Beata Gabriella Sagheddu

23 de Abril

Beata Gabriella Sagheddu

Seu nome de batismo era Maria Sagheddu. Nasceu no dia 17 de março de 1914, filha de uma família de pastores bastante católica da Sardenha. Foi a quinta filha entre oito. Em 1919, quando tinha quatro anos, seu pai faleceu. Foi teimosa e obstinada quando menina, mas aprendeu a ser obediente e dócil. Ela foi como um dos filhos do patrão citados no Evangelho que, a princípio, diz não a um pedido pai, mas depois, vai e faz. Perto de terminar o primário, ela teve que deixar a escola para ajudar em casa. Surpreendentemente, ela o fez com seriedade e um grande senso de responsabilidade.

Saindo da adolescência, Maria sofreu um grande golpe: a morte de sua irmã mais nova. Este fato abalou-a profundamente e ela procurou, mais ainda, o auxílio em Deus. Aos 18 anos, entrou para um famoso movimento que ganhava forças na Igreja, chamado “Ação Católica”. A partir daí, começou a instruir os jovens da sua região na fé católica, motivando-os na ajuda aos idosos.

Ao instruir e ensinar o catecismo, Maria Grabriela era muito exigente e dura. E de tal forma que começou a usar uma vara para bater naqueles que se dispersavam ou não aprendiam. Um dia, porém, seu pároco lhe disse: “Para ensinar o Evangelho, arme-se com paciência e amor, não com uma vara”. Ao ouvir isso, Maria compreendeu seu erro e mudou sua maneira de ensinar. Feliz, ela viu que os resultados foram muito mais satisfatórios e frutíferos.

O espírito de Maria Gabriela, porém, anisava por experiências mais profundas com Deus. Por isso, aos vinte anos, ela ingressou no Mosteiro Trapista de Grottaferrata, que ficava perto de Roma. Foi nesta ocasião que ela assumiu o nome de Ir. Maria Gabriela. A Ordem Trapista é conhecida por sua rigidez, silêncio, estudos e espiritualidade profunda. Ali, Maria Gabriela encontrou sua realização pessoal.

A abadessa do mosteiro na época, Madre Maria Pia, OCSO, era uma mulher entusiasmada pelo ecumenismo. E ela conseguiu passar esse entusiasmo para as irmãs do mosteiro. E de tal forma que a Ir. Maria Gabriela sentiu que este era o grande chamado de sua vida. Por isso, ela decidiu oferecer sua própria vida como sacrifício em favor da unidade dos cristãos. Isso aconteceu durante uma semana que se chamou “Semana de oração pela unidade dos cristãos”, no ano 1938.

Logo depois disso, Ir. Maria Gabriela contraiu tuberculose e começou a passar por grandes sofrimentos. Foi um verdadeiro calvário que durou quinze meses. Durante todo esse tempo, ela jamais murmurou. Ao contrário, louvava a Deus por tudo e oferecia todo o seu sofrimento em favor da unidade entre os cristãos e dentro da própria Igreja. Ir. Maria Gabriela desenvolveu uma espiritualidade de entrega total à vontade de Deus, a tal ponto de se ver livre de todo medo e ansiedade. Não se trata de ficar livre dos sofrimentos. Jesus não promete isso. Mas trata-se de, na fé, compreender que o Pai nos ama, que nenhum fio de cabelo cai de nossa cabeça sem o seu consentimento e tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus. Essa espiritualidade contagiou todo o convento e, por isso, as irmãs testemunhavam a santidade da Ir. Maria Gabriela.

Após quinze meses de muito sofrimento, Ir. Maria Gabriela faleceu, oferecendo sua própria vida em sacrifício pela unidade dos cristãos e da Igreja. Ela faleceu no dia 23 de abril de 1939, num domingo, cujo Evangelho da liturgia, não por acaso, era: “E haverá um só rebanho e um só pastor”. (João 10, 16). Assim, sem conhecer um único cristão protestante ou ortodoxo, ela se tornou a Beata Maria Gabriella da Unidade. Após sua morte, verificaram em sua bíblia que o Capítulo 17 do Evangelho de São João estava amarelado por causa do manuseio constante, especialmente os versículos 11 e 21, em que Jesus diz: “Que ele sejam um, como nós também somos um” (Jo 17, 11) e "Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste". (Jo 17,21)

Irmã Maria Gabriela foi beatificada pelo Papa João Paulo II no dia 25 de janeiro de 1983. Era o dia de São Paulo e a celebração aconteceu na Basílica de São Paulo de fora dos muros de Roma. Na ocasião, João Paulo II disse: “O exemplo da Ir. Maria Gabriela é instrutivo; ela nos ajuda a compreender que não existe tempo, situação ou lugar especial para rezarmos pela unidade. A oração de Cristo ao Pai é oferecida como modelo para todos, sempre e em qualquer lugar.”

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br


Fazer o Bem e resistir ao Mal

TEMPO PASCAL. SEGUNDA SEMANA. QUINTA-FEIRA

– Resistência dos Apóstolos em cumprir ordens injustas. Firmeza na fé.
– Todas as realidades, cada uma na sua ordem, devem ser orientadas para Deus. Unidade de vida. Exemplaridade.
– Não se pode prescindir da fé à hora de avaliar as realidades terrenas. Resistência ao mal.

I. APESAR DA SEVERA PROIBIÇÃO do Sumo Sacerdote e do Sinédrio de que não voltassem a pregar e a ensinar em nome de Jesus 1, os Apóstolos pregavam cada vez com mais liberdade e firmeza a doutrina da fé. E eram muitos os que se convertiam. Então – narra-nos a primeira leitura da Missa – levaram-nos de novo ao Sinédrio e o Sumo Sacerdote os interrogou dizendo: Não vos ordenamos expressamente que não ensinásseis nesse nome? Mas vós enchestes Jerusalém com a vossa doutrina! [...] Pedro e os Apóstolos replicaram: Importa obedecer antes a Deus do que aos homens 2. E continuaram a anunciar a Boa Nova.

A resistência dos Apóstolos em obedecer às ordens do Sinédrio não era orgulho nem desconhecimento dos seus deveres sociais para com a autoridade legítima. Opõem-se porque se pretende impor-lhes uma ordem injusta, que atenta contra a lei de Deus. Lembram aos seus juízes, com valentia e simplicidade, que a obediência a Deus é a primeira das obrigações. Estão convencidos de que “não há perigo para os que temem a Deus, mas para os que não o temem” 3, e que é pior cometer uma injustiça do que ser vítima dela.

Também nos nossos dias o Senhor pede aos que são seus a fortaleza e a convicção daqueles primeiros, quando, em alguns ambientes, se respira um clima de indiferença ou de ataques frontais aos verdadeiros valores humanos e cristãos. Uma consciência bem formada incitará o cristão a cumprir as leis como o melhor dos cidadãos, e urgi-lo-á também a tomar posição sempre que se pretenda promulgar normas contrárias à lei natural. O Estado não é juridicamente onipotente; não é a fonte do bem e do mal.

“É obrigação dos católicos presentes nas instituições públicas – ensinam os bispos espanhóis – exercer uma ação crítica dentro das suas próprias instituições para que os seus programas e atuações correspondam cada vez melhor às aspirações e critérios da moral cristã. Em alguns casos, pode até ser obrigatória a objeção de consciência em face de atuações e decisões que contrariem diretamente alguns preceitos da moral cristã” 4.

A proteção efetiva dos bens fundamentais da pessoa, o direito à vida desde o momento da concepção, a proteção ao casamento e à família, a igualdade de oportunidades na educação e no trabalho, a liberdade de ensino e de expressão, a liberdade religiosa, a segurança pública, a contribuição para a paz mundial etc., fazem parte do bem comum pelo qual os cristãos devem lutar 5.

A passividade em face de assuntos tão importantes seria na realidade uma lamentável claudicação e uma omissão, por vezes grave, do dever de contribuir para o bem comum. Seria um desses pecados de omissão dos quais – além dos que cometemos por pensamentos, palavras e atos – pedimos perdão todos os dias no começo da Santa Missa. “Muitas realidades materiais, técnicas, econômicas, sociais, políticas, culturais..., abandonadas a si mesmas, ou em mãos dos que não possuem a luz da nossa fé, convertem-se em obstáculos formidáveis para a vida sobrenatural: formam como que um campo fechado e hostil à Igreja. – Tu, por seres cristão – pesquisador, literato, cientista, político, trabalhador... –, tens o dever de santificar essas realidades. Lembra-te de que o universo inteiro – assim o escreve o Apóstolo – está gemendo como que com dores de parto, à espera da libertação dos filhos de Deus” 6.

II. MOVE-SE À NOSSA VOLTA um contínuo fluxo e refluxo de correntes de opinião, de doutrinas, de ideologias, de teorias muito diferentes sobre o homem e a vida. E isso não somente através de publicações especializadas, mas de romances que estão na moda, de revistas gráficas, de programas de televisão ao alcance de adultos e crianças... E no meio dessa confusão doutrinal, é necessária uma norma de discernimento, um critério claro, firme e profundo, que nos permita encarar tudo com a unidade e coerência de uma visão cristã da vida, que sabe que tudo procede de Deus e se ordena para Deus.

A fé nos dá critérios estáveis, bem como a firmeza dos Apóstolos para levá-los à prática. Dá-nos uma visão clara do mundo, do valor das coisas e das pessoas, dos verdadeiros e falsos bens... Sem Deus e sem o conhecimento do fim último do homem, o mundo torna-se incompreensível ou passa a ser visto sob um prisma parcial e deformado. Precisamente “o aspecto mais sinistramente típico da época moderna consiste na absurda tentação de construir uma ordem temporal sólida e fecunda sem Deus, único fundamento em que pode sustentar-se” 7.

O cristão não deve prescindir da sua fé em nenhuma circunstância. “Aconfessionalismo. Neutralidade. Velhos mitos que tentam sempre remoçar. – Tens-te dado ao trabalho de meditar no absurdo que é deixar de ser católico ao entrar na Universidade, ou na Associação profissional, ou na sábia Academia, ou no Parlamento, como quem deixa o chapéu à porta?”8 Esta atitude equivale a dizer, tanto na política como nos negócios, no modo de descansar e distrair-me, quando estou com os amigos ou quando escolho o colégio para os meus filhos: aqui, nesta situação concreta, Deus não é chamado para nada; a minha fé cristã não influi nestes assuntos, nada disto vem de Deus nem se ordena para Deus.

A fé ilumina toda a vida. Tudo se ordena para Deus. É bem verdade que essa ordenação deve respeitar a natureza própria de cada coisa; não se trata de converter o mundo numa imensa sacristia, nem os lares em conventos, nem a economia em beneficência... Mas, sem simplificações ingênuas, a fé deve informar o pensamento e a ação do cristão porque nunca, seja em que circunstância for, em momento algum do dia, se deve deixar de ser cristão e, portanto, de agir e pensar como tal.

Por isso, “os cristãos exercerão as suas respectivas profissões movidos pelo espírito evangélico. Não é bom cristão quem submete a sua forma de atuar profissionalmente ao desejo de ganhar dinheiro ou de alcançar poder como valor supremo e definitivo. Os profissionais cristãos, em qualquer área da vida, devem ser exemplo de laboriosidade, competência, honestidade, responsabilidade e generosidade” 9.

III. UM CRISTÃO não pode prescindir da luz da fé à hora de avaliar um programa político ou social, uma obra de arte ou cultural. Não pode restringir-se à consideração de um só aspecto – econômico, político, técnico, artístico... – para julgar da bondade ou malícia de uma realidade. Se nesse acontecimento político ou social ou nessa obra não se respeita a devida ordenação para Deus – manifestada nas exigências da Lei divina –, a sua avaliação definitiva não pode deixar de ser negativa, seja qual for a avaliação parcial de outros aspectos dessa realidade.

Não se pode aplaudir determinada política, determinada ordenação social ou obra cultural, quando se transformam em instrumento do mal. É uma questão de estrita moralidade e, portanto, de bom senso. Quem louvaria um insulto à sua própria mãe, simplesmente por estar vazado num verso de grande perfeição rítmica? Quem difundiria esse verso, louvando as suas perfeições, mesmo fazendo a ressalva de que eram perfeições apenas “formais”? É evidente que a perfeição técnica dos meios só contribui para agravar a maldade de uma coisa desordenada em si, pois de outro modo passaria despercebida ou teria menos virulência.

Diante de crimes abomináveis, que é como o Concílio Vaticano II qualifica os abortos, a consciência cristã retamente formada exige que não se participe na sua prática, que se desaconselhem vivamente, que se impeçam, se for possível, e, além disso, que se trabalhe ativamente por evitar ou subsanar essa aberração moral no ordenamento jurídico. Diante desses fatos gravíssimos e de outros semelhantes que se opõem frontalmente à moral, ninguém deve pensar que não pode fazer nada. O pouco que cada um pode fazer, deve fazê-lo: especialmente mediante uma participação responsável na vida pública. “Mediante o exercício do voto, confiamos a umas instituições determinadas e a pessoas concretas a gestão dos assuntos públicos. Desta decisão coletiva dependem aspectos muito importantes da vida social, familiar e pessoal, não somente na ordem econômica e material, mas também na moral” 10.

Está nas mãos de todos, de cada um de nós, se atuarmos com sentido sobrenatural e senso comum, a tarefa de fazer deste mundo, que Deus nos deu para habitar, um lugar mais humano e meio de santificação pessoal. Se nos esforçarmos por cumprir os nossos deveres sociais, quer vivamos numa grande cidade ou num povoado perdido, quer tenhamos um cargo importante ou uma ocupação humilde na sociedade, mesmo que pensemos que o nosso contributo é minúsculo, seremos fiéis ao Senhor, e também o seremos se um dia o Senhor nos pedir uma atuação mais heróica: Aquele que é fiel no pouco também será fiel no muito 11.

(1) Cfr. At 4, 18; (2) At 5, 27-29; (3) São João Crisóstomo, Homilias sobre os Atos dos Apóstolos, 13; (4) Conferência Episcopal Espanhola, Testigo de Dios vivo, 28-VI-1985, n. 64; (5) idem, Los católicos en la vida pública, 22-IV-1986, n. 119-121; (6) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 311; (7) João XXIII, Enc. Mater et Magistra, 15-V-1961, 72; (8) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 353; (9) Conferência Episcopal Espanhola, Testigo de Dios vivo, n. 63; (10) idem, Los católicos en la vida pública, n. 118; (11) Lc 16, 10.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


21 de Abril 2020

A SANTA MISSA

2ª Semana da Páscoa – Terça-feira  
Cor: Branca

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1ª Leitura: At 4,32-37

 Um só coração e uma só alma. 

Leitura dos Atos dos Atos dos Apóstolos

32 A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum. 33 Com grandes sinais de poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. E os fiéis eram estimados por todos. 34 Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas, vendiam-nas, levavam o dinheiro, 35 e o colocavam aos pés dos apóstolos. Depois, era distribuído conforme a necessidade de cada um. 36 José, chamado pelos apóstolos de Barnabé, que significa filho da consolação, levita e natural de Chipre, 37 possuía um campo. Vendeu e foi depositar o dinheiro aos pés dos apóstolos.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 92, 1ab. 1c-2. 5 (R. 1a)

R. Reina o Senhor, revestiu-se de esplendor.

Ou: Aleluia, Aleluia, Aleluia

1a Deus é Rei e se vestiu de majestade,*
1b revestiu-se de poder e de esplendor!      R.

1c Vós firmastes o universo inabalável,
2 vós firmastes vosso trono desde a origem,*
desde sempre, ó Senhor, vós existis!      R.

5 Verdadeiros são os vossos testemunhos,
refulge a santidade em vossa casa,*
pelos séculos dos séculos, Senhor!       R.

Evangelho: Jo 3,7b-15  

Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele
que desceu do céu, o Filho do Homem. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo disse Jesus a Nicodemos: 7b Vós deveis nascer do alto. 8 O vento sopra onde quer e tu podes ouvir o seu ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece a todo aquele que nasceu do Espírito’. 9 Nicodemos perguntou: ‘Como é que isso pode acontecer?’ 10 Respondeu-lhe Jesus: ‘Tu és mestre em Israel, mas não sabes estas coisas? 11 Em verdade, em verdade te digo, nós falamos daquilo que sabemos e damos testemunho daquilo que temos visto, mas vós não aceitais o nosso testemunho. 12 Se não acreditais, quando vos falo das coisas da terra, como acreditareis se vos falar das coisas do céu? 13 E ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. 14 Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15 para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Santo Anselmo de Cantuária

21 de Abril

Santo Anselmo 

Santo Anselmo foi um monge beneditino designado Arcebispo de Cantuária na Inglaterra, proclamado Doutor da igreja em 1720 pelo Papa Clemente XI e considerado um dos maiores teólogos e filósofos de seu tempo.

É conhecido como “o pai da escolástica”. Como teólogo, é lembrado por suas importantes obras e sua defesa da Imaculada Conceição, e como filósofo, por seu célebre argumento ontológico.

Este santo, que contava com uma piedade e caridade transbordante, é precursor de Santo Tomás de Aquino, pois a Igreja não havia tido um metafísico de sua estatura desde a época de Santo Agostinho. Além disso, é um dos autores mais lidos por professores de teologia durante séculos.

Também foi um hábil mestre para seus irmãos da Ordem de São Bento, aos quais ensinou teologia, e um lutador para conseguir a liberdade da Igreja apesar de sofrer banimento.

Nasceu no ano 1033 em Aosta de Piamonte (Alpes italianos), em uma família nobre. Sua educação foi encarregada aos padres beneditinos, depois de sofrer pela excessiva rigorosidade e diversos maus-tratos de seu antigo professor leigo.

Depois da morte de sua mãe e devido a uma má relação com seu pai, Anselmo abandonou sua casa. Em 1060, aos 27 anos, ingressou no mosteiro de Bec (Normandia), onde se tornou discípulo e grande amigo de Lanfranco, Arcebispo de Cantuária.

Três anos mais tarde, ocupou o cargo de prior do mosteiro, depois que Lanfranco foi enviado para assumir a abadia dos Homens (Normandia).

Como prior de Bec, Anselmo compôs suas duas obras mais conhecidas que serviram para integrar a filosofia e a teologia: “Monologium” (meditações sobre as razões da fé), no qual dava as provas metafísicas da existência e natureza de Deus, e “Proslogium” (a fé que busca a inteligência), ou contemplação dos atributos de Deus.

Do mesmo modo, compôs os tratados da verdade, da liberdade, da origem do mal e da arte de raciocinar. Em 1078, o santo foi eleito abade de Bec, o que o obrigava a viajar com frequência para a Inglaterra, onde a abadia contava com algumas propriedades.

Após a morte de Lanfranco (1089), Anselmo viajou para a Inglaterra, onde foi nomeado Arcebispo em 4 de dezembro de 1093, embora inicialmente o rei Guilherme, o Vermelho, tenha se oposto. Este último foi hostil com os católicos daquela época e até mesmo baniu Santo Anselmo.

O santo passou um tempo no mosteiro de Campania (Itália) por razões de saúde e ali terminou sua famosa obra “Cur Deus homo”, o mais famoso tratado que existe sobre a Encarnação. Depois, sofreria mais um banimento e regressaria para a Inglaterra.

Faleceu no ano 1109, idoso e debilitado por sua idade, entre os monges de Cantuária. Suas últimas palavras antes de morrer foram: “Onde estão as verdadeiras alegrias celestes, devem estar sempre os desejos do nosso coração”. Foi canonizado em 1494. Sua festa é celebrada em 21 de abril.

Fonte: https://www.acidigital.com


Os Primeiros Cristãos. Unidade

TEMPO PASCAL. SEGUNDA SEMANA. TERÇA-FEIRA

– A unidade entre os cristãos, querida por Cristo, é um dom de Deus. Pedi-la.
– O que quebra a unidade fraterna.
– A caridade une, a soberba separa. A fraternidade dos primeiros cristãos. Evitar aquilo que possa prejudicar a unidade.

I. A MULTIDÃO DOS FIÉIS era um só coração e uma só alma 1. Estas palavras dos Atos dos Apóstolos são como que um resumo da profunda unidade e do amor fraterno que havia entre os primeiros cristãos, e que chamou tanto a atenção dos seus concidadãos. “Os discípulos davam testemunho da Ressurreição não só com a palavra, mas também com as suas virtudes” 2. Resplandece entre eles a atitude – nascida da caridade – de quem procura sempre a concórdia.

A unidade da Igreja, manifestada desde o princípio, é vontade expressa de Cristo. O Senhor fala-nos da existência de um só pastor 3, sublinha a unidade de um reino que não pode estar dividido 4, de um edifício que tem um único alicerce 5... Esta unidade baseou-se sempre na profissão de uma só fé, na prática de um mesmo culto e na profunda adesão à única autoridade hierárquica, instituída pelo próprio Jesus Cristo. “Só há uma Igreja de Jesus Cristo – ensinava João Paulo II na sua catequese pela Espanha –, que é como uma grande árvore na qual estamos enxertados. Trata-se de uma unidade profunda, vital, que é um dom de Deus. Não é somente nem sobretudo uma unidade exterior; é um mistério e um dom [...]. A unidade manifesta-se, portanto, em torno daquele que, em cada diocese, foi constituído pastor, isto é, do bispo. E, no conjunto da Igreja, manifesta-se em torno do Papa, sucessor de Pedro” 6.

Entre os primeiros cristãos, a unidade da fé era o sustentáculo da fortaleza e da vitalidade que manifestavam. A vida cristã foi vivida desde então por pessoas muito diferentes, cada uma com as suas peculiares características individuais e sociais, raciais e linguísticas. Lá onde houvesse cristãos, “participavam, exprimiam e transmitiam uma só doutrina com a mesma alma, com o mesmo coração e com idêntica voz” 7.

Em defesa dessa unidade, os primeiros fiéis chegaram a enfrentar perseguições e até o martírio. E a Igreja animou constantemente os seus filhos a velar por ela, pois o Senhor a tinha pedido na Última Ceia para toda a Igreja: Ut omnes unum sint... que todos sejam um, como tu, Pai, em mim e eu em ti; que também eles sejam um em nós 8.

A unidade é um bem imenso que devemos implorar todos os dias, pois todo o reino dividido contra si mesmo será destruído, e toda a cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá 9. A este propósito, comenta São João Crisóstomo: “A casa e a cidade, uma vez divididas, destroem-se rapidamente; e o mesmo acontece com um reino, pois é a união dos súditos que dá firmeza aos reinos e às casas” 10. Unidade com o Papa, unidade com os bispos em união com o Papa, unidade com os nossos irmãos na fé e com todos os homens para atraí-los à fé de Cristo.

II. “A UNIDADE ensina São Tomás – não se opõe à multiplicidade, mas à divisão, e a multiplicidade não exclui a unidade, mas a divisão de cada uma das coisas que a compõem” 11. É fator de divisão tudo o que separa de Cristo: qualquer pecado, seja de que natureza for, divide, embora essa divisão seja mais tangível nas faltas de caridade que isolam dos outros e nas faltas de obediência aos pastores que Cristo constituiu para reger a Igreja.

A variedade de caracteres, de raças, de modos de ser não se opõe à unidade... Por isso a Igreja pode ser católica, universal, e simultaneamente uma e a mesma em qualquer tempo e lugar. É “essa unidade interior – afirmava Paulo VI – que lhe confere a surpreendente capacidade de reunir os homens mais diversos, respeitando, mais ainda, revalorizando as suas características específicas, desde que sejam positivas, quer dizer, verdadeiramente humanas; é isso o que lhe confere a capacidade de ser católica, de ser universal” 12.

Os Apóstolos e seus sucessores tiveram que sofrer a dor provocada pelos que difundiam erros e divisões. “Falam de paz e fazem a guerra – doía-se Santo Irineu –, engolem um camelo e coam um mosquito. As reformas que pregam jamais poderão curar as chagas da desunião” 13.

A unidade está intimamente ligada à nossa luta ascética, ao esforço por sermos melhores, por estarmos mais unidos a Cristo. “Muito pouco poderemos fazer no trabalho por toda a Igreja [...] se não conseguirmos esta intimidade com o Senhor Jesus: se não estivermos realmente, com Ele e como Ele, santificados na verdade; se não guardarmos a sua palavra em nós, procurando descobrir todos os dias a sua riqueza escondida” 14.

A unidade da Igreja, cujo princípio vital é o Espírito Santo, tem como ponto central a Eucaristia, que é “sinal de unidade e vínculo de amor” 15. Temos que afastar as discórdias e pedir pela unidade, coisas que “nunca se conseguem mais oportunamente que quando o corpo de Cristo, que é a Igreja, oferece o mesmo Corpo e o mesmo Sangue de Cristo no sacramento do pão e do vinho” 16.

III. SÃO PAULO faz freqüentes apelos à unidade. Na Epístola aos Efésios, diz assim: Exorto-vos, pois [...], que leveis uma vida digna da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com grandeza de alma, suportando-vos mutuamente com caridade, solícitos em conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. A seguir, alude a uma antiga aclamação – possivelmente utilizada na liturgia primitiva durante as cerimônias batismais – em que se destaca a unidade da Igreja como fruto da unicidade da essência divina: Sede um só corpo e um só espírito, assim como fostes chamados pela vossa vocação a uma só esperança. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que atua acima de todos, por todos e em todos 17.

São Paulo enumera também diversas virtudes que são outras tantas manifestações do vínculo da perfeição e da unidade que é a caridade: humildade, mansidão, longanimidade... “O templo do Rei não está arruinado, nem rachado, nem dividido; o alicerce das pedras vivas é a caridade” 18. A caridade une, o orgulho separa.

Os primeiros cristãos manifestaram o seu amor à Igreja mediante a prática de uma caridade que venceu todas as barreiras sociais, econômicas, raciais e culturais. Aquele que tinha bens materiais repartia-os com os que careciam deles 19, e todos rezavam uns pelos outros, animando-se mutuamente a perseverar na fé de Cristo. Um dos primeiros apologistas, do século II, descrevia assim o comportamento dos cristãos: “Amam-se uns aos outros, não desprezam as viúvas e libertam o orfão dos que o tratam com violência; e aquele que tem, dá sem inveja àquele que não tem...” 20

Não obstante, a melhor caridade era a que se propunha fortalecer os irmãos na fé. As Atas dos Mártires descrevem em quase todas as suas páginas episódios concretos dessa preocupação pela fidelidade de todos. Verdadeiramente “foi por meio do amor que eles abriram caminho naquele mundo pagão e corrompido” 21. Amor pelos irmãos na fé e amor pelos pagãos.

Nós também levaremos o mundo a Deus se soubermos imitar os primeiros cristãos na sua compreensão e estima por todos, ainda que às vezes os nossos desvelos e atenções pelos outros não sejam correspondidos. E fortaleceremos na fé os que fraquejam, mediante o exemplo, a palavra e um trato sempre amável e acolhedor: O irmão ajudado por seu irmão é como uma cidade amuralhada, ensina a Sagrada Escritura 22.

Por amor à Igreja, lutaremos por todos os meios para não prejudicar, nem de longe, a unidade dos cristãos. “Evita sempre a queixa, a crítica, as murmurações... Evita à risca tudo o que possa introduzir discórdia entre irmãos” 23. Antes pelo contrário, fomentaremos sempre tudo aquilo que for ocasião de entendimento mútuo e de concórdia. Se alguma vez não pudermos louvar, fecharemos a boca 24. E pediremos ao Senhor com a liturgia: Que saibamos repelir hoje o pecado de discórdia e de inveja 25.

Recorremos à nossa Mãe Santa Maria para aprender a viver bem a unidade dentro da Igreja. “Ela, Mãe do Amor e da unidade, nos une profundamente para que, como a primeira comunidade nascida no Cenáculo, sejamos um só coração e uma só alma. Que Ela, que é «Mãe da unidade», e em cujo seio o Filho de Deus se uniu à humanidade, inaugurando misticamente a união esponsalícia do Senhor com todos os homens, nos ajude a ser um e a converter-nos em instrumentos de unidade entre os cristãos e entre todos os homens” 26.

(1) At 4, 32; Primeira leitura da Missa da terça-feira da segunda semana do Tempo Pascal; (2) São João Crisóstomo, Homilias sobre os Atos dos Apóstolos, 11; (3) cfr. Jo 10, 16; (4) cfr. Mt 12, 25; (5) cfr. Mt 16, 18; (6) João Paulo II, Homilia na paróquia de Orcasitas, Madrid, 3-XI-1982; (7) Santo Irineu, Contra as heresias, 1, 10, 2; (8) Jo 17, 21; (9) Mt 12, 25; (10) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 48; (11) São Tomás, Suma Teológica, 1, q. 30, a. 3; (12) Paulo VI, Alocução, 30-III-1965; (13) Santo Irineu, Contra as heresias, 4, 33, 7; (14) João Paulo II, Mensagem para a união dos cristãos, 23-I-1981; (15) Santo Agostinho, Trat. sobre o Ev. de São João, 26; (16) São Fulgêncio de Ruspe, in Segunda leitura da Liturgia das Horas da terça-feira da segunda semana do Tempo Pascal; (17) Ef 4, 1-6; (18) Santo Agostinho, Comentário sobre o Salmo 44; (19) cfr. At 4, 32 e segs.; (20) Aristides, Apologia XV, 5-7; (21) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 172; (22) Prov 18, 19; (23) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 918; (24) cfr. São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 443; (25) Preces de laudes da terça-feira da segunda semana do Tempo Pascal; (26) João Paulo II, Homilia, 24-III-1980.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


Santa Inês de Montepulciano

20 de Abril

Santa Inês de Montepulciano

Inês nasceu no dia 28 de janeiro de 1268, numa aldeia chamada Graciano, vizinha da cidade de Montepulciano. Por isso, ela é chamada de Santa Inês de Montepulciano. Filha de uma família riquíssima chamada Segni, desde muito pequena manifestou vocação para a vida religiosa. Aos seis anos disse a seus pais que queria se tornar freira. Por isso, quando completou nove anos seus pais a entregaram aos cuidados das freiras de São Domingos, onde ela passou a viver.

No convento, Santa Inês de Montepulciano abraçou a vida religiosa e fez desabrochar seu espírito de santidade e sabedoria. Tanto que, com apenas quinze anos, foi eleita superiora. Esta decisão foi estudada e aprovada pelo Papa Nicolau VI através de documento oficial. E, apesar da pouca idade e de ter vivido grande parte de sua vida no convento, Santa Inês de Montepulciano demonstrou grande percepção da realidade para além dos muros do convento.

Havia na cidade de Montepulciano um prostíbulo famoso, frequentado por um grande número de mulheres. A partir de determinada época, Madre Inês começou a dizer para as freiras que, um dia, aquela casa seria transformada num convento. As irmãs não estranharam, pois já conheciam a determinação, o dom da profecia e a santidade da jovem Madre Inês. E assim aconteceu. Ela mesma começou a visitar as mulheres do prostíbulo apresentando a elas o Evangelho de Jesus, um sentido novo para a vida e a misericórdia de Deus, que deseja que todos cheguem ao conhecimento da verdade. Ela percebeu no prostíbulo almas generosas, que estavam ali por ignorância, por falta de oportunidades e pelas tragédias da vida.

Quando as prostitutas começaram conhecer a fé, a esperança e a caridade vividas por Santa Inês de Montepulciano, a prostituição começou a perder o sentido para elas. E aquelas mulheres marcadas, marginalizadas e sem horizonte, foram recuperando a dignidade e se transformando em pessoas cheias de vida e amor. Conhecedoras da miséria humana como ninguém, elas passaram a ser conhecedoras da misericórdia de Deus que cura e que transforma os corações. Assim, depois de algum tempo, aquele prostíbulo famoso tinha se transformado num convento habitado por ex-prostitutas. E este convento em especial, se tornou modelo de virtude, de ordem, de amor, de oração e de fraternidade entre as irmãs. Todos reconheciam a presença de Deus agindo e recuperando pessoas que não tinham mais nenhuma esperança.

A precocidade de Santa Inês de Montepulciano ocorreu em todos os aspectos, inclusive na sua morte. Com efeito, ela tinha menos de cinquenta anos quando foi acometida por uma dolorosa enfermidade. Pressentindo sua morte, ela bendisse a Deus, sabendo que tinha deixado discípulas fiéis, inclusive entre as ex-prostitutas. Assim, faleceu na paz do Senhor em 20 de abril do ano 1317. Sua sepultura passou a ser alvo de peregrinações e grandes milagres aconteceram ali por sua intercessão. Os maiores dentre eles, foram conversões de pecadores conhecidos e famosos, que mudaram suas vidas ao conhecerem a história de Santa Inês de Montepulciano e pedirem sua intercessão.

Por causa do grande movimento de fiéis no túmulo, decidiram traslada-lo para uma igreja dominicana. Quando abriram sua tumba, vários anos após sua morte, viram que seu corpo estava incorrupto, em perfeito estado de conservação. Assim, seu corpo foi levado para uma bela Igreja Dominicana em Orvieto, onde se encontra até hoje. Ela foi canonizada em 1726 pelo Papa bento XIII e brilha nos altares como uma luz da sabedoria, da misericórdia e do amor de Deus especialmente para com os pecadores.

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br


A Imaginação

TEMPO PASCAL. SEGUNDA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA

– Necessidade da mortificação para ter vida sobrenatural.
– Mortificação da imaginação.
– O bom uso da imaginação na oração.

I. O EVANGELHO DA MISSA1 relata-nos o comovente diálogo entre Jesus e Nicodemos na calada da noite. Este homem sente-se impressionado pela pregação e pelos milagres do Mestre e experimenta a necessidade de saber mais. Mostra uma grande delicadeza para com Jesus: Rabbi, meu Mestre, é como o chama.

Nicodemos interroga o Senhor sobre a sua missão, talvez ainda sem saber ao certo se está diante de mais um profeta ou do próprio Messias: Sabemos – diz ele – que és um mestre vindo da parte de Deus, pois ninguém pode fazer os prodígios que fazes se Deus não estiver com ele. E o Senhor responde-lhe de uma maneira inesperada; Nicodemos pergunta-lhe pela sua missão e Jesus revela-lhe uma verdade assombrosa: É preciso nascer de novo. Trata-se de um nascimento espiritual pela água e pelo Espírito Santo: é um mundo inteiramente novo que se abre ante os olhos de Nicodemos.

As palavras do Senhor constituem também um horizonte sem limites para o progresso espiritual de qualquer cristão que se deixe conduzir docilmente pelas inspirações e moções do Espírito Santo. Porque a vida interior não consiste somente em adquirir uma série de virtudes naturais ou em praticar determinados atos de piedade. O que o Senhor nos pede é uma transformação radical: Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho 2, anunciava São Paulo aos fiéis de Éfeso.

Esta transformação interior é acima de tudo obra da graça na alma, mas requer também a nossa colaboração, através de uma séria mortificação da inteligência e das recordações – da imaginação –, que terá como fruto a purificação das nossas potências, necessária para que a vida de Cristo se desenvolva plenamente em nós. Muitos cristãos não avançam no seu relacionamento com Deus, na oração, por descurarem esta mortificação interior, sem a qual a mortificação externa perde o seu ponto de apoio.

A imaginação é, sem dúvida, uma faculdade muito útil, porque a alma, que está unida ao corpo, não pode pensar sem imagens. O Senhor falava às pessoas por meio de parábolas, servindo-se de imagens para transmitir-lhes as verdades mais profundas; acabamos de ver que foi esse o caminho que seguiu na conversa com Nicodemos. Neste sentido, a imaginação pode ser de grande utilidade para a vida interior, pois ajuda a contemplar a vida do Senhor, os mistérios do Rosário... “Mas, para que seja proveitosa e útil, deve ser governada pela reta razão esclarecida pela fé. Caso contrário, pode converter-se, como já foi chamada, na louca da casa; afasta-nos da consideração das coisas divinas e arrasta-nos para as coisas vãs, insubstanciais, fantásticas e mesmo proibidas. No melhor dos casos, leva-nos para o mundo dos sonhos, de onde brota o sentimentalismo tão oposto à verdadeira piedade” 3.

Dada a nossa condição depois do pecado original, a submissão da imaginação à razão só pode ser alcançada habitualmente pela mortificação, que fará com que “deixe de ser a louca da casa e se concentre no seu fim próprio, que é servir a inteligência iluminada pela fé” 4.

II. DEIXAR A IMAGINAÇÃO à solta significa em primeiro lugar perder o tempo, que é um dom de Deus e parte do patrimônio que o Senhor nos confiou. “Afasta de ti esses pensamentos inúteis que, pelo menos, te fazem perder o tempo”, aconselha-nos o autor de Caminho 5. Além disso, a imaginação perdida em sonhos fantásticos e estéreis é um campo bem adubado para que nele apareça um bom número de tentações voluntárias, que convertem os pensamentos inúteis em verdadeira ocasião de pecado 6.

Quando não há essa mortificação interior, os sonhos da imaginação giram freqüentemente em torno dos nossos talentos, de uma determinada atuação em que nos saímos bem, da admiração – talvez também irreal – que provocamos em certas pessoas ou no nosso ambiente... E assim, aquilo que principiou por ser um pensamento inútil começa a correr à deriva, até chegar a comprometer a retidão de intenção que se tinha mantido até aquele momento; e a soberba, sempre à espreita, vai ganhando corpo à custa daquilo que inicialmente parecia inocente. Depois, se não a detemos, essa soberba tende a destruir as coisas boas que encontra à sua passagem. De modo especial, destrói uma boa parte da atenção que os outros merecem, impedindo de ver as suas necessidades e de praticar a caridade. “O horizonte do orgulhoso é terrivelmente limitado: esgota-se em si mesmo. O orgulhoso não consegue olhar para além da sua pessoa, das suas qualidades, das suas virtudes, do seu talento. O seu horizonte é um horizonte sem Deus. E neste panorama tão mesquinho, nunca aparecem os outros, não há lugar para eles” 7.

Em outros casos, quando se entretém a julgar o modo de agir dos outros, é fácil que a imaginação comece a emitir juízos negativos e pouco objetivos, porque, quando não se olha para os outros com compreensão, com desejo de ajudá-los, passa-se a ter deles uma visão injustamente parcial, julga-se a sua conduta com frieza, sem perceber que podem ter tido motivos para agir como agiram, ou atribuem-se gratuitamente a essas pessoas intenções retorcidas ou menos boas. Somente Deus penetra nas coisas ocultas, só Ele lê a verdade dos corações e dá o verdadeiro valor a todas as circunstâncias. Por leviandade culposa, esses pensamentos inúteis conduzem ao juízo temerário, que nasce de um coração pouco reto. A mortificação interior teria evitado esse tipo de faltas contra a caridade, que afasta de Deus e dos outros. “A causa de que haja tantos juízos temerários é que se consideram como coisa de pouca importância; e, não obstante, se se trata de matéria grave, pode-se chegar ao pecado grave” 8.

Freqüentemente, se não nos vigiarmos de modo a cortar esses pensamentos inúteis e a oferecer ao Senhor essa mortificação, a imaginação girará em torno de nós mesmos e criará situações fictícias, pouco ou nada compatíveis com a vocação cristã de um filho de Deus, que deve ter o coração posto nEle. Esses pensamentos esfriam a alma, afastam de Deus e depois tornam mais difícil o clima de diálogo com o Senhor no meio das ocupações diárias.

Examinemos hoje na nossa oração como vivemos essa mortificação interior que tanto nos ajuda a conservar-nos sempre na presença do Senhor, e que evita tantos inconvenientes, tentações e pecados. Vale a pena meditar nisto seriamente, com profundidade e com desejos de chegar a propósitos eficazes.

III. A MORTIFICAÇÃO da imaginação traz inúmeros bens à alma; não é tarefa puramente negativa, não está na fronteira do pecado, mas no terreno do Amor.

Em primeiro lugar, purifica-nos a alma e inclina-nos a viver melhor na presença de Deus, leva-nos a aproveitar bem o tempo dedicado à oração, e a evitar as distrações quando mais atentos devemos estar, como por exemplo na Santa Missa, na Comunhão... Permite-nos ainda aproveitar melhor o tempo no trabalho, executá-lo conscienciosamente, santificá-lo; no terreno da caridade, ajuda-nos a pensar nos outros, em vez de ficar ensimesmados, submersos num clima de sonhos e fantasias.

Por outro lado, a imaginação deve ocupar um lugar importante na vida interior, no trato com Deus: ajuda-nos a meditar as cenas do Evangelho, a acompanhar Jesus nos seus anos de Nazaré, junto de José e Maria, na sua vida pública, seguido pelos Apóstolos. De modo especial, ajuda-nos a contemplar freqüentemente a Paixão do Senhor.

“Misturai-vos com freqüência entre as personagens do Novo Testamento. Saboreai aquelas cenas comoventes em que o Mestre atua com gestos divinos e humanos, ou relata com modos de dizer humanos e divinos a história sublime do perdão, do Amor ininterrupto que tem pelos seus filhos. Esses translados do Céu renovam-se agora também, na perenidade atual do Evangelho” 9.

“Se alguma vez não nos sentirmos com forças para seguir as pegadas de Jesus Cristo, troquemos palavras amigas com aqueles que o conheceram de perto, enquanto permaneceu nesta nossa terra. Com Maria, em primeiro lugar, que foi quem o trouxe até nós. Com os Apóstolos. Alguns gentios chegaram-se a Filipe, que era natural de Betsaida da Galiléia, e fizeram-lhe este pedido: Desejamos ver Jesus. Filipe foi e disse-o a André; e André e Filipe disseram-no a Jesus (Jo 12, 20-22). Não é verdade que isto nos anima? Aqueles estrangeiros não se atrevem a apresentar-se ao Mestre, e procuram um bom intercessor [...].

“Meu conselho é que, na oração, cada um intervenha nas passagens do Evangelho, como mais um personagem. Primeiro, imaginamos a cena ou o mistério, que servirá para nos recolhermos e meditar. Depois, empregamos o entendimento para considerar este ou aquele traço da vida do Mestre: o seu Coração enternecido, a sua humildade, a sua pureza, o seu cumprimento da Vontade do Pai. Depois, contamos-lhe o que nos costuma ocorrer nessas matérias, o que sentimos, o que nos está acontecendo. É preciso permanecermos atentos, porque talvez Ele nos queira indicar alguma coisa: e surgirão essas moções interiores, o cair em si, essas reconvenções” 10.

Assim imitaremos a Santíssima Virgem, que conservava todas estas coisas – os acontecimentos da vida do Senhor – e as meditava no seu coração 11.

(1) Jo 3, 1-8; (2) Ef 5, 22; (3) R. Garrigou-Lagrange, Las tres edades de la vida interior, Palabra, Madrid, 1975, vol. I, pág. 398; (4) ib., pág. 399; (5) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 13; (6) cfr. São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 135; (7) S. Canals, Reflexões Espirituais, pág. 65; (8) Cura d’Ars, Sermão sobre o juízo temerário; (9) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 216; (10) ib., n. 252-253; (11) Lc 2, 19.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


20 de Abril 2020

A SANTA MISSA

2ª Semana da Páscoa – Segunda-feira 
Cor: Branca

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1ª Leitura: At 4,23-31

 Quando terminaram a oração,
todos ficaram cheios do Espírito Santo
e anunciavam corajosamente a palavra de Deus. 

 Leitura dos Atos dos Apóstolos

Naqueles dias: 23 Logo que foram postos em liberdade, Pedro e João voltaram para junto dos irmãos e contaram tudo o que os sumos sacerdotes e os anciãos haviam dito. 24 Ao ouvirem o relato, todos eles elevaram a voz a Deus, dizendo: ‘Senhor, tu criaste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe. 25 Por meio do Espírito Santo, disseste através do teu servo Davi, nosso pai: ‘Por que se enfureceram as nações, e os povos imaginaram coisas vós? 26 Os reis da terra se insurgem e os príncipes conspiram unidos contra o Senhor e contra o seu Messias’. 27 Foi assim que aconteceu nesta cidade: Herodes e Pôncio Pilatos uniram-se com os pagãos e os povos de Israel contra Jesus, teu santo servo, a quem ungiste, 28 a fim de executarem tudo o que a tua mão e a tua vontade haviam predeterminado que sucedesse. 29 Agora, Senhor, olha as ameaças que fazem e concede que os teus servos anunciem corajosamente a tua palavra. 30 Estende a mão para que se realizem curas, sinais e prodígios por meio do nome do teu santo servo Jesus.’ 31 Quando terminaram a oração, tremeu o lugar onde estavam reunidos. Todos, então, ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam corajosamente a palavra de Deus.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 2, 1-3. 4-6. 7-9 (R. Cf. 12d)

R. Felizes hão de ser todos aqueles
que põem sua esperança no Senhor.

Ou: Aleluia, Aleluia, Aleluia

1 Por que os povos agitados se revoltam? *
por que tramam as nações projetos vãos?
2 Por que os reis de toda a terra se reúnem, +
e conspiram os governos todos juntos *
contra o Deus onipotente e o seu Ungido?
3 ‘Vamos quebrar suas correntes’, dizem eles, *
‘e lançar longe de nós o seu domínio!’      R.

4 Ri-se deles que mora lá nos céus; *
zomba deles o Senhor onipotente.
5 Ele, então, em sua ira os ameaça, *
e em seu furor os faz tremer, quando lhes diz:
6 ‘Fui eu mesmo que escolhi este meu Rei, *
e em Sião, meu monte santo, o consagrei!’      R.

7 O decreto do Senhor promulgarei, +
foi assim que me falou o Senhor Deus: *
‘Tu és meu Filho, e eu hoje te gerei!
8 Podes pedir-me, e em resposta eu te darei +
por tua herança os povos todos e as nações, *
e há de ser a terra inteira o teu domínio.
9 Com cetro férreo haverás de dominá-los, *
e quebrá-los como um vaso de argila!’      R. 

Evangelho: Jo 3,1-8 

 Se alguém não nasce da água e do Espírito,
não pode entrar no Reino de Deus. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João

1 Havia um chefe judaico, membro do grupo dos fariseus, chamado Nicodemos, 2 que foi ter com Jesus, de noite, e lhe disse: ‘Rabi, sabemos que vieste como mestre da parte de Deus. De fato, ninguém pode realizar os sinais que tu fazes, a não ser que Deus esteja com ele’. 3 Jesus respondeu: ‘Em verdade, em verdade te digo, se alguém não nasce do alto, não pode ver o Reino de Deus’. 4 Nicodemos disse: ‘Como é que alguém pode nascer, se já é velho? Poderá entrar outra vez no ventre de sua mãe?’ 5 Jesus respondeu: ‘Em verdade, em verdade te digo, se alguém não nasce da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus.’ 6 Quem nasce da carne é carne; quem nasce do Espírito é espirito. 7 Não te admires por eu haver dito: Vós deveis nascer do alto. 8 O vento sopra onde quer e tu podes ouvir o seu ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece a todo aquele que nasceu do Espírito’.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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A Fé de Tomé

TEMPO PASCAL. SEGUNDO DOMINGO

– Aparição de Jesus aos Apóstolos quando Tomé estava ausente. Comunicam-lhe que Jesus ressuscitou. Apostolado com os que conheceram o Senhor, mas não procuram relacionar-se com Ele.
– O ato de fé do Apóstolo Tomé. A nossa fé deve ser operativa: atos de fé, confiança no Senhor, apostolado.
– A Ressurreição é um apelo para que manifestemos com a nossa vida que Cristo vive. Necessidade de nos formarmos bem.

I. O PRIMEIRO DIA da semana 1, o dia em que o Senhor ressuscitou, o primeiro dia do novo mundo, está repleto de acontecimentos: desde a manhã, muito cedo 2, quando as mulheres vão ao sepulcro, até à noite, muito tarde 3, quando Jesus vem confortar os amigos mais íntimos: A paz esteja convosco, disse-lhes. Depois mostrou-lhes as mãos e o lado. Nesta ocasião, Tomé não estava com os demais Apóstolos; não pôde, pois, ver o Senhor nem ouvir as suas palavras consoladoras.

Fora este Apóstolo que dissera uma vez: Vamos também nós e morramos com Ele 4. E na Última Ceia manifestara ao Senhor a sua ignorância com a maior simplicidade: Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho? 5 Cheios de um profundo júbilo, os Apóstolos devem ter procurado Tomé por toda a Jerusalém naquela mesma noite ou no dia seguinte. Mal o encontraram, disseram-lhe: Vimos o Senhor! Mas Tomé continuava profundamente abalado com a crucifixão e a morte do Mestre. Não dá nenhum crédito ao que lhe dizem: Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos e a minha mão no seu lado, não acreditarei6. Os que tinham compartilhado com ele aqueles três anos, e que lhe estavam unidos por tantos laços, devem ter-lhe repetido então, de mil maneiras diferentes, a mesma verdade que era agora a sua alegria e a sua certeza: Vimos o Senhor!

Nós temos que fazer o mesmo: para muitos homens e para muitas mulheres, é como se Cristo estivesse morto, porque pouco significa para eles e quase não conta nas suas vidas. A nossa fé em Cristo ressuscitado anima-nos a ir ao encontro dessas pessoas e a dizer-lhes de mil maneiras diferentes que Cristo vive, que estamos unidos a Ele pela fé e permanecemos com Ele todos os dias, que Ele orienta e dá sentido à nossa vida.

Desta maneira, cumprindo essa exigência da fé que é difundi-la com o exemplo e a palavra, contribuímos pessoalmente para a edificação da Igreja, como aqueles primeiros cristãos de que falam os Atos dos Apóstolos: Cada vez mais aumentava o número dos homens e mulheres que acreditavam no Senhor 7.

II. OITO DIAS DEPOIS, encontravam-se os seus discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse: A paz esteja convosco. Depois disse a Tomé: Mete aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima também a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas fiel8.

A resposta de Tomé é um ato de fé, de adoração e de entrega sem limites: Meu Senhor e meu Deus! São quatro palavras inesgotáveis. A fé do Apóstolo brota, não tanto da evidência de Jesus, mas de uma dor imensa. O que o leva à adoração e ao retorno ao apostolado não são tanto as provas como o amor. Diz a Tradição que o Apóstolo Tomé morreu mártir pela fé no seu Senhor. Consumiu a vida a seu serviço.

As dúvidas de Tomé viriam a servir para confirmar a fé dos que mais tarde haviam de crer nEle. “Porventura pensais – comenta São Gregório Magno – que foi um simples acaso que aquele discípulo escolhido estivesse ausente, e que depois, ao voltar, ouvisse relatar a aparição e, ao ouvir, duvidasse, e, duvidando, apalpasse, e, apalpando, acreditasse? Não foi por acaso, mas por disposição divina que isso aconteceu. A divina clemência agiu de modo admirável quando este discípulo que duvidava tocou as feridas da carne do seu Mestre, pois assim curava em nós as chagas da incredulidade [...]. Foi assim, duvidando e tocando, que o discípulo se tornou testemunha da verdadeira ressurreição” 9.

Se a nossa fé for firme, também haverá muitos que se apoiarão nela. É necessário que essa virtude teologal vá crescendo em nós de dia para dia, que aprendamos a olhar as pessoas e os acontecimentos como o Senhor os olha, que a nossa atuação no meio do mundo esteja vivificada pela doutrina de Jesus. Por vezes, ver-nos-emos faltos de fé, como o Apóstolo. Teremos então de crescer em confiança no Senhor, seja em face das dificuldades no apostolado, ou de acontecimentos que não sabemos interpretar do ponto de vista sobrenatural, ou de momentos de escuridão, que Deus permite para que se firmem em nós outras virtudes.

A virtude da fé é a que nos dá a verdadeira dimensão dos acontecimentos e a que nos permite julgar retamente todas as coisas. “Somente com a luz da fé e a meditação da palavra divina é que é possível reconhecer Deus sempre e por toda a parte, esse Deus em quem vivemos e nos movemos e existimos (At 17, 28). Somente assim é possível procurar a vontade divina em todos os acontecimentos, ver Cristo em todos os homens, sejam parentes ou estranhos, proferir juízos corretos sobre o verdadeiro significado e valor das coisas temporais, tanto em si mesmas como em relação ao fim do homem” 10.

Meditemos o Evangelho da Missa de hoje. “Fixemos de novo o olhar no Mestre. Talvez também nós escutemos neste momento a censura dirigida a Tomé: Mete aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima também a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas fiel (Jo 20, 27). E, com o Apóstolo, sairá da nossa alma, com sincera contrição, aquele grito: Meu Senhor e meu Deus! (Jo 20, 28), eu te reconheço definitivamente por Mestre, e já para sempre – com o teu auxílio – vou entesourar os teus ensinamentos e esforçar-me por segui-los com lealdade” 11.

Meu Senhor e meu Deus! Estas palavras têm servido de jaculatória a muitos cristãos, e como ato de fé na presença real de Jesus Cristo na Sagrada Eucaristia, quando se passa diante de um sacrário ou no momento da Consagração da Missa... Também nos podem ajudar a nós a tornar atual a nossa fé e o nosso amor por Cristo ressuscitado.

III. O SENHOR RESPONDEU a Tomé: Creste porque me viste. Felizes os que crêem sem terem visto 12. “É uma frase – diz São Gregório Magno – que se refere sem dúvida a nós, que confessamos com a alma Aquele que não vimos na carne. Mas refere-se a nós se vivermos de acordo com a fé, pois só crê verdadeiramente aquele que nas suas ações pratica o que crê” 13. A Ressurreição do Senhor é um apelo para que manifestemos com a nossa vida que Ele vive. As obras do cristão devem ser fruto e manifestação da sua fé em Cristo.

Nos primeiros séculos, a difusão do cristianismo realizou-se principalmente pelo testemunho pessoal dos cristãos que se convertiam. Era uma pregação singela da Boa Nova: de homem para homem, de família para família; entre os que tinham o mesmo ofício, entre vizinhos; nos bairros, nos mercados, nas ruas. Hoje também o Senhor quer que o mundo, a rua, o trabalho, as famílias sejam veículo para a transmissão da fé.

Para confessarmos a nossa fé com a palavra, é necessário que conheçamos o seu conteúdo com clareza e precisão. Por isso, a nossa Mãe a Igreja tem feito tanto finca-pé ao longo dos séculos em que se estudasse o Catecismo, pois contém de uma maneira breve e simples as verdades essenciais que temos de conhecer para podermos depois vivê-las. Já Santo Agostinho insistia com os catecúmenos que estavam prestes a receber o Batismo: “No próximo sábado, em que, se Deus quiser, celebraremos a vigília, recitareis não a oração (o Pai-Nosso), mas o símbolo (o Credo); porque, se não o aprenderdes agora, depois, na Igreja, não o ouvireis todos os dias da boca do povo. E, aprendendo-o bem, dizei-o diariamente para não o esquecerdes: ao levantar-vos da cama, ao ir dormir, recitai o vosso símbolo, oferecei-o a Deus, procurando memorizá-lo e repetindo-o sem preguiça. Para não esquecer, é bom repetir. Não digais: «Já o disse ontem, e digo-o hoje, e repito-o diariamente; tenho-o bem gravado na memória». Que seja para ti como um recordatório da tua fé e um espelho em que te possas olhar. Olha-te nele, verifica se continuas a acreditar em todas as verdades que de palavra dizes crer, e alegra-te diariamente na tua fé. Que essas verdades sejam a tua riqueza; que sejam como que o adorno da tua alma” 14. Teríamos que dizer estas mesmas palavras a muitos cristãos, pois são muitos os que andam esquecidos do conteúdo essencial da sua fé.

Jesus Cristo pede-nos também que o confessemos com obras diante dos homens. Por isso, pensemos: não teríamos que ser mais valentes nesta ou naquela ocasião? Pensemos no nosso trabalho, no ambiente à nossa volta: somos conhecidos como pessoas que têm vida de fé? Não nos faltará audácia no apostolado?

Terminamos a nossa oração pedindo à Virgem, Sede da Sabedoria, Rainha dos Apóstolos, que nos ajude a manifestar com a nossa conduta e com as nossas palavras que Cristo vive.

(1) Jo 20, 1; (2) Mc 16, 2; (3) Jo 20, 19; (4) Jo 11, 16; (5) Jo 14, 5; (6) Jo 20, 25; (7) At 5, 14; (8) Jo 20, 26-27; (9) São Gregório Magno, Homilias sobre os Ev., 26, 7; (10) Conc. Vat. II, Decr. Apostolicam actuositatem, 4; (11) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 145; (12) Jo 20, 29; (13) São Gregório Magno, op. cit., 26, 9; (14) Santo Agostinho, Sermão 58, 15.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


19 de Abril 2020

A SANTA MISSA

2º Domingo da Páscoa – Ano A
Cor: Branca

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1ª Leitura: At 2, 42-47

“Todos os que abraçavam a fé
viviam unidos e colocavam tudo em comum” 

Leitura dos Atos dos Apóstolos

Os que haviam se convertido 42 eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna na fração do pão e nas orações. 43 E todos estavam cheios de temor por causa dos numerosos prodígios e sinais que os apóstolos realizavam. 44 Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e colocavam tudo em comum; 45 vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um. 46 Diariamente, todos frequentavam o Templo, partiam o pão pelas casas e, unidos, tomavam a refeição com alegria e simplicidade de coração. 47 Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E, cada dia, o Senhor acrescentava ao seu número mais pessoas que seriam salvas.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 117 (118), 2-4.13-15.22-24 (R. 1)

R. Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom;
eterna é a sua misericórdia!

Ou: Aleluia, Aleluia, Aleluia

2 A casa de Israel agora o diga:*
‘Eterna é a sua misericórdia!’
3 A casa de Aarão agora o diga:*
‘Eterna é a sua misericórdia!’
4 Os que temem o Senhor agora o digam:*
‘Eterna é a sua misericórdia!’      R.

13 Empurraram-me, tentando derrubar-me,*
mas veio o Senhor em meu socorro.
14 O Senhor é minha força e o meu canto,*
e tornou-se para mim o Salvador.
15 ‘Clamores de alegria e de vitória*
ressoem pelas tendas dos fiéis.      R.

22 ‘A pedra que os pedreiros rejeitaram,*
tornou-se agora a pedra angular.
23 Pelo Senhor é que foi feito tudo isso:*
Que maravilhas ele fez a nossos olhos!
24 Este é o dia que o Senhor fez para nós,*
alegremo-nos e nele exultemos!      R.

2ª Leitura: 1Pd 1, 3-9

 “Pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,
ele nos fez nascer de novo para uma esperança viva.”
 

Leitura da Primeira Carta de São Pedro

3 Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Em sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, ele nos fez nascer de novo, para uma esperança viva, 4 para uma herança incorruptível, que não se mancha nem murcha, e que é reservada para vós nos céus. 5 Graças à fé, e pelo poder de Deus, vós fostes guardados para a salvação que deve manifestar-se nos últimos tempos. 6 Isto é motivo de alegria para vós, embora seja necessário que agora fiqueis por algum tempo aflitos, por causa de várias provações. 7 Deste modo, a vossa fé será provada como sendo verdadeira – mais preciosa que o ouro perecível, que é provado no fogo – e alcançará louvor, honra e glória no dia da manifestação de Jesus Cristo. 8 Sem ter visto o Senhor, vós o amais. Sem o ver ainda, nele acreditais. Isso será para vós fonte de alegria indizível e gloriosa, 9 pois obtereis aquilo em que acreditais: a vossa salvação.

– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.

Evangelho: Jo 20, 19-31 

 “Oito dias depois, Jesus entrou.” 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

19 Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e pondo-se no meio deles, disse: ‘A paz esteja convosco’. 20 Depois destas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. 21 Novamente, Jesus disse: ‘A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio’. 22 E depois de ter dito isto, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo. 23 A quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos’. 24 Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio. 25 Os outros discípulos contaram-lhe depois: ‘Vimos o Senhor!’. Mas Tomé disse-lhes: ‘Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei’. 26 Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco’. 27 Depois disse a Tomé: ‘Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel’. 28 Tomé respondeu: ‘Meu Senhor e meu Deus!’ 29 Jesus lhe disse: ‘Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!’ 30 Jesus realizou muitos outros sinais diante dos discípulos, que não estão escritos neste livro. 31 Mas estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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