Santa Maria de Cléofas

09 de Abril

Santa Maria de Cléofas

Maria de Cléofas, também chamada 'de Cléopas', ou ainda 'Clopas'. É destas três formas que consta dos evangelhos o nome de seu marido, Cléofas Alfeu, irmão do carpinteiro José. Maria de Cléofas era, portanto, cunhada da Virgem Maria e mãe de três apóstolos: Judas Tadeu, Tiago Menor e Simão, também chamados de 'irmãos do Senhor', expressão semítica que indica também os primos, segundo o historiador palestino Hegésipo.

Por sua santidade, ela uniu-se à Mãe de Deus também na dor do Calvário, merecendo ser uma das testemunhas da ressurreição de Jesus (Mc 16,1): 'E passado o sábado, Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo'. O mensageiro divino anunciou às piedosas mulheres: 'Por que procuram o vivo entre os mortos?'

Esse é um fato incontestável: nas Sagradas Escrituras vemos Maria de Cléofas acompanhando Jesus em toda a sua sofrida e milagrosa caminhada de pregação. Estava com Nossa Senhora aos pés da cruz e junto ao grupo das 'piedosas mulheres' que acompanharam seus últimos suspiros. Estava, também, com as poucas mulheres que visitaram o túmulo de Cristo para aplicar-lhe perfumes e unguentos, constatando o desaparecimento do corpo e presenciando, ainda, o anjo anunciar a ressurreição do Senhor.

Assim, Maria de Cléofas tornou-se uma das porta-vozes do cumprimento da profecia. Tem, portanto, o carinho e um lugar singular e especial no coração dos católicos, neste dia que a Igreja lhe reserva para a veneração litúrgica.

Texto: Paulinas Internet


08 de Abril 2020

A SANTA MISSA

SEMANA SANTA – Quarta-feira 
Cor: Roxa

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1ª Leitura: Is 50,4-9a

Não desviei o rosto de bofetões e cusparadas.
(3º canto do Servo do Senhor) 

Leitura do Livro do Profeta Isaías

4 O Senhor Deus deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. 5 O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. 6 Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba: não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. 7 Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado. 8 A meu lado está quem me justifica; alguém me fará objeções? Vejamos. Quem é meu adversário? Aproxime-se. 9a Sim, o Senhor Deus é meu Auxiliador; quem é que me vai condenar?

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 68, 8-10. 21bcd-22. 31. 33-34 (R. 14cb)

R. Respondei-me pelo vosso imenso amor,
neste tempo favorável, Senhor Deus.

8 Por vossa causa é que sofri tantos insultos, *
e o meu rosto se cobriu de confusão;
9 eu me tornei como um estranho a meus irmãos, *
como estrangeiro para os filhos de minha mãe.
10 Pois meu zelo e meu amor por vossa casa *
me devoram como fogo abrasador;
e os insultos de infiéis que vos ultrajam *
recaíram todos eles sobre mim!      R.

21b O insulto me partiu o coração; +
21c Eu esperei que alguém de mim tivesse pena;*
21d procurei quem me aliviasse e não achei!
22 Deram-me fel como se fosse um alimento, *
em minha sede ofereceram-me vinagre!      R.

31 Cantando eu louvarei o vosso nome *
e agradecido exultarei de alegria!
33 Humildes, vede isto e alegrai-vos: +
o vosso coração reviverá, *
se procurardes o Senhor continuamente!
34 Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres, *
e não despreza o clamor de seus cativos.      R. 

Evangelho: Mt 26,14-25  

O Filho do Homem vai morrer,
conforme diz a Escritura a respeito dele.
Contudo, ai daquele que o trair. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo: 14 Um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes 15 e disse: ‘O que me dareis se vos entregar Jesus?’ Combinaram, então, trinta moedas de prata. 16 E daí em diante, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus. 17 No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: ‘Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?’ 18 Jesus respondeu: ‘Ide à cidade, procurai certo homem e dizei-lhe: ‘O Mestre manda dizer: o meu tempo está próximo, vou celebrar a Páscoa em tua casa, junto com meus discípulos’.’ 19 Os discípulos fizeram como Jesus mandou e prepararam a Páscoa. 20 Ao cair da tarde, Jesus pôs-se à mesa com os doze discípulos. 21 Enquanto comiam, Jesus disse: ‘Em verdade eu vos digo, um de vós vai me trair.’ 22 Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a lhe perguntar: ‘Senhor, será que sou eu?’ 23 Jesus respondeu: ‘Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato. 24 O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele. Contudo, ai daquele que trair o Filho do Homem! Seria melhor que nunca tivesse nascido!’ 25 Então Judas, o traidor, perguntou: ‘Mestre, serei eu?’ Jesus lhe respondeu: ‘Tu o dizes.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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A Caminho do Calvário

SEMANA SANTA. QUARTA-FEIRA

– Jesus com a Cruz às costas pelas ruas de Jerusalém. Simão de Cirene.
– Jesus acompanhado por dois ladrões no seu caminho para o Calvário. Modos de carregar a cruz.
– O encontro com sua Mãe Santíssima.

I. DEPOIS DE UMA NOITE de dor, de escárnios e de desprezo, Jesus, debilitado pelo terrível tormento da flagelação, é conduzido para ser crucificado. Libertou-lhes então Barrabás; e a Jesus, depois de tê-lo mandado açoitar, entregou-o às mãos deles para que fosse crucificado 1, diz sobriamente o Evangelho de São Mateus. Jesus é condenado a sofrer uma morte reservada aos criminosos.

Mal iniciada a caminhada, todos percebem que o Senhor está muito fraco para levar a cruz sobre os seus ombros até o Calvário. Um homem, Simão de Cirene, que voltava para casa, é forçado a carregá-la. Onde estão os seus discípulos? Jesus falara-lhes de carregar a cruz 2, e todos eles tinham afirmado solenemente que estavam dispostos a segui-lo até à morte 3. Agora, não encontra um único que o ajude sequer a carregar o lenho da cruz até o lugar da execução. Terá de fazê-lo um estranho, e obrigado à força. Em torno do Senhor não há rostos amigos e ninguém quis comprometer-se. Até os que tinham recebido de suas mãos benefícios e curas querem agora passar despercebidos. Cumpriu-se ao pé da letra o que Isaías profetizara muitos séculos antes: Pisei sozinho o lagar, sem que ninguém dentre a multidão me ajudasse... Olhei, e não houve pessoa alguma que me auxiliasse; espantei-me de que ninguém viesse amparar-me 4. Simão segurou a cruz pela extremidade e colocou-a sobre os seus ombros. A outra, a mais pesada, a do amor não correspondido, a dos pecados de cada homem, essa, Cristo a levou sozinho.

Neste desamparo em que o Senhor se encontrava, segundo nos foi transmitido pela tradição, houve uma exceção: uma mulher – conhecida pelo nome de Verônica – aproximou-se de Jesus com um pano para limpar-lhe o rosto, e o rosto do Senhor ficou impresso no tecido. “O véu da Verônica é o símbolo do comovedor diálogo entre Cristo e a alma reparadora. Verônica correspondeu ao amor de Cristo com a sua reparação; uma reparação admirável, porque veio de uma débil mulher que não temeu as iras dos inimigos de Cristo [...]. Imprime-se na minha alma [...] o rosto de Jesus, como no véu da Verônica?” 5

O Senhor retoma a marcha, um pouco mais aliviado fisicamente. Mas o caminho é sinuoso e o chão irregular. As suas energias diminuem cada vez mais, e não é de estranhar que caia. Cai, e mal consegue levantar-se. Poucos metros adiante, torna a cair. Uma, duas, três vezes. Ao levantar-se, quer dizer-nos quanto nos ama; ao cair, quer manifestar a grande necessidade que sente de que o amemos.

“Não é tarde, nem tudo está perdido... Ainda que assim te pareça. Ainda que o repitam mil vozes agoureiras. Ainda que te assediem olhares trocistas e incrédulos... Chegaste num bom momento para carregar a Cruz: a Redenção está-se fazendo – agora! –, e Jesus necessita de muitos cireneus” 6.

II. EM OUTRO MOMENTO dessa caminhada até o Calvário, Jesus passa por um grupo de mulheres que choram por Ele. Consola-as e faz uma “chamada ao arrependimento, ao verdadeiro arrependimento, ao pesar sincero pelo mal cometido. Jesus diz às filhas de Jerusalém que choram ao vê-lo: Não choreis por mim; chorai antes por vós e pelos vossos filhos (Lc 23, 28). Não podemos ficar na superfície do mal, temos que chegar à sua raiz, às causas, à mais profunda verdade da consciência [...]. Senhor, que eu saiba viver e andar na verdade!” 7

Para tornar a sua morte mais humilhante, fazem parte do cortejo dois ladrões que ladeiam Jesus. Um espectador recém-chegado, que não soubesse de nada, veria três homens a caminho da morte, cada um carregando a sua cruz. Mas apenas um deles é o Salvador do mundo, e uma só a Cruz redentora. Hoje também se pode carregar a cruz de diferentes maneiras.

Há uma cruz que se carrega com raiva, contra a qual o homem se revolta cheio de ódio ou, ao menos, de um profundo mal-estar; é uma cruz sem sentido e sem explicação, inútil, que chega até a afastar de Deus. É a cruz dos que neste mundo só procuram a comodidade e o bem-estar material, dos que não suportam nem a dor nem o fracasso, porque não querem compreender o sentido sobrenatural do sofrimento. É uma cruz que não redime: é a que carrega um dos ladrões.

Vai também a caminho do Calvário uma segunda cruz, esta conduzida com resignação, talvez até com dignidade humana, que é aceita porque não há modo algum de evitá-la. Assim a carrega o outro ladrão, até que pouco a pouco percebe a seu lado a figura soberana de Cristo, que mudará completamente os últimos instantes da sua vida aqui na terra, como também a eternidade, e o converterá no bom ladrão.

Há por fim um terceiro modo de carregá-la: é o de Jesus, que se abraça à Cruz salvadora e nos ensina como devemos carregar a nossa – com amor, corredimindo com Ele todas as almas, reparando pelos pecados próprios. O Senhor deu um sentido profundo à dor. Podendo redimir-nos de muitas maneiras, fê-lo através do sofrimento, porque ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos 8.

As pessoas santas descobriram que, quando já não se vê a cruz em si, mas aos ombros de Jesus que passa e vem ao nosso encontro, a dor, o sofrimento e a contrariedade deixam de ser algo de sinal negativo. Simão de Cirene conheceu Jesus através da Cruz. O Senhor recompensá-lo-á pela ajuda que lhe prestou dando a fé aos seus dois filhos, Alexandre e Rufo 9, que em breve seriam cristãos muitos conhecidos na primitiva comunidade. E nada nos impede de pensar que Simão de Cirene viria também a ser mais tarde um discípulo fiel.

“Tudo começou por um encontro inopinado com a Cruz. Apresentei-me aos que não perguntavam por mim, acharam-me os que não me procuravam (Is 65, 1). Às vezes, a Cruz aparece sem a procurarmos: é Cristo que pergunta por nós. E se por acaso, perante essa Cruz inesperada, e talvez por isso mais escura, o coração manifesta repugnância..., não lhe dês consolos. E, cheio de uma nobre compaixão, quando os pedir, segreda-lhe devagar, como em confidência: «Coração: coração na Cruz, coração na Cruz»” 10.

A meditação de hoje é uma boa oportunidade para nos perguntarmos como encaramos as contrariedades e a dor, se elas nos aproximam de Cristo, se nos ajudam a expiar as nossas culpas, se nos levam a corredimir com Ele.

III. “O SALVADOR CAMINHAVA com o corpo vergado sob o peso da Cruz, os olhos inchados e obnubilados pelas lágrimas e pelo sangue, o andar lento e difícil pela debilidade; seus joelhos tremiam, e Ele quase que se arrastava atrás dos seus dois companheiros de suplício. E os judeus riam, e os verdugos e os soldados o empurravam” 11.

No quarto mistério doloroso do Rosário contemplamos Jesus com a Cruz às costas a caminho do Calvário. “Estamos tristes, vivendo a Paixão de Jesus, Nosso Senhor. – Olha com que amor se abraça à Cruz. – Aprende com Ele. – Jesus leva a Cruz por ti; tu... leva-a por Jesus.

“Mas não leves a Cruz de rastos... Leva-a erguida a prumo, porque a tua Cruz, levada assim, não será uma Cruz qualquer: será... a Santa Cruz [...].

“E, com toda a certeza, tal como Ele, encontrarás Maria no caminho” 12.

Num dos passos da Via Sacra, consideramos o encontro entre Jesus e sua Mãe numa daquelas ruas estreitas. Jesus deteve-se um instante. “Com imenso amor, Maria olha para Jesus, e Jesus olha para sua Mãe; e os olhos de ambos se encontram, e cada coração derrama no outro a sua própria dor. A alma de Maria fica submersa em amargura, na amargura de Jesus Cristo.

Ó vos que passais pelo caminho, olhai e vede se há dor como a minha dor! (Lam 1, 12).

“Mas ninguém percebe, ninguém repara; só Jesus [...].

“Na obscura soledade da Paixão, Nossa Senhora oferece a seu Filho um bálsamo de ternura, de união, de fidelidade; um sim à Vontade divina” 13.

O Senhor continua o seu caminho e Maria acompanha-o a poucos metros de distância, até o Calvário. A profecia de Simeão cumpre-se ao pé da letra.

Que homem não choraria ao ver a Mãe de Cristo em tão atroz suplício?

“Seu Filho ferido... E nós longe, covardes, resistindo à Vontade divina.

“Minha Mãe e Senhora, ensina-me a pronunciar um sim que, como o teu, se identifique com o clamor de Jesus perante seu Pai: Non mea voluntas... (Lc 22, 42): Não se faça a minha vontade, mas a de Deus” 14.

Quando a dor e a aflição nos atingirem, quando se tornarem mais penetrantes, recorramos a Santa Maria, Mater dolorosa, para que nos faça fortes e para que aprendamos a santificá-las com paz e serenidade.

(1) Mt 27, 26; (2) Mt 16, 24; (3) Mt 26, 35; (4) Is 63, 3 e 5; (5) J. Ablewicz, Seréis mis testigos, Vía Crucis, VIª est., Madrid, 1983, págs. 334-335; (6) São Josemaría Escrivá, Via Sacra, Vª est., n. 2; (7) K. Wojtyla, Signo de contradicción, Vía Crucis, VIIIª est., Madrid, 1978, págs. 244-245; (8) cfr. Jo 15, 13; (9) cfr. Mc 15, 21; (10) Josemaría Escrivá, op. cit., Vª est.; (11) L. de la Palma, La Pasión del Señor, pág. 168; (12) São Josemaría Escrivá, Santo Rosário, IVº mist. doloroso; (13) São Josemaría Escrivá, Via Sacra, IVª est.; (14) ib., IVª est., n. 1.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


Santa Júlia Billiart

08 de Abril

Santa Júlia Billiart

Na cidade de Cuvilly, França, em 12 de julho de 1751, nasceu Maria Rosa Júlia Billiart, filha de Francisco e Maria Antonieta, pobres e muito religiosos, que a batizaram no mesmo dia. Júlia fez a primeira comunhão aos sete anos. Desde então, Jesus foi o único alimento para sua vida. Aprendeu apenas a ler e a escrever, porque ajudava a sustentar a família.

Aos treze anos, Júlia sofreu sérios problemas e, subnutrida, ficou, lentamente, paraplégica, por vinte e três anos. Durante esse tempo aprendeu os mistérios da vida mística, do calvário, da glória e da luz. Sempre engajada na catequese da paróquia, preocupava-se com a educação dos pobres. Cultivava amizades na família, com os religiosos, com as carmelitas, com as damas da nobreza que lhe conseguiam os donativos.

Nesta época, decidiu ingressar na vida religiosa, com uma meta estabelecida: fundar uma congregação destinada a educar os pobres e a formar bons educadores. Mesmo não sendo letrada, possuía uma pedagogia nata, aprendida na escola dos vinte e três anos de paralisia, nos contatos com as autoridades civis e eclesiásticas e com os terrores da destruição da Revolução Francesa e de Napoleão Bonaparte. Assim, ainda paralítica, em 1804 fundou a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora.

Júlia foi incapaz de amarrar sua instituição aos limites das exigências das fundações de seu tempo. Sua devoção ao Sagrado Coração de Jesus a curou. Depois de vinte e três anos de paralisia, voltou a caminhar. A Mãe de Deus era sua grande referência e modelo, e a Eucaristia era o centro de sua vida de fé inabalável.

Júlia abriu, em Amiens, a primeira escola gratuita e depois não parou mais. Viajava pela França e pela Bélgica fundando pensionatos e escolas, pois naqueles tempos de miséria a necessidade era muito grande. Não aceitava qualquer donativo que pudesse tirar a independência da congregação. Para ter recursos, criava pensionatos e, ao lado deles, a escola para pobres. Perseguida e injustiçada pelo bispo de Amiens, foi por ele afastada da congregação. Todas as irmãs decidiram seguir com ela para a cidade de Namur, na Bélgica, onde se fixaram definitivamente.

Júlia, incansável, continuou criando pensionatos, fundando escolas, formando crianças e educadores, ficando conhecidas como as 'Irmãs da Nossa Senhora de Namur'. Ali a fundadora consolidou a diretriz pedagógica da congregação: a educação como o caminho da plenitude da vida. Morreu em paz no dia 8 de abril de 1816 na cidade de Namur.

'Por meio do seu batismo, de sua consagração religiosa e por sua vida inteira de fé em Deus, que é dom, Júlia foi colocada na trilha da opção divina pelos pobres.' Foram as palavras do papa Paulo VI para declarar santa, em 1969, Maria Rosa Júlia Billiart, que no dia 8 de abril deve receber as homenagens litúrgicas.

Texto: Paulinas Internet


São João Batista de La Salle

07 de Abril

São João Batista de La Salle

“A graça que lhes concedeu de ensinar as crianças, de anunciar-lhes o Evangelho e de educar seu espírito religioso é um grande dom de Deus”, dizia São João Batista de la Salle, fundador dos Irmãos das Escolas Cristãs (Irmãos Lasallistas) nomeado por Pio XII o Padroeiro dos educadores.

São João Batista de la Salle nasceu em Reims (França) em 1651 em uma família rica. Desde pequeno desejou ser sacerdote. Graduou-se como Professor em Artes e ingressou no Seminário de São Sulpicio em Paris. Aos 19 anos morreram seus pais e assumiu a responsabilidade de educar seus irmãos menores.

Foi ordenado sacerdote aos 27 anos. Com o tempo parecia que ocuparia altos cargos eclesiásticos, mas via que Deus o chamava aos mais pobres. É assim que começa a se reunir com um grupo de professores, dando-lhes formação humana, pedagógica e cristã.

No dia 24 de junho de 1681, João Batista de La Salle e seus professores iniciam vida em comunidade em uma casa alugada, marcando o nascimento dos Irmãos das Escolas Cristãs. Dentro de suas reformas na educação, o santo introduziu o ensino de crianças em grupo, já que até esse momento se instruía a cada um separadamente, iniciou uma escola gratuita em Paris para rapazes pobres e fundou universidades em Reims e Saint-Denis para formar professores.

Em 1686, oito de seus seguidores emitiram seus primeiros votos na companhia que São João Batista fundou e em 15 de agosto consagrou sua comunidade à Virgem Maria.

Costumava a viajar a pé solicitando alojamento e alimento. Sua batina e seu manto eram tão pobres e descoloridos, diziam, que nem um indigente os aceitaria como doação.

Passava muitas horas em oração e insistia aos membros de sua comunidade que aquilo que mais êxito confere no trabalho de um educador é orar, dar bom exemplo e tratar a todos como Cristo recomendou no evangelho: "fazendo a outros todo o bem que desejamos que outros nos façam".

Em 7 de abril de 1719, Sexta-feira Santa, partiu para a Casa do Pai. Suas últimas palavras foram: “Adoro em tudo a vontade de Deus para comigo”. Foi canonizado em 24 de maio de 1900 e em 15 de maio de 1950 foi nomeado “padroeiro celeste, junto a Deus, de todos os educadores", pelo papa Pio XII. No Brasil, os Irmãos das Escolas Cristãs se estabeleceram em 1907, espalhando-se pelos estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Fonte: https://www.acidigital.com


07 de Abril 2020

A SANTA MISSA

SEMANA SANTA – Terça-feira 
Cor: Roxa

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1ª Leitura: Is 49,1-6 

Eu te farei luz das nações,
para que minha salvação chegue até aos confins da terra.
(2º canto do Servo do Senhor) 

Leitura do Livro do Profeta Isaías
1 Nações marinhas, ouvi-me, povos distantes, prestai atenção: o Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu nome; 2 fez de minha palavra uma espada afiada, protegeu-me à sombra de sua mão e fez de mim uma flecha aguçada, escondida em sua aljava, 3 e disse-me: ‘Tu és o meu Servo, Israel, em quem serei glorificado’. 4 E eu disse: ‘Trabalhei em vão, gastei minhas forças sem fruto, inutilmente; entretanto o Senhor me fará justiça e o meu Deus me dará recompensa’. 5 E agora diz-me o Senhor – ele que me preparou desde o nascimento para ser seu Servo – que eu recupere Jacó para ele e faça Israel unir-se a ele; aos olhos do Senhor esta é a minha glória. 6 Disse ele: ‘Não basta seres meu Servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os remanescentes de Israel: eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até aos confins da terra’.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 70, 1-2. 3-4a. 5-6ab. 15.17 (R. 15)

R. Minha boca anunciará vossa justiça.

1 Eu procuro meu refúgio em vós, Senhor:*
que eu não seja envergonhado para sempre!
2 Porque sois justo, defendei-me e libertai-me!*
Escutai a minha voz, vinde salvar-me!      R.

3 Sede uma rocha protetora para mim,*
um abrigo bem seguro que me salve!
Porque sois a minha força e meu amparo,
o meu refúgio, proteção e segurança!
4a Libertai-me, ó meu Deus, das mãos do ímpio.      R.

5 Porque sois, ó Senhor Deus, minha esperança,*
em vós confio desde a minha juventude!
6a Sois meu apoio desde antes que eu nascesse,
6b desde o seio maternal, o meu amparo.      R.

15 Minha boca anunciará todos os dias*
vossa justiça e vossas graças incontáveis.
17 Vós me ensinastes desde a minha juventude,*
e até hoje canto as vossas maravilhas.      R. 

Evangelho: Jo 13,21-33.36-38 

 Um de vós me entregará…
O galo não cantará antes que me tenhas negado três vezes. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo: Estando à mesa com seus discípulos, 21 Jesus ficou profundamente comovido e testemunhou: ‘Em verdade, em verdade vos digo, um de vós me entregará.’ 22 Desconcertados, os discípulos olhavam uns para os outros, pois não sabiam de quem Jesus estava falando. 23 Um deles, a quem Jesus amava, estava recostado ao lado de Jesus. 24 Simão Pedro fez-lhe um sinal para que ele procurasse saber de quem Jesus estava falando. 25 Então, o discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: ‘Senhor, quem é?’26 Jesus respondeu: ‘É aquele a quem eu der o pedaço de pão passado no molho.’ Então Jesus molhou um pedaço de pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. 27 Depois do pedaço de pão, Satanás entrou em Judas. Então Jesus lhe disse: ‘O que tens a fazer, executa-o depressa.’ 28 Nenhum dos presentes compreendeu por que Jesus lhe disse isso. 29 Como Judas guardava a bolsa, alguns pensavam que Jesus lhe queria dizer: ‘Compra o que precisamos para a festa’, ou que desse alguma coisa aos pobres. 30 Depois de receber o pedaço de pão, Judas saiu imediatamente. Era noite. 31 Depois que Judas saiu, disse Jesus: ‘Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. 32 Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo. 33 Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. Vós me procurareis, e agora vos digo, como eu disse também aos judeus: ‘Para onde eu vou, vós não podeis ir’. 36 Simão Pedro perguntou: ‘Senhor, para onde vais?’ Jesus respondeu-lhe: ‘Para onde eu vou, tu não me podes seguir agora, mas me seguirás mais tarde.’ 37 Pedro disse: ‘Senhor, por que não posso seguir-te agora? Eu darei a minha vida por ti!’ 38 Respondeu Jesus: ‘Darás a tua vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: o galo não cantará antes que me tenhas negado três vezes.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Beata Pierina Morosini

06 de Abril

Beata Pierina Morosini

Pierina Morosini era a mais velha dos nove filhos do casal Roque e Sara Morosini, humildes camponeses de Fiobbio di Albino, Diocese de Bérgamo, ao norte da Itália. Nasceu no dia 7 de janeiro de 1931. À medida que foi crescendo, a sua boa mãe ensinou-lhe as principais verdades da Fé e incutiu-lhe o santo temor de Deus.
Como a mãe recitasse com os filhos as orações da manhã e da noite, e os fizesse repetir os elementos do Catecismo, aos 4 anos Pierina já sabia de memória muitas orações, os Atos de Fé, Esperança, Caridade e Contrição, além dos Mandamentos e das Obras de Misericórdia.
Assim preparada, foi Crismada em 10 de janeiro de 1937 e recebeu a 1ª. Comunhão em 5 de junho de 1938. Desde cedo mostrou aptidões para a vida religiosa, desejando ser missionária franciscana. Aos 16 anos, com licença do confessor, fez voto de castidade e depois acrescentou os votos particulares de pobreza e obediência. Participava com alegria e entusiasmo nas atividades apostólicas da paróquia. Fez parte também da pia associação das Filhas de Maria e da Ordem Terceira Franciscana.
Modesta, prudente, simples e, principalmente, muito pura, Pierina obteve sempre o primeiro prêmio, com distinção, em todas as provas do curso primário que frequentou nas Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus, de Albino. Renunciou, no entanto, prosseguir os estudos, para auxiliar o pai no sustento da numerosa família. A renúncia mais dolorosa, porém, consistiu em retardar a entrada para o convento, pois a invalidez do pai devida a um acidente obrigou-a a tornar-se o arrimo da família.
Aprendeu corte e costura aos 11 anos e aos 13 costurava com perfeição roupas para toda família. Aos 15 anos empregou-se numa fábrica de tecelagem - o Cotonifício Honegger - como ajudante de tecelão. Era muito estimada pelos superiores e respeitada pelos outros operários.
Embora fosse muito inteligente - ou justamente por isto! - Pierina se considerava a última de todos. Era sempre amável no trabalho, sem, contudo, ceder nada em matéria de moral e de costumes.  De tal modo era venerada na empresa onde trabalhava, que logo ao terem conhecimento de sua morte suas companheiras dividiram entre si o avental de Pierina, a fim de guardar dela uma relíquia.
Tendo que caminhar cerca de três horas diariamente para ir ao trabalho, Pierina preenchia este tempo rezando o Rosário. Uma parte do trajeto rezava-o com as companheiras de trabalho e o restante, sozinha. Ela incentivava as companheiras a rezarem, embora algumas tivessem respeito humano. "Aqui, no meio de todos dá vergonha!", dizia uma. Mas ela: "Eu rezo aqui e não penso mais nisso". "Riem de você, Pierina!". Era inútil, ela continuava firme.
Além de trabalhar oito horas no Cotonifício, Pierina tinha um outro "turno" em casa. Chegando do trabalho ela costurava ou remendava as roupas dos familiares em sua máquina de costura, cozinhava, limpava, enfim, fazia o que podia para aliviar a pesada carga de sua mãe, que além de cuidar de uma família de 11 pessoas, atendia a algumas crianças cujos pais tinham que trabalhar e ficavam aos seus cuidados. "O tempo é mais precioso do que o ouro!", repetia frequentemente Pierina.
Seu amor à virtude da pureza levou-a a tomar como protetora Santa Maria Goretti. A única vez que a jovem saiu dos limites da região onde residia foi quando viajou a Roma a fim de assistir à canonização de sua protetora, que ocorreu no dia 27 de abril de 1947.
Uma outra frase escrita à mão por Pierina em seu livro de orações, para ela poder lê-la e meditá-la, deixa transparecer a sua espiritualidade: "A virgindade é um profundo silêncio de todas as coisas da terra".
Segundo o testemunho de seus conterrâneos, Pierina sempre foi muito recatada. Todos diziam que ela era uma moça diferente das demais. O seu avental de trabalho tinha mangas compridas e ela o mantinha fechado até o pescoço. Quando fazia calor lhe diziam: "Mas, abre um pouco!" Ela sorria, limitando-se a enxugar o suor com um lenço muito limpo. Ela estava sempre limpa e bem penteada. Suas companheiras de trabalho afirmaram que “Pierina possuía muita graça e elegância, de tal modo que não parecia uma pessoa do povo”.
Pierina falava muito pouco, mas o que dizia vinha sempre muito a propósito, de maneira simples e sem rebuscamentos. Um sacerdote que a conheceu testemunhou: “Quando esta jovem fala, diz somente palavras de verdade”.
Pierina conheceu o Padre Luciano em abril de 1946, quando sofreu um acidente na fábrica e precisou se recuperar no Hospital Honegger, de Albino, onde ele era Capelão. Ele era do Convento dos Capuchinhos de Albino e foi o único diretor espiritual de Pierina. Sobre uma página branca de seu livro de orações ela havia escrito uma frase que resume a sua conduta em relação ao diretor espiritual: "A minha vocação: me deixarei conduzir como uma menina de um dia".
Entre os livros de Pierina foi encontrada uma folha datilografada contendo um "Pequeno regulamento diário" que se acredita ter sido dado a ela pelo Padre Luciano. O texto contém numerosas correções e na parte da folha que restou em branco, Pierina escreveu sete propósitos, no fim dos quais o mesmo Padre Luciano escreveu de próprio punho a palavra "Bom!".
O "Pequeno regulamento" era uma verdadeira regra de vida. Embora no mundo, Pierina levava uma vida de verdadeira religiosa. Tendo conhecimento da espiritualidade de São Luís Maria Grignion de Montfort, consagrou-se como escrava a Nossa Senhora, segundo o método daquele grande santo, fazendo todas as ações do dia em união com a Virgem Imaculada.
Os sete propósitos revelam bem sua espiritualidade simples e ardente:
"Sou toda Vossa e tudo quanto possuo Vos ofereço, amável Jesus, por meio de Maria Vossa Mãe Santíssima".
1. Me esforçarei para manter a paz na família; 2. Quando o cansaço me enfraquecer, me mostrarei sempre alegre; 3. Terei sumo respeito por mamãe; a obedecerei e não responderei grosseiramente; 4. Não comerei nenhuma guloseima; 5. Durante o dia procurarei permanecer na presença de Deus, farei comunhões espirituais e rezarei jaculatórias; 6. Não buscarei saber coisas dos outros; 7. Não direi nunca palavra em meu louvor e procurarei estar escondida aos olhos dos homens.
Pierina comungava diariamente, mesmo nos dias mais rigorosos do inverno, levantando-se às quatro horas da madrugada para receber a Jesus Sacramentado.
No dia 4 de abril de 1957, quinta-feira, Pierina saiu da fábrica onde trabalhava, em Cedrina, dirigindo-se a sua casa, em Fiobbio di Albino, distante uma boa hora de caminhada.
Chegando a um trecho mais despovoado da estrada, foi abordada por um jovem que de há muito pretendera, em vão, manter conversa com ela. Pierina acelerou seus passos e rezou mais fervorosamente. O rapaz, no entanto, a alcançou, passando a fazer-lhe propostas indecorosas em tom de ameaça. Pierina procurou correr, mas o rapaz segurou-a. Ela, porém, lutou valentemente contra aquele jovem lúbrico. Desvairado, o rapaz apanhou uma grande pedra e por oito vezes atingiu violentamente o seu crânio. Pierina ainda caminhou vinte passos, mas depois caiu por terra desfalecida.
Em sua casa todos a aguardavam com impaciência. Seu irmão, Santo, pressentindo alguma tragédia, deixou de lado os livros e saiu à procura da irmã. Depois de muito a procurar, encontrou-a caída sob algumas árvores do caminho, a cabeça mergulhada numa poça de sangue, o rosário junto às mãos. Conduzida agonizante a um hospital de Bérgamo, veio a falecer 40 horas depois do crime, no dia 6 de abril de 1957, primeiro sábado do mês.
Em janeiro de 1976, D. Clemente Gaddi, bispo de Bérgamo, anunciou a abertura do processo de beatificação dessa nova mártir da pureza, morta aos vinte e cinco anos de idade. A fama do martírio, que correu por toda parte, foi finalmente confirmada pela Santa Sé a 16 de junho de 1987, depois de rigoroso processo. Pierina foi beatificada no domingo, 4 de outubro de 1987, e é comemorada pela Santa Igreja no dia 6 de abril.

Diante de Pilatos. Jesus Cristo Rei

SEMANA SANTA. TERÇA-FEIRA

– Jesus condenado à morte.
– O Rei dos judeus. Um reino de graça.
– O Senhor quer reinar nas nossas almas.

I. COM AS MÃOS ATADAS, o Senhor é conduzido à residência do procurador Pôncio Pilatos. Todos têm pressa em acabar. Jesus, em silêncio, e com essa dignidade que se reflete no seu porte, passa por algumas ruelas a caminho da casa de Pilatos. “Já nascera o dia, e os habitantes da cidade tinham acordado e acorriam às portas e janelas para ver um preso tão conhecido e admirado pela sua santidade e obras. O Senhor ia com as mãos atadas, e a corda que lhe atava as mãos unia-se ao pescoço: esta era a pena que se impunha aos que haviam usado mal da sua liberdade contra o seu povo. Sentiria frio naquela madrugada, e sono; a cara, desfigurada pelas pancadas e escarros; o cabelo despenteado pelos últimos puxões que lhe tinham dado; entumecido o rosto e o sangue coagulado e seco. Foi assim que o Senhor apareceu em público pelas ruas, e todos o olhavam espantados e atemorizados. Ninguém duvidava de que, se o tinham tratado e o conduziam assim, era porque iria ser condenado” 1.

Jesus passa da jurisdição do Sinédrio para a romana, pois as autoridades judaicas podiam condenar à morte, mas não executar a sentença. E recorrem à autoridade romana quanto antes – nas primeiras horas da manhã – porque querem acabar com Jesus antes das festas. Começa a cumprir-se ao pé da letra o que Ele havia anunciado:O Filho do homem será entregue aos gentios; escarnecerão dele, e será ultrajado e cuspido; e depois de açoitá-lo, matá-lo-ão, e ao terceiro dia ressuscitará 2.

Conduziram Jesus à praça do pretório. Mas os que o acusavam não entraram no pretório, para não se contaminarem e poderem comer a Páscoa 3, pois os judeus ficavam legalmente impuros se entravam em casa de estrangeiros. “Oh cegueira ímpia!, exclama Santo Agostinho. Parece-lhes que ficarão contaminados com uma casa estranha, e não temem ficar impuros com um crime” 4. Cumprem-se uma vez mais as palavras duríssimas que o Senhor lhes dissera tempos atrás: Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo 5.

Saiu, pois, Pilatos para ter com eles 6. Jesus encontra-se de pé diante de Pilatos 7; o procurador pode contemplar a paz e a serenidade do acusado, em contraste com a agitação e a pressa dos que querem a sua morte.

Disse-lhe Pilatos: És tu o rei dos judeus? 8 Jesus respondeu-lhe: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus súditos lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui. Perguntou-lhe então Pilatos: És portanto rei? Respondeu Jesus: Sim, tu o dizes: eu sou rei 9. Esta foi a última declaração que o Senhor fez perante os seus acusadores; depois ficou calado como ovelha muda diante dos tosquiadores 10.

O Mestre encontra-se só; os seus discípulos já não ouvem os seus ensinamentos: abandonaram-no agora que tanto podiam aprender. Nós queremos acompanhá-lo na sua dor e aprender dEle a ter paciência diante das contrariedades de cada dia e a oferecê-las com amor.

II. PILATOS, PENSANDO TALVEZ que com isso aplacava o ódio dos judeus, mandou flagelar Jesus 11. É a cena que contemplamos no segundo mistério doloroso do Rosário:

“Atado à coluna. Cheio de chagas.

“Ouvem-se os golpes dos azorragues na sua carne rasgada, na sua carne sem mancha, que padece pela tua carne pecadora. – Mais golpes. Mais sanha. Mais ainda... É o cúmulo da crueldade humana.

“Por fim, rendidos, desprendem Jesus. E o corpo de Cristo rende-se também à dor e cai, como um verme, truncado e meio morto.

“Tu e eu não podemos falar. – Não são precisas palavras. Olha para Ele, olha para Ele... devagar.

“Depois... serás capaz de ter medo à expiação?” 12

A seguir, os soldados teceram uma coroa de espinhos e puseram-na sobre a sua cabeça e cobriram-no com um manto de púrpura. E aproximavam-se dele e diziam-lhe: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas 13. Hoje, ao contemplarmos Jesus que proclama a sua realeza diante de Pilatos, convém que meditemos também nesta cena narrada no terceiro mistério doloroso do Rosário:

“A coroa de espinhos, cravada a marteladas, faz dEle um Rei de comédia... [...]. E, à força de pancadas, ferem-lhe a cabeça. E esbofeteiam-no... e cospem nEle [...].

“– Tu e eu não teremos voltado a coroá-lo de espinhos, a esbofeteá-lo e a cuspir-lhe?

“Nunca mais, Jesus, nunca mais...” 14

Pilatos saiu outra vez e disse-lhes: Eis que vo-lo trago cá para fora, para que saibais que não acho nele culpa alguma. Apareceu então Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse-lhes: “Ecce homo”. Eis o homem! 15

Vestido com as insígnias reais sob uma chuvarada de zombarias, o Senhor esconde e ao mesmo tempo faz vislumbrar sob aquela trágica aparência a grandeza do Rei dos reis. A criação inteira depende de um gesto de suas mãos. O seu reino é o reino da Verdade e da Vida, o reino da Santidade e da Graça, o reino da Justiça, do Amor e da Paz 16. Enquanto contemplamos estas cenas da Paixão, nós, cristãos, não podemos esquecer que Jesus Cristo é “um Rei com um coração de carne, como o nosso” 17.

Também não podemos esquecer que são muitos os que o ignoram e rejeitam. “Diante desse triste espetáculo, sinto-me inclinado a desagravar o Senhor. Ao escutar esse clamor que não cessa, e que se compõe não tanto de palavras como de obras pouco nobres, experimento a necessidade de gritar bem alto: Oportet illum regnare! (I Cor XV, 25), convém que Ele reine” 18.

Muitos ignoram que Cristo é o único Salvador, Aquele que dá sentido às nossas vidas e aos acontecimentos humanos, Aquele que constitui a alegria e a plenitude dos desejos de todos os corações, o verdadeiro modelo, o irmão de todos, o Amigo insubstituível, o Único digno de toda a confiança.

Ao contemplarmos o Rei coroado de espinhos, dizemos-lhe que queremos que reine na nossa vida, nos nossos corações, nas nossas obras, nos nossos pensamentos, nas nossas palavras, em tudo o que é nosso.

III. JESUS CRISTO É O REI de toda a criação, pois tudo foi feito por Ele 19, e dos homens em particular, que foram comprados por um grande preço 20. Já o anjo dissera a Maria: Darás à luz um filho... e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi... e o seu reino não terá fim 21.

Mas o seu Reino não é como os da terra. Durante o seu ministério público, o Senhor nunca cedeu ao entusiasmo das multidões, um entusiasmo demasiado humano e misturado com esperanças meramente temporais: Percebendo que queriam arrebatá-lo e fazê-lo rei, retirou-se 22.

No entanto, aceita o ato de fé messiânica de Natanael: Tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel 23. Mais ainda, evoca uma antiga profecia 24 para confirmar e dar profundidade às suas palavras: Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subirem e descerem em torno do Filho do homem 25. O seu reinado é de paz, de justiça, de amor: Deus Pai arrancou-nos do poder das trevas e transferiu-nos para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a redenção 26.

Não obstante, também hoje são muitos os que o rejeitam. Em muitos ambientes, parece tornar-se a ouvir aquele grito pavoroso: Não queremos que Ele reine sobre nós. Que dor tão grande não seria a do Senhor quando comentava a parábola que reflete a atitude de muitos homens: Mas os homens daquela região odiavam-no – diz Jesus na parábola – e enviaram atrás dele embaixadores para dizer: Não queremos que ele reine sobre nós 27. Que mistério de iniqüidade tão grande é o pecado!

O reino do pecado – onde habita o pecado – é um reino de trevas, de tristeza, de solidão, de engano, de mentira. Todas as tragédias e calamidades do mundo, bem como as nossas misérias, têm a sua origem nessas palavras: Nolumus hunc regnare super nos, não queremos que Ele reine sobre nós. Nós, agora, acabamos a nossa oração dizendo a Jesus novamente que “Ele é o Rei do meu coração. Rei desse mundo íntimo dentro de mim mesmo, em que ninguém penetra e em que eu sou o único senhor. Jesus é o Rei aí, no meu coração. Tu o sabes bem, Senhor” 28.

(1) L. de la Palma, La Pasión del Señor, pág. 90; (2) Lc 18, 32; (3) Jo 18, 28; (4) Santo Agostinho, Comentário ao Evangelho de São João, 114, 2; (5) Mt 23, 24; (6) Jo 18, 29; (7) Mt 27, 11; (8) Jo 18, 33; (9) Jo 18, 36-37; (10) Is 53, 7; (11) Jo 19, 1; (12) Josemaría Escrivá, Santo Rosário, IIº mist. doloroso; (13) Jo 19, 2-3; (14) Josemaría Escrivá, Santo Rosário, IIIº mist. doloroso; (15) Jo 19, 4-5; (16) Prefácio da Missa de Cristo Rei; (17) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 179; (18) ib.; (19) Jo 1, 3; (20) 1 Cor 6, 20; (21) Lc 1, 32-33; (22) Jo 6, 15; (23) Jo 1, 49; (24) Dan 7, 13; (25) Jo 1, 51; (26) Col 1, 13; (27) Lc 19, 14; (28) J. Leclercq, Siguiendo el año litúrgico, Rialp, Madrid, 1957, pág. 357.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


06 de Abril 2020

A SANTA MISSA

SEMANA SANTA – Segunda-feira 
Cor: Roxa

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1ª Leitura: Is 42,1-7

Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas.
(1º canto do Servo do Senhor). 

Leitura do Livro do Profeta Isaías

1 ‘Eis o meu servo – eu o recebo; eis o meu eleito – nele se compraz minh’alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações. 2 Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas. 3 Não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega; mas promoverá o julgamento para obter a verdade. 4 Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra; os países distantes esperam seus ensinamentos.’ 5 Isto diz o Senhor Deus, que criou o céu e o estendeu, firmou a terra e tudo que dela germina, que dá a respiração aos seus habitantes e o sopro da vida ao que nela se move: 6 ‘Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, 7 para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 26, 1. 2. 3. 13-14 (R. 1a)

R. O Senhor é minha luz e salvação.

1 O Senhor é minha luz e salvação; *
de quem eu terei medo?
O Senhor é a proteção da minha vida; *
perante quem eu tremerei?      R.

2 Quando avançam os malvados contra mim, *
querendo devorar-me,
são eles, inimigos e opressores, *
que tropeçam e sucumbem.      R.

3 Se contra mim um exército se armar, *
não temerá meu coração;
se contra mim uma batalha estourar, *
mesmo assim confiarei.      R.

13 Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver *
na terra dos viventes.
14 Espera no Senhor e tem coragem, *       R. 

Evangelho: Jo 12,1-11 

 Deixa-a; ela fez isto
em vista do dia de minha sepultura. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João

1 Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi para Betânia, onde morava Lázaro, que ele havia ressuscitado dos mortos. 2 Ali ofereceram a Jesus um jantar; Marta servia e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. 3 Maria, tomando quase meio litro de perfume de nardo puro e muito caro, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo. 4 Então, falou Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de entregar: 5 ‘Por que não se vendeu este perfume por trezentas moedas de prata, para as dar aos pobres?’ 6 Judas falou assim, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão; ele tomava conta da bolsa comum e roubava o que se depositava nela. 7 Jesus, porém, disse: ‘Deixa-a; ela fez isto em vista do dia de minha sepultura. 8 Pobres, sempre os tereis convosco, enquanto a mim, nem sempre me tereis.’ 9 Muitos judeus, tendo sabido que Jesus estava em Betânia, foram para lá, não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Jesus havia ressuscitado dos mortos. 10 Então, os sumos sacerdotes decidiram matar também Lázaro, 11 porque, por causa dele, muitos deixavam os judeus e acreditavam em Jesus.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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As Negações de Pedro

SEMANA SANTA. SEGUNDA-FEIRA

– São Pedro nega conhecer o Senhor. As nossas negações.
– O olhar de Jesus e a contrição de Pedro.
– O verdadeiro arrependimento. Atos de contrição.

I. ENQUANTO SE DESENROLAVA o processo contra Jesus diante do Sinédrio, tinha lugar a cena mais triste da vida de Pedro. Ele, que deixara tudo para seguir o Senhor, que vira tantos prodígios e recebera tantas provas de afeto, agora nega-o rotundamente. Sente-se encurralado e, sob juramento, nega conhecer Jesus.

Estando Pedro em baixo no átrio, chegou uma das criadas do sumo sacerdote. Fixou os olhos em Pedro, que se aquecia, e disse-lhe: Também tu estavas com Jesus de Nazaré. Ele negou-o: Não o conheço nem sei de que falas. E saiu para a entrada do pátio; e um galo cantou. A criada que o vira começou a dizer aos circunstantes: Este faz parte do grupo deles. Mas Pedro negou-o por segunda vez. Pouco depois, os que ali estavam diziam a Pedro: Certamente tu és um deles, pois também és galileu. Então ele começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais 1.

Pedro negou conhecer o seu Senhor, e com isso negou também o sentido profundo da sua existência: o de ser Apóstolo, testemunha da vida de Cristo, o de confessar que Jesus é o Filho do Deus vivo. A sua vida honrada, a sua vocação de Apóstolo, as esperanças que Jesus depositara nele, o seu passado, o seu futuro – tudo começa a ruir. Como foi possível que dissesse: Não conheço esse homem?

Uns anos antes, um milagre realizado por Jesus tivera para ele um significado especial e profundo. Ao presenciar a pesca milagrosa (a primeira delas), Pedro compreendera tudo: Caiu aos pés de Jesus e disse-lhe: Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador. Tanto ele como os seus companheiros estavam assombrados 2. Foi como se num instante tivesse visto tudo claramente: a santidade de Cristo e a sua condição de homem pecador. O preto percebe-se em contraste com o branco, a escuridão em contraste com a luz e o pecado em contraste com a santidade. E então, enquanto os seus lábios diziam que pelos seus pecados se sentia indigno de estar ao lado do Senhor, os seus olhos e toda a sua atitude pediam a Jesus que jamais o deixasse separar-se dEle. Foi um dia muito feliz. Ali começou realmente tudo: Então Jesus disse a Simão: Não temas; doravante serás pescador de homens. E trazendo as barcas para terra, deixaram tudo e o seguiram 3. A vida de Pedro teria desde então um objetivo maravilhoso: amar a Cristo e ser pescador de homens. O resto seria meio e instrumento para esse fim. E agora, por fragilidade, por se ter deixado dominar pelo medo e pelos respeitos humanos, Pedro desaba.

O pecado, a infidelidade em maior ou menor grau, é sempre uma negação de Cristo e do que há de mais nobre em nós, dos melhores ideais que o Senhor semeou no nosso íntimo. O pecado é a grande ruína do homem. Por isso, temos de lutar com afinco, com a ajuda da graça, para evitar todo o pecado grave – os que resultam da malícia, da fragilidade ou da ignorância culposa – e todo o pecado venial deliberado.

Mas, se tivermos a desgraça de cometê-lo, temos de tirar proveito do próprio pecado, pois a contrição fortalece a amizade com o Senhor. Os nossos erros não devem desanimar-nos nunca, se reagimos com humildade. Um arrependimento sincero é sempre ocasião de um encontro novo com o Senhor, e dele podem derivar conseqüências inesperadas para a nossa vida interior. “Pedro levou uma hora para cair, mas levanta-se num minuto e sobe mais alto do que estava antes da sua queda” 4.

O Céu está cheio de grandes pecadores que souberam arrepender-se. Jesus recebe-nos sempre e alegra-se quando recomeçamos o caminho que havíamos abandonado.

II. MALTRATADO, O SENHOR é levado para outro lugar através de um dos átrios. Então, voltando-se, o Senhor olhou para Pedro 5. “Os seus olhares cruzaram-se. Pedro quereria baixar a cabeça, mas não pôde afastar os seus olhos dAquele que acabava de negar. Conhece muito bem os olhares do Salvador: aquele olhar que decidira da sua vocação e a cuja autoridade e encanto não pudera resistir anos atrás; aquele olhar delicado do dia em que Jesus afirmara, ao contemplar os seus discípulos: Eis os meus irmãos, as minhas irmãs e a minha mãe; e o olhar que o fizera estremecer quando ele, Simão, pretendera suprimir a cruz do caminho de Cristo; e o olhar afetuosamente compassivo com que recebera o jovem demasiado rico para segui-Lo; e o olhar velado pelas lágrimas diante do sepulcro de Lázaro... Não há dúvida de que Pedro conhecia os olhares do Salvador! No entanto, nunca tinha visto no rosto do Senhor essa expressão que agora descobria nEle, esses olhos impregnados de tristeza, mas sem severidade. Olhar de censura, sem dúvida, mas que, ao mesmo tempo, suplicava e parecia repetir: Simão, eu orei por ti! Esse olhar só se deteve nele por um instante fugidio, porque Jesus não demorou a ser violentamente arrastado pelos soldados, mas Pedro nunca o esqueceria” 6.

Vê o olhar indulgente sobre a chaga profunda da sua culpa. Compreende então a gravidade do seu pecado e recorda-se da profecia do Senhor sobre a sua traição: Hoje, antes que o galo cante, ter-me-ás negado três vezes. Saiu dali e chorou amargamente 7. Sair “era confessar a sua culpa. Chorou amargamente porque sabia amar, e bem cedo as doçuras do amor substituíram nele as amarguras da dor” 8.

Saber que Jesus o olhara impediu o Apóstolo de chegar ao desespero. Foi um olhar alentador e Pedro sentiu-se compreendido e perdoado. Como deve ter recordado então as parábolas do Bom Pastor, do filho pródigo, da ovelha perdida!

Na vida de Pedro, vemos refletida a nossa própria vida. “Dor de Amor. – Porque Ele é bom. – Porque é teu Amigo, que deu a sua Vida por ti. – Porque tudo o que tens de bom é dEle. – Porque O tens ofendido tanto... Porque te tem perdoado... Ele!... a ti! – Chora, meu filho, de dor de Amor” 9.

A contrição dá à alma uma particular fortaleza, devolve-lhe a esperança, faz com que o cristão se esqueça de si mesmo e se aproxime novamente de Deus, num ato de amor mais profundo. A contrição enriquece a qualidade da vida interior e atrai sempre a misericórdia divina. Os meus olhares deixam-se atrair pelo humilde, pelo coração contrito que teme a minha palavra 10. Cristo não terá inconveniente em edificar a sua Igreja sobre um homem que podia cair e que caiu. Deus conta também com os instrumentos débeis para realizar – se se arrependem – as suas grandes obras: a salvação dos homens.

III. ALÉM DE NOS DAR uma grande fortaleza, a verdadeira contrição prepara-nos para ser eficazes entre os outros. “O Mestre passa, uma vez e outra vez, muito perto de nós. Olha-nos... E se o olhas, se o escutas, se não o repeles, Ele te ensinará o modo de dares sentido sobrenatural a todas as tuas ações... E então também tu semearás, onde quer que te encontres, consolo e paz e alegria” 11.

O olhar do Senhor recaiu também sobre Judas e incitou-o a mudar quando, no momento da sua traição, ouviu o Mestre chamá-lo amigo. Amigo! Com que propósito vieste? Não se arrependeu naquele momento, mas mais tarde: Vendo-o sentenciado, tomou-se de remorsos e foi devolver as trinta moedas de prata 12.

Mas que diferença entre Pedro e Judas! Os dois foram infiéis ao Senhor, embora de modo diferente. Os dois se arrependeram. Mas, enquanto Pedro viria a ser a rocha sobre a qual se levantaria a Igreja de Cristo até o fim dos tempos, Judas foi e enforcou-se. O mero arrependimento humano não basta; produz angústia, amargura e desespero.

Junto de Cristo, o arrependimento transforma-se numa dor gozosa, porque se recupera a amizade perdida. Num instante, pela dor em face das suas negações, Pedro uniu-se ao Senhor muito mais fortemente do que jamais o estivera. As suas negações foram o ponto de partida de uma fidelidade que o levaria até o testemunho supremo do martírio. Judas, pelo contrário, ficou só: Que nos importa? Isso é lá contigo!, dizem-lhe os príncipes dos sacerdotes. Judas, no isolamento produzido pelo pecado, não soube ir até Cristo, faltou-lhe a esperança, e por isso o seu arrependimento foi estéril.

Devemos despertar com freqüência no nosso coração a dor de Amor pelos nossos pecados, sobretudo ao fazermos o exame de consciência no fim do dia, e ao prepararmos a nossa confissão. “A ti, que te desmoralizas, vou-te repetir uma coisa muito consoladora: a quem faz o que pode, Deus não lhe nega a sua graça; Nosso Senhor é Pai, e, se um filho lhe diz na quietude do seu coração: «Meu Pai do Céu, aqui estou eu, ajuda-me...», se recorre à Mãe de Deus, que é Mãe nossa, vai para a frente” 13. E a sua dor levada a Cristo transforma-se numa dor gozosa, sobre a qual o Senhor edifica.

(1) Mc 14, 66-67; (2) cfr. Lc 5, 8-9; (3) Lc 5, 10-11; (4) G. Chevrot, Simão Pedro, pág. 227; (5) Lc 22, 61; (6) G. Chevrot, op. cit., pág. 231; (7) Lc 22, 61-62; (8) Santo Agostinho, Sermão 295; (9) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 436; (10) Is 66, 2; (11) Josemaría Escrivá, Via Sacra, VIIIª est., n. 4; (12) cfr. Mt 27, 3-10; (13) Josemaría Escrivá, Via Sacra, Xª est., n. 3.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal