: era ladrão, e, como tinha a bolsa, furtava o que nela lançavam 4.
Permitiu que o seu amor por Cristo se fosse esfriando e então ficou num mero seguimento externo. A sua vida de entrega amorosa a Deus converteu-se numa farsa; mais de uma vez deve ter considerado que teria sido muito melhor se não tivesse seguido o Senhor.
Agora já não se lembra dos milagres, das curas, dos seus momentos felizes ao lado do Mestre, da sua amizade com os Apóstolos. Agora é um homem desorientado, descentrado, capaz de cometer deliberadamente a loucura a que acaba de entregar-se. O ato que agora se consuma foi precedido por infidelidades e faltas de lealdade cada vez maiores. Este é o resultado último de um longo processo interior.
Por contraste, a perseverança é a fidelidade diária nas pequenas coisas, apoiada na humildade de recomeçar quando por fragilidade tenha havido algum extravio. “Uma casa não desaba por um movimento momentâneo. Na maioria dos casos, esse desastre é conseqüência de um antigo defeito de construção. Mas, por vezes, o que motiva a penetração da água é o prolongado desleixo dos moradores: a princípio, a água infiltra-se gota a gota e vai insensivelmente roendo o madeirame e apodrecendo a armação; com o decorrer do tempo, o pequeno orifício vai ganhando proporções cada vez maiores, ocasionando fendas e desmoronamentos consideráveis; por fim, a chuva penetra na casa como um rio caudaloso” 5. Perseverar é responder positivamente às pequenas e constantes chamadas que o Senhor faz ao longo de uma vida, ainda que não faltem obstáculos e dificuldades e, às vezes, erros isolados, covardias e derrotas.
Enquanto contemplamos estas cenas da Paixão, examinemos como tem sido nos seus pequenos detalhes a nossa fidelidade à vocação de cristãos. Insinua-se em algum aspecto como que uma dupla vida? Sou fiel aos deveres do meu estado? Cuido de manter um relacionamento sincero com o Senhor? Evito o aburguesamento e o apego aos bens materiais – às trinta moedas de prata?
II. “O SENHOR NÃO PERDEU a ocasião de fazer o bem a quem lhe fazia mal. Depois de ter beijado sinceramente Judas, admoestou-o, não com a dureza que merecia, mas com a suavidade com que se trata um doente. Chamou-o pelo nome, o que é um sinal de amizade... Judas, com um beijo entregas o Filho do homem? (Lc 22, 48). Com manifestações de paz fazes-me a guerra? E, para levá-lo a reconhecer a sua culpa, fez-lhe ainda outra pergunta cheia de amor: Amigo, com que propósito vieste? (Mt 26, 50). Amigo, é maior a injúria que me fazes porque foste amigo, e por isso dói mais o mal que me fazes. Se o ultraje viesse de um inimigo, eu o teria suportado..., mas eras tu, meu companheiro, meu amigo íntimo, a quem me ligava amável companhia... (Sl 54, 13). Tu, que foste amigo e devias continuar a sê-lo! Por mim, podes sê-lo novamente. Eu estou disposto a sê-lo de ti. Amigo, ainda que não me queiras, Eu te quero. Amigo, por que fizeste isto, com que propósito vieste?” 6
A traição consuma-se no cristão pelo pecado mortal. Qualquer pecado, mesmo venial, está íntima e misteriosamente relacionado com a Paixão do Senhor. A nossa vida ou é uma afirmação ou é uma negação de Cristo. Mas Ele está disposto a readmitir-nos sempre na sua amizade, mesmo depois das maiores infâmias que possamos cometer. Judas recusou a mão que o Senhor lhe estendia. A sua vida, sem Jesus, ficou desconjuntada e sem sentido.
Depois de entregá-lo, Judas deve ter seguido com profundo o desenrolar do processo contra Jesus. Em que acabaria tudo aquilo? Não demoraria a saber que os príncipes dos sacerdotes tinham decidido a morte do Senhor. Talvez não imaginasse que o desfecho pudesse ser tão grave, talvez tivesse visto o Mestre maltratado... O que sabemos com certeza é que vendo-o sentenciado, tomou-se de remorsos e foi devolver as trinta moedas de prata. Arrependeu-se da sua loucura, mas faltou-lhe a virtude da esperança – de que poderia conseguir o perdão – e a humildade para voltar a Cristo. Poderia ter sido um dos doze fundamentos da Igreja, apesar da sua enorme culpa, se tivesse pedido perdão a Deus.
O Senhor espera-nos, apesar dos nossos pecados e falhas, na oração confiante e na Confissão. “Aquele que antes da culpa nos proibiu de pecar, uma vez que a cometemos, não cessa de nos esperar para conceder-nos o perdão. Vede que nos chama precisamente Aquele que nós desprezamos. Afastamo-nos dEle, mas Ele não se afasta de nós” 7.
Por muito grandes que sejam os nossos pecados, o Senhor espera-nos sempre para nos perdoar, e conta com a fraqueza humana, com os defeitos e os erros. Está sempre disposto a chamar-nos amigos, a dar-nos as graças necessárias para continuarmos em frente, se há sinceridade de vida e desejos de lutar. Ante o aparente fracasso de muitas das nossas tentativas, devemos lembrar-nos de que Deus não nos pede tanto o êxito, mas a humildade de recomeçar, sem nos deixarmos levar pelo desalento e pelo pessimismo, pondo em prática a virtude teologal da esperança.
III. EMOCIONA CONTEMPLAR nesta cena como Jesus está preocupado com os discípulos, quando era Ele quem corria perigo: Se é pois a mim que buscais, diz aos que acompanhavam Judas, deixai ir estes 8. O Senhor cuida dos seus.
Prenderam-no então e conduziram-no à casa do príncipe dos sacerdotes 9. São João diz que o ataram 10. E fizeram-no certamente sem a menor consideração, com violência. A chusma vai empurrando-o entre gritos e insultos. Os discípulos, assustados e desnorteados, esquecem-se das suas promessas de fidelidade naquela Ceia memorável, e todos o abandonaram e fugiram 11.
Jesus fica só. Os discípulos foram desaparecendo um após outro. “O Senhor foi flagelado, e ninguém o ajudou; foi cuspido, e ninguém o amparou; foi coroado de espinhos, e ninguém o protegeu; foi crucificado, e ninguém o desprendeu” 12. Encontra-se só diante de todos os pecados e baixezas de todos os tempos. Ali estavam também os nossos.
Pedro seguia o Senhor de longe 13. E, como ele mesmo deve ter compreendido logo depois das suas negações, não se pode seguir Jesus de longe. Também nós o sabemos. Ou se segue o Senhor de perto ou se acaba por negá-lo. “É suficiente mudar um advérbio na pequena frase do Evangelho para descobrir a origem das nossas deserções: quedas graves ou faltas ligeiras, relaxamentos passageiros ou longos períodos de tibieza. Sequebatur eum a longe: nós seguimo-lo de longe [...]. A humanidade segue o Senhor com uma lentidão exasperante, porque há muitos cristãos que apenas o seguem de longe, de muito longe” 14.
Mas agora asseguramos-lhe que queremos segui-lo de perto; queremos permanecer com Ele, não deixá-lo sozinho, mesmo nos momentos e nos ambientes em que não seja “popular” declarar-se seu discípulo. Queremos segui-lo de perto no meio do trabalho e do estudo, quando caminhamos pela rua e quando estamos no templo, na família, no meio de uma sã diversão. Mas sabemos que por nós mesmos nada podemos; com a nossa oração diária, sim.
Talvez algum dos discípulos tivesse ido procurar a Santíssima Virgem para lhe contar que tinham prendido o seu Filho. E Ela, apesar da sua imensa dor, transmitir-lhe-ia paz naquelas horas amargas. Também nós encontraremos refúgio nAquela que é Refugium peccatorum, se, apesar dos nossos bons desejos, nos tiver faltado coragem para defender o Senhor quando Ele contava conosco. Em Maria encontraremos as forças necessárias para permanecer ao lado do Senhor, com ânsias de desagravo e corredenção nos momentos difíceis.
(1) Mt 26, 46-47; (2) Mt 26, 49; (3) At 1, 17; (4) Jo 12, 6; (5) Cassiano, Colações, 6; (6) L. de la Palma, La Pasión del Señor, pág. 59-60; (7) São Gregório Magno, Homilia 34 sobre os Evangelhos; (8) Jo 18, 8; (9) Lc 22, 54; (10) Jo 18, 12; (11) Mc 14, 50; (12) Santo Agostinho, Comentário ao Salmo 21, 2, 8; (13) Lc 22, 54; (14) G. Chevrot, Simão Pedro, Prumo, Lisboa, 1965, 4ª ed., pág. 210-11.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
A Oração em Getsêmani
TEMPO DA QUARESMA. QUINTA SEMANA. SEXTA-FEIRA
– Jesus em Getsêmani. Cumprimento da Vontade do Pai.
– Necessidade da oração para seguir de perto o Senhor.
– Primeiro mistério doloroso do Santo Rosário. A contemplação desta cena ajudar-nos-á a ser fortes no cumprimento da vontade de Deus.
I. DEPOIS DA ÚLTIMA CEIA, Jesus e os Apóstolos recitaram os salmos de ação de graças, como era costume. A seguir, a pequena comitiva dirigiu-se a um horto vizinho, chamado das Oliveiras. Jesus tinha prevenido Pedro e os demais Apóstolos de que, nessa noite, todos – de um modo ou de outro – o negariam deixando-o só.
Foram em seguida ao lugar chamado Getsêmani, e Jesus disse aos seus discípulos: Sentai-vos aqui enquanto vou orar. Levou consigo Pedro, Tiago e João; e começou a sentir pavor e a angustiar-se. Disse-lhes: A minha alma está triste até à morte; ficai aqui e vigiai 1. Depois afastou-se deles à distância de um tiro de pedra 2.
Jesus sente uma enorme necessidade de orar. Detém-se junto de uma pedra e cai abatido: Prostrou-se por terra, escreve São Marcos 3. São Lucas diz: Ajoelhou-se 4, e São Mateus pormenoriza: prostrou-se com a face por terra 5, embora normalmente os judeus rezassem de pé.
Jesus dirige-se ao Pai com uma oração cheia de confiança e ternura, na qual se entrega totalmente a Ele: Meu Pai, diz-lhe, se é possível, afasta de mim este cálice. Não se faça, porém, como eu quero, mas como tu queres. Poucos minutos antes, tinha comunicado aos seus discípulos que se sentia possuído de uma tristeza capaz de lhe causar a morte. Assim sofre Jesus: Ele, que é a própria inocência, carrega sobre si o fardo de todos os pecados dos homens: dos já cometidos, dos que se estavam cometendo naquele momento e dos que se cometeriam até o fim dos tempos.
O Senhor não só se tornou fiador das culpas alheias, mas fez-se uma só coisa conosco, como acontece com a cabeça e o corpo: “Ele quis que as nossas culpas se chamassem suas; por isso não pagou somente com o seu sangue, mas com a vergonha desses pecados” 6. Todas estas causas de sofrimento eram captadas em toda a sua intensidade pela alma de Cristo.
Contemplamos em silêncio como Jesus sofre: Entrando em agonia, orava mais intensamente 7, e como chega a derramar um suor de sangue. “Jesus, só e triste, sofria e empapava a terra com o seu sangue. De joelhos sobre a terra dura, persevera em oração... Chora por ti... e por mim: esmaga-O o peso dos pecados dos homens” 8. Mas a sua confiança no Pai não desfalece, e persevera na oração. Quando parece que o corpo não pode resistir mais, vem um anjo confortá-lo. A natureza humana do Senhor mostra-se nesta cena em toda a sua capacidade de sofrimento.
Na nossa vida, pode haver momentos de luta mais intensa, talvez de escuridão e de dor profunda, em que nos custe aceitar a vontade de Deus e sejamos assaltados pela tentação do desalento. A imagem de Cristo no Horto das Oliveiras há de mostrar-nos então o que devemos fazer: abraçar-nos à vontade de Deus, sem lhe estabelecer limites nem condições de tipo algum, e identificar-nos com o querer de Deus por meio de uma oração perseverante.
“Jesus ora no horto: Pater mi, meu Pai (Mt 26, 39), Abba, Pater, Abba, Pai! (Mc 14, 36). Deus é meu Pai, ainda que me envie sofrimento. Ama-me com ternura, mesmo que me fira. Jesus sofre, para cumprir a Vontade do Pai... E eu, que quero também cumprir a Santíssima Vontade de Deus, seguindo os passos do Mestre, poderei queixar-me se encontro por companheiro de caminho o sofrimento?” 9
II. JESUS CONTEMPLA-NOS nessa noite num simples olhar. Vê as almas e os corações à luz da sua sabedoria divina. Desfila diante dos seus olhos o espetáculo de todos os pecados dos homens, seus irmãos. Vê a deplorável oposição de tantos que desprezam a reparação que oferece por eles, a inutilidade em tantos casos do seu sacrifício generoso. Sente uma grande solidão e dor moral pela rebeldia e falta de correspondência ao Amor divino.
Por três vezes procura a companhia na oração daqueles três discípulos. Velai comigo, ficai a meu lado, não me deixeis só, tinha-lhes pedido. E, voltando, achou-os de novo dormindo, pois tinham os olhos carregados e não sabiam o que responder-lhe 10. No seu terrível desamparo, Jesus procura talvez um pouco de companhia, de calor humano. Mas os amigos abandonaram o Amigo. Era uma noite para permanecerem velando e orando; e dormem. Ainda não amam bastante, e são vencidos pela debilidade e pela tristeza, deixando Jesus sozinho. O Senhor não encontra apoio neles; tinham sido escolhidos para isso e falharam.
Temos de rezar sempre, mas há momentos em que essa oração deve intensificar-se. Abandoná-la equivaleria a deixar Cristo abandonado e ficar à mercê do inimigo. Por que dormis?, diz-lhes Jesus, e repete-o a cada um de nós. Levantai-vos e orai, para não cairdes em tentação 11. Por isso dizemos ao Senhor: “Se vês que durmo, se descobres que a dor me assusta, se notas que fico paralisado ao ver de perto a Cruz, não me abandones! Diz-me, como a Pedro, como a Tiago, como a João, que necessitas da minha correspondência, do meu amor. Diz-me que, para seguir-te, para não tornar a abandonar-te às mãos dos que tramam a tua morte, tenho que vencer o sono, as minhas paixões, o comodismo” 12.
A nossa meditação diária, se for verdadeira oração, manter-nos-á vigilantes diante do inimigo que não dorme. E dar-nos-á a coragem de que necessitamos para enfrentar e vencer as tentações e dificuldades. Quem a desleixa cai nas mãos do inimigo, perde a alegria e vê-se sem forças para acompanhar Jesus: “Sem oração, como é difícil acompanhá-Lo!” 13; sabemo-lo por experiência. Mas, se nos fizermos fortes pelo nosso relacionamento diário com Ele, poderemos dizer-lhe sem hesitar: Ainda que seja preciso morrer contigo, não te negarei 14. Pedro não pôde cumprir a sua promessa naquela noite, entre outros motivos porque não perseverou na oração que o Senhor lhe pedia.
III. A CONTEMPLAÇÃO desta cena da Paixão pode ajudar-nos muito a ser fortes para nunca omitirmos a nossa oração diária e para cumprirmos a Vontade de Deus nas coisas que nos custam. Senhor, não se faça como eu quero, mas como tu queres. “Jesus, o que Tu «quiseres»..., eu o amo” 15, dizemos-lhe hoje com uma sinceridade total.
Os santos tiraram muito proveito para as suas almas desta passagem da vida do Senhor. São Tomas More comenta que a oração de Jesus no Horto de Getsêmani fortaleceu muitos cristãos diante de grandes dificuldades e tribulações. Ele também se fortaleceu com a contemplação dessas cenas, enquanto esperava o momento de ser decapitado pela sua fidelidade à fé. Escrevia na prisão: “Cristo sabia que muitas pessoas de constituição débil se encheriam de terror ante a ameaça de serem torturadas, e quis dar-lhes ânimo com o exemplo da sua dor, da sua própria tristeza, do seu abatimento e medo inigualáveis [...].
“A quem estiver nessa situação, é como se Cristo se servisse da sua própria agonia para lhe falar com voz vivíssima: Tem coragem, tu que es débil e fraco, e não desesperes. Estás atemorizado e triste, abatido pelo cansaço e pelo temor do tormento. Tem confiança. Eu venci o mundo, e apesar disso sofri muito mais sob o medo, e estava cada vez mais atemorizado à medida que o sofrimento se avizinhava [...].
“Olha como caminho à tua frente nesta via cheia de dores. Agarra-te à orla das minhas vestes e sentirás fluir delas um poder que não permitirá que o sangue do teu coração se derrame em vãos temores e angústias; o teu espírito ficará mais alegre, sobretudo quando te lembrares de que segues os meus passos muito de perto – sou fiel e não permitirei que sejas tentado além das tuas forças, antes te darei, juntamente com a prova, a graça necessária para suportá-la –, e alegra o teu ânimo quando te lembrares de que esta tribulação leve e momentânea se converterá num peso de glória imensa” 16. Estas palavras foram escritas por alguém que sabia que seria executado poucos dias depois.
Nós podemos fazer hoje o propósito de contemplar muitas vezes, talvez todos os dias, este momento da vida do Senhor, no primeiro mistério doloroso do Santo Rosário. De modo particular, pode ser tema da nossa oração sempre que nos custe um pouco mais saber descobrir a vontade de Deus por trás de acontecimentos que talvez não entendamos. Podemos então rezar com freqüência estas palavras como jaculatória: “Volo quidquid vis, volo quia vis... Senhor, quero o que queres, quero porque o queres, quero como o queres, quero enquanto o quiseres” 17.
(1) Mc 14, 32-34; (2) Lc 22, 41; (3) Mc 14, 35; (4) Lc 22, 41; (5) Mt 26, 39; (6) L. de la Palma, La Pasión del Señor, 6ª ed., Palabra, Madrid, 1971, pág. 48; (7) Lc 22, 43; (8) São Josemaría Escrivá, Santo Rosário, Iº mist. doloroso; (9) Josemaría Escrivá, Via Sacra, Iª est., n. 1; (10) Mc 14, 40; (11) Lc 22, 46; (12) M. Montenegro, Vía Crucis, pág. 22; (13) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 89; (14) Mc 14, 31; (15) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 773; (16) São Tomás More, A agonia de Cristo; (17) Missal Romano, Ação de graças depois da Missa, oração universal de Clemente XI.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Ricardo
03 de Abril
São Ricardo
O Rei da Inglaterra Egberto l, que governou por 11 anos o país, morreu no ano de 675, deixando vago o Cargo , pois seu filho Eadric l ainda era uma criança. Então, Ricardo, que era seu tio, assumiu a coroa e governou até que seu sobrinho atingisse a idade certa. No ano de 685, Ricardo l passa o trono da Inglaterra para o sobrinho e legítimo herdeiro, Eadric l. Pouco depois, Ricardo ficou viúvo. Por isso, ele e seus três filhos foram morar no mosteiro de Waltham, seguindo todas as regras de São Bento.
São Ricardo foi Rei da Inglaterra. Ele foi considerado por seus contemporâneos como um dos melhores conselheiros, pois tinha grande sabedoria. Sempre resolvia as contendas com dialogo e paz. Não ficou muito tempo como Rei, porque queria oferecer seu tempo e seu dinheiro para Deus. Teve 3 filhos que o seguiram e também se tornaram santos: São Vinebaldo, São Vilibaldo e Santa Valberga.
Após alguns anos morando no mosteiro, Ricardo e os filhos se tornaram sacerdotes. Querendo aprofundarem-se na vida espiritual, planejaram fazer uma viagem. Iriam primeiro para Roma e, depois de visitarem as relíquias de São Pedro e São Paulo, iriam para Jerusalém cumprir o resto de sua peregrinação santa.
Assim, saíram da Inglaterra entrando pela França e, após um longo tempo de viagem a pé, São Ricardo ficou gravemente doente. Por isso, pararam na cidade de Luca, na Toscana, para que fosse atendido e medicado. A família planejava seguir viagem, mas por causa da gravidade da enfermidade, São Ricardo não suportou e morreu. Era o ano de 722.
O povo começou a chamá-lo de Rei Santo, pois quando foi enterrado na Igreja de São Frediano, muitos milagres começaram a acontecer favorecendo as pessoas que rezavam em seu tumulo. Por isso, começaram a vir romarias de todos os lugares da Europa para rezarem no túmulo de São Ricardo.
Os filhos de São Ricardo passaram, então, a divulgar os milagres que aconteciam por intercessão do pai. Vilibaldo tornou-se Bispo de Eichstat, Vunibaldo tornou-se Abade de Heidenheim. A filha de São Ricardo, Valberga, tornou-se Abadessa na Inglaterra. Por causa do exemplo do pai, os filhos se tornaram Santos. Por isso, São Ricardo é o Padroeiro dos pais de família.
Fonte: https://cruzterrasanta.com.br
03 de Abril 2020
A SANTA MISSA

5ª Semana da Quaresma – Sexta-feira
Cor: Roxa
1ª Leitura: Jr 20,10-13
Ele salvou das mãos dos malvados a vida do pobre.
Leitura do Livro do Profeta Jeremias
Jeremias disse: 10 Eu ouvi as injúrias de tantos homens e os vi espalhando o medo em redor: ‘Denunciai-o, denunciemo-lo.’ Todos os amigos observavam minhas falhas: ‘Talvez ele cometa um engano e nós poderemos apanhá-lo e desforrar-nos dele.’ 11 Mas o Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos. Por não terem tido êxito, eles se cobrirão de vergonha. Eterna infâmia, que nunca se apaga! 12 O Senhor dos exércitos, que provas o homem justo e vês os sentimentos do coração, rogo-te me faças ver tua vingança sobre eles; pois eu te declarei a minha causa. 13 Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 17, 2-3a. 3bc-4. 5-6. 7 (R. Cf. 7)
R. Ao Senhor eu invoquei na minha angústia
e ele escutou a minha voz.
2 Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força, *
3a minha rocha, meu refúgio e Salvador! R.
3b Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga, +
3c minha força e poderosa salvação, *
sois meu escudo e proteção: em vós espero!
4 Invocarei o meu Senhor: a ele a glória! *
e dos meus perseguidores serei salvo! R.
5 Ondas da morte me envolveram totalmente, *
e as torrentes da maldade me aterraram;
6 os laços do abismo me amarraram *
e a própria morte me prendeu em suas redes. R.
7 Ao Senhor eu invoquei na minha angústia *
e elevei o meu clamor para o meu Deus;
de seu Templo ele escutou a minha voz, *
e chegou a seus ouvidos o meu grito. R.
Evangelho: Jo 10,31-42
Procuravam prender Jesus,
mas ele escapou-lhes das mãos.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo: 31 Os judeus pegaram pedras para apedrejar Jesus. 32 E ele lhes disse: ‘Por ordem do Pai, mostrei-vos muitas obras boas. Por qual delas me quereis apedrejar?’ 33 Os judeus responderam: ‘Não queremos te apedrejar por causa das obras boas, mas por causa de blasfêmia, porque sendo apenas um homem, tu te fazes Deus!’ 34 Jesus disse: ‘Acaso não está escrito na vossa Lei: ‘Eu disse: vós sois deuses’? 35 Ora, ninguém pode anular a Escritura: se a Lei chama deuses as pessoas às quais se dirigiu a palavra de Deus, 36 por que então me acusais de blasfêmia, quando eu digo que sou Filho de Deus, eu a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo? 37 Se não faço as obras do meu Pai, não acrediteis em mim. 38 Mas, se eu as faço, mesmo que não queirais acreditar em mim, acreditai nas minhas obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está em mim e eu no Pai.’ 39 Outra vez procuravam prender Jesus, mas ele escapou das mãos deles. 40 Jesus passou para o outro lado do Jordão, e foi para o lugar onde, antes, João tinha batizado. E permaneceu ali. 41 Muitos foram ter com ele, e diziam: ‘João não realizou nenhum sinal, mas tudo o que ele disse a respeito deste homem, é verdade.’ 42 E muitos, ali, acreditaram nele.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
São Francisco de Paula
02 de Abril
São Francisco de Paula
Tiago era um simples lavrador que extraia do campo o sustento da família. Muito católico, tinha o costume de rezar enquanto trabalhava, fazia seguidos jejuns, penitências e praticava boas obras. Sua esposa chamava-se Viena e, como ele, era boa, virtuosa e o acompanhava nos preceitos religiosos. Demoraram a ter um filho, tanto que pediram a são Francisco de Assis pela intercessão da graça de terem uma criança, cuja vida seria entregue a serviço de Deus, se essa fosse sua vontade. E foi o que aconteceu: no dia 27 de março de 1416, nasceu um menino que recebeu o nome de Francisco, em homenagem ao Pobrezinho de Assis.
Aos onze anos, Francisco foi viver no convento dos franciscanos de Paula, dois anos depois vestiu o hábito, mas teve de retornar para a família, pois estava com uma grave enfermidade nos olhos. Junto com seus pais, pediu para que são Francisco de Assis o ajudasse a ficar curado. Como agradecimento pela graça concedida, a família seguiu em peregrinação para o santuário de Assis, e depois a Roma. Nessa viagem, Francisco recebeu a intuição de tornar-se um eremita. Assim, aos treze anos foi dedicar-se à oração contemplativa e à penitência nas montanhas da região. Viveu por cinco anos alimentando-se de ervas silvestres e água, dormindo no chão, tendo como travesseiro uma pedra. Foi encontrado por um caçador, que teve seu ferimento curado ao toque das mãos de Francisco, que o acolheu ao vê-lo ferido.
Depois disso, começou a receber vários discípulos desejosos de seguir seu exemplo de vida dedicada a Deus. Logo Francisco de Paula, como era chamado, estava à frente de uma grande comunidade religiosa. Fundou, primeiro, um mosteiro e com isso consolidou uma nova ordem religiosa, a que deu o nome de 'Irmãos Mínimos'. As Regras foram elaboradas por ele mesmo. Seu lema era: 'Quaresma perpétua', o que significava a observância do rigor da penitência, do jejum e da oração contemplativa durante o ano todo, seguida da caridade aos mais necessitados e a todos que recorressem a eles.
Milhares de homens decidiram abandonar a vida do mundo e foram para o mosteiro de Francisco de Paula, por isso teve de fundar muitos outros. A fama de seus dons de cura, prodígios e profecia chegou ao Vaticano, e o papa Paulo II resolveu mandar um comissário pessoalmente averiguar se as informações estavam corretas. E elas estavam, constatou-se que Francisco de Paula era portador de todos esses dons. Ele previu a tomada de Constantinopla pelos turcos, muitos anos antes que fosse sequer cogitada, assim como a queda de Otranto e sua reconquista pelos cristãos.
Diz a tradição que os poderosos da época tinham receio de suas palavras proféticas, por isso, sempre que Francisco solicitava ajuda para suas obras de caridade, era prontamente atendido. Quando não o era, ele dizia que não deviam esquecer que Jesus dissera que depois da morte eles seriam inquiridos sobre o tipo de administração que fizeram aqui na terra, e só essa lembrança era o bastante para receber o que havia pedido para os pobres.
Depois, o papa Sixto IV mandou que Francisco de Paula fosse à França, pois o rei, Luís XI, estava muito doente e desejava preparar-se para a morte ao lado do famoso monge. A conversão do rei foi extraordinária. Antes de morrer, restabeleceu a paz com a Inglaterra e com a Espanha e nomeou Francisco de Paula diretor espiritual do seu filho, o futuro Carlos VIII, rei da França.
Francisco de Paula teve a felicidade de ver a Ordem dos Irmãos Mínimos aprovada pela Santa Sé em 1506. Ele morreu aos noventa e um anos de idade, no dia 2 de abril de 1507, na cidade francesa de Plessis-les- Tours, onde havia fundado outro mosteiro. A fama de sua santidade só fez aumentar, tanto que doze anos depois, em 1519, o papa Leão X autorizou o culto de são Francisco de Paula, cuja festa litúrgica ocorre no dia de sua morte.
Texto: Paulinas Internet
Contemplar a Paixão
TEMPO DA QUARESMA. QUINTA SEMANA. QUINTA-FEIRA
– O costume de meditar a Paixão de Nosso Senhor. Amor e devoção ao Crucifixo.
– Como meditar a Paixão.
– Frutos dessa meditação.
I. Ó MEU POVO, que te fiz eu, em que te contristei? Responde-me. Eu te dei de beber a água salvadora que brotou do rochedo; tu me deste de beber fel e vinagre. Ó meu povo, que te fiz eu...? 1
A liturgia destes dias aproxima-nos do mistério fundamental da nossa fé: a Ressurreição do Senhor. Se todo o ano litúrgico se centra na Páscoa, este tempo da Quaresma “exige de nós uma maior devoção, dada a sua proximidade com os sublimes mistérios da misericórdia divina” 2. “Mas não devemos percorrer com excessiva pressa esse caminho; não devemos deixar cair no esquecimento uma coisa muito simples, que talvez nos escape de vez em quando: é que não poderemos participar da Ressurreição do Senhor se não nos unirmos à sua Paixão e à sua Morte (cfr. Rom 8, 17). Para acompanharmos Cristo na sua glória, no fim da Semana Santa, é preciso que penetremos antes no seu holocausto e nos sintamos uma só coisa com Ele, morto no Calvário” 3. Por isso, durante estes dias, acompanhemos Jesus com a nossa oração, na sua via dolorosa e na sua morte na Cruz. E enquanto lhe fazemos companhia, não esqueçamos que nós fomos protagonistas daqueles horrores, porque o Senhor carregou com os nossos pecados 4, com cada um deles. Fomos resgatados do jugo do demônio e da morte eterna por um grande preço 5, o Sangue de Cristo.
O costume de meditar a Paixão tem a sua origem nos próprios começos do cristianismo. Muitos dos fiéis de Jerusalém da “primeira hora” deviam guardar uma lembrança inesquecível dos padecimentos de Jesus, pois tinham estado presentes no Calvário. Jamais esqueceriam a passagem de Cristo pelas ruas da cidade na véspera daquela Páscoa. Os evangelistas dedicaram uma boa parte dos seus escritos à narração detalhada daqueles acontecimentos. “Leiamos constantemente a Paixão do Senhor, recomendava São João Crisóstomo. Que grande lucro, quanto proveito tiraremos! Porque, ao contemplá-Lo sarcasticamente adorado, com gestos e atos, e feito alvo de zombarias, e depois de tudo esbofeteado e submetido aos últimos tormentos, mesmo que sejas mais duro do que uma pedra, ficarás mais mole do que a cera e expulsarás da tua alma toda a soberba” 6. Muitos se converteram meditando atentamente a Paixão do Senhor.
São Tomás de Aquino dizia: “Basta a Paixão de Cristo para servir de guia e modelo para toda a nossa vida” 7. Conta-se que, visitando um dia São Boaventura, o “Doutor Angélico” lhe perguntou de que livros tinha ele tirado a doutrina tão boa que expunha nas suas obras. São Boaventura mostrou-lhe um Crucifixo já enegrecido pelos muitos beijos que lhe tinha dado e disse-lhe: “Este é o livro que me dita tudo o que escrevo; o pouco que sei, aprendi-o aqui” 8. Nele, os santos aprenderam a sofrer e a amar de verdade. Nele devemos nós aprender. “O teu Crucifixo. – Como cristão, deverias trazer sempre contigo o teu Crucifixo. E colocá-lo sobre a tua mesa de trabalho. E beijá-lo antes de te entregares ao descanso e ao acordar. – E quando o pobre corpo se rebelar contra a tua alma, beija-o também” 9.
II. “NA MEDITAÇÃO, a Paixão de Cristo sai do marco frio da história ou da consideração piedosa, para se apresentar diante dos olhos, terrível, opressiva, cruel, sangrante..., cheia de Amor” 10. Contemplar a Paixão de Cristo – na nossa meditação pessoal, ao lermos o Evangelho, na Via Sacra... – faz-nos um bem enorme.
Imaginamo-nos a nós mesmos presentes entre os espectadores que foram testemunhas daqueles momentos. Ocupamos um lugar entre os Apóstolos durante a Última Ceia, quando Nosso Senhor lhes lavou os pés e lhes falou com aquela ternura infinita, no momento supremo da instituição da Sagrada Eucaristia. E somos um daqueles três que adormeceram no Getsêmani, quando o Senhor mais esperava que o acompanhássemos na sua infinita solidão; um dos que presenciaram a sua prisão; um dos que ouviram Pedro jurar que não conhecia Jesus; um dos que ouviram as falsas testemunhas naquele simulacro de julgamento e viram como o sumo-sacerdote rasgava as vestes ao ouvir as palavras de Jesus; um do meio da turba que pedia aos gritos a sua morte e dos que o contemplaram suspenso da Cruz do Calvário. Situamo-nos entre os espectadores e vemos o rosto deformado, mas nobre, do Senhor, a sua infinita paciência...
Com a ajuda da graça, podemos tentar ir mais longe e contemplar a Paixão tal como a viveu o próprio Cristo 11. Parece-nos impossível consegui-lo e sempre será uma visão terrivelmente pobre em comparação com a realidade, com o que de fato sucedeu, mas para nós pode ser uma oração de extraordinária riqueza. São Leão Magno diz que “quem quiser de verdade venerar a Paixão do Senhor deve contemplar de tal maneira Jesus crucificado com os olhos da alma, que chegue a reconhecer a sua própria carne na carne de Jesus” 12.
Que experimentaria a santidade infinita de Jesus no Getsêmani, assumindo todos os pecados do mundo, as infâmias, as deslealdades, os sacrilégios...? Que solidão a sua diante daqueles três discípulos que levara consigo para que lhe fizessem companhia, e que por três vezes encontrou dormindo? Ele também vê, em todos os séculos, esses amigos seus que adormecerão nos seus postos, enquanto os inimigos permanecem em vigília.
III. PARA PODERMOS CONHECER e seguir o Senhor, devemos comover-nos ante a sua dor e desamparo, sentir-nos protagonistas, não apenas espectadores, dos açoites, dos espinhos, dos insultos, dos escarros, dos abandonos, pois foram os nossos pecados que o levaram ao Calvário.
“Quereria sentir o que sentes, Senhor, mas não é possível. A tua sensibilidade – és perfeito homem – é muito mais aguda que a minha. Ao teu lado, verifico uma vez mais que não sei sofrer. Por isso me assusta a tua capacidade de dar tudo sem ficar com nada. Jesus, preciso dizer-te que sou covarde, muito covarde. Mas, ao contemplar-te cravado no lenho, “sofrendo tudo o que se pode sofrer, com os braços estendidos com gesto de sacerdote eterno” (Santo Rosário, Josemaría Escrivá), vou pedir-te uma loucura: quero imitar-te, Senhor. Quero entregar-me de uma vez, de verdade, e estar disposto a chegar até onde tu me queiras levar. Sei que é um pedido que está acima das minhas forças. Mas sei, Jesus, que te amo” 13.
“Aproximemo-nos, em suma, de Jesus morto, dessa Cruz que se recorta sobre o cume do Gólgota. Mas aproximemo-nos com sinceridade, sabendo encontrar esse recolhimento interior que é sinal de maturidade cristã. Desta forma, os acontecimentos divinos e humanos da Paixão tomarão conta da nossa alma, como palavra que Deus nos dirige para desvendar os segredos do nosso coração e revelar-nos o que espera das nossas vidas” 14.
A meditação da Paixão de Cristo trar-nos-á inúmeros frutos. Em primeiro lugar, ajudar-nos-á a ter uma grande aversão por todo o pecado, pois Ele foi trespassado por nossas iniqüidades, por nossos crimes é que foi torturado 15. Jesus Cristo crucificado deve ser o livro pelo qual, a exemplo dos santos, leiamos continuamente para aprender a detestar o pecado e a inflamar-nos no amor de um Deus que nos amou tanto; porque nas chagas de Cristo leremos toda a malícia do pecado e as provas de amor que Ele teve conosco, sofrendo tantas dores precisamente para declarar quanto nos amava 16.
E então sentiremos que “o pecado não se reduz a uma pequena «falta de ortografia»: é crucificar, rasgar a marteladas as mãos e os pés do Filho de Deus, e fazer-Lhe saltar o coração” 17. Um pecado é muito mais do que “um erro humano”.
Os padecimentos de Cristo animam-nos a fugir de tudo o que possa significar aburguesamento, apatia, preguiça. Avivam o nosso amor e afastam a tibieza. Tornam a nossa alma mortificada, ajudam-nos a guardar melhor os sentidos.
Se alguma vez o Senhor permite doenças, dores ou contradições especialmente intensas e graves, ser-nos-á de grande ajuda e alívio considerar as dores de Cristo na sua Paixão. Ele experimentou todos os sofrimentos físicos e morais, pois “padeceu dos gentios e dos judeus, dos homens e das mulheres, como se vê nas criadas que acusaram São Pedro. Padeceu também dos príncipes e dos seus ministros, e da plebe... Padeceu dos parentes e conhecidos, pois sofreu por causa de Judas, que o atraiçoou, e de Pedro, que o negou. Além disso, padeceu tanto quanto o homem pode padecer. Pois Cristo padeceu dos amigos, que o abandonaram; padeceu na fama, pelas blasfêmias que se proferiram contra Ele; padeceu na honra, pelas irrisões e zombarias que lhe infligiram; nos bens, pois foi despojado até das vestes; na alma, pela tristeza, pelo tédio e pelo temor; no corpo, pelas feridas e pelos açoites” 18.
Façamos o propósito de estar mais perto da Virgem nestes dias que precedem a Paixão de seu Filho, e peçamos-lhe que nos ensine a contemplá-lo nesses momentos em que tanto sofreu por nós.
(1) Impropérios, Ofícios da Sexta-feira Santa; (2) São Leão Magno, Sermão 47; (3) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 95; (4) cfr. 1 Pe 2, 24; (5) cfr. 1 Cor 6, 20; (6) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 87, 1; (7) São Tomás, Sobre o Credo, 6; (8) citado por Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações sobre a Paixão, I, 4; (9) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 302; (10) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 993; (11) cfr. R. A. Knox, Ejercicios para seglares, Rialp, Madrid, 1956, pág. 137 e segs.; (12) São Leão Magno, Sermão 15 sobre a Paixão; (13) M. Montenegro, Vía Crucis, XIª est.; (14) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 101; (15) Is 53, 5; (16) Santo Afonso Maria de Ligório, op. cit., I, 4; (17) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 993; (18) São Tomás, Suma Teológica, 3, q. 46, a. 5.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal